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quinta-feira, julho 24, 2014

Ana Drago, Daniel Oliveira e pareceu-me que também Ricardo Paes Mamede chegam-se à frente e dizem que é preciso unir a esquerda e que, por isso, bora lá formar mais um Partido...? É isso? Percebi bem? E, se bem percebi, vão formar este Fórum, ou Manifesto ou Partido ou lá o que é e depois juntam-se ao Livre e, de braço dado, vão bater à porta do PS? Ou percebi mal? É que, se é isso, não seria mais fácil irem inscrever-se no PS? Ó esquerdinha mais destrambelhada sem qualquer tino na cabeça...


No post abaixo já falei das notícias da imprensa de mão, que dão conta de que o Coelho não se importa de deixar ir a Albuquerque para a Comissão Europeia. E não disse mas dei a entender: cantam bem mas não me embalam.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.



O barco vai de saída



(Fausto, no seu melhor)

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A direita é mais bronca, inculta, gentinha incompetente, pequenos conservadores ultramontanos, pacóvios e provincianos, tementes em relação à cultura e ao conhecimento. Dói só de a gente saber as burrices que dizem e fazem. 

Quando tomam conta da quinta, fazem leis que não lembram ao diabo, destratam quem podem, avacalham o que os rodeia, destroem tudo à sua passagem. Sem pruridos ou remorsos.

Ana Drago é inteligente, tem o verbo fácil, é fotogénica.

Mas... so what...? De concreto, o quê?

Os inteligentes de esquerda vêem isso e sentem genuína repulsa. Têm angústias literárias, exaltações quase místicas, epifanias criativas e, de todas as formas possíveis e imaginárias, parodiam, insultam, desprezam os mentecaptos dos direitolas.

Depois, cada um de per se quer parir a tirada mais iluminada, quer citar o intelectual mais cosmopolita, quer obter o reconhecimento deslumbrado dos seus pares, de facto, quer ser primus inter pares.

E, nessa ânsia narcísica, em que os princípios se querem os mais puros, as intenções as mais nobres, o despojamento o mais onírico, começam as divisões.

Enquanto a direita se une, a esquerda divide-se.

Portugal pode estar a ruir, as contas desequilibradas, a dívida a subir para níveis estratosféricos, os juros da dívida a sugarem toda a magra seiva que a frágil economia consegue produzir, podem os desempregados estar a deixar de receber subsídio e os excluídos a deixar de receber o subsídio de inserção, pode o país estar a tornar-se um país onde as desigualdades mais se cavam, e podem os professores ser humilhados e tratados como cães sem dono, e os cientistas ser desprezados como parasitas, podem os jovens sair em debandada, reproduzindo-se longe deste país pobre e envelhecido... que a esquerda continua a agir autisticamente, numa lógica que é essencialmente de estética política. 

Um por aí anda a tocar ferrinhos e a apelar à desunião dentro do próprio partido, outros a repetirem, no mesmo tom de voz, os mesmos slogans de há dezenas de anos que já ninguém escuta, e os da esquerda que se quereria arejada e moderna a brincarem aos partidinhos, juntando-se e desajuntando-se. Um filme que seria de risota se não tivesse a consequência de deixar o caminho livre à destruição que vem sendo levada a cabo - sem oposição.

Acho Ana Drago, Daniel Oliveira, Ricardo Paes Mamede ou Rui Tavares gente inteligente. E João Semedo ou Catarina Martins também. Ou Francisco Louçã, também. Inteligentes e boa gente.


Quantas vezes já vimos estas pessoas a formarem manifestos, partidos, tendências?

Falam, falam, falam... e não fazem nada...


Mas, lá está, falta-lhes qualquer coisa. Falta-lhes um suplemento de quelque chose. Falta-lhes uma cola agregadora. Falta-lhes alegria e força intrínsecas. Miguel Portas tinha tudo isso e tinha, ainda por cima, carradas de charme. Ora nenhum destes tem isso porque isso não se herda, isso ou está nos genes ou, azarinho, não está.

Se ainda não perceberam que, para além de tudo o que é genético e de todos os puros ideais, têm que ter os pés assentes na terra, têm que ter um mínimo de pragmatismo e que, se querem chegar-se ao poder e aliar-se ao PS, então devem ter sentido prático e, de facto, juntarem-se ao PS - ou, então, vão andar o resto a vida a fragmentar os partidos por onde passam, depois a formar outros, depois a provocar cisões, depois a voltarem a juntar-se noutros, uma brincadeira inconsequente e ridícula. 

