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segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Envelhecer

 

Quando vou ao google no telemóvel, aparece-me uma série de notícias. Não sei qual o critério de selecção e temo que o facto de eu carregar em algumas para as ler leve a inteligência artificial que rege o funcionamento de tudo isto a pensar que é disto que gosto.

E, no entanto, não é bem gostar, é mais cusquice. Por exemplo, apareceu-me que a Lili Caneças explicou a sua ausência de um qualquer programa pois sujeitou-se a uma cirurgia estética ao pescoço, intervenção essa mais complexa do que esperava pois obrigou a uma recuperação de um mês. Já fez várias e diz que, quando reaparecer, as pessoas verão o produto da transformação. E eu interrogo-me: o que leva uma mulher à beira de fazer 80 anos a sujeitar-se a processos destes, não isentos de riscos, certamente com dor e incómodo associados? Para quê? Para não parecer ter a idade que tem? Mas porquê? Não é bom ter quase 80 anos? 

Também a Cinha Jardim, de vez em quando, é intervencionada. E o resultado está à vista: a pele está esticada, a boca perdeu a lógica e quase apenas a reconhecemos pelo cabelo e pela voz. Ela deve achar que está melhor. Eu acho que está estranha, artificializada.

Falei de dois casos mas é frequente ouvirmos as pessoas, em especial as que andam pela televisão, a dizerem que já se sujeitaram a liftings, a injecção do próprio sangue, a esfoliações e tratamentos locais com vitaminas, que o botox é normal e recorrente e outras coisas que tais.

Há casos dramáticos em que as pessoas ficam disformes, patéticas. Para não falar de outros casos da nossa televisão, posso referir a Madonna. Uma coisa é ter o corpo ginasticado pois os seus espectáculos vivem muito da performance física mas o que ela tem feito ao rosto é quase inexplicável: para contrariar a força da gravidade, ela sobe e insufla as maçãs do rosto. Mas tantas vezes o deve fazer que os olhos já subjazem ao fundo de uns promontórios desprovidos de sentido. Depois insufla os lábios e, para retirar vestígios do código de barras, preenche-se com botox para além da conta. O resultado a mim parece-me para além de duvidoso mas, como isto é muito subjectivo, tenho que admitir que, se ela o faz, é porque gosta de se ver e que posso ser eu que não estou a captar a essência dos novos conceitos de beleza. 

Tenho lido que eliminar os vestígios da idade acaba, com alguma frequência, por tornar-se viciante e, às tantas, é isso que acontece, acabando por ficarem apagado tudo o que era distintivo da fisionomia inicial.

E isto, note-se, nem tem a ver apenas com mulheres pois parece que é prática igualmente comum entre homens.

A mim nunca me deu vontade de fazer nada. Não é apenas o medo de que a recuperação seja longa e dolorosa ou o medo de que, ao ver-me, me assustasse: é também a sensação de que eu, eu, de verdade, poderia desaparecer tornando-me uma desconhecida para mim própria.

Quando me vejo ao espelho e verifico como a erosão vai fazendo os seus estragos não me ocorre que poderia corrigi-los, ocorre-me, isso sim, que o melhor é não me deter muito espelho e, sobretudo, não me ver nem de perto nem com excesso de luz.

Os dois vídeos abaixo mostram duas mulheres muito belas. 

A Juliette Binoche 'ainda' vai pelos 59 e o vídeo que aqui partilho já tem 9 anos. Ou seja, tinha 50. Mas a idade já era tema.

Já a Carole Bouquet tem 66 e no vídeo teria uns 64. Do que aqui ouço, tem uma abordagem semelhante à minha: olhar de longe ou sem óculos ou só de vez em quando.

Somos o que somos, como somos. E tomara que, por dentro, tudo esteja tão bem e tão funcional como está por fora. E não me refiro à alma: refiro-me, mesmo, às vísceras e a toda a traquitana que temos dentro de nós. E quem não gosta que não coma (salvo seja, claro).




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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Alegria. Paz.

terça-feira, fevereiro 07, 2023

Moda? Modernidade? Provocação? Falta de bom senso? Desarmonia? Mau gosto?

 

Qual a diferença entre moda, modernidade e provocação?

Moda refere-se ao estilo popular de roupas, acessórios, cabelo e maquilhagem numa determinada época. A modernidade refere-se às características e tendências sociais, tecnológicas e culturais associadas ao período atual, enquanto a provocação é a ação ou o efeito de provocar ou estimular alguém ou algo, geralmente de forma desafiadora ou surpreendente.

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Quando o design se auto-supera 

A subir estas escadas é que não me apanham


Quem terá sido o inteligente que inventou esta retrete tipo aquário...?
Estaria à espera de lá ver peixinhos dourados a nadar...?


Urinóis para utilizadores com muita pontaria...?
Ou será que a ideia seria mesmo para enfiar a mangueirinha como se fosse para pôr combustível no carro?

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Qual a diferença entre bom gosto e mau gosto?

Bom gosto refere-se a uma sensibilidade estética refinada e a uma escolha cuidadosa de estilo e apresentação. Refere-se a uma combinação de bom senso, equilíbrio, harmonia e elegância na escolha de roupas, mobiliário, arte e outros itens. Já o mau gosto é o oposto, é a falta de sensibilidade estética e a falta de cuidado na escolha de estilo e apresentação. Refere-se a uma combinação de desarmonia, excesso, falta de equilíbrio e falta de elegância na escolha de roupas, mobiliário, arte e outros itens.

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Nos Grammy Awards


Madonna
(tanto fez para se recauchutar... e agora esconde tudo)


Sierra Ferrell que não sei quem é fantasiada não sei de quê


Harry Styles vestido e tatuado ao estilo dele


Kim Petras e Sam Smith prontos para desfilar no Carnaval de Torres Vedras

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Quando é que a moda de mau design se torna ridícula?

