terça-feira, dezembro 31, 2013

Um feliz 2014 para todos! (Votos à maneira do Um Jeito Manso, isto é, com filmes, músicas, danças e palavras dentro).


Para todos os Leitores de Um Jeito Manso os meus votos de um 2014 muito bom.
Que ele seja melhor do que se espera.
Que venha com surpresas nos dias, com esperanças no futuro, com sonhos por descobrir.

Se houver lutas a travar, pois que se travem.

Se houver caminhos por desvendar, pois que se desvendem.

A vida que nos calhou em sorte é uma, única. Não a desperdicemos.

O País em que nascemos e a que chamamos nosso é este, não o deixemos destruir.

Nossos serão todos os caminhos - mas apenas se o quisermos. Queiramo-lo, então.

Levantemo-nos. Vivamos. Aprendamos os percursos da felicidade.
Se não for isso que nos move, então que mais o será?

A todos: muita saúde, muito amor, muito ânimo, muita alegria, muita persistência, muita solidariedade, muita generosidade.
E muita sorte.

Um feliz 2014 a todos!

*

E que comece a festa.



Sabedoria, José Régio, dita por Margarida Mestre

*



1900 de Bernardo Bertolucci

*



Braveheart de Mel Gibson - O discurso de liberdade

*



Ana Maria Pinto canta Acordai de Fernando Lopes Graça

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E que viva a liberdade e a alegria
Os Freedmon Ballet interpretam na rua o tango Hernando's Hideaway (Castanets)

*


Mayra Andrade interpreta Traz outro amigo também 
- a intemporalidade de José Afonso percorrendo vastos horizontes.

Todos os amigos nunca serão demais.
Venham.

Vamos construir um maravilhoso Ano Novo.


***

E a todos agradeço os Votos que me deixaram aqui ou por mail. Mil vezes obrigada.

E outra vez: que 2014 seja, para vós, um ano muito bom!

Os pequenos acasos. Por vezes mudam o rumo de uma vida (e recordo um episódio da minha adolescência), outras acabam por dar origem a desastres de incalculáveis proporções (e lamento que o mea culpa de Filipe La Féria infelizmente chegue tarde demais)


Toda a nossa vida é uma sucessão aleatória de acasos.

A cada momento poderíamos optar por uma miríade de opções mas seleccionamos apenas uma delas.

Mesmo que não optemos e deixemos que a vida aconteça por si, isso, em si, já é uma opção.

Durante esse nosso percurso, cruzamo-nos com outras pessoas que identicamente elegeram um conjunto de opções e, no cruzamento de todas elas - que, vistas em perspectiva, são uma vasta manta de aleatoriedades - acontecem desencontros fatais, encontros extraordinários, ou nada.

Quando eu era uma fogosa adolescente e namorava um ainda mais fogoso jovem rebelde, soltavam-se faíscas de toda a espécie a todo  momento. Por vezes, acontecia mergulharmos num mar de paixão e doce harmonia mas, outras, desencadeava-se um estrilho hecatombico.

Mas estes últimos eram sempre sol de pouca dura. Geralmente, quando os nossos olhares se voltavam a cruzar, desaparecia instantaneamente o problema e, acto contínuo, a guerra que parecia insuperável tinha desaparecido sem deixar rasto.

Excepto quando um dia nos zangámos no último dia de aulas.

Separando-nos sem combinarmos nada para o dia seguinte - e orgulhosos como ambos éramos - nenhum quis dar o braço a torcer. E, longe um do outro, aquela cena do olhar que pacificava qualquer desmando deixou de poder acontecer.

Sofri horrores e ele também. Amigos comuns relatavam o sofrimento lancinante um do outro mas nenhum amigo nos demoveu de nos mantermos casmurramente na nossa. Ele achava que eu tinha 'dado bola' a outro que estava apaixonado por mim e o demonstrava publicamente e eu achava que não era por o outro se declarar apaixonado por mim que eu me ia afastar dele (tanto mais que esse tal me fazia belas canções e tinha uma bela voz e eu gostava de o ouvir. O facto de as canções serem sobre mim e me serem dedicadas era coisa que não me incomodava e se o incomodava a ele, era problema dele, não meu).

Mas o pior foi um acaso que decidiu todo o desfecho do grande romance de amor que nos unia. Sou míope e vaidosa. Ou seja, nunca usei óculos (excepto por um breve período em que usei lentes de contacto ou quando conduzo ou vou ao cinema). Tirando isso, tiro umas pelas outras. Se conheço uma pessoa e estou à espera de a ver num dado sítio, pelos contornos consigo reconhecê-la. Mas se não vou atenta a isso, não vejo. Acontece que, por ser míope e saber que não vejo com nitidez, desabituei-me de prestar atenção a pormenores, nomeadamente a prestar atenção ao que os outros vestem ou deixam de vestir ou, sequer, a olhar para eles com olhos de ver.
Com a idade, estou a ver cada vez melhor. A miopia tem a ver com a forma do globo ocular e que é o oposto do que acontece quando se tem a vista cansada. Ou seja, a idade vai achatando o globo ocular e, portanto, a miopia vai sendo reduzida (acho que é isto, que não estou baralhada). Ou seja, agora até quase que já nem preciso de usar óculos. 
Mas, na altura, via pior do que vejo hoje e, portanto, o que aconteceu é que num desses dias de férias em que estávamos zangados, nos cruzámos numa rua. Ele contou aos amigos que eu o vi e que não liguei patavina, que segui como se ele fosse um nada. Ora eu não o vi. Posso ter olhado mas não o vi. O facto de não lhe ter ligado patavina foi para ele uma ofensa e uma declaração de indiferença. Ou seja, mais razão isso lhe deu para não se reaproximar. Eu, como ele não se reaproximou, fiquei furiosa e, temperamental como sou, já que era assim, então, se tinha a fama, ia ter também o proveito e,  vai daí, comecei a namorar  o outro. Tinha na minha que o meu amor rebelde ia ficar despedaçado, pedir-me para largar o outro e voltar para ele. Mas ele não fez o que eu esperava: vendo-me a namorar o outro, achou mesmo que eu já não gostava dele. Parvo.

Resumo da história: eu prossegui com um namoro que não tinha futuro e aquele que eu amava, um aluno excelentíssimo, para não me ver de namoro com outro, deixou de ir às aulas, perdeu o ano por faltas, meteu-se em sarilhos, uma chatice. 

Enfim, não vou aqui enumerar tudo o que nos aconteceu a seguir mas volto atrás para dizer que tudo aconteceu porque me cruzei com ele e não o vi. Se o tivesse visto e tivesse esboçado um gesto que fosse, a coisa tinha-se resolvido logo ali como antes tudo de resolvia com um simples olhar.

Uns dois anos depois, namorava eu o tal poeta cantor, numa sala cheia com centenas ou milhares de pessoas, eu sentada no parapeito de uma janela, cruza-se o meu olhar com o de um cristo atlético que eu nunca antes tinha visto e novamente, devido ao acaso desse outro cruzar de olhares, a minha vida deu nova reviravolta.

Mas vem isto a propósito de quê?

Música, por favor




Pois é: vem a propósito da nega que La Féria deu a Passos Coelho quando, em 2002, este queria apenas ser artista de vaudeville e entrar num musical do Politeama. Explica Filipe La Féria numa engraçada crónica no DN que andava à procura de um tenor para o My Fair Lady e que lhe apareceu um sujeitinho, Passos Coelho, com voz de barítono.




