Mostrar mensagens com a etiqueta BPN. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta BPN. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, setembro 30, 2015

Os números maquilhados da Maria Luís, a gestão travestida de Passos Coelho, o desamor à verdade dos PàFs - E o milionário, os crocodilos na piscina, o valentão e o fdp


Um número maquilhado do BPN
conforme ordem da Maria Luís Albuquerque
(in 'Isto é muito bonito mas...')


Com medo que os jornalistas comecem finalmente a fazer investigação a sério e descubram mais números maquilhados para forjarem resultados menos maus, Passos Coelho, esse paladino da verdade e dos bons costumes, saíu-se com esta:
"Libertámo-nos da ditadura financeira e dos números, chegou a hora da política", prometeu Pedro Passos Coelho esta terça-feira à noite, num jantar-comício em Coimbra. 
Pudera. Depois dos jornais em peso terem destapado o lixo que a pinokia mandou esconder debaixo do tapete (e vamos lá a ver se terá sido só isso) é natural que agora o Coelho e o vice-desembestado queiram à viva força parar de falar de números.

Transcrevo a cena da maquilhagem com que, esta terça-feira à noite, os Gato Fedorento gozaram à brava:


Maria Luís terá dado ordens para esconder prejuízo do BPN


O actual Governo terá dado indicações à Parvalorem, a empresa pública que gere os ativos tóxicos do antigo Banco Português de Negócios (BPN), para esconder prejuízos do banco com o objetivo de não agravar as contas do défice de 2012, avança a Antena 1. Desta forma, a Parvalorem terá ocultado uma parte das perdas registadas com o crédito mal parado a pedido de Maria Luís Albuquerque, quando ainda era secretária de Estado do Tesouro. Cerca de 150 milhões de euros.

O nº maquilhado do BPN
com um nº maquilhado do novo Banco
(em entrevista ao Ricardo Araújo Pereira na TVI)

Segundo a Antena 1, em fevereiro de 2013 a atual ministra das Finanças (na altura ainda Vítor Gaspar assumia esta pasta) soube que a Parvalorem ia ter perdas de 577 milhões de euros, em créditos em risco de incumprimento. Fonte ouvida pela rádio pública conta que Maria Luís Albuquerque pediu para mexer nas contas e divulgar as melhores contas possíveis: "Foi uma martelada que demos nas contas, as ordens vinham de cima, atuámos dentro da margem que tínhamos."
A Parvalorem terá procedido então a uma operação contabilística para adiar o impacto das contas para exercícios futuro, fazendo alterações às contas já auditadas.
....

Espanto? Nenhum. Não a mim. Mas talvez seja um espanto para quem, a esta altura do campeonato, ainda não tinha percebido com que raça de gente tem o País andado a lidar: gente pouco séria, muito incompetente e, sobretudo, com uma noção muito fluida de conceitos tais como verdade, ética, moral, etc.

Mas há que ver o lado positivo das coisas: saber disto talvez seja o empurrão para a piscina de que alguns eleitores indecisos estivessem à espera para saber que é indispensável correr com os PàFs, essa gente incapaz e ignorante que, nos últimos 4 anos, para além de andar de gatas perante a Europa pretendeu pôr Portugal inteiro de gatas perante a Alemanha, China, Angola, Brasil e por aí fora. Há males que vêm por bem -- digo-vos eu.

.....

Conto-vos a história que Leitor, a quem muito agradeço, me enviou (and pardon my french).



Um milionário promove uma festa numa das suas mansões e, a certa altura, pede que a música pare e diz, olhando para a piscina onde cria crocodilos australianos: 
Quem saltar para a piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro lado ganhará todos os meus carros. Alguém se habilita?
Espantados, os convidados permanecem em silêncio e o milionário insiste:
Quem se atirar para a piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro lado ganhará os meus carros e os meus aviões.
O silêncio impera e, mais uma vez, ele oferece:
Quem saltar para a piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro lado ganhará os meus carros, os meus aviões e as minhas mansões.
Neste momento, alguém salta para a piscina...

A cena é impressionante. Luta intensa, o destemido defende-se como pode, segura o boca dos crocodilos com pés e mãos, torce o rabo dos répteis. Muita violência e emoção. Parecia um filme do Crocodilo Dundee! 

Após alguns minutos de terror e pânico, sai o corajoso homem, cheio de arranhões,  hematomas e quase despido.

O milionário aproxima-se, dá-lhe os parabéns e pergunta:
Onde quer que lhe entregue os carros e os aviões?
- Obrigado, mas não quero os seus carros e os seus aviões.

Estranhando a reacção do homem, o milionário pergunta:
E as mansões?
- Eu tenho uma bela casa, não preciso das suas. Pode ficar com elas. Não quero nada que é seu.

Impressionado, o milionário pergunta:
Mas se você não quer nada do que ofereci, o que quer então?
Ao que o homem respondeu, irritado:

- Achar o filho da puta que me empurrou para a piscina!

....    ....   ....    ....

Moral da história?

Somos capazes de realizar muitas coisas que por vezes nós mesmos não acreditamos, basta um empurrãozinho. Um filho da puta, em certos casos, é útil na nossa vida.

...

Cá para mim, a Maria Luís com esta revelação dos números maquilhados, até é capaz de nos ser útil. Talvez assim as pessoas saltem para a piscina e votem capazmente, contra os PàFs.

...

E já agora, meus Caros, desçam até ao post seguinte, para cantarmos em uníssono
'Salta, coelhinho, salta' já que o animal (em pessoa) está, neste momento, à beira do precipício. 

....

quarta-feira, julho 30, 2014

BES - neste dia 30, o dia de todos os medos, as contas do 1º semestre. O BES não era o BPN. O BES não era um caso de polícia. O GES não tinha contaminado o BES. Carlos Costa garantia que tinha blindado o BES. A troika fez testes de stress e o BES era um banco sólido. (A troika agora diz que quem tinha que auditar as práticas do BES era o Banco de Portugal - mas o BdP olhou para o BES como um míope, só uns vagos contornos). Agora vivem-se dias de susto, as surpresas sucedem-se, os problemas são mais velozes que as soluções. O Grupo desagrega-se à vista de todo o mundo. Aparentemente apenas algumas pessoas perceberam o que se estava a passar. Nicolau Santos e Pedro Santos Guerreiro fizeram mais pela transparência financeira do que todas as instituições oficiais juntas. Honra lhes seja feita.


No post abaixo já vos falei de lingerie, assunto importante para todas as mulheres que gostem de ser mulheres e, claro, para todos os homens que gostem de mulheres. Falo de um certo bustier que persegui por quase meia França e de uma linha própria para mulheres carnudas e, inclusivamente, para mulheres em fase pós-maternidade. Que a coisa venha pela mão de Dita, a Dama do Burlesco, apenas acrescenta um certo picante.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.


