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sábado, agosto 30, 2025

Trump está a apodrecer? Epstein, o pedófilo compulsivo, tomava testosterona? Ghislaine apenas tinha por missão arranjar massagistas para Epstein, de preferência bem novinhas? Trump vai conceder perdão a uma traficante sexual de menores?
Isso e muito mais no saboroso podcast do The Daily Beast com a encantadora Joanna Coles e o fantástico Michael Wolff

 

Tenho andado bastante ocupada, já contei, mas, sempre que posso, e agora posso, intervalo. Ou seja, como agora parece que as coisas estão a encarrilar, fico logo a sentir-me de férias, com vontade de vadiar, de preguiçar. 

Para a semana vou ter mais um daqueles episódios numa repartição pública para os quais vou em modo panela de pressão, como se só estivesse à espera que me ofereçam o pretexto para lhes cair em cima a pés juntos. Mas, ao mesmo tempo, forço-me a enfaixar-me numa camisa de forças de humildade e resiliência pois sei que dependo da boa vontade de burocratas que já provaram à saciedade que são quadrados, retrógrados, embirrantes, quezilentos, prepotentes, daqueles que parece que também estão à espera que a gente lhes dê pretexto para pedirem mais cinquenta papéis, um dos quais, inevitavelmente não temos ali connosco. Portanto, forço-me a assimilar que tenho é que ir em modo bolinha baixa. E isso, só por si, encanita-me e não é pouco. Portanto, tento não pensar no assunto.

E, assim sendo, neste ínterim, rego, varro, fotografo, faço videozinhos para o instagram que deixam o meu marido a navegar na ambiguidade, entre o sorridente e o resignado, como se não percebesse o objectivo mas também já não estranhasse e até achasse graça ao absurdo. E, à noite, vejo alguns vídeos sobre temas que me interessam. E há muitos. 

A minha insaciável curiosidade deveria fazer dilatar o tempo para que eu conseguisse ver tudo o que me interessa. E, se calhar, deveria ir partilhando aqui, convosco, os vídeos que despertam o meu interesse. Mas não sei se faz sentido isso. Tenho que pensar. No outro dia vi um vídeo sobre um tema de física que me deixou a salivar e que me tem levado a ver outros, tão misteriosos e poéticos que nem parecem lidar com partículas elementares e com as leis que regem os seus movimentos. Ora não sei se é tema que desperte interesse por aí além a quem ande ocupado com temas mais concretos e emergentes...

Mas um dos podcasts que gosto sempre de ouvir/ver é um sobre esse buraco negro e putrefacto que é a cabeça do Trump: Inside Trump's Head, do Daily Beast.

Partilho o episódio que vi hoje. É longuito e creio que não dá para legendar. Mas para quem esteja familiarizado com o inglês, dá para acompanhar muito bem pois falam a um ritmo educado e têm uma boa dicção. É todo um outro mundo, um mundo em que ninguém fala verdade e em que as relações entre uns e outros são suspeitas, estranhas, indecifráveis. E em que um dos intervenientes é talvez o homem mais ridiculamente poderoso (e perigoso) do mundo.

White House Raging at Trump's Health Crisis: Michael Wolff | Inside Trump's Head

Joanna Coles and Michael Wolff dig into the explosive Trump DOJ transcripts of Ghislaine Maxwell’s meeting with Todd Blanche and what they reveal about Jeffrey Epstein’s finances, Donald Trump’s anxieties, and more. From the talk in the White House of Trump “keeling over” and the President’s obsession with Ghislaine Maxwell, the conversation unpacks Trump’s paranoia, monied moves, and lingering ties to Epstein’s world. With fresh Epstein details overlooked by the mainstream media found within Maxwell’s proffer, Wolff explains how Trump’s past scandals keep colliding with his present.


