Continuem. Falem muito. Digam tudo o que vos vai na alma. Despejem cá para fora todas as palavras que conhecem e não se acanhem: usem-nas mesmo que a despropósito.
Todos. Seja o bacorinho arrebitado, seja a biscateira descarada, seja a mal encarada, seja a réplica do ribeirinho, seja a galinha descabelada, seja o ressabiado no exílio - seja quem for. Queremos vê-los a serem quem são, em estado bruto, desmiolados, desencabrestados. E gritem, pateiem, insultem, insinuem. Podem até enfiar os dedos no nariz, tirar as cuecas do rabo, ver o facebook à socapa - tudo o que quiserem. Não se coibam de nada. Queremos conhecer a vossa genuína essência.
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É que há 36% (30% + 6%) de eleitores que ainda não viram bem as lindas espécies que continuam a apoiar. Portanto, é deixar os disfuncionais cognitivos completamente à solta a ver se mostram bem o que lhes vai na alma.
E, já agora, uma palavrinha para o Secretário de Estado Mourinho Félix - nalguns dossiers a seu cargo acho que tem sido um verdinho e já aqui o critiquei. E hoje voltou a mostrar que o é. Eu, por exemplo, não estou certa de que a referida disfuncionalidade cognitiva seja temporária. Portanto, cá para mim, foi, uma vez, mais um ingénuo.
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Mas isto foi um breve intervalo
Segue, então, o vídeo.
Andean flamingo mating dance
A extraordinária dança coordenada dos flamingos quando armados em conquistadores
Quem queira perceber melhor algumas coisas, então fica também o link
Pronto, confesso: tenho bom coração. Dá-me pena ver as tentativas desastradas dos seres destituídos, não conseguindo atingir os seus objectivos.
Custa-me, que hei-de eu fazer?, ver esse pobre coitado, ainda de pin na lapela, como se fosse um primeiro-ministro apeado à força, ainda à espera de conseguir voltar ao lugar.
Custa-me vê-lo a ler os sinais todos ao contrário. Se vê um sinal de stop ele avança, se vê que é proibido voltar à esquerda, é à esquerda que ele vira, se vê o sinal de beco sem saída, ele acelera e avança sem medo de encontro à parede. Dói-me a alma, que querem?, ver que anda num desatino, interpretando às avessas tudo o que lê. Se desce o desemprego, se o défice se mostra contido, se o plano da CGD é aprovado por Bruxelas, se os níveis de confiança mostram recuperação, e sei lá que mais, pois ele, coitado, diz que o modelo seguido pelo governo já falhou e até mais cedo do que ele tinha previsto.
E se é unânime já entre toda a gente com um mínimo de neurónios -- e assinado por baixo por gente isenta como os técnicos do FMI ou o Nobel Stiglitz -- que o modelo de austeridade aplicado ao limite por ele falhou e produziu resultados contrários ao suposto, pois o pobre coitado continua a achar que fez um lindo trabalhinho.
António Costa brinca, e bem, que quem andou por aí a anunciar que o diabo vinha em Setembro (sem que ninguém veja sinais disso) melhor faria em dedicar-se à caça dos Pokemons. E, de facto, ou se leva na brincadeira as demonstrações de défice cognitivo de Passos Coelho ou se tem uma atitude construtiva como eu aqui estou a ter ou, então, o pobre coitado ver-se-á votado ao desprezo e, a seguir, ao esquecimento.
Portanto eu, com a minha alma caritativa, tenho para com ele uma atitude construtiva: vou aqui deixar-lhe um vídeo que ele deverá seguir com atenção, tentando, de seguida, imitar o coach Alala.
À atenção do Láparo
Rare crow shows a talent for tool use
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Qualquer coisa mais, quer o Láparo quer a sua pequena turminha de seguidores ou, mesmo, o grupinho de alienados de entre os quais se destaca a rangélica galinha histérica, disponham. Aqui a Santa UJM está cá para velar pelos desvalidos.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma dia muito bom.
Após ter escrito sobre um homem que anda há mais de cinquenta anos a construir uma catedral com as suas próprias mãos, de ter estado a pintar (ah, que bem que me tem sabido estar aqui a pintar! há quanto tempo não enchia o espaço de tintas, paletas, tigelas com água, pincéis) e de ter estado a espreitar a espectacular cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016 (e como gostei de ver o Grupo Corpo a bailar as suas belas coreografias), fiquei na dúvida sobre se ainda me apetecia cá voltar. Mas volto.
Depois de um sábado preenchido (e, sim, com um encontro imediato de terceiro grau com uma pessoa de quem já aqui falei mil vezes - mas do qual não vou falar porque não quero ser indiscreta), que incluiu um passeio sobre o rio e no qual ainda coube uma ida ao campo, uma ida às compras e sei lá que mais, este domingo foi bem tranquilo. Uma doçura de dia.