Fazem-me lembrar as bolinhas de mercúrio quando se partia um termómetro do antigamente. Têm muita pressa de fazer qualquer coisa, juntam-se a outras bolinhas, depois as bolinhas dividem-se em duas e depois voltam a juntar-se a outras bolinhas; mas tanta dança de bolinhas não passa disso mesmo: de uma dança de bolinhas.


Pressa. Muita pressa. Foi neste ritmo que Daniel Oliveira abriu esta quarta-feira ao final da tarde a sessão organizada pela Fórum Manifesto para “Uma governação decente”. Do lado oposto da mesa, mas em sintonia perfeita, na pertença à associação política, mas também na escolha dos verbos e adjectivos, estava Ana Drago, igualmente ex-dirigente do BE.

(...)

Duas certezas para já: vai nascer uma plataforma política e eleitoral que se baterá por ir a votos já nas legislativas de 2015. E que entende que é “suicidário” excluir o PS. Um partido? Aderem ao Livre? “Vamos ver como é possível organizar esse esforço. É muito cedo para ver a forma institucional”, disse Ana Drago.


Por um lado dizem que têm pressa mas, ao mesmo tempo, que ainda é cedo. Em que ficamos? Em lado nenhum, claro.

Há pouco ouvi o Rui Tavares na televisão. A mesma lenga-lenga intelectualizada, bem articulada. Mas, senhores, falta-lhes garra, sentido prático, experiência de vida, capacidade para deitarem mãos ao trabalho.

Se nem conseguem unir-se entre eles, meia dúzia de gatos pingados, como pensam conseguir algum dia mobilizar um país? 

Sabem o que me ocorre perante tudo isto? Que, por este caminho, e se, ainda por cima, os amigos do Seguro o conseguirem aguentar lá, o Passos Coelho e o vice-irrevogável Portas nem precisam de se ralar com as próximas eleições. Têm, de facto, muita sorte: governam um país manso e ainda por cima têm passarinhos destes na oposição... 

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E, a propósito do Passos, queiram, por favor, descer até ao post seguinte.

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quarta-feira, julho 11, 2012

O Estado da Nação, a AR, o Governo, a Oposição: uma pobreza. E Lisboa e o Tejo vistos da minha janela. E os meus livros a monte.


Música, por favor

Keith Richards e Chick Corea interpretam o Concerto para Piano de Mozart

*

Ontem não consegui escrever nada. Não estava muito bem, coisa que decorre deste momento que atravesso: nada de especial mas o suficiente para não poder vir aqui dar um arzinho da minha graça. 

Hoje já estou bem, já respondi aos comentários, já respondi aos mails e já aqui estou depois de uma tarde em que, quase em off, na televisão, decorria um debate chatíssimo na Assembleia da República. 

Olho as bancadas e acho que aqueles não são seguramente os representantes do povo português. Vejo miúdos e miúdas que não se percebe que condições mínimas terão para serem deputados nem de onde saíram, vejo gente com ar ensonado, enfastiado, esbodegados nas cadeiras. Muitos são totalmente desconhecidos do comum dos mortais.

Depois há os oradores de serviço, banais, os do PSD dizendo tontices, infantilidades, a provocar os do PS, os do CDS a armarem-se em superiores mas sem se perceber que razões têm para o fazer e com quem se estarão a comparar, os do PCP a falarem de uma forma tão monocórdica e repetitiva que dá ideia de dizerem a mesma coisa sejam quais forem as circunstâncias, o PS com alguma incisividade mas com falta de garra, sem ser capaz de agarrar o governo pelo colarinho. António José Seguro, não sei se pela imagem, se pelo tom de voz ou pela forma como quer aparecer, com uma certa pose de estado mas uma pose precoce, não é pessoa para empolgar os descontentes.  Em quem reconheci alguns dotes de tribunos, afirmativos, mobilizadores, com clareza de exposição foi, de facto, nos deputados do BE, Fazenda, Louçã e até a Ana Drago adquiriu já uma compostura mais convincente. No entanto, não me esqueço que o BE fez panelinha com os outros para deitar abaixo o Governo de Sócrates sabendo, de antemão, que a alternativa era a desgraça que está à vista.



