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sábado, fevereiro 08, 2025

Nada neste mundo existe e foi concebido por quem também não existe

 

STEAMPUNK Symphony | An AI Short Film

An AI Short is a Vintage Symphony that pulls you into the stunning world of Victorian style, steampunk fantasy, Rocco architecture, filled with Victorian charm, intricate fashion, and mesmerizing mechanical artistry. A perfect blend of vintage elegance and futuristic ingenuity



quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Segredo

 

Em minha opinião, uma das grandes vozes da poesia. Muitas vezes aqui a tive. É clicar aqui e, depois, ir por aí abaixo, abrindo, lá em baixo, as 'mensagens antigas'. 

O seu prazer em ser mulher, a defesa acérrima do pleno direito das mulheres, pleno direito a todos os títulos, incluindo ao pleno direito sobre o corpo, o uso pleno da palavra ao serviço da poesia, da condição da mulher, do prazer, do amor, da paixão -- tudo isso me encantou desde sempre.

E, depois, a sua intrínseca liberdade. A liberdade do uso íntegro da palavra. Sem medo, sem hesitação, sem inibição ou vergonha. E sem que, com a sua liberdade, embandeirasse em arco. Sem arrogância. Como uma coisa natural. 

Sempre a admirei, não apenas como poeta mas também como mulher.

Estava frágil, em casa, com receio de sair. Além disso, quem se alimenta do amor total a um homem, como ela amou o seu Luís, e da companhia desse homem se vê privada, fica forçosamente debilitada. Chegou ao fim.

Esta terça-feira de manhã tive uma daquelas minhas premonições que até a mim me assustam. Tinha que sair e estava à pressa mas quis ligar o computador. Cá para mim pensei: 'deixa cá ver quem é que morreu...'. E, ao pensar isto, fiquei incomodada. Enquanto o computador ligava, arranjei uma desculpa para um pensamento tão estúpido: pensei que desde já há algum tempo que não aparecia a notícia da morte de alguém do mundo das artes. Mas estava mesmo incomodada, só me chamava estúpida por estar com pensamentos tão parvos. Quando abri um dos jornais, apareceu logo a notícia: Maria Teresa Horta tinha morrido. Só me apeteceu desligar logo o computador. Má notícia. Caraças. 

Enfim. 

Fica-nos a sua magnífica poesia. 

Por exemplo:

Segredo 

de Maria Teresa Horta


Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

Maria Teresa Horta in 'Minha Senhora de Mim' -1972

domingo, fevereiro 02, 2025

O jogo dos pombos -- o retrato de um certo Portugal (e de uma Lisboa desconhecida)

 

Num dia que para mim é triste, limito-me a transcrevo um artigo de Nowness (porque é importante documentar práticas que parecem em extinção num mundo em que o passado parece esvair-se sem deixar rasto):

Portrait of a Place: O Jogo Dos Pombos

Em Lisboa, o columbófilo Senhor Jorge Cunha continua a antiga prática de treinar e competir com pombos, reflectindo sobre uma rotina inalterada numa cidade em evolução

Como janela para a vida do Senhor Jorge Cunha, um columbófilo de Lisboa, o realizador George Daniell capta uma rotina inalterada pelo tempo para a curta-metragem O Jogo dos Pombos. Na capital portuguesa – uma cidade que está a ser rapidamente engolida pela gentrificação e pelo turismo – Jorge continua uma ocupação histórica que está a desaparecer na modernidade, seguindo diariamente a mesma prática por dedicação ao treino e cuidado dos seus pombos.

Trabalhando num estúdio em Lisboa, junto à casa que Jorge partilha com a sua mulher e ao pombal que alberga os seus pombos, Daniell testemunhou a rotina de Jorge a desenrolar-se como um relógio, acordando cedo para limpar o pombal e voar com os pombos. Fascinados por aprender mais sobre o seu ofício, formaram uma amizade e conectaram-se através da antiga prática da Columbofilia – ou corrida de pombos – que logo se desenvolveu na base do filme.

“Observava o Jorge e os pombos quase todos os dias, cativado pela sua dedicação à rotina. Passado algum tempo, tentei fazer perguntas ao Jorge sobre os pombos no meu português macarrónico. Lisboa é uma cidade que está a ser rapidamente engolida pela gentrificação – ver Jorge a cuidar dos seus pombos é um pouco como voltar atrás no tempo, por isso pareceu-me algo que queria documentar.”

Aprimorando a prática manual que realiza repetidamente, Daniell e o diretor de fotografia Duarte Domingos espelharam o processo analógico de Jorge ao filmarem inteiramente em película de 35 mm e 16 mm. Através das reflexões do Senhor Jorge e da poesia visual dos pássaros em voo, O Jogo Dos Pombos observa um modo de vida tradicional numa cidade em rápida mudança, como um fragmento duradouro do passado de Lisboa que continua no seu presente.

In Lisbon, pigeon fancier Senhor Jorge Cunha continues an ancient practice in a fast-evolving city

quinta-feira, dezembro 19, 2024

Apesar dos tremendos riscos e apesar de ainda não estarmos bem a ver o impacto que vai ter na nossa vida, há que reconhecer que isto é absolutamente extraordinário

 

O ChatGPT é uma preciosa ajuda em tudo e mais alguma coisa e está cada vez melhor. De vez em quando ainda alucina e a gente, quando desconfia ou se quer certificar, deve cruzar informação. Mas na maioria das coisas é uma coisa espantosa. Conversa como uma pessoa, é um manancial infinito e instantâneo de informação. E gera imagens (embora, neste capítulo ainda tenha uma vontade demasiado própria, desobedecendo frequentemente ao que mandamos) e faz trinta por uma linha. Mas, em geral, é precioso.

