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sábado, janeiro 04, 2025

17 horas de espera nos hospitais para doentes urgentes
-- As medidas do Mentenegro e da Ana Paula Martins estão a resultar, estão, estão... --
Relembro: ganharam as eleições prometendo resolver todos os problemas de Saúde em 3 meses (e, pelos vistos, houve muita gente que acreditou. E, mais engraçado ainda, os mesmos que acreditaram, agora esqueceram-se disso)

 

É que, como é óbvio, era impossível resolver tanto problema estrutural em 3 meses. Só mesmo gente ignorante, bronca ou mal intencionada poderia acreditar que os problemas se resolveriam em 3 meses. Mas o populismo é assim mesmo: uma descarada falta de vergonha que assenta na crença de que meio mundo é burro e acredita em todas as aldrabices. 

Agora temos a realidade. Não apenas nada está resolvido como tudo está pior. 

Ana Paula Martins estraga tudo onde toca, Não apenas anda a espalhar dinheiro a eito, sem resolver nada, como anda a lançar o caos. Despede equipas inteiras, despede quem sabe, toma decisões erradas. 

Marcelo Rebelo de Sousa assiste a nada faz. Acha que lançar umas indirectas são suficientes. Não são. 

O número de grandes Urgências fechadas não baixa. 

As notícias todos os dias revelam a desgraça. Pessoas muito doentes, que apenas deveriam esperar, no máximo 1 hora, sob risco de a sua condição se agravar se não forem acudidos, estão horas e horas nas Urgências, tendo-se já chegado a esperas de 17 horas. Pessoas doentes, a precisar de tratamento, 17 horas à espera.

Marcelo também à espera. Mas à espera de quê?

segunda-feira, novembro 18, 2024

[Em actualização]
Depois das 11 mortes que as notícias relacionam com a falta de socorro atempado, agora temos as mortes nas salas de espera das Urgências dos hospitais?

 

Transcrevo:

Homem de 66 anos encontrado morto nas urgências do Hospital de Coimbra depois de 12 horas de espera

Um homem de 66 anos morreu nas urgências do Hospital de Coimbra no domingo passado, depois de estar mais de 12 horas à espera, segundo a rádio Renascença.

De acordo com a Renascença, José Pais foi ao Centro de Saúde de Tábua, devido a um mal-estar, depois de comer míscaros (uma espécie de cogumelos).  Posteriormente foi transferido para o Hospital de Coimbra onde ficou à espera mais de 12 horas. (...)

Celeste dos cravos de Abril morreu sozinha na urgência de hospital

Na quinta-feira à tarde Celeste sentiu-se “mal em casa”, em Alcobaça: “Estava com falta de ar e foi levada para o Hospital de Alcobaça.” Nessa unidade hospitalar foi submetida a análises e a um eletrocardiograma. Mas como no período noturno não há raio-X no Hospital de Alcobaça, o médico decidiu transferi-la para o Hospital de Leiria, o que fez já a receber oxigénio. Entrou com pulseira amarela e terá ficado, de acordo com o que foi transmitido à família, à espera do raio-X e de um cardiologista. Estaria sozinha na sala da urgência onde aguardam os doentes com pulseira amarela. (...)

Pergunto:

Vamos continuar a ter a saúde e a vida dos Portugueses entregues a uma gente que não tem noção do que está a fazer? A uma gente que inspira desconfiança, seja qual for a perspectiva por que se olhe?

Até quando?

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Notas 

1 - Hoje, no Isto é gozar com quem trabalha, Ricardo Araújo Pereira aplicou a estocada final à equipa da Saúde (bem como à Coisinha Blasco). Depois do que ali vimos e do que ele gozou, não há qualquer possibilidade de aquela equipa se aguentar. Mas, note-se, quem escolheu aquela equipa e quem a está a agarrar é Mentenegro pelo que, em última análise, é ele o primeiro responsável.

2 - Antes, já Marques Mendes, tentando lavar a cara aos ditos e parecer querer branquear a situação, não deixou de dizer, aparentando que o dizia nas entrelinhas mas, de facto, dizendo-o bem às claras, que nada tinha sido feito para evitar a greve e que isso tem que ter consequências. E acrescentou ainda que é preciso algum cuidado na escolha das pessoas. Deu como exemplo, o jovem do INEM, (cujo CV e cujo fácies não enganam ninguém -- e isto do fácies sou eu que o digo), que pode ter uns cursos mas experiência em gerir um organismo como o INEM, zero. Acrescentou que a questão partidária não pode ser o critério de escolha. Ou seja, quando Marques Mendes tira o tapete desta maneira (e, em meu entender, tirou-o em toda a linha: presidente do INEM, Secretária de Estado, Ministra e Mentenegro), a sina daquela gente está lida.

3 - E eu alerto ainda os partidos da oposição e a comunicação social para o seguinte: vão ver os CVs e as filiações partidárias de outras nomeações, umas concretizadas e outras a caminho. Agora refiro-me à área da Saúde mas, provavelmente, é prática generalizada. Vão ver, peço-vos eu, antes que mais desgraças continuem a acontecer.

4 - E, já agora, investiguem um pouco mais a fundo: quem é a pessoa que, ela própria, fala com os ditos a convidá-los? Terão a confirmação de que estas escolhas, disparatadas, absurdas, que só podem dar em desgraça, estão a acontecer com o aval de quem, com isto (com isto e não só) tem mostrado não fazer a mínima ideia do que anda a fazer.

domingo, novembro 03, 2024

O que anda Ana Paula Martins, Ministra da Saúde, a fazer com as Administrações dos Hospitais do SNS?
É tudo legal? Alguém sabe se o supremo interesse do País está a ser tido em consideração?
Pergunto. Apenas pergunto.

 

Tenho ouvido com perplexidade e apreensão que agora uma, depois outra, as administrações dos hospitais públicos estão a ser varridas, tudo corrido. 

Um dos casos foi notícia no outro dia, mas muito en passant. No verão, depois da contestação que tinha havido em Almada e no Seixal com a demissão, por parte da Ministra, da administração do Hospital Garcia de Orta, ouvi que já havia substituto. Para meu espanto, ouvi agora que o administrador indigitado afinal tinha desistido e que a anterior administração tinha recusado apresentar a demissão (não seria de saber ao certo o que está a passar-se?). E ouvi que a Ministra já tinha escolhido outro, tendo agora a sua opção recaído num outro, dizia o jornalista que 'filiado no PSD'. 

E, ao que parece e confirmado pela própria Ana Paula Martins, a onda de 'saneamentos' não se fica por aí. Se calhar, e isto já sou eu a dizer, para lá pôr mais PSDs.

E o que eu gostava de saber é se tudo isto está a obedecer a todos os critérios legais, quer nas demissões quer nas contratações.

Gerir um hospital como o Garcia de Orta mais os vários Centros de Saúde abrangidos é como gerir uma grande empresa. Li que o Hospital tem cerca de 2.900 funcionários. Se somarmos a isso os indirectos que lá estão através de prestadores de serviço, se calhar chegamos ao dobro. Uma coisa em grande. A gestão de pessoal de uma coisa desta dimensão deve ser do mais difícil que há. 

Os potenciais 'clientes', li também, são 350.000 e só isso também inspira respeito.

A ser verdade o relatório que vi, o Orçamento anual de funcionamento é da ordem dos 200 milhões de euros. 

Provavelmente, como este vários outros.

Gerir uma realidade assim requer um gestor competente e exterior. Isto já corresponde a uma grande empresa. Não é uma chafarica que possa ser gerida por curiosos, com amadorismo.

Os médicos pensam que gerir um hospital é coisa para um médico. Mas isso é muito errado pois os médicos podem e devem estar nas áreas clínicas (bloco, ambulatório, internamento, etc.). Mas não a gerir as finanças, as compras, a área jurídica, a de auditoria, a área de manutenção, etc. Isso é matéria para especialistas das áreas (financeiros, advogados, engenheiros, informáticos, etc.)

Por isso, para saberem lidar com esta realidade complexa e saberem geri-la bem -- e não deixar os doentes sem médicos e não infectar os doentes nas cirurgias e ter equipas escaladas de forma planeada e ter os investimentos programados e bem executados e ter a informática a funcionar de forma eficiente e segura, e ter os contratos bem executados e controlados e para evitar que haja roturas de tesouraria e etc, os administradores têm que ser gente criteriosamente escolhida. 

Ou seja, admito que haja regras para o preenchimento dos lugares de gestão nos Hospitais, em especial os que têm este grau de exigência: devem ter experiência, competências, etc, Mas alguém está a verificar isto? Os jornalistas, as oposições, os deputados, sei lá..., alguém está a controlar minimamente o que anda a passar-se?

Ou toda a gente já está a aceitar, na boa, que, por provável má gestão, esta gente que a ministra Ana Paula anda a escolher para gerir as unidades do SNS vá ainda enterrar ainda mais o que todos deveríamos exigir que fosse gerido profissionalmente, com rigor, com extrema qualidade? Um volume brutal dos nosso impostos (que é dinheiro nosso) vai para a Saúde e só por isso já devia haver uma observação atenta, sistemática, pormenorizada sobre o que os governantes fazem com ele. Mas sobretudo, os 'clientes' dos hospitais somos nós, nós os que talvez um dia precisemos de cuidados médicos, quem sabe para nos salvarem a vida, nós os que precisamos que lá haja médicos competentes, que talvez precisemos de exames médicos em máquinas que alguém tem que saber manusear e que têm que ser cuidadosamente mantidas, nós os que talvez precisemos de instrumentos que têm que estar devidamente esterilizados, nós que queremos que as instalações estejam limpas, desinfectadas.

E, note-se, não estou a apontar o dedo em particular a esta ou àquela das escolhas da Ministra: estou apenas a alertar em abstracto, de forma geral. Mas sentir-me-ia mais tranquila se soubesse que as oposições e a comunicação social estão atentas.

domingo, junho 16, 2024

Filho de Betty Grafstein ainda não pagou conta hospitalar de cerca de 50 mil euros e está a tentar negociar a dívida
Diz o bem informado Correio da Manhã. E a turma da Noite das Estrelas comenta

 

Ao pesquisar uma coisa no google no meu telemóvel, aparecem-me notícias. Desta vez, a primeira, nem que de propósito, era que a Teresa Guilherme estava muito admirada por Lady Betty ter deixado uma dívida de 60.000€ na CUF

Nem de propósito. Quando entrou, certamente, Lady Betty, ou alguém por ela, teve que pagar uma caução. Provavelmente qualquer coisa na ordem dos 2.500€. Portanto, dos 50.000€, na volta, a CUF apenas viu esses 2.500. Isto, a propósito do Caro Comentador Ccastanho ter dito, e eu percebi que estava escandalizado com isso, que, quando foi internado, solvo erro para uma cirurgia, teve logo que pagar uma caução. Pois.

