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quinta-feira, julho 03, 2025

Apocalipse sobre a praia

 

Não é novidade pois aconteceu há uns dois ou três dias mas é um cenário tão apocalítico que não quero deixar de aqui o ter, pro memória.

Se eu estivesse na praia e visse aquele rolo, qual fofo e gigante rolo compressor, a vir do lado de lá do horizonte, teria ficado assustadíssima, a imaginar que, de lá, sairiam naves espaciais assustadoras e das quais sairiam seres que nos deixariam petrificados.

De tal maneira a imagem é do caraças que, quando vi na televisão, não liguei, pensei que estivessem a falar de algum filme. Só depois percebi que era real, que o mundo está a ficar cheio de coisas do além.

Cet énorme « nuage rouleau » observé en pleine canicule au Portugal n’était pas un fake

PORTUGAL - Comme un air d’apocalypse. Ce dimanche 29 juin, de nombreux Portugais voulant se rafraîchir sur les plages du centre et du nord du pays ont fait face à un phénomène aussi rare qu’effrayant : un « nuage rouleau ». Comme vous pouvez le voir dans notre vidéo ci-dessus, plusieurs personnes ont en effet filmé un immense nuage horizontal, avançant depuis l’horizon.


terça-feira, abril 09, 2024

Basco à francesa

 

Maison Adam


Não fui visitar o Chillida Leku. Também não visitei nem conheço o Parque Garaio ao lado de Argomaniz.

O passeio obedeceu ao requisito de não transbordar das férias escolares e de conter motivos de interesse que fossem apelativos para os miúdos, na verdade já adolescentes ou a caminho disso. 

Por essa razão, por exemplo, incluiu uma visita guiada a um estádio de futebol... E fomos ao Parque de Atracciones Monte Igueldo... Até eu andei no barquinho que se desloca (... naturalmente sobre a água) numa espécie de ribeirinho que dá a volta, com uma vista extraordinária a toda a volta.

Mas, ao ir agora pesquisar para tentar perceber de que tipo de museu se trata e como é o parque, imediatamente fiquei com vontade de lá voltar para ver o que ainda não vi. 

Quanto a La Concha, estivemos na praia, sim, claro, e em fato de banho e a apanhar banhos de sol pois estava mesmo bastante calor. E molhei os pés, claro. E não passou dos pés pois a água estava fria.

E, tal como ontem referi, fomos também à parte francesa do País Basco. Saint Jean de Luz, Biarritz, Bayonne. Já conhecíamos e identicamente tínhamos ficado com vontade de voltar.

Saint-Jean-de-Luz é uma pequena vila, bonita e tranquila, mimosa, em que a qualidade de vida deve ser inquestionável.

Se Biarritz tem aquela patine que exala burguesia e uma beleza natural que apetece ver e fotografar, já Bayonne tem a vibração alegre de um povo que vive a rua, que se junta, que conversa alto e que canta nos cafés e nas ruas. Apetece estar.

Se fosse mais perto, para o mês que vem estava outra vez lá caída. 

Mostro algumas fotografias que não sei se fazem justiça à alegria destas terras. Tomara que sim.




















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Desejo-vos uma boa terça-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.

quinta-feira, março 07, 2024

E a luta continua...

 




Hoje a labuta em casa da minha mãe foi muito produtiva. Apesar de ter estado pouco tempo pois foi lá ter connosco numa corrida junto à hora de almoço, a minha filha deu uma ajuda considerável. Grande parte das gavetas e das prateleiras dos armários já está com muito pouco ou nada.

Ainda há conjuntos de copos que lá permanecem: os meus filhos não querem, eu já não tenho onde pôr e o meu marido recusa-se a transportar. 

E a cozinha está ainda com tudo. E a despensa continua com muita coisa. E nos roupeiros e cómodas ainda há roupas de vestir, de cama, de banho. O roupeiro que está no pequeno hall junto à casa de banho está ainda compacto de coisas até acima (e o roupeiro vai até ao tecto): cobertores, turcos, lençóis. 

A solução para tudo isso será a mesma que encontrarmos para os móveis. Tenho muita pena dos móveis, alguns muito bonitos, mas não há qualquer possibilidade de os aproveitarmos, são muito grandes e não cabem em lado nenhum.

Já deitámos fora muitas dezenas de sacos de lixo. Muitos papéis, muitos, muitos, e muitas revistas, muitas (de decoração, de tricot, de crochet, de saúde e nutricionismo, etc) e muitos exames médicos. Isso deitamos nós directamente para o lixo. 

E a senhora que cuidou do meu pai e que continuou a ir ver a minha mãe e que continuo a contratar para zelar pela casa tem sido incansável. De cada vez que lá vou, deixo as camas cheias com pilhas de coisas que penso que são boas e mal empregadas para deitar fora. A primeira escolha é dela e terá já, certamente, aproveitado muitas coisas. Para aquilo que ela não quer, chama uma senhora amiga dela que lá vai ajudá-la a fazer uma segunda triagem, levando a seguir para uma senhora que, segundo me dizem, leva para a família ou para conhecidos carenciados que vivem no Alentejo.

Tínhamos lá um bico de obra que era o cadeirão com motor eléctrico que se reclinava até ficar quase como cama e que se punha para cima para ajudar no levante. Tínhamos comprado para o meu pai a seguir ao AVC que o usou durante vários anos até que, um dia, ao cair no corredor, partiu uma perna e nunca mais conseguiu recuperar, ficando acamado desde aí. O motor estava óptimo mas, ao contrário do que pensávamos, o cadeirão não era de pele mas sim de um material sintético que, de início, a imitava muito bem. O pior foi o que aconteceu com o desgaste, ficou em mau estado, todo estalado e feio. A minha mãe tinha posto uma coberta em cima e, não se vendo, parecia bem. Mas não estava. Era nesse cadeirão que, sendo muito confortável e não tendo como ser facilmente removido, a minha mãe passou a sentar-se para ler ou para fazer tricot ou crochet. 

Mas sabíamos que, por baixo da coberta, estava feio. Só que era tão pesado, tão pesado, que não se via como movimentá-lo. Tinha entrado pela janela e tinha sido uma odisseia para o conseguirem levar até lá. Pois bem: hoje o meu marido desmanchou-o todo. Todo. E, portanto, assim desmanchado, foi levado até junto dos contentores, onde a Câmara o levará para os monos. Mas, pouco depois de o meu marido lá o ter posto, quando levou mais uma série de sacos para o lixo, disse que tudo o que era ferro já tinha voado.

E a minha filha levou mais algumas coisas, mas poucas. Não tem onde pôr e não quer encher a casa com coisas que ou não ficam lá bem ou não cabem. Faz bem. 

