Para uma amiga que está triste, sofrendo o que pensa ser a solidão e a irreversibilidade do seu destino
(Vou ilustrar o texto com fotografias de Toni Frisswell porque acho que ficam muito bem com a minha amiga, pessoa de gosto refinado e que tende a sonhar com divas igualmente sonhadoras, com o seu quê de irreverentes)
E tomara que isto não fique a soar a segredo de polichinelo, a fútil manual de auto-ajuda, a conversa fiada. Tomara que isto soe como aquilo que genuinamente pretende ser: um incentivo, um sopro de esperança, um golpe de asa, uma mão colocada no braço, um sorriso, um abraço.
E tomara que isto não fique a soar a segredo de polichinelo, a fútil manual de auto-ajuda, a conversa fiada. Tomara que isto soe como aquilo que genuinamente pretende ser: um incentivo, um sopro de esperança, um golpe de asa, uma mão colocada no braço, um sorriso, um abraço.
[E que, para já, entre Alela Diane e nos cante o seu About farewell.
Não será muito animado mas gosto e isso, para já, é razão suficiente]
*
Eu acho sempre que a gente é que faz a nossa vida e que as escolhas são nossas, se por aqui não dá, bye bye, vamos por ali, se isto não resulta vamos arranjar outra solução e, mesmo que a vida seja um percurso feito de procura, há sempre a expectativa de encontrar uma solução para tudo. Eu sou assim. Nunca desanimada. Por vezes preocupada, por vezes assustada, mas nunca desanimada, sempre a tentar encontrar uma saída ou uma forma de melhorar as coisas.
Se dão alta ao meu pai sem ele se conseguir mexer, então vamos lá arranjar uma solução, uma cama articulada, um cadeirão que faça o levante, um fisioterapeuta que vá lá a casa, alguém que vá ajudar na higiene, e por aí fora. Aparece um problema, a gente descobre uma solução. Na minha equipa aparece alguém com mau feitio, não tem problema, eu dou-lhe a volta, faço marcação, faço com que se transforme, faço com que os outros o aceitem tal como ele é, qualquer coisa. Aparece um problemão de que não sabemos a solução, paciência, acontece, vamos arranjar maneira de minimizar o impacto.
Mas estou bem consciente de uma coisa: a nível pessoal tenho a vida facilitada porque temos recursos e tudo aquilo de que falei em relação ao meu pai custa dinheiro e o que mais não falta é quem tenha problemas do género e não tenha como pagar as mordomias de que falei (não deveriam ser vistas como mordomias já que são indispensáveis mas, dado o preço que têm, são mesmo apenas para quem pode). E, a nível profissional, tenho poder de decisão para poder ser eu a traçar o caminho das pedras.
Mas tem a ver com o meu feitio, pois o que não faltam são pessoas com a mesma situação financeira ou mais desafogada que eu e a minha família e, a nível profissional, com o meu poder de decisão - e que se deixam afogar em problemas.
Sei de um caso, por exemplo, em que quando o patriarca, uma das pessoas que seguramente estava entre os mais abastados do país, se encontrava muito mal, a família (filhos incluídos) achou que devia incumbir aos filhos a responsabilidade pessoal por tratar do pai até ao último suspiro. E, portanto, em vez de contratarem alguém para tratar do senhor, revezavam-se, em casa, numa das mais ingratas tarefas que pode existir: assistir ao declínio absoluto de um pai, efectuar todas as tarefas inerentes ao tratamento de um acamado em estado terminal. Resultado: para o doente presumo que foi uma dor, a dor maior, e uma humilhação, ver o sofrimento que se estava a infligir aos filhos e, para os eles, logo a seguir, uma depressão e, mesmo depois e ainda agora, um trauma do qual dificilmente se vão livrar.
Teria sido mais lógico e menos sofrido para todos se tivessem contratado alguém que se ocupasse das tarefas mais penosas. Mas optaram pelo caminho mais difícil, mais inglório, e que não trouxe nenhum alívio para qualquer dos envolvidos.
E, no trabalho, quantos colegas encaram qualquer problema, mesmo que ainda potencial, como um dramalhão, ou como uma crise, ou com um stress desgraçado?
Mas tem a ver com o meu feitio, pois o que não faltam são pessoas com a mesma situação financeira ou mais desafogada que eu e a minha família e, a nível profissional, com o meu poder de decisão - e que se deixam afogar em problemas.
Sei de um caso, por exemplo, em que quando o patriarca, uma das pessoas que seguramente estava entre os mais abastados do país, se encontrava muito mal, a família (filhos incluídos) achou que devia incumbir aos filhos a responsabilidade pessoal por tratar do pai até ao último suspiro. E, portanto, em vez de contratarem alguém para tratar do senhor, revezavam-se, em casa, numa das mais ingratas tarefas que pode existir: assistir ao declínio absoluto de um pai, efectuar todas as tarefas inerentes ao tratamento de um acamado em estado terminal. Resultado: para o doente presumo que foi uma dor, a dor maior, e uma humilhação, ver o sofrimento que se estava a infligir aos filhos e, para os eles, logo a seguir, uma depressão e, mesmo depois e ainda agora, um trauma do qual dificilmente se vão livrar.
Teria sido mais lógico e menos sofrido para todos se tivessem contratado alguém que se ocupasse das tarefas mais penosas. Mas optaram pelo caminho mais difícil, mais inglório, e que não trouxe nenhum alívio para qualquer dos envolvidos.
