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quarta-feira, fevereiro 24, 2021

Entre um enorme desafio e o raio de um sonho demasiado real

 

Depois de uma tareia de várias reuniões de seguida e depois de ser amargamente contrariada pelo meu marido que não quer arriscar tirar um big vaso do terraço pois acha que é impossível pô-lo a descer a escada, chego aqui e não consigo pensar senão em duas coisas:

1 - Como vigiar de perto uma criatura que está a revelar-se uma encrenca e que fez arrastar uma reunião por mais do que uma hora, sobrepondo-se às seguintes e estragando todo o programa de festas

2 - Como conseguir tirar dali o vaso. Um desafio e tanto.

Sobre o tópico número um hesito entre o desprezo e a vingança.  Mas pior mesmo é o tópico número dois. Já pensei arranjar umas tábuas e pôr o vaso a deslizar devagarinho escada abaixo. O meu marido diz que, grande e pesado como é, o que vou conseguir é que se parta. E recusa-se a tentar.

A questão é que a planta, no verão, secou. Parecia morta. Entretanto, começou a renascer. Umas little folhinhas verdes despontando. Mas primeiro que se cubra de verde vai demorar. Mas o aspecto geral não é maravilhoso, quem olhe com desatenção julgará ser um arbusto quase seco. Já tenho, ali no terraço, outras flores e preferia ter ali vasos de outro género. Já fui à horta, andei pelos cantos a ver se desencantava umas tábuas mas nada. Não sei como resolver isto. É o chamado desafio do caraças.

Acontece que, ainda por cima,  esta noite dormi pouco. 

Acordei lá para as cinco e tal da manhã com um pesadelo e, de tal forma foi que, mesmo acordada parecia que estava a viver a situação. Por mais que pensasse que era sonho, não realidade, não parava de pensar nisso. E, ainda agora, ao pensar nisto, parece que estou a reviver uma situação efectivamente sucedida.

Foi assim: um amigo meu tinha vindo cá visitar-nos. Como combinado, tinha trazido a mulher mas também dois outros amigos nossos. Tinha-me dito, em segredo, à chegada: desculpe lá mas já não sabia o que fazer com estes dois. Um é um grande amigo que ficou viúvo há um ano, uma morte prematura que me abalou muito. O outro é também um amigo que vive sozinho, divorciado. E então o que tinha acontecido é que tudo bem, almoço, conversa, tudo na boa, tranquilo. Depois tinha vindo a hora do lanche e tudo tranquilo. Mas, então, o meu amigo divorciado, que é vidrado em livros, tinha resolvido ir ver as estantes. E, com vagar, andava a vê-los um por um. O outro tinha pegado numa cadeira e estava instalado debaixo de uma árvore a beber uísque, olhando o jardim na maior contemplação. A mulher do meu amigo continuava a conversar comigo na maior animação. Tudo isto é real pois qualquer deles é justamente assim.

Só que o meu marido não é dado a horas seguidas em suspenso à espera que a conversa de um acabe, que os copos de outro também. Tenho muita ideia de outros tempos em que um dos que lá costumava ir a casa com a mulher e que bebia uns atrás de outros, depois ia apanhar fresco para a janela, depois dava-lhe para a risota, depois para o sentimento e contava coisas que o tinham magoado e chorava, chorava, depois ia para a janela fumar, depois regressava à conversa. A mulher, às tantas, encostava-se para trás e deixava-se dormir. O meu marido, podre de impaciência, deitava-se no sofá, como se estivesse sozinho, e punha-se a ver televisão. E eu ficava, sozinha, a fazer sala. Saíam de lá de madrugada. O meu marido, que entretanto, já tinha adormecido, acordava furioso comigo pois achava que se eu não desse troco aquilo não durava até àquelas horas. Mas ia fazer o quê? Punha-me também a ver televisão, feita malcriada? Não sou capaz.

E, então, no meu sonho, ele já estava assim, tal e qual, que não se aguentava. E eu furiosa com ele, como medo que os outros percebessem o estado de espírito dele. E ele: 'Mas ele vai vai ver os livros, um por um, até ao último?!' e 'Mas ele vai ficar ali debaixo da árvore até que horas?'. O meu outro amigo dizia-me, em segredo: 'Está a ver porque é que eu já não os aguentava? Percebe porque tive que trazê-los?'. 

E o curioso é que isto é mesmo tal e qual.

E o meu marido, furibundo, dizia-me: 'Vou para o carro e fico lá à espera'. E eu furiosa com ele: 'Porta-te como deve ser. Estás em casa, com que pretexto te vais enfiar no carro? Estás parvo!'. E ele a ficar cada vez mais impaciente, pronto a armar barraca. 

E aí acordei, atormentada. 

Há bocado, ao telefone com a minha filha, ela bocejava cheia de sono, que não tinha dormido bem. E eu também cheia de sono, contei-lhe o sonho. E ela disse: 'Tal e qual. Podia ter mesmo acontecido isso, estou mesmo a ver o pai assim...'. 

Quando cheguei à sala contei-lhe o que a filha tinha dito. Reagiu: 'Qualquer coisa vos serve de pretexto para dizerem mal de mim'.

Mas a verdade é que volta e meia parece que vem o incómodo que senti com a reacção dele, capaz de me envergonhar à frente dos meus amigos. Claro que eu também estava apreensiva a pensar que se calhar tinha que ir descongelar qualquer coisa para lhes dar de jantar pois não lhes via jeito de quererem desandar. Mas pior era ver o meu marido a ponto de se tornar inconveniente. Gosto de ser hospitaleira.