A moda de mau design pode ser vista como ridícula quando é considerada inadequada ou exagerada do ponto de vista estético. Isso pode ser devido ao excesso de elementos, à falta de harmonia, ao uso inadequado de cores, padrões ou materiais, ou a um design sem sentido. Quando uma peça de roupa ou acessório é tão desconexa do que é considerado bonito ou esteticamente agradável, ela pode ser vista como ridícula. No entanto, a percepção de ridículo é subjetiva e varia de pessoa para pessoa. Algumas pessoas podem achar que certas tendências de mau design são interessantes ou ousadas, enquanto outras as acham ridículas.

Faz sentido estar com isto enquanto as televisões mostram desastres naturais como estes sismos terríveis e a devastação da guerra?

É compreensível que a exposição constante a notícias tristes e desastres naturais possa ter um impacto negativo na nossa saúde mental e emoções. A exposição prolongada a imagens violentas e perturbadoras pode levar a uma sensação de desespero e estresse. Por esse motivo, é importante equilibrar a exposição a notícias e buscar fontes de informação confiáveis.

Além disso, é importante lembrar que, apesar desses eventos desastrosos, existem muitos atos de bondade e coragem ocorrendo ao redor do mundo. Prestar atenção a essas histórias positivas e encontrar formas de ajudar e apoiar as comunidades afetadas também pode ajudar a equilibrar as emoções e perspectivas. 

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Como é bom de ver a conversa travou-se entre mim (itálico e bold) e p ChatGPT (abaixo da questão) 

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Um dia bom

Saúde. Boa disposição. Paz.

domingo, outubro 30, 2022

Madonna -- chorar ou rir?

 


Em certas matérias, não sou muito destas coisas de tipo 'desta água não beberei'. Sei lá se bererei, se não beberei.

Por exemplo, nunca me passou pela cabeça fazer-me operar para me tirarem uns anos de cima, para me injectarem para ficar sem rugas ou sinais de peso da gravidade, para me aumentarem os seios, para me levantarem e insuflarem as nádegas, para me deixarem sem um grama de gordura na barriga. Se puder evitar anestesias, evito, e se puder evitar que me cortem, injectem ou me mexam debaixo da pele evito.

E só o medo de, depois, ao porem-me um espelho à frente da cara ou à frente do corpo e eu me achar disforme, desconhecida, assustadora... Bolas, medo... Nem pensar... Ou seja, até ver, não é daquelas que me ocorra arriscar.

No entanto, não posso jurar a pés juntos que tal nunca me ocorrerá. É improvável mas, creio, não impossível. Sei lá se um dia não me dá uma qualquer travadinha e não acho que está na altura de deixar de parecer velha, muito distante da jovem que sinto em mim... Sei lá se não me dá uma pancada e não acordo com vontade de parecer uma gatinha de vinte anos... Miau, miau. Ou igual à Kardashian...?

De vez em quando vejo mulheres que acho espantosamente bem 'mantidas', todas jovens e jeitosas e, depois, venho a saber que já se fizeram ajeitar várias vezes. E, portanto, mesmo que mantenha os cinco alqueires bem medidos, sei lá se um dia destes não me parecerá que faz sentido desde que tenha a garantia de coisa bem feita, subtil, indolor e pouco arriscada.

Mas, se um dia me der para isso, não posso ter presentes os casos que se encontram no extremo oposto: pessoas que se ajeitam tanto, se puxam e repuxam tanto, se insuflam tanto, se modificam de tal forma que se tornam uma caricatura de si próprias -- porque, se vou com essas imagens em mente, é certo e sabido que, de imediato, arrepiarei caminho.


Madonna é um desses casos. De dia para dia aparece com a pele mais lisa, os lábios mais intumescidos, toda ela esticada e repuxada, as mamas cada vez maiores, mais redondas, as sobrancelhas subidas, as maçãs do rosto salientes. E depois, nos vídeos, aparece com cinturinha de vespa. Mas, quando é apanhada à má fila, as imagens mostram-na com pneus, quase normal. Por isso, já nem se percebe se ela própria se tornou uma ficção ou se são os vídeos que estão ficcionados.


Agora um vídeo seu tornou-se viral: de cabelos encarniçados, como agora anda, dedos gordos e unhas improváveis, aparece a inalar um frasco com o que parece ser um medicamento e que ouço referir por poppers e depois parece que fica eufórica, meio passada. Uma coisa estranha. E tem um dente à frente com uma capa escura. Frequentemente com raízes pretas, agora com um dente que parece podre, comportamentos incomuns... eu não sei o que se passa com esta mulher, não sei mesmo. 

Está a envelhecer mal, está estranha. Tem 64 anos mas olha-se para ela e não se consegue concluir se é nova, se é velha ou se é simplesmente estranha. Mas bonita, acho eu, não está.


Não sei se Madonna é feliz ou se anda perdida e, por isso, olho para ela e não sinto vontade de rir. 

Mas a interlocutora dela no vídeo, uma tal Terri Joe, desata-se a rir. E ri de uma forma também muito peculiar. E tão peculiar que me parece oportuno partilhar um vídeo que a minha filha me enviou. Com cada um... 

Pessoas com risos estranhos


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Um belo dia de domingo
Saúde. Boa disposição. Paz.

quinta-feira, agosto 18, 2022

7 sinais de genuína inteligência que não se conseguem fingir

[E a forma bizarra como Madonna se apresenta nos seus 64 aninhos]



Já fiquei mais descansada. Em alguns dos mais banalizados testes de QI aparecem aquelas figuras de triângulos dentro de quadrados, em que a disposição dos triângulos brancos e pretos vai evoluindo e é preciso descobrir qual a sequência que se segue. Outras vezes são sequências numéricas ou outras. Não sei porquê o meu cérebro rejeita tudo isso de forma tão liminar que se recusa a olhar e a pensar. Sou tentada a responder ao calhas. É que poderia esforçar-me e falhar em toda a linha. Mas não, é pior que isso, é rejeição absoluta. Por algum motivo, acho aquilo tão absurdo para provar o que quer que seja que a pachorra se me evapora instantaneamente ainda antes de começar. E, por esta séria lacuna, sempre pensei que a minha inteligência tinha certamente uma falha fatal.