Lancemos Os Búzios, se faz favor - a ver se nos orientamos





Já que estou numa onda de assuntos picantes, volto ao assunto mais picante de que há memória na história financeira portuguesa das últimas décadas. Isto é uma coisa... São umas atrás de outras.

Quando há concursos de cantorias na televisão, fico sempre parva com a quantidade de gente que aparece a cantar bem. Como nunca dei para o dó de peito, aprecio ainda mais os que nasceram com esse dom. E, em Portugal, são aos molhos: resmas, paletes, desde crianças a velhos, todo o mundo canta bem. Fico a pensar: não deve haver outro País assim. Nisto somos os maiores.

Depois, também me espanto com a quantidade de gente que vai a concertos. A crise pode estar no auge que os concertos nunca desiludem os organizadores. Tudo carregadinho de gente, coliseus a rebentar pelas costuras, pavilhões, palcos ao ar livre, tudo cheiinho; e melhor: os artistas estrangeiros que cá vêm dizem que não há público como o português. Levam Portugal no coração e nunca mais tiram o país da rota dos seus concertos. Ou seja, lá está, mais um ponto forte: somos bons a ouvir música.

Ou seja: por um lado, muitos a dar música, e muitos mais ainda a deixarem-se ir na música.

Não sei quantos aldrabões, mas oh quantos, senhores, já tivemos na área financeira. A música que nos deram. Lá está: tem a ver com as facetas acima referidas.


Desde o Alves dos Reis, esse extraordinário burlão, até ao Oliveira e Costa do BPN e ao Rendeiro do BPP, passando pelos artistas do BCP, até agora a este verdadeiro festim do Grupo Espírito Santo... toda uma tropa fandanga que parece ter nascido com vocação para enganar o próximo. E a maioria - pobres otários, alegres e contentes - a ir na cantiga.


Do Ricardo Salgado que mandava e desmandava se dizia que tinha a coisa financeira no ADN, banqueiros por questões genéticas. A maior parte dos humanos tem grandes parecenças genéticas com os porcos mas o Ricardo Salgado não, qual porco, ele era diferente, tinha ouro e moedas a entrelaçarem-se nas cadeias de ácido ribonucleico.

Afinal, sabemos agora, não era bem a entrelaçar-se: era mais a ensarilhar-se.

Um ensarilhanço de todo o tamanho. O verdadeiro enfarilhanço. Milhões e milhões e milhões: uma teia impossível de desensarilhar.

À medida que a caixa se vai abrindo, vão saindo as minhocas. É que nem é preciso cavar para as minhocas aparecerem. Nem é preciso dar tiros para os melros caírem. Eles caem mortos aos pés de Vítor Bento e de todos quantos, em poucos dias, conseguem ver mais do que KPMG, BdP, Troika e toda essa turminha de totós que por aí andou, ao longo de anos, a brincar aos ceguinhos.


Vamos ver se todos esses pequenos papagaios que por aí andaram pelas televisões a dizer que o Governador do Banco de Portugal era de Olhão, uma regulação de detrás da orelha, as águas entre o GES e o BES todas muita bem separadinhas, e, que ideia!, que o BES não tinha nadica a ver com o BPN, e que qual caso de polícia, qual carapuça!... não vão ter que voltar a dar o dito por não dito? Coisa que, de resto, artistas como são, farão com a lampeirice do costume.



Uma vez mais, tiro o chapéu a Pedro Santos Guerreiro e a Nicolau Santos (e, vá lá, concedo: se calhar também devo fazê-lo em relação ao João Vieira Pereira) que, persistentemente, foram puxando as pontas e percebendo o enleio que para ali estava e que, corajosamente, se chegaram à frente e mostraram ao País a armadilha letal que estava a ser estendida aos pés de Portugal.


E a armadilha era, de facto, terrível.



O BES financiou a actividade corrente de vários grupos empresariais na condição de estes contraírem outros créditos para aplicarem em dívida e acções do Grupo Espírito Santo. Em causa estarão algumas centenas de milhões.




Salgado e Morais Pires implicados em "engenharia financeira" no BES


Empréstimos de clientes do BES ao GES através da Eurofin estão sob suspeita - e por detrás do aumento dos prejuízos do primeiro semestre. Indícios criminais serão reportados. Salgado, Morais Pires e também a diretora Isabel Almeida podem ter de dar explicações.


Quadros superiores do BES terão montado um esquema para financiar o Grupo Espírito Santo com dinheiro de clientes do BES, apurou o Expresso. Em causa está a direção financeira do banco, que operava sob responsabilidade direta de Amílcar Morais Pires. 


A Eurofin, uma "holding" na Suíça, está no centro das atenções. O caso, que poderá ter implicações criminais, é a razão do aumento dos prejuízos no primeiro semestre do banco.




Prejuízo do BES pode chegar aos três mil milhões


O escândalo avoluma-se. Reguladores descobrem mais dívida de clientes do BES ao GES e forçam provisões. O prejuízo semestral galopa para um valor próximo dos três mil milhões. Almofadas financeiras já não bastam. Aumento de capital é inevitável.

O BES vai fechar o primeiro semestre com o maior prejuízo de sempre de um banco em Portugal. Será 15 vezes maior do que as estimativas dos analistas: perto de três mil milhões de euros, sabe o Expresso. Tudo porque os reguladores e os auditores acabam de descobrir mais esqueletos nos armários: há mais dívida de clientes do BES ao GES do que se supunha, através de esquemas de engenharia financeira que se desconheciam. 


Caso pode ter mais consequências criminais.




Upss... Indícios criminais...? Mas então o que é que a gente fina tem a ver com o rebotalho? Pensava que nada.

Não me digam agora que a gestão dos Espíritos escondia afinal práticas pouco abonatórias...? Sério...? Juram...?

Mas o excelentíssimo Carlos Costa não tinha assegurado que Ricardo Salgado estava carregadinho de idoneidade? Então se ele até tinha pago alguns dos milhões que antes tinha escondido, como desconfiar que ele não era gente séria?

Bem. Se também não se lembrava ou não sabia nada de offshores da altura em que era responsável pela área internacional do BCP, como poderíamos querer que Carlos Costa agora percebesse tudo o que via? Além do mais, coitado, se o homem tem algumas limitações na visão, que mal tem isso? Querem lá ver que vamos agora exigir que os reguladores tenham todos visão apurada e que sejam todos uns Einsteins, não? Ora, era só mesmo o que faltava.

Adiante.

E agora?


Pois bem. Quem investiu no aumento de capital do BES, está a arder. Cerca de 60% do que lá meteram já foi ao ar. Muitas fortunas aplicadas nas empresas do Grupo esfumaram-se. Muito dinheiro levou sumiço. Muitas empresas vão abanar. E só não me alongo mais porque já aqui o fiz várias vezes.