Uma das vezes em que foram uns poucos casais almoçar in heaven quase aconteceu uma coisa assim: foram para o almoço e saíram nem sei já a que lindas horas da noite. Lembro-me em especial de um episódio disparatado. Um deles já estava mais do que bebido e, então, começou a contar ao meu marido que se divertiam todos muito com as zangas homéricas que eu tinha com um outro que não estava ali. Contou peripécias, imitava-me a mim e imitava o outro, ria, ria. E, às tantas, rindo a bom rir, disse: 'Um tal ódio de parte a parte que estou sempre à espera de os ver aos beijos na boca'. O meu marido deve ter engolido em seco. Zanguei-me: 'Olhe lá! Que conversa mais parva é essa?' E ele a rir a bom rir, a mulher a dar-lhe palmadas no braço, que tivesse tento. Nesse dia contou também como, pouco tempo antes, tinha acabado preso numa esquadra de uma vila alentejana e lá tinha passado a noite até que um amigo lá foi tirá-lo, trazendo-o para Lisboa pois, obviamente, a carta tinha sido apreendida.  Contou as peripécias com todos os pormenores e nem queríamos acreditar. O que nos rimos com isso, incrédulos. A mulher dizia: 'Só vergonhas. Já o avisei: mais outra e ninguém o vai buscar. Nem sequer visitar'. Ele ria.

Mas o meu marido, nessas circunstâncias, já não se aguenta sentado, começa a andar fora e dentro, impaciente, com vontade de ver a malta toda pelas costas.

O pior de tudo foi quando irmãos e primos e respectivos filhos, uma vez, tendo também ido para almoço, acabaram ficando. Não foi a única vez, claro, mas uma vez ficaram o fim de semana todo, eram tantos que tiveram que acampar pelo chão, por onde havia um palmo livre. E nós dois entrávamos de férias na segunda feira. E então alguns deles, sentindo-se à vontade, acabaram ficando a semana toda. Aí até eu já estava doida. Iam à lota de uma cidade não exactamente ao lado e regressavam com caixas de sardinhas e outros peixes, faziam churrascos, íamos ao supermercado e trazíamos sacadas de entrecosto e bifes e desaparecia tudo. Sacos e sacos de carvão e desaparecia tudo. Grades de cerveja e desaparecia todo. E nós dois só pensávamos que tínhamos que ter um plano B para o caso de lá quererem ficar mais uma semana. Mas não. Felizmente na segunda-feira da segunda semana resolveram levantar arraiais e zarparam.

E as impaciências que eu via ao meu marido e as fúrias que tentava controlar mas que receava que, a qualquer instante, explodissem traumatizaram-me tanto que esta noite tive este sonho tão vívido como se estivesse a reviver outra vez aquelas situações.

Mas já chega de sonho, já me basta não ter sido capaz de voltar a adormecer. A ver o dia a ficar dia e eu às voltas na cama. E, mais grave, chateada com o meu marido. O facto de tudo não ter passado de um pesadelo é mero pormenor.

E depois, com reuniões todo o santo dia, não tenho assunto. 

Aconteceu o quê? Andam todos a querer que o Costa desconfine para a seguir irem crucificá-lo porque desconfinou? Não há pachorra. Ou a valente da ministra ainda consegue aguentar-se de olhos abertos e ainda consegue paciência para aturar tanta gente besta? Coitada. Admiro-a. Mil estátuas que lhe ergam e mil ordens e medalhas com que a agraciem será pouco. 

Por isso, depois de ter escolhido pinturas de Pierre Bonnard para aqui alumiarem estas minhas palavras fajutas ao som do sonzinho bom da Norah Jones, com vossa licença vou agora ver casas bonitas, ouvir gente que não fala de vacinas nem de gente que cai escadas abaixo nem de desgraças nem de tretas ou desgostos.

Por exemplo, 

73 Questions with Gisele Bündchen (ft. Tom Brady) | Vogue


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E tenham um dia feliz

sábado, outubro 06, 2018

Num dia feliz, qual a lógica de falar de ataques de pânico?
[O exemplo de Gisele Bündchen]




Vim de véspera e passei o dia bem longe de celebrações, televisões ou informação de qualquer tipo. A casa esteve cheia de brincadeiras, conversas boas, sorrisos. Claro que, em off, esteve sempre a preocupação com o meu pai, constipado, debilitado, e com a minha mãe que está a sair de uma virose ou lá o que foi que a deitou um bocado abaixo. Ela não quer sair de perto dele, ele não sai da cama e isto, claro, custa-me bastante, e custa-me sempre e ainda mais quando não estão bem. Vou telefonando,  vou dando todo o apoio remoto, vou lá sempre que posso mas não há verdadeiramente muito mais que se possa fazer. Qualquer sugestão que lhe faça não lhe agrada, acaba por optar ficar em casa com ele. Portanto, sempre que consigo, tento abstrair-me e gozar o momento, especialmente quando estou com a minha querida descendência.

Gostam imenso de estar no campo. Vieram com bicicletas e pedalam com alegria pelos caminhos habitualmente habitados por animais silenciosos e por pássaros que cantam em liberdade e que, nestes dias, com os meninos, se enchem de risos, zangas, descobertas.

A menina arrelia-se com o irmão, mais novo, que é veloz na bicicleta e a ultrapassa fazendo manobras que a assustam e quase a fazem despistar. Depois, já é só o medo: quando o ouve a aproximar a grande velocidade já ela fica com medo, zanga-se, grita-lhe, amua, choraminga. E ele, malandreco, nega, diz que não está a fazer nada de mal, que ela é que tem medo mas que disso ele não tem culpa.


E eu revejo, na memória, momentos iguais, iguaizinhos, a minha filha a andar de bicicleta e o irmão, também mais novo, a fazer a mesma coisa, a arreliá-la, ela furiosa a gritar com ele e ele, feito inocente, a não lhe ligar patavina e a fazer outra vez e outra vez a mesma coisa.