Por exemplo, agora testei a funcionalidade de o pôr a servir de motor de busca. Ainda nem tinha reparado que já dava para isso.

Perguntei: Quais os possíveis candidatos presidenciais em Portugal?
Dito pelo ChatGPT:
ChatGPT

As eleições presidenciais em Portugal estão previstas para 2026, e diversos nomes têm sido mencionados como potenciais candidatos. Embora as candidaturas oficiais ainda não tenham sido formalizadas, os seguintes indivíduos têm sido destacados:

Candidatos Declarados:

  • Tim Vieira: Empresário e investidor conhecido pela sua participação no programa de televisão "Shark Tank". Anunciou a sua candidatura a 31 de agosto de 2023.

  • Joana Amaral Dias: Psicóloga, comentadora política e ex-deputada. Recebeu o apoio do partido ADN para a sua candidatura, anunciada a 18 de dezembro de 2024.

Candidatos Prováveis ou com Interesse Manifestado:

  • André Ventura: Líder do partido CHEGA e deputado desde 2019. Indicou que poderá anunciar a sua candidatura até março de 2025.

  • Henrique Gouveia e Melo: Almirante e atual Chefe do Estado-Maior da Armada. Ganhou destaque como coordenador da task force de vacinação contra a COVID-19. É apontado como potencial candidato, com possível anúncio em março de 2025.

  • Luís Marques Mendes: Ex-líder do PSD e atual comentador político. Admitiu a possibilidade de se candidatar, com uma decisão esperada nos próximos meses.

  • Paulo Raimundo: Secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) desde 2022. Não descartou a possibilidade de se candidatar às eleições presidenciais.

  • José Pedro Aguiar-Branco: Presidente da Assembleia da República desde 2024 e ex-ministro. É mencionado como potencial candidato presidencial.

Outros Nomes Mencionados:

  • Pedro Passos Coelho: Ex-primeiro-ministro e ex-líder do PSD. Tem sido apontado em sondagens como um dos preferidos para a presidência, embora não tenha confirmado intenção de candidatura.

  • António Guterres: Secretário-geral das Nações Unidas e ex-primeiro-ministro. Também mencionado em sondagens como potencial candidato, sem confirmação oficial.

É importante notar que, até ao momento, as candidaturas oficiais ainda não foram formalizadas, e o panorama político poderá evoluir à medida que nos aproximamos das eleições.

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Ou seja, varre a internet e sistematiza a resposta de forma organizada. E cita a fonte.

E não é só o ChatGPT, é tudo o que por aí anda que gera conversas com a voz de pessoas, gera vídeos bastante credíveis com gente que já morreu há que anos e um dia a gente não vai saber o que é verdade ou mentira, o que é certo ou errado. Mas, pensamentos peregrinos à parte, que o tempo não está para isso, achei piada a este vídeo. É pacífico, inócuo. Mas tem graça.

Trump and Peanut the Squirrel SAVE THE DAY

What happens when Donald Trump befriends a squirrel and it all goes nuts? Watch as the president embarks on the greatest rescue mission of all time with the help of his elite raccoon squad and a new ally, Peanut the squirrel. From chess games in the park to high-stakes action sequences, this parody short film takes you on a wild ride filled with strategy sessions over McDonald's fries and epic teamwork. Will they restore peace to the park? You don’t want to miss this one, folks—believe me! 🐿️🍟🔥

How this content was made: Altered or synthetic content

Sound or visuals were significantly edited or digitally generated. 


segunda-feira, dezembro 16, 2024

Uma questão de ménage

 

Vou tendo notícias dos meus amigos e vou constatando o óbvio. E só não digo o óbvio ululante porque prefiro não me esticar no vocabulário. Vou manter-me comezinha. E não é que goste particularmente de me ver aqui comezinha mas foi o que me ocorreu. E o óbvio que vou constatando é que hoje é um que tem uma coisa, depois é outro de quem andávamos sem saber e que, afinal, teve uma cena e está internado, num outro dia é uma que é operada às cataratas, e depois é alguém que conta que vai começar a fazer tratamentos. E já nem falo na tristeza que é quando a gente se lembra de alguém de quem já não sabe há algum tempo e aparece alguém que diz, com ar compungido que essa pessoa, infelizmente, já cá não está. Pois é. Não vamos todos chegar aos 120 nem vamos todos de viagem no mesmo dia. Haveremos de ir aos poucos. Mas, felizmente, a maioria ainda está na boa. Mas isto de estar na 'boa' é relativo pois a verdade é que quando não dói aqui, dói ali. Claro que há dias em que não dói nada. Ou, então, dói um bocadinho e a gente cagua nisso (calma, comezinha me mantenho: educadamente interpus um u entre o g e o a -- ah, que sopinha de letras mais gira...).

Como hoje andava a doer-me um bocado o pé, o meu filho disse que eu deveria era fazer mais exercício, que cada vez lê em mais sítios que a massa muscular é fundamental. Não tenho ido fazer deep mix pois estou cada vez mais avessa a compromissos e a horários. Mas, se calhar, tenho que fazer mais do que caminhadas. A lida da casa não é suficiente para não perder massa muscular. 