Agora, ao ver o vídeo que abaixo partilho, não concluo que não tem mas concluo que a falha não se deve, forçosamente, à incapacidade em resolver aqueles irritantes testes.

Felizmente nunca tive que fazer um teste daqueles para arranjar emprego senão não tinha passado da porta de entrada. 

Fiquei também confortada ao ver confirmada uma opinião que tenho sempre que ouço alguém, muito satisfeito consigo próprio, tantas vezes referindo-se a uma decisão questionável que, em tempos, tomou, dizer qualquer coisa como isto: 'A prova que na altura tomei a decisão correcta é que, se fosse hoje, tomá-la-ia outra vez, exactamente igual '. É que até pode ser mas, caraças, o que é que aquilo prova a não ser que quem o diz é uma pessoa algo limitada? Que raio de raciocínio é aquele? As circunstâncias mudam, nós mudamos, os outros mudam. Então porque é que é axiomaticamente acertado tomar exactamente a mesma decisão tempos depois? 

Em minha opinião, os sinais de inteligência de uma pessoa são vários e eu, já aqui o confessei tantas vezes, tenho grande admiração por pessoas inteligentes. A meus olhos, uma pessoa inteligente cintila. 

Em contrapartida, a burrice encanita-me cá de uma maneira... 

Mesmo aqui na blogosfera, não consigo deixar de rosnar entredentes quando vejo coisas que tresandam a burrice. Eu a ler coisas que quem escreveu acha, certamente, o máximo e eu, cá para mim, 'Ca ganda burra. Chiça penico...!'.

Tem razão o Mestre com quem tenho trocado umas ideias ao alertar para os perigos que a inteligência por vezes acarreta. E, concordo, é bem verdade que alguns seres inegavelmente inteligentes foram (ou são) uns estupores encartados. Mas, por outro lado,  se conseguirmos despir-lhes a identidade, o que fica da sua inteligência ilumina a nossa existência.

Claro que, se com a inteligência, vier a bondade, a tolerância, a afectuosidade, a graça e todas essas características que deveriam ser intrínsecas a todos os seres humanos, melhor, mil vezes melhor. Senão, a gente tem cuidado, guarda distância e fica só com o produto que nasce do estafermo, seja palavras, pintura, música -- o que for.

Agora que escrevo isto penso num colega que tive. Sempre que tinha algum trabalho complicado em mãos, algum relatório mais cabeludo para concluir, algum projecto mais crítico para lançar, era de fugirmos dele. Intratável. Rude, cafajeste. Outras vezes, na reuniões, saía-se com coisas que deixavam toda a gente gelada, incomodada. Era de uma franqueza desabrida. Creio que lhe faltava inteligência emocional. Mal o stress passava, era de uma pessoa se deliciar com as piadas, com a ironia oportuna e implacável. Tinha ainda uma particularidade: tinha uma colecção infinita de música. LPs e CDs, milhares. De cada obra tinha todas as derivações que conseguia descobrir: maestros, intérpretes, gravações em estúdio e ao vivo. Para gerir a colecção tinha uma base de dados que mantinha actualizada e que permitia pesquisar por cada um dos parâmetros que, para ele, fazia a diferença. Tinha quse tnto orgulho n bse de ddos quanto na colecção. Agora que os suportes físicos estão a cair em desuso não sei como estará a completar o seu tesouro. Sendo uma pessoa com competências reconhecidas na sua área de trabalho, tinha depois esse seu lado de melómano que o fazia virar outro quando disso falava. Eu gostava imenso de conversar com ele. Tinha sempre uma perspectiva diferente e interessante das coisas e eu aprendia sempre com ele. 

Contudo, sempre que eu falava dele, quase toda a gente se torcia e fazia um esgar de desagrado: 'Esse traste' ou 'Um mal-educado' ou 'Um tipo perigoso'. 
Aqueles ataques de franqueza desassombrada de que por vezes parecia possuído causaram problemas a muito boa gente. Diziam que desferia golpes baixos quando menos se esperava. Nunca me pareceu que o fizesse premeditadamente ou para ajustar contas com alguém. Sempre me pareceu que era simplesmente desligado das conveniências sociais ou de preocupações em relação aos outros.

Outras vezes, quando se queriam referir a ele, diziam-me: 'O seu amigo' pois, de facto, acho que eu era a única pessoa que o suportava. E, ainda por cima, gostava dele. Desculpava-lhe os maus humores.


Mas isto para dizer que, vendo que o Psych2Go me caiu no goto, o menino algoritmo do youtube saiu-se com mais um vídeo daqueles em que se dizem coisas com piada e bem pensadas (textos de Max Gustavo) com uns bonequinhos fofos (feitos por Rose Lam), ditos por uma menina que tem uma vozinha soft e que fala das coisas num tom convincente e empático (Amanda Silvera de seu nome). 

Desta vez, o tema é a inteligência e sinais impossíveis de forjar e que evidenciam que ela está presente.

7 Genuine Signs of Intelligence You Can't Fake

Are you truly intelligent? Intelligence is a coveted thing, and we’re encouraged to “fake it til we make it” with things. But some things in life can’t be faked and real intelligence is one of them.

Here is a short list of the subtle signs of genuine intelligence. See if you can identify these traits in yourself. 

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A propósito de inteligência ou se calhar não tendo nada a ver, já que estamos na silly season, apetece-me agora mostrar a forma estranha como a Madonna está a ganhar idade (e digo assim e não a envelhecer pois a palavra envelhecer parece-me engelhada, mal amanhada). Fez 64 anos e, de facto, não tem rugas nem flacidez no rosto. Mas está inchada, desfigurada e, agora, tem tanta tralha na boca que nem sei o que me parece. E que ande a festejar os seus verdes anos dando beijos de língua a quem se senta ao seu lado só me faz sentir afortunada por nunca me ter acontecido tal golpe de pouca sorte.