Hoje chamei o menino. Falei-lhe na noção de fair play, no necessãrio respeito pelos companheiros de brincadeiras e de jogos, que quem se porta mal ou assusta os outros não tem fair play e deve ser desclassificado. Ouviu atentamente. A partir daí, quando passava a acelerar rente à irmã ia cantarolando 'eu tenho fair play e por isso não posso ser desclassificado'. Não vale a pena. Está-lhes na massa do sangue. Gostam de pregar partidas, de arreliar os outros. Têm coração de ouro. O meu filho nunca fez mal à irmã, só cenas destas, defendia-a quando eu me zangava com ela, na verdade sempre tentou protegê-la e, se sabe que ela tem algum problema, fica logo preocupado. Claro que agora que é adulto já não lhe azucrina o juízo, agora azucrina o dos filhos. Agora é o filho do meio que faz à irmã o mesmo que ele fazia. Portanto é sempre uma animação. E o bebé também é fresco. Voluntarioso, traquinas, destemido. Espertíssimo, divertidíssimo. Gozo com ele e ele faz um sorriso intencional, malandro. Outras vezes, não retém a ironia e desata a rir-se. 

Uma alegria, portanto.


Depois, à noite, fomos petiscar numa tasquinha à beira da estrada. O bebé a dormir, os manos mais crescidos sempre com aquele apetitezão. Comeram como gente grande. Melhor: como lobinhos esfaimados. No fim, quando estavam a levantar-se, perguntaram o que era o jantar. A mãe, surpreendida, respondeu que tinham acabado de o fazer. Protestaram, disseram que queriam jantar. Poços sem fundo. Comem que dá gosto. 

Depois seguiram para casa e nós dois regressámos aqui. Telefonei outra vez à minha mãe, o meu pai parece que estava melhor, ela mais descansada. Descansei também. Depois ligou a minha filha, estivemos na conversa, quis saber como tinha sido, o que tinham feito. Contei-lhe das travessuras e diabruras, contei-lhe das brincadeiras. A seguir, mudei de roupa, estendi-me no sofá e pimbas, tiro e queda. Apaguei. 


Agora acordei, retemperada. O meu marido, entretanto, já se foi deitar. Levantou-se muito cedo e esteve a cerrar madeira, em parte, ajudado pelo filho. Também estava cansado. 

E eu pus-me aqui a passar os olhos pelo YouTube. E fui dar ao vídeo que aqui partilho convosco. Fez-me muita impressão pois fala de um tema de que pouco se fala: os ataques de pânico.

Convivi de perto com uma pessoa que, numa fase mais difícil da sua vida, começou a ter ataques de pânico. Sentia-se mal, sentia um aperto no peito, ficava sem conseguir respirar. Achava que era uma coisa física e não emocional, assustava-se, receava estar a ter um problema de coração. Por vezes, ligava-me a chorar, com medo, aflita. Fez muitos exames médicos e não tinha nada. Tinha ansiedade e uma carga emocional pesada em cima dela. Não queria ter, queria estar bem e chorava também por isso. Começou a ter medo de conduzir ou de estar em reuniões com medo de ter crises daquelas. Eu dizia para ela respirar fundo, para beber água, para ir apanhar ar fresco, para descontrair. Mas não lhe era fácil. Felizmente ultrapassou essa fase e nunca mais teve tal coisa.


No outro dia, outra amiga minha, pessoa equilibradíssima, muito bem disposta, com um sentido de humor apuradíssimo, contou-me que, dias antes, lhe tinha acontecido uma coisa horrível. Estava no avião (e anda de avião duas ou três vezes por mês, sem qualquer problema) quando começou a sentir o coração a acelerar, depois ficou com falta de ar, como se tivesse asma, e com as mãos transpiradas. A seguir, diz que lhe aconteceu uma coisa ainda mais inesperada e disparatada: desatou a chorar. Não queria dar uma barraquinha daquelas mas não conseguiu impedi-lo. Quando chegou a casa, já tarde, voltou a desatar a chorar. O marido, preocupado, só lhe perguntava: 'Mas o que te aconteceu? A reunião correu mal? Alguém te tratou mal?' e ela dizia que não, que estava tudo bem, mas não conseguia parar de chorar. No dia seguinte foi ao médico. Ataque de pânico. Vida agitada, pouco descanso, muita pressão. Eu disse-lhe: 'Não vale a pena. Tudo se ultrapassa. Não podemos deixar que a vida nos esmague'. Ela disse: 'Pois é'. Mas não é fácil.

O peso das circunstâncias, o desatino que por vezes faz rodopiar o mundo em volta da vida das pessoas, tudo isso parece que, por vezes, causa um desequilíbrio no seu corpo, como se os fluidos entrassem em desestabilização e a energia que move o corpo também entrasse em tumulto.

Quando as pessoas se vêem assim, querem, sobretudo, ver-se livres dessa ansiedade, desse medo, da possibilidade de voltar a ter novas crises dessas, tão aterradoras.


Gisele Bündchen conta que passou por isso. Fumava muito, bebia, dormia pouco, trabalhava muito. E entrou em descompensação. Até que um dia a ideia de se atirar da janela assomou à sua mente. E, nessa altura, percebeu que tinha que abrandar. Parou, decidiu não se curar através de medicamentos mas de ioga e de meditação. No vídeo abaixo a bela Gisele emociona-se ao relembrar esses maus momentos.



E este mostra-a, serena, em comunhão com a natureza.



Dias felizes para vocês, meus Caros Leitores.

quarta-feira, maio 23, 2018

A atenção comovida, o espaço cuidadoso, o alarme fascinado





Por vezes sinto uma compulsiva necessidade de tomar decisões erradas. Propositadamente. Como se precisasse de seguir um caminho já prevendo que não leva a lado algum. Contudo um péssimo rumo pode dar ir dar a um excelente resultado. A vida a tremer, a hesitar entre as mãos nervosas. Perder-me para me poder encontrar perdido. É lindo. É raro, mas acontece. A dor ainda é um sinal seguro de que estamos vivos, o resto menos.