Durante grande parte do tempo, Paulo Portas pôs-se ao fresco. Os outros, ar de quem tem mais que fazer,
entretinham-se com os computadores
 (Vítor Gaspar, certamente, a ver se atina com as contas, Passos Coelho com ar de quem não percebe patavina e pensa que o computador é para tocar piano no écran, Relvas sempre a fazer coisas às escondidas).
Assunção Cristas, cuja cabeça não se vê, sempre num desconsolo.


Passos Coelho, sumido, enfezado, ar agastado, respondeu sem brilho, jogando com palavras, palavras, palavras esgrimidas por vício em esgrimir palavras, sem ser capaz de mostrar um rumo para o País. Persiste obstinadamente no lema de que fará o mal que for preciso para dar cabo do País. O ano a meio e já todas as metas a aparecerem furadas, tanto sacrifício e tanta desgraça para nada e Passos Coelho aparece, de ar zonzo, como se nem desse por isso. Parece aluado, parece que não consegue perceber o fiasco que são as suas políticas, e, quase sem lábios, olhos a meia haste, usa expressões típicas de Massamá (pôr porcaria na ventoinha...?!) e não acrescenta uma vírgula a coisa nenhuma. Um zero.

A encerrar, Paulo Portas, bem encarado, ar saison, cores estivais e sorriso de quem 'os vai arrumar', limitou-se a fazer a defesa do indefensável, atirando as culpas para os idos do PS, sacudindo a água do capote e puxando para o seu lado, como testemunhas abonatórias, os vários factores que demonstram que somos um aluno bem comportado. Não interessa que o país esteja de rastos, porque lá fora os mercados e os seus representantes gostam de ver sangue... e estão a vê-lo.

Fala, pois, Portas de alto sem nada dizer, fazendo muito mal, perante os seus eleitores e perante todo o País, em colar-se ao que circula na ventoinha no Governo e esquecendo-se dos seus próprios telhados de vidro (vidé a este propósito a crónica de Manuel António Pina no Jornal de Negócios, intitulada 'Um adjunto para a adjunta', crónica esta que em boa hora um Leitor fez o favor de ma assinalar, o que, daqui, muito lhe agradeço).



Relvas mexe no iPad ou no telemóvel escondidos sob a bancada, ou, quando tinha Portas ao lado,
roía as unhas e dizia segredinhos, o tempo todo na total desatenção e agitação.
Assunção Cristas, com ar de quem está a fazer o maior frete, com sono, desinteressada


Enquanto isso, na rua, os médicos mostravam o seu descontentamento e a sua preocupação pelo rumo que a saúde está a tomar neste país entregue aos valores mais descabelados, valores estes relacionados com um mercantilismo primário. Sobre este assunto, permito-me recomendar a leitura dos excelentes textos do Leitor deste blogue, o Caro DBO, médico que, no seu blogue Deputado-da-Abstenção, tem esclarecido de forma muito clara e frontal as muitas razões para o descontentamento desta classe (e, de resto, de todo o sector da Saúde em geral).

Enfim, um País a marcar passo, ou melhor, a caminhar numa rampa descendente a caminho do passado e não do futuro, com toda a população descontente, desde os que têm profissões tradicionalmente mais reconhecidas como os médicos até aos trabalhadores mais indiferenciados, desde os desempregados até aos reformados, desde os jovens que não encontram trabalho e abandonam o país até emigrantes que perdem o emprego e voltam para a terra mãe (deixando de fazer descontos cá, o que tanta falta nos faz).

*

Levanto-me então, uma vez mais, e desloco-me até à janela, agora já com maior facilidade. Tenho que arejar a cabeça, senhores.

Olhando este rio tão fresco e tão feliz quase me esqueço das desgraças a que assisto na televisão. Volto atrás a buscar a máquina, que saudades tenho de andar a passear e a fotografar. E fotografo um daqueles grandes paquetes ao pé dos quais Lisboa quase parece uma cidade de casinhas pequeninas.





Lisboa a Bela, quase ofuscada por um enorme paquete, gigante branco com o ventre carregado de gente de outras paragens.
Santa Apolónia, azul, ali ao pé, quase parece uma estação de brincar . E repare-se no navio de carga acostado ao paquete, que pequeno parece. E as grandes árvores... como também parecem tão pequeninas.



Que cidade tão bela é Lisboa, que cores, que luminosidade, que magia. Olho extasiada, fico com Lisboa presa ao meu olhar, dentro de mim. Envolta em azul, colorida, Lisboa é uma cidade fascinante.


