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segunda-feira, setembro 15, 2025

Pode uma pessoa ser um perigoso íman, cujo efeito electrizante e perturbador sobrevive à sua morte?

 

Partilho um vídeo de Agosto de 2023 por continuar a ser actual. Nessa altura, tal como antes e tal como depois e, na verdade, tal como agora, Epstein continua a ser um mistério que ninguém consegue deslindar. Jornalistas de todo o lado têm investigado a fundo e a conclusão é sempre a mesma: não conseguem perceber que pessoa era aquela, como se movia por tantos e tão poderosos meios, de onde lhe vinha a fabulosa fortuna, como atraía tantas pessoas que pareciam decentes e que, no entanto, sabendo-o um pedófilo compulsivo já condenado, continuavam a frequentar as suas casas e a manter tão dedicada amizade com ele.

Eric Weinsten está na mesma e conclui que para tal só pode haver uma explicação: acha ele que Jeffrey Epstein era uma construção, um ser forjado, era a pessoa que aparecia mas que, na realidade, atrás dele estaria uma estrutura, provavelmente os serviços secretos. Não é uma dúvida inédita. Que ele seria um agente da CIA ou da Mossad, um agente treinado para agir na base da chantagem -- e que 'agarraria' pelos testículos (pardon my french) tudo o que era gente poderosa, da política aos negócios, passando por cientistas, gente relevante do mundo universitário -- é rumor que circula desde há muito.

Não sei, claro. Se meio mundo que o investiga não consegue agarrar as pontas e ir atrás delas, claro que não era eu que ia saber. 

O que sei é que talvez algumas séries ou filmes que se façam sobre ele venham, através da ficção, revelar-nos algo de mais concreto do que hoje há.

E o que sei também é que, apesar de Epstein ter sido encontrado morto numa cela -- em que toda a gente que conhece o lugar e que o conhecia a ele diz que era impossível ter sido um suicídio e que tais ideias não lhe passavam pela cabeça -- o tema tem tais difusos contornos que continua a marcar o dia a dia da política americana, com muita gente a dizer que grande parte do que Trump faz é para desviar as atenções do tema pois toda a gente, Magas incluídos, querem que os ficheiros do caso sejam divulgados.

Seja como for, aqui fica o registo desta curiosa entrevista. 

[E aqui fica prometido que amanhã contarei como fiz as almôndegas a la italiana que, felizmente, foram consensualmente aprovadas e que não apenas foram servidas ao almoço como, com um ligeiro twist, vieram a ser também parte substancial do lanche ajantarado. Hoje já é tarde, se me ponho a dar a receita completa, deito-me tarde de mais. E agora vou tomar um relaxante muscular. O que tomei ontem, ao deitar, fez-me bem, mas a seguir ao almoço, tive que tomar um ben-u-ron de 1gr. Fiquei melhor enquanto fez efeito mas agora já estou, outra vez, bem apanhada. Portanto, mesmo que estejam para aí a lamber-se por umas almôndegas bem cheias de molho, bem italianadas, terão que esperar por amanhã. Mas guardem um bocadinho de pão para ensoparem no molhinho, ok? Quem vos avisa, vosso amigo é.]

The Night I Realised Epstein Wasn’t Normal - Eric Weinstein


E, já agora, um vídeo muito recente que faz uma resenha corrida de alguns factos e 'achados' relativos a esta personagem misteriosa.

The DISTURBING THINGS Found Jeffrey Epstein's Home


Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda feira.

sábado, agosto 16, 2025

Ainda a propósito do Relvas e não só:
É o destino, “for the time being"

 

A propósito do testo que escrevi ontem sobre o Bannon tugolaranja, Relvas, por aí andar a dar as tácticas a Montenegro (respaldado por Passos? ou a abrir caminho a Passos?), permito-me puxar para aqui, para o corpo principal do blog, um comentário bastante interessante.

[Mas, antes, um apontamento. Pouco tempo depois do Relvas ter deixado de ser ministro, e lembremo-nos que saiu pela porta pequena, foi almoçar, num restaurante ali à beira rio, para as bandas de Belém, com um empresário e com um outro artista, familiar (para não dizer familiar muito próximo) de um ex-primeiro ministro. Esse empresário contou-me depois que estavam a almoçar na esplanada e que algumas pessoas que passavam reconheceram-no, olhando parece que com um certo ar trocista, e que ele sorria, na maior. E uns jovens, de longe, gritaram 'Vai estudar ó Relvas'. E ele, sorridente, como se nada fosse. Perguntei: 'Mas, no fundo, deve ficar sentido, não...?'. Resposta desse empresário: 'Acha?! Estava, isso sim, a ver se me 'vendia' umas ideias... Pessoas como o Relvas, gente de esquemas, estão é sempre a ver se estabelecem ligações, se fazem pontes para negócios, coisas assim.']

Mas, então, aqui está o texto do Leitor a quem muito agradeço.

Relvas já tem alguém (Victor Sereno) da sua máxima confiança no aparelho de Estado, precisamente num alto e sensível cargo – o SIRP Serviço de Informações da República Portuguesa, um dos vetores das nossas “Secretas”). O “Dr.” Relvas (assumindo que terá entretanto concluído o tal curso que não possuía) foi buscá-lo (VS) ao MNE, onde já revelava sordidez, ou seja, estavam bem um para o outro – e ambos arrogantes qb.

Quanto ao Tribunal Constitucional, tal como é (ou foi concebido) não deveria existir. Isto porque um Tribunal não deve ter juízes nomeados, ou escolhidos, por razões políticas, como sucede, desde a sua criação. Só nos EUA, que não é um país democrático segundo os “standards” do Conselho da Europa (por causa do seu sistema judicial, cujos magistrados – juízes e procuradores – são nomeados e escolhidos por pertencerem ou aos Partido Republicano, ou Democrata, bem como o seu sistema eleitoral, aquele tal Colégio Eleitoral, onde não é facultado o voto directo) é que os magistrados são escolhidos pela sua simpatia ou filiação partidária.

Inclinava-me para, em vez de termos um Tribunal Constitucional, optássemos por uma Secção Constitucional no Supremos Tribunal de Justiça, com magistrados peritos em Direito Constitucional, a fim de dirimir as questões de carácter constitucional. Como não sucede assim, teremos em breve uns tantos trogloditas de extrema-direita sentados no Palácio Raton a decidir questões sensíveis de constitucionalidade, sabendo bem o quão desprezam esta Constituição. Afinal de contas, o Chega conseguiu eleger 60 energúmeros para a AR, sendo que um deles, Diogo Pacheco de Amorim, antigo bombista do MDLP, fascista/salazarista assumido, que desdenha a Democracia que o 25 de Abril nos devolveu, após 48 anos de Ditadura, é hoje um dos Vice-Presidentes da AR.

Mas, atenção, se hoje estamos onde estamos, com uma maioria de Direita radical (AD+Chega+IL), deve-se ao mau desempenho da Esquerda, em particular do PS, que não se soube assumir como alternativa ao trafulha do Montenegro e ao Chega (os restantes Partidos de Esquerda não existem, praticamente e alguns, BE, e PCP deverão desaparecer em próximas eleições).

Voltando a Relvas, faz o papel que bem sabe e sempre soube fazer, que é o de desgastar a oposição à esquerda do PSD. Um traste político, sem valores e princípios políticos. E teremos esta gente (AD+ Chega, com a mãozinha da IL) pelo menos nos próximos 2 anos, se não forem mais. É o destino, “for the time being”.

quarta-feira, agosto 06, 2025

Papa João Paulo II, Fidel Castro, Woody Allen, Mick Jagger, etc., etc. -- todos em fotografias com Epstein na sua galeria de conhecidos e amigos

 

Ver mais imagens da casa de Epstein em NY aqui ou aqui

Se há personagens misteriosos e fascinantes, sem dúvida que Epstein é um deles. Já vi uma série na Netflix sobre ele, já li muitos artigos, já ouvi entrevistas com quem o conheceu bem, e, no ponto em que estou, o meu desconhecimento sobre a sua vida e sobre a sua motivação permanecem totais.