Não vou maçar-vos com o making of deste domingo calmo mas vou mostrar-vos algumas imagens da praia. A maré vazia, um areal imenso, um mar fresco do qual subia uma aragem refrescante - e eu, como sempre, caminhei à beira da água, sentindo a rebentação suave.
Enquanto caminhava, ia conversando serenamente, olhando a paisagem.
Se vou com a máquina fotográfica em estado de prontidão, parece que reparo em cada pormenor. Quando não, se vou com ela pendurada na mão, parece que vou em estado de meditação, absorta, apenas sentindo o bem estar de por ali poder andar. Têm que me dizer, olha ali a tatuagem no rabo daquela, tatuou um surfista numa prancha, ou olha aquela a ensinar o cão a nadar -- senão não dou por nada.
Mas, já quando caminhava de regresso, reparei outra vez nas afinidades ou, talvez ainda melhor, nas cumplicidades e resolvi fotografar. Se eu soubesse que me era permitido ou se tivesse um assistente que fizesse o favor de contactar as pessoas a perguntar-lhes se me autorizavam a fotografá-las de frente, o que eu me deliciaria a apanhar momentos mesmo curiosos. Hoje por exemplo, teria apanhado aquela gorda deitada numa daquelas pequenas piscinas que se formam quando o maré vaza, em cima do seu franzino homem, beijando-o e quase o sufocando com o seu volume, ou aquele casal já não muito novo, abraçado e aos beijos, ambos nus (e como ele estava animadinho quando o abraço terminou...!).
E mais.
Assim, limito-me a fotografar as pessoas de modo a que não seja possível serem identificadas. Gosto de fotografar casais e o seu reflexo nas águas, amigas que conversam e riem enquanto enfrentam a rebentação, pessoas nadando com o seu cão. E o mar e o céu e Lisboa do outro lado, diluída em azul.
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Penso sempre que tenho muita sorte por viver num país tão bonito, onde temos paz, sem as terríveis agruras de um mundo tantas vezes sob bombas ou disparos, que tenho sorte por ter saúde e poder procurar aquilo de que gosto, que tenho a bênção de viver rodeada por pessoas a quem quero bem e que também me querem bem -- mas penso também que tudo é efémero e um dia posso não ter tudo aquilo que hoje agradeço. E essa sensação ainda me faz ter mais vontade de me sentir agradecida e feliz.
Não sei se estas imagens e estas palavras conseguem, de alguma forma, passar para quem aqui me acompanha a beleza a tranquilidade de que me sinto rodeada. Gostava que se sentissem como que contagiados e também agradecdos e felizes. Mas talvez seja ingenuidade minha pensar que tenho essa capacidade. Seja como for, saibam que gostava mesmo que, quem aí está agora a ler-me, sorrisse e sentisse que a vida sabe melhor se a vivermos numa boa onda.
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E é isto. É tardíssimo e eu estou aqui para as curvas, ainda com vontade de ir ali esbater um bocado aquele azul ou acrescentar um pouco de branco ali na linha de água. Mas não vou - até porque já arrumei as tintas, já lavei os pincéis e etc (senão, daqui a nada, o meu marido quando se levantar fica passado: ocupas o espaço todo, quer-se andar e há tintas e tralha por todo o lado...). Não. Está já (quase) tudo arrumadinho.
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E queiram descer, por favor, porque a catedral feita à mão por D.Justo é de cortar a resspiração. Uma coisa que não dá para acreditar.
Depois de ter viajado em busca de lugares belos e decadentes, eis que tenho notícia de mais uma descoberta. E esta é das boas e, ainda por cima, relacionada com a parte mais misteriosa do nosso corpo: o cérebro.
Researchers have divided the brain into discrete areas based on structure and function
Transcrevo:
Human brain mapped in unprecedented detail
Nearly 100 previously unidentified brain areas revealed by examination of the cerebral cortex.
Think of a spinning globe and the patchwork of countries it depicts: such maps help us to understand where we are, and that nations differ from one another. Now, neuroscientists have charted an equivalent map of the brain’s outermost layer — the cerebral cortex — subdividing each hemisphere's mountain- and valley-like folds into 180 separate parcels.
Ninety-seven of these areas have never previously been described, despite showing clear differences in structure, function and connectivity from their neighbours. The new brain map is published today in Nature. (...)
But the map is limited in some important ways. For one, it reveals little about the biochemical underpinnings of the brain — or about the activity of single neurons or small groups. “It is analogous to having a fantastic Google Earth map of your neighbourhood, down to your individual back yard,” says Jung. “Yet, you cannot really see how your neighbours are moving around, where they are going or what sort of jobs they have.”(...)