Madonna Shows Off Her Custom Birthday Grillz and Reveals What Almost Killed Her Career



Madonna TONGUE KISSES Friends During Italian Birthday Celebration



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Pinturas de Jean-Paul Riopelle na companhia de Sheku Kanneh-Mason, Isata Kanneh-Mason que interpretam Song without Words, Op. 109 de  Mendelssohn

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Desejo-vos uma boa quinta-feira
Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, outubro 11, 2021

O rabo da Madonna e a atrapalhação de Jimmy Fallon
[Os vídeos aqui estão para que possam formar a vossa própria opinião]

 



Devo dizer que gosto da Madonna. Lembro-me de o dizer ao princípio e de ouvir os entendidos a torcerem o nariz, como se eu estivesse a ceder ao facilitismo dos passos de dança, dos corpos de baile, dos espectáculos de luz. Diziam-me: pode ser muita coisa mas boa música não é. E diziam que cantava pouco, que aquilo era só fogo de vista. Não sei. Mesmo que Madonna fosse sobretudo uma performer, eu gostava das performances dela. Gosto do descaramento e da energia. Sempre houve nela vontade de virar a mesa, de partir a louça, de provocar.

Discos propriamente ditos sou capaz de ter só dois. Mas gostava dos espectáculos. Um fogo e uma irreverência que valem por muitos acordes afinados.

Mas das canções, tirando umas quatro ou cinco (assim de repente, acho que não me lembro de muitas mais), penso que são boas se a gente estiver a vê-la a dançar naqueles seus espectáculos mirabolantes.

E achava-a uma mulher interessante. Ainda é interessante mas modificou-se de uma maneira que é difícil prestar atenção ao que diz ou faz sem que a gente, mesmo sem querer, tente perceber se há algum ângulo em que a coisa pareça razoável. Confesso que acho que as plásticas não lhe têm feito bem à cara. Isto das plásticas é sempre uma questão. 

À medida que o tempo passa é impossível que não apareçam algumas rugas. Podem eliminar-se -- mas isso à custa de quê? De enchimentos que deixam as pessoas quase sem feições? Ou alguma flacidez. Combate-se a flacidez enchendo as maçãs do rosto? Se calhar sim. Mas não fica mais feio do que se tivesse rugas? Não fica um rosto insuflado, artificial?

Eu acho que sim mas, lá está, isto do gosto é muito discutível. Com todo o dinheiro que tem, ela pode pôr-se como quer e, no entanto, parece que é assim que se gosta de se ver.

E há ainda o cabelo. Longe vão os tempos em que o tingia por igual, ou toda de louro platinado, toda Marilyn, ou toda morena.  Agora não: o cabelo está comprido, amarelo, grandes raízes pretas. 

Bem sei que está na moda aparecer com as raízes por pintar. Mas só posso dizer que acho horrível, parece desmazelo. 

Comparando com a forma como se arranjava antes (por exemplo, aquando das fotos que se podem ver neste post que podem ter alguns apontamentos mais polémicos mas em que se via uma certa harmonia e cuidado estético), agora olho-a e nem sei o que me parece. Ou melhor, saber eu sei, não quero é dizer.

E depois está muito roliça. Claro que isso não tem nada de mais. As mulheres, em especial depois da menopausa, aumentam de volume. Parece que tudo aumenta: a largura das costas, o perímetro abdominal, o tamanho dos seios. Mesmo que se faça dieta e se fique bem, esse 'bem' já não é o 'bem' que era antes. Acho que, depois, a coisa regride. Lá para os setentas e muitos ou oitentas, a julgar pelo que vejo acontecer à minha mãe, volta-se a ficar com a dimensão (3d's falando) dos verdes anos.

Portanto, com sessenta e três anos, a Madonna está como estão muitas mulheres da idade dela: a transbordar dos soutiens, a transbordar dos vestidos. 

Só que eu, se me sinto a tender para a opulência, em especial em algumas partes do meu corpo, procuro alguma coisa que me vista com alguma discrição e um mínimo de elegância, tentando que nenhuma parte do meu corpo dispute a atenção às restantes partes. A Madonna não: sai-lhe tudo por fora e tudo ela exibe na maior insolência. Dir-se-ia que uma mulher quando chega àquela idade deveria adaptar o seu outfit às circunstâncias do seu corpo. Mas ela não, ela faz o contrário. Toda ela ao léu. E marimbando-se para a idade. Deitada em cima da secretária do pobre do Jimmy Fallon, depois a mostrar o rabo. Ou seduzindo-o à descarada, Madonna é aos 63 o que sempre foi: Madonna.

Já passou aquele patamar do decoro e das boas maneiras que se respeita até certa idade ou dentro de certos contextos, e, portanto, tal como tem os namorados que lhe apetecem, tal como tem as casas ou os cavalos que lhe apetecem, tal como tem as roupas e os cabelos lhe apetecem, assim pratica os actos ou tem as conversas que lhe apetecem, no tom mais provocador ou tentador que lhe apetece.


Nestas coisas há sempre aquela linha que não sei se é vermelha se é o quê: a que separa a saudável irreverência do mau gosto. É aquela linha em que quem sabe e gosta de provocar e por isso era admirado se torna, simplesmente, patético, uma caricatura do que foi, digno de comiseração. Tenho alguma esperança que a Madonna ainda não tenha saltado essa fronteira e que as pessoas, em geral, ainda olhem para ela como a mulher de fogo que quebra tabus e a que, nem a idade, coloca freios.

E depois, pensando bem, se é o que lhe apetece fazer, porque haveria de não o fazer? Só temos uma vida. Para quê desperdiçar um dia que seja a tentarmos ser quem não somos?


