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segunda-feira, setembro 23, 2019

A melhor arte do século 21....?
-- Está bem, está. Se isto é o melhor, vou ali e já venho --




Cada vez mais me convenço de que não sou verdadeiramente conhecedora de coisa alguma. E ia dizer coisa nenhuma mas não sei se nisto da escrita se aplica o mesmo que na matemática em que menos por menos dá mais. É que o quero dizer é que não há nada sobre o que eu possa dizer que sei muito. Nada. Sei é nada.
De dia para dia ganho consciência do meu desconhecimento. De dia para dia constato que caminho por uma estrada que não tem fim e, mesmo quando chegar ao fim do meu caminho, ele continuará aberto aos que vierem depois de mim, infinito, infinito no que esconde.
Posso gostar de uma coisa, de um tema, e, aí, tento conhecer mais -- mas chegar ao ponto de achar que estou à vontade no assunto isso é sensação que não conheço desde que me conheço. E cada vez menos. Ou melhor: cada vez mais sei que sei menos. 

Por exemplo, pintura. Exposições, museus, livros, artigos. Volta e meia até me dá para pintar. E, cá em casa, muita coisa. Também escultura mas, aí, não tenho muita coisa cá em casa, é mais o que aprecio na rua, em lugares públicos, em museus. Performances, não é frequente entender-me bem com. Muitas vezes parece-me coisa bizarra e a impressão de bizarria canibaliza outras sensações. Mas, em geral, mesmo pintura ou escultura, não sou conhecedora, sou apenas apreciadora. E não sou apreciadora em geral, sou apreciadora do que gosto. Quando não gosto, passo ao lado. Mas, quando gosto, emociono-me. Ou gosto de olhar. Ou gosto de estar perto. 

Por tudo isto, quando vi o título The best art of the 21st century, avancei sem qualquer esperança.

Nos livros, The 100 best books of the 21st century, ainda conheço alguns e, se não os livros em si, pelo menos alguns autores. Li com curiosidade a escolha, animada por não estar na total ignorância. Mas, para o melhor da arte, parti logo desenganada. Como qualquer pessoa vencida à partida, já ia a saber que não haveria de gostar de muita coisa, que não haveria de conhecer a maior parte dos artistas. Só que foi pior. Apenas gostei de uma das escolhas e, por acaso, gostei muito: The Upper Room de Chris Ofili, em que uma das 14 pinturas que a compõem é a que está lá em cima, no início do post. Em relação a tudo o resto fiquei naquela em que tantas vezes penso de outras pessoas -- gente que intimamente acho retrógrada, conservadora, estreita de ideias. E assim me vi eu: 'Mas isto é o quê? Arte? Arte, o caraças. Arte, isto? Uma ova.'. Uma a uma, por desconhecer, fui googlar. Vi todas as obras que quatro críticos de arte do The Guardian elegeram como as melhores do século XXI. E, juro, não estou a fazer género: fiquei como boi para palácio. Nem consegui escolher um exemplo para aqui colocar.

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Calhou, quando estava a ver as obras seleccionadas pelo The Guardian, estar a dar na RTP 2 uma entrevista a Graça Morais sobre a sua exposição Metamorfoses da Humanidade à qual pertencem as obras aqui imediatamente acima e abaixo. E, como sempre que a ouço ou que vejo as suas obras, sinto a grandiosidade desta mulher. É simples no falar, é terra a terra, mas, na forma humanista como olha os outros, é uma pessoa superior. E as suas pinturas e desenhos são genuínos, é arte de verdade, há autenticidade e vivência, há elevação e intemporalidade. Arte: não experimentalismo ou paródia.
Mas, lá está, certamente ignorância minha, reaccionarismo meu. Se calhar, daqui por uns anos olho para as obras seleccionadas pelo The Guardian, obras que hoje olho com estupefacção, e acho uma maravilha. Quem sabe?
Duvido. Mas não digo que não.
Mas, por enquanto, prefiro, neste post, complementá-lo com obras da Graça Morais.


