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sábado, maio 21, 2022

No fim de mais um dia daqueles, apesar da noite não estar estrelada foi-me oferecido de bandeja um grande discurso

 


Por razões que não vêm ao caso tenho dormido muito pouco. Por umas razões ou por outras, tenho sido forçada a acordar cedo demais, não conseguindo dormir os mínimos dos mínimos. E se antes encaixava bem noites seguidas com poucas horas de sono agora já me custa.

Acresce que os dias têm sido longos demais. Longos, cansativos, stressantes. Esta sexta, por exemplo, começou cedo com um telefonema complicado. Acabou o telefonema e fiquei incomodada. Tentei digerir mas não descia. Liguei de volta para dizer de minha justiça. Não consigo processar incómodos sem soltar os cachorros. Está-me na massa do sangue. E foi uma hora de discussão acesa. Há momentos em que há que encontrar o devido equilíbrio entre ser-se contemporizadora e ter a mão pesada. Eu tendo para a mão pesada pois não creio que faça sentido ser de outra maneira para quem não é leal nem se esforça por ser competente. Ele acha que é preferível tê-los por perto do que afugentá-los e deixá-los à solta a fazer não se sabe o quê. Mas estou cansada e sem paciência para paninhos quentes, para jogos de espelhos.

Mas, enfim, é o que é. 

Por vezes penso na dificuldade que tenho quando os miúdos me perguntam: 'Mas fazes exactamente o quê?'

O que faço é isto. Tomar decisões que nem sempre agradam a todos, questionar quem preferia não ser questionado, não satisfazer as vontades de todos, puxar por quem preferia estar quieto, mandar estar quieto a quem faz o que não deve, tentar que se entendam alguns que não podem nem ver-se. Coisas assim.

Por isso, chego a esta hora e estou off ou quase. 

Hoje, depois de almoço, não tendo nenhuma reunião agendada para a próxima hora, reclinei-me. E adormeci instantaneamente. Infelizmente logo tocou o telefone. Há bocado, aqui no sofá, estava a ver as notícias quando senti que não aguentava. Encostei a cabeça para trás e pimba. Não estaria completamente anestesiada pois estava a ouvir vozes familiares. Mas não conseguia processar a quem pertenciam nem abrir os olhos para tentar esclarecer. Só passado um bocado consegui sentar-me melhor e ver o que se passava. O Masterchef Australia. Não sabia que estava a dar nem faço ideia em que episódio vai. Pena não ter acompanhado de início.

Agora, mais ou menos acordada, estou a ver o Pantanal. Não vi da primeira vez, não sei porquê. Fui ver quando foi e vi que foi em 1990. Eram os meus filhos pequenos. Desses tempos lembro-me é da minha labuta para acompanhá-los o melhor possível apesar do tanto trabalho que tinha, apesar das filas de trânsito, apesar da labuta que me trazia numa correria. Provavelmente à noite, depois de os pôr a dormir, depois de arrumar a casa e preparar as coisas para o dia seguinte, já não me sobrava tempo para telenovelas. Se calhar só para ler um bocado. Não sei.

Antes de jantar, fui dar uma volta no jardim. Agora nem isso tenho podido. Reparei que uns vasos estavam quase secos. Não sei como fui esquecer-me de os regar. Deu-me uma inquietação de verdade. Uns arbustos que escolhi e plantei e tratei com tanto cuidado e fui esquecer-me de os regar. Parece que estava fiada nas pingas de chuva que de vez em quando haveriam de cair. Mas tem estado tanto calor e chuva nenhuma. Fui logo a correr encher o regador, uma e outra vez. Mas não sei. Nem quero pensar. Olhava para os pequenos arbustos, antes tão viçosos e agora ressequidos, uns se calhar já sem recuperação. Como foi isto de me esquecer...?

O tempo não me chega para todas as obrigações. Mas regar os vasos é daquelas que não podia ter-me esquecido -- e esqueci.

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Estive há pouco a ver o que o YouTube tinha para me sugerir e só posso tirar o chapéu às mentes brilhantes que concebem o algoritmo que o movimenta. Já é inteligência artificial (IA) e eu, que tanto me preocupo com os riscos da IA neste mundo ainda tão desregulado no que a isto diz respeito, afinal sou consumidora de produtos que me são dados a comer por um algoritmo. Ele mostra-me o que 'acha' que eu gosto e não me mostra o que 'acha' que eu não gosto. E acerta bastante no que eu gosto. Mas não sei se, mesmo que na melhor das boas intenções, a de me agradar, não me oculta muito do que se calhar eu gostaria de conhecer. Mas, enfim, é um produto que uso gratuitamente e, por isso, não posso esquecer-me de que quando consumo um produto que não pago é porque o produto sou eu. Portanto, adiante.

Estava eu dizendo que estava a ver o youtube e apareceu-me um excerto do fantástico O Grande Ditador. Como o que é bom é para ser partilhado, aqui o deixo convosco.

