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sexta-feira, maio 02, 2025

Clara Ferreira Alves: estou a ouvi-la no Eixo do Mal e fico estarrecida com os disparates que diz.
Alguém proíba esta criatura de opinar em público!

 

O que diz -- abordando com imprecisão, distorção e baralhação aspectos técnicos misturados com aspectos políticos -- deixa-me perplexa e revoltada. O meu marido, que tem o rastilho mais curto que eu, já fez várias tentativas de mudar de canal, furioso com os disparates que ela diz. Furioso, furioso.

Eu ainda não percebi se ela é ignorante sobre a maior parte dos assuntos, se é demagoga, indo acefalamente atrás da última coisa que ouviu, se é mal intencionada, se é, apenas, tonta. Mas fico chocada com as análises que faz. Troca-se toda, confunde alhos com bugalhos. Mas, como fala com arrogância e armada em boa, parece que ainda há quem compre o que ela diz.

E eu fico intrigada: não há ninguém na SIC que perceba que esta pessoa presta um péssimo serviço à opinião pública em Portugal? Caraças.

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Quanto ao Montenegro, esse cantor pimba que ocupa S. Bento, recomendo a leitura de Montenegro "apanhado", prosa linear e objectiva de Vital Moreira, bem como a de O padrão PSD, mais um tiro certeiro de Der Terrorist.

quarta-feira, abril 02, 2025

Clara Ferreira Alves e a 'manosfera' - a 'percepção' em vez da estatística
-- Isto para não dizer: a ficção em vez da realidade --

 

Li com algum espanto e até alguma pena o artigo da Clara Ferreira Alves no Expresso, "Manosfera, manual de combate". 

Parece que existe uma manosfera. Sempre existiu, sem ter meios de comunicação tecnoinclusivos ou nomenclatura e sociologia a gosto. Welcome to my world.

No mundo em que nasci, o da expansão económica do pós-guerra, e do nascimento das marchas e lutas dos direitos civis, a violência masculina era um dado adquirido. Nascer mulher era não só nascer imiscuída nessa violência e prisioneira dela como nascer forçada a aceitar essa violência. E considerá-la parte do estádio civilizacional da época. Ou seja, normal.

Começava em casa. O pai, ou pater familias, era o único detentor do poder paternal, do poder financeiro e do poder disciplinador, que exercia com maior ou menor benevolência. A mãe era o polícia bom, o pai o polícia mau, chamado a depor no tribunal do casal sempre que havia a ameaça de desobediência ou rebelião. (...)

Na minha família não havia sevícias físicas, mas a violência verbal do pater familias era assustadora. Era uma violência exercida sobre toda e qualquer liberdade residual que uma rapariga ousasse ter. O mundo estava medido e escolhido para ela. O que podia e não podia fazer era designado desde o nascimento, mesmo quando se aceitava que a rapariga estudasse. E “estudar” num curso dito superior não era assim tão comum. Mais comum era fazer o liceu, o secundário, e a seguir arranjar um emprego, talvez de secretariado, uma posição subserviente, ou de qualquer modo um emprego que implicasse saber datilografia. Escrever à máquina. Na pequena burguesia da época, a capacidade era considerada um trunfo. A seguir, a rapariga casava e o marido teria de ser alguém aceite pelas duas famílias. Depois de casar-se, a rapariga seria mãe e colocar-se-ia numa situação financeira de pura dependência em que era norma aceitar as infidelidades conjugais. (...)

Na escola de repetentes, fui confrontada pela primeira vez com abortos, alunas lésbicas, e as “galdérias”, as raparigas que tinham dormido com rapazes. Pairava uma insurreição na escola, e a violência no recreio era bestial. De besta. Dos rapazes sobre as raparigas. Era uma coisa nova, e foi uma educação. Descobri que fora do estreito círculo feminino, oprimido, a relação entre os sexos era eminentemente violenta.(...)

Ao longo da vida, as situações de violência e discriminação que tive de enfrentar ou sofrer, e foram muitas, não cabem aqui. Assisti a muitas mais. Mesmo depois do 25 de Abril, que mudou tudo e não mudou logo tudo, a violência continuava, exercida muitas vezes na clandestinidade. Como os abortos. Como as violações, nunca reportadas. A posição subalterna da mulher era um dado adquirido e sofrida em silêncio. A trabalho igual nunca salário igual. E continua. 

