Volta e meia coincide eu ir no carro e estar a dar um resumo da campanha. No outro dia, uma senhora dizia que, salvo erro, da Venezuela lhe tinham cortado parte da reforma ao que Catarina Martins se insurgia, que não estava certo, que devia receber a reforma por inteiro. E não sei se foi essa senhora, se outra, que lhe disse que ela lhe fazia lembrar a Princesa Diana. E a Catarina, em vez de dizer 'cruzes, canhoto, ó mulher vire essa boca mas é pra lá que não quero ter o fim triste que ela teve', fez um sonzinho enaltecido, acreditando-se já a princesa do povo, rainha dos corações.
E isto foi o que registei na memória em vários dias.
Não, peço desculpa, registei também outra coisa: o Negrão, o tal puro que usou assinaturas de pessoas sem lhes pedir autorização, a dizer que o parlamento ia ficar cego, surdo e mudo durante a campanha por não ter sido aprovado uma reunião deles na sexta-feira para debaterem se o ministro sabia se não sabia.
Não, peço desculpa, registei também outra coisa: o Negrão, o tal puro que usou assinaturas de pessoas sem lhes pedir autorização, a dizer que o parlamento ia ficar cego, surdo e mudo durante a campanha por não ter sido aprovado uma reunião deles na sexta-feira para debaterem se o ministro sabia se não sabia.
E eu, ao ouvir aquela conversa desesperada, só me lembrei daquele jingle da TSF em que se ouve o dito líder da bancada do PSD, voz trémula, lançando um lancinante 'o senhor tem pelos no coração...!' ao Costa. É que, quando ouço aquele grito de dor, só me ocorre que ainda bem que foi ele e não Catroga que assim se manifestou.Logo a seguir, ouvi o Rio a dizer a propósito da conversa do seu líder: não morre ninguém por causa disso. E, ali no carro, sozinha, no meio do trânsito, desatei a rir. Cego, surdo e mudo, na volta também com pelos púbicos no coração mas, vá lá, morrer não morre. Menos mal.
Mas, portanto, da campanha, que me lembre, não registei mais nada.
Volta e meia, entre um e outro zapping, vi peixeiras ou mulheres no mercado ou na rua a convidarem candidatos para o quarto ou a dizerem brejeirices que deixam os pobres homens encabulados. Uma, sorrisinho malicioso no canto da boca, dizia para o candidato pôr a bandeira direita e perguntava se ele já não conseguia endireitar o pau. Geralmente, nestas ocasiões, o meu marido diz: 'Eu bem digo: as mulheres são muito piores que os homens'.
Volta e meia, entre um e outro zapping, vi peixeiras ou mulheres no mercado ou na rua a convidarem candidatos para o quarto ou a dizerem brejeirices que deixam os pobres homens encabulados. Uma, sorrisinho malicioso no canto da boca, dizia para o candidato pôr a bandeira direita e perguntava se ele já não conseguia endireitar o pau. Geralmente, nestas ocasiões, o meu marido diz: 'Eu bem digo: as mulheres são muito piores que os homens'.
E eu, ao agora escrever isto, lembrei-me do comentário do Onirocrata e estou aqui a pensar que ele, o Ony, deveria fundar um #MeToo_Y para os homens com razão de queixa das mulheres, ou seja, para quase todos. É que as mulheres, essas malucas, são um perigo: umas deixam-se agredir física e psicologicamente pelos homens e outras apalpam-nos e fazem de tudo para desviá-los por maus caminhos. Um perigo, as mulheres. Tadinhos dos serzinhos do cromossoma y, sempre vítimas delaX.
Quanto a debates também não posso pronunciar-me pois tenho ideia que só vi um, o dos quatro contra o Costa. E entrevistas, assim de repente, acho que só o Ricardo Araújo Pereira com a Joacicine do Livre.
Mas até pode acontecer que tenha visto ou ouvido mais. Mas não me lembro, não ficou cá nada.
Para mim, estas campanhas são uma indigência intelectual, um desperdício político, uma canseira para os candidatos que andam em tournée, uma perfeita inutilidade para todos. Salvo quaisquer excepções de que agora não me lembro -- e nas tintas se alguém aí, Martin incluído, acha que o digo por sectarismo -- mas, na realidade, do pouco que vi e ouvi, foi o que constatei: acho que só o PS se limitou a dizer quais as suas intenções. O resto andou todo a malhar no PS: só chicana, maledicência, intrigalhadas, quadrilhices. Não me assiste. Ainda se essa grande figura da política nacional não tivesse desistido... Agora, com o grande Castelo Branco fora de combate, foi basicamente mais do mesmo. Sem graça. Sem conteúdo.
Não sei como é nos outros países. Nestas coisas acho que não vale a pena inventar a roda. Chama-se a isso fazer benchmarking. Gostaria, pois, de saber como fazem em países onde a democracia já leva mais anos de estrada. Não acredito que, em locais onde a malta é civilizada há mais tempo, os políticos andem em feiras a gritar 'toda a ciganada a votar no CDS', a insultarem-se, a lançarem suspeitas, a avacalharem a conversa ou a prometerem amanhãs que cantam mesmo que seja em Caracas. Ou a perguntarem o nome dos cães. Acredito que há maneiras evoluídas de mostrar aos eleitores quais as suas ideias sem ter que poluir o ambiente nem abalar a sanidade mental dos mais incautos.