E, agora que falo em lida da casa, fico a pensar em que mais é que poderei fazer que me fortaleça os músculos. Uma das coisas que me parece que é boa para os braços é varrer. E com aquela coisa que não é ancinho mas que também não é vassoura, raspo a terra onde a relva seca, e isso requer força. E ando com regadores de água. E gosto de lavar coisas. Mas passar a ferro, que também deve dar músculo, praticamente é coisa que já não se pratica cá em casa. E limpar o pó odeio. Mas isso não deve fazer nada à massa muscular. Andar a lavar casas de banho, o chão, roupa, tudo isso é bom para mim. Mas peçam-me para limpar o pó e fico doente. É que para limpar o pó sou meticulosa, reentrância a reentrância, por baixo, por trás, as pernas das cadeiras, das mesas, as traves. Tudo, coisinha a coisinha. E, por isso, levo horas. E odeio, odeio gastar horas de vida com uma tarefa tão sem graça.

Talvez por isso, quando chego a qualquer lado, uma das coisas em que reparo é se é fácil de limpar. No verão estive na casa de uma amiga onde ainda não tinha ido. Estupidamente em vez de louvar a graça dos objectos, o ambiente acolhedor ou a beleza das pinturas, o que me saiu foi: 'Limpar esta tua casa deve ser uma trabalheira...'. Ela riu-se. Acho que nunca tinha pensado nisso. Respondeu: 'Não sei, é a minha empregada que trata de tudo. Desde que me reformei só lhe peço é que não ande com os tarecos à volta enquanto eu estiver a dormir.'

Por exemplo, ao ver a casa aqui abaixo, sem dúvida uma casa fantástica, ainda por cima principescamente decorada para esta época festiva, o que penso é que é casa em que eu não poderia viver: ou teria que andar lá sempre gente a cirandar e a limpar ou, então, aquilo deveria estar sempre carregadinho de pó.

Mas vejam. E inspirem-se.

Inside Richard E. Grant’s Georgian House at Christmas | Design Notes

Richard E. Grant welcomes us into his London home at Christmas. Filled with an abundance of treasures, Richard’s house sits within a walled garden littered with the dark foliage of evergreen topiary and ivy-clad trees, all providing an atmospheric backdrop for the attractive façade of his Georgian house.

“It looks like something that, I suppose, I have fantasised about living in since I was a little boy,” says the Saltburn actor as he sits in the drawing room of his rectory. Watch the full episode of ‘Design Notes’ as we tour Richard E. Grant’s house in Richmond, which has been given a maximalist boost of lavish Christmas decorations for the festive season.


E uma boa semana para todos

terça-feira, outubro 15, 2024

Um rendez-vous
Nº 5, o meu perfume. Uma questão de fidelidade.

 

Também gosto do Chance. Ou do Nº 19. Nos perfumes, já aqui o confessei diversas vezes: sou Chanel. Mas nada chega aos calcanhares do Nº 5.

Dizem que é quente. Não é. Nada. Subtil, misterioso, único. Metamorfoseia-se. Pelo menos em mim, na minha pele, isso acontece,

Um toquezinho e chega. O que é bom pouco basta. 

Chamo a atenção para o vestuário da Margot Robbie, um maravilhoso tecido, um maravilhoso corte, uma maravilhosa cor.

In the new N°5 film, See You at 5, Luca Guadagnino's lens follows Margot Robbie along the roads of California. The story of two lovers' missed connections, where the road to get there is just as important as the rendez-vous itself. Will there be a rendez-vous waiting at the end of the journey? Or is the rendez-vous itself the journey?


domingo, setembro 15, 2024

Há casas e casas...

 

Enquanto escrevo, estou a ver um programa fantástico na RTP 1, 'Em casa de Amália' em Elvas. Muita gente na rua a assistir a contagiantes momentos de partilha com o António Zambujo, o Buba Espinho e o Luís Trigacheiro, apresentado por um José Gonzalez que eu não conhecia mas que é um tipo bem simpático. 

Muito bom. Penso que o país caminha no bom sentido quando se fomentam momentos assim, de comunhão em torno de uma língua comum, em que as pessoas saem à rua para ouvir cantar, quase tudo canções que toda a gente canta, em que há sorrisos no ar. O cante alentejano é maravilhoso. 

Mas não tem que ser o típico cantar alentejano. Canções que muita gente conhece, melodicamente ricas, em que se toda a gente se junta a cantar, são uma riqueza cultural inesgotável.

E estes três jovens cantam lindamente. Estou impressionada. Por exemplo, não conhecia bem o Luís Trigacheiro e tem uma voz e um poder de interpretação extraordinários. Neste momento está a cantar uma que não é muito conhecida (digo-o pois não o acompanham a cantar) mas que é uma canção linda. Estou encantada.

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Mudando de assunto. Ontem à noite, sem querer, dei com um documentário tocante. Fiquei a ver até ao fim. Foi na RTP 2. Feito pela Charlotte Gainsbourg sobre a mãe, Jane Birkin, mulher de uma inocência e franqueza totais.

Se não viram, sugiro fortemente que ponha a box para trás e o vejam. Partilho o trailer só para se perceber o género. 