Agora, segundo li, o filho da Senhora Dona Lady está a tentar negociar... Não sei o que é que há para negociar numa conta de hospital. Na volta quer pagar a prestações ou está a pedir desconto. E este é um dos problemas com que os hospitais (tais como muitas outras empresas) se debatem: os calotes.

Abri o vídeo que me aparecia mas, salvo erro, só consegui ouvir até um comentador, de nome Rui Figueiredo, falar pois não consegui ouvir mais. Tirando a Teresa Guilherme que conheço e a apresentadora Maya, não sei que dois são aqueles que ali estão. Qualquer gato-sapato é chamado à televisão para opinar. Assim se (de)forma a opinião pública. Mas, então, dizia o rapaz que não compreendia porque é que a CUF não tinha cobrado logo à saída ou a tinha deixado sair sem pagar. Falava como se quem fosse de censurar não fosse quem se prepara para deixar uma dívida mas, sim, quem vai ficar a arder.

Ora bem.

Em termos práticos. Verbas desta ordem (esteve internada mais de um mês, deve ter feito inúmeros exames, deve ter feito fisioterapia, foi acompanhada até aos Estados Unidos por um médico e por um enfermeiro, etc,, pelo que os gastos devem mesmo ter sido exorbitantes) frequentemente não se conseguem pagar via multibanco. Pode também acontecer que não se tenha toda essa verba à ordem e tenham que mobilizar depósitos a prazo ou outras aplicações. Claro que quem tem um familiar internado num hospital privado deve tratar de tudo isso antes que a pessoa tenha alta. Mas sabemos que este caso é atípico. De qualquer forma, com gente séria, é normal que mandem a factura para casa e que as pessoas as paguem. Mas há gente que não é séria.

Mas, voltando ao espanto, de terem deixado a senhora sair sem ela pagar... O que sugeriria o dito Rui Figueiredo? Que a CUF não lhe desse alta? Que a forçassem, se fosse preciso sob ameaça, a dar o código do multibanco... ? Que a forçassem a ficar internada? A fazer mais despesa...? 

Claro que não. Quando a pessoa tem alta tem que se deixar sair até porque as camas fazem falta para outros doentes e, de resto, nestes casos, ficar mais tempo é incrementar a dívida.

Acho que desliguei quando ouvi alguém a interrogar-se porque é que a senhora não tinha um seguro. Mais uma vez, uns pseudo-comentadores demonstrando que não têm vida, mundo, conhecimentos do que quer que seja. Não sei se a Dona Betty tinha seguro, se não tinha. Mas um seguro de saúde tem um tecto para cada tipo de despesa. Para algumas, nem sequer há cobertura. Se ela tivesse seguro, poderia, por exemplo, não cobrir internamento. Ou poderia ter e o limite já ter sido excedido com internamentos anteriores. Ou poderia excluir internamentos por certas condições como, por exemplo, por violência doméstica. Além disso, os seguros são caríssimos para pessoas de idade e algumas seguradoras nem têm sequer seguros para pessoas com mas de 60 anos. Podem ter planos de saúde, que dão descontos em algumas coisas mas não cobrem internamentos.

Ou seja, sabendo que uma pessoa de idade tem algumas probabilidades de ter internamentos e cirurgias o que pode vir a traduzir-se em muita despesa, as seguradoras, que também são empresas que não querem ir à falência, também se cortam.

Ou seja, só o SNS não se previne contra calotes, contra despesas desmedidas. Na prática, é sempre a abrir. De cada vez que há pessoas a fazer cirurgias caras, a fazer tratamentos muito caros, a ter que estar internadas nos cuidados intensivos durante muito tempo, etc, etc, aparece sempre dinheiro para fazer face a qualquer despesa, aparece sempre dinheiro para aumentar médicos, para pagar horas extraordinárias, para pagar fortunas pelos contratos de manutenção dos equipamentos médicos em especial os mais caros como os de imagiologia, para pagar medicamentos, alguns dos quais caríssimos. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o dinheiro não sai de um saco sem fundo.  Os montantes de que o SNS dispõe para fazer face a todos os imponderáveis não são ilimitados. Parecem... mas não são. 

Não será por acaso que uma das maiores fatias dos impostos cobrados vai para a Saúde: 22% 


Com uma população envelhecida e felizmente a viver muitos anos (mas com pluri-patologias e a requerer frequentes cuidados médicos), se a área da Saúde não for criteriosamente gerida não apenas vai ter falhas permanentes e cada vez potencialmente mais graves como vai ser um incrível sorvedouro de dinheiro.

[A componente da Protecção Social também é preocupantemente alta. Aqui a demografia é também um desastre: com uma natalidade continuadamente muito baixa, com muita gente nova a emigrar e com uma população muito envelhecida, é imprescindível que haja mais gente a fazer descontos (TSU), mais imigrantes a trabalhar e a fazer descontos em Portugal, é preciso que a economia se aguente e dinamize para haver poucos subsídios de desemprego, é preciso que se auditem bem as actividades que não descontam para a Segurança Social (ou que descontam pelos mínimos dos mínimos) e que se traduzirão em pensões e subsídios para os quais não existiu a contrapartida dos descontos]

Enfim. Um tema inesgotável.

Mas é fim de semana e não vos maço mais. Conto apenas mais duas coisas:

1 - A andar por aqui, sempre encantada (embora levemente apreensiva pois a natureza, quando pujante, tem uma força difícil de controlar), encontrei uma flor inacreditável. 


Nunca tal tinha visto. Já coloquei o pé que veem numa jarra aqui na sala. Recorri à app que permite a identificação de espécies e aqui está: lomelosia stellata

A perfeição, a delicadeza, a beleza desta flor parece-me uma coisa do outro mundo

2 - E andava nisto quando vejo, a meu lado, um esquilo a descer do pinheiro ao lado do qual eu ia, depois a andar à minha frente e, logo, a subir o tronco de um cedro mais à frente. A meio do tronco parou, ao alto, e ficou a olhar para mim. Com a atrapalhação, levei tempo demais a desbloquear o ecrã do telemóvel e a encontrar o botão da  câmara. Quando estava a postos para disparar já ele tinha subido. Estava lá em cima a olhar para mim. Fofo. Ainda o chamei, bsch-bsch-bsch, como se fosse um gatinho. Mas não o convenci. Não desceu.


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Enquanto escrevo, vejo Marcelo na Suiça e, como sempre, está a dizer coisas. Atrás dele, um a imitar o emplastro. Não sei se viram. Se viram, digam-me se não parecia mesmo.

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Desejo-vos um belo dia de domingo
 

sábado, junho 15, 2024

Urgências noturnas de obstetrícia todas encerradas na Margem Sul de Lisboa na próxima semana
Este, pelos vistos, é o lindo serviço que a AD andava a apregoar para resolver os problemas da Saúde em Portugal
Este é o lindo serviço que a Ministra Ana Paula, mais uma das arruaceiras contratações de que Montenegro se rodeou, tinha para resolver os problemas da Saúde em Portugal?
E, na Educação, vamos ver como corre a grande solução de recontratar professores reformados que já não podem ver alunos nem pintados ou reter outros até estarem a cair da tripeça...
Só anedotas.

 

Transcrevo do Público: 

Na margem sul do Tejo, só há uma urgência de obstetrícia aberta até 5ª feira e nenhuma durante a noite

A maior parte das grávidas e algumas das crianças da margem Sul do Tejo terão que atravessar a ponte e deslocar-se aos hospitais de Lisboa e arredores para serem atendidas em serviços de urgência de ginecologia/obstetrícia e de pediatria, entre esta sexta-feira e a próxima quinta-feira, porque as unidades de saúde da região estão quase todas com as urgências destas duas especialidades fechadas ao exterior ou abertas apenas durante algumas horas por falta de médicos em número suficiente para assegurarem as escalas. No caso das urgências de ginecologia/obstetrícia, nenhuma das três da margem Sul vai estar aberta durante a noite. (...)

A senhora começou por hostilizar o Director do SNS, Fernando Araújo, pessoa cuja competência era geralmente reconhecida, até levá-lo à demissão. 

Contudo, pasme-se, não sei quanto tempo depois, aparentemente ainda não conseguiu substitui-lo pois, ao consultar o portal do SNS, ainda aparece Fernando Araújo. Para uma área tão crítica, pelos vistos a dita senhora ainda não conseguiu arranjar ninguém.  

Ana Paula Martins, farmacêutica, é incansável a mandar bocas para tudo o que é canto e esquina e a eficientíssima a desestabilizar as áreas que tutela. 

Não sei se percebe alguma coisa de medicina ou de administração hospital mas receio bem que não. Como também parece carecer de bom senso e de civismo, penso que é de se temer o pior.

E nem me apetece falar na estupidez de andar a apregoar mais de 9.000 cirurgias oncológicas atrasadas quando afinal pouco passam das 2.000. Era bom que fossem zero mas são números que nada têm a ver com o exagero da falsidade da ministra. Ou é uma embusteira, e é grave, tanto mais que é um embuste relacionado com uma realidade dolorosa, ou anda mal informada, o que não é menos grave.

Agora, a última é que agora levou à demissão da Comissão Directiva do Hospital de Viseu depois de mais umas das suas tiradas ofensivas e mal educadas. 

Parece ser típico do seu comportamento: quando confrontada com os problemas, sacode a água do capote e, à bruta, atira para cima dos administradores hospitalares. 

Tem em comum com a colega do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, a igualmente inqualificável Maria do Rosário Palma Ramalho, o serem mal educadas, trauliteiras. Quando se sentem apertadas, não olham a meios, revelando uma constrangedora deselegância.

Resolverem problemas não é com elas. Pelo contrário parece que os agudizam. Entram com espalhafato, fazem e acontecem. Mas, vamos ver o que fizeram, e não há uma que se aproveite. 

É isto o Governo do Montenegro, outro chico-esperto que desafia a paciência e o sentido democrático da Oposição (perante o olhar apatetado de um Marcelo, de boca aberta, que agora quer à viva força que a malta toda apare todos os golpes da Pestenegra).