Desejo-vos um belo sábado

quarta-feira, agosto 06, 2025

Papa João Paulo II, Fidel Castro, Woody Allen, Mick Jagger, etc., etc. -- todos em fotografias com Epstein na sua galeria de conhecidos e amigos

 

Ver mais imagens da casa de Epstein em NY aqui ou aqui

Se há personagens misteriosos e fascinantes, sem dúvida que Epstein é um deles. Já vi uma série na Netflix sobre ele, já li muitos artigos, já ouvi entrevistas com quem o conheceu bem, e, no ponto em que estou, o meu desconhecimento sobre a sua vida e sobre a sua motivação permanecem totais.

Vejo que ninguém conseguiu descortinar a proveniência da sua extraordinária fortuna. Identificam-se algumas parcelas, mas nada que atinja a totalidade, identificam-se algumas alavancas (pessoas a quem ele pode ter burlado ou manipulado) mas, identicamente, nada que justifique o brutal amontoado de bens. Em tudo o que vejo e leio a conclusão é a mesma: não se compreende de onde veio toda a sua extraordinária fortuna.

Há muita gente que pensa que parte da sua fortuna proveio de chantagem. Havia câmaras por todo o lado. Milhares de horas de gravações. Muitas fotografias, algumas guardadas no seu cofre. Para alguma coisa seriam. Mas pode a chantagem atingir valores desta natureza? E, de resto, nas fotografias, se algumas daquelas pessoas estavam a ser chantageadas, pareciam felizes por sê-lo.

Já ouvi diversas referências a ele ter sido apontado como um activo da Mossad e/ou da CIA, que interviria em situações de chantagem, e isso justificaria parte do secretismo de que as denúncias e os processos judiciais sempre parecem ter estado revestidos. Mas, sendo tudo secreto, como saber se isso é verdade ou se é mais uma das muitas teorias da conspiração em que a cultura americana é fértil?

E é tudo muito estranho. Vindo de uma família 'normal', sem riqueza, não acabou nenhuma licenciatura mas, não se percebe como, conseguiu enganar um prestigiado colégio onde deu aulas de matemática. Por ser lá professor, foi contratado como analista financeiro para uma empresa. Depois, por lá trabalhar e por desviado dinheiro, foi contratado por quem queria uma pessoa com o perfil dele, ambicioso, inteligente, fura-vidas, sem escrúpulos. Aí geria um esquema fraudulento em pirâmide e, claro, pessoa de 'confiança, cativante, insinuante, tornou-se próximo do big boss, a que se aliou e com quem burlou meio mundo. Quando a fraude foi descoberta, o big boss foi preso, mas ele, milagre, safou-se. E assim foi andando e, em pouco tempo, já tinha conseguido comprar casarões, mansões, um big rancho, uma ilha privada, um avião, um helicóptero, arte a gosto e a eito, pagar a não sei quantos funcionários, pagar 200 dólares a cada miúda que ia fazer um serviço e 200 a cada miúda que arranjava outra, e era normal haver desses serviços três vezes por dia, pois, segundo diziam, sexualmente, era insaciável -- e, sempre, em tudo, à grande e à francesa. 

Pelo meio, tudo o que era CEO das grandes empresas americanas, políticos e académicos e gente do cinema, cientistas, prémios Nobel, realeza, tudo estava caído nos encontros que ele organizava, uns meramente de tertúlia (embora sempre houvesse meninas a circularem pelas casas), outros de pedofilia pura e dura. Toda a gente lhe conhecia a fama. E mesmo depois de ter sido condenado e cumprido uma pena (ridiculamente baixa), ou seja, mesmo depois de ser público que era comprovadamente um pedófilo compulsivo, continuou a reunir em volta de si a habitual corte de amigos e admiradores. Como se ser pedófilo fosse coisa de somenos. Foram identificadas centenas de vítimas mas admite-se que possam ultrapassar as mil. Não só abusava delas como as traficava. Ele e o seu alter ego feminino, a sinistra Ghislaine Maxwell, presença constante na sua vida. 

Era também um conhecido filantropo. Oferecia dinheiro a rodos para partidos, para associações de beneficência, para pagar estudos e investigações, para bolsas. Dizem que parecia sempre bem informado e toda a gente gostava de falar com ele. Prestava atenção, parecia ter estudado os assuntos. Diziam-no uma pessoa interessante, interessada, afável, cativante. 

