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sábado, outubro 22, 2022

E sobre a Liz Truss não há nada, nada, nada?


Não. Nada. Não há nada a dizer. Nada. Nem antes, nem durante nem depois. Ela, Boris, Kwasi Kwarteng, outros que tal. Nada. Figurantes de uma tragédia que tem um nome: Brexit. E que tem um actor principal, que actuou na sombra, que criou as condições, que financiou, que engendrou, que manipulou, que mexeu os cordelinhos. E actores secundários que usaram ferramentas proibidas, que estudaram as motivações profundas, que exploraram os medos, que brincaram com a ignorância, que pagaram. 

E os britânicos votaram sem saber no que estavam a votar. Não perceberam o logro. Deixaram-se enredar na perigosa e imprevisível trama do logro.

E agora ninguém consegue gerir esse logro. O logro é ingerível. Cai um ministro, cai outro, caem às mãos cheias, e cai um primeiro-ministro, cai outro, cai outro, repescam os que caíram. Uma farsa, um absurdo, um caos.

E o rei assiste impotente porque está lá apenas para ser o public relations do reino, para ajudar a vender canecas e bandeirinhas, não para tomar decisões relevantes.

Por isso, nada a dizer da pobre coitada da Liz, nada a dizer do bacano do Boris, nada a dizer do James, nada a dizer de todos os que já se demitiram e dos que ainda se vão demitir. A única coisa com graça nisto do Brexit foi o pai do Boris se ter naturalizado francês.

Um dia aparecerá um político a sério, o Brexit será revertido, as coisas voltarão a entrar na normalidade. Só não sei quando. Talvez quando o actor principal, o diabo que actua na sombra, tiver virado pó.

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Até lá, que viva o outono que, finalmente, parece estar a aceitar deixar de ser verão. Que traga chuvas, aragens, neblinas, cheiro a lareira, terras molhadas, árvores gotejantes, vontade de aconchego.

E que os tempos tragam algum presciência a quem vive ou assiste ao declínio moral que aqui e ali vai medrando nas sociedades democráticas, abertas, tolerantes, inocentes.

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E que a beleza e a graça e o amor estejam sempre por perto

Auto-retrato de Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun (Paris, 1755 –1842)


Lea Desandre & Cecilia Bartoli – De Bottis: Mitilene, regina delle amazzoni: "Io piango" - "Io peno"


The English Patient - The Heart is and Organ of Fire 


Bedroom Folk - Sharon Eyal & Gai Behar (NDT 1 | Strong Language)



Foto de Alain Laboile

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Um bom sábado
Saúde. Aconchego. Beleza. Paz.

quarta-feira, junho 08, 2022

Algumas receitas para uma feliz sobrevivência

 

Espero que, muito rapidamente, a indústria avance com processos de electrólise invertida ou de dessalinização ou de formação artificial de nuvens ou o escambau ou o diabo a quatro. Tecnologia e técnicos que saibam da poda há-os por cá. Têm é que ser lançados programas de investimento virados para isto. E tem que ser rápido. Entre o business case, a mobilização do capital, o desenho e projecto da solução, o procurement, a construção, os testes e tudo o que é preciso até que uma fábrica comece a produzir vão anos (ainda mais com a escassez de materiais que há). E há que ter operadores e técnicos de manutenção - e não os há. Ou rapidamente o país aposta intensivamente em escolas técnicas ou arranja maneira de 'importar' gente com esse tipo de formação. Tudo isto leva tempo.

A subida da temperatura média, a seca, o facto de vários dos nossos rios virem de Espanha (e, como seria de esperar, Escassez de água leva Espanha a reduzir caudais dos rios que entram em Portugal) fazem perspectivar que o que, em tempos, parecia um cenário apocalítico longínquo já comece a bater-nos à porta. Temos que interiorizar que sem água não há vida e que, se não há água, temos que fazê-la. Tal como temos que produzir energia a partir dos recursos naturais e renováveis, temos também que produzir água a partir do que há à mão de semear e que, tão cedo, não se esgota.

Espero que consigamos viver em paz, salvar o planeta, salvarmo-nos a nós da insanidade de alguns e vivermos, de forma sustentável (ou sustentada?), com recursos sabiamente geridos. Se é com carne produzida em fábrica de carne a fazer de conta, se é com insectos ou legumes que hoje desconhecemos, se é com algas e outros produtos do fundo do mar, eu não sei. Mas o engenho e a arte têm que se virar rapidamente para a nossa subsistência e para a do terroir que nos coube em sorte.

No meio disto teremos que nos blindar para podermos cuidar dessas premências e não corrermos o risco de, nos entretantos, ser invadidos e destruídos por assassinos tresloucados. O que até há uns três meses nem nos passava da cabeça, afigura-se agora ser de extrema relevância. Um doido varrido pode deitar a perder anos de desenvolvimento e anos de esperança de vida (das pessoas e do planeta).

Casa Do Penedo, 1972, Celorico de Basto

E, last but not least, teremos que continuar a ser felizes e a tentar inebriar-nos com a arte, com a elegância, com a beleza, com a doçura dos bons momentos, com a melodia das palavras, com o voo dos corpos e dos pássaros, com a memória do passado e o sonho no futuro, com a ternura do afecto, com as mil e uma pequenas coisas da natureza.