Mais à frente, aproximamo-nos do centro, o casario eleva-se, começa a ganhar outra dimensão sem que a beleza se disperse.





Quase parece que os barcos de passageiros furam os prédios, deixando rastos de espuma atrás de si
(Estamos perto da Casa dos Bicos, Fundação José Saramago, junto à zona ribeirinha, estamos na zona  em que Lisboa começa a elevar-se com monumentalidade, e sempre grácil, sempre suavemente colorida)


Tem sido esta cidade maravilhosa que tantos pintores tem inspirado, casas a seguir a casas, polifacetadas, multicoloridas, suaves, delicadas, e todas cintadas pelo rio azul, largo, generoso (e, por favor, não venham tentar domesticar-me os adjectivos!).

A seguir vejo um fino traço que desliza Tejo afora. Não percebo o que é, é uma linha estreita, discreta, no meio dum rio brilhante, um risco apenas. 




Do lado de cá as árvores da margem, do lado de lá o casario discreto da outra banda
e, deslizando, como um ágil segmento sobre as águas, este traço que talvez seja um barco


Talvez que, por um qualquer acto de magia, alguém o transforme num navio. Não sei. Espreitei, espreitei e manteve-se assim, subtil como é a geometria das coisas inesperadas.

*

A seguir, de máquina na mão, continuo a fotografar. Os livros que estavam em cima da mesa em que eu escrevia e outros que estavam sobre outra pequena mesa de apoio, foram agora empilhados para que a mesa fique livre para refeições e para que a sala possa acolher visitas, parecer um pouco mais ordenada. Difícil. Já lá havia outros, agora são mais. Mas eu gosto de os ver assim, irreverentes, amigos sempre presentes.





Livros postos em pilhas sem qualquer ordenação
(ao fundo a minha estante ondulada de que tanto gosto e que uma vez já aqui mostrei e, de esquina, a parede que há tempos pintei de carmim e que tem um grande quadro pintado por mim)





Livros agora fotografados de cima
(no chão, no qual parece haver uma mancha clara que não existe na realidade, carpete de Arraiolos feita por mim,
modelo clássico segundo original existente no Victoria and Albert Museum) 



E assim, rodeada por livros, com as janelas banhadas pelo Tejo e por Lisboa, vou passando estes os meus dias de indolente cativeiro.

**

Como sabem, terei todo o gosto em receber-vos também lá no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras falam de uma certa boca que encanta pela doçura, junto a um poema de Rui Rocha que hoje se estreia por aquelas bandas. A música hoje é uma interpretação superior, Diana Damrau interpreta Salieri.

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E desejo-vos, bem entendido, uma bela quinta feira! Saúde e felicidade é o que vos desejo.

segunda-feira, junho 06, 2011

Dia cinzento, frio, chuvoso, as televisões cheias com a história do 'homem vulgar', o putativo barítono e promitente Primeiro Ministro Passos Coelho, e uma entrevista de Ana Leal na TVI que é um murro no nosso estômago - o que a justiça fez a Filomena, mãe de Rui Pedro - e, finalmente, para aquietarmos a nossa alma, Worrisome Heart por Melody Gardot

Quando hoje cheguei a casa já estava quase escuro, chovia uma chuva miudinha, estava vento, uma mulher agarrava-se ao seu cuidado cabelo cujas dispendiosas madeixas teimavam em esvoaçar, dois rapazitos puxavam o capuz, um homem amparava a mulher pelos ombros, estava frio, um dia triste, um anoitecer sem história, um dia de Junho e está como se o outono estivesse a acabar.

As televisões, dá-me ideia que em todos os canais, mostram a história de Passos Coelho, a professora, o professor, o amigo, o pai, e de manhã era a vizinha que dizia que a Laura eé bonita e por fora, o vizinho, a empregada da limpeza do prédio.

Depois, noutro programa, vejo a menina Ana Drago, grávida, empolada, sempre sem perceber bem o estado da nação, há coisas da vida real que lhe escapam e ela sempre, pomposamente, revoltada como se a culpa dela não perceber fosse dos outros e não dela. Noutro sítio (ou no mesmo?) o Bernardino Button, que talvez um dia destes comece a rejuvenescer, dizia coisas interessantes iguais às que dizia quando tinha cem anos, Ângelo Correia, anafado e vencedor, dizia grandes verdades e gracinhas ao menino-velho que também se ria. Noutro programa José Miguel Júdice, blasé, rico, distinto, dizia coisas verdadeiras, interessantes, 'eles vão ter que se entender', e Joâo Cravinho concordava, claro.