Jane by Charlotte - Official Trailer (2022) Charlotte Gainsbourg

Watch the trailer for Jane by Charlotte, a documentary by Charlotte Gainsbourg about her mother, Jane Birkin. It features intimate conversations between parent and child, as well as footage of Birkin performing onstage, and explores the emotional lives of two women as they talk about subject matter that ranges from the delightful to the difficult: aging, dying, insomnia, celebrity, and their differing memories of their shared past, which includes Charlotte's father and Jane's husband, Serge Gainsbourg. 

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Como estou com um olho no burro e outro no cigano (e espero não ser censurada pela utilização deste ditado popular), não me dá para me pôr para aqui agora com divagações. Vou já direita ao assunto.

A forma como as pessoas vivem por esse mundo varia de uma maneira que se calhar não julgamos possível. Eu, se fizesse programas educativos, incluía o conhecimento de hábitos, dificuldades, excentricidades e gostos ao longo de todo o planeta. Penso que é bom que tenhamos noção das disparidades, da diversidade. O que aqui podemos observar atesta a criatividade humana quer a nível arquitectónico, quer tecnológico, quer estético ou económico quer a nível da própria sobrevivência.

Pode ser difícil de acreditar, mas as pessoas realmente moram nestas casas


A tod@s desejo um belo dia de domingo

sexta-feira, agosto 02, 2024

Considerações da UJM sobre o que se passa na Venezuela e na cabeça dos maduros do PCP

 

Estes dias têm sido bem animados e poucas notícias tenho visto. Há pouco pus-me a ver os Jogos Olímpicos, momentos exultantes, e, em vez de me pôr a exultar também, adormeci profundamente. Deve ter sido coisa de cinco minutos, não mais, pois logo de seguida o meu marido chamou-me para jantar. Ainda havia arroz de salmão de ontem ao almoço, era só aquecer e juntar salada de alface. 

Das notícias do dia há uma que me está a fazer espécie: a libertação de prisioneiros pela Rússia e pelos Estados Unidos. Parece que foi uma troca. Não sei a que se deve, a que propósito, porquê agora. Alguma coisa é. Se calhar, se me debruçar sobre os Guardians desta vida, facilmente me esclareceria -- mas isso fica para depois, agora ainda estou meio abananada de ter sido acordada à pressão.

Também li (mas só o título) que a temperatura no Antártico está 10º acima da média e palpita-me que isso não são boas notícias. Caraças para as alterações climáticas. Tenho medo.

E também vi a indignação do Partido Comunista Venezuelano ao saber que o PCP apoia a 'vitória' do Maduro. Situação extraordinária esta... O PCP português, sempre, sempre, ao lado dos tiranos e dos ditadores, agora até já actua em contramão em relação aos partidos congéneres desses países que, como se vê, se demarcam da actuação anti-democrática do regime vigente. Uma vergonha. O PCP continua a sua deriva a caminho da extinção. Ninguém os obriga a isso. São eles mesmos que estão determinados nisso. Situação bizarra.

Há dois dias tinha feito um daqueles meus vídeos mas, em vez de falar de abelhas ou da minha voz de Castelo Branco ou de Dona Lady Betty, falava do apoio do PCP ao que se passava na Venezuela. Ainda não sabia da barracada acima referida. Por isso, de certa maneira, o vídeo está um pouco desactualizado.

Mas, por hoje, é o que me apraz partilhar convosco. 

Ainda tenho que ir ali pôr creme hidratante no corpo porque, há bocado, tomei banho e não o pus pois com miúdos cá é tudo tão à pressa que não dá para frioleiras dessas. De manhã, quando fui ao supermercado, comprei um de azeitona e estou curiosa. Só espero que não me deixe a cheirar a azeite. 

In heaven não se fala só de abelhinhas e de coisinhas fofas, também se fala das cavaladas do Maduro e das maluquices do PCP


Dias felizes

quarta-feira, julho 31, 2024

Andam anjos in heaven?
Ou vamos mas é ao que interessa: a minha voz é igual à de José Castelo Branco?
(Se acharem que sim, agradeço que me poupem)

 

Dormi que foi um regalo. Acordei tarde, acordei descansada. 

E foi um dia bastante produtivo. 

Tenho sempre muitas coisas que fazer e isso agrada-me, em especial quando são coisas que me agradam (passe a redundância). Mesmo quando trabalhava, quando não havia coisa nova e se entrava quase na monotonia, ficava stressada. De vez em quando, o Grupo comprava empresas e era preciso assimilá-las rapidamente, metê-las no perímetro de gestão das empresas do grupo (metê-las no sentido de enfiá-las, nem que fosse contra a vontade delas), organizá-las, pô-las a funcionar como as demais, e tudo em prazo recorde. Se grande parte dos meus colegas ficava em ponto de rebuçado, achando que eram prazos impossíveis, que as circunstâncias eram irrealizáveis, toda eu vibrava.

Nada me agradava mais do que ter desafios que pareciam irrealistas e equipas descrentes ou equipas que tinham que ser formadas à pressão para começarem a colaborar nesses projectos. Mesmo quando era acusada de me atravessar 'à maluca' ou me atirar para a piscina ainda sem saber se teria condições para isso, e mesmo se eu própria, cá para mim, me assustava e pensava 'caraças, para que é que me fui meter nisto...?', a verdade é que essa adrenalina era um tónico indispensável para a minha existência.