Gosto de ti assim, quando não projectas as tuas ansiedades como dardos lançados para o coração e para os rins de gente que passa por ti e não imagina quem és. Guardei algumas dessas setas, que fui arrancando do meu corpo, dentro de uma caixa que nunca abri nem voltei a fechar. Como fiz então para guardar a seguinte? Não será hoje que te vou revelar os segredos das caixas que têm as mulheres onde guardam aquilo de que tu, e os outros, desconhecem o valor. Faço-te apenas notar que a relação de uma mulher com uma caixa é essencialmente diversa da relação que um homem pode ter com uma caixa.


De fotografia nada sei, a não ser a inquietante proposta dessa coisa mítica: parar o tempo num pequeno espaço e garantir-lhe uma ambição de eternidade. Mas quem pode garantir não ser ficção o cinetismo da realidade? É dentro de nós que as imagens correm. Mas o caçador chega ao mundo de fora e diz: Pára! -- e tudo pára. Temos um movimento visual escolhido pela atenção comovida, o espaço cuidadoso, o alarme fascinado. Na película impressionada fica a conjunção do sujeito com o objecto, síntese de um lapso da 'história', acabado de nascer e já votado às várias mortes das coisas todas.


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Quem canta I'm a a fool to want you é a extraordinária Angelina Jordan (que, não me canso de dizer, tem agora 12 anos)

Quem aparece nas fotografias é a não menos fantástica Gisele Bündchen. 

Os dois primeiros excertos pertencem ao mesmo livro do qual ontem transcrevi um little bocadinho.

O último é de Herberto Helder e pertence a 'em minúsculas'

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terça-feira, agosto 09, 2016

Porque é que nudez feminina é bela e a masculina parece obscena?
- pergunto.
Comparem-se as fotografias do Orlando Bloom em toda a sua pujança com as da Gisele Bündchen, Cara Delevingne, Kate Moss ou Sara Sampaio,por exemplo, e percebe-se logo porquê.
Digo eu.


Agora que falei de coisas sérias, já cumpri a minha quota diária de preocupações sociais. Quem estiver nesse comprimento de onda, machismo, sexismo, marialvismo e coisa e tal, com a Hillary, coitada, a ilustrar a pachorra que algumas mulheres têm que ter para aturar tanta parvoíce, pode saltar já daqui para lá.

Aqui, agora, a coisa é mesmo estival. Com o calor que está, é natural que a gente tenha vontade de fazer como a outra que tirava a roupa toda em qualquer lugar. Mas já me estou a adiantar. Aliás, já me adiantei logo no título.

Ando preguiçosa, não me apetece falar de coisa puxada, só mesmo ligeireza. Escrevo uma bobeirinha qualquer e logo me refastelo no sofá enquanto dou uma circulada nas mundanices. E aí parece que só sou atraída para as silly coisas. Passei por um artigo que ensina uma mezinha para a Europa, ensinamento bom, cura garantida -- um euro elástico (e eu a ler aquilo e a lembrar-me que já em tempos aqui dei a receita para esta mazela de termos economias a velocidades distintas mas atadas com uma moeda única, e que era uma coisa também na base de um euro para os probrezinhos e um euro proteinado para os ricos) -- e, em vez de agora falar nisso aqui, mandei o Stiglitz seguir pela sombra e dei comigo a curtir com o furor que a nudez do Orlando Bloom anda a causar pelas redes sociais.

[E depois ainda quero que me levem a sério. Oh mulherzinha mais franzina dos neurónios...]

Provavelmente os meus Leitores mais eruditos não conhecerão o Orlando Bloom. Talvez conheçam o Orlando e o Bloom mas em separado, não este de que aqui falo, Orlando nome próprio, Bloom de apelido. Melhor, Orlando Jonathan Blanchard Bloom de seu nome completo. Só o nome impõe respeito e não é pelo tamanho, é mesmo pela pinta do mesmo.

Bom. Para que não pensem que, depois de ter visto as fotografias, vou descer do meu salto alto e tecer loas ao que aos meus inocentes olhos foi dado ver, começo por apresentar Orlando Bloom mostrando o que ele tem de melhor: a sua arte.


Dito isto, passo ao que agora importa. A nudez de Orlando Bloom. O garboso homem mostrou-se nu enquanto remava com a sua bela Kate Perry. Sobre as águas e no areal da praia. E a coisa impressionou de tal forma quem viu as fotografias que todo um movimento se gerou. A internet encheu-se de gifs e de outras animações, toda a gente mostrando o seu espanto ou a sua disponibilidade.


Claro está que, se me falam de hits facebookianos ou de gatinhos, românticos pôres-dos-sóis ou outros bichos móis, passo ao largo, não quero cá saber de coisecas dessas... mas, se a coisa derrapa para a desgraça, aí estou eu, logo em estado de prontidão (salvo seja - liberdades linguísticas, claro).

Ou seja, fui logo à procura.

Tive que penar um bocado já que lhe puseram milhares de maluqueiras a ver se lhe tapavam o sol com a peneira, desde beringelas a piratas zarolhos e sei lá que mais.


Depois, quando a coisa parecia que estava quase lá, está quieto, tapavam com filtrinhos desfocadeiros.

Orlando in full Bloom
(versão censurada)


Até que vi, tal e qual.

E imaginem: feita puritana, não sou capaz de aqui a pôr. Bem, não é apenas puritanice, é mais caridade. Sério. Não ia causar atrofia psicológica a alguns dos meus Leitores. Quem quiser que flip.

