Pergunta a Penélope e eu pergunto o mesmo: porque é que não foram fazer buscas em Belém?
Sim, porquê?
Pergunta a Penélope e eu pergunto o mesmo: porque é que não foram fazer buscas em Belém?
Sim, porquê?
Como gosto de me pôr à prova e tenho dificuldade em virar costas a um quizz ou a testes que me digam o que eu penso, experimentei as dating apps que os jornais disponibilizaram para podermos validar quais os partidos ou os líderes com que mais nos identificamos.
Muito consistentemente deu-me o que me costuma dar: em primeiro lugar o PS, em segundo o Livre. Cá bem em baixo, aqueles com que não tenho nada a ver como o Chega ou o PCP. Bate certo.
Dito isto, considero que a campanha do PS parece que ainda não percebeu que, para ganhar, tem que ir buscar votos a quem está a pensar votar na AD ou a quem, estando hesitante, não está muito convencido a votar no PS. Ou seja, tem que perceber as dúvidas ou os anseios da classe média que não se revê em políticas muito encostadas à esquerda. Como escrevi aqui no outro dia, o PS não tem que falar para quem gosta do PCP ou do Bloco pois esses vão votar no PCP ou no Bloco. Não é com esses que o PS tem que se preocupar. Tem que se preocupar com aqueles que, nas últimas legislativas, votaram no PS (com António Costa) e que agora estão preocupadas com receio que o Pedro Nuno Santos dê ouvidos ao Bloco e ao PCP, nomeadamente, com aqueles para quem a conversa da AD de redução de impostos é música para os seus ouvidos.
Apesar de eu compreender as dúvidas desses hesitantes ou de preferir e um PS mais social-democrata e mais virado para a frente, mais aberto às grandes questões do mundo, e, em contrapartida, menos agarrado às reivindicações corporativistas de várias classes profissionais, considero que, face às reais alternativas, o PS é a melhor aposta, a mais segura, a que me dá mais confiança, a mim e ao País. Apesar de votar onde poderia eleger deputados do Livre, não quero arriscar. O meu voto é consciente e é útil.
Jamais daria o meu voto a quem pode colocar em risco a democracia, a liberdade, os avanços sociais que já foram conseguidas, a aventureiros, a populistas, a gente desqualificada ou traiçoeira.
E agora, esperando que não levem a mal, vou importar para aqui as declarações de voto de duas pessoas cuja opinião prezo.
Da declaração de voto do Rui Bebiano (A minha escolha no dia 10):
Da declaração de voto do Valupi:O meu voto sempre esteve, no momento da decisão, associado à pluralidade da representação da esquerda e à escolha de políticas baseadas nos valores que esta fundamentalmente partilha. A saber, para mim e para tantas outras pessoas: a defesa da democracia e da liberdade, a promoção da justiça social e de um desenvolvimento material harmonioso, a propagação do bem-estar, da saúde e da educação, o progresso da cultura, a defesa dos direitos humanos e do relacionamento pacífico entre povos. Sempre ancorados no papel imprescindível, ainda que infinitamente em construção e aperfeiçoamento, do Estado-Providência. É este, na essência, o sentido da minha escolha no momento de votar. E é também esta a razão pela qual, com o gesto, procuro contribuir para afastar a direita, a extrema e a dita «moderada», que são o contrário de tudo isso.
Direto agora ao assunto apontado no título. O partido cujo programa, apesar de algumas pequenas discordâncias, está mais próximo das minhas convicções – a defesa integrada de universalismo, liberdade, igualdade, solidariedade, socialismo, ecologia e europeísmo – é o Livre. Todavia, sei que, no presente contexto e com a atual lei eleitoral, em muitos distritos levará a votos perdidos; assim, se votasse em Lisboa, Porto, Braga ou Setúbal, onde pode eleger, votaria no Livre, mas não sendo o caso, votarei sem hesitar no Partido Socialista. Este é o partido de esquerda mais forte e aglutinador, que pode impedir o regresso da direita e tem condições para governar. Mesmo discordando de algumas das suas escolhas e personalidades, creio ser a solução possível, de preferência em convergência à esquerda. Tendo simpatia por escolhas e por pessoas do Bloco de Esquerda, que por muitos anos apoiei, reconhecendo o seu importante papel, temo o seu desequilibrado sentido institucional, bem como algumas das suas prioridades no combate político, mas representará sempre uma opção progressista e combativa.