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No estúdio com Claire Tabouret


Um vestido feito de vidro -- Iris van Herpen


Georgijs Osokins interpreta  Fragile e conciliante do Lamentate de Arvo Pärt 



Um quarto dos poemas é imitação literária / Herberto Helder dito por Fernando Alves



"Petite Mort", Pas de Deux numa coreografia de Jiri Kylian


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As fotografias pertencem a World Beauties And Wonders

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Desejo-vos um dia tão bom quanto possível
Saúde. Imaginação. Vontade. Paz.

sábado, dezembro 19, 2020

Falar de cherne já a cheirar a peixe podre, de uma múmia paralítica recozida em fel, de um láparo burro e ressabiado e de um mangas de alpaca armado em parvo...?
Eu heim...
Vou mas é tentar perceber para onde vão os sonhos de que não me lembro ou aprender a dançar flamengo com a Irene

 




No outro dia entrei na mini-estufa que está ao fundo, na horta, e que está meio destruída. O chão cheio de erva alta, a erva a encobrir não sei o quê, uma prateleira meio caída, umas latas não sei com quê. Aventurei-me admitindo que não haveria de sair uma cobra azul com duas cabeças de debaixo da relva ou um rato gigante a rir às gargalhadas de dentro de uma lata. Então, entre restos de meias coisas, vi uma floreira rectangular, com terra e, sobre a terra, não sei o quê, se ovos de bichos hediondos, se larvas nojentas, e umas meias flores, meias vivas (que é a mesma coisa que dizer meias-mortas). Peguei na floreira, pesada, e com os pés pousados sobre não sei o quê, tentei trazê-la cá para fora. E, então, de lá começaram a sair bichos, talvez formigas gigantes, talvez apenas uns bichos meio aterradores. Suportei a agrura, projectei-me cá para fora e consegui pô-la em terra. E, cheia de comichões e brotoeja de toda a espécie, sacudi-me e sacudi de mim toda a bicheza saída daquela terra estranha coberta por coisas esquisitas e meio tenebrosas.

A seguir, com a mangueira lavei tudo, a terra, a flor, tudo aquilo que tinha sobrevivido sem água e entregue àqueles urubus.

E isto é verdade, que ninguém pense que estou a criar aqui uma história armada em fábula.

Pois bem. A fenómeno idêntico tenho assistido nos últimos dias: tudo o que é bicheza infecta parece que está a sair de debaixo da terra para vir chatear a malta. Primeiro foi o seboso do cherne Barroso, a criatura mais inútil e mais informe que a política portuguesa conheceu e que estranhamente conseguiu aguentar-se à tona de uma Comissão Europeia então paralisada. Depois, nem percebi a que propósito, dei de caras (na televisão, bem entendido) com a cavaquítica múmia paralítica a exibir o seu crónico ressabiamento e mau feitio, respondendo ao que ninguém lhe perguntou. E agora, respondendo ao apelo do seu pupilo, o popufacho ventoso, eis que deu à costa o láparo mais burro que a terra alguma vez pariu; apareceu disfarçado mas, ao falar, logo mostrou que mudam as aparências mas não as substâncias. 

De onde é que esta gente anda a aparecer? O que deu neles? O que anunciam estas sinistras aparições?

E o mais estranho é que, parecendo querer competir com a zombiada que anda a sair de debaixo das tumbas, quais fantasmas a sair de armários escaqueirados, o alpacas, esse apertadinho e sempre maldisposto rio, resolveu armar-se em engraçadinho fazendo piada com morto, com desgraça, com vergonhas alheias. O psd está em decomposição acentuada. Como as minhas romãs pelos vistos devoradas pelos ratos de que só sobrava a casca, assim o clube da laranja. Os fantasmas e os ratos que se pensava estarem defuntos andam a devorá-las por dentro. 

Brotoeja é o que sinto só de ver. Fará os sociais democratas de gema que ainda andam iludidos acreditando que ainda têm hipótese... Talvez até tivessem. Mas, para isso, teriam que renegar a maioria dos estafermos que o dirigiram. 

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Já não chega o corona a dar conta disto tudo, ainda aparecem agora estes vírus bactéricos e putrefácticos. Caraças.

Mas vou estar para aqui a falar de múmias ressequidas e bicheza abutríca no fim de uma semana como a que tive....? É o vais.

Portanto, vou mas é aplicar aqui ao texto umas flores e coisas de natal cá de casa à laia de defumação para ver se afasto a mente dessas avantesmas.

E, olhem, vou pôr-me aqui a olhar estes vídeos a ver se aprendo a dançar, revoltear e sapatear ou, até, a ficar com os cabelos em pé mas com graça.




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Ah, e já contei que tenho andorinhas residentes? 

Um dia mostro o ninho.

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E um bom sábado.

sábado, novembro 21, 2020

O perigo dos burros em tempos de pandemia

 



Quanto mais ouço os ignorantes a quem as televisões põem um microfone à frente mais me agonio. As televisões e as redes sociais são um perigo, estão cheias disto. Obama diz que a internet é um dos maiores riscos para a democracia e eu concordo. Charlatões e ignorantes são do pior que há. Não percebem nada, deturpam o que ouvem, propagam aldrabices e parvoíces de toda a espécie  -- e, pior, falam muito, falam em todo o lado; e o pior é que, quanto mais disparates dizem, mais os outros gostam de ouvir. O espaço público está invadido por parvoíces, asneiras, maldades. Em vez de haver opinião informada, sensata, há um ruído de fundo que inflama descontentamentos, descrenças, que alimenta a apetência por discursos simplistas, populistas.
Por exemplo, a que propósito (ou com que propósito) contratam um João Miguel Tavares desta vida? Alguma vez gente desta diz alguma coisa que se aproveite? Palermas que falam do que não sabem, que não sabem pensar, que opinam usando as patas e não os neurónios para tentar raciocinar. Mesmo o Ricardo Araújo Pereira, que é culto e não é burro, para que é que é contratado para dar opinião? Por vezes lá diz alguma coisa de jeito, em especial quando contraria o JMT, mas, na maior parte das vezes, cede à mais soez e gratuita maledicência na ânsia de apelar ao riso fácil. Falei destes mas são estes e mais dezenas deles e delas. As televisões cheias. E imagino as barbaridades que grassam nas redes sociais. Uma poluição insuportável.
Tudo o que é mentecapto gosta de ter de que dizer mal. Como nunca conseguem ver a floresta, vão andando às cabeçadas de árvore em árvore e, claro, vão acusando cada árvore em que se espetam. Não percebem que o problema é deles que não sabem orientar-se, que não conseguem ver; não conseguem perceber que, se forem de encontro a elas, se vão magoar. É escusado. Não percebem. Assim são os burros: por mais que a realidade lhes entre pelos olhos adentro eles não percebem.