Apesar da sua reputação e do seu cadastro, parecia que as pessoas gostavam de ser vistas com ele. Ou, então, era ele que gostava de ser visto com elas. Nesta história não consigo perceber os contornos de nada.

Nas revelações que hoje vieram a público no The New York Times e já com reflexo noutros media, nas molduras de uma das suas incríveis casas, em Nova Iorque, há fotografias dele a visitar o Papa, dele com Fidel Castro, dele com Musk, dele com Mick Jagger, dele com Woody Allen. Muitas fotografias. Não se vê ninguém com ar de ter sido torturado para ali estar a sorrir. Todos parecem felizes, aparentemente descontraídos e orgulhosos por estarem em tão importante companhia. 

Leio que era visita do Palácio Real britânico e que, aparentemente, emprestou dinheiro a Sarah Ferguson, a ex do Príncipe Andrew. A teia de amizades vai sendo revelada, parece infinita. E inexplicável. Como chegou ele a tanta gente? E para quê?

E depois há o seu grande amigo, Best Friend Forever, Trump. Li que se zangaram não por Epstein ter 'roubado' uma menina de 16 anos que trabalhava em Mar-a-Lago mas porque Trump deu cabo de um negócio imobiliário milionário que Epstein queria fechar. Dizem que Trump seria testa de ferro de oligarcas russos. E aqui entram os russos, de mão dada com Trump? Outra teoria da conspiração? Ou outra vertente do mistério?

Questiona-se também qual o papel de Melania no meio deste filme. E as hipóteses que tenho ouvido são todas igualmente bizarras. E, também aqui, o mistério tem contornos imprecisos.

Os grandes jornais americanos não estão a largar o que a Justiça americana, pela mão de Trump, anda a querer esconder.

Não sei se alguma vez vamos perceber os contornos desta história mirabolante mas, pelo que se vê, entretanto vamos continuar a ser brindados com novos episódios que, em vez de revelarem, ainda adensam mais o mistério sobre esta estranha nebulosa.

Para quem não consegue ver o artigo que hoje está a bombar no NY Times, aqui fica um vídeo onde se fala disso.

A Disturbing New Look at Jeffrey Epstein's NYC Mansion

New photos reveal strange statues, cryptic and disturbing letters, and the presence of long-rumored hidden cameras inside the townhouse on Manhattan's Upper East Side. 


Desejo-vos dias felizes

sábado, julho 26, 2025

Uma história chocante cujo perímetro não se conhece

 

Volto ao tema. Toda a história é tão rocambolesca, tão fora de tudo, tão grave, tão fora de órbita que fico sem saber como digerir o que se vai sabendo. Sinto uma grande curiosidade, uma grande estupefacção, e, a todo o momento, uma profunda repulsa. 

Para começar, causa-me um espanto total que não tenham seguido o dinheiro. Geralmente o caminho do dinheiro aponta a direcção para onde se deve olhar. Milhares de transações a perfazer milhares de milhões e, aparentemente, ninguém se preocupou em saber quem é que pagava a Epstein e porque lhe pagavam verbas milionárias. 

Depois, perante a dimensão do escândalo, perante a incompreensão sobre as origens da estratosférica fortuna de Epstein, perante o número de jovens usadas e abusadas (já ouvi falar em mais de mil; aliás até já ouvi falar em mais de duas mil) e perante as revelações que algumas fizeram, também não compreendo porque é que o caso foi analisado como o caso de um pedófilo e de uma cúmplice -- bizarra criatura, sempre agarrada a ele, sempre derretida como uma namorada in love, e que, afinal, era quem lhe arranjava as meninas, explicando-lhes o que haviam de fazer para lhe agradarem --, e não como uma rede constituída por uma cambada de pedófilos alimentada por aquela dupla. 