Nas últimas eleições sugeri o voto em qualquer dos partidos da esquerda, mas reduzo agora o leque, pois dois deles perderam a escassa confiança que neles ainda tinha. Um é PAN, sem coerência para além das suas causas pontuais, pactuando com diferentes campos sem uma orientação clara, desde que da escolha resulte a participação num quinhão de poder. Outro é o PCP – o PEV é, de facto, um partido sem vida própria – que, apesar da sua respeitável história e das muitas pessoas honradas que sem dúvida inclui, continua a revelar-se defensor de ditaduras, como as da China, da Coreia do Norte ou de Cuba, e de regimes autoritários, como o da Venezuela, o da Síria e o da Rússia neoimperialista. Ao mesmo tempo, tem pactuado com a invasão da Ucrânia, em nome de uma «paz podre», tem sido sempre anti-União Europeia, e, além de conservador no plano dos costumes, tem-se batido contra causas justas e urgentes, como a defesa da morte assistida ou o fim das touradas. Quem considere isto irrelevante, que me ignore.
A minha escolha é esta e a ela não voltarei até ao dia das eleições.
(...) O meu voto no PS é paradoxal. Considero que esse partido suporta isolado a coesão da comunidade, ligando as carências de pobres, remediados e ricos em políticas que não ambicionam a revolução nem a perfeição. A história do PS como partido de poder confunde-se com a história da democracia como regime da inclusão e do desenvolvimento pragmático, realista, consequente. E estes predicados são os mesmos que me levam a considerar o PS como o principal responsável pela perigosíssima, e já trágica, disfunção dos órgãos de Justiça, Ministério Público como corporação e certos juízes incluídos.
No PS não existem respostas para essa crise do poder judicial tomado pelo justicialismo e cometendo crimes sistemáticos. Não existe sequer um discurso que permita ter esperança a respeito. Restam as pessoas a dar o seu melhor, confusas e assustadas com os poderes fácticos em acção. Sendo demasiado pouco, é nesta circunstância infinitamente melhor do que nada.
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Um dia bom
Saúde. Pés na terra. Paz.
Hoje queria que o meu marido escrevesse qualquer coisa sobre a palhaçada do recurso do MP a propósito da palhaçada do chamado caso Influencer, tudo uma palhaçada em que não se acredita, um desconhecimento total do que é o mundo real, uma subversão total do que é o papel do Ministério Público, um disparate sem tamanho. O que dizem ali só me dá vontade de perguntar se não há maneira de os mandar prender pois são perigosos para a sociedade tal a deformação que vai naquelas cabeças e tal o real poder que detêm.
António Costa, na entrevista a Nuno Santos, disse que continua a achar que este modelo de funcionamento da máquina da Justiça é o correcto e acrescentou que pressupõe um funcionamento hierárquico.
Pois, aí está a questão: o modelo poderia ser bom num mundo perfeito, por exemplo se a Procuradora-Geral percebesse qual a sua função, tivesse alguma visão ou prática hierárquica. Mas não, é uma nulidade absoluta. Acontece que se poderia dizer que não seria grave pois a malta do MP é tudo gente escorreita, atinada. Errado. Não apenas andam em roda livre como acham que podem justicializar a política e lançar lama sobre quem lhes apetece, apeando politicamente quem lhes apetece.
Portanto, estamos entregues a um bando de incompetentes, lunáticos, doidos varridos, vingativos que andam por aí fazendo o que querem e, certamente, divertindo-se à tripa forra com os abalos que causam na democracia.