E nós trouxemos mais uns quantos sacos grandes. Mais sacos que tenho que esvaziar, arrumando tudo o que lá está dentro. Um exercício de criatividade e logística (e paciência). 

E trouxemos um espelho muito grande que veio no carro da minha filha pois não cabia no nosso. Já tenho a casa cheia de espelhos mas o que está sobre o sofá desta sala é ligeiramente mais pequeno do que devia (135 x 80). Este tem 150 por 90 cm e uma moldura mais larga. Acho que vai ficar muito bem. E este que está agora aqui irá ser posto na vertical no hall da suite.


E trouxe um outro que fez com que o meu marido quase se passasse (aliás, ele anda já totalmente passado com esta labuta que parece que não tem fim...). Era o espelho que estava no que era o meu quarto em solteira, espelho em que, na adolescência, muito me olhei. E é o espelho que aparece naquelas fotografias do dia do casamento. Apesar do fotógrafo ser um colega da faculdade, lembro-me de dizermos: 'Espera lá, é costume a noiva ver-se ao espelho...'. E ali estou eu, em duplicado, eu e a minha imagem, com o espelho de permeio. A minha filha também achou que o espelho era icónico, que era pena não ser aproveitado. Portanto, veio. É recortado, tem um feitio bonito. Mas é de madeira escura. Se calhar, vou pintá-lo e pô-lo numa parede da sala in heaven onde já tenho quatro de diferentes feitios e tamanhos.

E encontrámos mais algumas pequenas preciosidades. Entre elas, uma redacção que fiz com 12 anos. Quatro páginas de redacção. Lembro-me de me darem o mote e eu, instantaneamente, desatar a escrever, a escrever, a escrever quase até tocar a campainha e ter que acabar. Lembro-me que, enquanto isso, alguns dos meus colegas olhavam para o tecto ou em volta sem saber o que escrever. São coisas que nascem com a gente. Em contrapartida, íamos para o laboratório de electricidade e uns montavam circuitos, inventavam aparelhómetros e sei lá que mais e eu nem pó, olhava para eles sem perceber como sabiam mexer tão agilmente em tudo aquilo.

E encontrámos mais uma folha escrita, creio que deve ser mais uma daquelas cartas do início do século passado dos primos algarvios dirigida à minha bisavó, quiçá do primo presidente, nunca se sabe. Como eram cartas entre primos ou não assinavam ou escreviam apenas as iniciais (mas como era escrito a caneta de aparo, numa letra muito desenhada, em papel fininho, mais de metade eu não consigo perceber. Digo que as cartas são deles pois, quando a minha avó morreu, a minha mãe achou a caixa com aquelas cartas e lembrou-se que a mãe dizia que era correspondência entre a mãe e os primos, creio que os da Mexilhoeira Grande.

Bem. A nível de pertences pessoais de algum valor, material ou, sobretudo, estimativo, creio que já veio tudo ou quase tudo.

A menos que no sótão surjam novidades. O meu marido só lá foi espreitar e nem quis aventurar-se. Diz que está cheio. Diz que deve haver móveis pois está muita coisa coberta. Não faço ideia do que seja, há muito tempo que não ponho lá os pés. A escada é um bocado íngreme demais para a minha sensível alma que padece de vertigens.

À noite, saturados, fomos esticar as pernas até à praia. Estava um ventinho gelado. Mas, apesar de tudo, soube bem. Fotografei uma árvore pois as árvores, ainda mais se nuas, são muito bonitas à noite. E fotografei uma bandeira de Portugal que, não sei porquê, alguém ali pôs. Não percebi mas achei bonito.

Só vi um pouco de televisão: Maryland. Muito bom, na RTP 2. A ver se amanhã e depois não me esqueço de ver. Depois também vi o comentário do Luís Paixão Martins, hoje não tão interessante como ontem. Devia ter mais tempo para melhor nos surpreender com a sua argúcia e descontração natural. O pobre Calafate bem quer ombrear com ele mas ainda terá que dar muito ao pedal e comer muito pão com azeitonas para conseguir chegar aos calcanhares do LPM. Mas, enfim, é o que é.

 E, portanto, dito isto, está tudo dito por hoje.

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Um dia feliz

Saúde. Boa disposição. Paz.

sexta-feira, outubro 20, 2023

Aline com folhas de outono, mar revolto, barcos em terra.
Cá em casa, depois da guerra, a paz.

 



A Aline deu-lhe com alguma força mas foi sobretudo perto da hora de almoço. Chuva, chuva a jorros.

O pior foi que a grande buganvília que cresceu para cima do telheiro sob o qual deixamos o carro, quase desabou. Deve ter sido da força da água ou do vento, não sei. O que sei é que, quando demos por ela, estava a nossa meia altura. Nem o carro passava nem nós. Felizmente o tronco não se partiu, apenas tudo vergou, pendeu. Tentámos, os dois, levantá-la para que uma parte se apoiasse no muro que separa dos vizinhos. Mas não conseguimos. Aliás, o peso daquilo, ainda por cima, ensopado, é brutal, Os dois a dar o máximo e aquilo nem se mexeu. A única hipótese foi ir buscar o podão e desbastar, desbastar. No fim, ficou um monte enorme de ramos cortados. 

Como para o fim da tarde a coisa tinha abrandado, fomos buscar um quadro que estava a emoldurar. 

O quadro é em tons azul, verde esmeralda, acinzentado, com uma mancha em branco. Abstracto, como quase tudo o que temos. 

Mas a tela veio da galeria esticada e presa a um passpartout. Quando na casa das molduras perguntaram se era para tirar o passpartout, resolvi deixar ficar e pôr, por cima, um vidro-museu que é invisível. 

A moldura que escolhemos (nestas coisas conto com a opinião do meu marido que chega lá, aponta e diz: 'Esta'. Fico sempre na dúvida se tem uma fantástica visão panorâmica e, num único olhar, vê tudo o que há para ver, aliada a extrema convicção, ou se é, apenas, vontade de não estar na loja mais do que quinze segundos). Como lhe reconheço bom gosto, apesar das dúvidas, gosto de contarcom  a sua opinião. Desta vez foi uma moldura larga, simples, num tom entre o prateado e o suavíssimo dourado, mais prateado do que dourado, mas pouco uniforme e quase sem brilho. Por dentro desta moldura, encaixado nela, escolhi uma outra fininha em azul claro alfazema, acinzentado, que puxa aos tons da tela. Fica como que um filet, entre a moldura propriamente dita e o passpartout branco. Acho que este apontamento valoriza a obra em si. Coisas minhas. 