Aliás, Montenegro mostrou logo ao que vinha com aquele perfeito nonsense, coisa à Monty Python, da primeira medida tomada, coisa que viria a revelar-se divertidamente simbólica: retirarem o logotipo do Governo (herdado, pois, do Governo de António Costa), um logo moderno, estilizado, que tem ganhos prémios de design. Só o facto de darem prioridade a esta mudança já é de gargalhada. Mas mais de gargalhada é o que se tem seguido, Logótipo do Governo sofreu várias trocas em poucas horas no portal do Executivo

Só chico-espertices, más criações, parvoíces, coisas sem ponta por onde se lhes pegue. Cá para mim, o destino deste Governo está traçado. 

sexta-feira, junho 14, 2024

Ainda o tema da Saúde
(enquanto a Ministra Ana Paula se entretém a pegar fogo a tudo o que tem à sua guarda)

 

Ainda sobre o Hospital de Braga. Se agora está a enviar doentes para S. João, não sei. Desde há uns anos que já não há PPP, ou seja, o hospital de Braga está, tal como os outros, a ser gerido pelo SNS. 

Enquanto foi gerido por uma PPP (concretamente, no caso, pela José de Mello Saúde) recebeu vários prémios pela excelência dos seus serviços, os inquéritos de satisfação feitos junto dos utentes revelavam uma satisfação considerável.

Contudo, por o SNS não querer pagar o que era suposto, a José de Mello Saúde perdia dinheiro com a gestão deste hospital. Não é, pois, verdade, tal como erradamente se diz em comentário ao post abaixo, que o Estado gastasse dinheiro e os 'Privados' ficassem com os lucros.

Ou seja, há por aí muita ideia errada, provavelmente alimentada por infundados preconceitos.

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Num hospital, em especial nos de média/grande dimensão, as Comissões Executivas (sejam quais forem os nomes que se deem aos órgãos de gestão), têm que dar resposta às seguintes vertentes: 

  • Compras (de consumíveis, de serviços, etc), 
  • Recursos Humanos (controlar presenças/assiduidades, escalas, trabalho extraordinário, pagar salários, contratar ou demitir trabalhadores, tratar da formação, comunicação interna, etc), 
  • Financeira (contabilidade, tesouraria, controlo de Orçamentos, etc), 
  • Sistemas de Informação (sistemas, equipamentos, segurança informática, etc), 
  • Serviços Gerais/Infraestruturas (gestão do edifício, limpezas, segurança do edifício, frota, arquivos, correspondência, etc), 
  • Operação/Direcção Clínica (óbvio), 
  • Jurídica (contratos, litígios, protecção de dados, etc). 
  • A coordenar estas vertentes, está o CEO (ou Presidente, ou Director-Geral -- chame-se o que se quiser)

De todas as valências, apenas a de Operação/Direcção Clínica requer conhecimentos na área da Saúde. Todas as demais requerem pessoas com conhecimentos específicos da área (economistas/gestores, advogados, engenheiros, informáticos, etc). 

Achar que a equipa de gestão de um hospital deve ser constituída por médicos é querer que a sua gestão seja um desastre. Pelo menos, não conheço nenhum que pudesse ser director financeiro, director de informática, director jurídico, director de infraestruturas. E mesmo um CEO que tem que lidar com todas estar vertentes, se não tiver umas luzes de gestão, jurídicas, etc, vai ver-se à nora para gerir a equipa de gestão.

Um Centro de Saúde é uma realidade mais singela a nível de gestão, aliás, não tem nada a ver, mas, mesmo assim, diria que deveria ter à frente um Gestor e não um médico, deixando a vertente Clínica para os médicos e enfermeiros, que trabalho não lhes falta, e libertando-os de tarefas que têm a ver com gestão de contratos de limpezas, de contratos de manutenção de elevadores, de controle de assiduidade, etc. 

Contudo, aquilo a que me referia no meu post de há dias é que é urgente que se faça uma análise a nível regional e nacional, uma análise macro, para analisar a procura (por exemplo, o brutal aumento de pessoas em algumas zonas que obriga forçosamente a que sejam necessários novas unidades e mais pessoal clínico) e que se tente encontrar a oferta optimizada, por especialidade e por local (e por altura do ano). Penso que o Ministério da Saúde (seja de que partido for) deveria formar um grupo de trabalho para fazer um trabalho nos moldes que sugeri. Neste grupo devem estar sobretudo matemáticos, mas também gente da gestão/economia, e, claro, também médicos e enfermeiros. 

Ou seja, não estava a falar a nível 'micro', isto é, hospital a hospital (no SNS). No entanto, nos grandes hospitais públicos penso que a gestão deve ser profissional nos termos que acima referi (se calhar já é -- mas não faço ideia). Nos hospitais privados, é assim, isso sei.

Um esclarecimento ainda sobre a cobrança que os hospitais privados fazem aquando da admissão para internamentos e cirurgias. Trata-se de uma caução. 

No SNS, gaste-se o que gastar, é o Estado que paga. Sejam gastos insignificantes ou da ordem dos milhares ou milhões de euros, o dinheiro sai dos cofres do Estado e é gerido via Orçamento de Estado. Se for preciso gastar mais, haja impostos que os cubram. É assim e ainda bem. Mas tratando-se de dinheiros públicos, diria eu que deveriam ser geridos com mão de ferro para evitar desperdícios, abusos (nomeadamente que pessoas se naturalizem de propósito para vir receber tratamentos milionários que no país deles não conseguem), etc.

Nos hospitais privados não há quem lá meta dinheiro de impostos. O dinheiro para pagar edifícios e equipamentos e respectiva manutenção, para pagar a médicos, enfermeiros, auxiliares, água, luz, comunicações, medicamentos, tratamentos, etc, etc, ... e impostos, só vem de um sítio: do que as pessoas ou as seguradoras lhes pagam.

Acontece que os seguros são limitados e nem sempre cobrem tudo. E, quando não há seguros, ainda mais arriscado há. Um problema grave que os hospitais enfrentam são as dívidas dos clientes. Quando são internados, pagam uma caução. Tenho ideia que, quando a minha mãe foi internada pela última vez, a verba da caução foi 2.500 euros. Tinha um seguro mas o plafond foi ultrapassado ao fim de umas semanas. No acerto de contas, descontando o plafond do seguro que foi esgotado e os 2.500 pagos de caução, ainda houve uma verba considerável a pagar. Paguei, claro. Mas, do que é sabido, há quem se queixe que não tem como pagar e, portanto, deixe uma dívida. Ou seja, a caução é uma forma de minimizar o risco de ser dívida total. 

Quando ouço falar nos Privados, algumas pessoas falam como se fosse um bando de bandidos. No entanto são empresas que têm que pagar ordenados (nomeadamente a médicos, a enfermeiros, a auxiliares, a pessoal administrativo, a pessoa de limpeza e de segurança, rendas, empréstimos bancários, licenças software ou outras, enfim, pagar toda a espécie de despesas). Se um hospital privado não conseguir fazer face às suas despesas, não há quem lhe valha, não há orçamento rectificativo, não há nada. Portanto, responsavelmente, têm que ser bem geridos.

Os meus pais estiveram internados quer no SNS quer em hospitais privados. A nível de cirurgias e internamento, há algumas diferenças sobretudo a nível do apoio e da informação à família e a nível do conforto do doente. Mas, de qualquer forma, penso que o problema não está aí. O problema está em tudo o que está antes de se chegar à fase do internamento. A experiência que tenho nas Urgências é diametralmente oposta. No SNS passei horrores, horas e horas, noites inteiras sem saber o que se passava com eles, eles em macas nos corredores. Eu própria já passei uma noite e uma manhã num SO de um hospital público e foi uma experiência abaixo de terceiro-mundista, uma coisa indescritível, desumana. E a nível de ambulatório, é para esquecer (pelo menos nos grandes hospitais). E a nível de Centro de Saúde já ontem falei. Muito mau (pelo menos, nos caso que conheço).

Ou seja, há um problema dramático de gestão, de défice de oferta, de desorganização. Há regiões do país, talvez porque agora têm mais centenas de milhares de habitantes do que quando os hospitais existentes foram construídos, que não têm hospitais que cheguem.

Claro que não é suposto que haja hospitais ao pé de casa. Por isso, quando referi que num estudo há que definir objectivos, mencionei que uma dos parâmetros é a distância razoável a que deve situar-se um hospital. Falei em 50 km como distância máxima a título de exemplo mas é uma distância que me parece razoável. Mas se me disserem que pode ser outra distância, tudo bem, seja. 

Quando, há algum tempo, os médicos acharam que eu estava a sofrer um enfarte agudo de miocárdio e activaram o protocolo respectivo, me meteram numa ambulância e me enviaram para um hospital, vi-me numa ambulância a 'abrir', com sirene e luzes a piscar e, à chegada, a ser posta em cadeira de rodas e levada para uma sala de reanimação. Se estivesse mesmo em vias de 'patinar', penso que andar mais do que 50 km seria um risco. Mas estes parâmetros, que serão a chave para desenhar o mapa de hospitais e centros de saúde e para identificas as necessidades das respectivas equipas, são a chave para se obter uma solução equilibrada.

Num estudo destes, que acho que deve ser feito (aliás, que acho quase impossível que não seja feito), devem também ser equacionadas as acessibilidades e a adaptação das actuais infraestruturas às novas exigências. Por exemplo, ter um grande hospital como o S. José encavalitado naquelas ruazinhas ali por cima do Martim Moniz onde os carros quase não cabem e onde basta que alguém deixe um carro mal estacionado para o trânsito bloquear, parece-me um tremendo risco. Isto já para não falar em que, às tantas, nem a construção é resistente a sismos de grande magnitude. Mas, enfim, é um mero exemplo do muito que acho que há a equacionar.

O que acho dramático é ver a barracada permanente de ver tantas Urgências fechadas, de não se saber a quantas se anda, de ver pessoas, nas Urgências, à espera de ser atendidas ao longo de horas infindáveis, de não se conseguir uma consulta num Centro de Saúde, de tanta gente não ter médico de família... e não se pegar no touro pelos cornos, não pôr uma equipa de gente competente a equacionar estes problemas (que, relembro, são problemas típicos que se aprendem a resolver nos cursos de Matemática, nomeadamente no ramo das Aplicadas - Investigação Operacional e etc.).

E, sim, resolver estes problemas (de adaptar a oferta à procura e de optimizar a solução, garantindo o cumprimento de objectivos pré-definidos) tanto se faz na Saúde, nas Redes Logísticas (centros de Produção, Armazenagem e Expedição seja do que for, seja de medicamentos, seja de petróleo, de cimento, de adubo, de mantimentos, etc), nas Redes de Transportes Públicos (nomeadamente na definição de números de 'carreiras', nos locais das Paragens, na definição dos horários, na identificação da localização e número de Postos de Carregamentos Eléctricos, etc, etc. A Matemática, os algoritmos, os modelos, a estatística e as probabilidades têm isto de maravilhoso: aplicam-se a tudo nesta vida.