Mas, uma vez limpa a casa (tanto quanto é possível em meia dúzia de dias...), descobertas as carecas, assumidas as trapaças e os embustes, o BES deitará mãos à obra, arranjará forma de reforçar o capital, mudará de mãos (se calhar também de nome, como tem vindo a ser referido) e... a vida continua.


Para esclarecer todas as dúvidas, o Jornal de Negócios, preparou um esclarecedor conjunto de perguntas e respostas que recomendo a quem quiser perceber melhor as implicações do que está a acontecer. Serviço público.

Os resultados negativos esperados no BES no primeiro semestre são motivo de alarme? Os contribuintes podem ser chamados a apoiar o banco? Os novos desenvolvimentos trazem dúvidas para os depósitos dos clientes do BES? Os clientes de retalho do BES que investiram em papel comercial do GES podem estar tranquilos? Porque é que a queda das acções pode ser um problema? Etc.


Tudo respondidinho, e bem, no Jornal de Negócios, em mais um belo trabalho de uma das mulheres de quem se tem falado a propósito do best seller do momento, o Último Banqueiro: Maria João Gago.

____


E mais não digo porque já passa das 2 da manhã e amanhã a alvorada é cedo e quero ver se ainda consigo dormir qualquer coisinha.

____


A música é Os Búzios na voz de Ana Moura.

Os graffitis são do meu muito amado Banksy. O cartaz da senhora que já admite nada lhe restar para comer senão os ricos, não sei por onde desfilou.

____


Nota: No outro dia, escrevi uma letra mal e a palavra transformou-se num erro grosseiro. Não estou livre de que isso me volte a acontecer. Aliás, é mais do que provável que isso aconteça aos pontapés. Estou a escrever quase a dormir e já não consigo rever o que escrevi. Caso detectem erros, por favor, não se acanhem, corrijam-me, está bem?


E, se me permitem, relembro: se quiserem descansar a vista ou apimentar um pouco a vossa vida, avancem, por favor, até ao post seguinte.


___


Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira. 
Saúde, sorte e sonhos bons é o meu desejo para hoje.


.

terça-feira, julho 15, 2014

O que vai acontecer a Ricardo Salgado e outros que, à frente do BES, usaram o dinheiro dos depositantes e dos investidores como se este lhes pertencesse e dele pudessem fazer o que lhes apetecesse? E qual o valor das inspecções das troikas, reguladores e demais auditores que nunca dão por nada? E o que vão o Governo e o BdP fazer para evitar uma derrocada sistémica,' agora que tudo arde'? Perguntas simples numa noite de verão. Fazem coro comigo: Craig-James Moncur, Carlos Paz e Viriato Soromenho Marques. E, para me ajudar no tema que se fala, o da Reestruturação da Dívida, trago os especialistas da Porta dos Fundos.







Já aqui falei disto: os empresários portugueses, os ditos grandes empresários, os happy few, construíram os seus impérios em cima de nada, isto é, de dívida. Não os construíram sozinhos porque não têm arte suficiente para isso. Têm, sim, um pressuposto em mente: não investir o seu próprio dinheiro nos seus negócios. E têm, depois, um batalhão de juristas, fiscalistas, auditores, consultores, experts de toda a espécie a trabalhar para si. Corrijo: não para si mas para as suas empresas pois são as empresas que os pagam. As empresas têm que pagar tudo, tudo. Não eles.

São criadas sociedades que detêm participações noutras sociedades, que detêm outras sociedades e mais outras e mais outras e por aí fora e há sociedades onde são parqueadas dívidas, outras que são veículos, outras que são instrumentais. Há consolidações para obter benefícios fiscais, há artifícios, há muito por onde fazer rodar as verbas. Tudo dentro do que é lícito, jogando nos interstícios da licitude. 

É sabido que as leis são estudadas e validadas por assessores e por grupos de trabalho por onde circulam deputados, ex-deputados, membros de escritórios de advogados, empresas de consultoria e auditoria, tudo na maior promiscuidade. O que se passa nos lugares onde tudo se passa,  não é percebido pelos olhos inocentes de quem julga decidir alguma coisa, os eleitores.

Mais: as universidades e institutos mais prestigiados a nível de gestão financeira e de negócios ensinam isto mesmo. Católica, INSEAD, por exemplo. 



Já aqui o disse e sei que me estou a repetir mas gostava que não se esquecessem que se ensina (ou ensinava-se até há muito pouco tempo) nestas grandes escolas que gerir bem é gerir para o accionista e que gerir para o accionista é criar valor para o accionista e que, para isso, bom, bom é a alavancagem financeira. Ou seja: usar um mínimo de capitais próprios, ou seja: um máximo de empréstimos financeiros. Quanto mais juros se pagam, maiores são os custos, e se maiores são os custos, menores os lucros brutos e, portanto, menos os impostos que se pagam e melhores são os lucros líquidos (e a isto, entre outras habilidades, se chama optimização fiscal). E, desta forma, investindo capital alheio, escusa mexer-se no capital próprio. Ou seja, os accionistas escusam de lá meter dinheiro. Pagam-se os investimentos com o pêlo do cão (expressão usada para designar que quem paga o investimento é a própria empresa, não o dono da empresa). Podem comprar-se empresas atrás de empresas, fazer investimentos de toda a ordem, sem lá meter um chavo.

Os bancos emprestam.

Qual a garantia que os bancos têm de que os empréstimos são pagos? A garantia, na maior parte das vezes, é a própria empresa, seja através de acções, seja através dos bens ou serviços adquiridos com o empréstimo.

E se o investimento for um fiasco e a empresa não o puder pagar? Nada a saber: dão-se ao banco acções da empresa ou o que se adquiriu com o dinheiro do empréstimo. 

E se as acções valerem zero e o que se comprou valer ainda menos? Azar. Azar para o banco, claro.

[É aquela velha máxima: se eu dever um milhar, o problema é meu; se eu dever um milhão, o problema é do banco]

Claro que para prevenir situações como as descritas, que assentem em garantias precárias, em que há mais do que possíveis riscos, em especial os sistémicos, e para garantir a solidez do sistema bancário, existem os reguladores, os auditores, os agentes responsáveis por fazer testes de stress, por validar contas e rácios de solvabilidade e outros, por atestar o merecimento da confiança. Contudo, estranhamente, como sempre que rebenta uma bronca, verifica-se que falharam todos. Todos. Ninguém percebeu, ninguém viu, ninguém agiu. Uma vergonha. Incompetência, conluio, interesses, cortesia, solidariedade de casta, cobardia? Não sei. Não consigo explicar uma coisa destas.


