Mostrar mensagens com a etiqueta biologia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta biologia. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, julho 18, 2025

Conversa em torno do abismo do não-ser

 

Fisicamente, Eduardo Giannetti é praticamente igual a um colega meu. Divertidíssimo, diziam-no pouco amigo de trabalhar mas, embora não o achasse um excepcional proactivo, dele nunca tive razões de queixa. Tinha como hobbies a fotografia e o cinema, participava em concursos e, em dias de evento, já sabíamos que podíamos contar com ele para registar o momento. E, ao pé dele, era forçoso que estivéssemos sempre todos muito bem dispostos. 

Não conheci a sua primeira mulher, por quem era apaixonadíssimo, sua comparsa nas fotografias e filmagens. Não tendo filhos, a disponibilidade de ambos para passeios e aventuras era permanente.

Até que um dia ela adoeceu. Para ele, foi um sofrimento terrível. Acompanhou-a incansavelmente.

Quando ela morreu, teve um grande desgosto. 

Fui ao velório. Como já contei, tenho pavor de mortos, é uma fobia que vem de quando era pequena. Nem entro na capela se a urna estiver aberta. 

Mas tendo feito centenas de quilómetros para lhe dar um abraço e estar com ele, seria estúpido não entrar. Só que a urna estava aberta. Portanto, não entrei mesmo. Saiu ele. E foi chamar a mãe para me apresentar, muito simpáticos. E começaram a contar-me os últimos dias dela, tudo envolto em ternura e tristeza. E, então, diz-me ele assim: 'Não quer ir ali vê-la? Está tão bonita. Está muito serena. E o cabelo... tão bonito...'. Quase me senti desfalecer. Pedi desculpa, disse que não conseguia, que me fazia muita impressão. Mas vi que ele ficou com pena que eu não fosse ver a defunta. 

Pouco tempo depois fui ter uma reunião com ele. Estava outro. Rejuvenescido, risonho, outra vez muito brincalhão. Tinham-me dito: 'Não me pergunte como é possível, mas é: o nosso colega já anda de namoro, todo in love.'. Fiquei estupefacta. Perguntei se era alguém conhecido. Não, nada. É que, se fosse colega, ainda me pareceria possível que, tão pouco tempo depois, já ele estivesse de namoro. Agora, em tão pouco tempo, desencantar uma desconhecida... Mas, então, fui ter ao gabinete dele. Em cima da secretária, numa moldura, uma fotografia de uma senhora toda desportiva, toda sorridente. Perguntei: 'Já soube da novidade e, pelo que ouvi dizer e pelo que aqui vejo, a coisa vai de vento em popa, já aqui tem a fotografia da namorada...'. Ele riu: 'Pois, não a quis ver lá na capela, não a conheceu... Esta não é a namorada, esta é a falecida...'. Fiquei sem saber o que dizer.

Mas isto só vem ao caso pois, ao ver o convidado do Bial, parecia mesmo estar a ver aquele meu colega bacano. Todo ele: o rosto, o cabelo, o corpo, os óculos, a forma como se veste. Iguais. Como é possível?

Mas vejam a entrevista, é outra daquelas conversas que nos deixam a pensar. Interessantes perspectivas.

É possível se tornar IMORTAL? Com Eduardo Giannetti | Conversa Com Bial | GNT

O economista e professor Eduardo Giannetti - e também autor do livro "Imortalidades" - vai ao #ConversaComBial para falar dos tipos de imortalidades sobre as quais escreveu. Aborda a pequenez dos seres humanos diante do desconhecido e como a crença na vida após a morte vai muito além da ciência, das tecnologias e da religião. 


Uma sexta-feira feliz

quinta-feira, dezembro 05, 2024

Está a chegar o tempo dos pós-humanos?


A ciência deve, forçosamente, ser um dos mais importantes pilares do desenvolvimento. Um outro deve ser a ética. Outro o humanismo. E há mais mas agora não virão tanto ao caso.

Nas empresas, em especial em empresas em que há áreas de investigação e desenvolvimento, recorre-se cada vez mais à figura dos 'gémeos digitais'. No fundo, são réplicas dos processos reais com tudo o que há de interacção entre eles. Deste modo, quando se pretende testar qualquer inovação, seja de que tipo for, em vez de arriscar danos se o teste for feito em ambiente real, usa-se o gémeo digital.

Não é fácil nem económico ter 'gémeos digitais' que sejam réplicas perfeitas, fidedignas. Claro que os meios actuais ajudam: por exemplo, já não é preciso ter Data Centers ultra dispendiosos, pode recorrer-se ao alojamento e gestão na 'nuvem'. Mas, ainda assim, não é fácil. E tem que haver pessoas, muito, muito entendidas, que saibam validar se o gémeo digital é fiável e se os resultados obtidos são de confiança ou se o 'gémeo digital' está coxo e não permite extrapolar algumas conclusões.

Mas uma coisa é ter réplicas do funcionamento de fábricas ou de empresas em geral. Outra, muito diferente, é ter réplicas do funcionamento do corpo humano. Não é só o que isso permite de bom... é também o que permite fazer se as intenções não forem as melhores.