(...)

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Como escrevi acima, tudo o que aqui leio me espanta. Sou contemporânea de Clara Ferreira Alves. E, no entanto, se eu fizer uma resenha do que têm sido os 'meus tempos' e qual a minha experiência, quer como interveniente directa quer como espectadora, seria totalmente diferente.

O ambiente em que vivi nunca foi violento. Nunca testemunhei violências. Não digo que não houvesse violência. Haveria. Mas da mesma forma que não consigo dizer que eram tempos absolutamente tranquilos, todos eles peace and love, também me parece abusivo retratá-los como um farwest.

Em minha casa trabalhava o meu pai e trabalhava a minha mãe. Opinavam e decidiam de igual para igual. Talvez uma parte significativa das mães dos meus amigos não trabalhasse, até porque era um meio relativamente burguês, mas muitas trabalhavam.

Além disso, todas as minhas amigas desde a infantil, à primária prosseguiram para o secundário. E a grande maioria das minhas colegas de liceu seguiram para a universidade. E há várias engenheiras, gestoras (e médicas e professoras e psicólogas, incluindo de germânicas, e uma escultora e sei lá que mais). Todas escolheram o que quiseram. Se há alguma Secretária, desconheço. Não que isso fosse mau - simplesmente não era regra nem imposição nem coisa nenhuma.

A regra também não era casar, ter filhos e ficar na dependência do marido. Não conheço uma única que tivesse ficado na dependência do marido. E a minha melhor amiga engravidou antes de casar e eu e todas as minhas outras amigas não engravidámos porque tivemos mais cuidado.

O liceu em que andei era misto mas as aulas e os recreios não eram mistas. Contudo, no meu 3º ano, actual 7º, tal como aconteceu com Clara Ferreira Alves, criaram turmas piloto. Mas o piloto traduzia-se em serem mistas. Os melhores alunos, femininos e masculinos, na mesma turma, a turma A. A partir daí o liceu passou a ter um encanto suplementar. Nunca, nunca, nunca, houve qualquer episódio de violência masculina sobre as raparigas. Pelo contrário, eram os tempos da pré-adolescência e depois da adolescência, em que nos encantávamos uns com os outros. Havia sempre alguém que fazia anos e fazia festas em que se dançava, íamos ao cinema, só miúdos, no verão íamos à praia, um grande grupo supostamente vigiados pela mãe e pela tida de uma das minhas amigas.

Depois do 25 de Abril, na faculdade, nunca, nunca, nunca assisti a nenhum episódio de violência de rapazes sobre raparigas. Zero. Eram tempos de maravilhosa liberdade, de afecto, de descoberta.

Comecei a trabalhar aos 20 anos, dando aulas. Quer a nível de alunos e alunas quer a nível do corpo docente, nunca assisti a qualquer violência masculina. Nunca.

Tinha ainda 22 quando me mudei para o ambiente empresarial, indo trabalhar para uma das maiores empresas do País, uma empresa em que a larga, muito larga, a larguíssima maioria dos funcionários, incluindo os dirigentes, eram homens. No transporte para lá, eu era a única mulher. Durante anos só lidava com homens. Nunca fui alvo de violência, desconsideração, desrespeito. Nunca. Sempre ganhei o mesmo que os meus colegas homens. Progredi profissionalmente e em pouco tempo integrei o corpo de dirigentes. Durante muitos anos era a única mulher nas reuniões de gestão. Nunca me senti inferior, inibida ou prejudicada. 

Com o tempo começaram a aparecer mais mulheres em todas as funções, sempre a par e par com os homens. 

Nunca soube de violações mas assisti a vários momentos de assédio e todos eles foram de mulheres sobre homens. E, identicamente, nunca assisti a casos de assédio de homens mais 'poderosos' sobre mulheres em situação de 'inferioridade hierárquica' mas, pelo contrário, a mulheres que faziam de tudo para terem um caso com o doutor, o engenheiro, o director. 

Por isso, se não posso dizer que o artigo de Clara Ferreira Alves é pura ficção ou um disparate sem pés nem cabeça, o que posso dizer é que tendo eu trabalhado sempre em empresas muito grandes, frequentado meios muito diversos e sendo uma pessoa razoavelmente informada, o testemunho que posso partilhar é o oposto.