O que acima descrevi, os empréstimos dados sem garantias reais ou as verbas aplicadas em produtos de risco, foi, mais coisa menos coisa, o que aconteceu ao BCP, por exemplo. É isto que agora está a acontecer às sociedades financeiras do GES e é por isso que o BES vai ter que reconhecer milhares de milhões de dívida incobrável pois financiou toda a espécie de sociedades insolventes do GES, ou não se sabe o quê (por exemplo, em Angola, parece que se perdeu o rasto a milhões e milhões que foram emprestadadas não se sabe a quem nem a troco de quê - embora se desconfie).


Ouço agora os papagaios do costume a dizerem, convictamente como sempre, que isto não é o BPN e a SLN, que esses eram um caso de polícia. Do que tenho lido e ouvido, não sei se há diferenças. Aliás, sei: o BES é muito maior, as implicações muito maiores, o rombo global muito mais difícil de quantificar. Quanto ao resto, alguém terá que me explicar - mas muito devagarinho a ver se eu consigo perceber.

Mas o BES não emprestou apenas dinheiro a rodos e sem garantias reais a empresas da família, isto é do universo GES. Ouço que enfiou milhões nos clubes de futebol e que, por isso, já se estará a assistir a uma venda apressada de jogadores. Não sei. E não tenho dúvidas que o BES enfiou rios de dinheiro em tudo o que é grande e média empresa, grande parte das quais vivem também em cima de dívida - e que, se se virem obrigadas a pagar de súbito o que devem, vão para o buraco em três tempos. É que nem duvidem.


Nunca tivemos economia a sério nem uma verdadeira política de desenvolvimento económico. A infância da democracia e o servilismo deslumbrado de uma classe política pouco culta deu nisto. 

Saímos de um proteccionismo caduco e em grande parte falido (antes do 25 de Abril) para um período de euforia despesista, gerida por gente que não estava preparada para isto. Já aqui o disse muitas vezes: penso que o período mais nefasto para o País neste pós 25 de Abril foi o período cavaquista. 

A troco de fundos e subsídios, Cavaco Silva aceitou acabar com o que restava de tecido económico português e inviabilizou o que podia nascer e prosperar sustentadamente. Fechar a indústria, acabar com a frota pesqueira, pôr os campos agrícolas em regime de set aside foi do mais nefasto que se poderia desejar para um país que dava os primeiros passos no percurso da democracia e do desenvolvimento moderno.

Não se fazem políticos como se saíssem de brinde da farinha Amparo. Gente das jotas, amigos de amigos de amigos, ex-autarcas, funcionários de bancos alcandorados a experts dentro dos partidos, advogados ao serviço e avençados de toda a espécie - tudo farinha do mesmo saco. Espertismo em vez de cultura política.

Há que ter maturidade, sentido de estado, cultura, competência, experiência - e a clique cavaquista e quase tudo o que se lhe seguiu foi de meter dó.

A nata portuguesa tem pouco de verdadeira crème de la crème. Políticos, banqueiros, autarcas, pseudo-empresários, jornalistas: um caldo que tem ajudado a perpetuar esta indigência e a manipular um povo genericamente envelhecido, inculto, com pouco mundo.

A euforia pós-euro fez o resto: crédito a preço de uva mijona, um incentivo permanente ao consumo para que os país pobres e desindustrializados consumissem os excedentes dos países desenvolvidos. As directrizes europeias quando rebentou a crise financeira foram no mesmo sentido: prego a fundo no investimento. E haja financiamento bancário.

Deu no que deu.

Depois, quando se assustaram com o ataque dos abutres especuladores, foi o que se viu: travão a fundo, doa a quem doer. Tiraram o tapete à bruta, e que se lixem os que estavam em cima. Um trambolhão é um dano colateral até muito brando, há coisas piores, então há? Até porque os desgraçados aguentam tudo, ai aguentam, aguentam, já lá dizia o outro.

E assim estamos. Mais pobres, espoliados, entregues à bicharada. Sem governantes capazes, sem reguladores eficientes, sem políticos experientes e responsáveis, com uma múmia em Belém.


No meio disto, a família Espírito Santo parece ser carta fora do baralho do poder económico português (e espero bem que a justiça perceba que tem uma palavra a dizer) mas o rombo nas economias de muitas famílias vai fazer-se sentir por muito tempo e vamos ver se o BdP e o Governo têm a maturidade suficiente para fazer o que deve ser feito mesmo que momentaneamente impopular. 

É indispensável colocar um travão na desconfiança e no temor, há que ter sangue frio e, se necessário for, há que ser capaz de intervir (seja por injecção do fundo que estava reservado a isso, seja de que forma for). A não ser assim, pode assistir-se a uma queda em dominó, de consequências imprevisíveis. Os portugueses não merecem ser ainda mais saqueados por quem não tem um pingo de vergonha. Para proteger os povos existem o Estado e as suas instituições.





___


Permito-me ainda recomendar-vos algumas coisas que achei importantes e que descobri por aí.


1. Do sempre oportuno e acutilante blogue Bons tempos hein?!: 'The banker', magnífico.



"O Banqueiro" poema de Craig-James Moncur, dito por Mike Daviot.



2. Do blogue Aventar, A história do banco do meu avô, da autoria de Carlos Paz. Muito bem descrito.


Transcrevo apenas a parte final mas digo-vos que acho que deve ser lido na íntegra:

Fui falar com os novos políticos com uma proposta: reformo-me, dou lugares de Administração a uma série de políticos do partido do Governo e eles que resolvam o problema do Banco do meu avô.
Continuemos a IMAGINAR coisas…
Os políticos aceitaram a minha proposta (aceitam sempre que se fala de lugares de Administração). 
Finalmente reformei-me. Ainda somos donos de 5% do Banco do meu avô e de uma série de outros negócios (sustentados pelas dívidas ao Banco do meu avô).
Tudo isto sem termos gasto um tostão (o dinheiro da família continua todo guardado na América do Sul).
E, tomei a última medida antes de me reformar: atribuí a mim próprio uma reforma de um milhão de euros por ano (para as despesas correntes).
E, assim, acabou a história IMAGINADA do Banco do meu avô.
**************
Se alguém teve a paciência de ler este texto até ao fim, deixo uma pergunta: Se esta história em vez de ser IMAGINADA, fosse verdadeira, que fariam ao neto?