Agora, reformada, também não paro de me meter em cenas e de me atirar 'à maluca'. Gosto de arriscar, gosto de ir à luta e, apesar das derrotas (que tendo a encarar como percalços naturais), muito dificilmente desisto. Posso ajustar o rumo, posso repensar estratégias mas desistir é para mim muito difícil.

Bem. Adiante.

A meio da tarde deitei-me cá fora e pus-me a olhar para o céu. E só pensava: 'Azul'. Ou não pensava nada, simplesmente olhava. Estive ali durante muito tempo a olhar para o céu e a única coisa que atravessava a minha mente era a palavra azul. Depois reparei que, muito lá em cima, um pequeno pontinho branco se movia. Como estava presa ao 'azul' levei algum tempo a pensar: 'avião'. Mas logo retrocedi e me fixei no mesmo: 'azul'. Depois ocorreu-me que, se calhar, estava a meditar. Para a coisa ser mais consubstanciada, pus-me a fazer respirações. 

No fim estava ainda mais descansada. 

Depois estraguei tudo. Fui aos figos. Comi uns poucos. E isto preocupa-me pois já sei que a balança vai castigar-me. Mas é o que é. Parece que nasci mais para pecar do que para ser abstémica.

E, como habitualmente, andei a passear in heaven e, mais uma vez, me deu para fazer vídeos. Fiz dois. Mas, para não ser uma overdose de maluqueira, hoje partilho apenas um.

Um dia destes tenho que ver se é possível transformar os vídeos feitos com telemóvel em vídeos de écran inteiro. Acho que seria melhor, não acham?


Dias felizes para todos!

quinta-feira, maio 02, 2024

Um cravo é um cravo é um cravo

 

No outro dia vieram cá umas amigas. Estando nós a atravessar o cinquentenário do 25 de Abril, acordei nesse dia a pensar que queria oferecer-lhes um pregador (não sei porquê mas não me dá jeito dizer broche) com o formato de cravo.

Pensei, na minha ingenuidade, que era coisa que deveria haver a pontapé. Portanto, nesse dia, antes que elas chegassem, resolvi ir, num instante, a um centro comercial, daqueles em que há todas as lojas, pois poderia comparar os diferentes formatos e trazer o ou os mais indicados. Uma das minhas amigas tem uma personalidade algo boémia e outra é a serenidade e equilíbrio em forma de gente. Portanto, ou era um cravo adaptado a cada uma ou era um que fosse ambivalente.

Pois, pasme-se: nem um. Corri todas as lojas de bijuteria que se possa imaginar, t-o-d-a-s, nada, depois passei para as lojas de vestuário que também vendem adereços, nada, segui para as lojas que vendem pedras preciosas ou semi-preciosas, nada, e, por fim, já estava a espreitar ourivesarias. Nada. N-a-d-a. 

Não houve uma alma, uma, que se tivesse lembrado de fazer um pregador em forma de cravo, seja ele gráfico, realista, seja metafórico, metafísico, intemporal, abstracto. Nada. Zero.

Acabei por escolher umas florzinhas meio desmaiadas, levemente encarnadas, mais para as margaridas coradas do que para os rubros carnations. Tinha metido aquela na cabeça, não poderia recebê-las sem um flor para porem ao peito.

E, pensando no assunto, pasmo. Não sei como não se transformou já o cravo em símbolo, quiçá a par do Galo de Barcelos ou outros como o das Caldas. Deveria haver peças alusivas ao cravo sejam Bordalo Pinheiro ou Vista Alegre, sejam peças em prata, ouro, plástico, qualquer coisa,  sejam ímans, sejam bugigangas para todos os gostos. E, que eu saiba, nem a grandiosa Joana Vasconcelos se inspirou para produzir uma hiper-mega peça em forma de cravo libertário.

Fiquei com vontade de comprar papel plastificado encarnado, tule encarnado, coisas com que eu própria faça peças para oferecer a quem venha visitar-me e para eu própria ter aqui em lugar de destaque.

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O vídeo abaixo tem legendagem em inglês mas também se pode escolher a tradução automática para português. 

Portugal - Cravos contra a Ditadura

Portugal: Carnations against Dictatorship | ARTE.tv Documentary

In April 1974, left-wing factions in the Portuguese military staged a coup against the authoritarian regime which had been in power for half a century. The uprising was largely peaceful and went down in history as the Carnation Revolution. But the path to a democratic Portugal was not easy and not without obstacles.


sexta-feira, abril 26, 2024

Foi bonita a festa, pá
25 de abril sempre

 

Um imenso mar de gente em festa, em família, entre amigos. Uma festa intergeracional mas, arriscaria dizer, com uma inédita e inacreditável massa de jovens e de crianças. 

Todas as ruas iam dar ao Marquês. Os relvados da avenida e da rotunda cheios de gente. Muita cor, muita alegria. Gente a cantar, a rir, a abraçar-se, a festejar, a gritar gritos de ordem: um hino à liberdade cantado a muitos milhares de vozes.

Muita emoção, uma emoção contagiante, uma vontade de que as ruas nunca percam a alma, que continuem cheias de gente, que não seja só nos 25 de Abril. As ruas querem-se vivas e alegres. É na rua que as pessoas se encontram, se abraçam, se vêem a rir, que cantam em uníssono. Não é na solidão das redes sociais. É nas ruas. É na partilha, no contacto, na felicidade de estar com os outros que a liberdade e a democracia se mantêm vivas e pujantes.

