Sempre fui muito dada a trabalhos manuais como bordados, tricots, crochets. Escrever é apenas uma outra forma de ter as mãos ocupadas enquanto a cabeça vagueia. Quando vejo algumas artes que impliquem trabalho de mãos (se calhar todas implicam...) tenho sempre vontade de experimentar. O problema é que fico viciada, desato a produzir em larga escala e depois não tenho o que fazer às coisas.
Já pensei algumas vezes em meter-me nessas coisas dos instagrams e pôr as coisas que faço à venda, nem que seja só para perceber a adesão. Mas como não quero vender à candonga e não me estou a ver a meter-me em trapalhadas de registar actividade nas Finanças, a passar facturas, etc (senão, às tantas, ainda teria que ter contabilidade organizada), não faço nada. E, não querendo continuar a encher a cave de coisas, fico-me pela contemplação e pela imaginação.
Isto que hoje partilho é o tipo de coisa que me daria um gozo brutal a fazer, desde a procura de materiais à concepção, à execução. Mas, já viram, onde é que eu ia depois colocar quadros, caixas, jarrões?
Uma pena.
Mas vejam. Eu acho uma maravilha, uma graça.
Creating Masterpieces for Steve Jobs, Bill Gates and The Pope
South Korea, Yangpyeong-gun. Mother-of-pearl art with Kim Young-Jun and Gabe Sin - embark on a journey as they revive the ancient Korean art of Najeonchilgi. Kim, a former financier turned master craftsman, has created intricate mother-of-pearl masterpieces for icons like Steve Jobs, Bill Gates, and even designed a chair for the Pope. Alongside him is Gabe Sin, a visionary hairstylist who draws inspiration from these timeless designs, integrating them into elaborate creations showcased on the cover of Vogue. Discover how Kim and Gabe are redefining Korean art for the modern world, blending heritage with innovation in mesmerizing ways.
Comecei o ano como gosto: a cozinhar para a família. E haveriam de chegar ruidosos, brincalhões, sorridentes. Os mais pequenos logo correndo uns atrás dos outros, o bebé com palavras novas, muito bem ditas: bacalhau, cereais, bochecha. Os outros perseguem-se, saltam, e, quando passam ao pé dele, soltam: 'Bacalhau', ao que ele responde prontamente: 'Bacalhau'. Hoje tivemos cá outro menino e, portanto, a minha menininha mais linda estava ainda em mais minoria. Trazia uma bonita maquilhagem (para crianças) que ainda valorizava mais os seus belíssimos olhos. Era ela e cinco rapazes. Vale-lhe a atenção da tia que vai desenhar com ela para a ensolarada secretária e a quem ela retribui penteando-lhe a farta cabeleira, fazendo tranças, ou seja, fazendo a tia sentir-se próximo do nirvana.
Ao almoço a mesa, apesar de bem comprida, é cada vez mais curta. Um dia destes teremos que equacionar fazer aquilo que já fazemos in heaven quando a lotação também quase se esgota: ter segunda mesa. Por enquanto, dado que o bebé ainda fica numa cadeirinha que é posta um pouco afastada num canto de forma a não ocupar lugar à mesa e dado que ainda vão cabendo, ainda que já um bocado apertados, temos resistido a isto das duas mesas até porque ter toda a gente à volta da mesma mesa é parte da felicidade destes dias.
Depois de almoço, para além de jogarem à bola na sala (com uma bola muito levezinha...) e de andarem às lutas, o menino mais velho pegou na minha máquina e começou a filmar os outros a cantarem, a dançarem e a fazerem performances, cada uma mais maluca do que a outra. A seguir, para ver se sossegavam, fiz-lhes uma sabatina política e geográfica tendo ganho o mais novo (o mais novo a seguir ao bebé, claro, o que tem seis anos) evidenciando, uma vez mais, que é uma surpreendente esponja que absorve e assimila tudo o que ouve. É que até as palavras francesas diz com sotaque francês (como um Macron pronunciado como um parisiense de gema).
Quando saíram, levando a habitual marmita com o que sobrou, e depois da casa minimamente arrumada, resolvemos ir dar um passeio até ao lugar que, para mim, é um dos mais bonitos do mundo, talvez nem especialmente pelo lugar em si mas, sobretudo, pela assombrosa vista que dele se tem. Lisboa, magnífica, sob uma luz dourada, os navios deslizando num Tejo muito azul e muito tranquilo.
Quando regressámos já a noite começava a tombar e eu, mal me apanhei em casa, pus-me a ler o livro da Anabela Mota Ribeiro com entrevistas e fotografias de Saramago e Pilar e, apesar de ser bem interessante, adormeci.
Agora já estou no turno da noite. Já escolhi a roupa para amanhá, já pintei as unhas, já estive a ver as fotografias e os filmes, e, antes de me atirar ao tapete, aqui estou para vos dar conta destes meus pequenos nadas.