De qualquer forma, definir os locais ideais para ter unidades clínicas, a respectiva dimensão, as respectivas especialidades, etc, não requer conhecimentos clínicos. Os conhecimentos clínicos são, si, indispensáveis para traçar planos de saúde, para tratar e acompanhar doentes, para prevenir doenças, etc. A medicina é uma arte? Talvez, não digo que não... (embora nem todos os médicos sejam artistas... e embora haja outros que são uns verdadeiros artistas...). 

Mas a Inteligência Artificial já faz maravilhas e, em algumas áreas, já suplanta largamente a capacidade de análise humana. O diagnóstico precoce de algumas maleitas (por exemplo, neoplasias) através da imagiologia, por exemplo, parece estar a demonstrar que o facto de a brutal capacidade de computação permitir detectar desvios ao padrão com grande rapidez e precisão parece não ter paralelo com a 'visão humana'.

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Todos os vossos comentários são bem vindos e muito agradeço a vossa generosidade por partilharem as vossas opiniões. 

A todos os que não costumam ler os comentários, sugiro que visitem os do último post bem como os do post anterior pois tal como eu aprendo e fico pensar talvez também os considerem importantes.

E venham mais.

quinta-feira, junho 13, 2024

Então, Caros Comentadores, querem V. dizer que está tudo bem na Saúde em Portugal, nomeadamente no SNS?
Tempos de espera, como os de ontem em alguns locais, de 14 horas para pulseiras amarelas e 20 horas para pulseiras verdes, em V. opinião é do melhor que há?
Haver 25% pessoas, na zona de Lisboa e Vale do Tejo sem médico de família é coisa que não importa para nada?
Haver várias Urgências fechadas ao fim de semana, por vezes, também durante a semana não faz mal nenhum....?
Pergunto.



Não sei se ontem falei em chinês ou se é o facto de ter invocado a ajuda da matemática que assustou os meus Comentadores.

É que eu ontem referi quais as premissas que, em meu entender, devem ser fixadas como objectivo: tempos de espera razoáveis (e não o disparate e a desumanidade que é hoje), haver sempre um Centro de Saúde ou um Hospital num raio razoável (quando hoje ouço que, por estarem Urgências ou Especialidades fechadas, os doentes têm que ir à procura de atendimento a mais de 100 km... (ou seja, objectivos deste género que traduzam uma qualidade de serviço razoável, humana, aceitável)

Isto não é bom?

Ou os meus Caros Comentadores acham que as pessoas podem ser tratadas a pontapé para não arreliar os médicos que não querem que se equacione o problema no seu conjunto?

Quando falei em tempo médio por cada acto médico falei, repito, de uma média. Não faço ideia de quais são os valores médios. 20 minutos era um exemplo. Se for 30 minutos, é 30 minutos. Uma média é uma média e serve para estimar o número de doentes que podem ser atendidos por dia ou por turno. Claro que nuns casos, bastarão 10 ou 15 minutos, noutros casos será necessário 40 ou 50 minutos. Uma média é isso e serve apenas para não se navegar à vista. Não trabalhar com base em métricas é navegar à vista, é ter pessoas horas à espera ou ter vagas que não são aproveitadas.

Eu e o meu marido temos médico de família. Temos porque já o tínhamos. Contudo, mudámos de casa vai para 4 anos e não conseguimos mudar para um Centro de Saúde perto da nossa nova residência. E não conseguimos porque, por estas bandas, não há médicos de família disponíveis. Quando me dirigi a um Centro, com a documentação, riram-se da minha ingenuidade, perguntando-me se não sabia que tinha muitos milhares de pessoas à minha frente.

No Centro de Saúde que frequento, longe de casa, quando quero marcar uma consulta, só arranjo vaga para três ou quatro meses depois. Na última vez, a funcionária disse-me que tenho sorte pois há médicos que no mínimo têm seis meses de espera. Já por duas vezes, uma eu e outra o meu marido, precisámos de esclarecer uma situação com o médico de família, no caso do meu marido porque a medicação estava a dar para o torto e, no meu, porque estava com uma situação cuja medicação não estava a resultar. Das duas vezes tentámos falar com o médico, enviar mail, telefonar. Nada. Impossível. Incontactável em absoluto. A solução era ir muito cedo, não sei a que horas mas disseram-nos as funcionárias que às oito da manhã já está lá muita gente e nem todos conseguem vaga, para tentar uma consulta de urgência. Uma coisa terceiro-mundista que obriga as pessoas a faltarem ao trabalho, a não dormir, a ter que estar um dia inteiro para uma consulta de 10 minutos. Por isso, das duas vezes recorremos aos Privados.

É isto que os meus Caros Comentadores acham uma maravilha, não carecendo de estudo para determinar qual a solução optimizada que garanta objectivos de bom atendimento?

E a ineficácia...? Coisas simples que poderiam ser resolvidas com uma perna às costas por quem sabe gerir. Dou um exemplo muito recente passado comigo.

Eu e o meu marido tomámos a 1ª dose da vacina contra a pneumonia, salvo erro em Dezembro. Teríamos que levar uma 2ª dose em Junho e, preventivamente, marcámos logo a toma das duas doses. 

Esta vacina é paga pelos utentes, embora seja um medicamento comparticipado. Quando o médico de família prescreveu as vacinas, pensávamos que prescreveria logo as 2 doses. Mas não. Só prescreveu a 1ª dose.

Em Março quando fomos a uma consulta, pedimos que prescrevesse a 2ª dose. Ele assim o fez. A mim prescreveu em nome de outra pessoa mas, como só dei por isso em casa, marimbei-me. Estas vacinas têm que ser guardadas no frigorífico. Como não sabemos a validade delas, por precaução, fomos comprá-las de véspera. Contudo, quando fui aviar as receitas, eis que o farmacêutico me diz que a receita já não estava válida. Apesar de saber que a vacina era para Junho, o médico enganou-se e só pôs validade de 1 mês. A receita deixou de ser válida em Abril. Tentámos, então, falar para o Centro de Saúde para pedir que o médico alterasse a receita ou, na impossibilidade em tempo útil, para desmarcar a toma da vacina. Depois de se ter ligado várias vezes ao longo do dia, sem sucesso, só ao início da noite nos devolveram a chamada. Ficaram de falar com outro médico, pois o nosso não está lá (o que parece ser frequente), a senhora que nos ligou disse que ia tentar que outro médico passasse novas receitas. Mas isso levaria na melhor das hipóteses 3 dias úteis pelo que tivemos que remarcar a toma da vacina.

Numa clínica ou hospital privado, se queremos contactar com o médico, temos como. Além disso, de véspera recebemos sempre uma mensagem a lembrar a marcação do dia seguinte e, se formos, respondemos SIM, se não pudermos ir, respondemos que Não. E automaticamente o sistema de marcações é alterado e quem ligue a pedir uma marcação já poderá contar com a vaga surgida em caso de alguém responder Não. Tudo automatizado, tudo simples, imediato, tentando que não fiquem vagas por preencher.

No SNS quem faltar, se quiser avisar, acontece o que referi: um dia inteiro a fazer chamadas e depois a vaga ficando lá pendurada, por preencher. Por isso, com esta falta de optimização, só se arranjam consultas para muitos meses depois.

Mas a situação da falta de médicos e enfermeiros é grave não apenas no SNS. E isto é grave sobretudo para os doentes. Podem os grandes defensores de que quem deve resolver o problema da falta de recursos (físicos e humanos) na Saúde devem ser os médicos, de preferência os que detestam a matemática, achar que se os Privados estiverem também com falta de pessoal clínico, azar o deles.

Errado. Azar o nosso, os dos utentes.

Quando alguém precisa de ir a uma Urgência e não a encontra no SNS, deslocando-se a um hospital privado e dá de caras com a Urgência também fechada (e já está a acontecer), não é bom para ninguém, em especial para quem precisa de apoio clínico urgente.

Portanto, não seria mais humano, mais eficiente, mais razoável se uma pessoa fosse ao Portal da Saúde ou ligasse para o 112 ou para a Saúde 24 e, face à patologia, recebesse indicação do local onde deveria dirigir-se (garantindo tempos de espera baixos, local na proximidade e custo zero)?

Note-se que quando digo custo zero, refiro-me ao utente. Obviamente há sempre um custo para o Estado, seja a pessoa atendida no SNS ou num Privado.

E ontem também expliquei que, em modelos deste tipo, que optimizam os factores em jogo, se o custo num privado for mais elevado que no SNS, a pessoa só em último caso é dirigida para o Privado.

E depois há uma coisa extraordinária. Quem defende cegamente, como os meus Comentadores, o recursos exclusivo aos hospitais e Centros de Saúde públicos, faz ideia de quais os custos para o Estado? E acham que o dinheiro cai do céu? Não sabem que sai do bolso dos contribuintes (os que pagam impostos, pois, como sabemos o que não falta é quem não os pague ou pague menos do que devia)?

O facto de ainda não se ter percebido que os médicos devem tratar dos doentes, mas que quem deve gerir os sistemas de Saúde e os Hospitais devem ser pessoas com valências de gestão, tem conduzido aos problemas que parecem insanáveis na Saúde (como os que referi).

Devo ainda dizer que a fobia ao trabalho prestado por entidades privadas não tem razão de ser. Um dos hospitais que foi considerado um exemplo de excelência a nível de qualidade de serviço prestado foi o Hospital de Braga na altura em que era gerido por um grupo privado, numa das PPPs. Devo ainda dizer que as PPPs foram excelentes para os doentes, óptimas para o Estado e más para os Privados pois, estrangulados pelo Estado, perderam dinheiro e agora, naturalmente, recusam-se a voltar a gerir Hospitais Públicos.

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Se percebi mal o que disseram e quiserem concretizar, ou avançar com sugestões sobre como equacionar os problemas no seu conjunto, tentando identificar as melhores respostas a dar para que as pessoas não sejam tratadas de forma desumana e terceiro-mundista, agradeço.

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Do que escrevi e do que aqui, há anos, venho dizendo, acho que é muito claro que sou firmemente defensora do SNS. Por isso é que gostava de vê-lo robusto, eficiente, reconhecido.

Defendê-lo acefalamente ou só porque sim sem querer admitir falhas ou oportunidades de melhoria é condená-lo. Isso eu não quero fazer. Quero que melhore, que a ninguém passe pela cabeça destrui-lo.

sábado, fevereiro 03, 2024

Helena Sacadura Cabral
[E, pouco a propósito, algumas reflexões sobre as lacunas do sistema público de apoio a idosos doentes e não ricos]

 

O meu dia foi muito ocupado. Nem consegui tempo para pegar no livro que estou a ler, A Escrita ou a Vida de Jorge Semprún. Há tempos o meu filho interrogava-se como seria se eu ainda estivesse a trabalhar. Não sei. O tempo que se perde nestas coisas não se imagina. 