3. Do Diário de Notícias, mais uma excelente crónica de Viriato Soromenho Marques, Tragédias antigas e modernas


Transcrevo também apenas a parte final mas, como em todos os textos de Viriato Soromenho Marques, todas as palavras contam:

Se Aristóteles contemplasse a moderna tragédia sistémica do mundo financeiro, do Lehman Brothers ao GES/BES, ficaria emudecido. Os personagens que causam a catástrofe não são nobres. São, na verdade, gente grotescamente banal. No lugar de uma consciência moral, muitos possuem uma vertigem narcísica que tudo absorve (por exemplo, o "livro" de João Rendeiro, do falido BPP, tem a profundidade de uma tábua rasa). Depois, os seus actos de mentira, logro, ocultação, são mera predação desprovida de grandeza, causando dano apenas aos outros. Indivíduos e povos inteiros. Desde 2008, foram afectadas centenas de milhões de pessoas, pela desmesura de algumas centenas de figurões do sistema financeiro mundial. Dezenas de milhões perderam os seus empregos, e viram a sua integridade física e psicológica molestada. Por último, não houve qualquer catarse. Estas criaturas menores compraram imunidade total, porque têm entre os seus activos as leis e os governos que os poderiam levar a juízo. Assistem, no conforto protegido das suas "salas de pânico", ao puro terror que semearam pelo mundo, como Nero assistiu ao incêndio de Roma. É uma tragédia moderna. Um espectáculo vil. Uma miséria sem conceito.


__


Bom. Não posso despedir-me assim, no meio de tanta agrura. 

Por isso, bora aí  minha gente, vamo falar de renegociação de dívida, valeu? 

Bem, galera, no que toca a dívida eu sou toda a favor mas, olha aí, eu tenho meu limite, viu? P'ra começar não vou levantar o bum bum da cadeira até esse troço aí da dívida estar todo renegociado, viu? E, memo assim, vou sair às arrecuas, ouviu aí, seu moço?



O BANCO - Porta dos Fundos


Transcrevo do Youtube:

Bancos são cruéis. Eles aparecem na sua vida, prometem mundos e fundos, te f@#$% gostoso, nunca mais te ligam e quando você vai reclamar, aparecem com uma historinha nova e te f@#$% gostoso de novo.


_ _ _ 

Para verem como sou cabeça no ar. Nesta noite quente, com o rio banhado por um luar de encantar, vinha para aqui com vontade de escrever sobre palavras aladas; mas ouvi as últimas sobre o BES e não resisti. É esta driving force que parece que me puxa para a chungaria, senhores, que castigo. Com tanta coisa boa para falar e logo fui falar desta gente que vive acima das nossas possibilidades, que suga o sangue e o suor sem olhar a quem. 

É preciso cortar o ordenado aos pobrezinhos para que tenham menos força para protestar, é preciso acabar de vez com os direitos laborais para que mais facilmente possam ser postos no olho da rua com uma à frente e outra atrás, é preciso acabar com as escolas no interior, com a investigação, com a saúde pública. Dizem-nos a toda a hora.

Para quê? Ainda não se percebeu mas o que vemos todos os dias é para onde vão os milhões e milhões que são sugados à população em geral: para o cano, isto é, para o bolso de corruptos, de gente que vive à margem da lei, bandidos de punhos de renda. Que sina esta, credo.

A ver se amanhã a coisa começa a entrar nos eixos para o País sossegar, que bem merece, e para ver se me posso dedicar à reinação ou à efabulação.

__

E, assim sendo, vou-me deitar que já se faz tarde. Incapaz de reler dado o adiantado da hora e o tamanho do lençol que daqui saíu, só espero que não haja gralhas indecorosas. Se as houver, por favor, sejam indulgentes, está bem...?

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça feira. 
Saúde e sorte é o que vos desejo - no mínimo.


sábado, agosto 03, 2013

Alô! Alô! Não há por aí nenhum amigo do inteligente Pedro Lomba que lhe explique que uma pessoa pode fazer uma coisa que é legal mas, depois de a ter feito, só se tiver uma grande cara de pau é que pode vir pregar o que quer que for? Ai este Lombinha...O Rui Machete ter ganho 150% com as acções do BPN pode ter sido legal, ó Lombinha, mas, depois de saber que quem anda a pagar esses lucros chorudos é o zé povinho, ainda tem vergonha na cara para falar em podridão política? E acha que pode fazer parte de um governo que anda a esfolar vivos os contribuintes? Ai, Lombinha, Lombinha, não há por aí ninguém que te explique o que é honorabilidade, a ética, coisas dessas? Tão inteligente que achavas que eras para agora andares a fazer figurinhas destas nos teus hilariantes lombinha briefings... Ai, ai. Ora lê lá as explicações do Nicolau Santos no Expresso online a ver se consegues perceber.


No post abaixo falei de ambientes calientes, casas bonitas, sonhos, uma lingerie muito sexy, homens belos como estampas (falei e mostrei!). É o Agent Provocateur em acção e a namorada do CR7 a alinhar na brincadeira. Se querem ficar inspirados, não deixem de dar uma espreitadela - vão por mim.

Mas agora, admitindo que já andaram por lá, para vos esfriar a cabeça, venho atirar-vos um baldinho de água fria. Uma coisa mesmo desmancha-prazeres. 



Pedro Lomba, Secretário de Estado adjunto do Poiares adjunto, aqui de Portugal na lapela, tão lindo

No entanto, e que ele que me perdoe a intimidade, para mim ele é o lombinha dos briefings,
aquele que suscitou uma muito apropriada referência aqui



Se não se importam, vejam bem isto - e passo a transcrever:

O secretário de Estado adjunto do ministro-adjunto, Pedro Lomba, disse hoje não existirem dúvidas sobre a legalidade da venda de ações da SLN ao BPN por parte do actual ministro dos Negócios Estrangeiros.


 "Não há dúvidas sobre a legalidade dessa operação", afirmou Pedro Lomba, no briefing do Governo com os jornalistas, que durante o mês de agosto se realiza às terças e sextas-feiras.


Segundo uma notícia divulgada hoje pelo jornal Público, o agora ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, adquiriu, no início da década passada, cerca de 25,5 mil títulos da SLN, dona do BPN, a um euro cada, que alienaria nos anos seguintes ao grupo liderado por Oliveira Costa, mas agora a dois euros e meio por ação, obtendo um lucro de 150 por cento.

Quando tomou posse, na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros classificou como um reflexo da "podridão dos hábitos políticos" as críticas por ter exercido funções na SLN.

*

Como o Lombinha não percebe, passo a transcrever parte das palavras de Nicolau Santos numa crónica a que, muito justamente, chamou Quem se julga esta gente:



Ora para quem não se lembra, o BPN não estava cotado em bolsa. Por isso, só comprava ações do banco quem a administração convidava para tal. Foi assim com Cavaco Silva, que comprou e vendeu ações do BPN tratando diretamente do assunto com o presidente da instituição, Oliveira Costa.


Depois, a compra de ações de ações pelo banco por valores muito superiores aos que as tinha vendido não resultava do livre funcionamento do mercado - mas de uma decisão da administração e, em particular, de Oliveira Costa.

Quer isto dizer que o presidente do BPN beneficiou quem quis - e beneficiou seguramente os seus amigos. Não por acaso, todos (ou a esmagadora maioria) os beneficiados com a venda de ações altamente valorizadas ou com vultuosos empréstimos não reembolsados são membros ou simpatizantes do PSD. E suponho que não é preciso dizer os nomes.