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Mas aqui estão os vídeos (recentes, quase a escaldar): de antologia

Madonna on Madame X and Getting Into Good Trouble  | 
 | The Tonight Show Starring Jimmy Fallon





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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

domingo, julho 07, 2019

Do Ginjal pela manhã à praia à noite, passando por mais um encontro familiar e a terminar no Panorâmico de Monsanto com a Madame M



Depois de eu ter estado constipada, foi o meu marido que a apanhou. De manhã ainda foi comigo para matarmos saudades da beira do rio, nesse lugar mágico que é o Ginjal, eu a fotografrar as mil coisas diferentes desde a última vez, a parar, encantada, a cada passo.  Mostro algumas das muitas com que tentei matar saudades. Lugar de mil fascínios, este. E, logo ali, Lisboa a bela, a magnífica.


Mas, a seguir ao almoço, o meu marido, mais 'atacado', decidiu ficar em casa. Está com tosse, sente-se bastante apanhado, sente-se cansado. Por isso, fui só e o resto do pessoal para casa dos meus pais.

Festejámos, os meninos brincaram, riram, pregaram partidas e foi aquele chinfrim do costume. Quando dei por mim, tinha as calças todas salpicadas de tinta azul. A menininha também mas, como a tshirt tem florzinhas e pintinhas, disfarça. As minhas calças é que estão uma desgraça. Tenho que ver se há maneira de salvá-las. Ela diz que o irmão é que estava com uma caneta azul. Não sei como foi que aconteceu. Mas, isso é peanuts face à alegria incomparável de estarmos juntos, felizes. O bebé perguntou pelo avô, foi à procura dele. Está habituado a ver-nos sempre juntos.


De lá, uma parte foi para um jantar de amigos e outra parte veio comigo cá para casa e, de cá, resolvemos ir jantar à praia. E, no fim, fomos passear à beira mar e os meninos quiseram ir brincar para a areia, junto ao mar banhado pelo luar. Estavam felizes, aquilo para eles eram uma aventura. Ver os barquinhos dos pescadores no areal solitário, correrem ali numa longa extensão deserta, a luz da noite e a tranquilidade do mar envolto em negrime -- tudo novidade para eles. O meu marido lamuriou-se em voz baixa, só para mim: 'Como estou constipado desta maneira, não arranjaram melhor programa do que quererem vir para a praia às tantas da noite'. Disse-lhe para puxar a gola do blusão mais para cima.

Chegámos a casa lá para as onze e meia. Agora é quase uma. E, claro, estou com sono. É o qe dá ter os dias como tenho e só pegar no computador a estas horas.


A minha mãe também deve ter ficado ko. Os meninos estão cada vez maiores, mais barulhentos, brincam muito. Fizeram concurso de salto em comprimento no quintal, apanharam limões e depois guerra de limões, treparam muros e foram para o telhado da casinha das ferramentas. O bebé imita os outros e por lá anda a fazer das dele. Mas quando lhe dizem que não pode subir as escadas sozinho e que tem que esperar que os outros venham, ele percebe, senta-se no degrau de baixo e fica pacientemente à espera. E ela, a mais linda, faz a roda na relva, faz esquemas em folhas para distribuir por todos com o jogo das letras, pede que eu lhe faça trancinhas e até tenta ensinar o pai a fazer ballet. E lancham, e cantam, e bate palmas. E a minha mãe ri, contente por ver aquela família tão bem disposta. O menino que mais se preocupa com a finitude da vida pensa e, dirigindo-se à bisavó, começa a formular a pergunta: 'Então... e quando o avô...' e hesita, não sabe como dizer. Mas depois continua, arranjando maneira de tornear a ideia que lhe ocupa o pensamento 'quando o avô estiver a dormir... com quem é que tu conversas?' E a minha mãe percebe mas desdramatiza: 'Então, eu tenho sempre coisas para fazer, estou sempre entretida' E ele, 'Então, se calhar tens que falar mais ao telefone, não é?' E a minha mãe diz que não é preciso estar sempre a conversar, que vê televisão, que vai às compras. Ele escuta, apreensivo. 

Mas logo alguém fala de outra coisa, logo a brincadeira o puxa noutro sentido.


No fim, a minha mãe, toda chateada, diz que tinha uma quiche e que se esqueceu de o dizer. O meu filho diz que não faz mal, que leva metade, que até lhe dá jeito. E a minha filha diz o mesmo. E cada uma embrulha a sua metade em papel de alumínio. E a minha mãe fica logo toda contente. E bolo também. Cada um leva seu pedaçp. E levantámos a mesa mas é escusado pensar que fica pouco por fazer, por onde aqueles cinco passam é como se um pequeno vendaval por ali tivesse passado.

E isto tudo para dizer que não vi televisão, não sei de notícias, nada. No outro dia li um texto do Nabokov sobre o Tolstoi e gostei muito, até assinalei as páginas para aqui transcrever algumas passagens. A inteligência é fundamental num escritor. A escrita, para me prender, não tem que ter apenas elegância e fluência, tem também que revelar inteligência. De preferência tem que surpreender-me pelo seu fulgor. Lampejos de inteligência. Gostava de ser capaz de ir ali buscar o livro para vos mostrar mas é-me impossível. 


Um dia ainda hei-de habituar-me a arranjar maneira de escrever menos para poder vir até ao blog a horas mais decentes. Se eu fosse capaz de não me deter aqui por mais de cinco ou dez minutos, pequenos haikus, aforismos, uma música, uma frase, coisa simples assim, talvez a coisa fosse mais racional e os meus horários mais decentes. Por exemplo hoje, entre as três e as três e um quarto tive quinze minutos livres. Mas nem me ocorreu aqui vir pois já sei que desato a escrever e escrever, uma coisa torrencial, e levo quase uma hora senão mesmo mais. Ainda não aprendi a ser concisa. E devo dar com cada seca a quem aqui vem na esperança de descobrir coisa que se aproveite...


E, portanto, nada tendo eu a reportar, deixo-me ficar pelo documentário da Madonna sobre o seu último trabalho. Não alinho nessa de dizer mal dela, de achar que ela se sente superior a nós ou de desdenhar de tudo o que ela diz. Acho sinal de inferioridade essa coisa de embirrar com tudo o que seja novo, estrangeiro, endinheirado. Pelo contrário, gosto de quem gosta da minha terra. E ao ver o Panorâmico de Monsanto, lugar tão extraordinário, não poderia ficar indiferente. Fico até a achar que deveríamos ficar-lhe reconhecidos por Madonna reconhecer a beleza daquele lugar decadente e tão estranhamente abandonado.