Entre muitos concorrentes à audição, apareceu Pedro Passos Coelho de jeans, voz colocada, educadíssimo e bem-falante. 

Era aluno de Cristina de Castro, uma excelente cantora dos tempos de glória do São Carlos que tinha sido escolhida por Maria Callas para contracenar com a diva na Traviata quando da sua passagem histórica por Lisboa. 

As recomendações portanto não podiam ser melhores e a prova foi convincente. Porém, Passos Coelho era barítono e a partitura exigia um tenor. 


Foi por essa pequena idiossincrasia vocal que Passos Coelho não foi aceite, o que veio a ditar o futuro do jovem aspirante a cantor que, em breve, ascenderia a actor protagonista do perverso musical da política. 



Se não fosse a sua tessitura de voz de barítono, hoje estaria no palco do Politeama na Grande Revista à Portuguesa a dar à perna com o João Baião, a Marina Mota, a Maria Vieira, e talvez fosse muitíssimo mais feliz.

(...)


Acrescento: ele e todos nós.

Fosse o tom de voz do ex-doce o de tenor e do que nós nos tínhamos livrado... Ou se o La Feria não fosse tão picuinhas, sei lá.

E isto, repare-se, passou-se em 2002. Pouco tempo depois, este artista, rejeitado pelo La Feria e por segunda escolha, optou por deixar-se usar pelo Relvas e bloggers amigos para correr com a Manuela Ferreira Leite e a seguir inventar um conjunto de aldrabices que serviram para dar cabo da reputação de Sócrates. 

Deu nisto: sem competência para pisar o palco do Politeama, como se esperaria que soubesse gerir um país? Desde meados de 2011 que a criatura anda a espatifar o país. 

2013 a chegar ao fim e ainda anda por aí. O Cavaco nem a competência do La Feria teve, que esse correu com ele.




A esta hora, como diz La Feria com montes de piada, podia ele andar a bater perna nos palcos do Politeama, na galdeirice com o Baião e com a Marina Mota e, em vez disso, andamos nós a 'comer com ele', com este verdadeiro atraso de vida.

Pouca sorte a nossa. 

***

[Acabo de ler o comentário do Leitor jrd dois posts abaixo em que ele revela ser mais optimista que eu pois preconiza que o ex-doce ainda vai acabar num qualquer Cabaret da Coxa ou num Reality Show. Tomara que acerte, jrd. Até que eu gostaria de o ver com a Bibi ou a Joaninha em cima, quiçá com as mamocas da Érica nas mãos quando a esta lhe dá para fazer striptease]

Mas que fosse no Politeama. 
Ora vejam, imaginem: está certo que ia estragar a festa, mas não seria preferível lá do que onde está agora?




**

As fotografias foram obtidas na internet. Algumas publicitam os espectáculos, de outras não consegui descobrir a sua proveniência original
E, por agora, por aqui me fico. 
Durante o dia ou, pelo menos, antes da meia noite, virei aqui para vos desejar um bom 2014.

Até lá, até à meia noite, vamos mas é curtir. 
Se 2013 foi uma porcaria, que, ao menos, o último dia seja uma festa. 
Be happy!

segunda-feira, dezembro 30, 2013

A descida aos infernos de Sara Norte, conforme descreve no seu livro 'Eu, Sara, me confesso'. E uma carta muito triste de sua mãe, Carla Lupi, pouco tempo antes de morrer.


No post abaixo faço um breve balanço do que foram as actuações dos principais actores políticos no ano que está prestes a terminar, restringindo-me ao lusitano rectângulo. É um balanço à moda de Um Jeito Manso e, portanto, já sabem, não devem esperar grande coisa. De resto, dado os personagens em questão, também não se poderia esperar muito mais. 

Mas isso é a seguir.

Aqui, agora, a conversa é outra.

*   *   *

Sou leitora omnívora ou quase. Contudo, como já aqui o contei várias vezes, passo ao lado de best-sellers (não por serem best-sellers mas porque, geralmente visam um público onde não me encaixo). Também não consumo pastiches, coisas a armar ao pingarelho, filosofias de pé de chinelo, teorias de cão de caça, coisas assim.

No entanto, não desdenho de alguns livros só por serem escritos por não-escritores ou por serem relatos que facilmente podem ser considerados literatura a metro.

Vem isto a propósito de um livro que no outro dia comprei. Conheço mal a pessoa que o escreveu mas a sua história, que conhecia muito vagamente, despertava-me alguma simpatia. Quando vi o livro escrito na primeira pessoa tive curiosidade. Além disso, pensei que era bom que o livro lhe rendesse algum dinheiro pois admiti que lhe fizesse falta.

Quando os meus filhos entram nesta sala, passam sempre uma vista de olhos pelos livros que estão mais à vista, admitindo que são os últimos. Quando viram este foi o bom e o bonito. 'Pronto. Agora é já vi tudo!', decretou a minha filha, ar de censura. E ambos, sem apelo, desdenharam da minha escolha. Mas a que propósito?!? - uma reacção quase como se tivessem visto um livro da Margarida Rebelo Pinto, da Fátima Lopes ou do Paulo Coelho. Como, na altura, ainda não o tinha lido, não pude argumentar a favor da escrita: disse apenas a verdade, que tinha despertado a minha curiosidade. Abanaram a cabeça, como se não houvesse dúvida: a mãe estava a revelar-se um caso perdido.

Entretanto já o li. Gosto de ler livros assim, relatos escritos a seco, sem pretensões. Gosto de conhecer estes percursos de vida tão distintos dos que geralmente (e felizmente) nos são próximos. Quando era miúda li o diário de Christiane F. (os filhos da droga) que bastante me impressionou, não há muito tempo li a autobiografia de Sylvia Kristel . E alguns outros. Conhecemos melhor a vida e temos uma compreensão mais abrangente pelos outros, se nos dermos ao trabalho de os ouvir.

Este de que agora falo é o livro 'Eu, Sara, me confesso' da autoria da jovem actriz Sara Norte.


Devo confessar que li o livro com agrado, está razoavelmente escrito (pena um erro ortográfico que lá aparece mas, enfim, é um pormenor), não se desculpabiliza, não se vitimiza, não dá conselhos, nada: apenas relata. É, sobretudo, um murro no estômago.

Sara Norte tem agora 28 anos e conhecemo-la desde que, menina, protagonizava uma série que os miúdos gostavam de ver, O Médico de Família.

Não acompanho a vida dos artistas e, portanto, perdi-a de vista e apenas soube do que lhe estava a acontecer quando as televisões noticiaram a sua prisão como traficante de droga.

As televisões mostravam a mãe, Carla Lupi, também actriz, à porta da prisão. Soube depois que Carla Lupi tinha morrido enquanto Sara estava presa.

Neste livro, Sara Norte relata a sua vida desde que os pais, Carla Lupi e Vítor Norte, se separaram, conta como se tornou consumidora de cocaína, como conseguiu durante anos esconder isso de toda a família, conta a sua descida aos infernos. É um relato cru e assustador. Ao mesmo tempo impressiona a capacidade de resistência e de adaptação do ser humano, do corpo humano. Como se passa por tudo o que ela relata e se consegue manter a aparência de uma pessoa com uma vida normal, com uma alimentação normal, com hábitos de vida normais? Não sei. Custa a perceber.