Sei que há casos, certamente mais do que deviam, até porque deviam ser zero, de violência de homens sobre mulheres -- mas estatisticamente são marginais. E claro que ainda há muitos grunhos, machistas, marialvas, abusadores. Mas são uma minoria. Os que há não chegam para tornar a sociedade, no seu todo, um antro de homens violentos, estúpidos, assediadores, prepotentes.

Uma das coisas que sempre achei nocivas para a sociedade no seu todo é a atitude das mulheres que se colocam no patamar em que Clara Ferreira Alves se põe: a de vítima, de ser inferior ou inferiorizado perante os homens. Em toda a minha vida pessoal e profissional nunca, nunca, nunca me apresentei assim ou me coloquei nessa posição. Nem tal me passou pela cabeça. E tendo chefiado durante quase toda a minha profissional grandes equipas, inicialmente predominantemente masculinas mas progressivamente cada vez mais totalmente mistas, nunca nenhuma pessoa das minhas equipas me acusou de privilegiar uns ou outros em função do sexo. 

O artigo da Clara Ferreira Alves deixou-me, pois, algo incomodada. E a única explicação que tenho para o que ela escreveu é que ela está a deixar-se tomar pela grave e, pelos vistos, contagiosa doença das percepções.

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Desejo-vos uma boa quarta-feira

sexta-feira, dezembro 13, 2024

Os 10 animais mais engraçados do ano -- para ajudar a digerir a Clara Ferreira Alves no Eixo do Mal

 

Mais uma vez estou a ver o Eixo do Mal. Como já deu para perceber, ver as actuações da Clara Ferreira Alves tiram-me do sério. É uma papagaia, fala de cor, empola o que diz para disfarçar a vacuidade do seu conhecimento. Cansa. Irrita. Vê os filmes todos ao contrário. Convenço-me até que não é apenas uma matraca falante e mal informada, que é mesmo pouco ou nada inteligente. E depois como fala sem pensar e sem saber do que fala, tão depressa diz uma coisa como o seu contrário.

O meu marido, de cada vez que ela fala, insurge-se e insulta-a à bruta, sempre a querer fazer zapping. E eu estou quase a fazer-lhe a vontade antes que a sujeita dê cabo da nossa saúde.

Neste momento está o Pedro Marques Lopes, muto bem, racionalmente, a desmontar a cegada que ela para ali esteve a armar. Aliás, está a dar-lhe uma rabecada das valentes. Se ela fosse inteligente (que não é), enfiava-se debaixo da mesa.

Não percebo porque é que a SIC contrata uma criatura como ela: alarmista, desbocada, fútil, mal informada. Praticamente tudo o que diz são tolices, ainda por cima mal fundamentada. Não deviam abrir-lhe um microfone à frente da boca pois dali não vem uma que se aproveite.

E o Luís Pedro Nunes, uma vez mais cavalgou a onda das bocas, e agora está a levar com a fúria não apenas do Pedro Marques Lopes mas também do Daniel Oliveira.

Mas quer o poupas quer a depenada têm uma característica: mal percebem que o que disseram não tem ponta por onde se pegue, ajeitam a conversa. Ela muito mais que ele, claro.

Por isso, para não me focar nem nela nem no vizinho do lado, desloco-me antes para um território mais divertido. 

Já no outro dia, a minha filha fotografou o nosso cabeludo mais fofo e enviou-nos a fotografia com um cheeeese como legenda.


E o que engraçado no nosso amicabeludo é que se faz à foto. Pedimos-lhe para se virar para nós e para esperar para o fotografarmos e ele, sempre tão teimoso e temperamental, neste caso aceita e olha para a câmara.

Hoje fomos ao centro comercial com ele. Adora. Mal sai do carro, puxa, puxa, todo feliz. Adora andar no meio da confusão. Mas, então, a graça de se cruzar com um também todo cabeludo mas que devia ser dez vezes mais pequeno que ele, branquinho, e com um casaquinho. O outro virou-se para o meu, todo entusiasmado. O meu virou-se curioso, olhou-o de alto a baixo e, imediatamente, virou-lhe as costas. Um desprezo olímpico. O outro ainda a querer festa e o meu a ignorá-lo em grande estilo.

Mas o que vos convido é a ver o vídeo abaixo onde se podem ver os 10 animais considerados com mais piada, no concurso The Comedy Wildlife Photography Awards.