Outra coisa que ele me perguntou e que também é de difícil resposta é como é que se gerem situações complexas a nível de saúde e que requerem muitos cuidados e acompanhamento a tempo inteiro quando não se tem dinheiro para residências assistidas privadas.

No caso da minha mãe esteve durante quase quatro semanas num hospital privado pois no dia em que foi internada ia a uma consulta num médico que dava lá consulta e, por estar tão mal, foi desviada para as Urgências e daí imediatamente internada. Felizmente podíamos pagar. Mas, se não pudéssemos, e, estando-se em pleno pico de Gripe A, a minha mãe teria estado horas nos corredores, em macas, provavelmente sem eu poder estar ao pé dela, certamente muitas horas até que se concluísse pelo seu internamento. E mal como de repente ficou nem consigo imaginar como seria... E digo isto pois passei várias vezes pela experiência, quer com a minha mãe quer com o meu pai, de estar com eles nas Urgências de hospitais públicos. Depois de internadas, as pessoas ficam bem amparadas nos hospitais públicos. Mas até que lá cheguem é um calvário. Qualquer coisa vai muito mal na organização das Urgências. Talvez agora com a integração que aí vem com os Centros de Saúde, talvez conseguindo retirar os que lá vão sem necessidade disso, talvez se consiga melhorar.

A minha mãe esteve na ala dos paliativos com um acompanhamento de excelência e esteve até que se considerou que o tratamento que estava a receber lá poderia recebê-lo num lugar em que houvesse enfermagem vinte quatro horas por dia e médico diário. Mas, uma vez mais, o lugar que encontrámos é privado e igualmente muito caro. Muito bom mas caro. Se não pudéssemos pagar não sei como faríamos pois, a nível público, só há Cuidados Paliativos através de referenciação ou pelo hospital público ou pelo médico de família. Mas, após ser referenciada (e isso, em si, também leva tempo), poderiam decorrer um ou dois meses (ou, se calhar, mais). Ora a minha mãe não viveria para lá chegar. E até lá? Impossível estar em casa pois o seu estado requeria cuidados permanentes de enfermagem.

Por isso, com o envelhecimento da população, cada vez (felizmente) havendo mais velhos, cada vez com mais doenças, a sociedade não está apetrechada para acolher tantos idosos com tantas maleitas. É necessário mais clínicas de cuidados continuados e paliativos e residências assistidas para quem não tem posses. Ao ver o estado em que a minha mãe estava pensei muitas vezes como seria se não houvesse recursos para pagar o que foi pago. 

Se calhar só se pensa nisto quando se passa por elas mas, se não morrermos novos e saudáveis, um dia lá chegaremos. É urgente pensar-se nisso quando se pensam em políticas públicas no domínio da geriatria.

A par das creches gratuitas, essenciais para que haja mais nascimentos e para que os pais tenham qualidade de vida, é indispensável que o Estado invista mais em instalações para tratamento e acompanhamento de idosos que requerem tratamento e/ou acompanhamento clínico. E, certamente, também mais lares normais para quem não tem posses.

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Alguns dos meus amigos têm a sorte de ainda terem mães vivas (por acaso só mães, não pais) e, talvez pelo frio que é mau amigo dos idosos, vivem tempos duros. Hoje morreu uma senhora e outras duas estão doentes. E eu vejo-os a passarem pelo que passei. É muito complicado e triste quando percebemos que já ninguém deseja as melhoras das nossas mães. Sabemos todos que, quando se começa a descer a rampa inexorável que leva ao esvaimento absoluto, o melhor que se pode desejar é que não sofra muito.

Por isso, cada vez mais me convenço que a vida tem que ser vivida, o melhor que se saiba e possa, enquanto há vida com um mínimo de qualidade. Há que dar valor à vida. Há que agradecer a vida que se tem enquanto não se entra na rampa descendente.

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Se há pessoa que mostra dar valor à vida é Helena Sacadura Cabral. Podemos nem sempre concordar com ela, podemos não apreciar grandemente os seus dotes literários, podemos não elegê-la como a nossa guru intelectual ou espiritual. Não tem mal. Não deve haver muita gente que cumpra todos os nossos requisitos.

Helena Sacadura Cabral tem 89 anos e vejo-a com alegria, com motivação, com planos, com energia, com sentido de humor, com prazer em partilhar memórias, experiência, acções. E acho isso notável. Penso que é exemplar e todos nós deveríamos pôr os olhos nela.

Por isso, hoje partilho este vídeo que é longo mas que é um gosto ver e ouvir. 


N'A Caravana com Helena Sacadura Cabral #226 Charutos, 89 anos de amor e sacos de alfazema

É licenciada em Economia e ocupou vários lugares de chefia na Administração Pública. Colunista de diversos jornais e revistas e comentadora em televisão, é também autora de vários livros (talvez já vá em 50). Concilia ainda a participação cívica com a atualização dos seus blogues.


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Um belo sábado
Paz. Ânimo e alegria. Paz.

quinta-feira, janeiro 11, 2024

Sobre hospitais públicos e privados. Episódios. Histórias. E sobre o DN, o JN, a TSF, e o The Guardian, o Madame le Figaro, o Correio da Manhã Jornal

 

Nem valerá a pena a gente pôr-se para aqui a dissertar sobre as pregas e os plissados da vida. Não há nada de novo a dizer. Desde o início dos tempos que se sabe que, por fora, de repente, vê-se uma coisa mas, ao pé, com tempo, se percebe que há a parte que é ocultada pelos efeitos, e isto já para não falar nos avessos.

Tenho experiência de frequentar hospitais públicos e privados. Já passei noites no exterior sem saber nada dos doentes que tinham sido devorados pela dinâmica hospitalar, já andei entre macas onde gente grita e tosse e escarra e vomita e chora e grita, eu própria já passei uma noite e uma manhã no meio de gente em camas encostadas umas às outras, gente que gritava que estava a urinar-se ou outras cujas fraldas eram mudadas à frente de todos, onde os doentes mentais gritavam e choravam a noite inteira desestabilizando ainda mais a desgraça que ali se vivia. 

Já tive os meus pais internados em hospitais públicos e em hospitais privados.

A grande e terrível diferença está nas urgências e nos serviços de observação. Nos hospitais públicos que conheço a falta de espaço, a falta de meios e a falta de organização são gritantes e a dignidade dos doentes e o respeito pelos acompanhantes são totalmente ignorados. 

Uma vez internados, as diferenças esbatem-se. A disparidade que subsiste terá mais a ver com a privacidade, especialmente quando, nos privados, se está num quarto individual. Mas não tenho razão de queixa nos internamentos (dos meus pais) em hospital público. Para os doentes, em particular quando estão mesmo doentes, na prática nem dão muito pelo local nem se importam com existirem ou não frescuras.

Estar num hospital privado, em quarto individual, é quase como estar num hotel com todos os serviços incluídos. Sobretudo há a preocupação do serviço ao utente e à família. Há sempre alguém que atende o telefone, alguém que está disponível quando queremos uma informação sobre o nosso familiar ou um médico que nos explica a situação e as perspectivas. E isso faz muita diferença pois ter um familiar internado e não conseguir encontrar ninguém que nos informe cabalmente é frustrante.

Mas, como tudo, é relativo. E, sobretudo, é para quem pode pagar (sobretudo, que tenha um seguro com um grande plafond ou tenha ADSE e poupanças). 

Contudo, uma coisa é comum: o sofrimento de quem está doente e a angústia dos familiares.

Vejo muitas vezes os familiares de um doente internado na mesma ala da minha mãe, que está num hospital privado. Tenho impressão que estão lá quase todos os dias e, não sei porquê, estão muito na sala de espera. Vejo sempre um homem que talvez seja um pouco mais novo que eu. E vejo um rapaz e uma rapariga que presumo que sejam irmãos. Os jovens conversam, riem-se, outras vezes falam com ar sisudo, parecem reflectir e recebem e fazem chamadas. Parecem esquecidos do homem que imagino que seja o pai. Acho que nunca os vi a dirigirem-se a ele, nem nunca vi o homem a falar com eles ou ao telefone. O mutismo daquele homem faz-me muita impressão. Já calhou partilhar o elevador com eles. Os jovens conversando, o homem em silêncio, um ar muito triste. De vez em quando vejo-os a irem ao quarto mas pouco depois saem. Imagino que seja a mulher do homem e mãe dos jovens que esteja internada. Como nada sei, só posso presumir e, dada a ala que é e dado o pouco tempo que estão no quarto, presumo que a pessoa esteja maioritariamente a dormir o que nem sempre é muito bom sinal.

No outro dia falei de um homem que saiu e voltou pouco depois com um jovem que pensei ser o filho. São outros, não estes de que agora falo.

Mas a angústia dos que temem perder o seu ente amado é a mesma. Nada sei da história de cada uma daquelas pessoas que ali está internada. 

Cada um terá a sua história.

No outro dia, por alturas do Natal, num fim de semana, no átrio cá em baixo, o átrio vazio, três tias podres de betas falavam muito alto (como as ultra betas sempre fazem). Uma dizia que não ia subir e as outras duas: 'Olha agora...', 'Olha-me esta...!', 'Deixe-se disso, venha lá...'. E a beta zangona: 'Não vou! Depois do que ele disse, que não queria ver-me, acha que ia aparecer...? Nem pensar, né...?', e as outras: 'Esqueça lá isso, não ligue, venha lá...'. Nisto chegou um super beto, alto, porte real, pinta de beto de Restelo, Estoril ou Cascais, ultra-pintarudo: 'Atão? Temos reunião aqui em baixo?'. E as outras: 'Imagine que esta agora não quer subir...'. E ele: 'Ah essa tem graça, conte-me lá...'. E a beta azeda: 'Disse que não me quer ver. Acha que eu ia?' e as outras: 'E ela a dar... Ouça: esqueça. Venha lá.'. Face ao impasse, o betalindão sacou de um cigarro, fez um sorriso complacente de macho alfa e disse: 'Vocês entendam-se que eu vou até lá fora fumar um cigarro'. 

Entretanto, despachei-me da obtenção da credencial de acesso e subi enquanto o grupinho continuava naquela. Apesar de preocupada, achei um piadão.

São episódios que, mais betice ou mais pobreza, mais tristeza ou mais euforia (porque nem sempre os hospitais são locais de sofrimento, também são locais em que se nasce e em que as famílias vão em festa) pontuam sempre estes locais, fait divers com que podemos sempre distrair-nos das nossas preocupações. Os tais refegos que nem sempre se veem, que nem sempre têm relevância, mas que, de uma maneira ou de outra, fazem parte da vida daqueles locais.