Mas vejamos o vídeo que foi divulgado esta quarta-feira. Ainda está quentinho.
The ultimate brain map
A new map of the human brain could be the most accurate yet, as it combines all sorts of different kinds of data. This might finally solve a century of disagreements over the shapes and positions of different brain areas.
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E agora que já sabem muito bem onde fica o bocadinho do vosso cérebro que é responsável pelo vosso hábito de ler o Um Jeito Manso, deixem-se deslizar por aí abaixo porque, se este não vos convenceu, há mais dois posts novos e pode ser que gostem de algum.
Estive a ouvir poesia. Como quando uma pessoa parece que precisa de açúcar, assim estava eu, a precisar de uma voz junto a mim a dizer poesia.
Parece que me sinto nostálgica mas isto é capaz de não ser nostalgia. O mais certo é ser sono. A esta hora não distingo bem, já se confundem saudades, calor, vontade de ir de férias. Será que toda a gente sabe escalpelizar o que sente? Eu não. Verdade seja dita que também não me dá para perder tempo com isso. Há bocado fui abrir a janela para entrar a frialdade da noite e tive vontade de puxar uma cadeira e deixar-me ficar ali a olhar a negrura. Talvez me pusesse a pensar no passeio que anda aqui a forjar-se dentro de mim. Volta e meia, a meio do dia, penso que, se tivesse dez minutos sossegada, ia ao google maps e olhava para os percursos possíveis para chegar lá. Mas não consigo e, por isso, a vontade de pensar no assunto anda aqui ao meu lado. Será que o receio de não poder ir é que parece ser nostalgia?
Não sei. Ou uma vontade de sair pela noite, juntar-me às paredes gastas junto ao rio, ficar a ouvir o ranger das correntes, sentir a maresia limpa, imaginar o sono dos gatos.
Estou a ouvir música, a cabeça vazia. Escrever assim sem fazer a mínima ideia do que vai sair, descansa-me. Deve haver explicação para isto.
Em vez de escrever sentada à mesa onde costumava entricheirar-me entre livros, agora arranjei o hábito de me pôr no canto do sofá, reclinada, os pés em cima do assento de uma cadeira e o computador ao colo. Deve-se isto ao sono com que ando: estes meus dias são assim a modos que muito preenchidos de coisas diversas, surpreendentes e desafiantes. No outro dia, uma pessoa dizia-me que era desafioso. Sorri. Desafioso? Nunca tinha ouvido mas muito bem, seja.
Mas, ao fim de um ano já de si bem cheio, e agora este sprint em pleno verão, e o calor dão nisto -- chego à noite já quase em modo off.
Também não tenho oportunidade para beber os chás que costumava beber ao longo do dia, chás e infusões. Careço disso e agora nem sempre posso. Provavelmente, a água que bebo não produz o mesmo efeito que o chá verde e as infusões de camomila, erva cidreira, lúcia-lima que agora pouco consumo.
Digo que careço mas não sei se é correcto: pode não ser carência, pode ser apenas um hábito.
No regresso, já o céu de um dourado quase nocturno, vim ao telefone e a ouvir música. Gosto de conduzir assim.
Cheguei, estacionei, calcei os ténis e fui andar. Passava já bem das nove quando entrei em casa. Vale-me o ter já a comida feita, sopa e, hoje, lombinho estufado e, portanto, é apenas aquecer, juntar salada. Acompanhei com vinho branco bem gelado, coisa pouca, acho que nem um copo inteiro, e um copo de sumo de beterraba e maçã bem gelado. No fim, comi um damasco e comi um bocado de queijo de cabra. Adoro queijo, e gosto de o misturar com fruta ou de lhe pôr um pingo de mel de urze em cima.
Depois ainda algumas arrumações e, quando aqui chego ao sofá, a primeira meia hora é para adormecer de cinco em cinco minutos. Há mails ou comentários, alguns a que tenho mesmo vontade de responder, leio-os com gosto, mas penso: se me ponho a responder, chego ao fim boa para encostar de vez e escrever no blog, está quieto, zero. Mil desculpas, meus amigos.
Amanhã, irei levantar-me cedo, como sempre, e hoje já escolhi a roupa. Prefiro fazê-lo de véspera porque, quando desatino, perco imenso tempo, parece que nada combina com nada, parece que nada é adequado ao ar do tempo, ponho-me a vestir e a despir, com vontade de me embalar numa porcaria qualquer, esperar que um shopping qualquer abra, e ir escolher uma toilette brand new que faça pendant com o meu estado de espírito Tolices, claro. Mas perco tempo. E, assim, essa etapa de duração imprevisível não fica para de manhã, já que, de manhã, é sempre a abrir, tempos espremidos.