E, para os que são dados a culinárias, conto o que foi o Almoço de Ano Novo.
Para entradas: brás de farinheira, molhinhos, iscas às tirinhas.
Conto como fiz:
Brás de farinheira
Numa frigideira, coloco azeite com cebola cortada às rodelas muito finas. Frito em 'lume' não muito forte até a cebola estar bem macia. Junto o recheio de meia farinheira (usei da Beira Baixa) cortado aos bocadinhos. Mexi e fritei ao de leve. Juntei sete ovos grandes (uso matinados) e juntei um pacote pequeno de batata palha com pouca gordura e pouco sal. Envolvi tudo, ao de leve, até não se identificarem os ingredientes.
Molhinhos
Para quem não saiba, trata-se de rolinhos, presos por um cordel, de dobrada branca, muito fina, muito bem lavada. Compro-os já feitos em molhinhos. Apesar de já virem muito bem lavados, coloquei-os, ainda assim, de molho em água com abundante vinagre. Assim estiveram durante umas duas ou três horas. Depois coloquei-os numa panelinha para ficarem cobertos por água com um fio de azeite, sal, uma cebola, umas folhas de louro e um ramo de salsa. Coze durante muito tempo, talvez umas duas horas ou mais, a panela sempre tapada. Depois escorro, tempero com azeite e vinagre balsâmico.
Iscas
Não tem história mas pode haver quem não saiba. Compro cortadas fininhas. Frito numa frigideira com azeite, alho abundante e louro. Não devem ficar queimadas, nem secas, nem cruas. Para isso, o 'lume' não pode estar muito forte e devem ser viradas amiúde. Depois de prontas, cortam-se às ripinhas fininhas e servem-se assim.
Para prato de substância: bochehas e queixadas de porco
Fiz em tachos separados e já explico porquê.
Bochechas
Num tacho coloco azeite no fundo, duas grandes cebolas cortadas aos bocados, uma cenoura grande às rodelas, salsa e coentros abundantes, as bochechas, dentes de alho, vários dentes de alhos, cubro com mais duas cebolas e rego com um pouco de vinho branco e mais um pouco de azeite. Depois de ferver, baixo o calor e fica a cozinhar em calor brando, o tacho tapado. Talvez também umas dias horas.
No fim, coloco as bochechas num tabuleito findo, com cuidado para não se desmancharem. Escorro a parte mais líquida do caldo que se formou no tacho e, com a varinha, desfaço a cebola, os alhos, a salsa, a cenoura até ficar um molho muito cremoso. Rego, então, as bochechas com esse molho espesso e saboroso.
Queixadas
As queixadas têm osso e fiz à parte para poder moer o molho das bochechas à vontade, sem receio que o caldo contivesse lascas.
As queixadas foram feitas quase da mesma maneira mas juntei também alecrim e louro, porque, aqui não ia moer. Foram servidas assim mesmo.
Para acompanhar tinha puré de maçã. Comprei feito, sem açúcares adicionados, puro purá de maçã cozida.
Fiz ainda arroz de substância para acompanhar
Chamo-lhe de substância mas é assim: Num tacho coloco azeite e alhos com carne de vaca e porco picadas, não muita. Junto também um bocadinho, pouco de chouriço de carne cortado aos bocadinhos. Depois juntei cebola picada e salsa. Juntei ainda uma cenoura grande ralada. Juntei o dobro da quantidade de arroz em líquido (uma parte do caldo escorrido das bochechas e a parte restante em água). Ficou a cozinhar. Depois juntei o arroz. No final, quando tinha um pouco de caldo, juntei um ramo de hortelã e mexi para o sabor se misturar.
Houve alface para salada.
Depois uvas e tarte de framboesas e árvore de natal de limão (os bolos, como habitualmente da Padaria Portuguesa).
Acompanhámos com tinto alentejano, um monocasta, Sangiovese 2013. Sumo de laranja para crianças e para quem não é dado a vinhos.
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E fiz questáo de fotografar uma vez mais aquele navio que me enche de pena e espanto: o Rio Arauca continua fundeado a meio do Tejo há mais de um ano com um grupo de tripulantes que de lá não pode sair, apenas contando com a boa vontade de uma empresa que manda regularmente mantimentos para que, ao menos, sobrevivam,
E permitam que termine este post com um vídeo que nada tem a ver com o que acabei de escrever. Mas tem a ver comigo, com o meu amor à natureza, com o meu respeito e veneração pela diversidade e beleza da natureza.