Uma das jovens, entretanto uma mulher triste e revoltada que entretanto se suicidou, falou em políticos, empresários, académicos e realezas. Se calhar é mesmo verdade que meio mundo frequentou aquela pouca vergonha, ex-presidentes e futuros presidentes, reitores, CEOs e príncipes. Se calhar por isso é que esconderam tantas verdades difíceis.

Ouvi que chegavam à ilha aviões com meninas vindas dos países de leste. Vi também vídeos antigos de Trump a gabar-se de que gostava de jovenzinhas. Punha como limite os 12 anos. Hoje vi um vídeo em que se sabe que Steve Bannon tem 15 horas de gravações. Bannon? A que propósito também o Bannon? Tanta gente envolvida.

Agora ofereceram imunidade parcial a Ghislaine Maxwell para ela falar. Mais uma verdade chocante. Mas para ela dizer o quê? O que for conveniente a Trump? Para incriminar uns e limpar a barra a outros? E colocam até a hipótese de a ilibar completamente. Escândalos atrás de escândalos, lixo e mais lixo (onde antes havia luxo).

Tudo inacreditável. 

Como é possível que num país supostamente civilizado aconteçam coisas assim? Alguma vez o saberemos?

Quem mais soçobrará antes que se saiba tudo?

Mas, como já no outro dia disse, por mais pedófilos que apareçam mortos, as verdadeiras vítimas são e sempre serão as mulheres que um dia, quando eram meninas, foram usadas e abusadas por gente que não presta.

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Epstein's brother wants to see Bannon's unseen footage of his brother

The New York Times is reporting that an accuser of Jeffrey Epstein spoke with the FBI twice to report sexual assault by Epstein and to alert them of his connections to powerful men including Donald Trump. Also, Epstein's brother wants to see Steven Bannon's alleged 15 hours of unseen footage of his brother. NBC News White House Correspondent Vaughn Hillyard, MSNBC Legal Correspondent Lisa Rubin and New York Times National Reporter Mike Baker, join Katy Tur with the latest details.


Ghislaine Maxwell has been granted limited immunity to talk to Department of Justice

Jeffrey Epstein accomplice Ghislaine Maxwell was granted limited immunity to talk to Deputy Attorney General Todd Blanche in two days of meetings this week, according to a source familiar with the arrangement.

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Um sábado feliz

terça-feira, julho 22, 2025

Uma tragédia cujo fim é imprevisível

 

Há vidas fadadas a serem divulgadas, escrutinadas, ficcionadas. Prestam-se à especulação, a teorias da conspiração, a análises psicológicas, a ódios e a paixões. Inspiram cumplicidades, medos - sentimentos contraditórios. Se alguém pegasse em personagens assim, dir-se-ia que os traços comportamentais são excessivos, tão extremados que incredíveis.

E, no entanto, são reais.

Ghislaine Maxwell é a chave da equação: está viva, sabe de tudo. Mas está presa e não é claro que fale ou, se falar, que fale a verdade. Toda a sua vida é, em si, um filme. Uma tragédia. Tenho muita dificuldade em compreender as motivações de uma pessoa assim mas isso não é de estranhar pois a minha vida tem sido banal enquanto a dela tem sido, desde pequena até agora, uma montanha russa. Ou uma roleta russa.

Jeffrey Epstein morreu, supostamente por suicídio mas dizem que assassinado, mas, antes de chegar a esse triste final teve uma vida também inexplicável. Não se sabe se era de facto um financeiro, se apenas um organizador de sexo com modelos ou candidatas a isso, de preferência menores, se também um destemido e descarado chantageador. Parece que nunca se percebeu de onde lhe vinha tamanha fortuna. Sabe-se, isso sim, que do seu círculo de amigos faziam parte homens ricos, influentes, ditos poderosos.

Trump foi o melhor amigo de Epstein durante vários anos e há fotografias que os mostram juntos, incluindo com Melania. Também se sabe que Trump gostava de modelos, de preferência novinhas. Predador, descarado, estúpido, anormalmente porco. E, por incrível que possa ser, conseguiu ser, pela segunda vez, presidente dos Estados Unidos.