Ah, é verdade, lembrei-me ainda de mais outra: aquela tal do Rio que num dia até prendia jornalistas por alimentarem a Justiça de tabacaria e, no dia seguinte, já esquecido do seu ponto de honra, os chamou para lançar a acusação contra um inocente (relembro: até prova em contrário toda a gente é inocente), fazendo o julgamento na praça pública do ministro Azeredo e do Costa. O mesmo Rio que, não tendo a malta toda desatado a apedrejar a mulher do Costa (sim, porque se o ministro sabia, o Costa claro que sabia e, logo, a mulher também tinha que saber), inventou outra: a de que o Centeno deveria receber uma aula do Sarmento, o ministro das finanças que o Rio já nomeou não se sabe bem para quê. Claro que o Centeno, que tem os dedos de testa que faltam ao Alpakas, o mandou dar banho ao cão.
E eu, que não sabia quem era esse tal génio da batata frita, o Joaquim Sarmento, resolvi googlá-lo, para lhe tirar a pinta. E tirei mas não me alongo. Hoje estou em dia bom: a santinha desceu em mim com o regaço a transbordar de caridade. Mas uma coisa eu tenho mesmo que dizer. É que, olhando o dito Quim, achei que o senhor até pode ser bom a dar aulas sobre a contabilidade das laranjas mas uma coisa ele não sabe: que as mangas das camisas do homem não devem ter vinco.
Tirando isso, noves fora nada, alekui-alekuá, xiripitatá-tatá. Urra. Urra.
Tirando isso, noves fora nada, alekui-alekuá, xiripitatá-tatá. Urra. Urra.
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Hesitei. Freitas do Amaral merecia estar em melhor companhia aqui no Um Jeito Manso. Ou sozinho, num post apenas a ele dedicado. Mas, tudo sopesado, acho que estará bem aqui. A demonstração pelo absurdo é um método tão bom quanto qualquer outro. De um lado a Cristas, o Rio, a Catarina, o Ventura e etc e, do outro, ele.
Nunca votei em Freitas do Amaral nem sequer, em seu original tempo, alguma vez senti simpatia política pelas suas ideias. Depois, aos poucos fui adoçando a opinião. Fui achando que, independentemente das suas ideias, era um senhor, era uma pessoa respeitadora e digna. E comecei a sentir simpatia. Não propriamente pelas suas ideias que não me pareciam muito definidas mas por ele. Ou fui eu que ganhei maturidade ou tolerância ou foi ele que se chegou ao lado gauche da vida, seja lá o que isso quiser dizer.

Foi-se e eu, ao ouvir a notícia, senti pena. No outro dia, quando ia no carro com a minha mãe, passámos por uma casa que deve ter sido bonita e que está, há muitos anos, abandonada, cada vez mais degradada. Contou-me que era de dois irmãos, ambos sem herdeiros. Foram para uma residência, a casa ficou ao abandono. Agora que morreram ainda mais ao abandono ficou. Assim o CDS, uma casa que, percebi mas tarde, nasceu inteira, digna. Havia o Freitas e o Adelino. Gente inteligente, íntegra. Foi-se um, de uma maneira traumática, depois saiu outro. E o partido nunca mais foi o mesmo. Monteiro, Portas -- e, agora, descambou de vez com a Cristas. Agora que Freitas morreu, acaba a memória do CDS. Ficará ao abandono até que alguém o deite abaixo.
Mas Freitas do Amaral sobreviver-lhe-á -- quer através da obra que deixou, quer através da memória de coragem, dignidade e elevação na política que dele ficou.
Se há um panteão da memória da democracia portuguesa, de uma coisa podemos nós estar certos: Mário Soares está lá de braços abertos para receber o amigo.
Nunca votei em Freitas do Amaral nem sequer, em seu original tempo, alguma vez senti simpatia política pelas suas ideias. Depois, aos poucos fui adoçando a opinião. Fui achando que, independentemente das suas ideias, era um senhor, era uma pessoa respeitadora e digna. E comecei a sentir simpatia. Não propriamente pelas suas ideias que não me pareciam muito definidas mas por ele. Ou fui eu que ganhei maturidade ou tolerância ou foi ele que se chegou ao lado gauche da vida, seja lá o que isso quiser dizer.

Foi-se e eu, ao ouvir a notícia, senti pena. No outro dia, quando ia no carro com a minha mãe, passámos por uma casa que deve ter sido bonita e que está, há muitos anos, abandonada, cada vez mais degradada. Contou-me que era de dois irmãos, ambos sem herdeiros. Foram para uma residência, a casa ficou ao abandono. Agora que morreram ainda mais ao abandono ficou. Assim o CDS, uma casa que, percebi mas tarde, nasceu inteira, digna. Havia o Freitas e o Adelino. Gente inteligente, íntegra. Foi-se um, de uma maneira traumática, depois saiu outro. E o partido nunca mais foi o mesmo. Monteiro, Portas -- e, agora, descambou de vez com a Cristas. Agora que Freitas morreu, acaba a memória do CDS. Ficará ao abandono até que alguém o deite abaixo.
Mas Freitas do Amaral sobreviver-lhe-á -- quer através da obra que deixou, quer através da memória de coragem, dignidade e elevação na política que dele ficou.
Se há um panteão da memória da democracia portuguesa, de uma coisa podemos nós estar certos: Mário Soares está lá de braços abertos para receber o amigo.
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