Nisto da covid não há conhecimentos para poder dizer uma coisa hoje e dizer a mesma coisa passadas duas ou seis ou doze semanas. Há cientistas a seguir diversas linhas de investigação, por todo o mundo. Andam às apalpadelas. E é normal que andem. Este vírus é novo e, ao que parece, com um comportamento algo atípico. Por uma questão de partilha (a ver se, em rede, se chega lá mais depressa), as pequenas conclusões, algumas certas, outras nem tanto, vão sendo conhecidas. Mas alguém, a esta altura do campeonato, sabe alguma coisa ao certo? Creio que não. À medida que se vai sabendo mais algumas coisinha, vão-se adaptando as instruções. É o melhor que se consegue fazer.

Mas os burros não percebem isto. Os burros acham que o corona veio com manual de instruções. Ao fim de todo este tempo, ainda não perceberam que não. 
Por exemplo, ainda não se sabe porque é que, numa mesma casa, dos quatro habitantes, o marido, quarenta e tal anos, está positivo e seriamente doente, a mulher, da mesma idade, positiva e apenas doente, o filho positivo e completamente assintomático e a filha negativa. E isto está a acontecer com uma conhecida, tudo gente longe de pertencer a grupos de risco, saudáveis, com vidas saudáveis. O que há neles que os leva a que, perante o contágio, os seus corpos reajam de maneiras tão distintas? Ou porque é que um jovem médico, menos de quarenta, saudável e forte, e que trata todos os dias, desde há meses, doentes covid, sabendo os do's e os dont's e como tratar-se quando a coisa aperta, está agora seriamente doente? Que conclusão é que os burros, que sabem tudo, retiram disto? Face a isto, se fossem governantes, que recomendações emitiriam que fossem válidas para toda a população in saecula saeculorum?
Acham que a directora da DGS, antes que qualquer outra pessoa no mundo, deveria saber como prevenir o contágio. Não percebem que se os sinais e as recomendações da OMS vão num sentido, à falta de melhor informação é nesse sentido que se deve recomendar que se vá. Se, passado algum tempo, os cientistas e as evidências apontam noutro sentido, então é nesse sentido que as recomendações devem passar a ir. A isto chama-se inteligência. Ora, como é sabido, a inteligência é algo a que os burros têm aversão. Por isso, mal vêem qualquer coisa que não percebem, a primeira coisa que fazem é zurrar e dar coices.

Os burros acham que não: acham que se antes se pensava uma coisa, então, para não se sentirem baralhados, é nesse sentido que se deve continuar. Os burros não percebem que a coerência -- ou melhor, a inteligência --, quando se navega por mares nunca antes navegados, é ir ajustando a rota.

Os burros não percebem outra coisa: não percebem que quem governa tem que tentar traçar a bissectriz entre múltiplos vectores: o da saúde pública, o da economia, o dos recursos existentes, o da estabilidade social. Etc. Os burros não percebem -- porque geometria ou cálculo vectorial não é com eles -- que encontrar uma bissectriz nestas circunstâncias é impossível e que o melhor que se pode conseguir, em contexto de geometria variável, é ir fazendo iterações.

Os burros não percebem que isto, o que está a acontecer, esta pandemia, não é uma coisa simples que eles possam compreender. Se nem os inteligentes e estudiosos compreendem, como podem eles compreender? Portanto o que se espera é que os responsáveis pela comunicação social não dêem palco aos burros, sejam eles comentadores, comunicadores ou simples amadores. Numa altura destas, o ruído e a poeira só servem para atrapalhar.

E depois há alguns políticos. Refiro-me agora, em concreto, aos burros. Acham que há aqui matéria para se armarem em revolucionários -- como se a saúde pública em caso de emergência fosse tema com que se brincasse às liberdades. São uns irresponsáveis e, em matérias destas, a irresponsabilidade é imperdoável. 

Se não tivesse havido estas medidas mais restritivas que o estado de emergência permite, dentro de dias estaríamos com mais de dez mil infectados por dia e com o dobro no mês seguinte. Não há camas, não há médicos, enfermeiros, técnicos ou ventiladores que cheguem para acolher quem precisa numa extensão desta ordem de grandeza. Mesmo assim, com estas medidas e com estes números, a situação é dramática e mais dramática ainda vai ficar.

Os burros acham que a culpa é do desinvestimento no SNS. Burros. Não há -- nem aqui nem em alguma parte do mundo -- sistema de saúde apto a lidar com uma pandemia como esta, caso extremo, de dimensões imprevisíveis. Os recursos dimensionam-se -- aqui e em qualquer parte do mundo -- para as situações médias, admitindo-se a possibilidade de escalar dentro de percentagens razoáveis. Mais do que isso é desperdício. E o desperdício sai dos bolsos de alguém, mormente do dos contribuintes.

Um hospital é um edifício físico. Tem lá dentro enfermarias, espaços para cuidados intensivos, blocos cirúrgicos, salas de recobro, etc. Quando se intensificam os doentes, há alguma elasticidade. Por exemplo, há corredores  onde se podem ir pondo macas ao lado umas das outras. Até caberem. Mas, como não se quer misturar doentes covid com doentes não covid, a elasticidade não é tão grande quanto isso. Podem ainda montar hospitais de campanha no lugar de estacionamento. Certo. E os enfermeiros, médicos para tudo? Dizem os políticos burros e as histéricas do costume: contratem-se. Boa. Onde? Há médicos e enfermeiros no desemprego? Não me parece.