E Marcelo Rebelo de Sousa caladinho, assistindo passivamente ao que esta gente anda fazer, nomeadamente a minar a credibilidade do nosso regime. Marcelo, Marcelo, que mal lhe fica este silêncio...
Mas o meu marido anda engripado, cheio de tosse, não teve paciência para escrever.
E o pior é que, logo depois de ter ouvido excertos do recurso, ouvi um histérico e descompensado Montenegro não apenas a querer que a gente se esqueça do tema da sua casa, como que a gente se esqueça da porcaria a granel feita pelo governo de Passos Coelho que ele tanto defendeu (e que fez porcaria e da grossa e em toda a linha, nomeadamente com as privatizações, incluindo a malfadada privatização dos CTT), como ainda a querer que a maltosa que vota sempre nos populistas mais populistas, os que são contra tudo e todos, nos que tanto votam no PCP, no BE como no Chega, agora votem nele, o grande líder da bandalheira.
Pedi ao meu marido que, então, falasse nisto. Tosse, tosse e tosse e diz que não está com saúde para falar de gente desqualificada. Caraças para esta gripe que não desgruda da gente. Bem, ele não usou aquelas palavras para se referir aos desqualificados mas, como este blog é um blog de família, estou a traduzir usando palavras bem comportadas.
Ora eu, que ando com a cabeça feita em água, a caminhar sobre um chão minado de brasas, em que todos os dias acordo bem cedo com um nó no estômago, tentando (por vezes debalde) depois adormecer por mais um pouco, também não estou com cabeça para zurzir a valer como a tropa do MP e o Luís Montenegro merece ser zurzida.
Fico-me, pois, por aqui.
Mas a Penélope está em grande forma. Não fala do totó da cara alegre, porque o tema é o da Justiça, mas não poupa os outros. Ide até lá, é o que tenho a dizer: Ao Ministério Público: há limites para a não admissão de um erro grave. A Procuradora-Geral continua alheada
E já cá estamos, em 2024. Aqui, pelo menos, já chegámos.
Não sei se o Valupi tem razão ao dizer que 2023 foi um período triunfal para os estúpidos. Não que não tenha sido. Foi. Mas foi mais que isso. Foi, em si, um ano estúpido. Claro que pode dizer-se que são os estúpidos que transformam uma coisa neutra numa coisa estúpida. Mas foram tantas as coisas estúpidas que aconteceram, uma tal sucessão de situações transformadas em situações estúpidas por gente estúpida que, em si, tenho que concluir que 2023 se pôs a jeito para os estúpidos fazerem dele gato-sapato. E não foi só isso, foram mesmo as contingências desagradáveis que viram a luz do dia, negativas, abstrusas, ataques de pouca sorte.
Quando o ano começou toda a gente deve ter desejado que fosse um ano incrível, transbordante de paz e bondade, mas, bem vistas as coisas, muitos dos estúpidos que por aí andam já andavam antes a deixar-nos perceber que iam fazer porcaria. Muitas vezes, não quisemos foi ver.
Não vou exemplificar pois foram tantas as anormalidades que aconteceram que seria absurdo apontar só uma o duas. Mas, de muitas, como não reconhecer que os seus autores já antes vinham dando mostras de que as suas intenções e o seu comportamento iriam descambar em actos estúpidos, nefastos.
E, mesmo a nível pessoal, tenho que reconhecer que quase tudo o que de negativo me aconteceu, não nasceu em 2023. E algumas coisas poderiam ter sido senão evitadas, pelo menos mitigadas. Há o aspecto da sorte, é certo, e nela muitas vezes não conseguimos influir. Mas em muitas das outras deitamo-nos na cama que fizemos. Não que, se fosse outra a cama, o destino fosse forçosamente diferente. Mas uma coisa é certa: quando tomamos uma opção não podemos pensar que as consequências se ficam por ali. Muitas vezes as consequências arrastam-se por anos.
