Já a combinar encontrar-se com um amigo que conheceu no hotel, ambos malucos por futebol, cheios de programas -- jogos de futebol, conversas sobre futebol, mergulho e polo quase aquático na piscina, depois a conhecerem as meninas na praia, a trocarem instagrams. Todo um programa. Até há pouco era uma criança e, de repente, tem modos de rapaz e porta-se como um rapaz.
O irmão, de quem até há pouco não fazia grande diferença, está agora bem mais baixo, ainda uma criança.
Mas, portanto, foi mais uma tarde de alegria e animação.
Houve quem se posicionasse na bateria (e até eu, confesso, me pus a tocar, uma coisa boa para deitar cá para fora não apenas calorias acumuladas como raivas não consumadas). E houve quem se ficasse pela guitarra e quem se atirasse ao piano. Afinal parece que quase toda a gente sabe tocar qualquer coisa ao piano menos eu. Ainda me lembro do suplício de quando, em miúda, andei a aprender. Não aprendi nada. Nada. Zero. Tenho pena mas é daquelas coisas para as quais a minha intuição e habilidade falham em toda a linha.
Até o mais novo dança com os seus dedinhos pequeninos sobre o teclado. Um ternurinha. Aplicado, explorando os sons. Foi ele que acompanhou ao piano (à sua maneira, claro), o momento dos Parabéns a Você.
Mas quem, uma vez mais, nos surpreendeu, mas surpresa a ponto de nos deixar de boca aberta, foi o primo do meio. Não estarei a ser rigorosa nesta designação pois o menino dos anos tem doze primos e este de que falo não se situa a meio da escala. Refiro-me ao do meio do meu filho, que tem três filhos, o menino que, a par de outros talentos, tem um instinto natural para a música. Canta de improviso, toca, dança. As letras rimam, fazem sentido. E canta afinado e com um vozeirão. E expressivo. Quer ele quer o primo que o acompanhou são uns sentimentais, fazem expressões de drama, fecham os olhos com sofrimento. Ele ao piano e o primo à guitarra, só visto.
Eu e a minha filha, filmámo-los, ambas estupefactas (tal como estupefactos estavam todos os que assistiam). Sempre o soubemos com veia artística mas vem ganhando novas valências e a voz está um espanto.
Ao ver os vídeos farto-me de rir com o sentido de amor e a graça deles (mesmo quando as canções que ele inventa são de fazer chorar as pedras da calçada). Maltinha mais danada para a brincadeira, mais animada.
Como bolo dos anos, o jovem aniversariante pediu para não ser um bolo artístico ou avant-garde: gostava de ter um bolo de anos tradicional, por dentro pão-de-ló e doce de ovo e, por cima, cobertura de açúcar. Então, saiu à cena um bolo do Sporting, coisa que quase causou algum desconforto ao lado benfiquista da família.
Quanto à pequena fera cabeluda, deu uma certa luta. Primeiro, o animal está cansado, esta ideia de o pormos a fazer férias connosco não resulta. Vemos pessoas com cãezinhos pequenos, alguns ao colo, sossegadinhos, caladinhos, pequenos e amorosos peluches. Ora este é um brutamontes bom para guardar rebanhos e afugentar riscos verdadeiros ou potenciais. Não é, nem nunca será, um lulu.
Claro que, de tanto ladrar, de tanto saltar, de tanto querer correr, de tanto ser contrariado, de tanto calor, de tanto andar na areia ou a passear, já só quer estar à sombra a descansar. Mas, coitado, não tem conseguido.
Claro que estar rodeado por tanta gente é para ele uma festa e, ao mesmo tempo, um desafio.
Por exemplo, hoje, na festa de anos, a sua curiosidade natural leva-o a querer mexer em tudo... mas ninguém quer que ele mexa em nada.
Toda a gente se acerca da mesa e ele também quer ver o que lá há. E toda a gente pode servir-se e só ele é admoestado. Parece que só está bem quando fica sentado a olhar, infeliz, sem poder tocar.
Agora vamos ter uma semana de tréguas mas logo a seguir os leões continuam a atacar e em grande força.
(Escuso de dizer que, tal como acontece com o urso cabeludo, também eu estou capaz é de me deitar no chão, à fresca, sem me mexer.)
Tirando isso, tá-se. A vida passa a correr e, por isso, temos que saber aproveitá-la e que gostar de agarrá-la bem agarrada para a vivermos em estado de encantamento. (Será que era a isto que o Valtinho se referia quando dizia que é urgente viver encantado? Bolas. Vou já rever a frase.).
Temos que saber viver a vida e gostar de agarrá-la bem agarrada para a vivermos numa boa. E longa vida ao meu menino crescido e a todos os meus meninos e a todos os meninos deste mundo.
E, a propósito, vai daqui um beijinho especial para a linda Maria cuja fotografia a Lurdes me enviou.
_______________________________________
Desejo-vos um belo dia de domingo
Saúde. Boa disposição. Paz