E quando há médicos, enfermeiros e técnicos infectados ou em quarentena e as equipas começam a diminuir? O que se faz? Vai buscar-se ao privado? Boa. E os doentes que estão nos hospitais privados? Vão para casa? Ou deixamo-los morrer? Ou será que os burros pensam que quem vai para os hospitais privados são só os ricos e, portanto, não há mal nenhum se quinarem? Se é isso, explico: sabem que os funcionários públicos, via ADSE, frequentam os hospitais públicos? Ou que as empresas pagam seguros aos seus funcionários e eles, mesmo os de mais baixos recursos, vão a hospitais privados? 

Agora mesmo ouvi um burro a dizer que acha mal que Marcelo tenha falado na 3ª vaga de covid lá para Janeiro ou Fevereiro. Insurgia-se, dizia que sabe lá o Marcelo se vai ou não haver uma terceira onda. Mas eu -- que não sou cientista nem bruxa -- daqui posso assegurar: se se aliviarem as medidas, nomeadamente se a malta puder dar largas aos afectos e desatar a matar saudades com ceias, abracinhos e todos juntos a abrirem os presentinhos no Natal, de Janeiro para Fevereiro a coisa dá um pinote que vai lá, vai. Chame-se terceira onda, pinote da curva ou desgraça da grande tanto faz, é uma questão semântica. 

Agora uma coisa eu continuo a dizer. Continuo a achar mal -- e aí critico Governo e Presidente da República -- a não existência de campanhas de divulgação em força, básicas, que entrem pelos olhos adentro dos burros e dos distraídos, e concertando-se com os canais de televisão para que haja uma permanente atenção a comportamentos de risco. 

Continuo a ver montes de gente de nariz de fora. Se o contágio nasce sobretudo de quem tem a boca de fora da máscara, seja porque falam, bocejam ou o que for, porque se expele com maior vigor pela boca, projectando as gotículas, o contágio dá-se, certamente, em quem tem o nariz de fora. Portanto, quer para evitar contagiar quer para evitar ser contagiado, o uso da máscara tapando boca e nariz é essencial, sobretudo quando se está em espaços fechados ou em espaços muito povoados, mesmo que ao ar livre. 

Hoje vieram entregar uma coisa cá a casa. O rapaz que a veio trazer não usava máscara. Quem o atendeu foi o meu marido que, quando lhe agradeceu, recebeu de volta uma tentativa de aperto de mão. Um caso entre tantos. Mesmo agora vejo nas televisões programas de debate em que não há distanciamento nem separadores de acrílico e, claro, não há máscara. Que exemplo estão a dar? 


Mas, enfim, vinha para aqui hoje para me divertir e não para isto. Mas passei pelo Expresso da Meia-Noite, pelo O último apaga a luz e pelo Governo Sombra e o que vi e ouvi tirou-me do sério. Mas também quem me manda a mim armar-me em masoquista? Querem lá ver que, na volta, a burra sou eu...?

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Não vá dar-se o caso de acharem que as imagens e a música lá de cima não são suficientes para não darem a vossa visita por perdida, permitam que partilhe mais um vídeo, desta vez com um pouco de dança. 

Nederlands Dans Theater (NDT) | Medhi Walerski -- 'SOON’ 
(sobre a voz de Benjamin Clementine)

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As pinturas são da autoria de Luigi Ontani e vêm na companhia de Bill Fay com Never Ending Happening 

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E um bom sábado.
Saúde. Força. Alegria.

segunda-feira, janeiro 13, 2020

Primavera a caminho






Não há estações que representem especificamente o nascimento, o esplendor da vida, o ocaso e a morte pois, em todas as estações, existem, em simultâneo, nascimentos, o gozo do esplendor da vida, ocasos e mortes. E nenhuma morte é definitiva pois o que parece morrer é, afinal, a semente e o terreno fértil onde a vida há-de florescer. É um contínuo, um devir. Contactar de perto com a natureza é perceber a magnífica e permanente coreografia de transmissão de vida que em todas as formas e em todos os momentos se manifesta. 


Encanto-me com tudo na natureza e, para melhor observar o que, quando desatenta, não vejo, baixo-me, olho longamente, ando muito devagar. E dentro de mim é quase uma oração que nasce, um agradecimento, e quase tento tornar-me parte do que me é dado ver.


E fotografo. O acto de fotografar dá-me o pretexto para me debruçar sobre a infinita beleza das coisas naturais. Parecem-me um milagre a beleza, a perfeição, a harmonia cromática, a delicadeza do que nasce, cresce, e, que, uma vez tendo embelezado o mundo, regressa à terra onde novas formas de vida já fazem o seu percurso.

Tendemos a achar que somos sapientes, habilidosos, seres superiores. Não somos. Somos meros elementos de uma longa cadeia de vida que habita o planeta. E se nem de nós sabemos tratar quanto mais do resto e, por maioria de razões, quanto mais sermos capazes de perceber a génese de todos os elementos. Somos, sim, elementos de uma longa cadeia. E nem de longe nem de perto somos os mais fortes ou os mais inteligentes. Aparentemente a única diferença é a nossa capacidade de abstração, capacidade que, aparentemente, os outros animais não têm. Pelo menos, o Harari acha que sim. Tenho é dúvidas que a saibamos utilizar bem. Mas isso, como é agora moda dizer, são outros quinhentos.


Tal como à noite contei, no sábado andei no campo, in heaven, e não conseguia parar de me deslumbrar com as cores, com a luz sobre as cores, com a delicadeza requintada das flores, dos perfumes, com a harmonia entre tudo, com a paz tão absoluta, quase palpável.