Estou a escrever e já estava outra vez a pensar na situação da minha mãe e no que estamos a passar: tinha vontade de exemplificar como, em cada momento da vida, a vida não é só o que acontece independentemente da nossa vontade mas também é a forma como o encaramos -- ou sob uma perspectiva fatalista e negativa ou sob uma perspectiva de agradecimento e aceitação, mesmo quando o que nos acontece não é famoso. E isso muda tudo. Mas hoje não quero falar outra vez do mesmo, não quero enfiar-me de novo nesse beco do qual tantas vezes parece que não consigo sair.
Só quero dizer que embora triste por a minha mãe entrar o ano numa cama de hospital e de eu não ter podido desejar-lhe um feliz ano novo, com saúde e alegria, como sempre fiz em todos os anos da minha vida, consegui divertir-me e estar feliz na companhia dos que me são queridos, que estão bem, felizes, bem dispostos.
A vida continua.
E bola para a frente. Certo?
E agradecendo ao Nuno que, apesar de ser um chato e que tantas vezes me maça, não deixa, outras vezes, de ser atencioso, partilho convosco um poema que ele me enviou por mail. Aqui, na voz de Marília Gabriela:
Felicidades
O populismo, quando começa a infectar a sociedade, é como a gangrena a avançar por um organismo.
Acontece que, em Portugal, em vez de se tentar erradicar o populismo, não apenas a comunicação social anda com os populistas ao colo, promovendo-os em permanência, como alguns dos outros partidos pensam que, para não irem pelo ralo, têm que ombrear em populismo com os populistas.
A nuvem de poluição que esta gente lança sobre a vida política é uma vergonha. Mas, mais do que isso, é um perigo. E é um perigo que tem sido alimentado pela Comunicação Social.
Nenhum dos referidos partidos contribui com uma única ideia construtiva para o País e a comunicação social limita-se a dar-lhes palco e a ajudá-los na sua promoção, papagueando o que eles dizem, esquecidos da sua função de isenção, de exercício de contraditório ou de verificação da veracidade do que dizem.
No conjunto, limitam-se a portar-se como vulgares arruaceiros. E, daqui, pode vir um verdadeiro perigo para a democracia.
E, perante esta situação, lamento que Marcelo Rebelo de Sousa continue a andar pelas ruas a falar e comentar tudo e mais alguma coisa, a lançar confusão e a alimentar a praga de comentadeiros que polui em permanência o espaço de comunicação, e não faça nenhuma tentativa para esvaziar este balão populista que está a crescer a olhos vistos.
Os reais valores da democracia têm que ser enaltecidos, respeitados, ensinados -- e o Presidente da República deveria ter um papel relevante nessa pedagogia.
PS: O Valupi recomenda que se comece a semana a recordar Paulo Portas sobre Marcelo Rebelo de Sousa e a vichyssoise e, se calhar, não é mal lembrado.
Da caixa de comentários a um post mais abaixo, transcrevo este do Leitor Falcão Vigilante.
Em consonância com os órgãos de informação total e tragicamente controlados pela direita em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa assume-se nos dias que correm como o rosto mais visível de um processo de contínua desestabilização institucional como nunca antes se viu por estes lados.
Ele não começou nos últimos dias. Nem nos últimos meses. Terá principiado, há cerca de 6 anos, com a miserável liquidação pública da ministra Constança Urbano de Sousa, após os incêndios no centro do país, quando ninguém, absolutamente ninguém, poderia ter feito mais ou melhor do que ela na altura fez.
Face à subserviência então revelada pelo poder governamental, a acção marcelista foi prosseguindo, em patente e inadmissível ultrapassagem dos poderes constitucionais que lhe assistem.
Não só se intromete no que não lhe compete (querendo impor acções governativas ou criticando publicamente as que o Executivo assume), como tem vindo a praticar uma espécie de "tiro ao ministro" que já nos custou a perda de figuras obviamente competentes e que muita falta fazem à governação (casos, por exemplo, de Azeredo Lopes ou de Marta Temido).