Coloquei aqui a fotografia de pormenor para que percebam o que estou a dizer (a parte de fora que se vê em cima e à esquerda é a parede)

Fomos ainda comprar o livro 'Como mentem as sondagens' do Luís Paixão Martins, que o meu marido está desejando de ler. Estive a folheá-lo e parece-me que também eu vou gostar bastante de saber o que lá se diz.

Comprei também o 'O outro nome' do Jon Fosse. Também já o folheei. E, mais uma vez, torço o nariz. Não me parece que me convença. Não sei o que se passa comigo. Já no outro dia falei nisso. Estou de má boca, nada parece ser para o meu bico. Enjoadinha. Agora, ao escrever isto, para ver se me convenço a mim própria, fui ler o princípio do livro. Perdoem-me os puristas, os nobelistas, os entendidos mas a mim pareceu-me uma seca. 

Depois fomos ver o mar. Ficámos cá em cima. Mar bravo, bravo. Barcos em terra. 

Muito bonito. Andei a fotografar. Maravilha.

E, como dois pensionistas a preceito, preguiçosos e a apreciar a boa vida, a seguir fomos buscar um sushi bem apetitoso.

O pior, claro, foi, ao chegar a casa, conseguir que pendurasse o quadro até porque pensei que deveria fazer uma movimentação entre outros, obrigando a ajustar a altura do penduramento dos que mudaram de poiso. É sempre cegada das antigas quando tem que fazer um buraco na parede. E, se é mais do que um, aí é a guerra total. E eu que ando há anos a dizer que tenho que aprender a pegar no berbequim, a escolher buchas e parafusos, continuo na ignorância e, portanto, dependente dele.

Por fim, contrariado, quase furioso, lá o fez. Quando a obra foi dada por concluída, feita boa menina, agradeci. 

Depois pus-me de longe a contemplar. Fiquei contente.

A assinalar ainda que o nosso cão mais fofo hoje voltou a deitar-se na caminha dele que está aqui num cantinho da sala. Aninhou-se, enroscou-se. Há meses que dorme pelo chão, certamente onde se sentia mais à fresca. Hoje deve achar que o tempo mais frio já aconselha a algum aconchego. Cão mais lindo, mais querido.

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E agora estive aqui a ver uns vídeos e vou partilhar um, legendado, em que o dono de uma casa, um estilista bem simpático, mostra objectos bonitos que lá tem. 

Inside This Fashion Designer's Modern Belgian Home, Filled With Wonderful Objects | Vogue

Fashion designer Pieter Mulier, Maison Alaïa's creative director, takes us through his Belgian home and shares some of his most precious possessions. As the successor to the legendary Azzedine Alaïa at Maison Alaïa, Pieter's taste and passion for art come shining through as he tours his abode. 


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Lá em cima Eva Cassidy interpreta Autumn Leaves
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Desejo-vos um belo dia 
Saúde. Tranquilidade. Paz.
Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz.

quinta-feira, outubro 05, 2023

Os jovens desactivistas que andam a atrapalhar a vida a quem trabalha e a serem levados ao colo pelos desjornalistas.
[Isto em mais um belo dia de férias]

 


Mais um belo dia de férias. Praia. Tempo bom. Uma luz branca, levemente enevoada, muito levemente, quase um tule.

Fazemos umas boas caminhadas. Parte do caminho faço-o dentro de água mas apenas os pés. Tão agradável. A água está em boa temperatura.

As pitangueiras estão plantadas. São uma pontinha, apenas, uma ervinha. Espero que vinguem e que se cubram de pontinhos amarelos e encarnados. 

Tratei do que tinha a tratar e tive tempo para escrever. 

Escrevo, escrevo, escrevo. Não sei de onde saem tantas palavras.

Aconselham-me a que escreva menos, que pondere mais. Mas isso é o mesmo que me dizerem que pense menos ou que respire menos. Não sei pensar antes de escrever. Quanto muito, penso depois de escrever.

Aliás, hoje estava a caminho do fim de uma história e, sabendo já como ia acabar, a minha cabeça começou a deslizar para uma próxima. É muito estranho, bem sei.

Tirando isso, vi, num relance, meia dúzia de jovens com aspecto vagamente alternativo que por aí andam a fazer parvoíces, cortando o trânsito, atrapalhando a vida a quem anda a trabalhar. Quando entrevistados, os jovens só dizem palermices, vacuidades. Estão desfasados da realidade, são incultos, mal informados. São um vulgar subproduto das redes sociais. Contudo a televisão ouve-os, dá-lhes palco. Uma gentinha desqualificada, tanto eles como quem lhes dá palco.

Enfim.

Enquanto estou a escrever, estou a ver uma entrevista com o Woody Allen. Diz que o trabalho é fundamental mas que a sorte é muito importante, que se pode trabalhar bem toda a vida e nunca ter sorte. Um médico que conheço diz o mesmo:  a gente tratar-se ou monitorizar-se é importante mas mais importante é ter sorte.

E é mesmo. Por isso gosto tanto de desejar boa sorte. A mim própria me desejo boa sorte.

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A fotografia foi feita há dois dias. 

As Boygenius interpretam Cool About It

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Um bom dia feriado

Saúde. Boa sorte. Paz.

sexta-feira, setembro 29, 2023

Casório, pedido de casamento, porquinhos da guiné, catatuas, kookaburras

 

Uma vez mais o meu dia começou com um telefonema a acordar-me. Os deuses conspiram para não me deixarem dormir aquilo de que preciso. Desta vez não foi um telefonema com drama mas, sim, uma situação tão inesperada, tão insólita, tão nem sei dizer o quê, que não sei como não pedi para desligarem e voltarem a ligar para eu me certificar que não estava a sonhar.

Além disso, nesse momento, andava eu, uma vez mais, num daqueles sonhos/pesadelos que me deixam de rastos. Quando eu tinha reuniões a norte e tínhamos que lá estar às nove, saindo de madrugada, muitas vezes encontrava-me com um colega e íamos juntos, geralmente ele a conduzir. Acontece que ele mora perto do local em que trabalhávamos. Pois bem, no meu sonho eu ia ter a casa dele e, de casa dele, seguíamos para o trabalho. Ou seja, uma versão absurda do que acontecia. Só que, às tantas ele tinha que fazer não sei o quê e eu tinha que ir sozinha. Ora, no sonho, ele morava numa torre sobre o mar, mas uma torre arranha-céus, com dezenas de andar. E eu tinha que ira pela escada de serviço, fora do prédio, e aquilo não tinha corrimão. Portanto, um terror para mim. E, para agravar, como sempre, ia com os meus netos. Então, estava em pânico com medo que caíssem, que se despenhassem, gritava por eles, que não se mexessem, que esperassem por mim. Mas eles fugiam e eu deixava de vê-los e ficava num total desespero com medo que tivessem caído. Depois eu perguntava se não havia outra maneira e diziam que sim, era voltar atrás e apanhar o comboio lá em baixo. E, então, eu ia com os miúdos, sem mãos para os agarrar a todos, e, afinal, para lá chegar, eram outras escadas quase a pique, sem corrimão. E eu já atrasada. E queria entrar em casa do meu colega mas só podia lá chegar por uma das duas escadas. E eu agarrava o mais novo e ele, a querer esgueirar-se ainda se colocava em mais risco. E os outros, vendo o mar lá em baixo, já falavam em mergulhar e eu, numa aflição, a implorar que fossem junto a mim, nem pensassem em mergulhar nem em andar depressa nem sequer em espreitar.

