Música, por favor, para vos ir acompanhando na leitura do texto
Mairi Campbell - Home (Is not what I left behind)
Por estes dias, não podendo ainda andar muito, os meus passeios em férias são passeios em que se vai de carro até ao local a visitar, se vê o que há a ver e, sem mais delongas, de novo, carro - e já fico toda contente. Assim foi na quinta feira de tarde. Tínhamos visto na RTP2 a indicação das esculturas no Parque de Vila Nova da Barquinha e lá fomos.
Escusado será dizer que, quem não saiba onde é o dito parque, poderia ter alguma dificuldade em dar com aquilo pois, à semelhança do que acontece um pouco por todo o lado, placas indicativas é luxo a que ninguém se dá. Felizmente a terra é pequena e, andando em frente, lá vimos um parque. Admitindo que seria ali, parámos. Indicação de que ali era o parque com as esculturas, nada. Mas adiante. Fomos ver se era, admitindo que numa terra pequena não deveria haver mais do que um parque daquela dimensão, e era mesmo.
O parque é muito bonito, à beira Tejo, muito arranjado, mesmo muito aprazível.
O Parque e o Tejo, aqui brando, cheio de suaves curvas |
Para os distraídos, as esculturas podem passar despercebidas enquanto esculturas. Sinal talvez de que se integram perfeitamente no espaço, na harmoniosa paisagem.
Cristina Ataíde, Rotter |
Parece um local ideal para crianças ou para se estar deitado ao sol ou à sombra, a ler. No entanto, estava quase deserto. Sob umas árvores estavam as crianças de um infantário e talvez tenha visto umas duas mães com crianças e, numa esplanada sobre o rio, mais uma meia dúzia de pessoas. Mais ninguém. Um sítio maravilhoso, com uma vista reconfortante, e ninguém desfruta. Não sei se é má divulgação (e, pelo que vi, é com certeza - mas não deve ser só isso), se é desinteresse geral das pessoas, não sei. O que sei é que eu acharia normal ver um parque assim cheio de gente nova, cheio de gente velha, cheio de namorados, cheio de gente a ler um livro, com um ou outro solitário, gente a fazer caminhadas ou a correr ao longo do rio. Mas não. Um Parque lindo e sem ninguém. Que pena me dá ver isto.
Alberto Carneiro, Sobre a Floresta |
O parque tem vários pontos de queda e de fios de água e um dos lagos (ou tanque baixo) está cheio de vegetação e folhas e dá ideia que a água precisa de ser renovada mas espero bem que não o façam pois apresenta gradações de textura e de cor que nos amaciam a refrescam o olhar. Apeteceu-me mergulhar nua e vestir-me com aqueles tecidos mais macios que lábios molhados.
Veludo, caxemira, espuma, madeira, seda, verdes, castanhos - a doçura da natureza |
E depois, mais à frente, há a descontração jovial da Joana Vasconcelos.
Joana Vasconcelos, Trianons (casa de tiras brancas vista de dentro da casa de tiras às cores) |
Joana Vasconcelos, Trianons (casa às cores vista de dentro da casa branca) |
Joana Vasconcelos, Trianons (dentro da casa branca) |
Estas duas obras da Joana Vasconcelos - que, como sempre, honram a tradição portuguesa (estas são feitas com reposteiros de ripas, daquelas de plástico que se põem nas portas) - são óptimos locais para as crianças brincarem, descobrirem; e fazem com que os adultos as explorem como crianças (eu, pelo menos, gostei imenso de andar por ali e devo confessar que atravessar a compacta barreira de tiras brancas me fez até alguma impressão, parece que estava a ser engolida por uma concha que se fechava em minha volta).
Aliás, esta é uma característica de quase todas as obras expostas: são peças de parque, dá vontade andar à volta delas, espreitar, ver a natureza através delas. Estou desejando de lá voltar com as minhas crianças pois tenho a certeza de que vai ser uma festa. E todo o terreno é relvado, fresco, limpo, óptimo para correrem, para se deitarem.
E eu, que agora ando de chinelinhos (que tive que comprar por não poder, no presente, usar saltos) e que causo surpresa até a mim mesma (a minha filha ainda hoje olhava a rir, dizendo que nem pareço eu... e que nunca esperou ver-me assim), até fotografei o inusitado dos meus pés com este tipo de calçado. Aqui fica para memória futura.
Caso alguém não acredite, no futuro, que foi assim, étnica e casual, que me passeei no Parque, aqui fica a prova |
E ainda parámos junto a um fantástico instrumento musical, umas tiras de pedra que emitem um belo som quando tocadas com aqueles martelos de madeira.
Durante um bom bocado, ali estivemos produzindo a nossa música - e os sons atravessavam o Parque |
Dali ainda seguimos até ao Castelo de Almourol, onde comemos uns belos caracóis numa simpática esplanada, mesmo em frente do castelinho que quase parece de brincar, de tão bonito e mimoso que é.
Chega-se lá de barquinho. Nós não fomos, apenas o vimos do lado de cá do rio. Dá ideia que daria para atravessar a pé de tão baixo que ia o rio mas as regras são para se cumprir. |
Um passeio muito agradável que recomendo. A entrada no parque é gratuita. E os caracóis são saborosos.