Charles Chaplin - O Grande Ditador - Discurso final

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Ilustrações de Alireza Karimi Moghaddam (que vive em Lisboa) sobre a vida e obra de Vincent van Gogh 

na companhia de Don McLean com Vincent (Starry Starry Night)

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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Alegria. Serenidade. Paz.

segunda-feira, junho 07, 2021

Um domingo feliz com História e outras histórias dentro

 


O dia hoje foi perfeito. A tarde maravilhosa e nós envoltos em verde e harmonia. A minha filha trouxe merendinhas, um bolo de noz e revistas para eu me sentir em férias. Toda a vida, quando íamos de férias para algum lado, em especial para o Algarve, eu comprava uma revista, podia até ser a Caras, a Hola. Parecia que as férias tinham que ser uma disrupção, um corte com a rotina. Estar em férias, sem ralações, sempre me pareceu que pedia uma daquelas revistas que eu jamais compraria. Portanto, comprava. E gostava de ver aquelas coisas surpreendentes.

Então, trouxe-me revistas. E eu fiquei comovida com aquilo de que ela foi lembrar-se. O meu marido também. Tenho-me comovido bastante nestes últimos dias. E o meu marido também.

Um dia talvez conte.

O meu filho trouxe croissants, cada um com seu recheio. Bons, bons, bons. Acho que são de uma cadeia de pastelarias muito conhecida. Como geralmente ando por fora das novidades, desconhecia. Adorei. Brie com compota de frutos vermelhos. Requeijão e nozes. Maçã e canela. Claro que, de cada, só um pouquinho. O que sobrou, guardámos e, ao jantar, comi mais um bocadinho. Uma delícia.

Como geralmente acontece, a minha filha maquilhou a sobrinha e a sobrinha maquilhou a tia. Depois a minha menina mais querida maquilhou-me também a mim e também me pintou as unhas. Está cada vez mais linda, mais coquette. Uma menina linda, adorável. No outro dia, enviou-me uma mensagem que me deixou de lágrimas nos olhos.

A mãe pintou as suas próprias unhas e foi avisada que, da minha parte, não vai ter aquilo que me disse que talvez gostasse de ter pelos anos. Riu-se e disse: 'Está bem'. Uma vez mais ousei e, uma vez mais, faço figas para que goste do que, daqui por pouco tempo, vai receber. 

E conversámos. Conversa de mulheres, enquanto os rapazes andavam nos seus desportos de eleição. Levámos as cadeiras para o que ainda havia de sol, e estivemos à conversa. Falámos de nós, falámos de outras pessoas e outras situações. Conversar é uma coisa boa.

Este fim de semana não deu para ir buscar a minha mãe mas a minha filha enviou-lhe fotografias e depois ligou-lhe e ouvi que ela também ligou para o neto, qualquer coisa a ver com senhas de recuperação, dúvidas lá das andanças dela pelas netes.

O mais pequeno, menino mais querido, andou a brincar com os seus carrinhos, a pôr e transportar terra. Depois andou a regar as flores e as árvores. Não resisti e abracei-o e beijei-o no pescoço. Avisou-me: olha que estou sem máscara... Tranquilizei-o: Mas por isso é que te abraço pelas costas e dou beijinho na parte de trás do pescoço.

Quando estava a ir-se embora, fui dar-lhe a mão, chegar-me a ele. O meu filho avisou: olha que ele está cheio de covides. Anda no colégio, naquela idade ninguém usa máscara na escola, portanto é daquelas que ninguém sabe. Ele acrescentou: E ainda não levei a vacina... Menino mais inteligente, sabe tudo como se fosse um rapaz crescido.

Os outros rapazes estiveram a jogar rugby com o tio. Ou futebol, nem sei. Ou as duas coisas. Jogam afincadamente, caem, fintam-se, transpiram, sujam-se. Mas vê-se a alegria que aquilo é para eles. Tirei-lhes fotografias, feliz por vê-los tão felizes.

Enquanto lanchávamos, os dois meninos do meio, o menino que fez dez anos e a menina que vai fazer onze, começaram ao despique com coisas de História. Depois desataram a fazer perguntas a mim e ao avô. Falhámos várias. Sabem imenso daquilo. Fiquei surpreendida. O meu filho confessou que foi coisa que não lhe entrou, história. Também sempre foi dos meus pontos mais fracos. Tive maus professores de história e com a aversão que sempre tive a decorar coisas, acabei por me desinteressar. Por isso, é com espanto, agrado e orgulho que constato como estes dois sabem e gostam tanto.