Mas tanto como me custou saber do percurso complicado de Sara Norte, também me custou saber, talvez até mais, o que, por essas alturas, se passava com a sua mãe.

Não costumo ver telenovelas ou séries portuguesas o suficiente para conhecer o percurso ou sequer os nomes da maior parte dos protagonistas. Por isso, não tenho ideia de ter visto actuar Carla Lupi. Contudo a sua cara não me era estranha. A filha, aliás, herdou os seus traços fisionómicos.

Pelo relato da filha Sara, fiquei agora a saber que Carla também era consumidora de cocaína e que isso, de certa forma, também condicionou a sua vida. Acresceu a isso, o facto de estar sem trabalho.

Quando deixamos de ver os artistas, esquecemo-nos que, frequentemente, isso significa que estão sem trabalho e, estando sem trabalho, o mais normal é que estejam sem dinheiro.

Mas, mais grave ainda que tudo, foi o ter-lhe sido diagnosticado um cancro nos pulmões. Sem trabalho, sem dinheiro, sozinha, e consumidora de cocaína até ao fim, foi um trajecto terrível, o de Carla Lupi. As imagens mostravam-na desfigurada mas nunca imaginei o inferno que era, então, a sua vida. 

Sara Norte mostra algumas cartas que recebeu enquanto esteve presa, algumas da mãe. Uma impressionou-me sobremaneira. Foi escrita três meses antes desta morrer.

Transcrevo um excerto:

(...) Tocaram à campainha, venho já.

Nem de propósito. Vou contar-te o que se passou. Apesar de tudo o que me tem acontecido, a minha fé é inabalável e acredito cegamente que Deus é meu pai, sabe o que faz e toma conta de mim. E mesmo quando estou na merda, acredito sempre que uma solução vem a caminho e não deixo que o desespero ou o desânimo tomem conta de mim. Hoje andei para aqui com uma preocupação porque amanhã recebo o vale do rendimento mínimo e só posso levantá-lo eu e com o cartão de cidadão. Mas na quarta feira quando fui a Lisboa tive que deixar o meu cartão no Cais do Sodré a troco de me emprestarem 5 euros para voltar para casa. (Ao que isto chega, já viste?). E hoje andava para aqui a pensar onde é que ia arranjar 5 euros até amanhã de manhã cedo, para poder levantar o cartão e levantar depois o vale. Mas não me enervei muito, porque sabia que Deus não ia voltar-me as costas e ia ajudar-me mais uma vez, porque é meu pai e um pai quer bem aos seus filhos e ampara-os. Há bocado, quando estava a escrever-te e tocaram à porta, fui abrir e era uma velhota que não conhecia e que mora no 8º andar aqui do prédio. Mandei a senhora entrar e ela pediu-me desculpa de incomodar e pediu-me também que não levasse a mal o que ia dizer-me. Então, a senhora é voluntária de uma associação e como sabe que estou doente e sem poder trabalhar, veio perguntar-me se eu levava a mal que um restaurante com quem eles trabalham me oferecesse diariamente as refeições e o lanche. Nem quis acreditar!!! Já viste? Que sorte a minha! Já tenho a ajuda do Banco Alimentar e agora também tenho almoço, lanche e jantar oferecidos todos os dias. Fiquei tão contente que até me vieram as lágrimas aos olhos. As pequenas coisas hoje em dia são para mim grandes alegrias e fico muito feliz por saber que ainda existem pessoas no mundo como esta senhora que se preocupam e amam o próximo, sendo altruístas, ou seja, sem esperarem recompensas. E agora vem o melhor da história. No fim da conversa, e antes de se ir embora, a senhora deu-me 10 euros. Fiquei de boca aberta, nem tive reacção. Agradeci-lhe muito e depois de ela sair fartei-me de chorar e agradeci a Deus. Eu sabia, era uma certeza que eu tinha em mim, que Ele não ia abandonar-me.

(...)

Biliões de beijinhos da mãe que te ama e que está sempre a pensar em ti,

Carla.


Muito triste o estado de carência a que uma pessoa que antes teve uma vida normal pode chegar. Muito assustador o estado de carência a que os estados de dependência, directa ou indirectamente, podem levar. E a vida difícil que uma pessoa pode levar sem que os outros o percebam...

Pelo que li, acredito que Sara Norte é uma pessoa que, apesar da descida aos infernos que a levou de casa em casa, a viver de favor em casa alheia, sem dinheiro, sem rumo, de mau passo em mau passo, a correr riscos tremendos, é uma pessoa forte e que irá ter sorte na vida que tem para viver. Assim a sociedade não lhe feche as portas ou a vida não lhe pregue mais rasteiras. Somos o que fazemos, é certo, mas é bom que a sorte nos ajude.

E é importante que saibamos ver para além do que é visível pois pode haver muito sofrimento sob a capa de uma vida normal. Um gesto nosso pode fazer a diferença na vida de quem está carenciado de dinheiro, de afecto, de apoio, de tudo.

E não digo mais nada porque acho que é escusado.


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As fotografias foram obtidas na internet e não descobri a sua proveniência original.

Para uma mudança radical de registo, isto é, para balanços políticos ou análises relativas aos nossos principais políticos, é descerem, por favor, até ao post seguinte.

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Muito gostaria ainda de vos convidar a visitarem o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, onde é tempo de mudança de tempos e de vontades. Vou pela mão de Camões pelo que, é claro, não me queixo. Comigo vêm também Rui Reininho e a Estudantina de Coimbra. Uma animação. Estou a preparar-me para mudar de ano pelo que não poderia ser de outra maneira.

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E, por agora, por aqui me fico. 
Tenham, meus Caros leitores, uma grande semana a começar já por esta semana.

Balanço de 2013 à moda de Um Jeito Manso (coisa muito limitada, claro: Tozé, o Inseguro; Passos, o Pérfido; Portas, o do Destino Trocado; Cavaco, o Inútil; Costa, o Desencontrado; Jonet, a Naftalina ao serviço dos pobrezinhos; e mais uns quantos]


Não é altura de balanços? Fecha-se o exercício, fecham-se as contas, faz-se a demonstração de resultados, acerta-se o balanço, percebe-se qual o resultado bruto, qual o resultado líquido. Coisas assim.

Mas era o que mais me faltava pôr-me aqui a perder tempo com uma análise exaustiva ao que passou. Passou, passou, está passado.

Quanto muito, passo por cima de balanços e foco-me num ou noutro balancete.

Ora, então, vamos lá. Coisa simples com base no que se viu em 2013 neste luso rectângulo que, se isto não muda, ainda se torna pindérico. Ou de plástico, que é mais barato (O'Neill dixit).



António José Seguro - Um chato, sem alma, sem garra, sem charme. 


Li algures que se fez filmar armado em estadista a desejar um bom Natal às famílias. Típico. 

Este é daquele que antes de o ser já o era. Um velho. Um ex. 

Um chega para lá. Um pequeno Hollande. Tomara que nunca tenha a oportunidade de desiludir os eleitores como Hollande o faz todos os dias.



Pedro Passos Coelho - Uma criatura sinistra. 