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Mas o pior veio depois. Qualquer coisa não estava bem comigo desde há uns dois dias. Vi na internet que a coisa poderia ser uma complicação pós operatória e pelo sim, pelo não, o cirurgião foi contactado. Estando longe e sem poder ver-me, recomendou que fosse, de imediato, ao hospital para ser observada. Lá fomos. Optámos pelo Hospital de Torres Novas que já conhecíamos e que é pequeno, organizado, eficiente.
Por acaso, na quinta feira a demora foi maior do que na vez anterior e maior do que o expectável face ao reduzido número de doentes mas, enfim, apesar de tudo, uma demora tolerável.
Foi efectuado o diagnóstico de forma visual, foi feita a prescrição e recomendado que ainda nessa noite, depois de adquirir os medicamentos, lá voltasse para levar a primeira injecção. Pacífico.
Foi efectuado o diagnóstico de forma visual, foi feita a prescrição e recomendado que ainda nessa noite, depois de adquirir os medicamentos, lá voltasse para levar a primeira injecção. Pacífico.
Pacífico, disse eu? Pois... parecia...
Na recepção do hospital inquirimos pelas farmácias de serviço. Que era a farmácia Central. Rua? Ah... isso ninguém sabia. Que era indo por ali, depois virando, depois indo em frente, depois na rotunda não sei quê, depois uns semáforos e depois... e a antiga estação dos Claras e depois... Ou seja, chinês para quem não conhece nenhum nome de rua ou nenhuma 'instituição da terra'. O carro tem GPS mas, sem lhe indicarmos o nome da rua, chapéu.
No entanto, sendo a Farmácia Central, procurar-se-ia o centro da cidade. Entretanto, passámos pelos Bombeiros e o meu marido foi-lhes perguntar se sabiam dizer onde era a Farmácia. Nome de rua isso não sabiam mas que virando ali, depois, nos segundos semáforos, virando à esquerda e depois indo em frente e depois não sei quê e não sei que mais. Tentando entre os dois reconstituir o trajecto, lá chegámos ao centro.
As ruas estavam cheias de jovens. Perguntámos a um grupinho de sabiam da Farmácia Central. Que não, 'não somos de cá, não conhecemos isto'. Seguimos, mais umas voltas e nada. Perguntámos a outros miúdos: 'não somos de cá... mas parece que ali em baixo há uma farmácia'. Lá fomos e lá estava uma farmácia. Fechada. Diz o meu marido: 'Vou ver, deve ter a lista das farmácias de serviço com a rua da farmácia'.
Passados uns segundos ouço-o a praguejar. Tinha a indicação do nome das farmácias mas, de novo, sem a indicação da rua!
Até que, finalmente, demos com um autóctone que nos disse que, subindo ali, estávamos no Largo 5 de Outubro e que dali, olhando para baixo, veríamos a dita farmácia. Lindo! Lá estava ela.
A seguir outra odisseia: regressar ao hospital. Sabemos dar com ele, quando vamos a partir da estrada que costumamos usar. No entanto, admiti: 'Deve ser fácil, deve haver tabuletas a indicar 'hospital''. Mas qual quê? Nada. Nem ninguém na rua. Fomos andando e nada, meia a noite e tal, as ruas desertas e nem uma indicação para o hospital.
Até que lá encontrámos umas pessoas que nos disseram para procurar a A23, depois o Fórum, e depois seguir não sei por onde; o que sei é que lá demos com o hospital, já devia ser 1 da manhã.
E, desta vez, entrei logo, aliás já estavam à minha espera e o enfermeiro, o mais simpático possível, até me ensinou a aplicar eu própria a injecção para não ter que me deslocar a nenhum posto de enfermagem nos próximos dias. Hoje não fui eu que a apliquei mas o meu marido que começou por dizer que 'só em último caso' mas que depois lá me injectou (um bocado à bruta, como se estivesse a dar uma injecção num cavalo mas, enfim, menos mal; amanhã será melhor).
Entretanto um médico nosso parente, pessoa altamente competente e muito experiente, estranhou que, no hospital, face ao risco envolvido, não tivessem feito nenhum exame para confirmar que era só aquilo que visualmente parecia e achou por bem que eu fizesse mesmo um exame e o mais rapidamente possível. Por isso, esta sexta feira o meu dia foi, de novo, passado a fazer exames médicos, desta vez em Lisboa. Felizmente, ao que parece, a coisa era só mesmo a que o médico tinha diagnosticado e que, sendo aborrecido, não é dramático.
Mas, enquanto em Lisboa nos deslocamos com facilidade entre distâncias grandes (... se calhar fazêmo-lo porque conhecemos tudo, pois não garanto que esteja bem sinalizado já que, quando conhecemos os percursos, nem reparamos), numa terra pequena como Torres Novas é uma odisseia para dar com a farmácia de serviço e com o hospital. Mas, enfim, não é mal que afecte apenas Torres Novas: o mal é geral em Portugal.
E, por hoje, é isto. A ver se este fim de semana posso ficar sossegada a ler o Expresso, a ler um livro, a dormir à sombra, sem mais preocupações ou maçadas.
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E a vocês, meus Caros Leitores, desejo-vos muita saúde, muita alegria e que este sábado seja um dia muito agradável. Divirtam-se!