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Woolf Works – Orlando pas de deux
(Natalia Osipova, Edward Watson; The Royal Ballet)

- que pertence ao conjunto de bailados seleccionados pelo The Guardian em 
The best dance of the 21st century



Deste bailado, inspirado na vida e na obra de Virginia Woolf, em 7º lugar na lista do The Guardian, eu gosto

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E uma boa semana a todos a começar já por esta segunda-feira.
Saúde, alegria e verdadeiro afecto.

domingo, abril 21, 2019

Até que um dia tudo vira passado e saudade


Mais uma excelsa interpretação de Sergei Polunin, desta vez dançando uma sentida separação. Eu, que não gosto de separações e que prefiro sair de fininho, fico sempre emocionada quando testemunho de perto uma separação. Ainda no outro dia, quando uma colega se despediu, estava ela contida, vencendo a emoção, conseguindo falar e agradecer, e eu emocionada, com vontade de chorar. E ela ao meu lado. No fim, quis dizer-lhe alguma coisa mas estava tão em ponto de rebuçado que apenas consegui desejar-lhe boa sorte. 

No caso deste bailado, acresce que a Giselle é Natalia Osipova, justamente a ex-namorada, recentemente separada de Sergei. Mas, enfim, a petite histoire de pouco interessa face ao imenso talento dos seus intérpretes.



domingo, fevereiro 24, 2019

Do U Love Me? perguntam eles, um ao outro.
If You Fall, I Will Catch You, prometem eles, um ao outro.
Esta é a
Love Story entre Sergei Polunin e Natalia Osipova, um dos mais talentosos casais do mundo da dança.



Sergei Polunin é ucraniano e tem 29 anos. É visita assídua no Um Jeito Manso. Natalia Osipova é russa, tem 32 anos e também é sempre aqui muito bem vinda. 

São ambos extraordinários e mostram que é bem verdade aquilo de que les beaux esprits se rencontrent. A química entre eles é evidente: brincam, divertem-se, enleiam-se, provocam-se, seduzem-se. E se isso é tão evidente enquanto dançam não estranhamos quando sabemos que, na vida real, são também um enamorado casal.


É vê-los e testemunhar como é bom o amor. Inspira-nos, motiva-nos, dá-nos força, faz-nos voar. 
Claro que para uns isso é totalmente literal. Para outros é, pelo menos em parte, metafórico mas, se pensarmos bem, realidade e ficção, significado e metáfora, verso e reverso não vai tudo dar ao mesmo? Ou quase? 
E, se não for isso, também não faz mal nem sequer interessa. Bom mesmo é ver estes dois a dançar.

Gostas de mim?


Se caíres, segurar-te-ei



Uma história de amor

....

E que vivam felizes para sempre.

domingo, maio 06, 2018

In heaven, o corpo entregue ao sol e ao amante do Porto




Este sábado esteve azul e o ar perfumado e tépido. Dia tranquilo e bom. À chegada aqui, a casa gelada. As paredes largas de pedra conservam ainda o frio deste inverno prolongado. Mas, lá fora, quentinho e macio de dar gosto. Despi a roupa que trazia, vesti uns shortinhos, um topzinho de alcinhas, descalça, a pele redescobrindo o prazer da liberdade intrínseca da motherland.


Depois de almoço, abri a espreguiçadeira debaixo do telheiro. Contudo, o sol, na maior obliquidade, furava a folhagem da figueira toda rebentadiça e de todas as árvores que, beneficiando do mistério que habita in heaven, crescem desmesuradamente e se misturam na sua diversidade e fulgor, e a luz morna vinha pousar na minha pele.

Tão bonito, tudo tão bonito, e sensações tão boas, tudo tão primordial e simples.


As telhas por cima de mim, e eu gosto delas mesmo assim, esverdeadas da humidade do inverno, e os verdes das árvores ali à frente tudo tão cheio de paz e eu, encantada, deitada, a fotografar tudo.