Nunca me enganou: as palavras que proferia antes de ganhar as eleições revelavam demagogia, populismo, ignorância, leviandade, pouco respeito pela inteligência dos outros. É o joguete útil que qualquer poderosos deseja encontrar em lugar de importância num país. O facto de não distinguir a mentira da verdade torna-o ainda mais perigoso. O facto de ser frio e vingativo é a pitada que faltava para o tornar ainda mais temível. Os portugueses deveriam fazer tudo para o afastar de qualquer função pública. Não tem feito outra coisa senão destruir o País e dar cabo da vida dos Portugueses. Os danos far-se-ão sentir por muitos anos.


Paulo Portas - Uma pessoa cuja inteligência e fulgor se desperdiçaram estupidamente ao escolher o percurso político que tem vindo a singrar. 


Poderia ser um professor brilhante, um grande jornalista, até um grande actor de teatro. Qualquer coisa. Seria sempre muito bom. Mas optou por se enfiar numa carreira que é sempre pequena demais para a sua ambição e para as suas capacidades intelectuais. Por isso transborda, é arrastado por correntes que não controla, tenta manter-se no palco, encena, efabula, é histriónico para além do razoável no que faz e diz, perde-se nos seus labirintos, perde a noção de tudo (até do ridículo). Ganharia muito se se afastasse, se conseguisse manter o recolhimento durante uns tempos, se encontrasse um outro rumo para a sua vida, se serenasse, se fizesse um uso útil e inteligente das suas capacidades. Ganharia ele, ganharia o CDS, ganharia o País.


Jerónimo de Sousa, João Semedo, Catarina Martins - Gente bem intencionada, gente generosa, gente com ideais. 


Contudo, uns por estarem presos a conservadorismos desajustados aos tempos que correm, outros por ainda não terem sabido traçar caminhos que se compreendam bem, serão sempre refúgios para grupos fechados de sonhadores, saudosistas, idealistas. 

São os guardiões de castelos nos quais haverá sempre parte da população que gostará de se acolher. Mas dificilmente atrairão novos adeptos, ou gente com real capacidade para fazer frente aos desmandos ultra-liberais.


António Costa - Um homem com um discurso tão claro como bem articuladas são as suas ideias. 


Vigoroso, lutador, um democrata, um humanista. Mas parece não chegar a tempo ao sítio onde o comboio da história passa. Tomara que um dia o seu tempo coincida com o tempo comum. 

O País tinha muito a ganhar se a sua clarividência e frontalidade pudessem traduzir-se em acções.


José Sócrates - Um homem corajoso, um lutador, um homem a quem os ventos contrários não vergam. 


A imagem perfeita do resistente e do resiliente. Um combatente.

O País ainda irá contar ele. 

Muitas pessoas como ele em posições cimeiras na UE tornariam o nosso espaço comum um lugar menos perigoso.

Contra ventos e marés, contra ameaças ou traições, contra incompreensões ou abandonos, os seus ideais não sofrem abalos.


Rui Tavares, Daniel Oliveira, Carvalho da Silva e outros - Gente bem intencionada, com visões correctas da realidade e um discurso limpo e honesto.


Mas não será através de novos partidos, movimentos, pólos ou plataformas que a direita retrógrada, revanchista, apátrida e amoral será derrotada. 

Numa altura como a que vivemos, toda a gente de bem se deve unir. Qualquer divisão de votos favorecerá a pandilha que tem vindo a arruinar o futuro deste pobre País.


Cavaco Silva - Quando foi Primeiro-Ministro comprometeu o futuro do Pais, trocando o tecido económico nacional por meia dúzia de patacas. 


Como Presidente da República faz questão em ser inútil.

Este espaço vai ficar quase vazio de propósito pois vazio é o que parece rodeá-lo.


Mário Soares - Um homem inteiro. Um leão.


E não escrevo mais pois todas as palavras seriam fracas quando comparadas com a força que tem sabido demonstrar ao longo de toda a sua vida. 

Mesmo agora, aos 89 anos, é das vozes que mais vigorosamente clama contra a devastação em curso.

De cada vez que ruge, o seu rugido abala as estruturas apodrecidas.


Isabel Jonet - Canaliza a sua capacidade empreendedora para actividades assistencialistas que são úteis mas mais úteis seriam iniciativas que evitassem a necessidade da caridade.












...

E por aqui me fico para isto não ficar chato para além da conta.

Algumas imagens, como está à vista, provêm do blogue We Have kaos in the Garden. Das restantes desconheço a proveniência original.

...

Até já.

domingo, dezembro 29, 2013

AVC


Um Leitor deixou-me o link para um vídeo que, talvez ele não saiba, alerta para um assunto que me toca muito de perto. O vídeo é este:





*




O meu pai sempre foi uma pessoa saudável que levava uma vida saudável. Sempre fez uma alimentação racional e equilibrada, não era gordo, não fumava, fazia uma vida activa, muito ao ar livre. Parecia bem mais novo do que era (aliás, quer ele, quer a minha mãe). Praticou muito desporto quando era mais novo e, ao longo de toda a vida, manteve hábitos de vida saudáveis.

Há uns anos, estavam a passar férias in heaven com os meus filhos, aconteceu uma coisa um pouco estranha. Lembro-me da minha mãe me contar isso como uma coisa esquisita mas à qual nenhum de nós atribuíu qualquer significado. Estavam à mesa a almoçar e, sem mais nem menos, durante uns instantes, parecia que não conseguia levar bem o garfo à boca. Ele próprio disse: parece que não estou a conseguir acertar com a boca. Mas logo depois isso passou-lhe, e o dia prosseguiu normal. Quando estavam in heaven, ele gostava de se ocupar com trabalhos de conservação como aplicar bondex nos bancos de madeira no exterior, arranjar algumas coisas, podar árvores. A minha mãe, tal como eu, gosta de varrer, e gostava de tentar pôr a arrecadação em ordem. Adoravam lá estar e aquele pequeno e brevíssimo incidente quase passou despercebido.

Uns tempos depois, anos talvez, um dia, quando estava em casa e ia a sair da casa de banho, aconteceu uma outra pequena coisa: por um breve instante parece que perdeu a consciência, as pernas vergaram-se-lhe. Não chegou a cair pois parece ter recuperado logo a consciência. Mas não soube explicar o que tinha acontecido. Não sabia se tinha sido um quase desmaio. Depois prosseguiu o dia, bem, sem qualquer outra indisposição.

A minha mãe referiu-me isso e não percebia o que teria sido, talvez uma quebra de tensão, e eu achei o mesmo. Mas sentiu-se mal?, perguntava eu. A minha mãe dizia que não, que antes estava bem e que, a seguir, bem ficou. Ainda sugeri que fosse ao médico mas ele até achava isso quase ofensivo. Ao médico? Dizer o quê? Estou bem. Vigiava a tensão arterial e estava bem. Fazia check-ups regulares e tinha uma saúde de ferro.

A única coisa que tinha era um bocado de arritmia e tratava-se para isso. Aliás, praticamente nunca se tratava pois os episódios de arritmia eram esporádicos. Se lá acontecia ter algum, tomava uns comprimidos e depois suspendia pois achava que não precisava, que era mais saudável do que um desportista.

E todos nós achávamos que assim era.