The world of Madame X


Madonna em Lisboa



E a todos desejo um belo dia de domingo

sexta-feira, junho 14, 2019

Madame X é a camaleónica agente secreta de quem se fala.
E Madonna fala, nervosamente, sobre ela.


E, por falar em mulheres cuja vida quase parece despertar tanto ou mais interesse do que a obra, depois de Frida, Madonna. A Madonna Louise também se conhece tudo: o que faz, por onde anda, com quem namora ou desnamora, os filhos, os passos, as provocações, as rebeldias, os descaramentos.


E se Frida, a ser dela aquela voz, apesar das dores do corpo e, tantas vezes, da alma, aparenta falar com segurança, já Madonna, a segura e confiante Madonna, que arrisca, que beija na boca bailarinos e amigas, que desafia as regras por onde passa, ao falar do seu próximo trabalha, aparece com uma voz que denuncia alguma ansiedade, uma certa ulnerabilidade.


Não sou grande fã de Madonna, não me dá para procurar as suas canções. Mas gosto de ver os seus espectáculos preparados ao milímetro, de um profissionalismo irrepreensível, com um sentido de palco ímpar. E era a última coisa que esperaria, a esta altura do seu campeonato, que aparecesse assim, quase ofegante, demonstrando um surpreendente nervosismo.


Claro que daqui não concluo nada. Por isso, fico-me por aqui e passo ao vídeo.



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E queiram fazer o favor de descer caso queiram ouvir o que pode ser a única gravação com a voz de Frida Kahlo.

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terça-feira, abril 02, 2019

A Vogue francesa recomenda Lisboa para visitar em Maio --
e isto apesar do Tio Basílio não ter deixado o cavalo da Madonna pastar na sua Horta*


No fim de semana passado, pela primeira vez desde há várias semanas, não fomos podar árvores. Os carneiros atacaram e de gosto fomos rodeá-los e fazer a festa.

Mas se, por um lado, sinto sempre saudade de me misturar com a natureza e gozar a quietude que se vive in heaven por outro tenho uma grande vontade de ir passear. E se as circunstâncias da minha vida familiar me inibem de me afastar a verdade é que, contentando-me com pouco, visitar esta Lisboa amada me basta e enche de alegrias. 




Aliás, falar de Lisboa e dizer que é pouco é a primeira heresia. Lisboa é muito. E tanto que, se me puser a descobri-la, me surpreendo com as suas infinitas novidades. 

Há tantas cidades tantas vezes superiores, tantas tão mais majestosas, tantas tão mais boémias. Tantas. Mas esta tem tudo isso na dose certa e tem mil apontamentos diversos, novos, luminosos.

Estava a ver a Vogue francesa e logo a abrir a sugestão de cinco cidades a (re)descobrir em Maio. Intuí que Lisboa tinha que ser uma delas. E é. A seguir a Roma e entre Amesterdão, Madrid e Copenhaga lá está a mais bela de todas, Lisboa a magnífica.

Vai em francês que soa melhora:
Une vie nocturne qui fait penser à la Havane, des tramways et des ponts comme à San Francisco, des docks réhabilités rappelant Londres, un quartier d'Alfama pareil aux médinas du Maghreb, Lisbonne est un voyage à elle seule. A deux heures en avion de Paris, c'est surtout la destination idéale pour profiter des premiers rayons de soleil du printemps le temps d'un week-end en mai.

E recomenda o hotel Verride Palácio de Santa Catarina que não conheço mas cuja fotografia me deixa com vontade de ir lá dormir. Melhor nem ver o preço não vá mudar de ideias.

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O bailado não tem nada a ver, acho eu. Mas é muito bonito e tudo o que é bonito condiz com Lisboa. Transcrevo:
The Royal Opera House presents this short film by Andy Margetson featuring dancer Marianela Nunez who graces the pages of this month's Bazaar UK
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* O trocadilho lá em cima, no título, é fajuta, trocadinho mesmo -- bem sei. Começou por me apetecer chamar Primo ao Tio e, como resisti, acabei com a parvoíce da Horta quando queria era dizer Palácio. Mas um palácio para a Madonna pôr o ginete a pastar é capaz de ser o mesmo que uma horta com estilo.


E se esse episódio é ridículo, mais ainda é a birra dela e mais ridículo é se tudo for verdade. Gosto que as pessoas gostem do meu País, que falem bem dele -- mas gosto mais ainda que o respeitem. No entanto, devo confessar: não é para mim líquido que ter um cavalo dentro de um palácio seja desrespeito e que o cavalo, ao ver-se aburguesado, fosse fazer estragos. Ou seja, não é para mim completamente claro que o birrento aqui não seja o Primo Basílico.


E, nada me sendo líquido, fico-me por aqui que estou mais do que sólida de sono, quase a passar ao estado de 'pedra', 'pedregulho' mesmo. Salve.

quinta-feira, outubro 26, 2017

Peregrina paloma imaginaria





Peregrina paloma imaginária
Que enalteces os últimos amores
Alma de luz, de música e de flores
Peregrina pomba imaginária


[Excerto de poema de Ricardo Jaimes Freyre
Madonna fotografada por David Lachapelle]

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quinta-feira, dezembro 15, 2016

The devil wears orange
- que é como quem diz:
Passos Coelho tinha razão, o Diabo veio mesmo;
instalou-se no PSD e não vai descansar enquanto não lhe fizer a vida completamente negra

+++ Post imbuído de espírito natalício ao som do Jingle Bells em versão 'amor radical' +++

[Em actualização]




Não sou dada a divinações que metam o capeta. Mas o Láparo é: ia o verão quente quando a excelência antecipou que em setembro o mafarrico daria as caras. Rimo-nos todos. Víamos as coisas bem encaminhadas, era mais uma patacoada do mal-encarado-mor, o rei dos ressabiados.