Vejo que ninguém conseguiu descortinar a proveniência da sua extraordinária fortuna. Identificam-se algumas parcelas, mas nada que atinja a totalidade, identificam-se algumas alavancas (pessoas a quem ele pode ter burlado ou manipulado) mas, identicamente, nada que justifique o brutal amontoado de bens. Em tudo o que vejo e leio a conclusão é a mesma: não se compreende de onde veio toda a sua extraordinária fortuna.

Há muita gente que pensa que parte da sua fortuna proveio de chantagem. Havia câmaras por todo o lado. Milhares de horas de gravações. Muitas fotografias, algumas guardadas no seu cofre. Para alguma coisa seriam. Mas pode a chantagem atingir valores desta natureza? E, de resto, nas fotografias, se algumas daquelas pessoas estavam a ser chantageadas, pareciam felizes por sê-lo.

Já ouvi diversas referências a ele ter sido apontado como um activo da Mossad e/ou da CIA, que interviria em situações de chantagem, e isso justificaria parte do secretismo de que as denúncias e os processos judiciais sempre parecem ter estado revestidos. Mas, sendo tudo secreto, como saber se isso é verdade ou se é mais uma das muitas teorias da conspiração em que a cultura americana é fértil?

E é tudo muito estranho. Vindo de uma família 'normal', sem riqueza, não acabou nenhuma licenciatura mas, não se percebe como, conseguiu enganar um prestigiado colégio onde deu aulas de matemática. Por ser lá professor, foi contratado como analista financeiro para uma empresa. Depois, por lá trabalhar e por desviado dinheiro, foi contratado por quem queria uma pessoa com o perfil dele, ambicioso, inteligente, fura-vidas, sem escrúpulos. Aí geria um esquema fraudulento em pirâmide e, claro, pessoa de 'confiança, cativante, insinuante, tornou-se próximo do big boss, a que se aliou e com quem burlou meio mundo. Quando a fraude foi descoberta, o big boss foi preso, mas ele, milagre, safou-se. E assim foi andando e, em pouco tempo, já tinha conseguido comprar casarões, mansões, um big rancho, uma ilha privada, um avião, um helicóptero, arte a gosto e a eito, pagar a não sei quantos funcionários, pagar 200 dólares a cada miúda que ia fazer um serviço e 200 a cada miúda que arranjava outra, e era normal haver desses serviços três vezes por dia, pois, segundo diziam, sexualmente, era insaciável -- e, sempre, em tudo, à grande e à francesa. 

Pelo meio, tudo o que era CEO das grandes empresas americanas, políticos e académicos e gente do cinema, cientistas, prémios Nobel, realeza, tudo estava caído nos encontros que ele organizava, uns meramente de tertúlia (embora sempre houvesse meninas a circularem pelas casas), outros de pedofilia pura e dura. Toda a gente lhe conhecia a fama. E mesmo depois de ter sido condenado e cumprido uma pena (ridiculamente baixa), ou seja, mesmo depois de ser público que era comprovadamente um pedófilo compulsivo, continuou a reunir em volta de si a habitual corte de amigos e admiradores. Como se ser pedófilo fosse coisa de somenos. Foram identificadas centenas de vítimas mas admite-se que possam ultrapassar as mil. Não só abusava delas como as traficava. Ele e o seu alter ego feminino, a sinistra Ghislaine Maxwell, presença constante na sua vida. 

Era também um conhecido filantropo. Oferecia dinheiro a rodos para partidos, para associações de beneficência, para pagar estudos e investigações, para bolsas. Dizem que parecia sempre bem informado e toda a gente gostava de falar com ele. Prestava atenção, parecia ter estudado os assuntos. Diziam-no uma pessoa interessante, interessada, afável, cativante. 

Apesar da sua reputação e do seu cadastro, parecia que as pessoas gostavam de ser vistas com ele. Ou, então, era ele que gostava de ser visto com elas. Nesta história não consigo perceber os contornos de nada.

Nas revelações que hoje vieram a público no The New York Times e já com reflexo noutros media, nas molduras de uma das suas incríveis casas, em Nova Iorque, há fotografias dele a visitar o Papa, dele com Fidel Castro, dele com Musk, dele com Mick Jagger, dele com Woody Allen. Muitas fotografias. Não se vê ninguém com ar de ter sido torturado para ali estar a sorrir. Todos parecem felizes, aparentemente descontraídos e orgulhosos por estarem em tão importante companhia. 

Leio que era visita do Palácio Real britânico e que, aparentemente, emprestou dinheiro a Sarah Ferguson, a ex do Príncipe Andrew. A teia de amizades vai sendo revelada, parece infinita. E inexplicável. Como chegou ele a tanta gente? E para quê?

E depois há o seu grande amigo, Best Friend Forever, Trump. Li que se zangaram não por Epstein ter 'roubado' uma menina de 16 anos que trabalhava em Mar-a-Lago mas porque Trump deu cabo de um negócio imobiliário milionário que Epstein queria fechar. Dizem que Trump seria testa de ferro de oligarcas russos. E aqui entram os russos, de mão dada com Trump? Outra teoria da conspiração? Ou outra vertente do mistério?

Questiona-se também qual o papel de Melania no meio deste filme. E as hipóteses que tenho ouvido são todas igualmente bizarras. E, também aqui, o mistério tem contornos imprecisos.

Os grandes jornais americanos não estão a largar o que a Justiça americana, pela mão de Trump, anda a querer esconder.

Não sei se alguma vez vamos perceber os contornos desta história mirabolante mas, pelo que se vê, entretanto vamos continuar a ser brindados com novos episódios que, em vez de revelarem, ainda adensam mais o mistério sobre esta estranha nebulosa.

Para quem não consegue ver o artigo que hoje está a bombar no NY Times, aqui fica um vídeo onde se fala disso.

A Disturbing New Look at Jeffrey Epstein's NYC Mansion

New photos reveal strange statues, cryptic and disturbing letters, and the presence of long-rumored hidden cameras inside the townhouse on Manhattan's Upper East Side. 


Desejo-vos dias felizes

quinta-feira, junho 15, 2023

SIS

[A palavra ao meu marido e uma Nota pessoal de minha autoria]

 


Trabalhei numa empresa que tinha uma certificação em segurança da informação  (norma 27001). A necessidade da empresa ter esta certificação resultava de utilizarmos informação confidencial disponibilizada pelos nossos clientes que, naturalmente, não podia ser divulgada.  Os procedimentos necessários para obtermos/mantermos a certificação implicavam analisarmos as nossas vulnerabilidades. e definirmos  as ações necessárias para mitigar a probabilidade dessas vulnerabilidades originarem situações que pudessem pôr em perigo a confidencialidade, integridade e disponibilidade da informação que nos era facultada pelos nossos clientes.

Assim, primeiro identificávamos quais as situações de risco (avaria de equipamentos, possibilidade dos colaboradores copiarem informação, ataques informáticos,...). A seguir, para cada risco, tentávamos definir a probabilidade deste ocorrer e os danos que poderia causar, o que nos permitia, após alguns cálculos, conhecer quais eram os riscos de poderiam afectar de forma mais grave o bom desempenho da organização. Finalmente definíamos as medidas que deveríamos por em prática para mitigar a probabilidade de ocorrerem as situações mais graves.

Identicamente, para cada risco grave que, apesar das medidas preventivas viesse a concretizar-se, existia uma panóplia de planos de intervenção, muitos das quais passavam por reportar às entidades competentes a ocorrência do problema.

Suponho que  a  forma do Governo trabalhar no que respeita à informação sensível seja idêntica e, assim, presumo que tenha sido isso que aconteceu quando a Chefe de Gabinete, perante o roubo de um computador contendo informação sensível, reportou a ocorrência a quem de direito.

