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quinta-feira, janeiro 14, 2021

Como transformar os dias de confinamento em fields of gold?

 


Trabalho em casa e trabalho em contínuo e penso muitas vezes como é possível que, não gastando o tempo que antes gastava em percursos de carro, tantas vezes em filas lentas, que gastava em almoços em restaurantes, não consiga que agora esse tempo reverta para mim. O trabalho invade a minha vida e eu não tenho conseguido inverter esta absurda tendência. E isso intriga-me e incomoda-me.

Hoje, à hora de almoço, fomos comprar pellets. Foi um tempo extra que gastámos. Por isso, almoçámos um pouco mais tarde. E esse pequeno atraso foi o suficiente para que tenha tido que trabalhar até às oito. 

Por volta das sete e picos, interrompi por breves minutos para ir fazer uma emulsão para colocar os lombos de atum fresco a marinar.

Fiz assim: num copo alto coloquei azeite, uma quantidade razoável de salsa e coentros, um pequeno dente de alho, raspa de lima, um pouco de sumo de limão, um pouco de mel. Bati. Formou-se um creme verde. Despejei sobre os lombos de atum que tinha colocado num prato fundo que ficaram submersos. 

Voltei ao trabalho. Tempo de definir objectivos, área a área. Por volta das oito interrompi. Fui ligar à minha filha. Depois pus batatas a cozer. Fui ligar à minha mãe. Quando dei por ela já eram quase nove. Fui ver a duração de cada telefonema a tentar perceber como tinha passado tanto tempo. Vinte e quatro minutos exactos com a minha filha, vinte e quatro minutos e doze segundos com a minha mãe. Fui, então, acabar o jantar.

Deitei fora um pouco da água das batatas cujo lume tinha desligado quando vi que estavam cozidas. No entanto, deixei parte da água. Juntei um pouco de azeite, um pouco de manteiga e orégãos. Esmaguei grosseiramente com um garfo. Esmagada de batata.

Numa frigideira, coloquei um pouco da emulsão e aqueci-a. Quando estava quente despejei o conteúdo do prato: os lombos e a emulsão da marinada. Um minuto de cada lado. Pronto.

Acompanhámos com salada de canónigos. 

Durante o jantar ligou o meu filho mas não atendi. Liguei a seguir. Curiosamente foi ele que desta vez bateu o record. Vinte e oito minutos e trinta e nove segundos. 

Alimento-me destas conversas com aqueles que gostaria de ter por perto.

Esforço-me por não pensar que pode passar um mês sem que possa estar com os meus filhos, com os meus netos. No meu íntimo, optimista em qualquer circunstância, acredito que sim, que talvez possamos. Não sei como mas pode ser que sim, logo se vê. E, se não puder, também acredito que passará num instante. 

Vamos entrar em confinamento e obviamente era inevitável. O sistema de saúde está a rebentar pelas costuras, em gestão de catástrofe, a ter que se escolher entre quem tem probabilidades de se safar e quem talvez não se conseguisse safar. O drama nisto é que não afecta apenas os covides. Afecta os que, por qualquer outro motivo, tenham a pouca sorte de ir parar ao hospital. Não há camas, não há pessoal, não há equipamento. A única solução é fechar as pessoas em casa e esperar que se conservem saudáveis até que a onda abaixe a crista. Não foi à toa que comecei a ficar preocupada em Setembro e Outubro. Com o frio a aproximar-se, a malta mais em espaços fechados, sem que o teletrabalho tenha sido de imediato decretado como obrigatório (sempre que possível de se realizar remotamente), com a curva a empinar como vi que estava, tinha tudo para se chegar onde se chegou. Não há mistérios: branco é, galinha o pôs. Muita gente vai ainda morrer e muita gente vai padecer, e muito, e muita gente ficará com sequelas. 

O corona não brinca em serviço. Transmuta-se. Já há a variante do Reino Unido, muito contagiosa, já em cinquenta países entre os quais Portugal onde já se encontram setenta e tal pessoas infectadas com esta estirpe, já há a variante da África do Sul, já em vinte países, agora foi identificada uma terceira, no Japão, em doentes que vieram do Brasil. Um corona com vários clones. Um pesadelo. Pode ser que a vacina. Mas a vacina vai vir devagarinho, devagarinho. Enquanto o tempo estiver assim, a única maneira de quebrar as pernas às inúmeras cadeias de transmissão é hibernar. Quando vier o calor, a gente vai poder conviver ao ar livre, a curva terá regredido, já haverá mais gente vacinada, as coisas vão melhorar. Até lá é aguentar firme. E fazermos figas para que os que têm que dar o corpo ao manifesto, a malta das profissões indispensáveis que têm que se realizar presencialmente, se aguentem de boa saúde. Nunca agradeceremos suficientemente a essas pessoas: os dos supermercados e farmácias, os agentes da ordem, os bombeiros, os do lixo, os da manutenção, os da saúde, os carteiros, etc, etc, etc. 