Tinha trazido um livro e tinha começado a lê-lo no carro, o último da Rita Ferro, 'O amante do Porto'.
Falo dos outros mas eu própria guardo alguns preconceitos de estimação. Quando ela apareceu, não me lembro se a escrever a meias com a filha ou qualquer outra coisa, achei que era mais uma daquelas zinhas que escrevem delicodoçuras e palavrões a metro, tudo muito rebelo pinto, tudo muito beta e vazio, a fazer de conta que é livro. Não comprei, não li. Até que um dia qualquer, não sei porquê, folheei e pareceu-me ver ali coisa bem escrita. Levei para casa e gostei. Depois disso já li mais um ou outro, e acho sempre que é uma mulher desenvolta, de verbo solto e escrita fluida. Escreve bem e prende. 
E, portanto, ali estive, estendida sob o sol rendilhado de sombra, a ler. Não foi, no entanto, sol de muita dura. Logo adormeci. É uma sensação boa, boa, esta de sentir o sono a chegar devagarinho, eu a deixar-me ir, o ar quentinho sobre mim, toda eu leveza e rendição.

Dormi uma bela sesta.

Quando acordei, os pássaros cantavam a várias vozes e a plenos pulmões. Deixei-me ficar a acordar devagarinho.


Dpois retomei o livro. Ouvia, lá em baixo, o meu marido com a motosserra mas como sabia o que ele andava a cortar, não senti necessidade de ir verificar. Estava a cortar os ramos dos cedros até para aí um metro de altura da terra. Portanto, tranquilo. Não corria risco de fazer avaria como a que fez no outro dia com a roçadora, quando despedaçou uma fiada de lírios do campo, deixando-me inconsolável. Lírios é o que não falta por aí. Estes devem fazer cá uma falta..., disse ele, ainda armado em bom. E achas que, com a máquina a trabalhar, posso estar a ver erva a erva: esta corto, esta não corto? - perguntou, irritado por eu estar zangada. Expliquei-lhe pela milésima vez: 'Lírios não são ervas, são flores'. Mas é escusado. Mas agora estava concentrado na parte de baixo dos cedros, não havia grande margem para fazer estragos.


Portanto, pude ler descansada. Não direi que é grande literatura mas tem aquele misto de escrita pessoal, de vivência de mulher independente, livre e inteligente, de frases bem construídas e de enredo escorreito que leva a que sigamos para a página seguinte até chegarmos ao fim. Não me acontece aquilo de ficar presa ao encantamento como quando, por exemplo, leio 'O leopardo' em que, a cada frase, me detenho tentando contemplar, com vagar, a elegância e ironia do que acabei de ler. Mas mal estaríamos se no mundo só houvesse génios. Perderíamos a oportunidade de nos deslumbrarmos com a superação de alguns.


Li o livro todo, portanto. De penálti.

A seguir, fui pôr uma roupa a lavar, fui comer uns morangos e fui ter com o meu marido.

Havia montes e montes de grandes ramos de cedros que já estava a transportar para o 'campo de futebol' para fazer uma fogueira. Ajudei-o e fui desramar mais umas quantas pequenas azinheiras e aroeiras.


Regressei já ao anoitecer. O céu lindo, as árvores lindas e multicores recortadas contra aquele azul cobalto e profundo. Não resisti a fotografar.


Os pássaros já estavam aquietados, o silêncio já apenas interrompido por um ou outro canto tardio.

Tudo me parece tão belo e inexplicável que penso que toda a minha espiritualidade converge na adoração que tenho à natureza, às árvores, à perfeição das flores e do canto dos pássaros, à vastidão do céu, aos cheiros da terra. Não sobra espaço para misticismos de outra natureza.
Talvez apenas para as provas da existência da arte e da generosidade dos homens (quando elas existem, claro -- e existem).