Lembrei-me agora de falar disto pois, com este problema dos jornalistas com salários em atraso, tenho pensado na minha própria experiência como leitora e nas diferentes motivações que me animam quando procuro a imprensa.

Os tempos são outros, não podemos recuar aos tempos da fundação dos brilhantes títulos (DN, JN, etc) nem podemos, sequer, recuar aos tempos a seguir ao 25 de Abril. 

Falo por mim. Já não leio jornais em papel. 

E o jornal que mais leio é o The Guardian. De longe, é o jornal que, para mim, melhor cobre a informação sobre uma variedade alargada de temas que me interessam. E tem boas fotografias, vídeos interessantes. De longe, o que mais me agrada.

Depois, se me apetece a leveza, alguma fofoca, alguns temas sobre moda ou decoração ou culinária, vou para o Madame le Figaro. Há superficialidade, claro, mas há também elegância e diversidade. E também preciso disso na minha vida.

Há outros nos internacionais mas aqueles dois são os primeiros do dia e os que, mesmo quando não tenho tempo ou cabeça para nada, não passo sem espreitar.

Depois, nos portugueses, percorro, geralmente en passant (até porque, ao não ser assinante, metade não consigo abrir), o Expresso, o Público, o DN. Mas basta ver um que os outros geralmente não diferem muito. Um que agora gosto de espreitar é o CM. Desgraças e parvoíces. Mas acho uma certa graça pois há ali muito do submundo que tem muito da vida real, a vida que se vê nos hospitais públicos, nos locais onde a vida se pode ver despida de selfies e instagrams. Como também não consigo abrir os conteúdos pagos, não consigo ir ao detalhe. Mas fico estupefacta com os que se matam, se esfaqueiam, os que desaparecem, gente que vive anonimamente até que um dia vai parar a uma morgue, um homem de 180 kg que teve que ser retirado pela janela, por bombeiros, uma igreja à venda numa cidade. Coisas assim. Não leio artigos de opinião nem notícias que envolvam política ou coisa do género. Ainda assim, pasmo comigo mesmo. Mas sinto que tenho que conhecer melhor este mundo que é bem paralelo em relação àquele que frequento.

Fazendo agulha para o tema do momento, a crise mediática de momento. Lamentando muito o que está a passar-se com os trabalhadores do Global Media Group, tenho que dizer que, nos tempos que correm, ou há qualidade, diversidade, diferenciação ou não vale a pena. Não reconheço isso no DN e o JN nunca frequentei. A TSF foi durante muito tempo uma rádio de referência. Com a saída de Fernando Alves desapareceu a minha principal ligação à TSF.

Agora um aspecto quero referir: o que está mal, muito mal nisto é que empresas e marcas importantes sejam vendidas, quase às cegas, a fundos que ninguém conhece e que nada têm a ver com as empresas que compram, que estão ali apenas para ganhar dinheiro, seja por vender edifícios seja por dispensar pessoas, reduzindo custos, seja pelo que for e não para desenvolver o negócio. Depois de tantos exemplos nefastos de fundos opacos com capitais em offshores, como se explica que ainda se continuem a fazer negócios destes sem que nenhuma entidade valide previamente a lisura, a transparência, a legitimidade, o cumprimento fiscal, etc?

Penso que nada há a fazer, a nível público, para salvar estas empresas pois, a salvar estas, ter-se-ia que salvar todas as outras de qualquer outro sector, e não vejo que nem o DN, nem o JN, ou a TSF ou as outras do grupo sejam estratégicas para o país. Penso que o que há a fazer é apenas, e não é pouco, obrigar os accionistas e os gestores a cumprir a lei,  caindo a pés juntos sobre os prevaricadores.

Mas, caraças, que sirva de exemplo para:

 1- Negócios futuros, seja em que âmbito for. Tudo deve ser escrutinado antes de qualquer operação se concretizar,

 2 - Para o jornalismo que compreende que tem que se reinventar e apostar na qualidade e na diferenciação, senão inevitavelmente soçobrará.

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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Alegria. Paz.

quarta-feira, janeiro 10, 2024

O ano de 2024 quase pessoa a pessoa
-- as previsões de Paulo Cardoso na companhia do ganda maluco do Alvim que ali esteve caladinho a ouvir com atenção e muito respeitinho

 

Depois de talvez um mês de interrupção, eis que consegui voltar à piscina. E que bem me soube. Não foi só a água quentinha, foi o exercício, foi aquela confraternização no balneário, foi a graça da senhora muito obesa, nua, no duche, escandalosamente contorcendo-se para conseguir chegar com a mão às partes pudibundas enquanto na galhofa diz as coisas mais inverosímeis. Hoje uma delas, ao conversarem sobre uma reportagem da véspera sobre o tempo que as crianças levam agarradas aos telemóveis, dizia que tinha lá em casa uma com sessenta anos que era a mesma coisa. E dizia que o ameaçava: 'Não acreditas que tantas horas de roda dessa porcaria vão limpar-te a cabeça por dentro...? Quando estiveres maluco julgas que vou estar aqui para aturar as tuas maluquices? Nem penses! E já lhe disse muitas vezes: quando fores desta para melhor julgas que vou sentir a tua falta? Não. Nada. Já estou habituada a estar sozinha...' e ria enquanto várias outras, todas nuas, besuntando-se com creme, faziam coro com ela.

Eu, no meu canto, toda pudica, a toalha à volta para não me apresentar como vim ao mundo, sorria ao vê-la sempre tão desinibida e brincalhona. Outras vezes diz que vai arranjar um papagaio para ter com quem falar quando está em casa. Ainda gostava de ver o senhor para perceber como funciona aquela dinâmica.

Depois fui ver a minha mãe. Está melhor. Depois de a ter visto praticamente à beira de ir desta para melhor, graças à perícia e persistência da equipa médica, apesar das diversas maleitas graves, está a conseguir dar a volta. Daqui a nada está a ter alta. Melhor, a ser transferida. Alta não pode ter. Vai continuar a ser acompanhada mas fora do hospital. Só espero é que corra bem, que se adapte bem, que goste, que continue a recuperar bem. 

Preciso de descansar a cabeça. Acontece-me agora isto: ao fim do dia sinto-me esgotada. Deixo-me dormir no sofá e depois custa-me imenso a acordar. Ou é de toda esta situação ou é o somatório disso com o pós-gripe. Sinto-me mesmo esgotada. 

Enfim. Agora que a vejo a melhorar, já só me apetece ir de férias, afastar-me de preocupações, descansar a cabeça. 

Hoje também, num bocadinho de manhã, voltei a pegar numa coisa que andava a escrever e da qual me tinha afastado, incapaz de ter ideias ou vontade de puxar por elas. Senti-me bem ao reler o que tinha escrito. Parecia que estava a sentir-me a ressuscitar, quase como se nestas últimas semanas tivesse andado a viver numa realidade paralela, subterrânea, e agora esteja a voltar à superfície.

Poderão pensar que é fragilidade a mais da minha parte ter ficado assim com a crise de saúde da minha mãe. E até pode ser que seja. Tal como referi antes, talvez venha a falar no assunto mais tarde. Agora não. Mas acreditem que foi uma situação atípica, com contornos inesperados, em que me vi virada de pernas para o ar. Uma coisa é o desenrolar normal de uma doença. Outra, muito diferente, é o que tem acontecido com a minha mãe. Mas está melhor e isso é o que importa. 

Na segunda-feira, quando vínhamos do campo, como sempre quando estamos no carro a partir das sete da tarde, posicionámo-nos na Antena 3, com o Alvim e a sua impagável Prova Oral. Aí ele disse que esta terça-feira lá teria outro doido, o Paulo Cardoso, a falar nas previsões para 2024. Fiquei com pena de não ouvir pois imaginei um programa completamente louco.

Pois bem. Agora ao abrir o YouTube, aparece-me o vídeo da Prova Oral. Nem fazia ideia que gravam e que se pode ver depois.

Agora fui à procura das previsões para o meu caso. Boas. Fiquei contente. 

É coisa louca a gente ligar a isto mas não quero cá saber. A minha mãe disse-me muitas vezes que acha que a minha maneira de ser é um bocado racional de mais. Penso que preferia que eu embarcasse na dela, nas suas emoções, nas suas fobias. Mas cada um é como é e eu não sou assim. A maneira de ser dela tem uma forte componente que é o oposto. Perante os medos dela, tantas vezes irracionais, sempre consegui manter-me serena (pelo menos, exteriormente), não me deixando contagiar e tentando desmontar aqueles medos inibidores de que ultimamente tanto tem sofrido. Mas sou assim em geral (excepto quando há doenças reais, graves, daqueles que me são mais próximos, pois aí, sinto-me impotente e isso desarma-me, apeia-me, tira-me o tapete, o chão). No meu trabalho, quando o stress parecia tomar conta de toda a gente, eu também me mantinha intacta, tranquila, pés na terra, a cabeça a funcionar sem ceder aos arroubos emocionais dos demais. 

Ora esta minha racionalidade parece contraditória com esta parvoíce de gostar de ler os horóscopos. Bem sei que sim. Mas é o que é. Além disso, há que deixar espaço para as coisas sem explicação.

Os caranguejos nascidos naquele intervalo de datas que o Paulo Cardoso ali diz parece que têm tudo para virar o jogo, ir à luta e vencer. É o que preciso. Sorte e persistência. Tenho muita vontade de ter uma vida nova. A ver se é desta. A porcaria de 2023 trocou-me as voltas todas, foi chatice atrás de chatice, preocupações permanentes. Ora tenho necessidade de ter projectos e novos objectivos e entusiasmos em vez desta sucessão de preocupações que me minam por dentro, que me esvaziam, que me sugam a energia. Preciso mesmo. 

Pode ser que o Paulo Cardoso tenha razão, pode ser que os astros se alinhem para me levar ao colo em 2024. Vou fazer figas. Vou mesmo.

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Para quem queira saber como vai correr-lhe o ano ou o que fazer para se precaver caso as previsões não sejam famosas, aqui está o programa na íntegra.

Paulo Cardoso - As previsões para 2024 na Prova Oral


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Um dia bom
Saúde. Boa sorte. Paz.

quinta-feira, janeiro 04, 2024

Fui caçada por uma psicóloga. Estranhei.
Mas, para dizer a verdade, gostei.

 

Nestes meus dias tão incertos em que a inquietação vive dentro de mim, estou a começar o ano como o acabei. Ainda hoje, ao responder a um amigo, lhe disse que o almoço teria que ficar para depois já que, por ora, vivo neste limbo em que a palavra de ordem é 'cada dia é um dia'. No hospital tento que me apontem perspectivas, me esclareçam com aquele nível de exactidão que, para mim, é fundamental. Mas ninguém me diz o que eu quero ouvir. Basicamente tudo anda à volta disto: 'cada dia é um dia'. 