The 10 funniest animal photos of the year | BBC Global

The Comedy Wildlife Photography Awards crowned the funniest animal photos of the year.


Uma boa sexta-feira!

sexta-feira, dezembro 06, 2024

E o Oscar para o melhor tricot no comentariado político vai para...

 

Começa as frases a defender uma coisa e, à medida que vai observando a reacção estupefacta ou desdenhosa dos colegas comentadores, inflecte, faz agulha e acaba-as a defender o contrário. E isto é o pão nosso de cada dia. 

Vê-se que vai para ali com os assuntos pela rama, geralmente é claro que não faz ideia do que diz, é leviana e superficial, diz-se e contradiz-se. Os colegas, por vezes incrédulos, por vezes incomodados, a maior parte das vezes mostram-se ansiosos por que acabe o chorrilho de asneiras que torrencialmente brota da sua arrogante boca.

Aliás, não é só a boca que é arrogante. É todo o fácies, desde o platinado e aparado penteado até aos olhinhos que tantas vezes revira, como se desprezasse o mundo ou os seres inferiores que o habitam.

Em síntese: quase nada do que diz faz grande sentido até porque enferma de labilidade extrema. Não dá para levar a sério.

E, contudo, exprime-se com grande cagança, vê-se como o supra sumo da batata doce, como se estivesse a opinar lá de cima, do olimpo. Não se enxerga.

Se há vezes em que vai com casaco de homem dez números acima ou com blusão de cabedal altamente coçado, a verdade é que é frequente ir com camisolas ou casacos de malha. Não sei se são confecção própria ou aquisição. Mas, seja como for, nos tricots é imbatível. 

E é por isso que o Oscar para os melhores tricots no comentariado político vai para... Clara Ferreira Alves. Of course.



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Caso queiram conhecer o Oscar para o penteado mais artilhado do comentariado, desçam um pouco mais.

E, caso também queiram conhecer o Oscar para a comentadora mais fofinha, é descerem ainda um pouco mais.

sexta-feira, junho 07, 2024

A Clara Ferreira Alves é mal informada, ignorante, demagoga, fala-barato, tendenciosa ou apenas intelectualmente destituída?

 

Pergunto.

E pergunto isto depois de mais um exercício de auto-flagelação ao forçar-me a ouvi-la no Eixo do Mal apesar de o meu marido ter estado aqui ao meu lado, furibundo, revoltado, insultando-a, querendo fazer zapping.... (Acontece que eu estava a querer ouvir o Pedro Marques Lopes e, portanto, achei que, por hoje, não morreria se tivesse que a gramar. Contudo, reconheço que aturar a pesporrência, a inconsistência, os disparates consecutivos, o populismo barato daquela mulher leva qualquer um ao desespero. Criatura horrível.)

sexta-feira, dezembro 22, 2023

Enquanto não tirarem a Clara Ferreira Alves do Eixo do Mal sou obrigada a ver o 24 Kitchen

 

Depois de termos visto a Bardot na 2, tentei passar para a SIC N para ver o Eixo do Mal. Estava o Pedro Marques Lopes a falar e estava a falar acertadamente, com ponderação. Ouvimo-lo. A seguir passaram para o Daniel Oliveira e distraí-me.

[Embora toda a gente me diga que deixe de tentar saber tudo pois não sou médica e hei-de sempre fazer leituras incompletas, não resisti e fui ao ChatGPT investigar uma coisa que ouvi a uma enfermeira, no hospital, e que não percebi. Pensava que tinha sido engano embora a minha filha, que me tem acompanhado -- e, desta forma, impedido de soçobrar [e que, com a ida ao CCB, conseguiu a proeza de me distrair e de fazer entrar ar fresco na cabeça] -- tivesse ouvido o mesmo. Quando contei ao meu filho, constipado, cansado e acabado de chegar de fora, acho que também lhe soou estranho. Na altura, pareceu-nos uma coisa tão fora de contexto que nem a minha filha, apesar de dominar bem muitas das matérias com que nos confrontamos, nem eu questionámos a enfermeira. E agora, enquanto o Daniel Oliveira dissertava, fui ver e já percebi. Faz sentido no âmbito em que foi dito. Compreendo melhor o que estão a tentar fazer. Relojoaria fina. Com pinças, um toque aqui, um toque ali, disse a enfermeira e disse o médico.]