À medida que a tarde ia avançando, uma poalha dourada ia pousando sobre as flores e quando veio o pôr do sol a luz ficou quase rosada, quase etérea, e foi com subtileza que se foi despedindo do perfume das flores.


Estive há pouco a ver as fotografias feitas e escolhi umas quantas para partilhar convosco. Depois reduzi. Ficam estas que aqui estão. Não quero maçar-vos pois, quando a realidade é distante, quem vê pode não perceber a razão do encantamento e achar uma maçada tanto êxtase, tanto arrebatamento.


Até já

sexta-feira, dezembro 27, 2019

O meu último dia de Natal do ano da graça de 2019 -- também com reportagem fotográfica




Esta noite estou verdadeiramente na ressaca. Aliás, a ressaca começou ao início da noite, na viagem de regresso de casa dos meus pais. Mal o carro arrancou, qual bebé, adormeci profundamente. Mas não fui só eu: os três que vinham no banco de trás do carro caíram igualmente no sono. Cheguei a casa quase inerte e assim me tenho mantido. 

De manhã, só os dois, tínhamos ido passear para a beira do rio, lugar de todos os retemperos.


Fotografei e foi o deslumbramento de sempre. Olhar a bela cidade através da lente tem outra magia, parece que os movimentos das gaivotas são coreografias, que as cores das casas o cenário, parece que os pormenores se salientam para passarem para primeiro plano, tudo parece muito belo e sereno. Olho tudo como a primeira vez e essa atenção descansa-me a mente e o corpo. Entrego-me, de todo, à boa sensação de ali estar.

Olhei as águas, a paisagem, aspirei o ar fresco. Tão bom. Fico sempre a sentir-me renascida.

Já aqui o disse algumas vezes: se calhar, sem o saber, isto tem em mim o efeito que a meditação tem noutras pessoas.


O ria ia cheio de frutos e daquela folhagem que as fortes chuvadas arrancam das margens e que as correntes puxam a caminho do mar.

O meu marido gozou logo: será que o Marcelo, qual sereia, vai atirar-se ao rio para o limpar? É que, na reportagem da véspera, ele diz que viu o Marcelo a apanhar daquilo. E eu até o gravei a fazer essa pergunta. Mas agora, ao ver se dava para colocar aqui, reparo que, como sempre, não mantive a máquina estabilizada e almareia só de olhar.


Voltámos mesmo a tempo de preparar o almoço, misto de restos e misto de coisa nova. É que logo, logo, chegou parte da turma que iria connosco, juntando-se aos restantes, em casa dos meus pais. Almoçámos e zarpámos. 

Como sempre, apesar de mais do que avisada para evitar os habituais abusos, a minha mãe voltou a preparar um banquete. Mesa farta. Tudo feito por ela. Uma coisa surpreendente. Não apenas o lanche foi dos bons como as meninas grandes ainda vieram carregadas de petiscos. Não sei que energia e boa cabeça é aquela: apesar dos oitenta e muitos mantém-se impecável e acho-a mais jovem de cabeça do que quando eu era miúda e vivia lá em casa. Os presentes que comprou para toda a gente, quase todas as compras para a casa, a orientação e acompanhamento de todas as rotinas relacionadas com o meu pai e, sempre que as tropas se reúnem lá em casa, lanche para todos. Uma força, uma agilidade, uma criatividade fantásticas. Quem me dera que seja genético e que tenha passado para mim e para os meus filhos e netos.


Desta vez não houve futebolada no jardim. Nota-se que os rapazes estão cansados. Em vez da bola, das lutas, das corridas e da confusão barulhenta, puseram-se a ver televisão. A maior agitação deu-se quando eles quiseram ver futebol e ela lhes rapinou o comando e quis pôr nos canais de desenhos animados ou coisa do género.

Os mais crescidos também já davam mostras de algum cansaço e talvez a mais fresca fosse mesmo a minha mãe.

O meu pai, apesar de não ver e de mal ouvir, parece que pressentia que havia movimentação e estava um bocado agitado. Por isso, felizmente os miúdos não estavam naqueles dias de grande fuzuê senão é que ele ficava mesmo inquieto.

De tarde os rapazes, os grandes e os pequenos, tinham estado a apanhar laranjas e, portanto, também trouxémos umas sacadas.  Umas laranjas sumarentas e doces de dar gosto.

De presente da minha mãe recebi o Nº5, eau de parfum que sempre me oferece, uma écharpe macia e quentinha numas belas cores quentes que coloquei logo e que ainda não tirei. Desdobra-se e fica uma capa de lã aconchegante.

E recebi um livro surpreendente. É um livro da autoria do seu médico de sempre, um médico que ainda tem mais idade que ela mas que é outro jovem de cabeça. Tenho estado aqui a folheá-lo e é bastante interessante, conjugando medicina e história. E, graça das graças, tem uma dedicatória que me é dirigida. 

Conheço estas figurinhas nem sei há quanto tempo.
Pelo Natal saem à cena.
Agora estão no móvel pequeno onde estão as fotografias dos cinco bisnetos, quando recém-nascidos:
é o presépio da casa dos meus pais

Estivemos também com o meu tio. Tenho-o achado mais caído. A minha tia tem estado adoentada e o alterarem a sua rotina de saírem todos os dias, está a deprimi-la e, a ele, está a causar abalo pois não apenas os seus hábitos se têm alterado como ver a minha tia assim o deixa também bastante triste. E a mim custa-me muito vê-lo assim. Para mim ele será sempre aquele meu tio amigo e cúmplice que, tal como o meu outro tio, ia comigo dar passeios de mota à socapa dos meus pais. Mas o tempo passa. Hoje, daqueles três homens muito jovens, o meu pai e os meus dois tios, desportistas, todos cheios de vida, um está acamado, outro já morreu e outro está a envelhecer a olhos vistos. Enfim. Vi que ele ficou contente a conversar com os sobrinhos-netos e, em especial, com o meu filho que lhe falou da empresa onde ele trabalhou a vida inteira.