A história de Pamela Gale Malhotra e do marido Anil que há duas décadas cuidam de um bocado de terra, um espaço maravilhoso que parece mesmo o paraíso na terra
Não quero que venham ao engano. Vou já avisando que não vou ser capaz de dizer coisa que se aproveite. Gostava de saber dizer alguma coisa, a sério. Quando for grande quero ser apertadinha, organizadinha, bem alembradinha. Mas, infelizmente, ainda não cheguei lá.
Não me lembro de nada sobre coisas importantes deste ano que está a dar as últimas. Se se puserem a dizer coisas aqui à minha frente acho que me vou lembrando mas eu, por mim, não consigo. Não consigo discorrer sobre o passado de forma limpinha, hierarquizadazinha, sequencial -- só se for aos bochechos ou às arrecuas. Para mim o que passou, passou, e, quanto muito, decanto para deixar sair as impurezas e reciclo o que resguardei. E só guardo o que é bom, o que envelhece bem.
E depois tenho outra fraqueza: sou míope, vejo as coisas de forma esbatida, impressionista. E gosto. Desabituei-me de usar lentes ou óculos. Já me habituei a não ver os pormenores. Prefiro assim, ganhei-lhe o gosto: das coisas prefiro ver a grande mancha, não quero saber de malhas caídas, pegões, ruguinhas de nada, nodoazinha imberbe na gravata, inofensivas minudências. Juntando isso àquilo de decantar não sobra muito.
Portanto, dizer o quê de 2018?
Não sei bem. Juro que não. Talvez que não foi mau de todo. Acho até que foi bom. Não me lembro agora exactamente dos sucedidos para me ter ficado esta impressão mas também confesso que geralmente acho que os anos são bons. Por maus que sejam, no conjunto acho-os bons. Mas também não sei bem explicar porque digo isto. Na volta é porque o meu corpo larga muita serotonina e o meu cérebro amanha-se logo com ela e é com cada piela que só visto, e eu, à conta disso, toda peace and love.
Podia falar de ter estantes novas e os livros organizados que é coisa que me deixa mesmo feliz e que foi coisa marcante na minha vida ou de ter retomado os tapetes de arraiolos que é coisa que me motiva muito mas isso é capaz de ser muito petite histoire, coisa daquelas que não é para vir no jornal. Só se falasse do novo presidente de Angola que está a dar com os outros em malucos e a mudar aquilo tudo mas, não sei porquê, ainda não percebi bem qual é a dele já que antes era vice do outro e parecia unha com carne. Tenho que perceber melhor qual é a cena. Ou podia falar dos jaunes de duas patas que andam a fingir que são herdeiros dos soixante-huitards e a virar poubelles e a partir vidros mas, para isso, preferiria falar dos meus cogumelos amarelinhos e frágeis mas, se falo deles, a caruma ruiva ou o musgo verdinho ou as flores fofinhas ou a aragem nas árvores ou o canto dos pássaros ainda me rifam, todos enciumados. Ná, um risco desses eu não corro. Ou podia falar de não ter havido muita seca nem muitos incêndios mas não gosto muito de gabar de coisas boas porque parece que atrai. Podia também falar da maluqueira do brexit ou dos estarolas dos italianos sempre a puxarem-lhes o pé para o chinelo e a elegerem comediantes ou parvalhões ou do atraso de vida que para ali vai nos brasis com um bolsonaro e suas crias à roda do próprio rabo com a sua inconsequência e incompetência mas parece-me um bocado deselegante vir para aqui dizer mal dos outros, coisa de vizinha. Não. Nessa não me apanham.
É que, por mais que tente, não me ocorre nada assim de muito relevante. Alguém que me ajude... Devia ir tirando apontamentos ao longo do ano para, no final, não vir para aqui fazer estas figuras. É que se, ao menos, conseguisse elencar as melhores músicas, os melhores filmes, as melhores exposições, as melhores danças, as barbas mais larocas avistadas por aí, a voz mais caliente ouvida wherever, os deputados menos baldas e as deputadas menos bardajonas, as toilettes menos estapafúrdias da judite, os actos menos mediáticos do nosso ubíquo vocês-sabem-quem, os actos menos esclerosados do seu antecessor, as enfermeiras menos cavacas, as sindicalistas mais avoilas, os homens mais sexys da blogosfera, as bloggers mais mal-comportadas que por aí andam... mas, assim de repente, não saberia bem como descalçar a bota. Para isso precisava de ter critérios bem artilhados, fundamentação escorreita, raciocínio isento. E essa não é a minha praia: eu sou toda de predilecções, sou toda dada a xodós que me embotam a neutralidade. Não me arrisco.
Embora, para ser franca, o que eu gostava, mas gostava mesmo, era de ser capaz de ser como o Henrique que faz coisas surpreendentes e que só não fazem com que me torne sua devota porque, cá para mim, ele não é lá muito santinho que se ponha num altar. Portanto, adiante.