Mas, cabecinha pensadeira que sou, dei por mim a cogitar: cacete, por que raio de carga de água é que não me parece elegante colocar aqui um homem em toda a sua gloriosa nudez e não me ensaio nada de pôr fotografias de mulheres nuas? Nelas vejo uma estética que tem qualquer coisa de poético e neles vejo um descaramento que até pede punição. Porque será isto, senhores?

No post mais abaixo, toda eu moderninha e o escambau, que as mulheres aceitam papelinhos secundários e rebéubéu pardais ao ninho -- e depois, se for para mostrar o corpo de uma mulher nua, que sim, que é uma obra de arte e, se for para mostrar um corpinho bem feito de homem, está quieto, só filtrinhos e singelas beringelas. Não percebo.

Cara Delevingne


Gisele Bündchen


Kate Moss

Sara Sampaio


Então? E do belo Orlando Bloom nada...? - perguntarão vocês, já fartos de tanta infrutífera auto-análise.

Pronto. Vá lá. Uma de fato de banho e não se fala mais nisso. E é para não dizerem que me estou a armar em Asssunção Cristas a fingir que não aceita convites para ir à bola quando a gente está fartinhos de saber que também foi a França à pála. Eizi-o, ao belo Orlandinho aqui há uns dois dias, ainda fresquinho.

Orlando Bloom, com um fato de banho a mais
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E por hoje é isto. Coisas do tempo de verão.



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E já sabem: se quiserem saber o estúpido que é ser-se machista e o que a pobre da Hillary tem penado à conta disso, queiram, por favor, descer.

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domingo, novembro 08, 2015

Dizem-me que ou sou lésbica ou bissexual - e eu não sabia


Gigi Hadid, uma das modelos mais sexy da actualidade (apesar das formas generosas)


No post abaixo disse que falaria nesta revelação. Não é uma questão de sair ou não do armário, é mesmo uma questão mais perturbante.

Acho que já uma vez aqui o contei: uma vez um homem disse de mim que eu era a mulher mais mulher que ele tinha conhecido. E eu fiquei contente porque, de facto, me sinto muito mulher. Não é que as lésbicas ou bissexuais não o sejam mas tenho esta ideia (na volta uma ideia peregrina) de que uma mulher muito mulher gosta mesmo é de homens. Eu gosto. Não tenho ideia de alguma vez ter sentido atracção por uma mulher. 

Mas eis que um tal Dr. Gerulf Rieger do Departamento de Psicologia da Universidade de Essex conduziu um estudo que incluiu 345 mulheres e concluiu que todas reagem animadamente a estímulos femininos, embora algumas também a masculinos - e, vai daí, conclui que não há mulheres completamente hetero, são todas homo ou sexualmente fluidas.

Depois vi que isto foi medido a partir da dilatação das pupilas aquando da visualização de vídeos em que apareciam homens ou mulheres nus.

Conclui ainda que as mulheres que abrem o olho quando vêem uma mulher nua parecem mulheres normais, ou seja, não se vestem forçosamente como se fossem sapatonas assumidamente empedernidas.

Pasmo com este raciocínio primário por parte de um doutor cientista. Só por isto já me apetece dizer que o tipo deve ser mas é parvo.

Pois eu, cá para mim, acho que quando uma mulher vê outra nua ou em lingerie, olha-a com atenção (mesmo que subrepticiamente) para ver se ela está mesmo bem, para ver se tem defeito, para ver se há razão para invejinha, para ver a marca da roupa interior, coisa assim - ou seja, não forçosamente porque quer alguma coisa de mais.

E agora vou ver um vídeo com a bela Gisele Bündchen numa sessão sexy e logo a seguir vou ali ver ao espelho se estou com a pupila toda aberta.


GQ - Gisele Bündchen (Julho 2008)

 
...

Olha: os olhinhos bem normais. Devo ser a excepção.
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E, como excepções há poucas, devem ser vocês, Caras Leitoras, que encaixam no estudo. .. :)
Seja como for, está tudo certo, que o Um Jeito Manso é um blog amigo de toda a gente que venha por bem. Tão simples quanto isto.


quarta-feira, outubro 21, 2015

Se eu disser que vi um pássaro sobre o teu sexo, deverias crer?


Tenho tido uns dias cansativos e, para ajudar à festa, o trânsito anda horrível. Para quem vive em cidades mais pequenas ou, mesmo, no campo, talvez não consiga dar valor à sorte de não ter que andar metido em infindáveis pára-arranca, o tempo a passar, uma pessoa com compromissos e a ver que vai chegar atrasada - e eu odeio chegar atrasada. Das horas da minha vida passadas dentro do carro nem eu consigo fazer ideia.

Talvez por isso, chego a esta hora com sono, a cabeça meio esvaída, a pensar que amanhã ainda tenho que me levantar mais cedo, tanto que fazer, tanta canseira todos os dias. No carro, venho na Antena 2, não me apetece vir a ouvir notícias, e chego tarde a casa, pouca televisão vejo.

Dei agora uma volta pelos jornais online e penso que até me apetecia comentar isto do acordo alcançado entre o PS, o PCP e o BE, o contra-relógio entre a coligação dos PàFs e a nova coligação de esquerda, tal como me apetecia falar da surpreendente conversa que tive há bocado, pelo telefone, com o meu filho. Ou da situação de Sócrates, uma situação que me enche de perplexidade e preocupação, aquela sensação que, a toda a hora, um de nós. sem mais nem ontem, pode ver-se caído num buraco escuro do qual terá a maior dificuldade em sair. Ou responder a um Leitor que, no outro dia, me escreveu a dizer que eu devia falar também do Carlos Cruz. Mas eu não conheço bem o caso de Carlos Cruz, acho que ele foi julgado, condenado e isso confirmado em todas as instâncias. Já li que o caso também assenta em suposições - mas não sei e, estando em causa um crime tão grave, não quero correr o risco de, por desconhecimento, cometer eu alguma injustiça. Ou também podia falar de uma outra notícia, do além, que me chegou, de tarde, por um amigo e que, há pouco, me foi confirmada pela minha filha. Enfim, assuntos não faltam; mas a verdade é que hoje me sinto vencida pelo cansaço: não tenho energia para me empolgar e, como é sabido, quando escrevo sobre estas coisas toda eu vibro.