Continuo a dizer que deveria haver campanhas frequentes a explicar que usar máscara não é sinónimo de usar o nariz de fora, nem usar dias a fio a mesma máscara, nem lavar a máscara de papel. As televisões deveriam dar o exemplo do que é o comportamento admissível pois, segundo me diz a minha mãe, fazem o oposto: diz ela que é frequente em alguns programas da manhã e não sei se da tarde, estarem todos bem próximos uns dos outros, tudo sem máscara, tudo a falar e a rir, partilhando os coronas que estejam disponíveis para a suruba. 

No outro dia, quando fui a um sítio, algumas pessoas estavam a ter reunião numa sala fechada, sem janelas. Quando mostrei a minha admiração, responderam que estavam de máscara. Não sabem que se alguém estiver infectado, numa sala fechada, mesmo que com máscara, o mais provável é que fiquem todos infectados? Mesmo em contexto familiar, numa divisão com as janelas fechadas (e com esta temperatura quem é que pode estar de janela aberta?), se uma das pessoas veio contagiada de outro lado, o mais certo é que toda a família também fique contagiada. Na maior parte dos casos a coisa é tranquila. Mas nisto da roleta russa nunca se sabe. Ainda há pouco, um médico dizia que não é verdade que quase todos os casos graves apresentassem outras comorbilidades. 

O mais estranho nisto é que, ao fim de um ano, ainda não se saiba o que há em algumas pessoas que as faça vítimas indefesas às mãos do corona. Tanta ciência, tanta investigação e estamos na mesma: sem saber o que faz com que uns caiam que nem tordos e outros não estejam nem aí.

Mas, enfim, não me parece que quem até aqui vem, venha à espera de ler tretas destas. O facto de ter uma convivência limitada e de encher o meu tempo com trabalho e mais trabalho faz com que chegue a esta hora meio esvaída e destituída de assunto. 

Talvez possa apenas dizer que, hoje, ao tentar descobrir o que vestir para uma reunião, preferencialmente em tons cinza claro e, sobretudo, quente, fui dar com um colete de pele não sei de que animal, só sei que é macio e platinado, um colete muito bonito e elegante, sem mangas, justinho, com gola levemente subida, que aperta à frente com uns colchetes. Deu-mo a minha filha pelo natal, talvez há uns mil anos. Em escritórios aquecidos, mal tinha oportunidade de o usar. Como hoje tinha uma blusa em cinza claro, ficou mesmo bem. Com uns brincos de pérola e um colar de pérolas junto ao pescoço, ficou elegante. Eu, pelo menos, gostei. Aproveitei para pôr nos lábios um lipstick que ela me deu pelo natal, um rouge muito rouge. Fiquei completamente outra. 

E é isto, nada mais que isto. Uma limitação. Ainda hei-de aprender a transformar a aridez destes meus dias em dias de sonho, dias bons, dias dourados, dias em que tenha coisas boas para dizer.

Limito-me a partilhar um vídeo que penso que já aqui partilhei mas que acho lindo. O que é bom é para se ver, dizia-se dantes. Não sei se ainda se diz. 

Biomimicry

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Pinturas de Franjo Vujcec ao som de Eva Cassidy a interpretar Fields of Gold

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E tenham, por favor, dias felizes

segunda-feira, dezembro 14, 2020

Presentes de Natal -- muito económicos e... DIY

 



Andando por estas bandas há algum tempo, não consigo ser sempre original, em especial quando falo de aspectos relacionados comigo. Foi o que foi e, se falo nisso, forçosamente repito-me. 

O tema tem a ver com presentes. Quando os meus filhos eram pequenos, eu pedia sempre que me dessem coisas feitas por eles como, por exemplo, cartõezinhos ou desenhos. Gosto do que tem um cunho pessoal. É como quando recebia cartas. Adorava receber cartas. Ansiava pela passagem do carteiro e, se ele trazia carta, já eu sentia a adrenalina a bombar. Empolgada e curiosa, abria o envelope e, quanto melhor recheado ele estava, mais antecipadamente feliz eu me sentia. Sempre gostei de cartas grandes. A primeira coisa que fazia era folhear para ver quantas páginas tinha. Era tempo de seu que quem escrevera me tinha dedicado e isso é o melhor que uma pessoa pode oferecer a outra. O afecto tem muitas vertentes mas uma das principais tem a ver com que uma pessoa dá de si própria a outra. Deve dar atenção, cuidado, disponibilidade, carinho, ajuda, companhia. Etc. Se pouco dá, então esqueçam. 