Identicamente o SIS deve reger-se por um conjunto de procedimentos. Identificará qual é  a informação sensível que não pode ser divulgada e definirá formas de atuar quando ocorre uma falha que origina o acesso indevido à informação ou a possibilidade de isso vir a ocorrer.

Ou seja, deve ter sido isto que aconteceu no caso do computador levado do Ministério pelo ex-assessor: foi reportado ao SIS que um computador com informação sensível tinha sido levado indevidamente pelo ex-assessor e o SIS promoveu a sua recuperação urgente. Deve ser compreendido que a intervenção do SIS não foi no sentido de recuperar o computador enquanto objecto mas sim a de tentar evitar a destruição de informação sensível ou a destruição de evidência de possíveis cópias indevidas,

Que os jornalistas e comentadores não entendam o que aconteceu é lamentável, que o Sr. Presidente da República deixe correr as coisas para tentar desgastar o Governo é infelizmente o habitual, que  a oposição se sirva de tudo  e mais alguma coisa para a luta politica é uma tristeza. 

Se, eventualmente, o SIS tivesse ficado "mudo  e quedo" e a informação confidencial fosse parar a quem não devia, a opinião dos jornalistas, dos comentadores, do Sr. Presidente e da oposição sobre o mesmo assunto, certamente seria exatamente o contrário daquilo que agora afirmam pois o que os move parece ser, apenas, o 'bota-abaixo'.

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Nota minha (UJM)

Uma vez que o meu marido trouxe a sua experiência pessoal sobre o assunto, trago também o meu conhecimento sobre temas afins

Trabalhei durante algum tempo numa empresa que, pela sua actividade, foi considerada por quem de direito como alvo apetecível quer do ponto de vista da espionagem empresarial, nomeadamente internacional, quer do ponto de vista de possíveis acções terroristas.

Obviamente estávamos certificados por todas as normas que garantissem a inviolabilidade da informação e das instalações bem como fomos informados e/ou instruídos por diversas entidades, incluindo pelo SIS, sobre os cuidados a ter e o que fazer caso alguma ocorrência anómala ou suspeita viesse a verificar-se.

Portanto, face à minha experiência, que o SIS tivesse sido informado e tivesse agido perante a ocorrência de informação sensível sobre infraestruturas críticas do País e sobre o plano de reestruturação da TAP estar nas mãos de uma pessoa não autorizada parece-me não apenas normal como bastante adequado.

Que as pessoas que não conhecem estes meandros estranhem que o SIS tenha sido avisado e que, uma vez avisado, tenha resolvido agir, não me espanta. Mas espanta-me muito que os jornalistas, os comentadores, a oposição e o Sr. Presidente da República, revelem não compreender uma coisa tão simples.

sábado, maio 20, 2023

Hoje não há CPIs.
Hoje o tema é a fofura do Koko e a graça e doçura de Robin.

 

Passa das duas da manhã e estive a trabalhar até agora. Tive um dia daqueles. Desde fazer máquinas de roupa e estendê-la ao sol e ao vento, limpar pó, varrer e sei lá mais o quê, até fazer a revisão (espero que final) a mais uma "obra". Um dia falarei sobre isso. 

Por isso, não vi televisão, não vi notícias. Nada.

Tinha ideia de aqui escrever uma ficção desenvolvida segundo a metodologia científica da validação de hipóteses. Primeiro enunciar as ditas hipóteses (por exemplo: suponhamos que o computador continha provas de que passava informação para um certo partido; suponhamos que continha provas de que passava informação para uns certos jornalistas; suponhamos que continha provas de que passava informações para umas certas empresas; etc). Depois identificar os meios de prova a usar na validação de cada hipótese. Depois tal e tal. 

Também tinha pensado ficcionar que eu própria já tive contactos com o SIS. Ou relatar, ficcionadamente claro, casos em que o SIS teve intervenção, e ainda bem, depois de algumas situações banais para uns, terem suscitado  atenção a outros.

Tudo ficcionado.

Mas, juro, já não consigo. É muito tarde.

Este sábado também vou entregar-me à faxina pelo que não sei se durante o dia consigo vir aqui quer agradecer os comentários quer desenvolver algumas ficções (que, obviamente, nada têm a ver com as mediatices e cavalices que por aí pululam).

Entretanto, à falta de melhor, viro-me para animais decentes e fofos. Vejam, por favor, porque é delicioso.

Koko's Tribute to Robin Williams

Robin Williams met Koko in 2001.   It was a very cheerful encounter for both, and Koko has treasured it to this day.  When Koko learned of Robin's passing (on Aug. 11, 2014) she became very sad.  We hope this video will lift her spirits and remind everyone of the profound gift of joy that Robin Williams brought to our world.


Bom sábado
Saúde. Bom trabalho ou bom descanso. Paz.

quarta-feira, maio 03, 2023

Os testículos de António Costa, a bicicleta de Marcelo, o SIS, a não demissão de Galamba e a cabeça de Holofernes como compensação aos que tanto salivavam pela cabeça do homem do brinco

 

Há coisas que não percebo, que me parecem altamente questionáveis. Uma delas é uma pessoa com o CV do Frederico Pinheiro ter sido Adjunto de um Ministro. Não vejo no seu percurso nada que o qualifique para tal. Pelo contrário, imagino o sacrifício que gestores experientes e capazes tinham que fazer para lidar com gente com esta inexperiência e desconhecimento do mundo real. É que, do mundo real pelo qual ele passou, o que vejo é que foi empregado de mesa e vagamente jornalista do SOL ou do Record, coisa que, convenhamos, pode ser respeitável mas não é, certamente, um extraordinário cartão de visita para um Adjunto de um Ministro das Infraestruturas. Tirando isso, o que vejo é o percurso da malta que anda de curso em curso, começando na comunicação, passando pela política, investigando coisas de duvidoso interesse, e que assim anda, mestrando-se e doutorando-se e, en passant, assessorando estes e aqueles.

Isto, sim, parece-me muito questionável. Ele e todos os outros e outras que, sendo amigos do BE ou do PS ou do que for, e frequentando os corredores das intrigas partidárias, acabam compensados com lugares bem remunerados como adjuntos e assessores. 

E falo no BE pois é público que  quem deu a mão a Frederico Pinheiro para ele se introduzir nestes meios foi Ana Drago. Transcrevo:

(...) de janeiro de 2013 a março de 2014, tornou-se assessor de Política Económica e Financeira da Assembleia da República, sob o aval de Ana Drago. A deputada assinou uma carta de recomendação onde dizia ter convidado pessoalmente Frederico Pinheiro para trabalhar como colaborador do Bloco de Esquerda. 

Estamos falados.

Além disso, do que vejo, Frederico Pinheiro estava há uns anos naquelas funções de Adjunto de Ministro. Ou seja, trabalharia com Pedro Nuno Santos e terá sido herdado pelo Galamba.

Se agora, por quebra de confiança, Galamba o demitiu, nada a dizer. Terá feito bem. Não se pode ter um Adjunto em que não se confia. E, tal como já o disse, fosse eu ministra, alguma vez quereria ter um Adjunto com um CV como o deste Fred...? É que nem pouco mais ou menos. 

E nem quero saber do folhetim das notas, tretas que são milho para pardais. Falo apenas do CV do amigo 'pessoal' de Ana Drago (sic).

Mais. Ficou agora a saber-se, pela reação do dito Frederico, que emocionalmente não será muito maduro e que, quanto a sentido de Estado, tem sido a tristeza que se tem visto: despeja mensagens e mails para a comunicação social, levou (sem autorização) um computador do ministério com informação classificada, teve reacções violentas, etc. Portanto, face a isto, ainda mais razão há que dar a Galamba. Se o exonerou, se calhar o que há a censurar é que só tenha sido agora.