Por isso, se tudo fosse tão normal e transparente, Rui Machete não teria eliminado do seu curriculum as funções que ocupou no BPN. Por isso, também não devia ter dito que isto revelava a podridão da sociedade portuguesa.


É que se este caso revela alguma coisa é a podridão com que altas figuras do PSD ligadas ao Estado ganharam muito dinheiro com um banco fantasma que era liderado por uma grupo de malfeitores.


E é esse dinheiro fácil que está agora a ser pago, com língua de palmo, por todos os contribuintes. Mais de 4 mil milhões de euros dos nossos impostos servem para pagar as mais-valias e os empréstimos não reembolsados que o BPN concedeu.


Por isso, seria de muito bom tom que todos os que lucraram com o BPN se calassem e que não nos tentassem convencer que tudo foi limpo e transparente no dinheiro que ganharam. É que, como de costume, os senhores privatizaram os lucros. E deixaram para os contribuintes a socialização dos imensos prejuízos. Haja vergonha! 

**

Nem mais.

Ainda cá volto.

quinta-feira, julho 04, 2013

Maria Luís Albuquerque, a Miss Swaps, a nova Ministra das Finanças do Governo de Passos Coelho ... e o BPN [Segundo Paulo Morais]


Nos posts a seguir a este falo da humilhação a que Paulo Portas é sistematicamente sujeito, dentro do Governo, junto do PSD, junto do CDS, à vista de todo o País - sendo certo que é ele que se põe a jeito. E falo também da responsabilidade que ele e Passos Coelho têm no empobrecimento de Portugal em cerca de 2.000.000 euros resultante da imaturidade e indignidade que estão a revelar ao mundo. Falo ainda na entrevista de Adriano Moreira a Paulo Magalhães na TVI 24. O contraste mais absoluto: honestidade intelectual, maturidade, classe, visão, perspicácia. Um prazer ouvir este Senhor. 


Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.

Leitor amigo enviou-me três vídeos interessantíssimos. Amanhã a ver se vos mostro os outros. Hoje, agradecendo imenso a generosidade com que me dá a conhecer informação com que eu, de outra forma, não tomaria conhecimento, mostro-vos Paulo Morais em acção. Tudo clarinho - ou não fosse ele matemático.

O BPN. As teias de que se tece a corrupção. As aranhas que se protegem através das teias. E, lá mais para o fim, Maria Luís Albuquerque, a nova Ministra das Finanças, uma daquelas pessoas das Finanças que passa de Governo para Governo (já trabalhou com o Governo do PS), que conhece bem os dossiers e que, segundo Paulo Morais tem uma vantagem: conhece bem os dossiers. Tem uma desvantagem: não quer falar deles.




*

quarta-feira, setembro 14, 2011

'Andar no fio da navalha', 'O ruir dos nossos sonhos', 'Da queda da Grécia ao sobressalto na Europa', ou antes 'Como é que chegámos aqui?!' - valham-nos os homens bons como o Dr. Silva Lopes que 'empacotava o Alberto João que nem ginjas' (*)


Meus Caros Amigos, as coisas estão de novo muito incertas. Com as ilhas vendidas ao desbarato e a sofrer a agiotagem de juros a mais de 60%, a Grécia (que estudámos como o berço do conhecimento e da democracia, lembram-se?) está a sofrer a humilhação que sofrem os desapossados, os desacreditados.

Mas, ruindo a Grécia, a Europa afundar-se-á ainda mais um pouco.

Os urubus aí andam, a sobrevoar os nossos tectos, a rondar os nossos antigos sonhos.

Pensávamos que estávamos a construir um futuro, pensávamos nos anos dourados da nossa reforma, pensávamos num futuro risonho para os nossos jovens, idealizávamos um admirável, tecnológico e descansado futuro para os que agora são ainda crianças.

Tínhamos qualidade de vida e achávamos isso natural dado que trabalhamos, dado que investimos antes na vida que temos agora.

Mas um dia começámos a ouvir que lá bem longe havia uma crise, a dos subprimes, depois ouvimos falar numas tais Fanny Mae e Freddie Mac, nomes engraçados, era tão longe de nós, depois veio a surpresa do escândalo do Maddoff e a queda do Lehman Brothers e o mundo começou a estremecer. A grande AIG e grandes bancos, até em Londres, e a coisa já estava aqui.




Escândalos domésticos de má gestão e usura começaram a rebentar por cá e os anteriores casos exemplares de boa gestão como Rendeiro e afins e toda a trupe do BPN, deram à costa. E, de repente, tudo estremecia e nós começámos a temer que a nossa vida anterior tivesse, afinal, sido apenas um sonho.




O BCP, caso de estudo, um banco que soube diferenciar-se e, assim, crescer, viu-se envolvido em guerras pouco cristãs, ódios fraticidas, formaram-se facções, a banca, ah a generosa banca que tanto ajudou à festa, emprestou dinheiro à tripa forra para o que fosse preciso, para tomar partido contra accionistas mal amados, para crescerem sem que, de outra maneira, tivessem como, e a banca foi emprestando dinheiro tendo como garantia as própria acções, e a banca emprestou também para que as pessoas comprassem casas que jamais poderiam pagar, para que as pessoas fossem de férias à Turquia, à República Dominicana, emprestou dinheiro para que as empresas investissem não tendo os accionistas que meter lá nem uma pinga do seu sangue... e assim fomos, até que um dia, de repente, tudo isso era, afinal, mal feito.

Um dia o dinheiro rarefez-se e as acções desvalorizaram-se e os grandes empréstimos ficaram a descoberto, um dia a banca fez as contas e viu que já não tinha dinheiro para continuar a emprestar e que toamara que ninguém se lembrasse de levantar os depósitos (porque o dinheiro tinha ido para Joe Berardo derrotar O Dr. Jardi, para o Nuno Vasconcellos da Ongoing se tornasse accionist ade referência na Zon, e por aí fora, por aí fora (porque, afinal, vemos agora, ricos não os há, o que há são grandes endividados que vivem como ricos).


Joe Berardo no seu Budha Eden Garden

E, no Estado, um dia viu-se que já não tinha dinheiro para pagar as reformas, as baixas, os subsídos de férias e que só tinha dinheiro para trocos, nem quase já para ordenados.

E assim fomos até que um dia acordámos e estávamos de joelhos.

Um dia acordámos e a Irlanda também já assim estava, a Grécia era a paródia do mundo.



E este é o tempo que vivemos.

Os nossos governantes são abúlicos, dizem uma coisa aqui, outra quando estão pela mão da madame Merkel, dizem uma coisa entre nós, dizem o contrário quando se apanham longe de nós, dizem que estão a esforçar-se e só os vemos a irem-nos ao bolso sem dó nem piedade.