Por isso, vou antes virar-me para o lado lúdico da vida. Não direi, ainda que na brincadeira, que vou dedicar-me à sem-vergonhice porque haverá Leitores que se espantam com esta minha liberdade de movimentos. Mas não há nada a estranhar: sou assim, sempre fui. Sinto-me livre para falar ou escrever sobre o que me apetece e faço-o com naturalidade. A noção de pecado é uma coisa que, em mim, praticamente não existe. Indigno-me contra quem eu acho que faz mal aos outros e aí indigno-me a sério mas, tirando isso, sou mesmo peace and love e poucos preconceitos tenho. Guio-me pela minha consciência e melhor guia não conheço. Isso não faz de mim uma desregrada libertina, que não sou, mas revela que tenho uma mente aberta, tolerante, predisposta para me sentir bem e para fazer bem.

Bem, já chega de conversa.

Este intróito todo tem a ver com aquilo sobre o qual vou escrever. Encontrei na Elle francesa um pequeno artigo sobre oito coisas que os homens apreciam na cama, ou seja, no decurso do acto sexual. Não sei como chegaram a esta conclusão, se houve sondagem, estudo científico ou se foram os jornalistas que se confessaram. Mas, porque me parece bem, aqui estou a partilhar convosco. A ordem pela qual aparecem não tem a ver com a importância, é uma ordem ao acaso (acho eu). E a tradução que fiz do dito artigo é mais do que livre. Melhor: apropriei-me do texto e, na prática, escrevi o que me apeteceu, respeitando o conceito.


Mas vamos com música, que vamos melhor



Ama-me. Ainda é tempo. Interroga-me. E eu te direi que nosso tempo é agora. Esplêndida de avidez, vasta ternura. Porque é mais vasto o sonho que elabora há tanto tempo sua própria tessitura. Ama-me. Embora eu te pareça demasiado intensa. 








Oito mandamentos do sexo na perspectiva masculina



1. Os homens gostam de ver o rosto das mulheres enquanto fazem amor - um olhar mergulhado no olhar do outro só serve para que o mergulho seja mais perfeito.

2. Gostam da espontaneidade. Nada de atitudes premeditadas, posições muito rebuscadas. A entrega de forma natural, a boa disposição, a franqueza funcionam muito bem - em tudo na vida e também no sexo.

3. Eles gostam que a mulher assuma o comando. Talvez não sempre, ou seja, não queiram propriamente uma sargentona sempre em exercício;  mas de vez em quando, sim, vão gostar de ver que a mulher tem iniciativa, que sabe ao que vai.

Se eu disser que vi um pássaro sobre o teu sexo, deverias crer? 
E se não for verdade, em nada mudará o Universo. 
Se eu disser que o desejo é Eternidade 
Porque o instante arde interminável 
Deverias crer? 
E se não for 
verdade 
Tantos o disseram que talvez possa ser.






4. E gostam de ser surpreendidos. Toda a gente gosta, acho eu. Mas agora é dos homens que falo: gostam. E não vou entrar em pormenores, que nisto cada um que improvise por si.

5. Os homens gostam daquilo a que em inglês se chama dirty talk (e que em português soa um pouco vulgar se se disser conversa porca). Mas, enfim, gostam de uma ou outra expressão que demonstre que a mulher está descontraída, sem tabus. Mas pode ser apenas um incentivo como 'mais depressa'. Como este é um blog de família não me vou alargar. Só acrescento que muita conversa, ou conversa muito explicada, muito descritiva, produz efeito contrário.

6. Eles gostam de ser guiados, gostam que a mulher os leve ou lhes diga o que fazerem para que elas sintam mais prazer. Percebe-se: quem é que não gosta de aprender ou de se portar bem...?

7. Os homens gostam de perceber se as mulheres têm prazer. Por isso, o melhor é não disfarçar ou não se fazer de ausente. Claro que todos os exageros ou manifestações forçadas são contraproducentes.

8. E, claro, gostam da simplicidade. Gestos simples que demonstrem o afecto ou o desejo são altamente apreciados pelos homens. Não vou alongar-me pelos motivos já aduzidos mas as minhas Leitoras não se inibam nem se esforcem muito. Naturalidade, simplicidade, afecto - e as coisas correrão bem, a contento.


E por que haverias de querer minha alma na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas, obscenas, porque era assim que gostávamos. Mas não menti gozo prazer lascívia. Nem omiti que a alma está além, buscando aquele outro. E te repito: por que haverias de querer minha alma na tua cama? Jubila-te da memória de coitos e acertos. Ou tenta-me de novo. Obriga-me.



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Lá em cima Veronica Sabino interpreta a Canção II ( Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé), poema de Hilda Hilst musicado por Zeca Baleiro

As fotografias mostram a longilínea Gisele Bündchen

Os poemas (por vezes incompletamente transcritos) são de Hilda Hilst, uma mulher que falou do amor completo, físico, visceral, apaixonado e a quem, por isso, chamaram transgressora, mesmo obscena.
A propósito disso, ela disse:
“O que é obsceno? Obsceno? Ninguém sabe até hoje o que é obsceno. Obsceno para mim é a miséria, a fome, a crueldade, a nossa época é obscena.”
O título da mensagem foi extraído de um dos seus poemas.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um dia muito feliz.