Volto a dizer que o que me preocupa nisto é, sobretudo, pensar que há gente deste calibre nos ministérios.

De resto, não percebo bem que 'culpas' se atribuem a Galamba. Não pode ser o brinco. Se ele tivesse um piercing num neurónio eu poderia ficar preocupada, talvez lhe afectasse o raciocínio. Agora um piercing na orelha não vejo que isso prejudique o seu trabalho.

Pelo contrário, não tenho ouvido dizer mal a quem tem lidado profissionalmente com ele, em especial quando estava na Energia.

No meio desta catadupa de suspeições e acusações, parece que agora se pede a cabeça dele por supostamente o Ministério ter contactado o SIS. Só que penso que as pessoas pensam que o SIS foi contactado para recuperar um computador roubado quando isso era caso para a PSP.

Ora tenho a dizer que eu, no lugar do Galamba, teria pensado e feito o mesmo que ele. Se um computador com informação classificada e sensível para o Estado está nas mãos de alguém ressabiado que foi demitido, então deve ser dado o alerta ao SIS. 

Se calhar as pessoas pensam que o SIS só deve ser alertado em caso de terrorismo ou coisa do género. Errado. Tanto quanto julgo saber, o SIS deve ser alertado sempre que esteja em causa zelar pelos interesses do País, nomeadamente quando se pensa que informação sensível pode ir parar a mãos que a usarão contra os interesses do país, seja em temas com contornos económicos, estratégicos ou outros.

Já participei em operações de venda de empresas. É sempre um tema sigiloso em que a informação tem que ser restrita e acessível apenas a quem é inequivocamente capaz de guardar segredo seja em que condições forem. Qualquer fuga indesejada de informação prejudica sempre quem vende.

Por exemplo, tendo o Frederico Pinheiro no computador o plano de reestruturação da TAP é certo e sabido que, se alguma informação transpira para os potenciais compradores, logo o que lá consta será sinónimo de um desconto. Se, por exemplo, lá consta que, para modernizar a empresa, se terá que investir 200 milhões de euros, logo qualquer comprador dirá que vai abater essa verba ao valor que ia oferecer. Branco é, galinha o põe.

Escusado será dizer que quaisquer empresas compradoras se 'pelam' por obter informações (e são conhecidas algumas práticas pouco recomendáveis para aliciar interessados em passar essas informações). 

É obrigação do SIS zelar por que os interesses do País sejam acautelados. Não nos esqueçamos que se o negócio correr mal (e não me refiro apenas ao preço de venda) é Portugal que ficará prejudicado. 

Portanto, quem anda por aí na maior histeria por o SIS ter sido alertado só pode ignorar isto.

De resto, gostei da intervenção de António Costa. O meu marido comentou: Tem tomates. Mas eu, que aqui escrevo, porque acho que, sendo ele Primeiro Ministro, devo ter algum tento na língua, digo apenas que acho que ele os tem no sítio, referindo-me naturalmente aos seus respeitáveis testículos.

Não se pode governar em função dos bugalhos desta vida nem dos jornalistas que, esquecidos que a sua missão é informar com isenção, resolveram todos saltar para a ribalta para tomar partido e para defender acerrimamente quem lhes dá na bolha, sem um pigo de racionalidade ou isenção. Não se pode governar indo atrás de bocas ou de humores. Há que ter os pés na terra e agir com objectividade. 

Gostei bastante do ouvir o Costa. Acho que tem coluna vertebral, que tem cabeça, que tem os pés na terra, que não vai em cantigas.

[Que eu gostaria que o Costa conseguisse arregimentar para o seu Governo gente de alto calibre como, no seu tempo, foram Álvaro Barreto ou Nobre da Costa, claro que sim. Mas duvido que, nos tempos de hoje, com a chusma de besouros venenosos e melgas palradoras que enxameiam a comunicação social, pessoas experientes e competentes largassem os seus empregos para se irem sujeitar à vida política de hoje em que meio mundo se acha no direito de enlamear quem ousa afirmar a sua vontade.

Curiosamente, há pouco, ao falar com o meu filho, pessoa competente, experiente e com um trabalho que o motiva, disse-lhe isto e perguntei-lhe se ele, por exemplo, aceitaria ir para ministro, ele disse-me que sim, Fiquei muito admirada. Percebi que gostava de servir o País. Contudo, acrescentou que, não estando ligado a nenhum partido e, portanto, sem ligação a qualquer aparelho, não seria recomendado e, portanto, não seria convidado. E que, portanto, a questão nem se põe.

Não sei se será assim mas, na volta, é mesmo. Não sei como funciona a selecção de nomes ministeriáveis mas, do que se tem visto, de facto António Costa não tem conseguido sair da bolha política do partido.

Mas isto é um tema geral, que transcende o Costa, que transcende o PS, que transcende o PSD. É uma questão de regime. E é um tema sério, basilar. Por isso, tenho falado que este assunto, sim, seria um tema que Marcelo deveria agarrar: como conseguir atrair para a política -- e para a governação, em particular --, gente séria,  experiente e competente?]

Mas, no tema em concreto do Galamba, nas actuais circunstâncias, percebo que António Costa tenha tomado a atitude corajosa que tomou, dando o peito às balas para seguir a sua consciência. Revela sentido de Estado, revela princípios, revela cabeça fria, revela coragem, revela liderança. É o que se espera de um Primeiro-Ministro.

Já o que não percebo é a reacção de Marcelo ao emitir uma Nota em que mostra publicamente o desacordo perante a posição de António Costa. Não percebo mesmo. E não gostei. Fiquei, até, incomodada. Todos os comentadores se agarrarão agora a isto, explorarão este publicitado desacordo ad nauseam. E isso não é saudável para a democracia. Parece-me uma reacção semelhante à do 'puto' Fred que, fulo por ter sido demitido, invadiu o ministério, roubou o computador e, segundo li nas notícias, atirou a bicicleta contra as portas de vidros. 

Falta a Marcelo o que Costa revelou na sua intervenção. Marcelo -- que já se tinha esticado ao deixar que anunciassem publicamente o seu pedido de demissão do Galamba e que tem andado a atear a fogueira da dissolução para gáudio das mediáticas marabuntas --, escusava de ter-se exposto ainda mais com esta Nota. Diminuiu-se publicamente.

Espero que reconsidere e se reposicione pois, em minha opinião, com esta Nota, qual bicicleta atirada contra os vidros de São Bento, prestou um mau serviço ao País (e desgastou, ainda mais, a sua imagem).

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Para os que se sentiram defraudados por Costa não nos ter servido a cabeça do Galamba, para ver se se acalmam, junto várias pinturas que mostram Judite com a cabeça de Holofernes na mão. 

Menina mais castigadora que só visto...! Estava mesmo bem como comentadeira, esta Judite. Era ela e a Moura Guedes. Olha que duas.

(NB: O Holofernes é barbudo e não tem brinco, lamento, mas é o que se arranja).

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Um bom dia

Saúde. Tino. Paz.

sexta-feira, julho 22, 2022

Em férias, pouco tenho a dizer.
Por isso, com vossa licença, a palavra aos chefes dos espiões

 

Estou num daqueles dias. Adormeço por dá cá aquela palha. Os dias a sul têm estado quentes, difíceis de estar ao sol. Não têm sido férias iguais a outras. Desde que os meus filhos eram adolescentes que não saíamos para férias em família. Além disso, mesmo nós dois, há dois anos, com a pandemia, que não saíamos. Agora parece que os tempos da sarna acabaram. Ninguém usa máscara, há gente por todo o lado, parece que nada aconteceu pelo meio. O meu marido ainda anda com o frasquinho de álcool gel mas eu, salvo situações mesmo merecedoras, já me deixei disso.