Os outros dois rapazes, o mais velho, o que não tarda terá treze e a quem já se nota o buço, e o mano do meio do grupo de três, o que tem oito, têm outra especialidade: o futebol. Sabem tudo o que há para saber, nomeadamente o nome de todos os jogadores e respectivas posições, seja de onde for. Saint Germain, Lyon. Sei lá. Estava parva a ouvi-los. Não faço ideia de como sabem tudo aquilo. Começam: à baliza...E vão por ali fora, desfiando posições e nomes. O meu filho gozou: useless knowledge. Mas a verdade é que eles vibram com aquela informação. O mais velho disse que também está sempre a ver o site das contratações. Fiquei estupefacta. Site de contratações? Mas há um site sobre contratações? Há assim tanta matéria...? E porque é que ele gosta de acompanhar isso? Não faço ideia. O mundo é um belo exemplo daquele espaço topológico que dá pelo nome de bola aberta. Uma realidade infinita, de formas indefinidas, variáveis.

Depois o grupo do meu filho foi para casa, o meu marido quis ir ver o futebol e a minha filha ainda me deu uma boleia para um breve passeio até à praia, o mais velho a ouvir o relato pelo telemóvel. E, então, o mais novo, o menino mais desportivo, aquele que sempre vimos como o mais physical mas que sempre se sai com coisas surpreendentes, começou a fazer perguntas sobre Pablo Picasso. E sobre da Vinci. Disse que gostaria de ver a Mona Lisa ao vivo. E depois sobre Van Gogh. A mãe admirada: mas onde é que ouviste falar nele? Encolheu os ombros. E eu, então, ainda mais admirada. Depois falou de uma pintura com uma noite com muitas estrelas. A mãe boquiaberta. Mas como é que tu sabes disso? Ele não explicou. Mostrei-lhe no telemóvel se era aquela. Era mesmo. Então lembrei-me de lhes dar a conhecer o Vincent (Starry, starry night). Ficaram a ouvir, ambos zen, no banco de trás, pareciam hipnotizados a ver o vídeo em que iam passando imagens das pinturas de Van Gogh. A minha filha disse que, por pouco, eu não os tinha adormecido. E sugeriu que hoje aqui pusesse esta música. 

Gostava de me meter no carro e ir com eles visitar museus, mostrar-lhes, ao vivo, todas estas pinturas. Holanda, Paris, Madrid. Acho que iriam adorar. 


E, pronto, foi este o meu dia de domingo. A realidade do dia anterior já longínqua, improvável. E eu a pensar que por cada dia feliz que alguém vive há uns quantos dias infelizes para outros alguéns. A vida devora a vida. Tendemos a querer esquecer o que não são boas recordações. 

Quando, no outro dia, eu e o meu filho estávamos lá à porta, enquanto o meu marido não chegava com o carro para me levar, nós íamos falando e, ao pé de nós, uma jovem mulher falava ao telefone, chorando, inconsolável. Falava e chorava e a sua voz denunciava aflição, angústia, medo. Afastámo-nos um pouco, o meu filho querendo proteger-me da dureza que é a constatação, a cru, das mais dolorosas emoções. Mas poderemos alguma vez proteger-nos disso? Conseguiremos aprender que tudo faz parte da vida? 

Alguém pinta a luz e o ouro que banha os campos e as flores e a vida: uma jarra de girassóis, um campo de lírios, uma árvore em flor, uma planície ensolarada. E, do outro lado, uma pessoa angustiada, deprimida, automutilando-se -- a mesma pessoa. Os dois lados da vida. As múltiplas faces da vida. As nossas múltiplas faces.


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Desejo-vos uma boa semana 

quinta-feira, julho 25, 2019

Sharon Stone, a bela e sexy mulher que teve o desplante de não morrer nova






Há algum tempo recebi a visita de uma ex-colega que não via há algum tempo. Quase tive um choque. Mantinha a mesma maneira de se pentear e de se vestir mas tinha engordado, o rosto tinha papos por todo o lado, a pele estava baça e disfarçada com base, num colorido artificial. O cabelo estava também sem vida apesar do tom avivado. No conjunto, estava uma caricatura do que tinha sido.

Quando uma outra colega entrou na sala em que estávamos, não a reconheceu. Tive que fazer de conta que ela estava distraída: 'Então, sempre acelerada, nem repara na Drª Ana que aqui veio visitar-nos...?'. Pela reacção, quase um sobressalto, percebi que estava a ter a mesma involuntária impressão. Ao fim do dia, quando pude comentar com esta última, ainda não me tinha restabelecido: 'Já viu como ela está...? Tive que me esforçar para não deixar transparecer a surpresa que estava a sentir'. E ela: 'Nem me diga nada... tive que disfarçar...' E eu: 'Mas o que é? Está mais gorda...? Viu os papos? Quase parece desfigurada...' E ela: 'O que é? É simples: são 10 anos a mais. E acha que nós estamos iguais ao que éramos há dez anos...?' Acho que já não respondi. Devo ter ficado apreensiva, senão mesmo um bocado triste.

