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Madame de Pompadour, maitresse en titre, no tempo dos grandes horizontales |
Música, por favor
Pedro Abrunhosa - Viagens
(a parte final em inglês era escusada mas, enfim, não arranjei uma versão sem essa cauda desnecessária.)
(a parte final em inglês era escusada mas, enfim, não arranjei uma versão sem essa cauda desnecessária.)
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Volto ao tema da sedução.
A vida pode ser cheia de erudição, cheia de sucessos
profissionais, uma agenda preenchida com contactos dos mais úteis que há, belos
ordenados, contas bancárias recheadas, grandes casas, futuro garantido e o
escambau e, no entanto, apenas será recompensadora se tiver o tempero dos
afectos.
E pode até ter também o tempero dos afectos mas faltar-lhe
o sal e o picante e, por isso, ser uma boa vidinha mas morna, chata, um tédio.
Assumindo, por facilidade de exposição, que a vida já tem a
segurança, o conforto e a base de afectos que confere estabilidade e qualidade à
vida, falemos, portanto, do que dá salero à vida, do que a torna sexy, do que
lhe dá graça.
Sedução, inteligência, sex appeal, enlevo, charme,
malícia, humor, tudo coisas essenciais a uma vida bem vivida.
A questão estará em perceber-se se sedução é um conceito
abstracto que abrange os restantes ou se são coisas
distintas e se é coisa que se aprende ou, se não nasceu com ela, nada a fazer.
Procuro definições. Priberan: Atractivo irresistível;
tentação; Wikipedia: Sedução é a capacidade
de encantar o outro com fins de atingir determinados objectivos.
Ou será apenas 'Gostar de dar e receber' como ontem vos contei?
A minha opinião é que sedução é o dom natural de atrair o
interesse do outro de forma irresistível, sendo, para tal, normalmente usadas
‘ferramentas’ tais como a inteligência, o sex appeal, o enlevo, o charme, a
malícia, o humor.
No acto de seduzir tem que estar subentendido, de forma
inteligente, que por detrás das meias palavras, de uma possível malícia elegante,
escondida sob uma capa de fino humor, há uma promessa implícita de prazeres
múltiplos e variados, proibidos de preferência. Ou, mesmo que não seja tudo
isto, tem que se imaginar que, para além do que está à vista, ou do que é dito,
haverá mais, tem que apetecer descobrir, perseguir, sondar, arriscar - porque
se antevê que valerá a pena.
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Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre - um amor multifacetado, incomum, aberto, diríamos hoje Ele, um incorrigível sedutor à volta de quem as mulheres borboleteavam |
Sartre ou Picasso por exemplo eram homens baixinhos, não devendo muito à beleza, (Sartre, então, era mesmo fisicamente pouco dotado) e, no entanto, que fascínio
exerciam nas mulheres. No primeiro, seriam as fascinantes palavras, no segundo,
o fascinante olhar. As mulheres queriam mais, queriam perceber que promessas se
esconderiam por detrás disso, queriam estar por perto para não perderem pitada
que fosse.
Transcrevo do livro que ontem referi ('Seduction, a celebration of sensual style') a citação de Jean Baudrillard: 'To seduce is to render weak'. Leio também que Jane Billinghurst dizia que seduzir era criar 'an expectation of delight'.
Aprende-se isto? Não sei. Mas talvez se possa tentar, exercitar.
Em minha opinião, há factores essenciais para o exercício
da sedução: a auto-segurança e a autoestima são dois deles.
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Gabriela Canavilhas: música, ministra e, imagino eu, uma sedutora em lato sensu |
Quando uma mulher olha sabendo que há desejo implícito de parte a parte, deve estar
segura de que conseguirá manter o olhar até onde quiser, interrompendo-o ou levando-o até a um possível desfecho. E tem que estar confiante de que o homem a está
a olhar pelo puro prazer do olhar e não para ver se é uma borbulha
que tem disfarçada por creme, junto ao nariz. Inseguranças desse tipo anulam qualquer acto
de sedução, por mais simples que seja. A mulher deve estar-se nas tintas
para os pormenores, deve estar segura de que, se desperta interesse, é por si mesma e
que não é um qualquer insignificante pormenor que anulará isso.
E a mulher deve também saber que o que estimula o interesse é a
vontade da descoberta e da conquista. Se tiver comportamentos demasiado óbvios,
vulgares, se mostrar (ou disser ou o que for) tudo às primeiras, não havendo já
nada a descobrir numa próxima, provavelmente não haverá próxima.
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Marília Gabriela, inteligente, vibrante de vitalidade e argúcia, bem humorada, uma sedutora com provas dadas |
Outra coisa que acho que é uma importante arma de
sedução é o controlo (ou o aparente controlo) da situação. Acho que o que
desperta o interesse de uma pessoa noutra é saber que tem ali um adversário não
negligenciável, que vai dar luta, que vai ser uma coisa mano a mano. A inteligência é fundamental, é quase tudo A sedução, é sabido, é una cosa mentale.
Outro aspecto: pessoas carentes, oferecidas, perdidas, indefesas, geralmente não dão grandes sedutores ou, então, acabam mal, tornam-se demasiado
vulneráveis, a cabeça não acompanha o corpo.
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Mil fotografias, mil belas imagens, a câmara amava-a, ela emanava luz e sedução mas era tão frágil, dava tudo e sentia que recebia tão pouco |
O caso mais paradigmático disso é
Marilyn Monroe - sedutora até mais não poder mas insegura, indefesa, frágil. Os
homens desejavam-ma mas acabavam por cansar-se das suas inseguranças, das suas tristezas, abandonavam-na, e ela não resistia, caía, afogava-se em tristeza, em ansiolíticos. E assim se foi: um dos casos mais tristes da história da sedução.
Claro que o que vale para a mulher, vale para o homem com
as devidas especificidades comportamentais.
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Jack Nicholson - um mestre na arte da sedução e a prova mais que provada que a arte sedução tende a refinar com a idade. O olhar não engana e o sorriso ajuda. |
Aqui chegados tenho que vos confessar que, afinal, acho que não vale a pena continuar com isto. Para quê tentar descodificar a sedução através de mais palavras, gestos, subentendidos?
Concordo que a fórmula é simples: seduzir é, acima de tudo, sim, gostar de dar e de receber - dar a ilusão de que muito mais há para dar e receber com prazer o retorno da sedução, porque gostar de receber e mostrar que se gosta é um dos mais poderosos 'instrumentos' de sedução.
Concordo que a fórmula é simples: seduzir é, acima de tudo, sim, gostar de dar e de receber - dar a ilusão de que muito mais há para dar e receber com prazer o retorno da sedução, porque gostar de receber e mostrar que se gosta é um dos mais poderosos 'instrumentos' de sedução.
Convido-vos agora a ver o seguinte documentário sobre Madame Pompadour que ilustra bem o que é a sedução, a sedução qualificada.
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E tenham, meus Caros, um belo sábado e, se puderem, que seja repleto de sedução.