De tarde, fui saber se ainda havia hora de massagem para hoje. A menina devia ter tido uma desistência e disse, toda animada, que só se fosse naquele preciso momento. Respondi que por mim poderia ser mas que não tinha trazido nenhuma máscara. Uma salinha fechada e ela em cima de mim pareceu-me proximidade e risco a mais. Diz ela, continuando animada: 'Ah, não faz mal... não é preciso...!'. Temendo desiludi-la, arrisquei: 'Mas é por mim... eu é que prefiro. Será que me arranja uma?'. E ela arranjou-me e eu pus-me nas mãos dela. Difícil foi escolher o tipo. Todas com nomes artilhados, cada um sugerindo milagres. Optei pela mais simples. Uma hora para me rebalancear, seja lá o que isso for. No fim estava tranquila, zen, tão balanceada como antes. 

De manhã, fomos passear pelo centro da cidade não só porque estava com saudades como a minha mãe estava com uma certa carência de andar a ver montras. Com o sol que estava, um chapéu novo veio-lhe mesmo a calhar. E eu, que juro a pés juntos que não preciso de roupa até aos últimos dias da minha vida (mesmo que dure até aos 200) cedi à tentação de um vestido verde escuro com umas flores azuis. A vendedora era muda mas entendemo-nos gestualmente. Uma simpatia. Quinze euros. Vesti-o por cima do macaco que trazia vestido e ela segurou um espelho grande. Depois, semicerrando os olhos, fechou os dedos da mão direita, levou-os aos lábios como se soltasse um beijo de apreço. Também gostei. Enquanto isso, o meu marido fazia tempo passeando o cão. Quando cheguei ao carro, disse com aquele seu ar jocoso: 'Vieste de Lisboa de propósito para comprar um vestido nas barracas de Lagos'. Não são barracas, são umas tendinhas em que os vendedores são uns ciganos e ciganas que são uma simpatia. E têm vestidos giríssimos e muito em conta. 

E, portanto, com estes calores, tem sido uma semana à maneira. Trouxe um livro mas não me sobra tempo. Termos trazido o nosso urso cabeludo tem sido uma experiência e tanto. O balanço, ao fim de uma semana, é que penso que não é lá grande ideia nem para ele nem para a família. O hotel é dog friendly (e o dog paga diária), temos ido a restaurantes dog friendly, a praias dog friendly. Mas o animal não descansa, quando alguém se aproxima fica num stress e nós também estamos condicionados. Acho que, para a próxima, vamos apostar no hotel para cães

Quase não tenho feito fotografias. Há sempre tanta coisa que nem me dá tempo. 

Claro que não sei de notícias ou fofocas. Estou completamente out. Não sei de nadica de nada. Antes de abrir o blog espreitei o Guardian e vi alguns vídeos. Não sei se é bom, se é mau andar alienada mas é assim que me sinto, fora deste nosso mundinho. Preocupada com ele mas a gostar de estar fora.

Por isso, não estranhem se, na ausência de conversa própria, me dedique a partilhar este vídeo que versa aquele tema que me tem consumido. Quero perceber, ver sob diferentes ângulos.

Former spy bosses discuss Ukraine and Putin's invasion - BBC Newsnight

The former heads of MI6 and the CIA gathered at Bletchley Park for a book launch and wanted to talk Ukraine and Russia.  


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As pinturas de Yue Minjun estão aqui apenas para não me esquecer que em qualquer circunstância é bom arranjar um espaço para a gente se rir

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Desejo-vos uma feliz sexta-feira
Boa sorte. Boa onda. Saúde. Paz.

quarta-feira, maio 25, 2022

Um mistério que esconde outro mistério que esconde outro mistério.
Uma matriosca de mistérios.

 

Já aqui o referi: fico passada comigo mesma por verdadeiramente nunca me ter ocorrido que Putin era um perigo não apenas para os russos como para o resto do mundo. Eu sabia das prisões e dos envenenamentos e achava que isso era lamentável, desastroso. Por isso, obviamente não simpatizava com Putin. Também sabia da invasão da Crimeia, das suas incursões em território alheio, mas ou porque estava mal informada ou mal informada, relativizava. Tinha ideia de que, às tantas, o desenho das fronteiras tinha sido impreciso e que se tratava de pôr o risco um bocado mais para leste, coisa sem grande relevância internacional e que merecia (mais ou menos) o apoio das partes envolvidas. Lembro-me de participar em conversas sobre isso mas a ideia que tenho é que ninguém sabia bem o que dizia. E havia aquilo dos hackers russos e da espionagem económica e de outro tipo. Falava-se que não eram hackers por conta própria mas que era o próprio estado russo que o fomentava. Sabia, achava grave, mas também há os chineses, os coreanos. Ou seja, relativizava. E havia também a ingerência russa nas eleições ocidentais. A ser verdade, seria muito grave. Mas não sabia se seria mesmo verdade. Podia ser chicana política. 

Ou seja, desvalorizei. Não liguei as pontas. A minha perspicácia falhou em absoluto. Se cada um destes factos já seria grave de per se, quando juntos não deixam margem para dúvidas de que o perigo é real e não poderia ser desvalorizado.

O meu marido tenta apaziguar a minha auto-condenação: diz que não era a mim nem aos civis em geral que competiria mapear os riscos e alertar a comunidade internacional para os riscos não negligenciáveis que estavam a desenhar-se para os países vizinhos e não alinhados com a Rússia e, por essa via, para o mundo em geral -- era aos serviços secretos de todos os países.

Então como é possível que tenham falhado todos? Ou não falharam... e os políticos é que não os levaram a sério? Mas, então, porquê?

O que falhou? Alguma coisa foi. Aliás, muitas coisas foram.

Já se sabia (e agora sabe-se mais e melhor) como a Rússia tinha (e tem -- e agora bem à vista de todos), espalhados pelos mais diferentes centros de decisão (na política, na comunicação social, nas forças armadas, no meio académico, etc), agentes de influência que canalizavam informação nos dois sentidos. Mas isso não acontece apenas com a Rússia e, portanto, até aí, nada de mais. Mas os agentes dos serviços secretos dos países ocidentais não perceberam qual o rumo que a estratégia russa estava a seguir? Ou os políticos estavam todos cegos? Todos...? Ainda se fosse apenas um ou outro... Agora todos...?

Não percebo -- e, se alguém aí desse lado o percebe, muito agradeceria que me explicasse. É que tudo isto me deixa deveras intrigada.

Penso que os investigadores têm aqui um manancial de informação por explorar. Muito há por perceber em toda esta história de horror.

Twenty Years of Putin Playing the West in 3 Minutes | NYT Opinion

Vladimir Putin, especially these days, is widely reviled. To some he’s a war criminal, to others he’s a dictator, and to many he’s simply a very bad man.

But it wasn’t always this way.

We trawled through video footage from 20 years of international summits, speeches and news conferences and discovered a man who once basked in high regard: the one who went fishing and dancing with George W. Bush, who fell into warm embraces with Tony Blair and whose jokes had NATO’s leaders rolling on the floor with laughter.

As the Opinion Video above starkly reveals, Western leaders once considered Vladimir Putin not just an ally, but also, apparently, a friend.

Even if they were simply giving him the benefit of the doubt for political purposes, they were taking a naïve gamble of historic proportions: Be nice to Putin, and maybe he would be nice back.

It’s true that this brand of personal diplomacy scored some significant security victories. Arms control treaties were signed, and Putin allowed U.S. jets to strike the Taliban from bases in Russia’s satellite states.

But as Russian tanks rolled into Georgia in August 2008, Bush learned that his eight-year friendship with the Russian leader had earned him zero leverage over Putin’s territorial ambitions.

While it’s debatable whether Western governments could have foreseen the bloody horizon of Putin’s vision, let’s now be clear about one thing: Personal diplomacy doesn’t work when you need it most.


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Pela parte que me toca, já se sabe.


domingo, abril 24, 2022

Entretanto, desde a invasão da Ucrânia, alguns oligarcas russos desataram a cair como tordos

 

A ver se daqui a nada mudo um bocado de agulha pois, apesar da minha mente continuar ocupada com a tragédia ucraniana e com a impensável selvajaria de Putin, sinto alguma necessidade de falar de outras coisas.