Pensava que tinha que ir pôr o arroz ao lume, que já não era nada cedo, que tinha roupa para apanhar e outra para estender e ali andava eu a fotografar, quase em êxtase.

E a luz tinha-se extinguido, o céu tinha anoitecido de vez, as flores brancas da Robinia pseudoacacia desafiando a escuridão e eu a pensar que se um dia, em momentos assim, passa, junto a mim, um gato ou uma raposa, apanho um susto daqueles. Mas não passou e eu entrei em casa, feliz da vida como se estivesse a regressar de um magnífico espectáculo.


Depois fui aos meus afazeres. Só depois chegou o meu marido, cansado, a cheirar a fumo. Tinha ficado lá em baixo até a fogueira ficar apagada.

Enquanto os banhos não estivessem tomados, a roupa suja dele a lavar e que pudéssemos ir à janta, ainda demorou. Jantámos tarde, portanto.

Agora aqui estou, no maior silêncio, sozinha na sala. Há pouco o meu marido mexeu-se na cama e, de lá, perguntou-me quando é que eu ia para a cama e que horas é que já eram. Passa da uma e meia, respondi-lhe. Na brincadeira, perguntou a que horas queria eu que ele me acordasse amanhã. Livra-te, disse-lhe eu. Mas a verdade é que amanhã já é hoje. Espero que não me acorde para eu poder desfrutar a manhã de domingo na caminha, na maior paz. Abrirei a janela para que a luz e o canto dos pássaros me despertem com gentileza, deixarei que o meu corpo guarde este tempo longo e suave dentro de mim.

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Sergei Polunin e  Natalia Osipova em "Falling Into Place” 



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[E, caso prefiram outro tipo de danças, queiram descer até o post abaixo. Imperdível, vos digo eu]

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sábado, janeiro 13, 2018

O homem que plantou uma floresta, um rio feito de todas as cores, livrarias muito belas.
Um assessment ainda a meio e uma pandilha que deveria ser posta na rua.
[Se eu cair, alguém me apanha?]





Tal como não lerei a maior parte dos livros que, certamente, gostaria de ler, também, de certeza, não visitarei grande parte dos lugares que amaria de paixão.

Assim é a vida: breve, incompleta. 

Tenho um questionário para acabar de responder. Volta e meia, isto. Como gosto de responder a testes, não me importo. Mais um assessment. A minha alma já voi virada e revirada do avesso não sei quantas vezes e os resultados, cá para mim, mostram sempre o mesmo. Contudo, por algum motivo que desconheço, não os aproveitam de umas vezes para as outras. Se calhar acham que, de cada vez, a metodologia é melhor e que é melhor sujeitaram-nos a nova lente para descobrirem o ser secreto que se esconde debaixo da nossa pele. Não me importo. E vai haver uma entrevista, eu e mais duas pessoas, durante mais de duas horas. Acho graça, não me incomoda nada. Só que este é estranho, não percebo o sentido de algumas perguntas. A outras não me apetece responder, versam coisas com que nada tenho a ver. Mas, se não responder, aquela coisa não segue adiante. E longo, longo. Tinha que sair, já era tarde e aquilo ainda a meio. Resolvi acabá-lo agora em casa. Mas cheguei tarde, não me apetece.


Em algumas questões, é pedido que se ordenem as nossas prioridades de vida. Quando me apareceu essa resposta disponível para escolher, coloquei sempre em primeiro lugar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Jamais sacrifiquei a vida pessoal à profissional. Mas, de facto, sempre trabalhei muito. Se tivesse ficado professora como a minha mãe tanto desejou para mim, a minha vida teria sido bem outra, certamente com mais tempo livre e muito menos maçadas. 

