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quinta-feira, agosto 25, 2016

"Italianos com 18 anos recebem 500 euros para cultura"
- Isto, sim, é uma medida estruturante que eleva o nível intelectual de um país para um outro patamar







Se há medidas que eu acho que moldam o desenvolvimento de um país, que o tornam mais competitivo, mais rico, mais forte e coeso são as que se relacionam com o ensino, o fomento da capacidade de estudar, de investigar e de ousar inovar, e a defesa intransigente da cultura e de uma visão abrangente e inteligente de tudo o que são valores ou recursos culturais.

Não vejo estas medidas como um custo mas como um investimento. E um investimento de alto e rápido retorno.

Agora -- já aqui aboletada no meu sofá mágico, fresquinho como uma suave barca, apanhando de feição a aragem da noite -- ao folhear os onlines, deparei como uma notícia no DN que instantaneamente me fez ficar rodeada de estrelas. Estrelas virtuais, claro, mas igualmente luminosas e felizes.

Transcrevo, fazendo votos para que Portugal adopte esta ou outra medida semelhante:




Era uma promessa eleitoral de Renzi que, soube-se hoje, começa a tomar forma. 


Foi aprovado o "abono da cultura", isto é, 500 euros que podem ser usados pelos jovens italianos (ou com visto de residência) em atividades e produtos culturais.


Não se trata de um cheque passado em mão a todos os jovens nascidos em 1998, mas de uma aplicação que se descarrega nos telefones móveis, chamada 18app. Uma vez registados, os jovens começa a ter acesso a este plafond. 


O sistema entra em funcionamento no próximo dia 15 de setembro, coincidindo com o regresso às aulas, e é válido até 31 de dezembro de 2017.


Com este fundo de maneio, os jovens poderão aceder a museus, parques arqueológicos, teatros, cinemas, concertos, exposições, mas também livros, segundo o ministério dos Bens Culturais italiano, promotor da iniciativa e, ao mesmo tempo, responsável pela escolha das propostas culturais que farão parte deste pacote.

Dados divulgados pelo ministério da Cultura italiano, a iniciativa deverá abranger 574 593 jovens e corresponde a um investimento de 290 milhões de euros que sairão dos cofres do governo.

O investimento "envia uma mensagem clara: o de uma comunidade que dá as boas-vindas à idade adulta recordando o importante que é o consumo da cultura para o enriquecimento pessoal e para fortalecer o tecido social do país", disse o subsecretário do Conselho de Ministros, Tommaso Nannicini.

No próximo ano, o governo de Matteo Renzi pretende alargar a proposta a todos os professores.


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Ao som do Va pensiero da ópera Nabucco de Verdi (1842), aqui interpretado por Pavarotti e Zucchero, para exemplificar de forma rápida a forma como a cultura abre as mentes para a diversidade e para a aceitação de diferentes visões sobre a mesma realidade, apeteceu-me mostrar o mesmo S. João Baptista respectivamente por:
  • Leonardo da Vinci 1513
  • Caravaggio, 1602
  • Giovanni Francesco Guercino (Barbieri), ~1645
E porque a defesa da cultura nacional não deve ser encarada de forma chauvinista, o mesmo S. João Baptista mas agora segundo um francês
  • Rodin, 1878–1880
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Por isso, alô, alô Tim Tim no Tibete!
Siga o bom exemplo de Renzi e ponha os nossos jovens a apaixonarem-se pela nossa cultura, va bene?

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma saudável, sortuda e alegre quinta-feira.

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quinta-feira, agosto 13, 2015

Alô, alô! Há por aí algum Leitor que encaixe nesta entrevista inventada?


Escrevo às vezes sem motivo. Escrevo porque as minhas mãos gostam de soltar as palavras que durante o dia prendo dentro de mim. Escrevo porque gosto de imaginar histórias, enredos, tudo à toa. Escrevo porque o que me atrai são as zonas de não conforto. Escrevo porque gosto de ir atrás das palavras, de olhos fechados, curiosa de ver onde elas me vão levar.

Hoje, por exemplo, não me apetece escrever sobre o cinzentismo actual, apetece-me ir por aí como se fosse por um caminho desconhecido, sem cautelas, sem bússola, sem rumo. Hoje está a apetecer-me entrevistar um Leitor inventado.  






Conte-me algumas memórias de infância.