Tendo trabalhado em várias empresas e passado por fusões e cisões, tem sido frequente perder de vista muitas pessoas e, passados alguns anos, calhar a encontrá-las. E há uma interjeição recorrente quando me vêem: 'Ah... mas está igual...' ao que geralmente respondo: 'Olhe que não, olhe que não... capaz é de estar a precisar de óculos, não...?'. Racional como sou, não me deixo levar pois, a ser verdade, ainda estava com cara de dez anos.

Creio que já contei que, num dos últimos enterros a que fui, dei de caras com um homem que conheci na minha infância. Ele estava com uma mulher que não reconheci como sendo a mulher dele até porque estava certa de que ela tinha morrido. 'Não me estás a conhecer, pois não...?', disse-me ele. E eu, atónita, a achar que não podia ser, o senhor não podia estar quase igual ao que era umas décadas atrás, apenas um bocado mais velho. Não arrisquei: 'Acho que sim, que conheço mas não estou bem a ver quem...', até porque tinha até ideia de a minha mãe, em tempos, me ter dito que o senhor também tinha morrido. Então ele disse-me o nome e eu só não me deixei cair para trás porque já aprendi a disfarçar quando levo um murro no estômago. Era o meu grande e insubstituível amigo, o meu primeiro amor, minha companhia de brincadeiras e longas conversas -- até ter ido cada um para seu lado. Fiquei sem acção. E ele: 'Pois eu conheci-te logo, estás igual, o mesmo sorriso.' E eu muda, provavelmente o mesmo sorriso pasmado no rosto. Depois apresentou a senhora, era a mulher. E ela disse: 'Toda a vida ouvi falar de si'. E eu, em estado de estupor catatónico, incapaz de retribuir a simpatia. Só me ocorria que a senhora parecia capaz de ser minha mãe, que não podia ser a mulher do meu amigo de infância e que ele não podia estar transformado naquele homem enorme, encorpado, ar pesado e olhar triste. Quando comentei com a minha mãe, ela contou-me que ele tinha saído do banco onde tinha um cargo dirigente, tinha tido uma depressão, vivia agora toda a semana numa quinta, que estava transformado num homem do campo. Ao fim de semana, vinha à cidade ou a mulher ia ter com ele ao campo. E senti alguma tristeza. Já aqui falei muitas vezes desse meu grande amigo. Sempre foi reservado, tímido. De uma inteligência invulgar, chegou a receber o prémio do melhor aluno do país, coisa que soube pelos meus pais e não por ele. Eu era então provocadora, gostava de fazê-lo sofrer, fingia que não gostava dele, fingia que preferia os outros meninos, desafiava-o para fazer coisas que ele não gostava de fazer mas que se sentia compelido para não me contrariar. Mas, na verdade, eu não conseguia passar sem ele. Andávamos sempre juntos. Eu conversava, sonhava alto, fazia-o viajar nas minhas palavras e ele, calado, sorridente, nunca me contrariava. Nunca, nunca. Tinha uma paciência incrível e eu, embora nunca lhe dissesse, sentia-me agradecida por poder contar com ele.

Não suportou o peso da vida na cidade e a sede daquele grande banco que fervilhava com centenas de pessoas, aquele ambiente, aquela pressão, foram-lhe insuportáveis. Aguentou talvez uns trinta anos e depois refugiou-se no campo.

Mas isto para dizer que o tempo passa inexoravelmente sobre nós. Sorte a de quem lhe sobrevive.

Quando aqueles que achamos muito belos morrem na flor da idade, lamentamos muito e guardamos deles a imagem da sua eterna juventude. Habitam a nossa memória (e agora habitam também o infinito repositório da net), cristalizados, iguais ao que eram quando a sua beleza impressionava quem os via.

Claro que agora aquela app que, através da inteligência artificial, não apenas fica com um manancial de inumeráveis rostos como simula como ficam as pessoas quando envelhecerem, conseguimos ver como seriam hoje aqueles que, em tempos, cativavam o mundo com a sua radiosa beleza. Os próprios fazerem isso é uma coisa, cada um decide por si. Ou fazer isto com pessoas que estão vivas também é como o outro. Agora, quando fazem isso com quem já morreu, sinto que é preciso ingratidão e maldade para querer ver como teriam sido frágeis e decadentes aqueles que se evadiram da lei da vida sem que o mundo as visse a perecer.

E eu, ao olhar o belo rosto de Sharon Stone, que está viva e bem viva, e ao ver como as pálpebras tombam e o cabelo embranquece e como o seu corpo tentador hoje se encobre para lamentar o afastamento a que se viu votada, sinto pena -- o tempo é ingrato e mau. Ou não é o tempo, são as pessoas. Ingratas e más. E, no entanto, que bonita que ela é e que bem que está e que sorte teve ao escapar, sem sequelas, a esse inferno que é um maldito AVC. E que solidariedade, cá muito minha, sinto ao pensar no que ela deve ter sofrido ao ver-se sem falar, sem andar, totalmente dependente, a ter que reaprender tudo, a força necessária, a coragem, a superação do medo e do desgosto. Tão difícil tudo.
Penso no meu pai. Tão bem que estava, tão saudável, tão orgulhoso que sempre foi e, no entanto, um dia viu-se inerte, apenas com metade do campo de visão, sem orientação, sem força num braço, sem andar, de fraldas, a ter que ser alimentado à boca, a ter que ser lavado, a ter que depender de outros para tudo.
Felizmente ela conseguiu ultrapassar tudo: está bem, saudável, inteira.