E, com esta visita e com este dia dei por encerrada a época natalícia. E, como é bom de ver, já se começou a falar do que será o almoço do primeiro dia do Ano Novo.

Tempus fugit. Vita brevis.

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E, nem sei bem se a propósito de alguma coisa, permitam que coloque aqui dois vídeos com bailados do Nederlands Dans Theater, um lugar muito especial. Talvez sejam dois presentes para quem me faz companhia aí desse lado. Já vêm fora de tempo mas pode ser que aquilo de Natal ser quando a gente quiser seja verdade.

Com músicas de Heinrich Ignaz Franz Biber, John Cage, Philip Glass, Johann Sebastian Bach e coreografia de Jiří Kylián: uma beleza do outro mundo



Sobre música de Igor Stravinsky e coreografia de Jiří Kylián: belíssimo


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Uma boa sexta-feira.

sexta-feira, junho 07, 2019

Essa imensa teia que ninguém sabe quem tece



Por vezes abre-se-me um pouco de porta do que aí vem, nesga ligeira, e nunca como agora intuo terríveis tempos de incerteza envoltos em medos provindos de incertos. Uma nebulosa a envolver-nos, riscos vários, muitos, indefinidos, quase imateriais. 

Volto aqui a recordar os delírios quando criança com amigdalite. Anginas, ouvia dizer. A febre subia, subia e eu a ferver, transpirada, gritava apavorada. Os meus pais à minha volta e eu aterrorizada. Estava perante um compartimento, a divisão de uma casa, cheia até ao tecto de coisas indefinidas, pequeninas, e eu a ter que descobrir uma coisa ainda mais pequenina, ainda mais indefinida, a saber que era impossível, que não teria tempo para encontrar aquilo que era tão vital. Esse terror, essa situação impossível de resolver, toda essa angústia ficou guardada na minha memória: a impotência da luta contra uma infinidade de incertos.

Depois de uma reunião a analisar situações complexas e a antever um cenário impossível de controlar, ia no carro e, na rádio, transmitiam, em directo da Assembleia, o debate quinzenal. As pequenas questões. Os casos pontuais. Os deputados vivem numa bolha de fantasia, alheados das questões de fundo, apenas pegando nas notícias que dão que falar mas apenas durante um ou dois dias, coisa morta à partida pela irrrelevância, a petite histoire, o déjà-vu do cão que morde o dono ou, nos dias bons, o dono que morde o cão. Não passa disso. 

Não há um deputado que se erga naquele hemiciclo e pergunte: 
E se, de facto, já vivemos cercados? 

E se, de facto, estamos a caminho de ficar indefesos, totalmente indefesos, pequenos insectos presos numa teia infinita?
E não quero ser mais específica. Não posso. Não devo.

Mas... e se...?

Quantas vezes aqui digo: há que estar atento aos riscos, há que chamar a atenção, alertar, regulamentar, quantas vezes?

Mas ninguém me ouve. Não sou ninguém. Sou invisível. Existo para ver e ouvir, não para ser vista ou ouvida. E este meu lugar é nada, palavrinhas à toa, coisas avulsas e sem nexo. Não tenho púlpito nem rosto ou nome e assim é que está bem. Mas gostava que, entre as linhas, no subtexto, alguém percebesse que há preocupações que são sérias. Não são preocupações só nossas, do pequeno rectângulo, são do mundo, do mundo que está a ser conduzido não se sabe para onde nem por quem -- mas não é por nós, por gente como nós. Ou, se calhar, até é: nós agentes involuntários da nosso encarceramento.

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E, não querendo dizer mais nada -- mas estando precisada --, deito mão a outro antídoto.

fecho os olhos e imagino. Crianças brincando no quintal, roupa estendida ao vento, a cigarra, o grilo alegrando os campos, o cão ladrando ao longe. Calor e sol, reflexos azuis dos mares a sul, areia quente, conchas em que se ouve o mar, veleiros que deslizam na ténue e cintilante linha do horizonte, homens de pele tisnada e beijos com sabor a sol, pestanas levemente brancas de sal, marisco com sabor a maresia, um braço em volta da nossa cintura, uma cama fresca com lençóis brancos. Ideias felizes a alegrar o pensamento.

E dança. Voo suave, brincadeira, sedução, irreverência. Memória do mediterrâneo a fechar um dia longo e sem definição.


As fotografias são de Guy Bourdin

E abaixo há outro antídoto. Para quem esteja tão precisado como eu.

[E que me desculpe quem comentou mas hoje estou outra vez naqueles dias em que certas contingências me impedem de responder]

Antídoto


E nem vale a pena dizer para quê porque para tudo: para dor no osso, para chato que teve que se aturar, para trânsito em estrada molhada, para corpo a pedir descanso, para monte de livro a pedir para ser lido e tempo viste-lo, para saudade de lobo, para quilo a mais, para chateamento por reuniões já a serem marcadas para o mês que vem, para falta de tempo para veranear em dia útil, para falta de ouvir dizer poema, para bardajolas que se acham melhores que os outros e a quem a gente não pode dizer que .... (e, até, não pode dizer aqui o que era bom era ter dito a eles), etc.

Antídoto e dos bons. Na volta até para picada de vespa, chupão de melga, mordida de formiga-cavalo, olho gordo de vizinha, rui rio na tv, cocó de passarinho a cair na cabeça de careca, buraco no dedo grande da meia, fio de couve preso ao dente da frente, nuvem escura sobre a cabeça. 