Em boa hora o meu marido se lembrou de que devíamos ir para a avenida. Estou muito feliz por lá ter estado. 

Desejo que o 25 de Abril se mantenha vivo, cada vez mais festivo, cada vez mais enraizado e pujante, cada vez mais um balão de oxigénio que alimente os nossos quotidianos. E desejo que daqui por 50 anos os meus filhos, os meus netos, os meus bisnetos e trinetos continuem a sair à rua a festejar o dia da Liberdade e da Democracia no nosso querido país.

















































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Nota: Caso algum dos que aparecem nas minhas fotografias aqui não quiser estar, peço o favor de me contactar identificando a fotografia que logo a retirarei

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Galeria de Fotografias do Guardian: clicar (link abaixo) para ver todas

Portugal commemorates the Carnation Revolution – in pictures

Thousands in Lisbon celebrated the 50th anniversary on Thursday of Portugal’s Carnation Revolution, which toppled the longest fascist dictatorship in Europe and ushered in democracy. The almost bloodless revolution was conducted by a group of junior army officers who wanted democracy and to put an end to long-running wars against independence movements in African colonies
Guy Lane
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25 de Abril sempre

quinta-feira, janeiro 18, 2024

Parece que anda meio mundo intrigado, 'onde está o umbigo dele?', mas eu, sinceramente, acho que até se vê bem e, sobretudo, acho que mais vale olhar para o que se vê bem do que para o que mal se vê

 

Nunca tinha ouvido falar em tal pessoa. Afinal parece que, mais uma vez, é problema meu. Jeremy Allen White é, afinal, conhecido, afamado, premiado, parece que excelente e multifacetado actor. 

E eu, que vivo aqui como uma eremita social, afastada de redes socias, longe dos ecos da fama alheia, desconhecia a existência da figura.

32 anos, 1,70 m, casado, com dois filhos, divorciado, parece que vive agora com outra afamada figura do panorama artístico, Rosalia. 

Como sou a tal que torce o nariz aos maiores pitéus, olho para ele -- e olho pois nunca o vi actuar, não posso avaliar a arte -- e não o acho nada de especial. Não me parece muito bonito. A mim não me convencia ele.

E, no entanto, parece que é, para meio mundo, se calhar até para três quartos de mundo, um sex symbol. Tento aguçar a vista, olhar para ele sob essa lente. Pois nem assim. Não que seja feio, não que seja desagradável, capaz até de ter uma certa pinta, tem um ar um bocado desmanchado que me agrada. Mas falta ali qualquer coisa. Não sei. Há ali qualquer coisa que não está no sítio. 

E não é a tal questão do umbigo que parece que anda a intrigar toda a gente. Provavelmente a mãe fez-lhe a ele o mesmo que a minha me fez a mim: apertou-o bem, enfaixou-o, de modo a que o dito cicatrizasse 'bem fechadinho'. Não é pois a isso que me refiro, acho que é mais a ligação entre o nariz e a boca. Não sei. Ou as sobrancelhas, descaídas ou lá o que é, não sei. Ou, vendo com atenção, parece que há ali qualquer coisa que se destaca pela proeminência. Não sei. 

Mas o tema do umbigo não me interessa nem é por ser secundário. É mais porque, vendo bem, há coisas nele para que a gente pode olhar. Ora, havendo-as, porque perder tempo a olhar para o que mal se vê.

Não é?

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Jeremy Allen White in Calvin Klein Underwear | Spring 2024 Campaign

Directed by Mert Alas in downtown New York City



(Sobre aquela minha dúvida da proeminência, será o lábio de cima que é saído de mais?)

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E queiram, por favor, descer até ao mistério do olhinho azul do José Luís Peixoto

sábado, maio 13, 2023

Como são bons os banhos de floresta

 



Não sei se no outro dia contei que estava na cozinha, a tratar do almoço ou a lavar a louça, não me lembro, e, ao olhar para o pinheiro lá mais ao fundo, vi um esquilo, com o seu mega cauda felpuda, a salta de um ramo para outro. Senti uma onda de felicidade. Se alguma vez, quando a terra à volta da casa era só pedras e mato rasteiro e eu sonhava com um pequeno bosque, eu podia sonhar que os pinheirinhos que o meu pai trouxe, ainda pequeninos, agora estariam tão altos e que neles eu haveria de ver um esquilo a brincar...

Não quis desviar o olhar pelo que não fui buscar o telemóvel para fotografar. Ao ver o bichinho verifiquei que apenas o vi porque ele estava a salta de um ramo para outro. Se não o tivesse seguido com o olhar não o detectaria. 

Quando estou a caminhar, tento descobri-los mas não consigo. Mas penso que, se calhar, são eles, lá em cima que estão a ver-me a mim.

A vida é uma breve passagem e mesmo que gostemos muito de cá estar chegará o dia em que chegamos ao fim da passadeira rolante em que calhou que viéssemos parar. Mas, enquanto cá estamos, é bom que aproveitemos, que gostemos de cá estar, que façamos aquilo de que gostamos e, se possível, que deixemos, à nossa passagem, coisas boas de que os que vêm a seguir possam desfrutar.

Hoje, nos intervalos dos meus trabalhos, por aqui andei a caminhar, a respirar este ar tão puro, a banhar-me nestes verdes tão límpidos, a fazer corridinhas ao despique com o ursinho cabeludo. 