Mas queixa-se que a esqueceram, que deixaram de lhe dar trabalho. O cinema queria-a como mulher sensual, maliciosa, enérgica, intimidantemente tentadora, não como uma mulher de meia idade que, em tempos, foi isso tudo e que agora perdeu o viço. Como deve ter sido difícil para ela esforçar-se por recuperar, sentir que estava de novo a reconquistar a plenitude das suas facultadas e, ainda assim, sentir-se rejeitada. Uma coisa horrível.

Quando agora fiz anos perguntei aos meninos se sabiam quantos anos eu tinha feito. Não sabiam, atiravam números à sorte, uns para cima, outros para baixo, e eu esclarecia-os dizendo que tinha cem anos. Desatavam a rir, que era impossível. E eu, muito séria, dizia que era mesmo. Cem anos. Riam, perguntavam aos pais. Mas eu, no meu íntimo, antecipava o prazer de viver cem anos e ainda estar para as curvas, com vontade de brincar e de rir, com vontade de seduzir, de provocar, com vontade de me pôr a caminho.


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A segunda vida de Sharon Stone


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Isabella Rossellini, Jack Nicholson e Jennifer Lawrence aparecem aqui sob o efeito de uma outra app, desta feita uma que converte as pessoas em pinturas de antanho. Por acaso, se não me importasse de oferecer o meu rosto a estranhos, gostava de me ver nesta.

A Lady Di, a Marilyn Monroe, o Brad Pitt, o Putin, o Trump, o Zuckerberg e outro que não sei quem é foram envelhecidos pela FaceApp e nesta é que eu não me meto. Livra.

A Sharon Stone, na fotografia, está como é agora e como era antes, sem inteligência artificial à mistura. 

Crossroads pelo Don McLean, que eu não conhecia e que é tão bonita, está aqui porque estou a gostar imenso de ouvir. Acho-a triste, triste, mas não consigo deixar de ouvir.

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Tenho andado a tentar reavivar o meu Ginjal e Lisboa, a love affair pelo que, se estiverem para aí virados, serão muito bem vindos nesse meu lugar à beira Tejo plantado. Hoje tenho: E o seu nome seja o seu próprio pudor sobre poema de António Ramos Rosa ao som de Divna Ljubojević. E eu gostava muito que gostassem de lá estar. 

[E desculpem por, nos últimos dias, não ter respondido a comentários ou mails mas, acreditem, o meu tempo não dá para mais. Hoje respondi, ou melhor, coloquei uma pergunta porque era um único comentário e a minha pergunta era simples. Mas leio sempre (e fico sempre com um sentimento de culpa por achar que parece pouco educado por não retribuir a simpatia de quem por aqui passa mas ponho-me a escrever posts e quando dou por ela são quase horas de me levantar)]


domingo, outubro 07, 2018

Flores, cristais e obras de arte que dá pena comer





Há uns meses fui a uma nutricionista. Fez-me um interrogatório que me obrigou a fazer uma regressão, não até eu ser outra, numa outra encarnação, mas até à saúde de pais e avós ou até a problemas de saúde de que já não tinha registo na memória activa. Viu-me as orelhas, a língua, os olhos, as unhas. Pesou-me, mediu-me. Depois mostrou-me esquemas científicos para me explicar algumas conclusões e, no fim, prescreveu o regime. Aconselhou-me que caminhasse mais, que dormisse mais, que abolisse açúcares e grande parte dos hidratos de carbono, produtos lácteos, pão de trigo, vinho, e que, por outro lado, introduzisse ou reforçasse um conjunto de alimentos tais como beterraba, alface e rúcula. E, é verdade!, para meu desgosto, que não comesse tanta fruta. E etc.

Levei à risca durante um ou dois meses. Perdi seis quilos e reduzi, creio eu, uns dez centímetros no perímetro abdominal. Fiquei toda feliz. Blusas e calças justinhas de volta, toda eu me senti recompensada.

Mas, hélas, não nasci para ser obediente, bem comportada, sofredora. Não gosto de resistir às tentações. Portanto, aos poucos, fui voltando a um ou outro bocadinho de pão (descobri o de espelta e matcha que é uma delícia), ao queijo (e cada vez gosto mais de queijo), ao vinho (ainda hoje, um Burmester branco geladinho a acompanhar a caldeirada), risotto, pizza, fruta em larga escala, etc, etc... e, também, uma ou outra sobremesa.