António Costa, um excelente Primeiro-Ministro, percebeu, finalmente, que não poderia continuar a tolerar as desenfreadas violações de uma Constituição cada vez mais em frangalhos. Sob pena de se deixar reduzir à absoluta irrelevância política, mandou parar o baile, quando o "mandador" até já se dava ao desplante de exigir no jornal "Expresso" (por interposta e habitual mensageira e em provocante antecipação) a cabeça do ministro Galamba...
O que Marcelo depois fez pela TV, em relação ao governante em causa, é inqualificável, mas revelador da personagem. Resta-nos todavia uma consolação: como antigo chefe do PSD, a personagem poderia ter chegado a Primeiro-Ministro de Portugal. Comparado com essa apavorante eventualidade, o filme de contínuo sobressalto institucional que estamos a viver não passa de uma espécie de reedição da Branca de Neve e dos anõezinhos...
Leiam ou releiam as memórias de Francisco Pinto Balsemão, dono do "Expresso", e o que lá ficou escrito, preto no branco, acerca do grau de confiabilidade que ele achava atribuível ao seu (então) empregado Marcelo.
Permite entender, sem grandes explicações adicionais, quase tudo do que se tem passado. E muito do que vai passar-se daqui em diante, nos próximos capítulos de uma história que até poderia ser divertida se não fosse tão indecorosa e tão contrária aos interesses dos portugueses...
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Do Valupi que escreve no Aspirina B, in "Fantasiemos um outro Marcelo"
(...)
Que levou Marcelo para esse abuso? Nada que tenha alguma relação com estratégia, sequer com inteligência. Foi antes o corolário dos abusos imediatamente anteriores: a nota acerca da recusa de Costa em cima das suas declarações e a chantagem via Expresso. E foi igualmente a consequência dos abusos ocorridos em crescendo a partir de Outubro de 2022. A martelagem no espectro da dissolução da Assembleia, chegando a causar incómodo público e apelos à sua cessação por figuras relevantes na direita, foi um abuso dos poderes que lhe foram confiados para ser um guardião da funcionalidade do Estado e da saúde da democracia. Em vez disso, introduziu incerteza, confusão e irracionalidade no ambiente político. Acabando por criar uma crise política muito grave e potencialmente catastrófica.
As causas para este comportamento indigno da posição que ocupa na hierarquia da República serão mais que muitas. Não ambiciono conhecer sequer a milionésima parte. Mas uma delas, incontornavelmente, está na sua obsessão com o editorialismo e com o comentariado. A retórica usada na declaração de 4 de Maio é paleio de advogado, não de estadista. Tudo consiste num argumento que coloca a “responsabilidade” como conceito bicéfalo, moral&político, cuja semântica plástica se estica a bel-prazer para incluir João Galamba, e depois se continua a esticar para incluir António Costa. Porém, porque estamos no domínio do sofisma e da farsa, o conceito deixa de ser esticado quando todos esperavam, na economia do texto, que chegasse ao próprio autor. Isto é, e logicamente, o Presidente da República é o responsável último pelo primeiro-ministro, o qual é o responsável último pelo ministro, o qual é o responsável último pelo adjunto, o tal fulano na origem da cegada. Se o escândalo é realmente como o pintou, estava no seu poder agir à altura da necessidade política. Donde, Marcelo tinha de se responsabilizar pela situação caso a coerência fosse uma cena que lhe assiste. Não é, tal como não assiste aos comentadores e editorialistas, só atrapalharia a sua prodigalidade. Foi para gáudio desta classe de artistas que Marcelo deu voz a um exercício de enxovalho, literalmente entregando-se à prática da “afronta” que os seus colegas comentadeiros agitaram como pecado mortal de Costa ao recusar a ingerência presidencial no Governo. O interesse nacional e o bem comum não foram servidos pela intervenção presidencial, exactamente ao contrário.
Fantasiemos um outro Marcelo, muito parecido com o que nos saiu na rifa mas com a diferença de ter recebido uma injecção de inteligência e estratégia algures nas 48 horas após a manifestação de autoridade constitucional e política de Costa. A sua reactiva declaração passaria a ser uma variante deste esboço:
"Muito boa noite,
Portugueses,
Duas palavras. Uma sobre o passado. Outra sobre o futuro.