O pequeno-almoço é tomado sentada, gosto de estar tranquilamente a comer, por vezes enquanto ouço as primeiras notícias da manhã. Agora o meu pequeno-almoço é composto por uma banana e um pêssego, depois iogurte ou kefir com cereais, muesli. Por vezes junto frutos secos. Segue-se um café.
Ao almoço, sempre que posso como peixe e legumes. Quando vou, depois de almoço, para o meu gabinete, se não me esquecer de manter o reaprovionamento (coisa que desgraçadamente acontece com frequência) como dois quadrados de chocolate preto. Gosto muito de chocolate preto, forte, quase puro.
Muitas vezes, também se estou no gabinete habitual, a meio da tarde como duas bolachas recheadas de fruta ou, então, uma maçã.
Acho que não como muito mas a verdade é que não sou magra. Aliás, nunca fui. Acho que não se pode dizer que seja gorda mas gostaria de, no mínimo, ter uns três ou quatro quilos a menos.
Ao longo do dia, quando estou a trabalhar, não tenho sono e a maior parte das pessoas até se surpreende com a minha energia. Não me vêem aqui, como estou agora, só a bocejar... já mais a sonhar com voos, brancas cavalgadas e noites de luar do que com energia para o que quer que seja.
E vem grande parte desta conversa a propósito de um vídeo que o meu amigo google seleccionou para mim. Conhece-me melhor, este algoritmo, do que grande parte dos meus melhores amigos.
Seleccionou a música lá de cima, a Halie Loren a interpretar In a Sentimental Mood, seleccionou o vídeo da Nature que vou colocar mesmo no fim, Come fly with me, e este já aqui abaixo. Juro que fico perplexa com a simpatia deste meu compagnon de route. Adivinhou que eu estava in a sentimental mood, adivinhou que me apetecia que me levassem a voar e adivinhou que eu adoraria saber um pouco mais sobre o meu cérebro.
Partilho convosco porque acho que este vídeo é serviço público. Sugiro que o vejam também porque é bastante interessante e útil.
How the food you eat affects your brain
When it comes to what you bite, chew and swallow, your choices have a direct and long-lasting effect on the most powerful organ in your body: your brain. So which foods cause you to feel so tired after lunch? Or so restless at night? Mia Nacamulli takes you into the brain to find out.
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Há bocado, na minha tentativa frustrada de deambulação, perdida de sono, passei os olhos pelo título: O mal: um desafio aos limites da razão. Espreitei. Não li. Fujo do mal como se, fugindo, ele não me apanhasse.
Mas, de uma maneira ou de outra, sempre acaba por tocar-me. Ouço agora a tragédia do aeroporto de Istambul. iam em turismo ou em trabalho, não interessa, e viram-se a meio do inferno. Mais de trinta mortos, muitos feridos. Uma coisa diabólica esta. Chacinas levadas a cabo por gente doida.
Mas não quero falar nisto. Dizer o quê? Que o mal anda à solta? Sempre andou. Parece que o género humano, de vez em quando, em certas zonas do globo, passa pela compulsão da destruição.
Prefiro não olhar, quase ignorar -- como acima disse, quase como se, evitando olhar ou pensar nisso, ajudasse a que o mal se mantenha, para sempre, bem longe de mim e dos meus: não me contagie, não me salpique.
Alguns dos meus Leitores, talvez os mais cínicos, são capazes de achar que tanta ingenuidade minha é sinal de estupidez. Eu penso que nem será (apenas) isso: será talvez um instinto de sobrevivência ainda muito animal, ainda não maculado pelo meu lado racional. Quero tentar viver feliz, longe de angústias e de medos - só isso.
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Prefiro, antes, partilhar convosco o vídeo dos pássaros que voam alto, livres, sem conhecerem os tormentos em que se afogam alguns estúpidos humanos
Come fly with me
In this Nature Video, we see how researchers at the UK's Royal Veterinary College put data loggers on ibises to record their position, speed and wing flaps when they migrated. The ibises position themselves within the V so that they benefit from the flow of air created by the bird in front. They carefully time their wing flaps with their flock mates', to get an extra lift when flying high.
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E, por agora, mais nada. Estava com vontade de partilhar convosco a voz que há pouco me trouxe a poesia de que eu estava precisada mas, agora quando a fui procurar, apareceu-me o próprio poeta, não a dizer um poema mas numa das suas cínicas tiradas: ironia, provocação, talvez apenas o prazer de usar palavras.
Bukowski define o amor
Não concordo. O amor não desaparece assim tão facilmente. Disparate.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.