Mas, ao preparar-me para mostrar qual a última moda, ao ir procurar um vídeo que o ilustrasse, apareceu-me este que aqui abaixo partilho. 

Na verdade, um caso é um caso isolado, nada a dizer, coisas destas acontecem. Dois casos são dois casos, violência e crimes acontecem, nada a dizer. Mas quando aparecem mais, na verdade, já se começa a achar estranho. Além do mais, o historial da Rússia nestas matérias não é coisa pouca. Qualquer série que meta serviços secretos, kgb ou kremlins, inclui também crimes que não deixam rasto.

Seja como for, não me pronuncio. A realidade anda alucinada, supera a mais tresloucada ficção. Limito-me a partilhar o vídeo.

Curious Number Of Russian Oligarchs Have Died Since Invasion Of Ukraine

Ali Velshi reports on four separate instances of Kremlin-connected, extremely wealthy Russians with ties to the oil industry who have died by suicide since Russia's war in Ukraine began. 


E até já

segunda-feira, abril 11, 2022

E é só preciso criar a dúvida

 

Todos ficámos chocados com as imagens de Bucha. Que significado tem este momento nesta guerra? Pode ter sido um momento decisivo?

Pode e é decisiva. Bucha só veio confirmar aquilo que era expectável num conflito deste tipo. Era uma questão de tempo para quem conhece a natureza de base do exército russo, o estado moral, a desorganização e a corrupção que existe e até a forma como algumas das unidades foram enviadas para a frente, não podíamos esperar outra coisa.

Não sei se estaríamos à espera que acontecesse precisamente em Bucha, mas era uma tragédia à espera de acontecer e que não ficará certamente por aqui.

Pode alterar a estratégia russa?

Acho que a Rússia vai ser mais cautelosa. Tomaram logo medidas de contrainformação no sentido de lançar confusão para criar a dúvida sobre a autoria do massacre.

E é só preciso criar a dúvida. Mas não me parece que funcione. Ou só funcionará junto das pessoas que, ou são caixas de ressonância da mensagem russa, ou querem ser, ou têm uma visão paralela que pode conduzir a uma aparente neutralidade.

Sabem que em tempos de guerra para reunir uma comissão de investigação independente para ir lá é complicado.

É óbvio que não foram os ucranianos a matar 400 ucranianos. Não passa pela cabeça de ninguém. Só mesmo alguém que esteja perturbado.

O que interessa à Rússia, ao lançar esta dúvida, é evitar um agravamento das sanções e que as caixas de ressonância da mensagem russa continuem ativas.

Europeus e americanos não perceberam que este regime russo é como um cancro. É um cancro que devora tudo aquilo que não se assemelha a ele e que tem de crescer, porque se não crescer estagna e morre. Não tem mais que enganar.

E como é que se estanca esse cancro?

Infelizmente, e sendo absolutamente cínico, estanca-se com a resistência da Ucrânia, com as mortes ucranianas. Estanca-se com o drama que está a ser vivido pelo povo ucraniano que está a lutar também por nós, o trabalho pela Europa.

Se não fosse o povo ucraniano e a resistência das Forças Armadas ucranianas, que ninguém tenha a mínima dúvida que o tempo que mediou 2008, da Geórgia até 2014 na Crimeia e daqui até 2022, passaria a ser mais curto - e atingiria a Geórgia novamente, o resto da Ucrânia, a Arménia e depois os países, que na alucinação geo-estratégica de Putin, são considerados seu espaço de influência.

As pessoas tendem a esquecer-se rapidamente, mas o que o presidente Putin fez, não tem defesa possível: intimidar a Suécia, a Finlândia, países que nunca fizeram nada e ele não hesitou em passar aviões com armas nucleares pelo espaço aéreo da Suécia, um autêntico bully.

Aquilo que me espanta é algumas pessoas que defendem a posição russa serem quase como alguém que defende o agressor sexual. A culpa é da mulher porque anda com uma roupa provocante.

Só que esta provocação - sendo discutível se a Ucrânia provocou ou não - é o exercício da liberdade.

É um país independente com vontade própria que conhece melhor do que ninguém o que se pode esperar do regime russo. Sei que há países mais fortes do que outros, mas não posso admitir uma ordem internacional que continue a assentar na força.

É por isso que lutamos pela democracia, pela liberdade das pessoas e dos povos. O que o presidente Putin quer é que se privilegie a força.

Admira-me como pessoas de países democráticos, sobretudo os mais pequenos, estejam a defender que o regime russo terá alguma razão porque estaria a ser provocado.

 

[Excerto da interessante entrevista ao Diário de Notícias de Jorge Silva Carvalho, ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) e antigo chefe da "Casa da Rússia", a unidade de contraespionagem para os países da ex-URSS]

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Algumas imagens do The Guardian

Chervonohrad, Ukraine
Myroslava Mamchuk holds a picture of her godson, Ukrainian soldier Dmitry Zhelisko, during his funeral at the Church of St Volodymyr in Chervonohrad. Zhelisko died fighting the Russian army near the town of Kharkiv.
Photograph: Joe Raedle/Getty Images
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Bucha, Ukraine
A man, who said that Russian soldiers broke his arm, stands outside his house in Bucha. Russia stands accused of ‘terrible’ war crimes, as western leaders condemned the killings of unarmed civilians in Bucha and the surrounding areas of Kyiv in alleged atrocities that prompted fresh demands for tougher action against Moscow.
Photograph: Alkis Konstantinidis/Reuters
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Bucha, Ukraine
Tanya Nedashkivs’ka mourns the death of her husband, killed in Bucha.
Photograph: Rodrigo Abd/AP

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sexta-feira, junho 11, 2021

Medina-o-ex-Secreto e o estranho caso do buraco que se abriu sob os seus pés.
E outro, igualmente perigoso, em Puebla, México

 

Há coisas que me parecem tão injustificáveis e tão absurdas que me custa a falar sobre elas. 

Aparentemente era um hábito. E isso ainda mais bizarro me parece. 

Mas tenho dificuldade em falar do que não conheço, em especial de coisas tão estranhas que devem ter qualquer explicação para além da que pode ser publicamente dada.

O mundo dos serviços secretos é um mundo paralelo, subterrâneo, que se alimenta de muitos contactos inconfessáveis. Nestas matérias, a única coisa que podemos ter como certa é que o que se sabe é apenas uma ínfima, muito ínfima, parte do que há para saber.

Quem, nestes domínios, ao descobrir uma coisita, se ache o maior e se indigne, peça prestação de contas, bata o pé ou dê murros na mesa estará apena a mostrar como é ingénuo.

Ao saber da notícia, de imediato pensei: Roma não paga a traidores. E, cá para mim, ao pensar no Medina, sentenciei: Já foste. Mas depois aconselhei-me a não fazer juízos precipitados. Nem a favor, nem contra. Esperar para ver. Ou constatar que, não tarda, talvez isto passe à história. Veremos. São areias movediças e, nestas coisas, costuma ser prudente a gente não se aproximar muito. 

Por princípio, é absurdo e impensável que uma instituição pública envie informação de cidadãos que se manifestam a outros estados. Claro que é. Mas não vou além dos princípios... porque quanto aos meios e aos fins... não tenho informação que me permita acrescentar o que quer que seja. 

O que sei é que a informação que circula de forma oculta é, e sempre foi e sempre será, de uma magnitude que mais vale a gente nem pensar nisso para não dar em maluca. A começar, como tantas vezes tenho dito, toda a que reside nas redes sociais e nas plataformas de partilha de informação, tais como facebook, instagram, twitter, whtasapp e que meio mundo ciosamente auto-alimenta, sem cuidar de que isso é um maná para as agências de informação. 