O céu parece estar a cair-lhe em cima. Os segredos podem, aos poucos, começar a ser desvendados.

É normal que as vítimas não queiram falar: por vergonha, por vontade de esquecer, por medo. Mas os jornalistas andam em volta, surgem vídeos, entrevistas antigas, indícios, testemunhos. O puzzle começa a ser composto, o cerco a Trump começa a apertar.

Claro que surgirão muitos documentários, muitas séries. E tudo será espantoso. Não poderá haver um fim feliz. 

Mas as vítimas, as verdadeiras vítimas, serão sempre as mulheres que, quando jovens, foram abusadas, usadas.

The secret lives of Ghislaine Maxwell and billionaire paedophile Jeffrey Epstein - BBC News

Trump and Jeffrey Epstein: A detailed look at their relationship

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Desejo-vos um dia feliz

domingo, dezembro 19, 2021

Ghislaine Maxwell e Jeffrey Epstein, dois personagens ainda por desenhar

 


Haverá documentários, filmes, séries. Nuns casos os holofotes incidirão nele, noutros incidirão nela. 

Não tenho tempo para acompanhar de perto. Vou apenas lendo os títulos, tentando estabelecer as ligações, perceber de que se trata. Por isso, posso não ser muito precisa no que vou dizer. 

Se dele poucas dúvidas restam de que se tratava de um simpático e cativante predador, riquíssimo, rico para além do usual, socialmente bem aceite apesar de se lhe conhecerem as preferências, já dela, quanto mais sei (e quase nada sei), menos percebo. 

Qual o papel dela? Que necessidade tinha ela de se prestar àquele papel? E o que me parece é que não o fez por necessidade mas por prazer. Ou talvez eu não esteja a colocar bem as coisas, talvez devesse dizer que não o fez por estar a ser compelida a isso por ele mas porque necessitava disso para se sentir completa. Talvez gostasse de ser angariadora de meninas, talvez gostasse de tocar o corpo de meninas, talvez gostasse de assistir a violações. Talvez seja, apenas, a cúmplice de Epstein. Não a namorada mas a amiga, a companhia dedicada.

Talvez tão doente fosse ele como ela o é.

Ele convidava Trump, Clinton, o Príncipe Andrew e tantos outros -- e eles iam. Iam no avião particular dele, iam para a sua ilha privada ou para uma das suas mansões. Porque iam? Porque ele era muito rico e estarem na companhia de uma pessoa muito rica faz bem ao ego de algumas pessoas? Acho que talvez seja mesmo isso. 

Conheço algumas pessoas muito ricas. Um deles, muito, muito, muito rico gosta de cozinhar para os amigos chegados, gosta de convidá-los para as suas casas e para o acompanharem nas suas viagens. E os que são convidados alimentam-se dessa amizade como se merecerem esses convites e merecerem estar perto e partilharem a privacidade de um homem tão rico fosse o alimento de que necessitam para se sentirem igualmente importantes. Sujeitam-se aos horários exigentes e à hiperactividade desse homem muito rico, sujeitam-se a tudo, e sujeitam-se voluntariamente e felizes por isso, porque, genuinamente, se sentem como se estivessem sentados à direita de deus-pai-todo poderoso.

Não será exactamente assim mas apenas um pouco assim para os que frequentaram as casas de Jeffrey Epstein. Alguns terão partilhado também as adolescentes que eram abusadas pelo multimilionaríssimo Epstein. Outros talvez apenas as boas casas, o bom vinho, as piscinas, as praias, o deboche das conversas sobre dinheiro e sobre mulheres.

Oriundo de uma família de poucas posses, Epstein foi subindo, subindo, foi empregado, foi despedido, muita ambição, muita sedução e sorridente assertividade, depois já era consultor financeiro e finalmente já era dono de empresas que negoceiam fundos, nomeadamente os hedge funds e outras cenas perversas geradas e alimentadas pela especulação. Andando movido a adrenalina, alimentado pelo poder do risco e da movimentação de muitos milhões, com uma sexualidade que pedia carne nova, Epstein devia viver naquela realidade paralela na qual vivem os que enriqueceram muito e muito depressa e que começaram a habituar-se a ter à sua volta muita gente disposta a servi-los ou a acompanhá-los.