Antídoto para tudo, portanto. Vê-se uma amostra pequenina e fica-se bom de tudo. Confirmem, por favor.

Kylián4 all


In the programme KYLIÁN4ALL Introdans proudly presents a selection of highlights from the oeuvre of master choreographer Jiří Kylián. The family show takes you on an attractive and fun journey through time and through the multifaceted work of the maestro: from theatrical Trompe L'Oeil, by way of the humorous Sechs Tänze, to the amazing Indigo Rose. And as the cherry on the cake, Introdans dances the exuberant Chapeau, a premiere for the company.


Trop good

terça-feira, maio 07, 2019

António Costa no Jornal das 8 da TVI com Miguel Sousa Tavares -- aquele toque de qualidade que faz toda a diferença: um grande político, um grande jornalista.
[Boa entrevista também ao artista-sindicalista Pedro Pardal Henriques]


Segundo Pedro Pinto e Miguel Sousa Tavares informaram, a TVI convidou também Assunção Cristas e Rui Rio --- mas ambos declinaram apesar da TVI lhes ter dito que enviaria entrevistadores onde eles estivessem.

Percebe-se. O melhor agora é fazerem-se de mortos, caladinhos, na moita. 

Mas na volta, com a fraca cabeça que mais uma vez demonstraram neste lindo servicinho, a Cristas e o Rio acham que, se Marcelo está em silêncio, então o melhor é seguirem-lhe o exemplo -- e não percebem que entre eles e Marcelo vai uma certa distância. 

Mas isto para dizer que, à entrevista, só compareceu António Costa. E, entre o Pedro Pinto e o Miguel Sousa Tavares, António Costa esteve outra vez seguro, convincente, confiável.

E a graça de todo este processo é ver-se tudo o que é comentador, incluindo os mais ferozes anti-PS, agora a louvarem o político de mão cheia que é António Costa. Todos, mesmo os que costumam triturar o PS e idolatrar a direita, agora enaltecem a inteligência, a segurança e rigor de António Costa. Estou até estupefacta com a vénia que lhe fazem. Dá ideia que viram a luz. 

Em contrapartida, todos dão tareia, mas tareia a sério, no Rio e seus seguidores e na Cristas e seus seguidores. Só lhes falta fazerem a mímica do vómito: chamam-lhes amadores, irresponsáveis, desajeitados, inconsequentes, fazem sorrisos de desprezo. 

Só posso concluir que estes comentadores são também pouco inteligentes pois foi preciso a Cristas e o Rui terem feito porcaria da grossa para perceberem o que, desde sempre, esteve à vista.

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Abro aqui um parêntesis para mostrar a cena da malta à volta da mesa, as esquerdas e direitas encostadas, a cozinharem em conjunto o lindo caldinho que eram para dar à boquinha do Nogueira mas que, afinal, serviram foi de bandeja ao Costa.

Sempre que algum dos líderes envolvidos na Última Ceia vierem com conversas da treta, alguém deverá mostrar-lhes esta fotografia: o bando dos quatro, PCP, BE, PSD e CDS, reunidos para verem como melhor darem um tiro nas contas públicas.

Os cozinheiros do absurdo
(que acabaram aos tiros nos próprios pés):

Do Eco:
 Da esquerda para a direita (sem conotações políticas) na foto (em cima) estão: Ilda Araújo Novo do CDS-PP; um funcionário parlamentar de gravata azul; Ana Rita Bessa também dos centristas; Ana Mesquita do PCP no centro da fotografia; Joana Mortágua do Bloco do Esquerda em pé; Margarida Mano do PSD ao lado da assessora do partido para a área da Educação Eugénia Gamboa (em pé); e, por fim, Pedro Alves, deputado do PSD.

E, para trazer aqui um apontamento de elegância, agora, o que poderia ser uma recriação da cena à volta da mesa -- mas em bom:

The Statement


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Retomo o Jornal das 8 na TVI


E Miguel Sousa Tavares, que esteve lindamente com António Costa, esteve também muito bem com o artista Pardal, o sindicalista-motorista que nunca foi motorista. E assim ficámos a ter a certeza de que aquela reivindicação assente na suposta miséria que ganham os motoristas, só uns euritos acima do salário mínimo, afinal  não é nada disso já que, em cima do ordenado base, há subsídios de tudo e mais alguma coisa e, se bem percebi, no mínimo ganham mil e muitos euros, podendo chegar aos quatro mil.

E ficámos também a saber, por uma simples conta, que aquela conversa de que todos os motoristas (bem, rectificava ele, todos não, a maioria, bem, a média, bem...) fazerem dezoito horas por dia era, afinal, também não é bem assim já que tudo se resume a alguns fazerem, de vez em quando, algumas horas extraordinárias, supostamente, as que se encontram cobertas pela lei e reguladas por equipamentos que têm nos camiões e que são fiscalizados.

Miguel Sousa Tavares, com distanciamento e calma, só com uma ou outa pergunta e desmentindo-o quando a mentira era mais descarada, conseguiu desmascarar a criatura. Um exemplo do que é fazer bom jornalismo

Uma palavra também para a sobriedade e simpatia de Pedro Pinto, um senhor. Estou em crer que este convívio, às segundas-feiras, com o Miguel Sousa Tavares no noticiário das oito vai fazê-lo crescer ainda mais do ponto de vista profissional.

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Ainda só mais um aspecto que nem tem a ver  com isto. Ouço por aí, aos comentadores e papagaios avençados, que a campanha do PS nas Europeias estava a correr mal. Ai é? Estava a correr mal? A sério? Onde? É que, tanto quanto julgo saber, as sondagens não dizem isso (nem é essa a minha percepção). 

Volto a dizer: quando as pessoas confundem a sua vontade com a realidade, geralmente estampam-se. Ou alguém de bom senso acha que a campanha do Nuno Melo e a do Rangel é que estão a correr bem? 