Portanto, neste capítulo, o que tenho a dizer é que quem tenha barbas as ponha de molho.

Ao ouvir a notícia lembrei-me ainda de uma situação. Uma vez tive conhecimento de uma coisa que se tinha feita numa das áreas sob minha responsabilidade. Fiquei passada. Como era possível? Não queria que se fizesse aquilo. Que coisa. E como não tinha eu conhecimento de que aquilo se fazia? -- estava indignada, furiosa. O meu braço direito da altura, pessoa já de uma certa idade e com uma maturidade que impunha respeito, disse-me: 'Mas acha que sabe tudo o que se passa nas suas áreas..? Não sabe. E o melhor é não saber... ' Nunca mais me esqueci disso.

Portanto, sobre a Câmara de Lisboa e sobre os manifestantes anti-Putin, vou esperar para ver, sabendo que apenas nos darão a ver uma minúscula parcela do muito que haveria para ver. Mas há coisas que são mesmo assim. E, por muita curiosidade que tenhamos, teremos que que admitir que muito daquilo não é para o nosso bico.

Geralmente a coisa acaba com uns quantos bodes a expiarem culpas alheias. Uns funcionários serão sacrificados. Podem ser funcionários administrativos que serão transferidos para outro serviço, podem ser adidos ou gente das embaixadas que é mandada pregar para outra freguesia. E o povo dá-se por satisfeito, pensarão que a justiça foi feita... e segue o baile.

Tirando isso, o que despertou a minha atenção foi o que aconteceu perto de Puebla, México. 

Puebla, Mexico
A giant sinkhole, measuring 110 metres at its widest point, has appeared 20km north-west of Puebla
Photograph: Hector Vivas/Getty


A terra começou a esvair-se, abrindo um buraco. Tinha cerca de cinco metros de diâmetro, quando começou -- o que já era um buracão. Só que o buracão não tem parado de aumentar. Está a assumir uma forma ovalada e, à data em que a notícia foi escrita, na parte mais larga, já ia em cento e dez metros, uma enorme cratera. A terra está a ser sugada. No fundo, a vinte metros, água barracenta. 

Num dos rebordos, uma casa ainda resistia. Não sei se a esta hora ainda resiste. 

Já li várias explicações e todas devem ser plausíveis mas isso não atenua o espanto e o medo das pessoas que vivem por perto.

Mas será que é só ali que se correm riscos destes, loucos, perigosos, imprevistos? Será que estamos livres de um dia estarmos na rua e o chão sob os nossos pés se abater?

Provavelmente é isto que o Medina está a sentir. Uma lição de humildade que, diga-se em abono da verdade, também não lhe faz mal nenhum.

Mas, metáforas à parte, é bom que, a aparecerem mais buaquinhos destes, fuinhos nascidos do nada, apareçam no meio de descampados em lugares do além, sem casas ou pessoas ou carros a serem sugados para o interior da terra, lá onde os labirintos secretos atravessam o reino dos bichos secretos, dos seres mágicos, da nascente de todos os mares, da fonte de todas as lavas.

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Desejo-vos uma feliz Thanks-God-It's-Friday

Saúde. Alegria. Crença.

quarta-feira, janeiro 29, 2020

Rui Pinto, a PLMJ, a VdA, a Sonangol, a Isabel dos Santos, as Luanda Leaks, os hackers, os heróis, etc.





Às vezes não há duas sem três. E hoje é dia. Já me deleitei com a graça e com a criatividade da Billie e do Jacob e já falei do Chicão fofinho a ser praxado pelo Miguel Sousa Tavares. E agora vou para a terceira.

No fundo, se me deitasse no divã, quase aposto que o psi descobria que escrever os dois primeiros foi só para empatar a ver se já não chegava aqui. 

E é. A empatar. Porque não sei como dizer. O senso comum aconselha-me a estar sossegada. Até porque, quanto mais não seja, eu é mais bolos. E, quando não é bolos, é rêverie, conversa deitada fora. E, do que não quero falar, nada sei; e não gosto de falar do que nada sei. Intuo. Mas a intuição é daquelas: quer, porque quer, dizer das suas. Há quem diga que é um shortcut que a inteligência usa para chegar lá antes mas há também quem diga que é coisa topológica, bola aberta, coisa intangível, deitação de búzios. 

Mas, enfim, vamos lá. De resto, nada de novo. De umas coisas um recap, de outras meras conjecturas.


Começando pelas conjecturas.
E se isto de ter sido o Rui Pinto a desencadear o Luanda Leaks fosse mera estratégia da defesa para safá-lo, para o apresentar não como um mero hacker mas como um whistleblower? Qual seria o risco disso? 
Vejamos. Um hacker não deixa pistas ou, se as deixa, é para gozar, sabendo que vai chatear o hackeado e que, se tiver juízo, jamais o apanharão. Ou para sacar um resgate. Ou seja, pode ser desporto ou pode ser negócio. Em qualquer dos casos, é actividade de risco. Um hacker não se denuncia. Quando se denuncia, denuncia a sua persona de hacker, não a de cidadão. 

Por isso, não há como provar se foi ele ou se não foi. Se não foi, qual o risco de que se descubra a mentira? Nenhuma. A menos que o verdadeiro hacker (ou hackers) apareça a auto-recriminar-se. Mas isso não acontecerá. O trabalho feito foi obra de pros. E hackers pros fazem da sua actividade um negócio e esse é um negócio que assenta no absoluto anonimato, no sigilo à prova de bala.
  • Portanto, primeira hipótese: não foi o Rui Pinto a hackear (pelo menos sozinho) tudo o que está na base do Luanda leaks. Foram outros, contratados.
  • Segunda hipótese: um rapaz que se dedica a piratear redes informáticas do futebol e que anda atrás de 'podres' para se divertir, para tentar sacar umas massas e para chatear malta com que embirra, não é o tipo de rapaz que sabe exactamente em que redes entrar para denunciar a corrupção em Angola. Portanto, se foi ele, deve ter sido encaminhado. Ou seja, contratado. 
Questão de fundo: quem contratou? 


E agora o recap: quem pirateia uma rede informática de uma empresa não se dedica a uma escolha selectiva, não é pesca à linha -- faz, isso sim,  pesca de arrasto. É mais rápido, mais eficaz. Tudo o que vem à rede é peixe. Se não interessa hoje, interessa amanhã. E pode simplesmente copiar tudo o que está nos computadores das empresas ou pode tentar a sorte e encriptar o que encontra e pedir resgate. Para ganhar uns trocos. E, claro, meanwhile, para um just in case, copia tudo. 
Portanto, se dizem a um hacker: ela trabalhava com os VdA, com a PLMJ, e apanha também tudo o que ela fez na Sonangol e aqui, ali e acolá, é aí que o ou os hackers vão entrar. E não será por acaso que se diz que a Sonangol foi pirateada, que a VdA foi pirateada, que a PLMJ foi pirateada. E, com certeza, mais terão sido. Digo eu. 
E, se as empresas souberam que foram pirateadas, é porque o pirata se manifestou. Ora a forma habitual de um hacker se manifestar é pedir resgate. Se foi Rui Pinto, pediu resgate? E, se o fez, continua a poder ser visto como um whistleblower ou será, antes, um pirata que vende o fruto do seu roubo e, de caminho, ainda pede dinheiro aos assaltados?
E tudo o que estava nos servidores foi, certamente, apanhado. Dos escritórios de advogados certamente os processos de tutti quanti foram apanhados. Do que tinha a ver com Luanda e com meio mundo. Meio mundo.
Admito que terão participado à CNPD e certamente terão informado todos os seus clientes, fornecedores, empregados, etc. RGPD oblige.  E foi, certo? 
Mas não sei se toda a gente terá percebido o significado disto. Será que perceberam que todas as optimizações fiscais, algumas certamente bastante criativas, estão disponíveis e nas mãos de quem pode fazer mau uso delas? Será que já perceberam que todas as movimentações societárias, pagamentos, parqueamentos, encontros de contas e etc, estão onde não seria suposto que estivessem? E isto já para não falar de casos de outras naturezas.
Mas reparem: saber, não sei de nada, tudo isto são meras dúvidas.