No carro, agora à noite, um telefonema. Defendi, uma vez mais e com grande convicção, que algumas pessoas deviam ser postas a andar. Não é bonito dizer isto aqui pois, de forma descontextualizada, pode parecer uma patifaria da minha parte. Mas não é ou, pelo menos, assim o acho. Tenho para mim que é inadmissível que uma meia dúzia de pessoas, com a sua incompetência ou má fé, ponha em risco os postos de trabalho de muitas centenas. Contudo, como todas as opiniões, a minha também pode ser considerada injusta ou arbitrária. Admito. Mas é a minha opinião e tudo farei para levar a minha adiante, travando as guerras que tiver que travar, desgastando-me o que tiver que me desgastar.


Mas, com tanta coisa a toda a hora, a verdade é que ando desde o princípio da semana para responder ao dito questionário e, durante o dia, não tenho conseguido. Tanta reunião, tanta coisa para tratar, tanta coisa sempre. E mal me sento no gabinete, entra um, depois outro e depois outro. Ou os telefones. Ou os mails a chegarem. Penso: quero chegar cedo a casa, quero não ter mais nada que fazer, quero ter tempo para os mails pessoais, quero ter tempo para ler. Mas o dia estendeu-se, o trânsito complicou-se, cheguei com uma hora de atraso à fisioterapia, na volta mais trânsito, horas roubadas ao meu tempo. À hora de almoço queria ter caminhado nos Jardins, queria ter tido tempo para a livraria. Nada, trânsito e mais trânsito e daí a nada outra reunião noutra ponta da cidade. E isto, nestes detalhes, não é uma escolha. São as circunstâncias que nos vão conduzindo ao longo da vida. 

Várias vezes e de diferentes maneiras, no questionário, perguntam onde me vejo nos próximos anos. Tudo é de escolha de entre várias possíveis, não há respostas livres. Se pudesse, teria respondido que 'não sei nem me interessa saber'. Mas não tenho como responder assim e, então, rendo-me a dar uma resposta que não é a minha. Mas fico a pensar que há coisas absurdas a que me sujeito e, bem vistas as coisas, não sei bem a troco e quê.


Ao almoço, não havia nenhuma mesa livre. Sentámo-nos numa mesa onde estava uma senhora. Passado um bocado, chegou uma amiga dela e, ainda mal se tinha sentado, já estava a conversar, a contar que tinha ido a uma agência de viagens para tratar de uma ida a S. Petersburgo e logo contou da luta das mulheres russas e a outra recomendou que ela fosse ver um certo museu e logo mostrou que conhecia bem aquelas bandas. E eu, ao lado, entre reuniões e trânsito, a almoçar à pressa, sem tempo para sequer sonhar em ir passear, a pensar que há tantos, tantos lugares que gostava de conhecer e onde, de certeza, nunca irei. 

E agora, uma da manhã, eu praticamente a dormir, sem conseguir ir aos mails pessoais, sem ser capaz de alinhar meia dúzia de palavras.

Gostava de aqui vos contar de como gostaria de fazer um percurso de bibliotecas e de livrarias. Mostro-vos algumas cujas fotografais encontrei na Elle francesa. De todas as que ali se vêem, só conheço a Lello (cuja escadaria se pode antever na 2ª destas fotografias que aqui tenho).

Também gostava de fazer um percurso de belos edifícios abandonados e decadentes. Ou de jardins.  Ou de florestas que nasceram do nada. Ou de castelos ou palácios à beira de rios.

Gostava. Gostava mesmo.

Mas como não sei se algum dia conseguirei fazê-lo, vou-me contentando em ver fotografias e vídeos. Quem não tem cão, caça com gato, quem não passeia com os pés, passeia com os olhos.


O rio Caño Cristales em Meta, Colombia



O homem que plantou uma floresta


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Não estou capaz de reler o que para aqui acabei de escrever e tenho a nítida sensação de que o texto vem aos tombos por aí abaixo. Várias vezes adormeci pelo que não estou nada certa de ter retomado o texto onde o tinha deixado. Relevem, please, se a escrita estiver cambaleante.

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E tenham, meus Caros Leitores, um belo sábado.

