No post abaixo já falei das notícias da imprensa de mão, que dão conta de que o Coelho não se importa de deixar ir a Albuquerque para a Comissão Europeia. E não disse mas dei a entender: cantam bem mas não me embalam.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.
O barco vai de saída
(Fausto, no seu melhor)
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A direita é mais bronca, inculta, gentinha incompetente, pequenos conservadores ultramontanos, pacóvios e provincianos, tementes em relação à cultura e ao conhecimento. Dói só de a gente saber as burrices que dizem e fazem.
Quando tomam conta da quinta, fazem leis que não lembram ao diabo, destratam quem podem, avacalham o que os rodeia, destroem tudo à sua passagem. Sem pruridos ou remorsos.
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Ana Drago é inteligente, tem o verbo fácil, é fotogénica. Mas... so what...? De concreto, o quê? |
Os inteligentes de esquerda vêem isso e sentem genuína repulsa. Têm angústias literárias, exaltações quase místicas, epifanias criativas e, de todas as formas possíveis e imaginárias, parodiam, insultam, desprezam os mentecaptos dos direitolas.
Depois, cada um de per se quer parir a tirada mais iluminada, quer citar o intelectual mais cosmopolita, quer obter o reconhecimento deslumbrado dos seus pares, de facto, quer ser primus inter pares.
E, nessa ânsia narcísica, em que os princípios se querem os mais puros, as intenções as mais nobres, o despojamento o mais onírico, começam as divisões.
Enquanto a direita se une, a esquerda divide-se.
Portugal pode estar a ruir, as contas desequilibradas, a dívida a subir para níveis estratosféricos, os juros da dívida a sugarem toda a magra seiva que a frágil economia consegue produzir, podem os desempregados estar a deixar de receber subsídio e os excluídos a deixar de receber o subsídio de inserção, pode o país estar a tornar-se um país onde as desigualdades mais se cavam, e podem os professores ser humilhados e tratados como cães sem dono, e os cientistas ser desprezados como parasitas, podem os jovens sair em debandada, reproduzindo-se longe deste país pobre e envelhecido... que a esquerda continua a agir autisticamente, numa lógica que é essencialmente de estética política.
Um por aí anda a tocar ferrinhos e a apelar à desunião dentro do próprio partido, outros a repetirem, no mesmo tom de voz, os mesmos slogans de há dezenas de anos que já ninguém escuta, e os da esquerda que se quereria arejada e moderna a brincarem aos partidinhos, juntando-se e desajuntando-se. Um filme que seria de risota se não tivesse a consequência de deixar o caminho livre à destruição que vem sendo levada a cabo - sem oposição.
Acho Ana Drago, Daniel Oliveira, Ricardo Paes Mamede ou Rui Tavares gente inteligente. E João Semedo ou Catarina Martins também. Ou Francisco Louçã, também. Inteligentes e boa gente.
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Quantas vezes já vimos estas pessoas a formarem manifestos, partidos, tendências? Falam, falam, falam... e não fazem nada... |
Mas, lá está, falta-lhes qualquer coisa. Falta-lhes um suplemento de quelque chose. Falta-lhes uma cola agregadora. Falta-lhes alegria e força intrínsecas. Miguel Portas tinha tudo isso e tinha, ainda por cima, carradas de charme. Ora nenhum destes tem isso porque isso não se herda, isso ou está nos genes ou, azarinho, não está.
Se ainda não perceberam que, para além de tudo o que é genético e de todos os puros ideais, têm que ter os pés assentes na terra, têm que ter um mínimo de pragmatismo e que, se querem chegar-se ao poder e aliar-se ao PS, então devem ter sentido prático e, de facto, juntarem-se ao PS - ou, então, vão andar o resto a vida a fragmentar os partidos por onde passam, depois a formar outros, depois a provocar cisões, depois a voltarem a juntar-se noutros, uma brincadeira inconsequente e ridícula.
Se ainda não perceberam que, para além de tudo o que é genético e de todos os puros ideais, têm que ter os pés assentes na terra, têm que ter um mínimo de pragmatismo e que, se querem chegar-se ao poder e aliar-se ao PS, então devem ter sentido prático e, de facto, juntarem-se ao PS - ou, então, vão andar o resto a vida a fragmentar os partidos por onde passam, depois a formar outros, depois a provocar cisões, depois a voltarem a juntar-se noutros, uma brincadeira inconsequente e ridícula.
Fazem-me lembrar as bolinhas de mercúrio quando se partia um termómetro do antigamente. Têm muita pressa de fazer qualquer coisa, juntam-se a outras bolinhas, depois as bolinhas dividem-se em duas e depois voltam a juntar-se a outras bolinhas; mas tanta dança de bolinhas não passa disso mesmo: de uma dança de bolinhas.
Pressa. Muita pressa. Foi neste ritmo que Daniel Oliveira abriu esta quarta-feira ao final da tarde a sessão organizada pela Fórum Manifesto para “Uma governação decente”. Do lado oposto da mesa, mas em sintonia perfeita, na pertença à associação política, mas também na escolha dos verbos e adjectivos, estava Ana Drago, igualmente ex-dirigente do BE.
(...)
Duas certezas para já: vai nascer uma plataforma política e eleitoral que se baterá por ir a votos já nas legislativas de 2015. E que entende que é “suicidário” excluir o PS. Um partido? Aderem ao Livre? “Vamos ver como é possível organizar esse esforço. É muito cedo para ver a forma institucional”, disse Ana Drago.
Por um lado dizem que têm pressa mas, ao mesmo tempo, que ainda é cedo. Em que ficamos? Em lado nenhum, claro.
Se nem conseguem unir-se entre eles, meia dúzia de gatos pingados, como pensam conseguir algum dia mobilizar um país?
Sabem o que me ocorre perante tudo isto? Que, por este caminho, e se, ainda por cima, os amigos do Seguro o conseguirem aguentar lá, o Passos Coelho e o vice-irrevogável Portas nem precisam de se ralar com as próximas eleições. Têm, de facto, muita sorte: governam um país manso e ainda por cima têm passarinhos destes na oposição...
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E, a propósito do Passos, queiram, por favor, descer até ao post seguinte.
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