E, no trabalho, quantos colegas encaram qualquer problema, mesmo que ainda potencial, como um dramalhão, ou como uma crise, ou com um stress desgraçado?
Para quê? Não apenas as soluções mais stressantes não são a melhor solução para coisa nenhuma, como são um desgaste que não contribui para a felicidade de ninguém.
E há as perdas, as que deixam rasgões dentro de nós. Mas tudo se cura, não há rasgão que não cicatrize. Ficam marcas, fica a saudade, fica a recordação. Mas a vida continua.
Depois há ainda os desaires amorosos: há quem se apaixone por gente que, à partida, se percebe logo que vai traduzir-se num caso inviável, um beco sem saída. Quem se entrega a amores impossíveis não o faz por masoquismo, faz porque acredita que um dia, por milagre, tudo vai ficar fácil e possível.
Acontece. Mas é raro.
Há que perceber se a coisa tem pernas para andar ou não. Se não tem, bye bye. Mas é logo, nada de arrastar situações inviáveis. Nada de ficar a remoer, a sofrer, a acumular desilusões.
Disse-me a minha filha no outro dia: mas isso não é assim, gostar ou não gostar de uma pessoa não é uma coisa voluntária.
Respondo: se bem que haja (e há, sei-o bem) o amor como um golpe de loucura, um sopro de paixão, há também a razão de quem tem que perceber que, se não dá, não dá.
E que há mais marés que marinheiros.
E, depois, é deixar a vida acontecer. O importante é sair de dentro de casa, de dentro de si mesmo, arranjar maneira de passear, de estar ao ar livre, e deixar o oxigénio entrar na alma, estar disponível, tranquilo, sem ansiedade, sem pesos no espírito, coração aberto.
Tenho para mim que uma pessoa tem que interiorizar algumas coisas importantes:
[Sei que o que vou escrever se presta a ser lido com um sorrisinho snob, daqueles que se deixam ficar ao canto da boca quando se pretende parecer displicentemente superior. Pois sim, que sorriam, que isto é mesmo capaz de ser muito fraquinho como fundamentos para uma teoria geral da felicidade. Mas quem é que disse que eu tenho veia para erudita seja do que for? Ninguém. Por isso, vá de pôr mas é um sorriso de orelha a orelha, que é isso mesmo que se pretende, alegria. E, então, cá vai, que eu, gozações à parte, acredito mesmo nisto.]
- A vida que temos é uma, é só esta, e gasta-se.
- Não faz sentido desperdiçá-la à espera de milagres ou esvaindo-se numa situação que não é boa nem útil para ninguém.
- A vida pode ter vertentes muito más, desgastantes, decepcionantes, desesperantes - mas tem mil outras, boas, disponíveis para serem vividas.
- É um disparate inútil uma pessoa deixar-se absorver pelo que é mau, por pensamentos negativos, pelo desalento. Pelo contrário: toca a ir até à janela, respirar fundo - e coração ao alto, para a frente é que é caminho. E que os pesos saiam, que a leveza tome conta do coração e da mente.
- E, se for difícil perceber isso sozinho, então que se peça ajuda. Há sempre alguém que pode ajudar. Seja na divisão dos trabalhos penosos, seja com uma palavra de conforto, seja com uma voz de incentivo. Obter ajuda é fundamental.
- E, o que for, acabará por soar. Seja o que for. Mas que seja bom, que venha com serenidade, gentileza, bondade.
- E que, até lá, nunca se perca a capacidade de sonhar, de sorrir, de acreditar.
- A vida vale muito a pena (apesar de tudo). Vale mesmo. Mesmo, mesmo.
*
Eu sei, eu sei: por vezes o trabalho que dá alcançar a leveza, e as dores por que tem que se passar...
Eu sei. Há pessoas a quem a vida traz muitas dificuldades. Muitas. Eu sei.
Mas o importante é não desistir. O bom é o que vem a seguir.
Mas o importante é não desistir. O bom é o que vem a seguir.
Sylvie Guillem, talvez a bailarina que prefiro, ensaia.
Parece tão fácil. Mas vemos que não é.
*
A ver se ainda cá volto. (Devia ir actualizar o meu Ginjal mas ando preguiçosa.)
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Não, afinal não escrevo mais nada. Antes de ter resolvido escrever o que acabaram de ler, vinha com uma ideia mas, depois, pensando melhor, acho que não devo, por hoje, escrever mais nada.
Desejo-vos, a todos, meus Caros Leitores, mas hoje em especial à minha amiga, um dia muito feliz.
Vá lá... Smile...
A big, big smile... Ok?
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Não, afinal não escrevo mais nada. Antes de ter resolvido escrever o que acabaram de ler, vinha com uma ideia mas, depois, pensando melhor, acho que não devo, por hoje, escrever mais nada.
Desejo-vos, a todos, meus Caros Leitores, mas hoje em especial à minha amiga, um dia muito feliz.
Vá lá... Smile...
A big, big smile... Ok?
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[PS completamente a despropósito: Porque tenho andado curiosa com um fenómeno, fui ver as estatística das visitas de ontem. Pois bem, tenho a dizer-vos que continuo a ser visitada pela senhora dona capicua. No outro dia contei-vos das 1.111 visitas, uma capicua perfeita - mas um pico como disse, e bem, um leitor (embora um pico não inédito). Mas a verdade é que a coisa tem continuado capicua na mesma (mais baixa, é certo, mas capicua): 838 visitas num dia e 868 noutro. Tem graça, isto. E não estou a inventar para arrancar mais um sorriso a quem anda sisudo: não, é verdade mesmo.]