Por diversas vezes pensei que era sábado ou domingo. Ainda não assimilei que posso ter uma vida boa durante a semana. Outras vezes, quando acordo mais tarde, sobressalto-me como se estivesse a baldar-me, a abusar da minha sorte dormindo quando devia estar a trabalhar. parece que o meu corpo (ou a minha mente?) ainda não se habituou completamente à liberdade.

Trouxe para ler um livro que a minha filha me deu sobre os banhos de floresta, o bem que fazem ao corpo e à mente, o bem que sabem, as maravilhas que se escondem numa floresta ou como essas maravilhas se mostram para quem está disponível para as ver, ouvir, tocar, cheirar, sentir, respirar.

Acredito muito nos benefícios de andar na natureza, de andar ao sol, de andar à sombra sob o fresco saudável da copa das árvores, de andar em silêncio, de escutar os sons das árvores e aspirar o perfume das flores, da aragem, de sentir a macieza da terra, dos musgos, da caruma, de ver os mil tons de verde.

Para além das fotografias que fiz ao fim da tarde, partilho convosco um conjunto de vídeos que têm a ver com isso. Espero que tenham tempo e vontade de os ver e ouvir e gostava que também gostassem deles.





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Um bom sábado
Saúde. Serenidade. Paz.

segunda-feira, abril 24, 2023

As vacas e os bois correm para a ouvir cantar

 

Na caminhada da manhã apanhei um ramo de rosmaninho. Coloquei-o num vasinho com água dentro de outro vaso não furado, portanto, como se pusesse as flores dentro de água.

De tarde, estive a transcrever folhas na mesa que está debaixo do jasmim amarelo e da buganvília fúcsia e que tem a dita rosemary, na pseudo-jarra, em cima. O perfume de tudo é uma maravilha mas o perfume da rosa maria sobrepõe-se agradavelmente.

O cabeludo estava deitado aos meus pés. Um pássaro andava por ali a saltitar mas, como era pequeno, o cabeludo tomou-o por inofensivo e, portanto, nem se dignou mexer um pêlo.

Quando o meu marido veio lá de dentro, queixei-me que já me doía o braço, se calhar porque a mesa é alta demais para eu estar a escrever ao computador em cima dela. Para atenuar, sugeri que me preparasse uma bebida boa. Cavalheiro como é (e, certamente, com um certo peso na consciência por ter desistido de me ajudar na minha esforçada empreitada) veio de lá com um copo apetitoso só de olhar: sumo de laranja, um bongo, rum, nêsperas aos bocados e um bombom de gelado de chocolate preto e frutos vermelhos. Estava delicioso mas a única coisa que fez parar a dor no braço foi parar de escrever.

Tirando isso, posso dizer que hoje lavei as forras de almofadas aqui da sala e, por isso, agora que estou sentada no sofá, no meio delas, envolvem-me com um cheirinho fresco a sabão de marselha. 

Poderia ainda dizer que, ao fim deste tempo todo, eu e o meu marido continuamos sempre com vontade de dormir mas isso seria, para vocês, um déjà-lu. Mas, ainda assim digo: levantamo-nos com vontade de continuar a dormir, a seguir ao almoço, se pudermos, encostamo-nos onde calhar e dá-nos o sono e, mal nos sentamos aqui à noite, se não tivermos nada que nos impeça, fechamos os olhos e, passado um bocado, estamos a dormir. Tirando isso, parecemos normais.

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E talvez seja esta indolência que me faz desinteressar-me das tricas-laricas diárias. Ou, então, a covid não me trouxe apenas sono, trouxe-me também um filtro que criva as tretas e só deixa passar coisas como esta aqui abaixo que, sinceramente, acho o máximo. 

As vacas correm para ouvir a senhora a cantar. E canta bem, ela. Agora o que leva os animais a quererem tanto ouvi-la e a a ficarem, encostadas aos muros, para melhor a ouvirem? Bom ouvido? Sensibilidade apurada? Não sei e gostava de saber.

No meio das proezas e riscos da Inteligência Artificial, mudo de rota e deixo-me encantar com coisas assim.


Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Boas vibes. Paz.

domingo, março 26, 2023

Viver

 

Bem. Aquilo que vou mostrar abaixo é tudo o que é oposto em relação ao meu estilo de vida. Eu preciso de segurança, de conforto, se ter a certeza que o futuro está devidamente salvaguardado, quando estive grávida e dei à luz quis ter a certeza absoluta que estava bem acompanhada, com um bom médico, num lugar que tivesse equipamentos que pudessem vir a ser necessários, depois em boas escolas, depois preocupada com o futuro deles. Sempre a querer prevenir o dia de amanhã, como soe dizer-se, seja para mim, para eles e agora também já para os filhos deles 

Mas a verdade é que admiro quem pensa o oposto do que eu penso, quem age livre e despreocupadamente.

Acho que é como na pintura: nas minhas paredes o que tenho é alheio e é aquilo de que gosto (eu e o meu marido, obviamente). Mas, se me ponho a pintar, o que me sai é o oposto. 

Pode gostar-se do que nos é distante, a todos os títulos. Aliás, às vezes parece que até me sinto mais próxima do que me é mais distante.