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domingo, setembro 13, 2015

Joana Amaral Dias na Vidas: a nudez, a gravidez, a política. "É menina! Oxalá seja mulher com liberdade". É isto uma mensagem eficaz em tempos de campanha eleitoral. Nestas alturas vale tudo?
[A propósito, recordo as duas vezes em que estive grávida]
E termino com uma sugestão ao Carlos Abreu Amorim


Quando engravidei, ao princípio, nunca ninguém dava por nada. Usava jeans que a minha mãe abria de lado e onde colocava um elástico que eu ia ajustando. E usava umas camisas floridas, larguinhas. Como não tinha enjoos, desejos ou daqueles sintomas usuais, é que ninguém sequer suspeitava; e eu não sentia necessidade de andar a alardear, achava que era coisa minha.

Depois, quando a barriga estava maior, e já era verão, usava vestidos à mamã (como, na altura, se dizia), larguinhos, coloridos. Lembro-me de um que a minha mãe me fez, encarnado claro com umas pintinhas, sem mangas, amplamente decotado com um folhinho à volta. Vejo-me nas fotografias, ar de miúda, vestido de miúda, sempre a rir... e com uma barriga que impunha respeito.

Na altura não era costume usar blusas justas sobre barrigas muito grandes. Também não era usual estar na praia com o barrigão à vista. Usava um biquini próprio, que tinha uma espécie de véu preso no soutien e que encobria a barriga. Quando não estava gente por perto, destapava-a para que os bebés sentissem melhor o sol.

Gostava muito da minha barriga que crescia imenso; das duas vezes toda a gente dizia que eu teria gémeos apesar de eu garantir que era só um. 

Gostava muito de, à noite, quando havia lua cheia, me pôr na varanda com a barriga ao léu. Achava que a luminosidade lunar haveria de ser boa. Nunca pensei porquê. Talvez achasse que traria felicidade. Mas quando estava quarto crescente eu também apresentava à lua, à noite, na varanda ou na janela do quarto, os filhos que viviam dentro de mim. Aí, se calhar, era para ver se cresciam bem.

Nunca pus cremes para estrias e, por sorte, nunca as tive. Gostava mesmo de ver a minha barriga, especialmente quando se mexia. 

A minha filha fazia movimentos curtos, mexia os braços, as mãos, os joelhos, os pés. Era possível, colocar as mãos sobre a barriga e ficar a senti-la a mexer-se. Punha música e falava com ela. Nasceu uma menina calma, sorridente, bem comportada. Dormia bem, mamava a horas certas, brincava sossegadinha.

Com o meu filho era muito diferente. Parecia que dava cambalhotas, os movimentos eram intensos, todo ele se revolvia, e com força. Chegava quase a ficar incomodada, quase mal disposta. Devia dar sapatadas que se reflectiam no estômago, sei lá. Sempre foi tremendamente irrequieto.

Nasceu enorme, não sei se se sentia apertado apesar do tamanho do barrigão. Ao fim de pouco tempo de nascer, tive que o tirar do berço porque dava voltas, punha a perna em cima, quase virava o berço.

Também era sôfrego a mamar, engasgava-se e quase sufocava, dormia mal, não parava sossegado, ia dando comigo em maluca pois não me deixava dormir mais que uma ou duas horas de seguida. E, como mamava daquela maneira, depois vomitava, tinha que mudar a roupa da cama. Ou seja, era cá fora aquilo que se adivinhava que seria quando estava dentro da barriga. 

No entanto, apesar da experiência traumática que foram aqueles primeiros meses do meu filho, durante muitos anos, eu sentia a nostalgia da gravidez, uma saudade enorme de sentir uma pessoinha a criar-se dentro da minha barriga, a ganhar vida própria, a adquirir a sua maneira de ser. 

Já contei muitas vezes que apenas pela vida que tinha - sem apoio familiar por perto, a viver numa cidade e a trabalhar noutra, tudo muito difícil, com problemas sempre que algum ficava doente - é que não tive uma meia dúzia de filhos. O meu corpo pedia para se transformar mais vezes - eu é que não lhe dei ouvidos.

Quando os meus filhos nasciam, tinha leite que não acabava; e eles, alimentados só com leite, sem suplementos, aumentavam a olhos vistos, saudáveis, cheios de vitalidade, felizes. 

Depois, vieram os momentos da gravidez da minha filha e da minha nora. Vivi esses momentos com felicidade mas de uma maneira muito diferente, com uma ansiedade que não tive quando tinha os meus filhos dentro de mim. Verdadeiramente só descansei, de cada uma das quatro vezes, quando os vi cá fora, bem, e as mães também bem.

Tenho verdadeira devoção perante uma barriga que transporta um filho em formação. Acho das coisas mais maravilhosas do mundo esta capacidade de uma vida se formar a partir de duas ínfimas células, multiplicando-se de forma inteligente, misteriosa, perfeita.

Uma barriga de uma mulher grávida é, para mim, uma coisa de uma beleza sobrenatural.

Talvez por isso me sinta chocada com a instrumentalização que Joana Amaral Dias anda a levar a cabo com a sua barriga, a sua gravidez. Há ali qualquer coisa de vulgar, como se, em política, valesse tudo, até a exposição da parte do corpo que, transformando-se para acolher um outro ser humano, pudesse ter o mesmo efeito que um cartaz de campanha.

É que uma coisa é pensar o corpo como um elemento estético, belo, uma mulher com outra pessoa dentro de si; e outra, muito distinta, é, em campanha, isso ser aproveitado de forma gratuita, perdendo o sentido mágico e transcendental, apenas para servir de bandeira eleitoral.

E se a fotografia anterior na capa da Revista Cristina já me parecia uma coisa sem jeito, a capa agora da revista Vidas do Correio da Manhã - em que aparece espalhafatosamente chocarreira - ainda mais vulgar me parece, quase chocante.