E estava eu nesta aflição toca o telemóvel. Não que fosse má notícia mas não era o que esperávamos, precipita as coisas. Fiquei estupefacta, quase sem saber que decisão deveria ser tomada.

Portanto, parte do dia foi depois a tratar desta bomba que nos caiu em cima. 

Acresce que esta sexta feira é um dia ultra super hiper especial. E, afinal, em vez de poder estar totalmente focada nisso, ainda vou ter que tratar de cenas relacionadas com o tema do telefonema.

Com este calor, demos um salto até à praia, Uma névoa. Um certo calor mas envolto em névoa. Bonito, apesar de tudo. Ou, sobretudo, por isso.

Ao chegarmos, um casal de noivos no areal. Só os dois. A olharem para cima, certamente intrigados por estarem só eles, como se o resto do pessoal tivesse tido mais que fazer. 

Passado um bocado chegaram duas convidadas e lá foram para um palanque.

Fomos fazer a nossa caminhada. Depois sentámo-nos na areia. Mal estendi a minha toalhinha e me sentei, logo o urso felpudo veio deitar-se sobre ela ao meu lado. Passado um bocado, pôs-se a fazer o buraco do costume e a encher-nos de areia.

Nessa altura, o meu marido disse-me: 'Olha ali'.

Ao princípio, de longe e com a neblina, não dava para perceber. Depois percebemos. Dois casais. Um era uma dupla de fotógrafos e o outro casal era o objecto da sessão fotográfica: de joelho em terra (leia-se, em areia mais do que molhada) o homem pedia a namorada em casamento. Mas isto com a fotógrafa a pedir e a ensaiar poses, ângulos, orientação solar. Portanto, chegámos a isto. Um homem pergunta à mulher se quer casar. 

Mas fá-lo em público, com pessoal contratado a fotografar. Agora, toda a gente, qualquer vulgar anónimo, acha-se uma estrela de cinema com direito a publicação de reportagem fotográfica de momentos que, em situações normais, deveriam ser íntimos. E, mais do que certo, já estava mais do que pedido, ou seja, mais do que tudo combinado, aquilo ali na praia deve ter sido apenas um faz de conta.

Ora, pergunta a minha ignorância: para quê isto? Para impressionar os outros? Para se sentirem famosos?

Dá ideia que parte das pessoas se vai afastando da genuinidade, da espontaneidade, da simplicidade... e isso, cá para mim, não pode ser saudável.

Pelo contrário, no extremo oposto, há outros que se afastam totalmente deste mundo e buscam a quase eremitagem, o isolamento. No outro dia, quando perguntei a uma amiga pela outra filha, contou-me, com um certo desconcerto na voz, sobre a sua opção de vida, a viver no campo mais campo deste país, a viver do pouco que as suas mãos produzem, sem preocupação em acautelar o futuro, apenas querendo viver em paz, no silêncio, de quase nada, longe de tudo. 

São pólos opostos. Provavelmente a virtude estará a meio destas duas realidades. Mas que sei eu...?

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O que sei é que vi estes vídeos e achei o máximo.

Cockatoo teasing Kookaburra


Existential Guinea Pig


Are you filming me?


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Desejo-vos uma feliz, feliz, feliz sexta-feira

Saúde. Afecto. Paz.

quinta-feira, setembro 28, 2023

Vamos jogar tinta para cima de quem...? Vai uma sugestão...?

 

Hoje recebi um mail que, podendo não querer dizer nada, pode querer vir a dizer muito. Com a humildade de quem está a aprender a dar os primeiros passos, dou ouvidos a tudo e levo a sério o que para outros, talvez, não tenha qualquer significado.

E, assim sendo, deitei mãos à obra e trabalhei afincadamente quase todo o dia. A resposta acabou de seguir. 

Não sou fantasiosa pelo que não vou ficar toda excitada a acreditar que vai correr bem. Como sempre, atiro-me às coisas tentando conseguir chegar onde quero mas mentalmente precavida para não conseguir nada. 

Ou seja, não é fácil desanimar pois, de cada vez que não consigo, vou à volta, tento de outra maneira. Difícil para mim é desistir.

Com isto ainda conseguimos fazer uma caminhada à hora de almoço e ir um bocado à praia ao fim da tarde. Estava-se bem. Tarde bonita.

E, porque não tinha jantar, trouxemos um belo sushi. 

Portanto, como síntese, o dia foi produtivo e bom. Não disse mas acho que se depreende que, para os lados da minha mãe, as coisas estiveram mais calmas.

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Com este programa de festas, foi quase de raspão que vi a tinta verde que atiraram ao ministro do Ambiente e a tinta encarnada com que sujaram as paredes da FIL. E não ouvi o que o Marcelo disse mas ouvi o meu marido revoltado, dizendo que o Marcelo quase parecia estar a sancionar a forma de actuar dos jovens.

E o que tenho a dizer é que:

1 - A crise climática é um motivo sério, dramático, e é para nos preocuparmos, mesmo. Que não haja dúvida: é assunto que deve ser levado muito a sério. E não é um tema português: é, sim, um tema mundial. E tem diversas vertentes pelo que tem que ser visto numa perspectiva integrada. Não é simples, pois acabar com uma actividade poluente (a aviação, por exemplo) alteraria o modo de vida das populações de todo o mundo, acarretaria despedimentos, implicaria vultuosos investimento em actividades alternativas, levaria anos a ser posta em prática. Não se pode acabar, de caras, com nada. Pensar isso é ter uma visão simplista e errada sobre o funcionamento da vida real. Mudar o modelo económico do mundo actual requer visão, estratégia, planeamento, recursos, capacidade de execução apesar dos escolhos, muito esforço, infinitos sacrifícios.

2 - Contudo, apesar de tudo, há que operar a transformação. Levará tempo, implicará compromissos, imporá acordos transversais. Penso que, mais ou menos, todos os países civilizados estão empenhados nisso. Claro que quem gere os países são os políticos (eleitos) e sabemos como tantas vezes se elegem políticos que estão na política a servir interesses que não os dos que, ingenuamente, os elegeram.