E hoje a troika diz que não chega, que nos últimos meses já se desviaram mil milhões (mas onde, Mr. Gaspar, onde?!, como é possível tamanho desvio em tão poco tempo?), que novos sacrifícios são precisos. E Vitor Gaspar, obediente, assegura à troika, 'ok, there will be blood' e já pensa quais as próximas vítimas que irá sacrificar


O dito Gaspar: já têm que o levar quase pela mão que ele, pelo ar, já não dá lá muito bem com o caminho

Mas o que é aquilo que ele tem ali pendurado nas calças, bem na frente...?
(estou aqui a ver se percebo e não consigo)

Ao que chegámos, ao que chegámos... Que descontrolo, que aflição!

Entretanto, na Madeira, o Alberto João, depois de resolver fazer oposição aos cubanos e de, com essa desfaçatez, ter provocado mais um rombo nas contas públicas, prepara-se airosamente para ser reeleito.

Tudo isto é patético, tanto mais que assistimos mansamente (ah como eu às vezes odeio o meu jeito manso), a esta pouca vergonha.

No outro dia, o Comissãrio Europeu para a Energia, o alemão Gunther Oettinger, saíu-se com uma ideia peregrina: a de que as bandeiras dos países faltosos fossem postas a meia haste. Nem mais.



Até me admiro que não tivesse também proposto que os governantes desses relapsos países comparecessem nas reuniões com orelhas de burro. E eu não sei se me ria, se já não ligue nada a tanta parvoíce. Teria graça ver o Passos Coelho, submisso, de orelhas de burro, a lamber os pés à Angela - mão não, não quero ver isso. É que ele é português e eu sou muito portuguesa, não quero ver os portugueses a serem humilhados.


Mas, se quase só vejo parvoíce á minha volta, há pessoas cujas opiniões venero. Não há muitas, mas há algumas. Às vezes até posso não concordar com algumas coisas mas são sempre opiniões inteligentes, sérias, sóbrias, ditas por genuína vontade de contribuir, nada de vão exibicionismo. Uma dessas pessoas que eu ouço e vejo com respeito, admiração, carinho mesmo, é o Dr. Silva Lopes.

Um homem bom


Ele fala, com aquele sorriso de homem bom, com aquelas suas belas mãos de homem sábio, e eu quero que à minha volta toda a gente se cale para eu o poder ouvir atentamente.

Hoje ele falou. E disse que achava que se deveria fazer uma lei que impedisse os governantes que fossem infractores fiscais de voltar a candidatar-se durante uns quantos anos, 10 sugeriu ele. E exemplificou: 'com uma lei destas o Alberto João Jardim há muito que tinha deixado de poder fazer o que tem andado a fazer, nomeadamente a fazer oposição política com o dinheiro dos nossos impostos.'

Grande ideia. E tão simples. Como sabe bem ouvir a voz de gente séria, sábia, generosa, culta à moda antiga.


(*) O Crédito a quem de direito - aprendi a expressão 'empacotar que nem ginjas' com a fiel depositária do mais conhecido Fio de Prumo deste País que a usou num divertido comentário que aqui me deixou, e, por tal, daqui lhe envio os meus agradecimentos.

terça-feira, agosto 02, 2011

Rentrée chuvosa, saldos imprestáveis, notícias para esquecer (Vitor Gaspar paga ao BIC para ficar com o BPN, Álvaro e os transportes, Relvas e a RTP, Obama de gatas, etc)

Um período de férias de apenas duas semanas é um tiro no pé. Mal começam, já está o fim à vista; três semanas é a conta certa (quatro, o ideal).

Este ano, por razões imprevistas, teve que ser assim mas a ver se não caio noutra. Ainda por cima, atarefadas que foram (mas boas!), recomecei a trabalhar mesmo a precisar de férias.

O que vale é que, para o sofrimento não ser excessivo, o tempo travestiu-se de Outono; até me parecia que tinha retrocedido no tempo e estava a voltar ao liceu depois das férias grandes, os dias mais curtos, uma chuva miudinha, a temperatura a pedir um agasalho.

Ou seja, back to the big city - o mesmo é dizer que, apesar de, quando em casa, estar mais perto do céu, já não estou in heaven.

Quando me levantei fui logo à janela, lavar o olhar no rio. Ah, que bom viver numa casa with a view.

A Ponte Vasco da Gama sobre um Tejo calmíssimo
onde um navio ao largo parece um pequeno ponto de luz encarnada

Pelo caminho, com pouca vontade de retomar já o trabalho, ia a pensar, ‘o que vale é que, à hora do almoço, me vou desforrar nos saldos’.

Era assim que eu já me via a regressar dos saldos

Quando chegou a hora, saí, lampeira mas, quando cheguei ao local onde costumo almoçar, vi logo que a coisa não estava de feição. Gente e mais gente e mais gente. Com o tempo assim, em vez de irem para a praia, os veraneantes foram todos almoçar ao centro comercial e aos saldos. Só para almoçar estive uma hora: o restaurante a deitar por fora, um stress, o tempo a passar e eu ali à espera de ser servida.

A seguir, passei pelas lojas para que já estava de pezinho feito e… decepção: restos imprestáveis, um deprimente fim de festa.

Pensei, ‘nada de desesperos, há sempre a Zara, bora lá’.

Qual quê? Gente e mais gente e mais gente, mairitariamente africanos e brasileiros, famílias inteiras, crianças aos gritos, velhos infelizes, pelos cantos, cansados, carregados de sacos, velhas de olhar perdido a quererem gastar dinheiro e sem saberem para onde se virar, novas a remexerem freneticamente em tudo, carregadas de cabides a caminho dos provadores, outros de calção e chinelos como se tivessem saído de casa para ir à praia e, face à chuva, tivessem dado meia volta e ficado logo ali, num despreparo. Ou seja, uma confusão, uma barafunda, uma desmotivação.

Pensei: 'no problem, já enfrentei desafios bem mais complexos'.

Àquela hora já devia estar a caminho do emprego e ainda ali estava - tinha que justificar perante mim mesma a demora, tinha que ser capaz de comprar alguma coisa nos saldos. Persistência e olho vivo, mulher!

Qual quê? Quase tudo já roupa de Outono! No primeiro dia de verão e já quase só se encontra à venda roupa de Outono. Quem é que tem motivação, a meio do verão, para comprar roupa quente?

Zara Outono/Inverno

Pensei, ‘Caraças, hei-de descobrir alguma coisa de verão’. Circulei, circulei, circulei e lá acabei por pegar numa tshirt preta com uma cabeça de pantera à frente, quase que só se vêem os contornos e os olhos verdes, gira, uma boa compra, 5,99€ mas que, of course, não vou poder usar no trabalho (noblesse oblige) e que, há pouco, ao chegar a casa, vi que é completamente transparente - ou seja, tem que ser vestida com um top por baixo o que é capaz de a tornar demasiado justa.