Até que um dia, num domingo, a minha mãe me telefonou a dizer que o meu pai estava no hospital, que tinha tido um AVC mas que era ligeiro, que tinha ido na véspera à noite ao hospital, que tinha ficado em observação mas que ia ter alta à hora de almoço, que nem me tinha dito nada para não me assustar.

Fiquei assustadíssima.

O que tinha sido, então?

Na véspera, tinha acordado com alguma dificuldade em falar, parece que as palavras não lhe saíam bem. Disse que tinha dormido mal e que aquilo devia ser da noite quase em branco. Depois, com alguma dificuldade de expressão, disse que se sentia um bocado tonto, não sabia explicar. Foi para o jardim para ver se 'espertava'. Andava bem, dizia que se sentia bem, apenas as palavras pareciam não sair bem. A minha mãe quis ir ao médico mas nunca desconfiando do que se passava. Nem ela, nem ele. Mas ele disse que não fazia sentido ir ao médico, só porque estava um bocado tonto por não ter dormido bem. Almoçou bem, esteve bem mas qualquer coisa havia. Foi então caminhar na rua para ver se, andando, se sentia melhor. A minha mãe foi ter com ele e uma vizinha disse-lhe que achava que o meu pai não estava muito bem pois parece que não tinha conseguido falar bem para a cumprimentar. A minha mãe começou a ficar preocupada mas, não havendo outros sintomas, não lhe passou pela cabeça o que pudesse ser.

Aliás, saudável e de aspecto jovem como ele era, não passaria tal coisa pela nossa cabeça (até porque coisas destas só acontecem aos outros). No entanto, falou com o cunhado, irmão do meu pai. Este ligou à minha prima que é médica e ela disse que se metessem no carro e que fossem para o hospital. Mas isto já ao fim do dia (quando estava assim desde que se levantara - já para não falar que a insónia já devia ter sido disso).

Felizmente, o AVC tinha sido ligeiro mas, nos exames que lhe fizeram, detectaram que já tinha tido outros episódios ligeiros, os chamados AIT's (acidentes isquémicos transitórios). Perguntaram se nunca tinham dado por nada e foi nessa altura que relacionaram com aquilo de não acertar bem com a boca ou com a quebra de forças.

Nesse domingo, fui logo buscar a minha mãe a casa e fomos para o hospital. Quando lá chegámos já o meu pai vinha a sair do hospital pelo seu próprio pé, fresco, bem disposto. Aquilo não tinha deixado sequelas, estava tudo bem, tinha que passar a ser vigiado, apenas isso. Vinha descontraído, na boa, bem.

E a vida prosseguiu normal. Volta e meia ir fazer exames, estava tudo bem.

Os meus pais tinham uma vida boa. Iam de férias para o Algarve no Verão, iam de férias para as Beiras na Primavera (agora não me lembro do nome da terra para onde gostavam de ir), iam para a Curia no Outono, passeavam, têm um apartamento noutra cidade para onde iam passar os fins de semana, e tudo normal, o meu pai conduzia, iam para onde queriam ir.

Talvez um ano ou dois depois, não sei bem, tinham ido ao supermercado e, felizmente estavam a estacionar, quando aconteceu outra coisa. A perna esquerda ficou presa, apanharam um susto, o pé carregando na embraiagem e ele sem conseguir tirá-lo de lá. Mas estavam no estacionamento, não houve problema, e aquilo passou logo e não aconteceu nada. Pensaram logo que tinha sido mais um AIT e ficaram assustados. A minha mãe quis chamar um táxi para irem ao hospital mas o mau pai disse que já tinha passado e queria ir para casa mas, enfim, tanto a minha mãe insistiu, que lá foi ao hospital - a conduzir.

Confirmou-se: mais um pequeno acidente vascular cerebral. Não me lembro bem mas acho que dessa vez nem precisou de ficar em observação ou, se ficou, foi por horas.

A partir daí, a minha mãe já não quis andar mais com o meu pai a conduzir em autoestradas. Davam as suas pequenas voltas de carro, compras, cinema, coisas assim mas, para o resto, para irem para a outra casa ou para maiores distâncias, levava-os eu ou passaram a usar o autocarro. Ainda foram de férias assim, de autocarro. Iam de táxi até ao autocarro, depois, quando chegavam, apanhavam um táxi para o hotel.

E a vida prosseguiu normal. Ele estava bem, faziam uma vida normalíssima, activa, saudável, bem dispostos.

Como de costume, avesso a medicamentos, conforme os sintomas suprimia ou aligeirava a dose dos medicamentos para regular o batimento cardíaco.

Um dia, há uns cinco anos, estava eu de saída para uma das minhas reuniões fora de Lisboa, uma reunião ainda por cima em que eu e as pessoas da minha equipa íamos ter intervenções críticas e em que, inclusivamente, iam comigo no meu carro, liga a minha mãe, e desta vez muito preocupada. O meu pai tinha-se sentido muito mal durante a noite, uma agitação estranha, tinha estado numa aflição, dizia que parecia sentir a cabeça a arder, não sabia explicar, uma coisa insuportável, pediu uma toalha molhada para acalmar a cabeça por dentro, a minha mãe assustada com o que se passava, com a aflição dele - e foi ele que disse que era melhor chamar o INEM. A minha mãe assim fez e ele foi logo levado. Tinha sido outro AVC e desta vez um mais forte. Quando a minha mãe me contou isto, fiquei muito assustada e disse que ia para lá mas a minha mãe disse que não me assustasse porque já estava estabilizado e que, de resto, não podia receber visitas, só uma pessoa e que ela estava lá com ele.

Então lá fui à minha vida, combinando que ao mínimo sinal de agravamento me telefonaria. De resto, eu própria, a cada meia hora, saía da reunião e telefonava. Durante esses telefonemas fui percebendo que a minha mãe não me tinha contado a história toda pois ora me dizia, 'já está melhor, já mexe a mão' e eu ficava a perceber que tinha perdido os movimentos, ou 'parece que já não tem a boca tão descaída' e eu percebia que o panorama era o clássico dos AVCs. Saí da reunião mais cedo e fui o mais depressa que pude para o hospital. Quando lá cheguei e vi o meu pai percebi a extensão da coisa. Quando me viu começou a chorar. A minha mãe também estava muito infeliz. Um dos lados pura e simplesmente não mexia (mexia ligeiramente os dedos da mão mas o que era isso?), a boca estava descaída de um dos lados, a voz estava entaramelada, mas, pior, o campo visual esquerdo tinha ido à vida. E o médico explicou que os movimentos talvez ele recuperasse mas que o campo visual perdido era irrecuperável. A perda do campo visual de um dos lados significava que, por exemplo, se eu estava do lado esquerdo da cama, ele pura e simplesmente não me via. Eu tinha que ir para o seu lado direito para ele me ver (e ainda assim é).

Por esses dias também teve algumas alterações de personalidade. Ora estava agressivo e indelicado para com as enfermeiras e pessoal auxiliar (ele que sempre foi tão cortês) ora estava estranhamente expansivo. O médico explicou que era frequente isto acontecer e informou que o AVC tinha sido violento, extenso, e que geralmente quem tem destes não fica cá para contar.

Ao fim de uns tempos, teve alta e começou outro calvário. A casa não estava preparada para receber uma pessoa que não se mexia (se metade do corpo não mexe, a outra não consegue fazer nada), acamada, que tinha perdido parte da visão, com comportamentos desconhecidos (por essa altura estava geralmente agressivo, gritava com uma violência que nos deixava estarrecidos).