E finalmente, volto ao que já abordei acima: pode um hacker ser visto como um herói como a Ana Gomes e outros parecem pretender? A questão não é linear e não é este o local ou esta a hora para dissertações inteligentes, mas a minha opinião é que nem pensar

Um hacker é alguém que viola um espaço, que rouba o que encontra. É a mesma coisa que alguém entrar em sua casa, Caro Leitor, roubar o que lhe apetecer e depois vender ou ficar com o que lhe der jeito. E isto já para não falar nos que ainda pedem dinheiro para que os donos possam voltar a usar a  sua própria casa. Claro que, no meio do que encontrar, pode encontrar extractos bancários que levantem suspeitas e que se forem afixados no átrio do prédio ou na parede da sua casa irão certamente dar muito que falar. Mas e daí? Pode admitir-se que alguém arrombe portas, roube coisas, viole a privacidade dos donos?

No dia em que formos permissivos e estúpidos a esse ponto, acaba-se o Estado de Direito.

Quanto ao Luanda Leaks volto à minha: independentemente do mérito da investigação judicial que possa vir a ser feita e das culpas no cartório que venha a provar-se que os envolvidos possam ter, aquilo de que se tem vindo a falar é apenas um cagagésimo da história, de uma história que tem muitas faces e muitos reversos e onde muita gente se esconde atrás de espelhos.

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As mulheres ao espelho foram pintadas, respectivamente, por Korobkin Anatoly, Mose Bianchi, Ferdinand von Lütgendorff-Leinburg, Jean-Étienne Liotard e Gerard ter Borch e vêm ao som de Walking in the air interpretada pela Aurora.

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E queiram continuar a descer para visitar o Chicão e, a seguir, a Billie e o Jacob -- ou, então, não.

E uma bela quarta-feira para si que está aí desse lado.

quinta-feira, janeiro 23, 2020

Isabel dos Santos está sozinha no olho do furacão do Luanda Leaks?
Ou, nesta história, dá para brincarem uns com os outros ao 'quem diz é quem é'?
Pergunto.


Nuno Ribeiro da Cunha, diretor do private banking do EuroBic e o gestor da conta da Sonangol que efetuou algumas das transferências suspeitas no caso Luanda Leaks, foi encontrado com ferimentos graves, na casa de férias da sua família, no dia 7 de janeiro. A notícia está a ser avançada pela TVI, que garante que a Polícia Judiciária (PJ) está a investigar uma possível suspeita de tentativa de homicídio ligada ao caso que envolve Isabel dos Santos. O Observador confirmou a informação junto de uma fonte da PJ, que confirmou não estar excluída a suspeita de tentativa de homicídio.
De acordo com a TVI, Nuno Ribeiro da Cunha foi encontrado pela empregada na casa de Vila Nova de Milfontes com ferimentos graves nos pulsos e no abdómen. À PJ, terá dito ter-se tratado de uma tentativa de suicídio ligada a uma depressão. [...]
(in Observador)

Mas isto nem tem nada a ver com o que escrevi ontem nem com o título deste post, é apenas um fait-divers. E provavelmente não vai despertar a empatia de nenhum dos leitores da notícia, tenha Nuno Ribeiro da Cunha sido vítima de tentativa de suicídio, tenha sido vítima de uma tentativa de homicídio. Quando alguém cai em desgraça, meio mundo pisa e salta a pés juntos em cima --  não só dessa pessoa como de todos os que, de alguma forma, lhe eram próximos. É da natureza humana que, como é sabido, é muito próxima à dos ratos.

No outro dia, em conversa informal sobre estes assuntos (e ainda nem tinha rebentado a bronca que dá pelo nome de Luanda Leaks) alguém me dizia: cuidado com esses meninos, é barra pesada, qualquer dia ainda aparece alguém a boiar no Tejo. Pois. Mas, enfim, como se diz, dizer isso vale o que vale. Mera vox populi.

E, estando eu hoje numa de ideias desencontradas, digo também que seria curioso que os senhores jornalistas e senhores comentadores fossem atrás da dica da Isabel dos Santos sobre quem financiou esta so called investigação. Mas sobre isso não ouço falar. Ora, cá para mim, toda esta intriga ganharia uma dimensão mais interessante se se seguisse também essa linha de investigação. Cherchez la couleur de l'argent.

E, diria eu, também seria curioso saber como exactamente é que a coisa se passou: foram contratados hackers, certo? Seria interessante conhcer quem contratou quem. Contrataram hackers que varreram os computadores de tutti quanti (centenas de milhares de documentos obtidos sabe-se lá em quantas redes informáticas de empresas, escritórios de advogados, conservatórias, bancos e/ou computadores pessoais: escrituras, balanços, balancetes, extractos, mas também relatórios médicos, correspondência privada, fotografias de família ou íntimas, etc)? Pergunto. E nisto, que eu saiba, não é cherry picking: é mesmo pesca de arrasto. Tudo. Copiar tudo o que se apanha. Depois como foi? Foi tudo vendido, bulk, aos jornalistas? Pergunto. E eles, os do tal consórcio de jornalistas? Como 'agarraram' nisso? Com que critério e conhecimentos cruzaram informações entre setecentos e quinze mil documentos das mais variadas proveniências? Dedicaram-se a vagaroso puzzling (e atenção à ambiguidade do sentido da palavra)? Ou ficaram-se pelo que dá parangonas bombásticas? Ou pelo que é conveniente a quem financiou a pirataria? Pergunto. Só pergunto. E, ao varrerem toda a informação dos locais pirateados, o que foi feito ao que não dizia respeito à Isabel dos Santos? Destruíram...? Ou é maná, informação que está guardadinha para um just in case? Para chantagearem A ou B? Para extorquirem dinheiro a C ou D? Para ficarem com E e F na mão...? Etc. Mas, enfim, são meras perguntas. Dúvidas minhas.

E pergunto isto sem pôr em causa o mérito de uma investigação séria que venha a acontecer. A quem confunde as minhas dúvidas com o branqueamento da responsabilidade do que quer que tenha sido feito e que venha a ser provado ser crime, esclareço de novo: não branqueio nem desculpabilizo coisa nenhuma. Apenas, como sempre, reservo-me para acreditar apenas no que é provado ou do que foi constatado em pleno acto. Deformação profissional. Neste como em qualquer caso, antes de ser provado, tudo é apenas uma hipótese. E volto a dizer: face ao que se conhece desse caso (a cultura, os hábitos, a envolvente, a entourage, etc) é provável que tenha havido movimentos tocados pela ilicitude. Portanto, a ser verdade, deve ser fácil de provar. E, se for provado, pois que se faça justiça.

Até lá, cuidado com os juízos apressados e primários, cuidado com o maniqueismo, cuidado com as vistas curtas. Cuidado com os jogos de espelhos. Cuidado com as manipulações.

E cuidado com os ratos que fogem e batem com a mão no peito ou com os histéricos que, quais cães a correr atrás de qualquer osso que se atire, agora rosnam contra a Isabel dos Santos e se esquecem dos outros, dos que estão atrás dos espelhos, ou dos outros de que ninguém fala mas que também têm trazido dinheiro para Portugal cuja origem se calhar também está toldada por ilicitudes ou por atentados aos direitos humanos. 

E volto a dizer: quem agora muito saltita e pipila são os pardais, histéricos com este primeiro punhado de grãos de milho que está a ser atirado. Mas há ainda o que virá a seguir... ou o que nunca se saberá. Oxalá é que a atenção da turbamulta se aguente desperta até lá. E que haja lucidez e não o habitual primarismo que é o terreno fértil de que se alimentam os populistas e os vulgares justiceiros populares.