3 - Para lidar com a urgência das medidas e com a resistências que políticos impreparados ou a soldo, há que ter inteligência.

4 - O processo que os jovens portugueses moveram no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem contra 32 países, entre os quais, Portugal, parece-me uma iniciativa inteligente. 

5 - As iniciativas inteligentes são as que constroem soluções ou apontam caminhos

6 - Neste domínio, as iniciativas ineficazes, pouco inteligentes, censuráveis e, até, criminosas são as que resultam da ameaça, do insulto, da destruição, do arremesso seja do que for contra pessoas ou património

7 - Nos casos em que há crime (e não sei se arremessar tinta ao Ministro ou às paredes de um edifício é apenas uma estúpida e inútil falta de respeito ou se é crime), devem os acusados ser julgados.

8 - As lutas justas devem ser travadas com lisura, respeito pelo outros e pela lei, civismo e, claro, inteligência. 

9 - Se Marcelo não percebe isto, estamos mal. Ou seja, a ser verdade que o nosso Presidente não se demarcou e não censurou muito claramente a forma infantilóide, desrespeitadora e absurda com que os jovens actuaram, vamos de mal a pior.

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Yo-Yo Ma, Kathryn Stott - The Swan (Saint-Saëns)


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Desejo-vos uma boa quinta-feira
Saúde. Bom senso e razão. Paz.

quinta-feira, setembro 21, 2023

Dilemas sem solução evidente

 

Não posso dizer que o dia tenha sido dos mais tranquilos. As situações com a minha mãe vão ocorrendo mas aparecem-me, sempre, envoltas nos receios que ela tem e que, voluntária ou involuntariamente, não me permitem clareza de análise. Acho que já o referi (e talvez, até, mais que uma vez): tem mais medo dos medicamentos do que das doenças. Por isso, faz de tudo um pouco, para provar que não precisa ou que não pode tomar o que prescrevem. 

No outro dia um amigo médico enviou uma piada de médicos (não sei se sabem mas há milhares de piadas sobre médicos e doentes que os médicos animadamente trocam entre si). Nessa piada a que me refiro, um 'paciente' vai ao médico contrariado, apenas para fazer a vontade à mulher que acha que ele está doente. O médico prescreve uma coisa que não ata nem desata, apenas para o homem sair dali confortada e a mulher convencida. A verdade é que o comprimido provoca um efeito secundário que deixa o homem incomodado e o leva novamente ao médico. A seguir segue-se uma longa narrativa em que para tratar o mal que os comprimidos anteriores fizeram, o médico vai prescrevendo outros. Às tantas, o pobre 'paciente' já está mesmo doente, toma todos os dias dezenas de comprimidos e, ao fim de algum tempo, morre.

E, até porque, na realidade, a gente nunca sabe o que vai acontecer e porque, na verdade, a minha mãe é autónoma e independente e sabe o que faz e é senhora do seu nariz, nunca quero pressionar. Mas não é fácil. O meu lado pragmático, racional, objectivo, fica sem saber bem como lidar com estas situações com que me vou deparando. E depois, com alguma frequência, as decisões dela, baseadas (ainda que não conscientemente ou, pelo menos, não assumidamente) nos seus medos, não dão bons resultados.

Mas, enfim... Apesar de tudo ainda consegui dar um salto até à praia. Estava boa. Pouco sol mas temperatura amena. 

E tinha metido na cabeça levar uma toalhita, daquelas pequenas e ultraleves, para me deitar ao sol. Não sei onde é que estava com a cabeça. Mal a estendi na areia, a fera fez-se de lord e, imediatamente, deitou-se-lhe em cima. Pimbas. Tudo dele. Pensou, imagine-se, que a toalha era para Sua Excelência. 

Afastei-o, claro, mas fez-se de desentendido e o mais que consegui foi espaço para me sentar. 

Logo de seguida, levantou-se e, freneticamente, desatou a escavar à volta, enchendo a tolha de areia. Tive que me afastar para não ficar revestida a grãos de areia.

A seguir, quando apareceu água no buraco que fez, enfiou-se lá dentro. E depois, todo molhado, sacudiu-se. E depois voltou para a toalha. Ou seja, impossível refastelar-me. Estive de pé, pois claro. Portanto, aquele devaneio de estar a apanhar banhos de sol saiu-me duplamente furada.

Menos mal. Só de estar na praia já é bom. E caminhámos e fui à água. Mas se me molhei à gato, a minha valentia não deu para mais, não consegui coragem para mergulhar. 

Em casa fiz sopa e caldeirada. E telefonei. E estive a ler.

E, de concreto, para além do relatado, pouco mais.

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E que entre Jacob Collier, ao vivo em Lisboa, com  Somebody To Love

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E chamo a vossa atenção para este alerta (por favor carreguem no link para lerem o texto completo da autoria do sempre atento e sempre jovem Eugénio Lisboa):

Eça vai ter de dar muitas voltas, no túmulo, a tentar destemidamente evitar que lhe remexam nos ossos. E não vale a pena invocar a autoridade de eminências académicas, para justificar o injustificável: os textos e a vida do escritor falam por si. 

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Desejo-vos uma boa quinta-feira

Saúde. Paciência. Paz. 

sexta-feira, outubro 14, 2022

Segredos profundos, uns que se podem partilhar, outros que não

 


Costumam contar-me coisas. Chegam-se ao pé de mim e começam a contar-me coisas, por vezes coisas muito pessoais. É um pouco desconcertante mas é a verdade. Não sei bem porque é que isso acontece. Não sou de sorrisinhos, não sou de simpatias a la minute para angariar amigos, não sou de palavrinhas fáceis ou consolos de efeito, sou mais de ouvir atentamente. No entanto, pelo menos a julgar pela minha experiência, o ser como sou faz com que as pessoas se sintam confiantes em partilhar comigo situações muito pessoais.

Eu, pelo contrário, não sou de falar de mim. Mesmo aqui, em que me farto de escrever e em que escrevo num registo por vezes quase diarístico, há muitos temas que nem afloro. Mesmo nos que falo, tento não dar pormenores muito objectivos pois penso que os assuntos são mais interessantes para quem os lê se houver, aqui ou ali, um certo véu. Mas se a escrever ainda vou falando de mim, ao vivo e a cores pouco falo. Não tenho muito para dizer. 

Se a Thoraya montasse a banca ali no jardim ao fim da rua e me pedisse um segredo, acho que não me ocorreria um único. Acho que não tenho segredos. Pelo menos dos que se podem contar.