Tivemos que, em poucos dias, adquirir uma cama articulada, uma cadeira de rodas, modificar a casa de banho, contratar alguém para tratar da sua higiene, fisioterapia para ir lá a casa. A maior parte das vezes não sabia que estava em casa, não sabia o que lhe tinha acontecido, estava numa baralhação como não há memória. Estava também algaliado, com fraldas. E super-medicado.

Depois, aos poucos, foi caindo numa prostração, numa prostração progressiva, parecia que se estava literalmente a apagar. E urinava demais, era preciso estar sempre a mudar o saco. A minha mãe foi (e tem sido) uma heroína a tratar dele, perante um quadro de vida completamente novo. Entretanto, o meu pai já quase só dormia, nem tinha forças para falar e parecia já quase nem me conhecer. O médico e o enfermeiro que lá iam diziam que era normal, que era do AVC, que extenso como tinha sido não era de estranhar o estado dele.

Mas um dia a senhora que faz a higiene (e que também trabalha num lar, estando habituada a isto) achou que a minha mãe, pelo sim, pelo não, devia chamar o INEM. Assim fez e lá foi para o hospital. Estava num estado pré-comatoso, um défice absoluto de potássio (e de sódio também? - já não me lembro). Ficou internado ainda umas três semanas até repor os níveis. Quando voltou para casa estava melhor mas ainda mais baralhado estava.

Contudo, aos poucos, a coisa foi melhorando. Contratámos uma fisioterapeuta especializada em acidentes neurológicos que fez milagres. Ao fim de um mês já ele se punha de pé. Ao fim de mais um mês já ele andava.

E tem sido isto. Pequenos progressos, de vez em quando retrocessos que quase parecem irreversíveis mas, depois, surpreendentes novos pequenos progressos. Anda sozinho dentro de casa, embora amparado aos móveis, às paredes, vai sozinho à casa de banho, come à mesa. Está bem da cabeça embora de vez em quando tenha uns pequenos vaipes que até dariam vontade de rir se não dessem pena. Mas, fora de casa, só anda amparado a pessoas e com extrema dificuldade, especialmente porque quase não vê e a insegurança tolhe-lhe os movimentos. Continua a fazer fisioterapia mas está, de facto, dependente. Para ele e para a minha mãe isto tem sido terrível e é frequente ele cair num desânimo absoluto mas, enfim, tentamos que não pense nisso e todos tentamos encarar as coisas com espírito positivo. A minha mãe é uma pessoa muito activa e muito alegre e isso ajuda muito. 

Sabemos o que esteve na origem do AVC, deste último (e, com certeza, dos episódios anteriores também): nos dias que o precederam, o coração volta e meia disparava e o meu pai estava ou sem medicação ou com dose reduzida, agora já não me lembro exactamente; o que sei é que não estava a cumprir com as recomendações médicas. Quando o coração bombeia com muita força, arrasta pequenas impurezas depositadas nas paredes interiores das artérias. Embora ele não tivesse colesterol alto, com a idade sempre se depositam algumas gorduras que ficam secas e rígidas. Se o sangue circular a um ritmo normal não há problema. Mas, se houver batidas violentas, o sangue pode arrancá-las e arrastá-las até ao cérebro, obstruindo algumas vias - que aí são mais estreitas - impedindo, pois, a normal circulação sanguínea e a oxigenação do cérebro.

Porque conto eu isto tudo?

Não é para vos maçar, claro que não - é porque acho importante que se conheçam os sintomas dos AVCs, que são variados e nem sempre óbvios, para que se actue logo e não se fique em casa a pensar que pode ser outra coisa, para que se vigie a saúde e se siga a medicação recomendada.


Atitudes voluntaristas podem levar a situações como a que descrevi, de perda significativa e irremediável da qualidade de vida.

Não vale a pena ser-se hipocondríaco, isso também não, isso é outra doença, mas vale a pena ser-se prudente. No fundo, é o que diz o vídeo que o Leitor - a quem muito agradeço - me enviou e que acima divulguei. 

*

Isto saíu-me estupidamente longo e não apenas não vou rever o que escrevi pois passa das 3 da manhã e estou cheia de sono como também não vou (uma vez mais...) conseguir responder aos vossos comentários. Desculpem-me.

As fotografias não têm nada a ver com o que escrevi. Foram feitas este sábado (não está carregadinha aquela minha laranjeira?) e coloquei-as aqui apenas para tentar amenizar um pouco as agruras do texto.

A música lá em cima é Um Nocturno de Chopin (op.9 No.2).

*

Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo domingo.

sábado, dezembro 28, 2013

Edward Snowden e a sua mensagem de Natal alternativa - ou a coragem de um jovem que luta pela liberdade e a quem todos os países livres fecham as portas. [... Porque será? ... Será porque todos fazem parte da tenebrosa teia...? Se até Portugal é um escritório regional, uma célula da CIA e da NASA...]


Depois de nos dois posts abaixo ter mostrado
  •  um trabalho graficamente fantástico de Pedro Miguel Cruz que mostra um curioso ecossistema, revelando a forma como alguns ácaros ou moscas borboleteiam entre o poder governativo e alguns grupos empresariais
 e de, a seguir, ter dado nota de
  • como a imprensa espanhola vê o Portugal arruinado de hoje às mãos das políticas de austeridade, 

aqui, agora, faço questão de deixar registo de um vídeo que já tem alguns dias e que mereceu ampla divulgação: a Mensagem de Natal alternativa de Edward Snowden (alternativa, por piada, à mensagem da Rainha Isabel).


Devo dizer - e já aqui o disse muitas vezes - que a questão da privacidade e da liberdade me são caras. Defendo e defenderei sempre o direito inalienável a elas por parte de todos os cidadãos de bem.

Que alguém - por decisão unílateral, não sancionada, prepotente - ouse violar a correspondência, as conversações, a simples troca de mensagens dos cidadãos anónimos ou de políticos ou de governantes parece-me coisa de uma estultice indesculpável. É o tipo de coisa que me revolve as entranhas e que acho que deveria merecer uma repulsa incondicional por parte de toda a sociedade .

Há valores e princípios dos quais ninguém deveria abrir mão. Nunca - mesmo que se atravessem tempos de guerra como os que vivemos (guerra do sector financeiro desregulado, ganacioson e vil, a todas as camadas desprotegidas da população).

Saber que as agências de informação americanas se deram ao desfrute de espiar toda a gente, de todas as formas possíveis e imaginárias, à margem da legalidade e do escrutínio, e que contaram com a conivência de todas as grandes casas de software, hardware, consultores de informação e sei lá mais quem (Google, Microsoft, Facebook, Skype, Booz Allen, etc), é algo sobre o qual todas as sociedades livres de todo o mundo deveriam exigir consequências.


Contudo, o que acontece é o oposto disso. É que o mais grave é que, ao que parece, o Reino Unido utiliza o mesmo programa (PRISM) e que os países que o não utilizam directamente funcionarão como células regionais da CIA e da NSA. Estou com curiosidade em ver o que o Expresso deste sábado adianta sobre este fétido assunto.