Uma casa feita com as mãos, viver do que a terra dá, ter um filho no meio do nada, criar a criança na natureza e entre amigos, é algo que eu jamais quereria para mim. Sobretudo, acho que por ser medrosa. E digo isto pois não consigo evitar pensar como será quando as crianças sentirem que deveriam ter frequentado a escola, convivido na cidade com outras crianças ou quando ela for mais velha e precisar de cuidados médicos e precisar de sustento e já não tenho como provê-lo por si só. Mas, por outro lado, acho que deve ser uma vida boa, a dela, uma vida animal, dentro da natureza a que pertencemos, agradecidos com o que a terra e o ar e a vida e o tempo nos dão.

Ela vive numa construção clandestina e acredita que ninguém a tirará de lá pois é uma construção integrada na natureza, feita com os materiais da terra e porque, segundo ela, para todos os efeitos, pode considerar-se que é um construção provisória. Mas diz que, se a tirarem, ainda assim acredita que se sentirá feliz pois o que tem vivido ali já lhe valeu a pena, sente-se feliz pelo que ali tem aprendido e vivido. E isso chega-lhe. E eu compreendo-a.

Nos antípodas do estilo de vida dela, lembro-me do que um amigo me disse quando lhe contei que tínhamos resolvido vir viver para uma moradia rodeada por um jardim, fora dos centros urbanos. Disse-me ele que não foi opção que alguma vez tenha considerado pois pensa sempre que, quando um morrer, a casa ficará grande e solitária para o que sobreviver. Percebo-o muito bem. Mas disse-lhe que esse raciocínio nunca entrou na nossa equação pois mesmo que isso um dia aconteça (e é provável que aconteça), o que vivermos até lá terá valido a pena. Cada dia conta. E claro que cada dia pode ser o último. Mas não temos que estar a pensar nisso em cada dia, temos é que dar-nos por felizes por termos esse dia para vivermos.

Viver como a Isa vive, tranquila, no campo, e, ao mesmo tempo, integrando algum tecnologia, deve ser bom. Isa parece banhada por luz e, não sei se pela cor do cabelo ou dos olhos, parece que a luz também lhe vem de dentro. E a casa é bem bonita. Se calhar viver como vivem os animais, que não se preocupam com os acasos de que é feito o futuro, sentir apenas o tempo que alimenta a vida é a forma inteligente de se viver.

Vivo de maneira completamente antagónica mas admirar quem é o meu oposto ajuda-me a manter o equilíbrio, os pés n terra, a cabeça na lua.

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Abro um parêntesis para dar notícias do que referi aqui e aqui. No outro dia deixei-a no hospital, à noite. Acompanhei-a até a levarem para o internamento numa ala provisória pois na ala para onde deveria ir não havia vagas. No dia seguinte, de manhã recebi um telefonema. Informavam-me que a tinham transferido para outra unidade do mesmo hospital, um edifício a uns dez quilómetros. Fiquei admirada, pensando que lhe tinha sucedido alguma coisa. Não, apenas isso, tinha sido transferida. Provavelmente precisaram da cama onde estava (desde há não mais que umas quatro ou cinco horas). Quando a fui visitar, contou que de noite estava a dormir quando ouviu uma barulheira e alguém chamar pelo nome dela. Acordou assarapantada, pensando que era de manhã e que ia fazer algum exame. Não, era uma da manhã e ia ser transferida. Ficou espantada mas não lhe deram explicações. Puseram-na numa ambulância e lá foi.

Entretanto fez anos. Conseguimos que deixassem que fossemos os três, eu e os meus filhos, levámos um bolo com velas, cantámos-lhe os parabéns a você. Tirámos fotografias, a minha filha fez também um vídeo. Parece estar bem. Pelo menos está melhor do que quando deu entrada nas urgências, na quarta-feira à hora de almoço. Está a ser estabilizada, em vigilância. E far-lhe-ão mais exames para ver se fica boa para ir para casa. 

Diz que tem dormido bem, que tem comido bem, está bem encarada e bem disposta. No fim do ano passado esteve uma semana internada num hospital privado mas não gostou, estava sempre em dúvida sobre se não estava internada ou a tomar medicamentos desnecessários por mero mercantilismo. Ao princípio coloquei essa hipótese mas depois percebi que não. Ela não se convenceu. E aparentemente tanto lhe dá estar numa enfermaria com uma data de gente, com uma casa de banho no corredor, ou num quarto só para ela, com casa de banho privativa.

Este sábado, depois de a termos ido ver, juntámo-nos aos demais e fomos até à praia. Os meninos brincaram, comeram gelados, apanhámos sol, conversámos. Foi bom.

Claro que ando cansada. Primeiro foi o joelho, depois a covid, depois o pós-covid (que ainda dura) e agora esta situação que, sendo obviamente pior para ela, a mim também condiciona completamente os dias, tanto mais que é um bocado longe daqui e tenho lá ido todos os dias. Mas são fases, passam. E, desde que as encaremos com optimismo e algum leveza, tudo se vai resolvendo.

Claro que não tenho tido disponibilidade para rever o meu 'livro'. Nem tempo para agradecer os vossos comentários e mails. Leio tudo e agradeço-vos mas não levem a mal que não vos responda ou agradeça já.

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E este é o vídeo que mostra Isa a viver no campo, feliz da vida. Está legendado em português.

Jovem mora em caverna e dá à luz a filha sozinha

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Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Confiança em dias melhores. Paz.