Veio setembro e a economia a melhorar, o desemprego a descer. O diabo afinal não tinha vindo. Gozámos.

Engano.

Estávamos a procurar no sítio errado.

Começámos, então, a ver que ao Láparo tudo lhe corria mal. Tudo. Tudo. Tudo o que fez de mal -- e foi tanta coisa -- começou a dar à costa. Que vendeu as melhores empresas a quem as quis levar, isso é um dado adquirido; que deixou o sistema financeiro numa desgraça já todos sabíamos, que implodiu parte dele era nódoa que se lhe tinha já colado à gravata, era um pin de que a sua lapela jamais se veria livre.

Mas agora sabemos da lástima que se passou na CGD: créditos sem critério, imparidades de criar bicho -- e tudo empurrado (com a barriga) para debaixo do tapete. Mais uma vergonha a somar a tantas que se plasmaram indelevelmente no seu triste CV.

Mas não só isso. Tudo o que antevê lhe sai ao lado. E é ele e a sua mestre-escola, a pinóquia do regime passista, a miss swap, a tal biscateira que agora é funcionária da Arrows e deputada nas horas livres. Ele diz uma palermice e logo aparece ela, despudorada, a esfolar o que ele matou. Uma dupla que seria de gargalhada se não fedesse.

Mas a verdade é que os indicadores não enganam e a geringonça afinal sabe o que faz, havia e há alternativa à austeridade cega, havia e há alternativa à sabujice e à cobardia perante Bruxelas e perante o FMI, havia e há um futuro digno para o país.

E eis que agora até vem o Banco de Portugal rever em alta as previsões e a dar boa nota da progressiva recuperação da economia, com a alavancagem favorável das exportações, com o retorno dos bons níveis de confiança, com o desemprego a descer e com perspectivas de, finalmente, a dívida começar, também ela, a descer.


E, como se não bastasse, Marcelo, aquele que qualquer ser inteligente não quereria ter como inimigo, não descansa. Numa óptica de patriotismo e de solidariedade institucional, Marcelo dá a mão ao Governo e, a dois, lutam pelo bom futuro do País. A cada palavra que diz, mais o tapete de debaixo dos pés do Láparo escorrega. Não se pode dizer que o Presidente lhe ponha todos os dias um par de patins porque isso se encarrega o ex-afilhado de Ângelo Correia de fazer. Ele próprio. Todos os dias. Fá-lo a torto e a direito. É isso e cuspir para o ar e depois ficar por baixo a apanhar com a cuspidela. Um ponto, este Pedrinho Abre-Portas, um case study ilustrativo de como um láparo pode apresentar caracerísticas asininas.

Mas atalhando.

Passos Coelho está sem escapatória. Sem estratégia e sem cabeça para delinear sequer uma táctica credível, Passos é, desde há muito e cada vez mais,  um peso porto dentro do PSD.

E, por todo o lado, como uma sombra, o belzebu.

Vestido de laranja, o dianho rebola-se a rir. Já se percebeu: veio para ficar enquanto Passos Coelho não bater em retirada.


Chega a dar dó. Coitado do Láparo. Alguém o ajude a ter uma saída minimamente digna porque, se não sai, o mafarrico não vai descansar enquanto não puser a nu o ridículo que é a sua liderança do partido. E, por tabela, danado que é este safado do berzabau vestido de laranja, não descansará enquanto não reduzir a pó o PSD, esse cada vez mais esfrangalhado partido que a Madame Cristas quer comer como se fosse um insignificante grão de milho.



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Entretanto, consta que não só Rio mas também Rangel, essa grande figura da política laranja conhecida pelo seu assisado controlo emocional e vocal e pelos seus inquestionáveis hábitos de higiene, como quem não quer a coisa, já começa a perfilar-se para apanhar os cacos do aparelho e para aparecer perante o eleitorado pafiano como o último Homo Sapiens que conseguiu conservar o báculo, capaz de, sem levantar um dedo, f... tudo o que lhe apareça à frente desde que lhe cheire a geringonça.



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Anexo 

Pro Memoria pela mão do grande cronista e historiador avant la lettre Luís Vargas







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Conselho final da Sta UJM ao Láparo-do-Pin-endiabrado-na-Lapela


Continua, Passos Coelho, continua a dar trela ao diabo para ver se é desta que toda a gente, mesmo os teus devotos, constatam o desastre que foste para este País. Continua que estás no bom caminho.

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Tirando isso, por ora nada mais que eu hoje estou boazinha, boazinha. Santinha, mesmo. O espírito natalício desceu em mim e eu, como se vê, estou numa de peace and love, não há quem me arranque uma maldade, por inofensiva que seja. Toda eu cadeaux fofinhos e bons conselhos. 

E a ver se esta quinta à noite consigo fazer algum post já que devo chegar bem tarde pois terá início a saison dos jantares de natal.

E já estou a ensaiar o Jingle Bells à moda da Coligação PSD+CDS às autárquicas. Diz que os do PSD se põem de rabo para o ar e que a Cristas, o puto João Almeida e o afamado benemérito Jacinto Leite Capelo Rego fazem a festa.

Jingle Bells
(na versão Cristas, isto é, repleta de radicalismo do amor).



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E tenham, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.  

Ho ho ho.

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quinta-feira, outubro 20, 2016

A voz (debochada) da sabedoria


Eu conto. 
Mas, antes, vou pôr aqui uma musiquinha boa e umas fotografias maneiras.



Vamos lá, então.

Podia falar do sexo oral que Madonna promete a quem votar em Hillary Clinton. Mas, como acho que é capaz de ser uma falsa promessa e não quero denunciar publicidades enganosas por parte de opositores a Trump, não falo.


Também podia falar da descarada da Maria Luís, ex-Miss Swaps, actual Miss Arrows, que é do mais desavergonhado que há. Mas, como não quero gastar o meu requintado latim com tão desqualificada criatura, não falo.