E mais grave ainda: quando o normal é que Edward Snowden fosse visto como um herói por denunciar este esquema de espionagem cibernáutico, estratosférico, cavernoso, maligno, perigoso, tornou-se, em vez disso, um proscrito, alguém a quem ninguém quer receber, como se tivesse sido contagiado pela peste que viu de perto, na qual, inclusivamente, tocou.

Não sei que mundo diabólico e raivoso é este que não acolhe - dando protecção e mostrando agradecimento -  alguém que arrisca a vida para denunciar um mal tão difuso, tão viral, tão perigoso.

O poço infecto em que o mundo parece estar a tornar-se, em que vale tudo e em que todos os valores parecem ter sido virados do avesso, é seguramente um dos aspectos que faço questão em deixar aqui registado no Um Jeito Manso, agora que este malfadado ano de 2013 está quase a chegar ao fim.



*

Relembro: 
descendo um pouco mais há dois outros posts que referem assuntos - deixados em comentário por um Leitor a quem agradeço - que considero dignos de serem vistos.

*

No Ginjal hoje há uma coisa num registo diferente: Os amigos de Luiz Pacheco. 
Sabe-me bem o contacto com a diferença.

*

E, por agora, é isto.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.

(Está de chuva? E daí? Pode ser um bom dia na mesma, ora essa.)




Até já! 

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Um ecossistema político-empresarial, visualização interactiva das relações de membros de Governos de Portugal com empresas e grupos [um trabalho da autoria de Pedro Miguel Cruz, um jovem que se diz 'a non-committed passionate lover of things, people and places']


Depois de no post abaixo dar conta de como a imprensa espanhola vê o milagre económico de Passos Coelho, aqui divulgo o que um Leitor, a quem muito agradeço, deixou num comentário descrevendo-o como serviço público.

Já o vi referido noutros locais mas porque me parece digno de referência, aqui fica também.

Clique, por favor, no link contido no título do trabalho pois é um trabalho feito de uma forma muito curiosa, apelativa e elucidativa.


Um ecossistema político-empresarial 

PORTUGAL 1975-2013.


Visualização interactiva das relações de membros de Governos de Portugal com empresas e grupos (ou a forma como alguns ácaros - de nomes bem conhecidos - pairam em torno de alguns grupos empresariais).


Trata-se de uma aplicação interactiva criada por Pedro Miguel Cruz (Visualization designer, explorer, PhD candidate and free spirit, Coimbra Area, Portugal Ensino superior), cujos trabalhos podem ser vistos no seu site



***

Daqui envio os parabéns ao Pedro Cruz que demonstra ser talentoso e ter sentido de oportunidade. Para além disso tem graça a forma como se apresenta. Pela amostra, penso que pode ir longe. Mas tomara que isso não seja significado de ir para longe de Portugal.

Ruina en Portugal: Portugal es una casa en ruinas que se mantiene en pie gracias al fútbol (assim nos vê o HOY.es)


Agradecendo o link enviado por um Leitor a quem agradeço, aqui deixo bem à vista de todos a porta de entrada para o dito artigo.

É sempre interessante saber como os outros nos vêem. Neste caso ainda é mais interessante saber como vêem o milagre da governação de Passos Coelho.

O artigo do HOY.es é todo ele interessante mas, para os cépticos que precisam de ver uma amostra antes de se decidirem, aqui deixo a transcrição de uma parte.

Alfonso vive en las calles de la capital lusa desde hace quince años.
Con la crisis, ha ganado compañeros


Los cuatro corresponsales de prensa consultados también ven el vaso medio vacío. Hablan de una clase media en peligro de extinción, del «enorme» fraude fiscal, de los problemas para que te atienda un médico en la sanidad pública, previo pago de 5 euros. En las Urgencias te piden 20 nada más entrar. Si no los llevas encima, te los quitan de la cuenta casi antes de que te pregunten dónde te duele.

La Educación no está mejor. El Gobierno ha eliminado cerca de 25.000 plazas, incluidos los docentes que apoyaban a alumnos con problemas. Paulo Domingos, profesor de inglés, está convencido de que «terminarán privatizando la escuela. Todos los pasos van en esa dirección».

(e continua)

Um dia de férias (e, se quiserem adivinhar como foi, acho que não vão acertar )




Quando ando em reuniões, para cima e para baixo e com os dias preenchidos como um ovo, penso - como se fosse uma fantasia distante - nuns diazinhos sem nada que fazer, sossegadinha em casa, estendida no sofá a ler ou a arrumar os meus livros, ou a preguiçar, ou a fazer arrumações.

Pois bem.

Como se só soubéssemos andar no farrobodó, metemos este pós-Natal como dia de férias e... aí vão eles todos para mais um programa de grupo. De manhã, ainda tentei dormir até mais tarde mas ou foi a Sephora a mandar-me sms a anunciar descontos nos perfumes, ou o toque de mails a chegarem ou alguém a tocar à porta, a verdade é que os deuses se uniram para me arrancarem da cama. 

Depois, como se quisesse dar corpo àquela ambição de ficar em casa a fazer de dona de casa aplicada, ainda me deitei a arrumar o sítio onde as crianças tinham feito maior devastação e a arrumar o meu roupeiro mas o tempo passou e logo tive que me apressar porque tínhamos combinado ir todos ao Oceanário. A ideia era ir logo a seguir ao almoço, às duas, para apanhar os mais pequeninos antes de lhes dar o sono da sesta.

Por isso, ala que se faz tarde.

Afinal adoraram, não tiveram sono nenhum, e vibraram de tal maneira que só saímos de lá às cinco.


Os 4 pimentinhas completamente encantados
Tinha ido o carrinho a pensar que ao bebé lhe daria o sono. Mas qual quê? O carrinho serviu foi para transportar os casacos. O bebé quis foi andar a pé, encantado, a rir, a apontar os peixes, dando gritos de alegria, apontando para tudo, uma alegria esfuziante. Mas todos eles andavam maravilhados, os quatro encostados aos vidros, chamando a atenção uns aos outros para a grande raia, os tubarões, as tartarugas, as estrelas do mar, as medusas, os pinguins.

Já lá não ia há algum tempo e, de facto, aquilo é mesmo uma coisa fantástica. O Oceanário é caro que se farta, 16 euros por pessoa (salvo erro a partir dos 4 anos). Felizmente eles desencantam sempre vouchers e, por isso, saíu a metade do preço. Mesmo assim, é pesado. Mas percebe-se que seja caro pois manter uma infraestrutura daquelas requer, certamente, um orçamento que não deve ser brincadeira.



Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia

(de Sophia de Mello Breyner Andresen)


No entanto, apesar do preço elevado, estava cheio: muitos turistas mas, também, muitos portugueses. Se algum dos meus Leitores ainda não o conhece, recomendo vivamente que o venha conhecer. Fica no Parque das Nações, vulgo Expo, num local privilegiado, sobre o rio, com um enquadramento paisagístico muito bem conseguido, onde se fazem belas caminhadas.


Os 4 com a mãe de 2 deles
Mas, ia eu dizendo, que todos nós adorámos, mas as crianças, claro, estavam delirantes. 

Contudo, vocês são grandinhos o suficiente para saberem que não há bela sem senão.

Qual o senão?, perguntarão alguns de vocês.