Para qualquer pessoa isto deve ser horrível. Não sou a primeira e certamente não serei a última a passar por estas situações. Mas, para quem, como eu, é das ciências exactas, penso que isto é ainda pior. É como se me pregassem rasteiras, me tirassem o tapete, me deixassem sem chão, sem rede, me deixassem sem eixos referenciais. Navegação à vista, sem regras, sem gps, numa meio de uma nebulosa.

A novidade foi que ontem a médica, depois de conversarmos, me disse que já iam ter comigo ao quarto. Não percebi. Já iam ter comigo? Quem? Ela e outra médica? Porquê? Mas tão admirada fiquei que nem me ocorreu verbalizar as dúvidas.

Mas estava lá, lá fiquei. Até que entrou uma pessoa com bata, que tomei por médica, que se apresentou e disse que gostava de falar comigo. Levou-me para uma sala. Lá fui, atarantada, sem saber qual era a dela. 

Simples: queria apoiar-me. Eu meia parva. Apoiar-me? A propósito de quê? 

Disse-me que a equipa lhe tinha transmitido que achavam que eu estava a precisar de apoio. Eu parva a tentar pensar no que é que eu teria feito ou dito que tivesse levado a equipa a pensar nisso. Depois pensei: capaz de isto ser 'cilada' da minha filha. Mas não entrei por aí, ou seja, não quis saber exactamente quem e porquê, achei irrelevante. 

O relevante, pareceu-me, é que se eu tinha sido caçada, então a caçadora que levasse a dela avante. Porque não?

Portanto, no meio de todo este turbilhão, uma novidade: uma conversa com uma psicóloga. 

Devo dizer que gostei. Achei interessante. Descodificou algumas coisas, deu-me pistas para melhor lidar com a situação. No fim, disse-me que doravante a procurasse.

Hoje, quando cheguei, não a vi. Estava numa de não a procurar, a pensar que a conversa tinha sido boa, útil, e que, como aquelas dicas, já eu ia ver tudo sob lentes novas, mais claras. Portanto, não era precisa outra sessão.

Quando ia a sair, vi-a e pensei: caraças, como é que agora vou conseguir escapar-me?

Ela, mais rápida que eu, perguntou se eu podia esperar pois queria falar comigo. Disse-lhe que estava de saída. Pediu cinco minutos. Achei que seria indelicado não atender ao seu pedido.

E, portanto, segunda sessão. Eu sentada num sofá, ela numa cadeira ao pé de mim. 

Parece-me perceber que a história também lhe desperta atenção, noto que as perguntas não são apenas um caminho para conduzir a sessão, são também curiosidade.

Tal como na primeira sessão, também na de hoje, às tantas desatei a chorar. Tento travar pois parece-me absurdo não conseguir conter-me. Felizmente ela não me diz coisas constrangedoras como 'chore à vontade' ou 'não faz mal chorar, chore que faz bem'. Nada. Se o fizesse eu achá-la-ia vulgar e sentir-me-ia ridícula. Pelo contrário, não se mostrou nem espantada nem comovida ou caridosa e continuou a olhar para mim com atenção, à espera que eu continuasse a falar, como se o meu choro fosse uma contingência com a qual não estava para se distrair. Ainda bem.

Acho-a muito inteligente, perspicaz. Por vezes, estou a falar e ela adivinha o que vou dizer. Ou faz perguntas que revelam que já antevê qual vai ser a resposta e vejo que fica contente ao constatar que adivinhou mesmo. 

No fim disse-me quando lá estaria de novo e que eu a procurasse. 

Uma experiência interessante. Fico a pensar no que ela diz e, na minha cabeça, as coisas apresentam-se já de outra maneira, parece que já fazem mais sentido. Havia uma perspectiva que eu nunca usava e que, se calhar, é justamente aquela pela qual as coisas devem ser vistas.

Eu que em tempos pensei ser psicóloga, que gosto de ouvir outras pessoas e a quem outras pessoas costumam contar coisas, vejo-me agora no papel contrário. Ela diz que é bom eu falar com tanta franqueza e tão abertamente. É certo. Não sei falar de outra maneira. Admito que algumas pessoas rodeiem, baralhem, usem meias palavras. Isso deve dificultar a vida aos psicólogos. Eu falo sem qualquer dificuldade do que me preocupa ou do que me custa mais e, mesmo perante algumas inesperadas, respondo o mais sinceramente possível.

A minha dúvida em continuar tem mais a ver com a necessidade: fico com a sensação que ela já me tirou algumas palas que eu tinha em frente dos olhos, já me mostrou outras linhas de raciocínio que eu nem ousava pensar que existiam. E, portanto, tenho a sensação que ela já fez o que tinha a fazer e que, a partir de agora, é comigo.

Ela diz que acha a situação tão complexa que qualquer pessoa teria forçosamente dificuldade em lidar com ela pelo que está em crer que eu beneficiaria em ter mais algumas conversas com ela, mesmo depois de a minha mãe sair do hospital. Tenho dúvidas. O único aspecto que me deixa receptiva à ideia é que gostei mesmo de falar com ela, acho-a mesmo inteligente e objectiva, rápida, arguta. Falar com pessoas assim é um exercício que me motiva. 

Enfim. No meio destas circunstâncias difíceis, estas duas conversas foram duas inesperadas e agradáveis surpresas. Bem que a minha filha andava a dizer que achava que eu só teria a ganhar com isto. O meu marido também. Aliás, contei à psicóloga uma situação envolvendo o meu marido, em que eu não achei nada bem o que ele tinha dito e lhe pedi para não voltar a fazê-lo, e ela, surpresa das surpresas, disse que achava que ele tinha feito muito bem. Contei-lhe a ele e, claro, parece que tinha marcado golo, que claro que tinha feito bem, que era óbvio, que eu é que nunca lhe dou ouvidos, etc, etc. Agora percebi porque, lá está, ela colocou em cima dos factos um referencial que eu nunca usava e à luz do qual as coisas fazem outro sentido.

Ou seja, é sempre saudável, mentalmente saudável, ouvir quem nos mostre outras perspectivas e que mostre como as coisas podem fazer mais sentido quando encaradas sob lentes que antes nunca nos tínhamos lembrado de usar.

Tirando isso, a ver se durmo uma noite descansada. Peguei a gripe (da qual não estou completamente curada) ao meu marido e agora é ele que se farta de tossir durante a noite (e durante o dia também). Enfim. Uma gripe estuporada esta, difícil de curar. Os meus filhos estão na mesma, tiveram-na e ainda andam a ver se conseguem livrar-se do que sobra dela.

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Cabeça fresca. Paz.

segunda-feira, janeiro 01, 2024

2024
-- Receita de Ano Novo --

 

E já cá estamos, em 2024. Aqui, pelo menos, já chegámos. 

Não sei se o Valupi tem razão ao dizer que 2023 foi um período triunfal para os estúpidos. Não que não tenha sido. Foi. Mas foi mais que isso. Foi, em si, um ano estúpido. Claro que pode dizer-se que são os estúpidos que transformam uma coisa neutra numa coisa estúpida. Mas foram tantas as coisas estúpidas que aconteceram, uma tal sucessão de situações transformadas em situações estúpidas por gente estúpida que, em si, tenho que concluir que 2023 se pôs a jeito para os estúpidos fazerem dele gato-sapato. E não foi só isso, foram mesmo as contingências desagradáveis que viram a luz do dia, negativas, abstrusas, ataques de pouca sorte.

Quando o ano começou toda a gente deve ter desejado que fosse um ano incrível, transbordante de paz e bondade, mas, bem vistas as coisas, muitos dos estúpidos que por aí andam já andavam antes a deixar-nos perceber que iam fazer porcaria. Muitas vezes, não quisemos foi ver. 

Não vou exemplificar pois foram tantas as anormalidades que aconteceram que seria absurdo apontar só uma o duas. Mas, de muitas, como não reconhecer que os seus autores já antes vinham dando mostras de que as suas intenções e o seu comportamento iriam descambar em actos estúpidos, nefastos.

E, mesmo a nível pessoal, tenho que reconhecer que quase tudo o que de negativo me aconteceu, não nasceu em 2023. E algumas coisas poderiam ter sido senão evitadas, pelo menos mitigadas. Há o aspecto da sorte, é certo, e nela muitas vezes não conseguimos influir. Mas em muitas das outras deitamo-nos na cama que fizemos. Não que, se fosse outra a cama, o destino fosse forçosamente diferente. Mas uma coisa é certa: quando tomamos uma opção não podemos pensar que as consequências se ficam por ali. Muitas vezes as consequências arrastam-se por anos.

Estou a escrever e já estava outra vez a pensar na situação da minha mãe e no que estamos a passar: tinha vontade de exemplificar como, em cada momento da vida, a vida não é só o que acontece independentemente da nossa vontade mas também é a forma como o encaramos -- ou sob uma perspectiva fatalista e negativa ou sob uma perspectiva de agradecimento e aceitação, mesmo quando o que nos acontece não é famoso. E isso muda tudo. Mas hoje não quero falar outra vez do mesmo, não quero enfiar-me de novo nesse beco do qual tantas vezes parece que não consigo sair.

Só quero dizer que embora triste por a minha mãe entrar o ano numa cama de hospital e de eu não ter podido desejar-lhe um feliz ano novo, com saúde e alegria, como sempre fiz em todos os anos da minha vida, consegui divertir-me e estar feliz na companhia dos que me são queridos, que estão bem, felizes, bem dispostos. 

A vida continua. 

E bola para a frente. Certo?

E agradecendo ao Nuno que, apesar de ser um chato e que tantas vezes me maça, não deixa, outras vezes, de ser atencioso, partilho convosco um poema que ele me enviou por mail. Aqui, na voz de Marília Gabriela:

RECEITA DE ANO NOVO, Carlos Drummond de Andrade

(...)

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Felicidades

quinta-feira, dezembro 28, 2023

Em cima de tudo, a gripe

 

Quando passeamos por aqui à noite não encontramos ninguém. As luzes dentro de casa estão acesas, as pessoas estão lá dentro mas as casas, por fora, apresentam-se silenciosas. Por vezes passamos por casas em que há muitos carros à porta. Percebemos que deve haver festa. E, no entanto, não se ouve nada cá fora. 