Uma sobre o passado. Como sabem, ocorreram acontecimentos inadmissíveis na equipa do Ministro das Infraestruturas. A gravidade dos factos conhecidos, mais a dos que ainda falta apurar e esclarecer, levaram-me a enviar ao primeiro-ministro a minha preocupação com a credibilidade, confiabilidade e autoridade do Ministro, do Governo e do Estado.
Posteriormente, o Ministro entendeu pedir a demissão e o Sr. Primeiro-ministro entendeu recusá-la. Isto já é passado.
E uma palavra sobre o futuro.
Não compete ao Presidente da República escolher Ministros, demitir Ministros, interferir indevidamente na acção do Governo. A Constituição é muito clara a esse respeito. Mas compete ao Presidente da República ser um aliado institucional do Governo, coisa distinta de ser um aliado político. Como representante de todos os portugueses, a minha aliança política é com a República Portuguesa. Com essa jurada missão, tudo farei, sempre, para garantir o regular funcionamento das instituições democráticas.
Nesse sentido, apoio a decisão do Sr. Primeiro-ministro ao manter João Galamba como Ministro das Infraestruturas. E desejo a ambos, estendendo o voto a todo o Governo, que tenham sucesso na realização dos urgentes, complexos e cruciais processos e projectos executivos em curso e em planeamento. É dever de todos os responsáveis políticos contribuírem para que o Governo tenha as melhores condições para executar o seu programa.
A experiência, a prudência e a sabedoria do Povo Português serão testemunhas, e juízes, das vossas escolhas.
Muito boa noite.»
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As imagens provêm respectivamente daqui e daqui
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No seguimento do post de ontem no qual festejei o blogger mais jovem, a mais criativa e o mais romântico, seguem-se hoje outros que se destacam.
Valupi do Aspirina B
Alguns exemplos:
Ao assistir à entrevista a Luís Montenegro, dei por mim a concordar com o que sempre achei dele: eis aqui um tipo simpático, bonacheirão, com quem deve ser impecável estar na comezaina e na copofonia. E deste assentimento confirmado saltei para um estado de empatia. Sentia que conseguia sentir o que ele sentia acerca de si próprio ao ser apertado pelo excelente Paulo Magalhães. Foi assim que fiquei a saber, graças à magia da empatia, que o Montenegro sabe que mesmo nos seus melhores dias não passa de um político inane, merdolas.
O futuro da direita não decadente precisa da lhaneza e virtude de Moreira da Silva ou similares. Isto para começo da conversa.
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Quem ler mais esta ladainha contra as democracias liberais – Estamos a matar a democracia? – facilmente conclui que o putinismo da Soeiro Pereira Gomes é a consequência de já não se ouvirem os amanhãs que cantam. Passam agora os dias a olhar para o abismo, com as consequências que o outro há muito descreveu.
in Tadeuismo
«Quando eu ponderar uma vida no crime, a primeira coisa que eu vou fazer é construir um altar todo em talha dourada em honra de Ivo Rosa lá em casa e rezar-lhe uma oração todas as noites.»
Existe uma campanha contra Ivo Rosa, a qual une a direita política e mediática num coro de perseguição obsessiva como nunca se viu igual a respeito de um juiz em Portugal – só comparável à perseguição a Sócrates. Tal deve-se à Operação Marquês, tendo começado logo que Carlos Alexandre ficou em risco de perder o controlo absoluto sobre o seu desfecho. É uma campanha que não aflige os partidos da esquerda pura e verdadeira, nem o PS, nem o ministério da Justiça, nem o sindicato dos juízes, nem o Presidente da República, nem a minha vizinha do 4º andar. Trata-se de uma campanha alegre, portanto, e que continua porque todo o dano que se lhe conseguir fazer promete trazer ganhos para o dano maior que se deseja venha a atingir Sócrates (logo, a também atingir o PS, embora o PS de Costa conviva muito bem com essa armadilha onde os direitolas estão enfiados a ver a caravana do poder a passar).