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sábado, janeiro 21, 2012

Cavaco Silva, sem dinheiro para as despesas. Horta Osório, o ex deus ex machina. As insuportáveis provações dos muito ricos e, pior, muito pior ainda, as insuportáveis provações dos pobres. E Mario Testino, Natalia Osipova e Ute Lemper.

  
O tema do dinheiro ganho é, neste momento, um tema sensível.

Esta sexta feira deram brado as afirmações de Cavaco Silva que, com voz agastada, referiu os seus hábitos familiares de poupança e enunciou as parcelas da sua pensão de reforma, concluindo que a verba recebida (que os jornalistas referem ser cerca de 10.000 euros mensais) nem seria suficiente para cobrir as despesas. Vinha no carro e, logo a seguir, ouvi Fernando Nobre chocado, enumerando, em contraponto, exemplos dramáticos de quase miséria e agora, na televisão, já ouvi várias outras censuras.

Mas como não percebi qual o contexto em que Cavaco falou, nem ouvi toda a intervenção, não me vou pronunciar. Também não me vou referir aos esquemas de cálculo das pensões pois é tema que desconheço e não gosto de falar de cor.

Mas falemos de ordenados. Para quem tem de ordenado mensal 1.000 ou menos, ou mesmo 2.000 ou 3.000 euros por mês, ouvir falar em valores de 10.000 ou 15.000 ou verbas desta ordem, pode soar excessivo. São ricos, que paguem a crise, que se lhes aumente os impostos até sangrarem, que paguem a saúde, o ensino, que sejam proibidos de usar transportes públicos.

Ridículo. Ordenados da ordem dos 10.000 ou 15.000 ou mesmo um pouco mais não são nada de extraordinário e deveriam ser o padrão de uma classe média alta. E a classe média é essencial à manutenção do consumo e, por isso, da economia.

A classe alta deve ser situada para rendimentos mensais já bem acima disso. E a classe alta é também indispensável a um país pois puxa pela franja de economia atrás da qual vai a classe média alta e, atrás desta, vai a classe média e por aí fora e assim se ajuda a manter viva a economia.

Mas, dito isto, quero referir que se verbas desta ordem me parecem normais e aceitáveis, já verbas da ordem dos 50.000 euros por mês (45.000 em ordenado e 4.500 por mês para um ppr) para funções que não são executivas nem exigem trabalho a tempo inteiro me parecem exageradas, especialmente se forem usufruídas por pessoas que se fartam de pregar que os excessos têm que acabar, que tem que haver austeridade, que se têm que reduzir custos para se ser competitivo.


Não defendo (muito longe disso!) que a cada um segundo as suas necessidades; mas o contrário disso não deve a tresloucura de uns ganharem 500 e outros 50.000 - dizendo o que ganha 50.000 que o que ganha 500 tem que ser sujeito a mais austeridade. Rendimentos como aquele para funções como as referidas ou verbas que são o dobro ou o triplo disto são tão elevados que me parecem descabidos, ilógicos, atentatórios, quase uma provocação perante uma população a quem se exigem esforços, perante os desafortunados que desgraçadamente caem no desemprego e a quem agora se vai baixar o subsídio. Há qualquer coisa de imoral em coisas destas.

Mas entorpecidos que estamos por anos de coisas ilógicas e tão atormentados perante sucessivos anúncios de catástrofes, austeridade a doer e à toa, retrocessos fatais, já aceitamos, bovinamente, quase tudo.

Vem isto a propósito do endeusamento que se tem feito relativamente a Horta Osório que, por ter estado 2 meses a recuperar de excesso de stress, achou por bem abdicar de um bónus superior a 2 milhões de euros. Como é sabido, não se passou cá, passou-se no Reino Unido, no Lloyds.


Ora, quase tudo nesta história me indispõe. Não está em causa o mérito de Horta Osório. O que está em causa é a estupidez para a qual esta sociedade tem evoluído.