Vejo os vídeos dela e fico espantada com a quantidade de pessoas que têm segredos escondidos e que, pelos vistos, são segredos que estão ali à bica para poderem sair. Eu teria que puxar muito pela cabeça e, no fim, penso que no máximo me ocorreria uma palermice qualquer de quando andava na escola primária.

Na verdade, acho que nunca fiz uma patifaria, nunca gamei nada, nunca sacaneei ninguém, nunca tive inveja de ninguém. E, no entanto, no outro dia, num daqueles exercícios de imaginação em que me ponho a imaginar o que hei-de fazer um dia que me reforme, ocorreu-me que talvez gostasse de escrever umas memórias e, ao pensar no que poderia escrever, lembrei-me de algumas coisas de que habitualmente não falo. Melhor: de que nunca falo. São coisas que não interessam, coisas que ficaram no passado. Ao contrário de muitas pessoas que ficam a remoer e atormentadas com isto ou com aquilo, eu ponho para trás das costas e nunca mais penso nisso. 

Não sei o que é que hoje em mim vem de situações mal resolvidas no passado. Diria que nada. Se me ponho a pensar na minha infância, adolescência ou vida adulta, o que me vem à cabeça são as situações boas, reconfortantes, divertidas. Só com um aturado esforço de reconstrução é que me recordo das coisas menos boas. Mas agora, tal como antes, relevo-as, relativizo-as, arranjo atenuantes para quem praticou algum acto ou proferiu alguma palavra que me incomodou.

Não guardo recordações desagradáveis em relação aos meus primos, aos meus amigos, aos meus colegas. Não me lembro de alguém que me tenha magoado. Se o fizeram, desculpei-os tão completamente que disso não sobrou qualquer ponta solta. Mais mais facilmente me lembro de situações em que estive um bocado ao lado ou em que, por erro ou omissão, induzi nos outros deficiente compreensão de situações, levando-os a ficar felizes com situações que não correspondiam exactamente ao que lhes tinha parecido ou, pelo contrário, levando-os a desgostos desnecessários. Mas não sei se isso encaixa no conceito de segredo.

Mas, sim, um dia que me ponha a escrever, sairão à cena algumas novidades. 

Penso também no seguinte: se um psicólogo me virasse de cabeça para baixo e chocalhasse, será que iria conseguir que saltassem algumas peças soltas que fossem reconhecidamente a chave para explicar a minha personalidade ou alguns dos meus comportamentos? Creio que não. Mas nunca se sabe. 

Seja como for, gosto de ver estes vídeos da Thoraya. Já aqui a tive algumas vezes. E a quantidade de pessoas que os comenta e que se solidariza com o que ouviu ou que se revê no tipo de segredos que ali são revelados é espantosa.

E vai escrever um livro sobre segredos, ela, e está a pedir que lhe enviem segredos para que possa usar alguns no seu livro. Pelo que expliquei, não vou enviar nada mas se algum de vocês, aí desse lado, tiver alguns para a troca, é enviar-lhe.

People share their deepest secret anonymously

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Fiz estas fotografias hoje ao fim do dia, na praia, quando fomos fazer a nossa caminhada

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Boas memórias. Paz.

sexta-feira, julho 29, 2022

A praia é para todos

 


Os estores desta casa são eléctricos e, segundo fiquei a saber, são de elevada segurança. São de alumínio duplo e correm numa calha embutida. Segundo me têm disto os especialistas, não há ladrão que consiga levantá-los ou cortá-los.

Dito assim parecem boas notícias, não é? 

O pior é quando se avariam. Não há processo manual para os levantar ou baixar. Para serem limpos tem que se ter cuidado para não desalinhar as lâminas. São tão pesados que qualquer desalinhamento compromete o seu bom funcionamento e, se ficam desalinhados, não há outra forma de remediar a situação, senão chamar os técnicos. Uma impotência. Bem procurava, ao princípio, alguma manivelita ou fitarola que me pudesse salvar. Nada. 

E os técnicos, quando chegam, protestam porque dizem que, da maneira como foram feitos, eles  mal têm margem para trabalhar. Dizem que os estores costumam correr por fora e não por dentro. Contudo, quando me queixo das constantes maçadas e do dinheiro que gastamos a repará-los e digo que o melhor é pôr estores novos, mais simples, mais leves, aí insurgem-se, dizem-me que nem pense nisso, que já não se fazem estores de tão boa qualidade. 

Desta vez foi o estore grande da cozinha, um estore alto e largo. Começou por dar estalos, depois saltos. Depois não queria subir ou descer. Fomos forçando, julgando que a coisa iria ao sítio por si. Mas está bem, está. Chegou a um ponto em que já não tugia nem mugia.

O veredicto foi que tanto forçámos que já se tinham entortado cinco lâminas. No primeiro dia não conseguiram fazer o trabalho. Ficou corrido durante umas duas semanas, escuridão absoluta, sempre de luz acesa. E hoje teve que vir um terceiro elemento para conseguirem fazer a manobra de levantar o estore e encaixar as lâminas novas. Dizem que o peso era demais para dois conseguirem aguentar o bicho. Não sei, já não digo nada.

O que sei é que ao fim da tarde foi um ver se te avias na cozinha. A fera a ladrar possessa do lado de lá do portão do pátio da cozinha e, na cozinha, um chinfrim, uma azáfama. Às tantas zaragateavam uns com os outros, davam-se instruções uns aos outros. Levanta. Aguenta. Arreia um bocado. Pára. Avança! Um desatino. Ferramentas e caixas e tralha espalhadas pelas bancadas da cozinha, o chão pejado de tralha.

Por fim já só queria que se fossem embora.

Quando finalmente acertámos as contas e eu me queixei que era o preço de uma nova e de eles me terem dito que nem pense nisso pois uma nova destas deve custar cinco vezes esse valor, foi fazer limpeza à cozinha. E já passava das oito e nem jantar feito nem vontade de puxar pela cabeça para ver  que fazer. 

O meu marido disse: vamos passear à beira da praia e compramos qualquer coisa por lá. E fomos. Fui como estava, com uns calções soltos, acima do joelho e uma blusinha sem mangas com decote em bico à frente e atrás. O meu marido disse que era melhor levar outra coisa pois estava a esfriar. Peguei no meu poncho de crochet em abertos, todo em abertos, feito numa linha crua, um amparo que é psicológico e não de agasalho. 

Lá chegados, rapei um frio dos antigos. A aragem estava a dar ares da sua valentia. Não me queixei para não ouvir observações mais do que óbvias.

Felizmente, o mar estava muito lindo e o sol fazia a sua escolha de sempre. Os amores eternos e incontornáveis são assim, um mergulhando no outro sem se saber quem mergulha em quem. 