Claro que podia falar do Secretário de Estado Rocha Andrade que tem uma atracção fatal para armar fuzué e, no meio da confusão, dar tiros nos pés. Mas não falo pois até me dizem que é um bom fiscalista e gente séria -- e que uma pessoa possa ter algumas incompatibilidades declaradas não me choca nada. Agora uma coisa é certa: se ele é bom e o quer manter, António Costa devia mantê-lo na casota. Já se viu que, quando sai e abre a boca, arranja sarilho.


Há ainda também o assunto do ordenado do presidente da CGD que é um valor que, muito sinceramente, me parece um bocado estúpido num banco público e, sobretudo, me parece um bocado deslocado face à média de ordenados de quadros qualificados do País. Mas não sei se não arranjaram quem aceitasse ir para lá por menos e, por isso, para não alimentar populismos, não falo.

Podia falar do Pedro João Dias, a quem tratam por 'Piloto', esse desconhecido que anda perdido pelos montes, talvez ferido, talvez esfaimado, talvez acossado pelos lobos selváticos que o habitam. Mas não falo. Nada sei da vida dos lobos.


Enfim. Podia falar de muitas coisas. Mas hoje estou cansada. O dia não foi pêra doce e todos os dias desta semana começaram cedo demais. Já aqui estive a dormir. Há ali em baixo uns comentários de primeiríssima água e eu queria mesmo falar sobre eles. Mas acreditem. Isto hoje não está fácil. Talvez amanhã o faça. Hoje é impossível.

Por isso, se me permitem, vou pela via mais fácil.



Vou ouvir gente sábia. Isso descansa-me o espírito. Transcrevo excertos e de forma não sequencial:


Aos 66 anos de idade, morando em um apartamento em Copacabana, de frente à avenida Atlântica, o velho Nelson [Rodrigues] apresenta-se com o mesmo tom debochado e exagerado de sempre. Impondo a sua presença e aquele seu jeito peculiar e característico de se expressar e de se fazer entender: olhar insondável e apático; voz grossa e embolada; gestos vagarosos e ornamentais como os de um peixe colorido num aquário. Sem deixar, portanto, de esboçar certo entusiasmo e de exibir uma imagem de opulência física de causar inveja a qualquer um. Apesar de estar com a saúde um tanto quanto abalada, uma vez que ainda se recupera de uma colite ulcerática, doença essa que por pouco não o matou. As palavras tiradas da boca do entrevistado são as mesmas utilizadas em suas crônicas, contos, romances, peças teatrais, e difundidas por outros meios de comunicação (televisão, rádio e periódicos).


J. J. R. — Na sua opinião, o que é a beleza?
Nelson Rodrigues — “A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual”.
J. J. R. — E o que dizer acerca das mulheres?
Nelson Rodrigues — “Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível”.
J. J. R. — Sobre a adúltera?
Nelson Rodrigues — “Não existe família sem adúltera” — responde com ironia. E continua com as suas divagações: — “Nenhuma mulher trai por amor ou desamor. O que há é o apelo milenar, a nostalgia da prostituta que existe na mais pura”. — Olhando atentamente para o repórter: — “A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira”. — E mostrando o dedo indicador: — “Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém”.
J. J. R. — Algum recado para as mulheres?
Nelson Rodrigues — “Era preciso que alguém fosse de mulher em mulher anunciando: ser bonita não interessa, seja interessante”.
J. J. R. — E para os homens?
Nelson Rodrigues — “Se um dia a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela”.
J. J. R. — E para os casais, alguma dica?
Nelson Rodrigues — “A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: — o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão”.
J. J. R. — E no que diz respeito à sexualidade humana?
Nelson Rodrigues — “Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém”.


J. J. R. — Falemos agora da virtude e daqueles que o praticam?
Nelson Rodrigues — “Perfeição é coisa de menininha tocadora de piano” — expondo-se, exultante. — “O puro é capaz das abjeções inesperadas e totais e o obsceno, de incoerências deslumbrantes”. — Reflete por alguns segundos e despeja: — “Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera”. — Toma fôlego e dá prosseguimento ao raciocínio: — “O ‘homem de bem’ é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu”. — E numa alegação afirmativa: — “Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista”.
J. J. R. — E a Europa? E o europeu?
Nelson Rodrigues — “O europeu ou é um Paul Valéry ou uma besta!”. — Continuando a frase após breve distração, com coisas e objetos do seu entorno: — “… a Europa é uma burrice aparelhada de museus. (…) Ao passo que o Brasil é o analfabetismo genial!”.
J. J. R. — E com relação às feministas?
Nelson Rodrigues — “As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado”.
J. J. R. — Qual foi, no seu entendimento, o grande acontecimento do século 20?
Nelson Rodrigues — “O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”. — Silêncio profundo e grandiloquente. — “Em nosso século, o ‘grande homem’ pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta”. — Outro intervalo, para mais um gole d’água e acender o quarto e, talvez, o último cigarro a ser desbragadamente consumido nesta entrevista. — “Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina”.


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Nelson Rodrigues



Dá gosto ver gente inteligente, com sabedoria e graça.

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Portanto, perceberão que mil vezes ler as palavras e ver imagens de Nelson Rodrigues do que perder tempo com a mediocridade (ou, vá, mediania) de tanta gente que por aí anda.

É que, enfim, vocês sabem, eu também poderia agora aqui falar do 3º debate entre os dois candidatos finalistas nas eleições americanas. Mas é tão estranho que um palhaço ordinário seja um deles que também não vou por aí. Não diz se aceita o resultado das eleições se Hillary ganhar...? Pois, nem espanta que seja parvo a esse ponto. É mau demais.


Por vezes -- ou visto de alguns ângulos -- o mundo civilizado parece ter entrado num processo autofágico. Coisa feia de se ver, portanto. Portanto, com vossa licença, mas ficamos assim.

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As fotografias são da autoria do ucraniano Vadim Stein.

Se todos fossem iguais a você é interpretado por Tom Jobim

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.

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