Horta Osório trabalhava horas de mais, sob grande pressão e, às tantas, começou a ter distúrbios de sono. Tal como ele, inúmeras pessoas em todo o mundo têm o mesmo problema. Excesso de trabalho, excesso de pressão - e acabam por cair para o lado. Nada de muito grave. Tratam-se e curam-se. Há coisas bem piores, há quem caia morto.

Mas Horta Osório fez um a cura de sono, pôs-se bom – e, até aqui, tudo normal.

Agora entramos nas coisas ridículas.

Depois do médico que o tratou o ter declarado recuperado, teve que ser sujeito a uma auditoria médica ‘independente’ para ver se estava mesmo em condições - como se fosse uma máquina que, antes de ser colocada em funcionamento, tem que ser inspeccionada e reinspeccionada. Depois, três administradores, à vez, foram a casa dele ver com os seus próprios olhos se ele estava mesmo bem. E ele, submisso, a deixar que o observassem, que o interrogassem, a mostrar que já estava bom.

Pergunto eu: com isto tudo, não se sentiu humilhado? Tratado como se fosse um débil mental, incapaz de avaliar por si próprio a sua própria condição física?

Não, pelos vistos achou normal.

Pergunto eu: se o mal não fosse o sono, como seria? Por exemplo, se tivessem sido problemas de próstata, iriam na mesma lá a casa e far-lhe-iam o toque rectal? E ele acharia igualmente normal?  


Depois, uma jornalista do Expresso entrevistou-o e tratou-o como se ele fosse um débil mental e ele respondeu como se, de facto, o fosse. ‘Então e o que é que aprendeu?’ e ele, menino culpado, lá respondeu que tinha aprendido uma grande lição. E ela ainda não contente: ‘E a nível pessoal , o que é que aprendeu?’ - e ele em vez de a mandar bugiar respondeu que também tinha aprendido que tem que dormir e dar mais atenção à Ana.

Ridículo, tão ridículo.

Agora, depois de ter sido inspeccionado por dentro e por fora, depois de ter pedido desculpa, depois de ter voltado a ser aceite no posto de trabalho, eis que, numa derradeira assumpção de culpa por ser tão imperdoavelmente humano, renuncia a um bónus milionário. E é o delírio!

Claro que é um gesto inédito e surpreendente. Mas mais surpreendente é que estas pessoas recebam verbas tão obscenas, mais surpreendente é que existam disparidades tão obscenas, surpreendente é que uma pessoa se sujeite a ser tratada como se fosse menos do que um ser humano, como se fosse uma máquina sem dignidade nem sentimentos, surpreendente é que se ache que tudo isto é normal.

Não é. Nada disto é normal. Isto tudo é obsceno.




A sociedade não deveria permitir nenhum destes disparates, nenhumas destas absurdas disparidades.


%%%%%%

Mudança de tércio

É fim de semana, meus amigos, tempo de descontrair. Nada de pensar em toques rectais ou outras coisas que tais. Tempo de lavar o olhar para ver se a lavagem chega até à alma.

Venham pois comigo até sítios em que tudo é limpo, alvo, belo.

Sienna Millher por Mario Testino

eu volto o rosto para cheirar-te quando passas
para decorar de ti algum contorno
saber por fim que lume trazes
junto ao corpo

que incêndio apagas
ou amotinas


[Lume de João Miguel Henriques in 'Isso passa']





Natalia Osipova do Bolshoi interpreta La Bayadere




Ute Lemper, a magnífica.

ooooooo

Bom sábado!
 

quinta-feira, setembro 29, 2011

MÚSICA NO GINJAL: hoje Natalia Osipova voa em Laurencia


Uma mulher ardente, forte, uma bela e enérgica ave que voa incendiando o ar à sua volta, atraindo para ela todas as atenções, todas as paixões. Laurencia, para ela, é um pretexto.


Venha comigo até ali, junto ao Tejo, onde o rio corre manso e o ar nos percorre em frescura: Natalia Osipova está na Música no Ginjal, logo a seguir a outra lady on fire, a Maria Teresa Horta. Vamos, está bem?
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