Neste momento, como todas as segundas feiras, a televisão está sintonizada no Dia Seguinte ou nos Donos da Bola ou coisa do género e, desta vez, Paulo Bento, com aquele seu ar assertivo e risquinho ao meio, fala de coisas que a mim não me interessam nem um bocadinho (mas regimes democráticos são assim: se há em casa quem goste de futebol, então, paciência, que remédio).

E estou aqui a escrever sobre isto para evitar falar de uma coisa que vi no telejornal e que me deixou de coração apertado, aflito. Mais uma reportagem de Ana Leal que nos dá sempre reportagens sensíveis embora, por vezes, difíceis de suportar. A mãe do menino desaparecido há 13 anos, Rui Pedro, que finalmente viu o único suspeito ser acusado e ir a tribunal, está doente, magra, tão magra, quase só pele e osso. Filomena, que vemos nas televisões há 13 anos, uma mulher bonita e triste, está, ao fim de todos estes anos, com uma depressão profunda, esquelética, já lhe custa a falar, sem forças, receando não chegar viva ao dia em que, finalmente, descubram o filho, mas, por outro lado, sabendo que não terá forças para aguentar muito mais tempo sem saber dele.

É isto uma das piores vergonhas do país: uma justiça que não funciona, em que se permitem situações imperdoáveis como esta. Ao longo de todos estes anos esta mulher lutou para que não se desinteressassem, para que procurassem o filho, para que interrogassem e julgassem o único suspeito. E, em agonia, assistiu à indiferença burocrática da justiça. 

Uma tristeza ver aquela mulher, tão bonita, assim desfeita. Tomara que o caso se resolva para que esta mulher possa voltar a viver. O que lhe fizeram não é coisa que se faça a uma mãe.


Para a corajosa Filomena Teixeira, com os meus sinceros votos de que um dia possa ter o seu Rui Pedro nos braços, aqui lhe deixo umas florzinhas do meu alfazema, que perfuma alguns canteiros in heaven, dispostas em frente de uma pinturazita minha.

Mas não quero acabar o dia a escrever sobre um tema tão triste.

E, por isso, aqui vos deixo a Melody Gardot, a sexy girl de cujas canções, de cuja voz, eu tanto gosto. Espero que também gostem.




E, já agora, para um momento de pura diversão, sigam para o post abaixo.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Partidos Políticos analisados à lupa da matemática (uma lupa muito ligeira, diga-se)


Falei há dias da matemática, dos conceitos de racionalidade e rigor que são introduzidos nas abordagens metodológicas.

Resolvi hoje fazer um exercício, aplicando a abordagem metodológica matemática à política e, desta forma, analisar se há discurso redundante, contraditório, infundamentado, por aí fora - um exercício ligeiro, no entanto que o espaço e o tempo não dão para mais.

Vejamos.

O Bloco de Esquerda. Falam encaloradamente, ou com ar didático, ou com ar de quem faz uma denúncia urgente. Não falando do chato do Louçã ou do caviar-gauche-jeep-de-Bruxelas do Miguel Portas, ou de uns senhores com ar normal como o Fazenda ou a outra senhora, ou é aquela miúda Ana Drago, que fala com ar de pespineta-nêta-nêta-nêta, arzinho de quem subiu para um banco e já acha que é da altura dos crescidos, espingardando com ar de precocemente sabichona-chôna-chôna-chôna, irritante criaturinha,
  

ou, então, com ar de pré femme fatale a quem falta quelque chose para ser mesmo fatale, a Joana Amaral Dias, que se insurge contra a humanidade com aquele ar psico-encartado de quem sabe lidar com malucos de toda a espécie e feitio. 


Mas, reduzindo o discurso, limpando as banalidades, as afirmações óbvias e incontestáveis aqui ou na conchinchina, agora ou 50 anos para a frente ou para trás, nada de relevante se aproveita, nada que se possa materializar como um modelo integrado de desenvolvimento. É daqueles polinómios em que se corta, corta, corta e o que fica é coisa pouca. As meninas do BE e mais uns quantos podem existir, e não é mau que existam, para serem os papagaios de serviço. Se é divulgado que há um administrador algures que ganha muito dinheiro, eles no parlamento pedem explicações e, se lhes puserem um microfone à frente da boca, eles questionam, acusam, chamam ao parlamento, pedem explicações, enfim, fazem o número deles e às vezes são úteis a denunciar algumas situações. Mas, pequenas excepções e espectáculo à parte, nada fica, apenas espuma.