O pior mesmo eram as poses absurdas, as selfies, as posições ridículas a que muita gente se entrega. A praia parece que atrai os que se acham fantásticos.

Num grupinho destacava-se uma mulher saída de um quadro de Botero. Via-se que era de genética bem tisnada mas apresentava-se muito loura. Usava um vestido vermelho, de cavas, justíssimo, com um cintinho preto na cintura e a saia um bom bocado acima dos joelhos. Como era de carnadura exuberante, a perna que ela alçava para lhe salientar o rabo a la Georgina, mostrava aquela manta de gordura que algumas mulheres têm por cima dos joelhos. Levantava o cabelo com a mão e o braço mostrava também que a gordura estava para além da conta. Mas isto da 'conta' é relativo pois ela estava feliz da vida. Um homem mais velho, metade dela em peso e altura, não fazia outra coisa que não fotografá-la ou a ela ou a ela e às amigas. Mas era ela que o instruía: baixa-te, apanha-me de lado, apanha o mar, vou-me virar e tu aproximas-te. O pobre homem obedecia sem um pio. Toda uma coreografia. 

Por mim ficava ali parada a ver. Acho estas cenas deliciosas. Depois chegou uma outra com uma caixa branca e deu-lhe. Ela rejubilava. O meu marido disse: faz anos. Depois entraram num restaurante e ela pegou no telemóvel e filmou o restaurante, filmou-se a ela, filmou o sunset. Coisa mais estranha. E eu interroguei-me uma vez mais: mas para que é que estas pessoas fazem isto? Quem é que tem interesse em vê-la em mil poses ou no restaurante?

Pergunta retórica pois a resposta é óbvia: pessoas iguais a ela. 

As pessoas, podendo exibir-se em poses cinéfilas, em ambientes cinéfilos e com sorrisos cinéfilos sentem-se umas divas, sentem-se especiais, imaginam-se especiais, com muitos seguidores, com muita gente a querer vê-las belas, formosas, rodeadas de amigos e frequentando lugares paradisíacos. Alimentam uma ilusão.

Mas, ao mesmo tempo, pensei que ainda bem que aquela mulher era descomplexada pois notoriamente sentia-se bela, desejável.

Mais à frente passou um casal de mulheres de braço dado, muito chegadas, um casal in love. E eu pensei que ainda bem que as pessoas que estão apaixonadas por outras do mesmo sexo já não têm que se esconder ou sentir vergonha. 

Enquanto isso, passou por nós um homem muito magro, de calções e tshirt de alças, de rabo cavalo grisalho, de bicicleta, ondulando como se surfasse.

A diversidade a que por ali se assiste é uma coisa extraordinária e eu, se não fosse dar-se o caso de querer esticar as pernas e dar uma caminhadela, deixava-me era ficar sentada a curtir os visuais e os moods de quem passa. 

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A Ministra da Igualdade em Espanha lançou uma campanha inclusiva que não está a passar despercebida. Seja qual for a estatura, a cor da pele ou o que for, a praia e o sol são para todos. O cartaz lá em cima dá o mote à campanha "El verano también es nuestro". 

As pinturas são, como é bom de ver, de Botero e vêm na companhia de Mika que interpreta Big Girl

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Boa sorte. Paz.

segunda-feira, maio 30, 2022

Apanhá-los quase à mão

 

O domingo foi de descanso. Dormi até vir a mulher da fava-rica. Depois foram as coisas das quais não reza a história: lavar e estender roupa, descobrir uma coisa aqui e outra ali (coisa que, qual pós vendaval, sempre acontece quando a malta miúda por aqui passa -- e, desta vez, até a televisão da sala de cima mudou de sítio), fazer uma caminhada, falar com a minha mãe, fotografar as flores do jardim, ver qual a melhor maneira de pôr as grinaldas solares. Coisas assim.

O almoço foi o resto da caldeirada, agora ainda mais saborosa e apurada que na véspera. Depois, viemos para a sala. Ele ligou a televisão e eu a Netflix para ver a nova temporada da Grace & Frankie. Mas, ao fim de algum tempo, comecei a baquear. Como tudo, quando há um interregno, o que vem a seguir sabe a déjà-vu com a agravante de aqui não se aplicar aquilo de estar melhor porque 'mais apurado'. Talvez por isso, a tarefa de me manter acordada revelou-se de difícil consecução. Tentei resistir mas não fui bem sucedida. Acordei com a fera felpuda que ladrava. Acordei eu e acordou o meu marido. Moles que só visto. Não faço ideia de quanto tempo durou a sesta mas a verdade é que acordámos meio zombies. Fomos fazer outras coisas mas o tempo cinzento e abafado não ajudou. Fomos lá para fora e sentámo-nos nos dois cadeirões de onde se vê todo o jardim e que ficam num recanto bem acolhedor. Mas continuávamos moles. Presumo que tenha dormido meia hora ou mais para estar assim.

Resolvemos, então, ir andar para a praia. Levei um corta-vento pois o tempo estava incerto. 

Antes de chegarmos, o urso peludo começa sempre a dar sinais de impaciência. Com a nossa boxer acontecia o mesmo. Pressentem que estamos a chegar a lugar de seu agrado e, tal como as crianças que perguntam de minuto a minuto se estamos quase a chegar, assim os canitos. Cheira-lhes a praia e não vêem a hora de chegar.

Gosto do mar em dias assim. Estupidamente esqueci-me da máquina fotográfica. Estas fotografias foram feitas com o telemóvel.

Gaivotas a refrescarem-se à beira de água. Fomos até mesmo ao pé delas. A fera impassível. Olha, certamente tentando perceber que animal é aquele que anda com as patas na água e que, de vez em quando, levanta voo. Olha mas nada do que vê o tira do sério. Quem o viu feito parvo com uma menina no nosso jardim e quem o vê agora indiferente a tudo, apenas entregue à curtição do momento... Nem parece o mesmo.

Entretanto, vi uns pescadores num pontão e, ao fotografá-los, reparei num rapaz alto que, com a cana da pesca na mão, entrava na água. Calçado e tudo. Ficou com a água pela cintura.

Ao andarmos no areal vimos uns quantos robalos aos saltos. O meu marido disse: 'se calhar são peixes que aquele ali apanhou'. Pensei que seria pouco provável pois tinha-o visto entrar e sair da água mas há pouco tempo, enquanto fotografava.

No entanto, ao estarmos intrigados com aquilo, vimos que o rapaz estava, uma vez mais, a sair da água. E reparei que vinha mais um peixe a saltar na ponta da corda.

De facto, dirigiu-se ao lugar onde os outros robalos saltavam e deixou ficar mais um. 