Eu e os meus irmãos brincávamos nas traseiras do prédio. Ou nas escadas. Havia outros miúdos no prédio e imaginávamos que éramos exércitos rivais ou uns polícias e outros ladrões. Outras vezes íamos para um jardim perto, as minhas irmãs iam também, e havia namoricos, coisas próprias da idade. Ou íamos ao cinema, irmãos, amigos. Ao domingo havia almoço a rigor. À tarde íamos, passeio fora, os pais para tomar café, os miúdos para comerem um bolo ou um gelado. Eu era danado, apanhei muitos piparotes. Não me afectavam, sentia que ficava bem visto perante os mais pequenos.


E memórias da adolescência.

Fazia desporto, lia, tinha amigos, mas era inquieto. Namorei mas não a sério, era irreflectido, talvez um bocado irresponsável. Ia muito ao cinema. Andava na borga. Andava na rua. Cada vez mais rebelde. Os tempos eram próprios para isso. Muitas perplexidades actuais nasceram aí. Não me lembro bem, foram tempos confusos. Muitas brigas familiares. À distância vejo que, na altura, me sentia um bocado solitário, diferente dos outros.




Fale agora de uma memória marcante de quando jovem adulto.

Uma caminhada nocturna em grupo, os sons da noite, o receio de nos perdermos, o prazer da aventura, os cheiros do mato, passar as mãos pelos arbustos e senti-los molhados, cobertos por uma neblina que não se conseguia ver, as estrelas. A alegria. Quase como se a vida inteira pudesse ser uma descoberta num campo escuro. Uma descoberta ou uma conquista. Lembro-me muito dessa noite.


Lembra-se de uma viagem em família de que queira falar?

Sim. Fomos uma vez a Espanha de carro e foi uma aventura tremenda, jogávamos às cartas no banco de trás, andávamos à pancada, fazíamos picnics. O meu pai conversava com a minha mãe ou ouviam música. Alheavam-se da batalha campal que grassava no banco de trás. De vez em quando a minha mãe dizia schiu e o meu pai atirava o braço à sorte e acertava com a mão em quem calhava. Desviávamo-nos e continuávamos na nossa. Não havia cintos de segurança, amontoávamo-nos como calhava para cabermos, brincávamos, a minha irmã inventava histórias, gostávamos de a ouvir. Depois de ter filhos, contava histórias aos filhos. Tenho saudades desses tempos. De Espanha não me lembro bem mas falávamos espanhol com um sotaque exagerado, no gozo. Mas lembro-me de passarmos por campos cheios de flores e ser quase de noite e de ter achado muito bonito - mas não ter dito nada. Geralmente não falava de coisas desse género embora gostasse de ler sobre elas.




Se pudesse escolher umas férias de sonho, hoje, como seriam?

Não sou muito de sonhos. Não sei bem. Talvez à Galiza, talvez visitar algumas vilas, talvez Muros, arranjar um sítio com uma varanda sobre a enseada e ficar lá a ler e a ver o mar e o céu. Depois ir a pé passear à beira mar, e procurar uma igreja ou uma livraria ou uma biblioteca. Não pensar em nada, apenas ver a paisagem, ler, comer, andar a pé pelos lugares, degustar a comida galega. Sentar-me no banco de trás de uma capela durante a missa, só pela toada, pela luz, pela paz.


Sozinho?

Preferia acompanhado. As paisagens são mais bonitas se puderem ser vistas a dois. Ou as igrejas, a talha dourada, as imagens, ou os livros nos alfarrabistas, ou a música. A dois é melhor. E na varanda, enquanto entardecesse, também se estaria melhor acompanhado.


De mãos dadas?

Talvez. Sim. Às vezes, sim. 



Um autor que levaria consigo.

Borges.


Lembra-se de alguma coisa de Borges?

Sim, de algumas. Pode ser esta, a Despedida:





Entre mi amor y yo han de levantarse 
trescientas noches como trescientas paredes 
y el mar será una magia entre nosotros.

No habrá sino recuerdos. 
Oh tardes merecidas por la pena, 
noches esperanzadas de mirarte, 
campos de mi camino, firmamento 
que estoy viendo y perdiendo... 
Definitiva como un mármol 
entristecerá tu ausencia otras tardes.



É um bocado triste, esse poema.

Não. É o que é. E a vida é feita de despedidas. Mas o tempo esbate tudo, ficam as recordações que muitas vezes são ficcionadas. Há muitas despedidas na vida de uma pessoa.


E encontros. 

Sim. Mas são raros. Que valham a pena são raros.



Gostei de falar consigo.

Eu também. 
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As fotografias são criações através do iPhone de Melissa Vincent e descobri-as, claro, no Bored Panda. Luciano Pavarotti interpreta Una furtiva lacrima (L'elisir d'amore de Gaetano Donizetti).

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta-feira. 
Com boas surpresas. Com bons encontros. Com instantes de verdadeira felicidade.

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