Mas não abuso. Não sou do estilo de 'enfardar'. Mas petisco. Só que petisco aqui, petisco ali... e os quilos já devem estar todos de volta e os centímetros idem. Não me tenho pesado para não ficar frustrada. Todos os dias penso que, no dia em que me encher de motivação, ponho de novo o travão às quatro rodas e volto à figurinha mais a preceito. Mas esse dia ainda não chegou. Talvez quando os figos se acabarem.

A verdade é que também não sou do género de, ao pequeno almoço comer croissant a transbordar de gordura,  a meio da manhã um paltel de nata e a meio da tarde uma bola de berlim.  Doces só à sobremesa e, mesmo assim, não gosto de doces muito açucarados, nem gosto de muito de cremes gordos e doces como o chantilly ou o creme pasteleiro. Gosto de laranja com casca caramelizada por cima, gosto de gelatina com frutas por dentro, gosto de tarte de limão merengada, gosto de clafoutis de maçã, gosto de ananás caramelizado com raspinhas de lima, gosto de pão de ló de Alfazeirão, gosto de sopa fria de papaia. Coisas assim. 

E também me deixo impressionar pela arte ao serviço da doçaria. Já aqui o referi: até não há muito, não se viam em Portugal bolos 'artísticos'. Quando noutros países, eu ficava encantada a ver as montras de algumas pastelarias. Obras de arte.

Agora por cá já começa a ver-se e, sobretudo, começaram a aparecer pessoas que os fazem em casa vendendo a amigos e conhecidos. Do que percebo, o facebook é o grande veículo para este tipo de actividade.

Contudo, não tenho conhecimento de que tenhamos por cá artistas como os que aqui, no blog, já tenho referido. E hoje refiro outra pasteleira cuja arte na confecção de bolos é extraordinária. Leslie Vigil inspira-se, sobretudo, em flores. E o resultado é fantástico. Claro que dará pena comer aquelas flores tão bonitas e, lá está, nem sei se não serão de massapão muito doce ou de creme de manteiga, coisa de fazer engordar uma tonelada, mas, enfim, só de ver já a gente fica feliz. E ser feliz é coisa apetitosa. 

Bon appétit.


Este até parece um bouquet de noiva.

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E, justamente, porque estou numa de 'eu é mais bolos', permitam que vos convide a espreitar os fantásticos outfits que a FLOTUS usou na visita a solo onde deixou todos de cara à banda.

domingo, janeiro 21, 2018

A matemática de uma certa noite estrelada





Apenas um pequeno a-propósito:

No outro dia, ao ligar-me o meu filho, apareceu-me ao telefone o menino que tem cinco anos. Disparou: 'Tens um livro do Van Gogh?'. Levei uns segundos a processar. Depois respondi: 'Acho que sim. Mas para que é?' Respondeu-me: 'Para um projecto'. E disse-o com tal naturalidade que contive a vontade de rir. Disse-lhe que iria procurar, que não sabia era se estava na cidade, se na quinta. 

Entretanto, não descobria o livro. Vários outros, sim. Um sobre a semana turbulenta de Van Gogh e Gauguin, outro sobre Theo e Vincent. Depois referência em vários livros de arte. Mas o livro que tinha de cabeça não encontrei.

Relatei a conversa à minha mãe. Diz-me ela: Tu ofereceste-me um livro sobre Van Gogh, grande, da Taschen. Já lá fui, já cá o tenho. Portanto, da parte que me dizia respeito, a missão do Van Gogh está cumprida. 

E estou curiosa sobre o projecto. Quando souber alguma coisa conto.


Entretanto, adivinhando os meus pensamentos, eis que o algoritmo do youtube, certamente sabendo também da minha queda pela matemática, me propõe um vídeo com um tema algo imprevisto: A inesperada matemática por detrás da Noite Estrelada de van Gogh.

Estive a ver, interessada. 

O mundo é um espaço físico e temporal cheio de mistérios e fascínios. Tempos houve em que me entusiasmava ao tentar desvendar alguns e perceber as suas inter-relações. Hoje já não muito. Hoje interesso-me sobretudo por saber que há tantas, tantas, tantas coisas que nunca vou saber -- e que ainda bem que assim é senão a minha cabeça estourava e o mundo deixava de ter graça. 

Cada um de nós tem uma vida finita preenchida por pequenas coias. Podemos achar que somos únicos. Ou que temos pouca sorte. Ou muita sorte. Ou que há coisas que só nos acontecem a nós. Engano. Somos seres insignificantes, frageis, perecíveis, todos idênticos entre nós -- e estamos de passagem.