Naquele corredor do hospital é a mesma coisa. Estive um bom bocado fora do quarto, a minha mãe estava a dormir e eu queria falar com uma enfermeira ou com uma médica, estava a ver se as via, e tive uma estranha sensação. Parece que se está numa ala deserta. Passado um pouco ouvi uns sons estranhos, não percebi se era alguém que ria com voz de criança, se era alguém que chorava. Depois, logo a seguir, de novo, o silêncio. Apenas de vez em quando um piiiii, o som de algum aparelho. Mas logo depois o silêncio. Quando veio o carro com os lanches, vi que as funcionárias iam deixar o lanche a cada quarto. Percebi depois que alguns doentes conseguem alimentar-se sozinhos. Outros não, vai uma funcionária dar a comida ao doente. Mas tudo em silêncio. 

No meio daquela ausência branca, saiu um homem de um quarto. Cumprimentou-me com um ar também um pouco ausente. Passado um bocado regressou trazendo consigo um rapaz -- um homem jovem com ar assustado, olhos baixos, silenciosos -- que devia ser o filho. Pensei que deveria ser a mulher do homem que estava no quarto, a mãe do rapaz. Julgando pelas idades deles, pensei que a mulher deveria ser da minha idade. Pensei também: tomara que nunca eu dê tamanha preocupação ao meu marido e aos meus filhos. Mas estas coisas não se escolhem. É uma questão de sorte. Uma roleta russa.

Com a minha mãe, tal como a minha filha disse desde o início, continua a ser um dia de cada vez. Não é uma realidade linear em que a evolução seja previsível. Uma mistura de montanha-russa e, lá está, de roleta russa. 

E há outra coisa. A sensação de impotência, sempre esta sensação. A todos os níveis mas também a um nível mais prático: o não se saber quando e o que será o day after, quando tiver alta, o não saber como funcionam as diferentes possibilidades, o não haver um local único onde possamos informar-nos de todas as hipóteses. Ando de site em site, procuro aqui, procuro ali, tenho dúvidas, percebo que antes compreendi mal. Assim ando.

No meio disto, depois de vir de lá, resolvi que devia ir ao shopping trocar uma coisa que recebi de presente e que não me ia bem. O prazo para trocas era o dia 2 mas pelo meio há o fim de semana e o ano novo e nunca sei o que vai ser. Se calhar também me apetecia distrair-me. Fomos. Muita gente. E, pelo meio, telefonemas. Vim cansada. 

E continuo engripada. Penso que devo estar com a dita gripe A. Lá no hospital, de máscara P2, com tosse e calor, estava a ver que a tensão me baixava, que o ar me faltava, estava mesmo a sentir-me mal. Estar assim, nariz tapado, cheia de tosse e não poder tirar a máscara durante muito tempo foi uma coisa um bocado má, custou-me mesmo. Em situação normal, uma pessoa tosse à vontade, bebe água. Com máscara, naquela ala, não dá para espalhar micróbios. Portanto, foi resistir. 

Consolei-me, ao chegar a casa, com um belo banho quente. Mas sinto-me cansada. Cansada. E com os pés gelados (apesar das meias bem quentinhas).

Mas, enfim, todos os males fossem as gripes e as tosses e os cansaços. 

Sobre notícias e televisões e etc., nada, não vi nada, não tenho nada a comentar.

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Desejo-vos um dia feliz

Saúde. Ânimo, Paz.

domingo, dezembro 24, 2023

Parece que é quase Natal

 

Quando, há muitos anos, aterrei em Luanda tive uma sensação estranha. O ar era morno e húmido, muito diferente do ar que eu conhecia. As ruas eram diferentes das ruas que eu conhecia. As praias também eram outras. Parecia que tinha entrado num mundo que, embora sendo habitado por humanos, era um mundo muito diferente daquele que eu conhecia.

Estou a viver este natal da mesma maneira. Reconheço os símbolos, fiz algumas compras, vejo as iluminações de natal. Reconheço que estou no natal. Mas é um natal que me é um bocado estranho. 

Quando penso no que terei que cozinhar, parece-me que é coisa distante, que 'até lá não me doa a mim a cabeça'. Disse ao meu marido que deveríamos decorar a casa, pôr luzinhas. Também anda cansado, disse que não. E eu também não.

Todos os dias, uma parte significativa do dia é retirada ao que era tempo gerido por nós. Saímos pouco depois de almoço e regressamos já tarde. Hoje não vim de lá assim tão tarde mas tive que ir ao supermercado. Mas no supermercado estava um bocado desorientada, não me lembrava exactamente do que já tinha ou não comprado. Trouxe algumas coisas repetidas, a mais. E tento perceber como vou gerir o tempo para fazer o que é preciso e fico sem saber bem pois fazem-me falta as horas em que não vou estar em casa.

Também não tenho a certeza de que tenha todos os presentes.

É que, em cima de tudo, há os telefonemas, alguns longos. Hoje estava a fazer o jantar, e já era quase nove da noite, vi que uma das minhas primas tinha ligado para a minha mãe. Como tenho o telemóvel dela comigo, devolvi a chamada e, claro, estive a explicar a situação. Ficou também muito surpreendida e, como é médica e logicamente quer compreender o que se passa, a conversa foi detalhada e, portanto, longa. Pelo meio aparecia o meu marido a querer saber o que poderia ele ir fazendo ao tacho que estava ao lume. Acabámos de jantar tardíssimo. Mas gostei bastante de falar com a minha prima. A especialidade dela é outra, diria mesmo que está nos antípodas, mas aventou umas hipóteses que talvez expliquem algumas coisas. E como fala sempre com uma total objectividade e franqueza transmitiu-me algum do seu pragmatismo.

No hospital hoje também tive uma boa conversa com uma das médicas e ao senti-la com as mesmas perplexidades com que me debati no último ano e meio (mais coisa menos coisa) também fiquei como que mais resignada, como se fosse mais uma prova de que não houve burrice da minha parte por não ter percebido o que se passava já que nenhum dos muitos médicos e enfermeiros que se têm ocupado dela também não percebem. Não que isso resolva alguma coisa mas ouvir o que dizem, ouvir o que pensam ser as perspectivas e as abordagens, atenua um pouco a minha preocupação. Vejo que toda a gente, mesmo com dúvidas, ao verem goradas as tentativas, isto é, quando as terapêuticas não resultam (mesmo que não percebam porquê), não desistem, tentam e tentam, uma e outra vez.

Portanto, no meio disto tudo, constato que, apesar de tudo, vou conseguindo estar mais calma. Claro que venho de lá sempre angustiada e apreensiva, com severas dúvidas existenciais, severas, severas. Mas começo a encarar as coisas com menos dramatismo, com uma maior dose de aceitação.

Mas isto desconcentra-me do espírito natalício. Tomara que consiga abstrair-me quando estiver com a família, em especial com os miúdos. O natal deve ser um dia feliz e, em especial para as crianças e jovens, deve ser um dia leve, alegre, luminoso. Os miúdos sabem qual a situação da bisavó e têm pena mas a sua vitalidade e dinamismo é mais forte, e ainda bem.

Volta e meia lembro-me do mais velho ter perguntado, há uns anos, certamente há uns quatro ou mais, ou seja, deveria ter uns dez ou onze, talvez nem isso, se o bisavô afinal, naquela vez, tinha sobrevivido. Achei imensa graça na altura. Quando o perguntou, o meu pai estava vivo mas acamado e, quando os miúdos lá iam, queixava-se imenso que faziam muito barulho, ficava muito incomodado, pedia para se fechar a porta do quarto. Por isso, os miúdos estavam lá, brincavam na sala ou no jardim, lanchavam, andavam na boa, mas acabavam por nem ver o bisavô. Nos últimos tempos o meu pai estava praticamente cego, estava surdo e mal falava pois estava com sonda nasográstrica e, por fim, também oxigénio. Por isso, já nem levávamos os miúdos ao pé dele pois sabê-los a verem-no tão diminuído só o faria sofrer. Mas esse meu neto referia-se a uma vez em que, na sequência de uma pneumonia, o meu pai entrou em descompensação e informaram-nos do hospital que, se queríamos despedir-nos dele, era melhor irmos de imediato pois poderia não chegar à hora da visita. O meu genro trabalhava fora pelo que ela pegou nos filhos e foi. Fomos cada um à vez à dita despedida, o meu pai completamente off no meio de outros tão ou mais off que ele. E os miúdos, logicamente, ficaram cá fora. Apesar de perceberem a gravidade da situação, pequenos como eram, deveriam estar na brincadeira um com o outro. E, passados ano e tal ou dois anos, já nem sei, lembrou-se de perguntar se o bisavô tinha sobrevivido daquela vez. 

Um outro, já não sei na sequência da morte de que bisavô, perguntava-me o que é que acontecia para que, de repente, tivesse virado esqueleto. Eu nem percebia a pergunta. Depois percebi que pensava que a pessoa morria e acto contínuo se transformava imediatamente em esqueleto. No meio da situação triste, lembro-me de me dar imensa vontade de rir.

Mas, enfim, não é conversa para as vésperas de Natal. Que disparate. Caraças. Peço desculpa, a sério. Caraças. A sério que tenho tido indícios de que não ando a bater bem da bola e isso preocupa-me. Parece que ando desmemoriada, obcecada, parva. Esqueço-me das coisas, ando com a cabeça nem sei onde. E nunca sei onde deixo o telemóvel ou as chaves. E combino coisas das quais me esqueço quase instantaneamente. Digo que é porque, na rectaguarda da minha cabeça, ando com mil outras preocupações mas começo a achar que é de mais. A ver se não dou em maluca. Que chatice. Só faltava mesmo, no meio disto, ainda eu pôr-me maluca.

Pronto. Calo-me. Não vos maço mais. 

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Desejo-vos, isso sim, um bom Natal. 

Desejo-vos dias felizes, muita saúde, muita harmonia, boa disposição. Desejo que saibam dar graças pela vida e pela beleza que nos rodeia. Desejo-vos boa sorte. E tudo de bom. 

E peço desculpa por não agradecer comentários e mails, sempre tão carinhosos e amigos. Parece que a minha energia se esgota ao escrever isto, já não dá para mais. Não levem a mal. Isto é mesmo uma questão física, acho eu (falta de bateria ou coisa do género).

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Aqui chegada, penitencio-me pelo que escrevi, totalmente a despropósito da quadra festiva. Só não apago porque senão ficaria com o post em branco. De qualquer forma, para tentar compensar o disparate, partilho um vídeo muito bonito de ver. O grande, o talentoso Jon Batiste e a sua mulher Suleika, que está a tratar-se de uma leucemia, abrem-nos a porta da sua casa. E é uma casa maravilhosa. E eles também o são. Quanta empatia, quanto amor, quanta alegria.


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Sejam felizes, pelo menos tanto quanto puderem
Saúde. 
Harmonia, bondade, afecto e tudo de bom. 
Paz (da boa, da que não resulta da submissão)

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