Quando me casei, deixei de ser a menina que recebe presentes para ser a mulher casada também com o dever de oferecê-los. Mas com vinte anos ainda não se tem bem a noção. Faz-se o que se gosta de fazer, com toda a generosidade de que se é capaz.

Como sempre considerei que dar uma coisa a uma pessoa tem que ser uma verdadeira dádiva, alguma coisa pensada mesmo para a pessoa a quem querermos fazer um agrado, achava que não fazia sentido ir a uma loja e comprar coisas impessoais. Então, com antecedência, punha-me a fazer eu 'obras' artesanais. Fazia panos de tabuleiro ou individuais, por exemplo. Fazia em crochet, peças originais que inventava, coloridas, ou feitas em linha crua com aplicações coloridas, flores amarelas, por exemplo. Eu achava que ficavam bonitas, eram úteis, e sobretudo, era coisa mesmo minha. Para os homens já não me lembro, presumo que nada disto. Se calhar para 'eles' seriam livros, cada livro segundo quem o ia ler. Mas, para minha surpresa, notava que, mais do que agrado, toda a gente que recebia os meus trabalhos mostrava algum espanto e a coisa acabava inevitavelmente com um irónico 'mas tão prendada...' e as pessoas de mais idade mostravam alguma perplexidade pois eram trabalhos muito diferentes das tradicionais rendas e as mais novas não estavam nem aí para coisas naquela base.

Persisti por mais algum tempo até que me rendi ao consumismo e esqueci o que me seria natural. 

Mas, até hoje, tenho pena de continuar na onda de oferecer presentes adquiridos em vez de ousar presentes confeccionados. No entanto, claro que fazer coisas para oferecer tem o seu quê. O gosto de quem faz pode ser o oposto do de quem recebe.

Volta e meia vejo em casa da minha mãe algum objecto que me intriga. Sem excepção, são presentes de amigas que frequentam ateliers e que se entretêm a fazer objectos artesanais: peças em madeira pintada, saquinhos com ervas de cheiros ou coisas assim. Por acaso, ultimamente até são coisas com um gosto aceitável e que, por sinal, até são úteis. Mas tempos houve em que, embora se visse que havia ali um esforço e alguma perícia, estava tudo longe de encaixar harmoniosamente lá em casa. Era como quando acabava o ano lectivo: vinha carregada de flores que às tantas nem sabia onde pôr e de peças que, por vezes, eram de gosto altamente duvidoso. Imagino que o móvel onde guardava os tesourinhos deprimentes ainda os lá tenha. Uns feitos outros adquiridos, supostamente peças que quem dava achava que fariam as delícias da professora. Por vezes nem sabíamos o que era, tal a excentricidade.

Continuo, contudo, a ter vontade de voltar a ter coragem para ser eu a fazer os presentes. Quando vejo artigos ou vídeos com sugestões DIY (Do it yourself) não resisto a ver se seria coisa que me agradaria. Tem que ser útil, agradável, relativamente neutro face ao gosto. O vídeo que abaixo partilho tem ideias que acho que são assim.

E partilho-o acolhendo-vos com hospitalidade neste espaço que diariamente componho como se conversasse convosco: mostrando um pequeno arranjo que a minha filha hoje fez em meia dúzia de minutos, juntando umas pinhas e urze (que apanhámos numa nesga de campo no limite da horta) com umas bolas de natal que sobraram, também o vaso de poinsétia cheio de gotinhas de chuva, uma madona com um bebé e, por fim, umas bolas de natal que suspendemos nas árvores do jardim. 

E, lá em cima, escolhi, para 'acompanhamento musical', um vídeo que é mais do que apenas música: é leveza, elegância, beleza. Espero que gostem. 

Mas, pronto, já chega de conversa. Está na hora do vídeo: vejam, por favor, o vagar e o cuidado na preparação dos presentes, úteis, bonitos, e sintam a simpatia que os envolve. Espero que o conforto da casa e o espírito acolhedor que acho que se sente cheguem até vocês (mesmo que não apreciem o lado de menina-prendada aqui da Niamh -- que a ver se recupero também para mim).

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Desejo-vos um dia feliz