Joana Amara Dias, candidata do AGIR


Não me tenho por conservadora pois quer política, quer esteticamente, acho que estou o mais possível aberta à diversidade, à irreverência, ao inesperado. Mas acho que há coisas que merecem algum respeito: a beleza de uma barriga grávida não deveria ser instrumentalizada com vulgaridade.

Só falta, um dia destes, o Carlos Abreu Amorim, desesperado, numa de ver se salva a sua pafiosa coligação, nos aparecer também assim:


O actor Johnny Vegas aqui fotografado por Karl J Kaul,

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Bem. E a propósito dos pafiosos ou pafientos, desloquem-se por favor até ao post abaixo a fim de contribuirem para o peditório organizado pelo ainda Primeiro-Ministro para ajudar os pobrezinhos lesados do BES a pagar as despesas de porem o BES ou o Novo Banco em tribunal. Uma cena de crowd funding a la Láparo, não sei se estão a ver. Uma coisa esperta. Mais uma.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.


quinta-feira, janeiro 15, 2015

Sobre os informáticos (e não me estou a referir aos sabotadores e incompetentes que alguma vez mexeram no Citius que esses, coitados, já lhes basta terem tido a pouca sorte de trabalharem no ministério da Loura da Cruz que não varre para debaixo do tapete, apenas respalda o senhor sequetário de estado)


No post abaixo falei de redes sociais e da crescente substituição de afectos e relacionamentos reais por amizades e amores virtuais. O vídeo que juntei fala disso e é bem interessante.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, falo de informáticos. 




E não, não vou falar dos dois chefes dos institutos ou lá o que eram e que foram exonerados pelo Senhor Sequetário de Estado e que a senhora Dona Loura da Cruz respaldou, conforme ela diz. Que não atira para debaixo do tapete, apenas respalda o que o Sequetário de Estado decide. 

E lá vão mais dois ligados ao Citius. Os dois pobres técnicos de informática foram os primeiros a desandar, esses eram uns sabotadores (e à pala dessa ofensa, vão agora processá-la); e agora foram os chefes deles, uns desajustados sem perfil, como disse o Sequetário. 

Eu, se fosse Sequetária de Estado, agora exonerava os computadores, quem sabe não estão feitos com os outros, certa que a Senhora Dona Loura também respaldava. E os cabos eléctricos que ligam os computadores às tomadas nas paredes também merecem uma corrida em osso, uns bodes, uns verdadeiros bodes e não é dos expiatórios, tudo para o olho da rua. Não para debaixo do tapete que a Senhora Dona Loura é muito limpinha: tudo corrido a pontapé para o olho da rua.

Mas, enfim, o informático de que aqui vou falar é outro. Mas primeiro deixem que vos mostre um informático típico - e isto sem ofensa para nenhum em particular.


Este é daqueles que cria raízes
 debaixo da cadeira porque nunca se levanta
Este é daqueles marmanjões,
que não faz a barba e que já arranjou uma tendinite
 e uma barriga do caraças


Este é daqueles a atirar para o alternativo que nunca vê a luz do dia,
cheio de teorias de cão de caça, consumido pelo tabaco. 


E agora, depois deste dispensável intróito, deixem que vos conte a história que um Leitor, a quem agradeço, me enviou.


O informático


Um informático está numa ilha deserta há 10 anos, depois de um naufrágio. 

Certo dia avista um ponto brilhante no horizonte e começa a segui-lo com o olhar.

"Não é um navio", pensa o nosso herói.

E o ponto aproxima-se. "Não é uma barcaça".

E cada vez o vulto estava mais perto ... 

"Não é uma jangada !?!..."




E eis que das águas emerge uma loiraça, com fato de mergulho.




A loiraça dirige-se a ele e pergunta:

- Há quanto tempo não fumas um cigarro?

     - Há 10 anos!

Ela abre um bolso interior do seu fato impermeável e dá-lhe um cigarro.

     - Meu Deus, que bem que isto me está a saber!

- Há quanto tempo não bebes um whisky?

     - Há pelo menos 10 anos! - responde o nosso herói, ainda atarantado.

Então ela abre outro bolso interior, tira uma garrafinha de whisky e dá-lhe!

O homem bebe tudo de um trago, ainda descrente do que lhe estava a acontecer, mas muito, muito feliz!



Então a loiraça começa a baixar o fecho principal do fato e pergunta-lhe:

- E há quanto tempo é que não te divertes a sério?

Vai o nosso homem e grita, louco de felicidade:

    - Eh pá, tu não me digas que tens aí um portátil...?!


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Bónus para quem chegou até aqui:

A loiraça depois de lhe mostrar o portátil 



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A mulher é Gisele Bündchen

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Relembro: sobre as redes sociais falo no post abaixo.

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quinta-feira, outubro 16, 2014

Chanel Nº 5, és tudo o que eu quero. Gisele e Bruno Nogueira...?





E eis que finalmente saíu à cena o novo anúncio do perfume Chanel Nº 5 e, embora num registo um pouco diferente do habitual, não deixa de ser mais uma história de amor com sedução e romance servidas em doses criteriosas (tal como criteriosa deve ser a aplicação dos espirrinhos do precioso líquido dourado).

Uma mulher, um destino, um perfume. 

Nº 5, a fragância mundialmente mais desejada.


Os protagonistas desta vez são Gisele Bündchen, o belo actor holandês Michiel Huisman de Game of Thrones (que me faz lembrar o Bruno Nogueira em versão mais cheinha) e Lo-Fang que interpreta "You're The One That I Want". São dirigidos por Baz Luhrmann.




Falava-se no beijo entre Gisele e Michiel, que teria sido dado com inesperada entrega e que até os teriam tido que interromper mas, na edição, isso foi abreviado e apenas se percebe que lhes deve ter sabido bem. Há ali química e é disso que se fala quando se fala em Chanel nº 5.








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