Mas...e Ghislaine? O que a movia_?

Rica de berço, filha do magnata Robert Maxwell com quem trabalhou, Ghislaine conhecia, desde sempre, o conforto das boas casas e o conforto que uma carteira recheada proporciona. 

Quando o pai morreu, mudou-se do Reino Unido para os Estados Unidos, criando um grupo sem fins lucrativos para proteger os oceanos. E, em paralelo, começou a colaborar com Epstein. Mas a colaboração era uma colaboração invulgar. Se Epstein tinha muito dinheiro, Ghislaine conhecia tudo o que era gente rica e importante. Uma colaboração virtuosa, assim parecia.

Só que a colaboração aparentemente não tinha a ver com negócios. Andando frequentemente juntos e abraçados, muita gente os tomava por namorados. Tinham-no sido, em tempos e, ao que parece mantiveram-se bons amigos. Ela casou-se e teve filhos mas a bizarra proximidade a Epstein manteve-se. 

Mas o que se passava é que Ghislaine sempre fez tudo para agradar a Epstein e, para lhe agradar, nada melhor do que angariar meninas para satisfazer o seu apetite voraz. Via meninas aqui e ali, contactava-as, prometia-lhes que lhes apresentaria uma pessoa que gostava de realizar sonhos.

E levava-as até às suas casas. Lá parecia ser a governanta. Ghislaine não apenas levava as meninas até às ricas mansões como até aos seus quartos. Até às suas camas. Muitas vezes ficava a assistir, muitas vezes participava nas sessões de massagens altamente erotizadas.

Pelo meio, ameaçava as jovens de que correriam risco de vida se falassem no que ali se passava. Ele fazia o mesmo. Ameaçava-as, obrigava-as a obedecerem a Ghislaine. As jovens sentiam-se presas, amedrontadas, culpadas. Calavam-se e obedeciam.

Até que um dia algumas começaram a falar.

Jeffrey Epstein foi julgado, foi preso. E um dia apareceu morto.

Ghislaine foi presa mais recentemente. Está agora a ser julgada. As meninas que angariou são agora mulheres adultas que descrevem o que ela fazia e dizia. Desejam a sua prisão, dizem-na perigosa, dissimulada, egocêntrica.

Diz-se que se arrisca a apanhar trinta anos de prisão.

Ninguém consegue explicar o que a levou a fazer aquilo. Tara? Pancada da pesada? Um narcisimo agudo que a levava a ignorar as consequências dos seus actos? Qualquer coisa ainda por descobrir?

Não faço ideia.

O que agora achei mais surpreendente é que, estando a ser julgada por tráfico sexual de menores e sendo proibidas as filmagens ou fotografias na sala de tribunal, é permitido que sejam feitos desenhos do que lá se passa. Jane Rosenberg é a desenhadora oficial. É através dos seus desenhos que a comunicação social consegue ilustrar as notícias do julgamento.

Pois bem. Para espanto geral não apenas Ghislaine se apresenta descontraída dizendo que não vai defender-se porque os acusadores ainda não apresentaram nenhuma acusação de jeito como pediu papel e lápis de cor e agora, em vez de se concentrar exclusivamente no que lá se passa e na sua defesa, também desenha. Desenha a desenhadora.

Enquanto Jane Rosenberg a retrata, Ghislaine retrata Jane a desenhá-la a ela. E isto, sim, isto eu acho ainda mais extraordinário.

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Para quem não esteja a par deste caso que ainda terá muito que contar, aqui ficam dois vídeos.

Inside the wicked saga of Jeffrey Epstein: the arrest of Ghislaine Maxwell | 60 Minutes Australia


Ghislaine Maxwell accuser shares new details of alleged torture in new book


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Quem tiver a explicação para isto, que se chegue à frente e diga.

Desejo-lhe, a si, um belo dia de domingo