A maior parte de nós jamais descobre o que quer que seja, jamais deixa marca relevante para o que quer que seja. Apenas quando observados numa série longa se percebe que, de vez em quando, alguns deixam pequenos contributos para os que vêm a seguir. Uns por acaso, outros por muito se esforçarem, outros por mero engano. Acontece, simplesmente. Por exemplo, uns, tresloucademente, pegam num pincel e andam com ele em volta, captando a turbulência com que a sua mente vê o céu estrelado, outros inventam fórmulas matemáticas que se adaptam ao que outros pensam sobre a turbulência da luz. Depois há quem, um dia, consiga ver a relação entre esses eventos e tudo parece fazer sentido. Engano, também. O que é 'tudo'? 'Tudo' é coisa que não existe. 

Haverá, depois, os estudiosos que acham que 'tudo' é um breve passo para atingir o desconhecido. Ou os cépticos que acreditam que nada se sabe, que nada interessa. Ou os diletantes, que com tudo se deleitam, que desenham interrogações onde os outros dormem sobre certezas, apenas pelo prazer da arte e da estética do conhecimento elegante.

Mas, vendo bem, de facto, não se percebe para que é que coisas assim contribuem para o futuro e para o bem da humanidade. Por mim, é com serenidade que interiorizei que não devo tentar perceber tudo.  A explicação do mundo é, para mim, tema que me interessa cada vez menos. Tranquila com as minhas limitações, a mim basta-me semicerrar os olhos e apreciar a beleza de uma pintura, sentir a harmonia de uma bela melodia, apreciar a delicadeza suprema de uma expressão matemática escrita num momento de inspiração.


Mas, enfim.

Transcrevo o texto que acompanha o vídeo que o YouTube me propôs: 
Physicist Werner Heisenberg said, “When I meet God, I am going to ask him two questions: why relativity? And why turbulence? I really believe he will have an answer for the first.” As difficult as turbulence is to understand mathematically, we can use art to depict the way it looks. Natalya St. Clair illustrates how Van Gogh captured this deep mystery of movement, fluid and light in his work. 
Lesson by Natalya St. Clair, animation by Avi Ofer.


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Entretanto, vou coser uma meia e temperar a carne para amanhã e pode ser que ainda volte falar de outras cenas.

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terça-feira, maio 09, 2017

Acho que hoje, por aqui, a noite não está estrelada, Vincent


Leio que Vincent Van Gogh não estava certo da sua arte e que, de cada vez que pintava uma coisa, achava que era um fracasso.

Tal aconteceu também com The Starry Night. Achou que era obra sem préstimo. 




Consta que, de facto, apenas vendeu um único quadro enquanto vivia. E se era um pintor prolixo. Apesar de apenas ter pintado durante dez anos (entre os 27 e os 37 que tinha quando se suicidou), deixou cerca de 900 pinturas e mais um monte de desenhos e esboços, num total de cerca de 2.000 trabalhos.

Igualmente prolixo a escrever, foram também da mesma ordem de grandeza as cartas que escreveu, nomeadamente ao seu bom irmão Theo. Nas cartas ou postais, por vezes fazia o esboço do que estava a pintar e escrevia sobre isso.


Lendo sobre isso e vendo as suas cartas e constatando a prolixidade, fez-me lembrar a Gina G. que também fotografa, cria e escreve e descreve. E não venham os puristas dizer-me que a Gina está a milhas do Vincent porque não sei, não -- e, de resto, acho que a vida não tem que ser um pódio nem sequer há uma única escala. Gosto imenso de ver a torrente criativa das palavras da genuína Gina, das suas fotografias tantas vezes surpreendentes. Tudo lhe é motivo, tudo ela transforma em algo que, depois, partilha com o mundo. E é sempre uma surpresa e uma graça (mesmo quando há alguma sombra a toldar-lhe os dias).



Na altura, também havia muito quem achasse que o que Vincent não tinha a ver com nada. Ainda hoje o que não devem faltar são pessoas que, perante uma 'noite estrelada' ou uma jarra com girassóis, pensam: 'Tretas, como se eu não fosse capaz de fazer igual. Não, igual não... Qual igual...? Melhor, muito melhor'


A vida muda a perspectiva segundo a qual observamos o mundo. 

Lembro-me de, em tempos, uma prima me ter recomendado uma exposição da Paula Rego e de eu, com inabalável convicção, lhe ter dito que nem pensar, que não gostava nem um pouco da obra de tal pessoa. Hoje acho-a extraordinária.


Identicamente lembro-me de, numa outra vida, ter ido ver uma exposição de Miró e de ter vindo de lá desconcertada. Nada daquilo parecia fazer-me sentido. Tempos houve em que eu procurava o sentido de tudo e, não o encontrando, rejeitava-o. A vida tem vindo a ensinar-me que o sentido das coisas não tem que ser percepcionado para que as coisas nos emocionem. Agora gosto imenso de Miró. E gosto especialmente se olhar para as suas pinturas sem tentar reconhecer o que quer que seja. Acho que há uma elegância intrínseca, uma leveza, uma harmonia cromática e espacial. E uma simplicidade que afasta pretensas explicações.