E voltou a entrar na água. E nós continuámos. Mas intrigados com aquilo. Até sugeri que o meu marido passasse a dedicar-se à pesca. Ia um bocadinho até à praia e regressava carregado de robalos. O meu marido disse: 'Há anos que andas a querer isso.' Protestei. Não me lembro de alguma vez ter sugerido isso. Ele diz que sim. Depois condescendeu: 'Talvez nos últimos anos não tenhas dito. Mas já disseste.'. Nestas situações, não vale a pena a gente fazer braço de ferro. Observei apenas: 'Não sei. Mas tenho quase a  certeza que nos últimos cem anos não disse'. E ele também já não disse nada.

Mas eu estava deveras intrigada pois não vi o rapaz a pôr isco no anzol. Aliás, nem devia ir a pensar apanhar aquilo tudo pois, pelos vistos, nem tinha onde pôr o peixe.

Continuámos o nosso passeio. Na volta, voltámos a vê-lo. Vinha a sair da praia. Vinha uma rapariga com ele, com um saco de plástico na mão. Talvez levasse lá os peixes. O rapaz trazia um robalo grande na mão, bicho para uns dois ou três quilos. Parecia um daqueles caçadores que andam com os coelhos ou os patos à ilharga. Um casal que ia a passar abeirou-se e pareceu-me que logo ali estavam a mercadejar. 

Pensámos que também poderíamos ir transaccionar um daqueles peixes para levar para a janta. Mais fresco não poderia haver. Eu disse, quase me lambendo por antecipação: 'Grelhadinho...' Mas o meu marido disse: 'Sim, deveria ser bom. O problema é o trabalho que ia dar'. Concordei: 'Ia, não ia...?'. E seguimos viagem. A brisa fresca do mar tinha-nos feito bem, estávamos mais frescos mas não a ponto de nos irmos pôr a atear fogareiros.

E foi isto. Um dia tranquilo, portanto.

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E, façam-me o favor, queiram descer até ao post abaixo. 

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Desejo-vos uma boa semana, a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Confiança. Força. Melhores dias. Paz.

sábado, maio 07, 2022

Maio. Dia sete.

 



Fomos andar à beira de água ao fim do dia. Estava calor e cheirava a maresia. Quando o disse o meu marido disse: Cheira é a ganza. E, de facto. Não sei que é isto mas agora, ao andarmos por ali, cheira que se farta. Não sei se liberalizou, se virou moda, se é por motivos terapêuticos. Se for, não sei a que é que faz bem, talvez à ansiedade. A malta está numa boa, a sentir as boas vibes do mar, a inalar uns ansiolíticos em estado gasoso. Digo eu.

Por volta das sete e muito da tarde, perto das oito, talvez mesmo oito, a praia estava cheia. Muita gente de outras paragens o que dá aquele ar eclético que me agrada. Línguas que reconheço, línguas que não. Gente a tocar, musiquinha com arzinho de mar e de sunset. Gente de skate, gente de bicicleta, gente a correr, gente a coxear. Eu não, que o brufen de ontem à noite me deixou fina. Sempre gostei de ser turista acidental no meio de outros turistas acidentais. 

E muita gente a tomar banho. Não sei se a água estava boa, se há muita gente corajosa. Devia ter levado a máquina para fotografar. Mas não levei. Quando saí de casa estava exaurida, com vontade de me pôr a milhas. 

Há muita gente a passear cães e é engraçado que a nossa fera se marimba para todos. Os pequeninos passam-se da vida com ele. Ladram-lhe, querem-se-lhe atirar. Hoje uma lulu peluda e bem penteada, branquinha, fez-lhe um cerco e, do nada, tentou morder-lhe. Assustei-me e até soltei um pequeno grito. O meu marido quase o içou, para o salvar da garina afobada. E ele, estranhamente, nem aí. Continuou a andar na maior indiferença. 

No outro dia, na praia, um outro pôs-se a brincar, ele a brincar, os dois de roda um do outro, a cheirarem-se, a correr, a saltar. Amigos. Mas, de repente, começámos a perceber que o urso felpudo estava como que a querer colocar-se numa posição algo estranha. Assustámo-nos. Os miúdos apreensivos. Eu a não querer que aquilo avançasse. Todos a pensar que o big bear, na volta, seria gay, como que a querer saltar para a espinha do outro (por assim dizer). Mas não. O meu marido limitou-se a lamentar a nossa ignorância, disse que não tinha a ver com sexo, que era a forma dele demonstrar ao outro a sua posição dominante.

Pois não sei. 

Mas, na verdade, também estou naquela: quero é que ele seja feliz. E, de resto, daqui por uns meses, se calhar, fazemos o que a veterinária aconselhou: a castrar a fera. Não se depois fica a ladrar fininho ou se a coisa não afecta. Mas também não interessa.

Bem. Adiante.

Dizia que o que sei é que não se enerva com os outros cães. 

O que o enerva verdadeiramente é quando o 'seu' rebanho dispersa. Por exemplo, se eu me afasto para entrar numa loja ele fica possuído, dá saltos no ar, quase piruetas, puxa, quer ir atrás, quer soltar-se da trela, fica num estado de nervos. E, quando me reaproximo, põe-se de pé, abraça-me, emocionado pelo reencontro. E isto acontece quando os miúdos se afastam, quando qualquer um de nós se afasta. O seu instinto de pastor fica bem patente quando alguma ovelha parece tresmalhar-se.

Resumindo.

Voltámos para casa tarde, oito e tal, se calhar quase nove. Já não uso relógio, não sei. Nada de mal pois o jantar estava feito: restos. Souberam bem, souberam a sexta-feira, a não ter que fazer o jantar. 

A semana foi complexa, o trabalho com algumas coisas ensarilhadas, o dia embrulhado desde muito cedo até ao fim do dia. E tinha eu pensado que a semana ia ser tranquila. Fiz mal. Não se deve pensar isso. Devemos deixar rolar.

Felizmente já estamos no sábado. Um fim de semana a começar e calorzinho e canto de passarinhos e a primavera toda atrevida a dar-se ares de verão. Coisa boa.

E é quase dia 9 e vamos ver o que aí vem. Muito preocupada com tudo. Não é só a brutalidade. É também a hipocrisia. O desrespeito. 

Mas não vou falar disso. 

Tenho que descobrir um mantra para mim. Como poderá ser? Como é um mantra? Palavras de agradecimento e de alegria? Palavras que transportam flores no seu regaço? Não sei. Não sei mesmo.

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As flores foram fotografadas pelo talentoso Cho Gi-Seok e fazem-se acompanhar por Melody Gardot e Philippe Powell que interpretam This Foolish Heart Could Love You

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Um bom sábado
Peace and love