Embora pudesse falar noutros que também me cativam, os matreiros. Mas não, não caio daí com essa facilidade. Pode parecer que não, mas gosto mesmo é de de me fazer de difícil.
Quanto muito posso dizer que gostava muito que ter notícias da Ana, de saber que está bem. E gostava que voltasse a escrever. Mas isso não tinha a nada a ver com o tema deste post.
Portanto, lamento mas daqui não sai mesmo nada que se aproveite. Uma tristeza. Devia esforçar-me mas sou avessa a esforços, nasci para a leveza, coisas pesadas derreiam-me as cruzes. Vou mas é ficar à espera que os outros os façam, que têm uma competência que eu não tenho. Balanços, quero eu dizer, balanços bem feitinhos de 2018.
Agora uma coisa garanto eu que sou: bem formada. Não gosto que venham ao engano. Por isso, para ter com que receber condignamente quem, tão ingenuamente, daqui se acercou, vou partilhar um vídeo muito surpreendente, daqueles que me dão vertigens nos pés, impressões na alma. Uma capela no céu. Coisa de fazer doer a minha ausência de fé.
E para fazer pendant com o espírito do momento, uma carol boa de ouvir -- ou não tivesse o carimbo de qualidade da presença da menina Natalie Merchand.
Isto há coisas: tudo o que é maluco vem ter comigo. Hoje foi Rafael Silveira, um menino brasileiro que só faz coisa assim, coisa boa. As imagens mostram obras dele.
Tem-se juntado a confusão no trânsito -- que me faz perder tempos infinitos -- com um hábito de uns e outros que me agonia: o de, para cumprirem objectivos (e receberem um bom prémio), desatarem a querer despachar tretas que deveriam ter sido feitas ao longo do ano. Ou seja, não apenas tenho tido trabalho a perder de vista, intercalado com reuniões pelos mais díspares motivos, como, a somar a isso, têm sido sucessivos engarrafamentos e acidentes e não apenas chego tarde ao trabalho como tarde a casa.
Hoje uma colaboradora sentou-se na mesa de reuniões do meu gabinete e, com ar estafado, disse-me que andava com tanto que fazer, a saltar de uns assuntos para outros e a ter que aturar toda a espécie de problemas, que chegava ao fim do dia com a sensação que não tinha feito um décimo do que devia. E eu percebi-a muito bem e disse: fará eu que, para além disso, ando de empresa em empresa.
Vou de umas para outras, saio de uma reunião para entrar noutra sem tempo para me preparar, sem tempo para deixar assentar a poeira. Se num destes intervalos -- em que penso que vou ter tempo de perceber qual o assunto que aí vem ou para ir à casa de banho ou ir à copa beber um chá -- alguém me liga, sinto que a impaciência transborda da minha voz.
Hoje de tarde tive uma reunião com dois que andavam há séculos a querer reunir comigo e eu empurrando com a barriga. Até que não tive como não fazer a reunião. O assunto era interessante mas o momento péssimo. E não se calavam. Eu já estava que não podia. Tentei atalhar mas parece que vinham com o script empinado e determinados a não se deixarem empurrar porta fora. Uma dor. Juro. Para o fim já tive que fazer um esforço por me manter educada. Credo. Uma canseira que não se aguenta.
Não há dia em que, quando à noite me sento aqui no meu abençoado sofá, não me dê logo um sono que me deixa pedrada. Se consigo pegar no tapete ainda esperto. Mas hoje nem isso ainda consegui fazer.
O meu marido diz que devíamos tratar dos presentes do natal e eu respondo que, parecendo que não, estamos em entrar em dezembro e o natal é só lá mais para o fim do mês. Ele, como gosta de fazer tudo com tempo, diz que não é bem assim. Mas eu que tenho um mês de sufoco pela frente com vários almoços e jantares de natal que começam já nesta semana que aí vem, um dos quais a centenas de quilómetros, só me apetece que passe o natal para poder ficar livre do encargo de andar nestes festejos em série e de, ainda por cima, me meter em barafundas em lojas cheias de gente vagarosa. O ideal seria poder fazer as compras do natal no princípio do ano: lojas tranquilas e as coisas a metade do preço.
Esta semana ainda não consegui pegar num livro. Tenho ali um sobre mulheres na arte e só penso em sentar-me, acordada e fresca, a lê-lo. Mas nem energia tenho para ir ali buscá-lo. Passa da meia noite e eu tenho vontade de ver pinturas ou belas fotografias, ouvir música, gostava de ser capaz de escrever palavras límpidas, gostava de conseguir trazer aqui temas interessantes. Mas não consigo.
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As fotografias acima provêm do The Guardian. Não têm a ver com o texto mas são tão bonitas, não são?
E junto dois vídeos bem bons de ver: um que mostra um mercado de frutas, onde se podem conhecer frutos nunca antes vistos. E outro com bibliotecas de assombro.