Não será exactamente pelos mesmos motivos que gosto de Miró e de Paula Rego. Na Paula Rego é outra coisa, aí penso ser a afinidade -- e o grão de loucura, o agudo sentido de observação, a ironia, o desprendimento em relação à opinião alheia.

Igualmente era completamente insensível em relação à pintura renascentista. Nos museus passava por essas salas sem me deter nem um minuto. Agora, não que seja de minha predilecção ou que lhe seja particularmente sensível, mas já olho, já tento encontrar alguma estética que, de alguma forma, chegue até mim.  No entanto, ainda não cheguei completamente lá. Tudo o que me pareça querer ser fiel à realidade me maça. Se algum ângulo de visão ou alguma figura é imprevista ou parece deslocada no contexto, então já talvez me desperte interesse. Procuro o que é incomum, desconhecido, incompreensível. Procuro o que não existe a não ser ali.

Parte de O Juízo Final - Fra Angelico
(E desta parte eu que gosto bastante)

Somos diferentes uns dos outros e somos diferentes ao longo das nossas idades. O meu gosto tem vindo a evoluir no sentido do despojamento, do silêncio.

Rothko, claro. Mas muitos outros. Contudo, quando penso na atracção pela pintura do nada e do silêncio, é em Rothko que logo penso.


No entanto, acho que o meu sentido estético sempre assentou numa matriz de desconcerto. Lembro-me de ser bem miúda, ainda desconhecedora de tudo, e ter visto numa revista uma imagem que me fascinou. Recortei-a. Pedi à minha mãe para a emoldurar. Ela fez-me a vontade. Uma moldurinha pequenina. Era de Paul Klee. Não fazia ideia, na altura, de quem fosse. E, no entanto, era como se fosse coisa que me fosse familiar, um ser imaginário que existia sem propósito, apenas para estar ali. Um mundo perfeito onde tudo tem lugar, sem explicações.


E estava eu a ler o texto 10 Things You Might Not Know About Vincent van Gogh no Google Arts & Culture quando reli que uma das músicas de que muito gosto tinha sido inspirada em Van Gogh. E lembrei-me de como, não há muito, dei por mim a sentir-me como tantas vezes me sinto: a mais burra de todas as burras. Parece que, por vezes, sou distraída para além do que é normal e admissível. A desatenção das coisas faz-nos ignorantes e, talvez por isso, tantas vezes distantes.

Por inacreditável que possa parecer nunca, antes desse dia, tinha reparado que a canção se referia à pintura de Van Gogh e a ele mesmo. E se a ouvi e ouvi. Gostava sem motivo racional, sem pretender descortinar-lhe o sentido, gostava apenas por gostar. E, no entanto, depois que o soube, parece-me tão estupidamente óbvio que não compreendo como é que nunca o tinha percebido.

Mas, enfim, as coisas são o que são e nem vale a pena tentar perceber tudo o que nos rodeia. Muito menos o que se passa dentro de nós.

Fresh snow in distant mountain by Okuda Genso

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Sobre pinturas de Van Gogh, A Prayer de Max Ehrmann lido por Tom O'Bedlam


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Um dia feliz a todos quantos por aqui passam.

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segunda-feira, outubro 27, 2014

O Poeta e o Alentejano (O humor que os Leitores me enviam - Parte 1, com Alberto Caeiro, Samuel Palmer, Van Gogh e Don McLean à mistura )




Em noite de feroz inspiração, o poeta foi passear pelo campo e, topando com um alentejano que contemplava o luar, disse-lhe:

- És um amante do belo! Acaso já viste também os róseos-dourados dedos da aurora tecendo uma fímbria de luz pelo nascente, ou as sulfurosas ilhotas de sanguíneo vermelho pairando sobre um lago de fogo a esbrasear-se no poente, ou as nuvens como farrapos de brancura obumbrando a lua, que flutua esquiva, sobre um céu soturno?

- Ultimamente, não!... respondeu o alentejano pasmado. Há mais de um ano que não me meto nos copos...!

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Já agora, e agradecendo ao Leitor que me enviou a graça acima, deixem que junte um poema, uma outra pintura, e, já agora uma canção.


O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.


[O Luar de Alberto Caeiro in 'O Guardador de Rebanhos']


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A primeira pintura é A Cornfield by Moonlight with the Evening Star de Samuel Palmer, 1805-1881

A segunda pintura é Starry Night de Vincent van Gogh, 1853-1890


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Vincent (Starry Starry Night) por Don McLean


[A slideshow of Vincent Van Gogh's work set to the song "Vincent" by Don McLean. It's part of an art and creative writing lesson plan for the patients at Mississippi State Hospital at Whitfield. Compiled by artist Anthony DiFatta, who also suffers from mental illness and teaches art to other adults with mental illness. ]

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