E falo nisto como poderia falar em pegar numa célula qualquer e daí conseguir obter um óvulo e um espermatozóide, conseguindo, pois, 'conceber' um ser humano.

As possibilidades são infinitas. Muitas incríveis, maravilhosas. Outras aterradoras.

E não falo de promessas, de expectativas. Falo de possibilidades reais, cientificamente disponíveis.

Convido-vos a ver o vídeo abaixo. É possível colocar legendas em português.

How Tech Is Breaking the Rules of Biology | Posthuman with Emily Chang

From birth to death, tech is stretching the boundaries of biology. In this episode of Posthuman, we explore the discoveries that could transform reproduction, healthcare and how we die.

Technology that once seemed like science fiction is rapidly becoming reality, transforming the very essence of our existence. In this four-part series, Emily Chang unravels the future of being human in an age of unprecedented innovation.


quinta-feira, maio 09, 2024

O grande silêncio.

[Ou: onde param os aliens?]

 

Gosto da expressão 'o grande silêncio'. E gosto do grande mistério: se há vida noutros planetas, por onde viajam eles que não os vemos?

Ou será que há civilizações que são como as orquídeas raras que florescem e depois morrem? E que, devido à distância no tempo e no espaço, não tenha havido sobreposição? Será que algumas ruínas que por vezes se encontram têm a ver com isso?

E como serão essas formas de vida? Terão também tentação para se destruírem como nós, por vezes, parece que nos sentimos tentados a fazê-lo?

O vídeo abaixo é interessante. Tem legendas em português. Brian Cox conduz-nos pelos labirintos do universo.

Why haven’t we found aliens? A physicist shares the most popular theories. | Brian Cox

Chances are, we’re not alone in the universe. But if that’s true — why can’t we seem to find our neighbors? 

This question is known as the Fermi paradox, and it continues to go unsolved. However, some theories could offer potential solutions. 

Physicist Brian Cox explains the paradox and walks us through our best guesses as to the reason for our quasi-isolation. 


segunda-feira, agosto 07, 2023

Há uma inteligências escondida?
As células pensam?

 


Tive um colega com quem me dava muito bem. De vez em quando, lá nas empresas, apareciam modas em que meio mundo queria embarcar, gastando pipas de massa para coisa nenhuma, apenas para não ficar para trás, porque todas as maiores empresas já tinham embarcado e ninguém queria aparecer como os que ainda não tinham implementado aquela metodologia, adoptado aquele processo ou contratado aquelas sumidades.

Eu, como sempre, não sou de embarcar à toa ou encarneirar e, portanto, levantava muitas questões. Esse meu colega também. Claro que olhavam para nós como os que estavam ali só para chatear.

Ele, brasileiro, com aquela forma divertida de falar, dizia-me de forma a que ninguém o ouvisse: 'nós dois somos mesmo a turma do baldinho'. O 'baldinho' era o balde de água fria que nós atirávamos para cima para esfriar os ânimos.

E assim me sinto eu hoje ao trazer aqui um tema que não está com nada. A bem dizer não tem a ver nem com os mega ajuntamentos da JMJ (e com a organização que fez com que tudo corresse lindamente) nem com o calorão de ananases que esteve. Também não tem a ver com mais uma da minha mãe que, em vez de curtir a provecta idade e o bom estado físico em que se encontra, agora panica com qualquer espirro, incapaz de perceber que o problema é o estado de ansiedade em que fica. 

Não. O post de hoje não tem mesmo nada a ver com nada de nada disso.

Não quero retomar a prática do baldinho de água fria que, por acaso, hoje até que talvez não caia mal tamanhas as quentes baforadas que nos têm assolado. Mas, sinceramente, estou exausta (fisica e psicologicamente) e a única maneira de descansar a cabeça é ocupá-la com coisas que me fazem pensar.

Portanto, com vossa licença, deixem que partilhe um vídeo que me parece muito interessante. Talvez explique muitas coisas. Muitas, muitas. 

Tem a vantagem de estar legendado. 

Can cells think? | Michael Levin

Sabemos que os humanos são uma espécie inteligente. Mas este biólogo decompõe a inteligência de cada uma de nossas células – e isso é surpreendente.

Michael Levin, biólogo do desenvolvimento da Tufts University, desafia as noções convencionais de inteligência, argumentando que ela é inerentemente coletiva e não individual.

Levin explica que somos coleções de células, com cada célula possuindo competências desenvolvidas a partir de sua evolução a partir de organismos unicelulares. Isso forma uma arquitetura de competência multiescalar, onde cada nível, de células a tecidos e órgãos, está resolvendo problemas dentro de seus espaços únicos.

Levin enfatiza que reconhecer adequadamente a inteligência, que abrange diferentes escalas de existência, é vital para compreender as complexidades da vida. E essa perspectiva sugere uma mudança radical na compreensão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor, reconhecendo as habilidades cognitivas presentes em todos os níveis de nossa existência.


Desejo-vos uma boa semana
Saúde. Bons pensamentos. Paz.