O Partido Comunista Português. São justiceiros, gostariam que todos fossem iguais, que não houvesse uns melhores que outros, nem uns piores que outros, que no mundo não existissem uns malandros a tudo querer e outros pobrezinhos a pouco levar. Os bancos são uns gatunos, os empresários uns ladrões, os empregados uns anjinhos espoliados. Mas se forem os juízes a querer ter casa à borla, o PCP também os apoia, se forem os professores a quererem todos ter avaliação excelente, o PCP também os apoia, se com as medidas que defende o PC levar as finanças públicas ao charco, paciência, aí já nada se diz, porque a culpa de tudo é sempre dos capitalistas, dos fascistas, dos imperialistas, das mais valias, da banca. Cavalgam a onda do descontentamento, seja ela qual for. Alimentam-se da contestação pública, seja lá que contestação for. Ou seja, factores contraditórios que se anulam uns aos outros. Além disso, tirando uns quantos miúdos novos que não se percebe bem o que andam por lá a fazer (os rapazes geralmente com um ar vagamente revolucionário, pós-operário e as raparigas, em grande parte, com um ar gauche pós-moderno), e mais uns quantos idealistas bem intencionados, são uns maçadores. Dizem todos o mesmo, em registo de monólogo e, na voz, têm uma entoação parecida, a gente fecha os olhos e não sabe se é o Jerónimo, o Francisco Lopes ou outro quase igual.


Mas a questão principal nem é só essa. A questão é que o modelo comunista já foi testado e, em todos os testes, chumbou. Não houve um sítio onde a coisa tivesse corrido bem. Descamba sempre em falta de democracia, em falta de liberdade, em pobreza ou em oligarquia. Ora, em matemática, quando uma teoria não passa em nenhum teste, é porque não é válida, arruma-se. Ardeu. Finito.

Restam o Partido Socialista, o Partido Social Democrata e o Centro Democrático Social. Praticamente tudo farinha do mesmo saco. Analisam-se as semelhanças e são mais que muitas, analisam-se as diferenças e são quase irrelevantes. O PS mais esbanjador no que se refere a politicas sociais, o CDS mais estrito no que se refere a política de segurança mas, na prática, tudo é semelhante e sujeito à performance dos respectivos agentes. O Portas é populista, demagogo (e um artista a escapar-se entre as pingos de chuva no meio dos escândalos que poderiam salpicá-lo como é o caso dos submarinos) mas já a Maria José Nogueira Pinto é sensata e directa. O Manuel Alegre e ala esquerda são humanistas sem olhar a contas, o Teixeira dos Santos (ou seja, a política económica de Sócrates) é liberal agora, quando antes era social-generoso. Quanto ao PSD é, regra geral, uma rapaziada que se aproxima se o poder está próximo, e se comem uns aos outros quando o poder está longínquo; e a orientação oscila consoante o líder do momento: foi austero com Manuela Ferreira Leite, anda a navegar à vista com Pedro Passos Coelho.





Mas é indiferente. Ou seja: mais uns passinhos para a esquerda ou mais uns passinhos para a direita consoante os intérpretes e, sobretudo, consoante a conjuntura - que isto já pouca margem há para se seguir um programa nacional  - mas estes três partidos são equivalentes.

Há regras de integração que têm que ser cumpridas, o dinheiro não estica, não dá para desvalorizar a moeda, logo: faz-se o que tem que ser feito e enfeita-se a acção com palavreado para fazer de conta que há diferenças políticas.

A verdade, expurgada a irrelevância e as contradições, é que não há nenhum partido que faça a diferença pela positiva, não há quem defenda um modelo novo, sustentável, honesto.

Ou há irrelevâncias (BE) e irrealidades (PCP) ou os outros três são a mesma coisa.

A ter que escolher, então que a escolha se faça entre estes (PS, PSD ou CDS) e, de entre estes, que se escolha quem saiba ler, escrever e fazer contas, quem saiba falar (incluindo em inglês e, se possível, em francês), quem se saiba vestir e estar à mesa, quem tenha savoir faire em espaços cosmopolitas. Não vai ser fácil...