Senhores...! Grande parte dos corredores é às escuras. Às escuras! A iluminação vem dos aquários gigantes. Claro que isso contribui ainda mais para a beleza mágica daquilo. Mas imaginem o que é andar com quatro pimentinhas que querem correr por todo o lado, que querem ir ver o próximo vidro, subir a um banco, espreitar ali, ver o cavalo marinho ali à frente, e aquilo com imensa gente e tudo às escuras... Estão a ver, não estão?

O bebé e a mana
O meu filho dizia que era melhor montarmos a táctica do quadrado, encurralá-los. Mas como? Se a gente se distraía a olhar para alguma coisa, logo havia um que se esgueirava. Eu prendia pelas golas aquele de quem tivesse sido nomeada responsável para não o deixar fugir, já que me sacudiam se eu lhes tentasse dar a mão. A minha nora dizia que, para a próxima, os levamos presos por correntes e com bolas de ferro para os impedirmos de fugir. De facto.

Isto já para não dizer que ela quis fazer chichi, depois cocó, e depois todos tinham fome, e depois sede (felizmente os pais foram com bolachas e água e pacotinhos de leite), e isto tudo enquanto andavam por tudo o que era canto e esquina.

As fotografias com eles ficaram imprestáveis porque sem flash, eles sem pararem um segundo e eu a ter que lhes prestar atenção, ficou tudo desfocado. As únicas que se salvaram foram algumas dos aquários em si ou as poucas de exterior. Enfim, coisa de somenos.

No final, já todos cansados, passámos por uma área que, segundo me pareceu, era dedicada à reciclagem e à economia de água e energia mas que era uma cozinha à escala infantil, com frigorífico, forno com botões para ligar e que acendiam luz, lava-louças, uma casa de banho de brincar, depois uns jogos com bolas, etc. Quem é que diz que os arrancávamos de lá? Ai senhores, nós já quase de gatas e eles outra vez na maior animação, só a quererem descobrir a função de cada coisa, a mexerem em tudo, a brincarem uns com os outros.


Mãezinha... que tareia... !

É que não é só andar com mil olhos a segui-los, é também pegar-lhes ao colo para verem melhor, é responder a perguntas em catadupa, algumas que requerem uma erudição na ponta da língua, numa altura em que uma pessoa já está com a cabeça esvaída.

Ó Tá, porque é que ele está ali deitado sem se mexer?
  - Está camuflado, não vês que é da mesma cor da rocha? 
Ó Tá, mas porque é que ele está camuflado?

  - É para passar despercebido, para se proteger melhor dos perigos.
Ó Tá, mas onde é que estão os perigos?


 - (...Upsss... onde é que estão os perigos...?) Pois, agora aqui não há, não iam aqui ter peixes que os atacassem, senão já viste...?
Não, o que é que acontecia?

 - ... Sei lá, havia bulha, um ainda comia o outro e depois já não havia alguns para os podermos ver. Mas vá, vamos andando, anda ver aqueles ali à frente.
Mais à frente,
Ó Tá, como é que ele se defendia se fosse atacado?
 - Acho que libertava um líquido que provoca comichão.
Ó Tá, mas não dava choque eléctrico?

 - Acho que não.


As enguias é que dão choque eléctrico, não é Tá?
- Talvez, não me lembro bem se é a enguia ou um outro que é parecido com uma enguia.
Como é que esse se chama?
- Não me lembro. Moreia. Será?
Acho que não, Tá, nunca ouvi falar nesse.
- Vá, daqui a nada já não sabemos onde andam os outros.

E assim sucessivamente. Às escuras. 

Este a querer ver tudo e a fazer mil perguntas e a ficarmos para trás, deixando de ver os outros. Ou, quando os via, dando uma corrida e eu a ter que correr atrás dele, depois de nos zangarmos mil vezes para não fugirem. 

Jesus...! 


Felizmente, no intervalo destes labirintos no fundo do mar, há espaços ao ar livre e aí respirávamos de alívio, até parecia que estávamos de férias.

3 deles com as mães
(O bebé estava com o pai)

A zona das morsas ou dos pinguins foi, para nós, um verdadeiro oásis.

Podíamos ver as crianças e, além disso, já que os motivos de interesse estavam bem identificados, eles ficavam mais focalizados nisso.


Depois ainda fomos lanchar e outra vez chichi, e o bebé a querer pôr e tirar a tampa da garrafa de sumo e depois a querer esconder-se e deitar-se debaixo de uma mesa e já nem sei bem o quê.

No regresso, caíram a dormir, claro. Mas, senhores..., estava um trânsito do caraças porque parece que tinha havido qualquer coisa no IC19 que, qual efeito da borboleta que bate as asas no cu de Judas e dá cabo do clima no Restelo, parece que entupiu os acessos de Lisboa de uma ponta a outra. Resultado: cheguei a casa às seis ou depois, nem sei, já de noite.

Quando cheguei a casa, atirei-me logo às minhas arrumaçõezitas, para ver se cumpria o tal desiderato. 

Desta vez, estive a arrumar papelada, junta-se-me papelada que não acaba, senhores, é dentro de carteiras é por todo o lado, credo, eu sei lá como, coisas para ver o que é para deitar fora, coisas para arrumar e, também, depois, organizar os montes de livros que tenho à minha volta aqui na mesa onde escrevo que a coisa estava caótica e periclitante. De organizar livros eu gosto, gosto de lhes pegar, de os rever, de lhes espreitar as entranhas. Ficou um monte para os de poesia que acabaram por ser três montes, outros três para a prosa lusófona, mais dois para os de língua estrangeira, mais um para livros de fotografia ou pintura (e um ou outro de arquitectura ou escultura).

Estes são os que ainda não li completamente ou de todo, nem estão catalogados (o meu marido anda em greve, diz que eu abuso), e que vou lendo, que gosto de ter aqui à minha beira. No momento em que forem para outro lado, receio perder-me deles, como se fossem meninos num recinto imenso, labiríntico, escuro.

Estou, pois, entrincheirada no recanto livre que aqui vêem. É assim que gosto de estar. Já para não dizer que a mesa está ela própria bem guardada, rodeada por estantes.

Resultado: um dia de férias sem um minuto de descanso. E agora, que já passa das duas da manhã, ainda aqui estou. Ai, credo, que maluqueira. Acho que já não sei estar descansada, é o que é. 

Mas fico com o coração cheio, feliz, feliz da vida. E o que a gente se diverte...? Haviam de nos ver. Os miúdos são muito bem dispostos, brincalhões, estão sempre a fazer-nos rir. Dão uma trabalheira mas, ao mesmo tempo, tiram-nos anos de cima.

*

E, por falar em oceanário e em mar, para dar a isto um toque de mais qualquer coisa, aqui vos deixo Andrea Bocelli e Dulce Pontes interpretando O mar e tu


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Lá em cima, para ver se trazia para aqui a magia do fundo do mar, a música era Sirènes de Claude Debussy.


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A ver se amanhã consigo tempo para responder aos comentários.

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E, se me permitirem, ainda gostaria de vos convidar a virem até ao meu Ginjal e Lisboa onde hoje tenho Ana Luísa Amaral por ela mesma e por outros. E, por lá, as minhas palavras falam, justamente, de poetas, esses seres especiais.

*

E pronto. Por agora é isto.
Tenham, meus Caros Leitores, uma bela sexta feira! 
Já agora: se puderem divirtam-se, está bem? É bom.