Ou seja, cheguei tarde e derrotada. Que chatice, isto tudo.


E depois, no carro só notícias de treta:

. O BPN vendido aos angolanos do BIC por tuta e meia (40 milhões) e o Estado ainda tem que meter lá 550 milhões de euros e ainda vai ter que indemnizar as centenas de pessoas que vão para a rua, despejadas juntamente com o passivo indesejável - e não sei porquê mas fico chocada com o rumo que isto está a tomar,

. O Álvaro muito compungido a dizer que ele, antes (presumo que no Canadá, quando ia dar aulas) ia de transportes públicos pelo que imagina que este aumento penalize as pessoas - e não sei porquê mas acho que este tipo não faz a mínima de que a vida em Portugal não tem nadinha a ver com a vida no Canadá,

. O inefável Miguel Relvas, com voz etéreo, a dizer que os resultados na RTP estão a ser muito agradáveis mas que a reestruturação não é incompatível com a privatização - e não sei porquê mas acho que mais que com um avental, ele está é com uma tremenda saia justa: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come,

. Lá por fora, a crise vai brava por todo o lado: o HSCB vai despedir 30.000 pessoas nos próximos 2 anos - e isto assusta-me porque a economia a esfriar desta maneira é uma paragem no desenvolvimento,

. Os juros da dívida em Espanha e em Itália estão a disparar - e isto assusta-me porque se eles se afundam, não haverá como lhes deitar a mão,

. Obama, que conseguiu o acordo que evitou a bancarrota americana e a derrocada mundial, teve que vergar perante os republicanos, fazendo-lhes todas as vontades - e isto dá-me pena porque é um hiato (espero que apenas um hiato - não uma capitulação) na tentativa de justiça social que Obama tanto gostaria de imprimir nos EUA,

. Os russos e os chineses estão contentes com o acordo americano mas muito apreensivos com o escalar exponencial da dívida americana - e eu fico preocupada porque os EUA flutuam num colossal colchão de ar que é só dívida e, se um dia esse colchão estoura, não sobra para ninguém,


E agora digam-me vocês, se forem capazes: depois de umas míseras duas semanas de férias, depois de uma mísera sortida aos saldos, quem é que aguenta tanta desgraça, quem é que aguenta uma coisa destas?

(Também ouvi coisas boas como, por exemplo, que Bruxelas vai antecipar 630 milhões de euros em fundos para ver se reanima a economia portuguesa – mas o que é isso nas mãos desta gente que se mostra insensível, com uma visão desfocada da realidade, com uma mentalidade ultra liberal, que ignora a história e as consequências fatídicas que demandas desta natureza têm tido nas nações onde são perpetradas?)


Pronto, já perceberam, não foi? Estou com uma neura... Não vos maço mais.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Legalidade, legitimidade, honorabilidade - o BPN e as presidenciais

Claro que, entre outras razões, o buraco sem fundo do BPN resulta dos rendimentos absurdos que, durante anos, e sob diversas formas, foram distribuídos.


Conforme se irá validar judicialmente, aparentemente na gestão do BPN houve burla, fraude, branqueamento e tudo o que um bando de malfeitores costuma fazer quando põe a mão na massa. Como é sabido nos esquemas de tipo esquemas de tipo pirâmide, é possível (mas ilegítimo!) distribuir rendimentos altos usando para isso o dinheiro dos que vão entrando no esquema. A apetência por rendimentos altos, mais altos do que o normal, faz com que novos clientes sejam atraídos e, portanto, enquanto dura a entrada de novos clientes, há dinheiro fácil para distribuir.

O pior acontece quando, por algum motivo, esse fluxo de entrada se interrompe. Como não existem fundos de reserva, se, quem entregou dinheiro, o quer recuperar, verificar-se-á que não há e, não havendo, começa a gerar-se o pânico e aí estaremos perante o fenómeno inverso, todos a quererem debandar. E não haverá dinheiro para saldar todas as contas. Daí os depositantes sentirem-se logrados, e daí o risco de que todo o sistema bancário, mesmo o que é sério, se veja descredibilizado.

É evidente que, seja qual for a entidade bancária,  nunca haverá dinheiro suficiente para saldar contas se toda a gente quiser sair ao mesmo tempo pois o dinheiro entregue não fica debaixo do colchão do banco. Ele é posto em circulação e isso é o correcto. E tudo funcionará bem se se mantiver o normal fluxo de entradas e saídas, salvaguardadas as devidas garantias.

Mas é para evitar o descrédito do sistema bancário e consequentes movimentos de pânico - com toda a gente a querer ir buscar ao mesmo tempo o dinheiro que depositou nos bancos - que os governos tentam colmatar problemas, nacionalizando os bancos com problemas graves (geralmente são os bancos que, por via fraudulenta ou incúria ou tudo junto, pagaram rendimentos mais altos que deviam, desequilibrando a exploração e gerando ‘buracos’).

Foi o que aconteceu no BPN.

Estamos agora a presenciar um buraco que não tem tamanho, um pesadelo. Esse buraco resultará, a provarem-se as acusações, de gestão danosa, de apropriação indevida, etc, etc, e do somatório de dinheiro absurdo pago a quem, durante os ‘anos bons’, usufruiu de rendimentos exorbitantes.

A ser verdade o que os media divulgam, Cavaco Silva e a filha, pela compra de acções da SLN a 1 euro e venda por 2,4 €,  ganharam respectivamente 147.500 € e 209.400 €.


Comprar e vender acções e obter lucros é legal e legítimo e, obviamente, ele e a filha não fizeram nada de ilegal. A provar-se a acusação, quem terá praticado actos ilegais, foram os gestores do banco por gerarem um ‘buraco’ insanável, proporcionando rendimentos desta ordem de grandeza sem contrapartidas reais.

A questão é outra: Cavaco Silva, que foi Ministro das Finanças, que foi Primeiro-Ministro, que foi Conselheiro do Banco de Portugal, que foi Professor Universitário, não suspeitou da gestão que se praticava naquele banco e que possibilitava a distribuição de rendimentos escandalosos?

Impossível não ter suspeitado. Isso poria em causa toda a sua credibilidade profissional. Penso que deve ter suspeitado mas todo se deve ter lambido com aquele dinheiro fácil, fechou os olhos e olhos que não vêem, coração que não sente.

Fica, pois, em minha opinião, ferido aos nossos olhos na sua honorabilidade como guardião da moral e dos bons costumes nacionais.

Nota: Apesar disso, não é claro para mim que haja melhores candidatos do que ele ao cargo de Presidente da República. O estado a que chegámos…