Vamos ver quem é que vai dar com os burrinhos na água. Estaremos cá para fazer o balanço no dia das eleições.

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Dando-me pretexto para me armar em La Palice dizendo que:
nem tudo o que parece é  
        e que

as pessoas evoluem
resolvi 'enfeitar' o texto com imagens que mostram trabalhos que podem não parecer mas são de Piet Mondrian

[E agora até me ocorreu que tenho mesmo que perder uns três ou quatro quilos para que a blusinha que comprei no Rijksmuseum, com aquele belo padrão de uma das suas pinturas mais conhecidas, volte a assentar-me como deve ser. Parecendo que não tenho este meu lado coquette...]


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Pode ser que ainda cá consiga voltar mas não garanto pois agora, sem falta, tenho que ir ali tratar de um assunto 


quinta-feira, março 28, 2019

Um post cheio de mistérios



Não vou contar onde estive hoje porque ninguém acreditaria. Se eu não tivesse fotografias nem eu própria acreditaria. Mas não é por não acreditarem que não conto porque se não acreditam, não acreditam, paciência. Não conto porque se, por absurdo, aqui o contasse, o meu marido rifava-me e isso eu também não quero -- a ser rifada que seja por um motivo mais espectacular. Se bem que mais espectacular do que o lugar onde estive não deve ser fácil. 

Comigo acontecem-me coisas assim. Até há dois dias jamais me passaria pela cabeça a possibilidade de ali pôr os pés. Mas é que nem por sombras. E, no entanto, por um insignificante imprevisto, apareceu a possibilidade. Talvez um dia, daqui por tempo razoável, eu o refira, coisa en passant. E tenho a certeza que alguém aparecerá a dizer que é mais uma das minhas fantasias. Mas não: as minhas fantasias não são tão delirantes.


O que sei é que com tal programa de festas consegui vir mais cedo para casa e a coisa foi de tal forma fora de qualquer contexto que, quando cheguei, me apeteceu ir passear. Sentia-me como se estivesse de férias, recém-chegada de um outro planeta. Vim a casa buscar a máquina fotográfica e fui laurear e, de caminho, comer um gelado. Andava com o desejo do gelado atravessado desde domingo e, para a criança não nascer aguada, fui dar-lhe um ice cream a lamber. 

E agora, aqui refastelada, cheia de indolência e uma certa vontadezinha de estar a milhas, por exemplo em Amesterdão ou a passear de comboio pelas margens do Reno, pus-me para aqui a assistir em directo à palhaçada do brexit -- a malta a votar não e não e não e não, oito vezes não, e uns a rirem-se, outros a não acreditarem, outros passados e outros nem aí.


Eu ainda hei-de, um dia, dar-me ao trabalho de perceber para que é que a Rainha serve, para que é que a agremiação dos Lordes serve e o que é que os conservadores e os trabalhistas andam a fazer para se terem ensarilhado mais do que o enredo de linhas dentro da minha caixa da costura. Será que o espírito das comédias britânicas baixou neles todos e a única coisa que já sabem fazer é imitar os Monty Python ou outros que tais?


Tirando isso, estive a ver o livro que comprei para dar à minha mãe. E, depois de lho dar, logo vos conto. Agora não porque seria deselegante para o livro -- porque, se vai ser presente, deve estar é embrulhado e não aqui exposto. O que posso dizer é que acho que ela é capaz de lhe achar graça porque eu também acho.

Mas o facto de eu achar graça a um livro destes também é um daqueles fenómenos do além para o qual não encontro explicação. E a coisa é ainda tão mais bizarra quanto estou cheia de vontade de começar a pôr em prática parte do que ali se ensina. Mas sem fundamentalismos. Há coisas em que sou fundamentalista (mas não posso dizer quais -- e não posso porque agora não me lembro e não me apetece puxar pela cabeça). Mas nisto de que trata o livro não sou. Se fosse, se levasse à risca, isso violentaria a minha natureza e a minha natureza é sagrada. Sou obra dos meus pais e do acaso e das circunstâncias e este mix é um cocktail que merece respeito.


Resumindo (nb: a palavra 'resumindo' aqui está mal aplicada): há um tema sobre o qual gostava de falar, tema da actualidade portuguesa. Mas é tema pesado e eu, sinceramente, não estou para aí virada. Tema pesado não é coisa que se traga para aqui a uma hora destas e, ainda por cima, depois de um dia como o que tive hoje. Tema pesado deve vir envolto em negrume, pegado com pinças, transportado em carreta. Não é, pois, o momento.

Vou mas é curtir uns bailados. E, calma, curtir mas na base da inocência, nada de curtir na base das mocas. E isto a propósito da JV e do P. Rufino que, por eu nunca me ter pedrado, quase me fizeram sentir uma bota-de-elástico do mais cinzento e maçador que há. Mas é verdade: sou. Botinha, mesmo, das cinzentinhas e tudo. Nem erva nem piela. Nunca. Continuo virgem e, cá para mim, assim continuarei. Aliás, sou muito dada a virgindades. Por exemplo, também nunca me corrompi nem corrompi ninguém. Não que sejam coisas comparáveis. Mas pronto. Foi agora o que me ocorreu a propósito de virgindades. Há também um palavrão, um em particular, que nunca disse. Virgem também disso.

Bem. Vou mas é ficar-me por aqui que isto hoje está ainda pior do que é normal.  Que entrem mas é os bailarinos do Nederlands Dans Theater que nunca na vida me vou cansar deles.



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Isabel, hoje deu-me para ir buscar as pinturas de Tawaraya Sotatsu e, como é bom de ver, não têm nada de nada a ver com o que desescrevi. Mas são muito bonitas, não são?