O Sr. Araújo e coleguinhas televisivos pagos pelo Balsemão são três dos mais influentes carrascos de Ivo Rosa na comunicação social “de referência”. Fazem-no a coberto do registo “humorista”, para que o cinismo e a sonsaria atinjam o grau máximo de veneno no espaço público. Na citação acima, este “comediante” recorre ao sensacionalismo para broncos e trata literalmente Ivo Rosa como cúmplice de criminosos. Só rir, né? O Estado de direito e as legítimas diferenças na interpretação e aplicação da Lei que se fodam, viva o culto dos justiceiros que despacham a bandidagem com cordame e autos-de-fé.
Um estudo da Marktest analisou 60 e tal figuras públicas e descobriu que Ricardo Araújo Pereira é a personalidade com quem os portugueses sentem mais empatia. Ocasião para recomendar a leitura do Against Empathy, onde a tese é precisamente a de que a empatia pode boicotar, e mesmo anular, a deontologia e a ética – ou seja, a empatia pode servir para as maiores canalhices. É o caso com esta pulharia paga a peso de ouro, as vedetas da indústria da calúnia.
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O mais inesperado. Inconstante. Incerto. Indescritível. Intuitivo. Insólito. Nem sei bem dizer porque lhe acho a graça que acho. Mas acho. Apesar de uma certa maluqueira, encontro ali opções estéticas que me agradam e um certo gosto pela provocação que também me agrada. Talvez seja um dos bad boys da blogosfera. É pena que seja tão maçadoramente bissexto e é pena que não se esforce mais. Não fora isso e habituar-me-ia ao seu encanto. Assim, apenas está quase lá...
in Sharing is caring....................................................................................
todos os instantes de
infalibilidade e glória
em que estive
certo, axiomático, infalível, convicto,
por conhecimento ou instinto,
com e/ou sem argumentos,
vencendo adversários, contendas e litígios,
trocaria por este
em que a verdade é minha
e tudo o que quero
é estar
errado
...................................................................
Empalidece a arte ao encarar o fruto da natureza.
― Summa Theologica, S. Tomás de Aquino c.1272
in Ars autem deficit ab operatione naturae
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Amanhã tentarei continuar. Tenho ainda que falar do melhor mestre relojoeiro que, afinal, é um disfarce pois a verdade, verdadinha, é que poderia fazer parte da mesma tropa de choque a que também pertence o sniper mais certeiro da blogosfera. Ou do historiador mais lhano e objectivo cujos textos gosto de ler em voz alta para o meu marido. E de outros. Ou outras.
Contudo, o tema dos novos precários também está a pedir para eu o agarrar. O mundo mudou e a precariedade assume novos contornos e toca os mais insuspeitos. Noutros casos, são os precários que não querem deixar de ser precários. De uma forma ou de outra somos todos descartáveis e é bom que o assumamos com humildade. Mas é um tema caleidoscópico. Apenas a malta mais obtusa o vê como um tema linear suceptível de ser resumido num slogan que seja martelado em manifs de aspecto vintage.
No entanto, para falar disto terei que ter disposição para falar um bocado a sério e não sei se tenho paciência ou se aí desse lado há quem, a meio da silly season, tenha pachorra para uma conversa desse tipo.
Amanhã logo vejo.
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Um dia bom
Saúde. Boa disposição. Paz.
Mais um grande texto do grande Valupi in Aspirina B
[Nunca tenho curiosidade em saber quem é ou como é quem escreve. Neste caso, confesso, tenho curiosidade. Quem será? Ou melhor: como será o Valupi? Tenho mesmo curiosidade. É que ele escreve aquilo que eu gostava de escrever (já o contei). E escreve bem, caraças. Gosto mesmo do que ele escreve. Escreve como se estivesse sempre numa de chutar à baliza. Não perde cá tempo com bolas de efeito ou conversa da treta. Vai straight to the point. Gosto.]