Nisto, no Eixo do Mal, passam para a Clara Ferreira Alves e ali ficou por breves instantes. Foi o suficiente para o meu marido se enfurecer. Tentei que se acalmasse para tentar conseguir ouvir a conversa dela. Também não consegui. 

Se aquela mulher a mim me causa brotoeja, no meu marido o efeito é verdadeiramente anafiláctico. 

Com aquele arzinho arrogante e pesporrente, a empertigada senhora começou a dizer as alarvidades do costume. Não sei se está boa da cabeça pois tem ódios de estimação tão absurdos e tão insustentados que chega a causar aflição, isto já para não falar em vergonha alheia. 

O meu marido imediatamente passou para o 24 Kitchen e eu não tive como argumentar. Concordei. Qualquer coisa é melhor que a dita comentadeira.

Esta Clara Ferreira Alves é, neste momento e desde há algum tempo, um activo tóxico, muito tóxico, não apenas para a SIC Notícias como, direi mesmo, para o País.

Não sei o que leva a SIC a manter o contrato com esta criatura que se diz e desdiz, inconsequente, maledicente, fútil, inútil, impreparada, manda-bocas. Uma troca-tintas armada em chica-esperta.

Portanto, estou a ver a preparação dos repastos natalícios pela Nigella Lawson. É o que é.

Quanto ao demais, mormente ao tema que me tem trazido doente, parece que começo, aos poucos, a mentalizar-me para que a vida é isto mesmo. A gente pensa que já o sabe mas, quando nos bate à porta, parece que esquece. A enfermeira hoje dizia que o nosso corpo é uma máquina complexa, poderosa, incrível na forma como se ajusta e se recupera mas que, também, ao mesmo tempo, por uma pequena coisa se descontrola, por uma pequena coisa quase se perde. É mesmo. Se já o tinha constatado com outros casos, e muito fortemente, com o meu pai que tantas vezes estava mais lá do que cá e que perdia o andar, a fala, numa das vezes a capacidade de reconhecer números e que, depois, recuperava (até que deixou de recuperar e entrou numa recta descendente que o deixava angustiado e infeliz), agora, com a minha mãe isso parece ser ainda mais evidente e, por vezes, incompreensível. Mas, enfim, não vou falar no assunto senão começo, de novo, a enfiar-me naquele caminho estreito do qual me custa a sair.

Portanto, fico-me por aqui. 

sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Depois de um dia do caneco, constato que a Clara Ferreira Alves continua no Eixo do Mal. Pior: igual a si própria.
Há mistérios que jamais terão explicação.

 


Mais uma vez enganei-me. Na quarta-feira à noite disse ao meu marido que pensava que ia ter uma quinta-feira tranquila. 

Qual quê? Quando a gente acha que está a salvo deve ficar calada. Falar atrai.

Conto.

Cedo apareceu-me o cão ao lado da cama, danadinho para lhe saltar para cima e o meu marido a chamá-lo a ver se ele não consumava o acto.

Ainda estava a refazer-me, avaliando se ainda faria sentido voltar a adormecer, toca-me o telefone. 

Uma dúvida sobre um tema complicado. Ainda à fresquinha (pijamas e camisas de dormir não são comigo) levantei-me e, para estar longe do urso peludo (não fosse pôr-se em pé para me fazer festas e arranhar-me de alto a baixo), fui enregelar para o escritório do lado. Telefonema longo. Problema complexo envolto em mil dúvidas.

Antevi logo que a coisa tinha tudo para ficar complicada. Como estas coisas do capeta nunca vêm sozinhas, juntaram-se vários factores e o meu marido, também cheio de telefonemas e afazeres e tendo que sair antes da hora de almoço, sugeriu que fossemos fazer uma rápida caminhada não fosse não haver outra oportunidade no resto do dia. 

Lá fomos. Mal pus o pé fora de casa, outro telefonema, um que queria reunião urgente. Tentei descartar-me, disse que não era tema apenas meu. Sabendo da agenda superlotada do outro, pensei que aquela reunião urgente seria agendada para o dia de são nunca. Comentei: 'Acho que desta já me livrei'.

Errado. Mais uma vez falei quando devia era ter ficado calada. Atrai, é o que digo. É que o dia estava fadado a ser um dia não -- passado um bocado, nova chamada: era esse mesmo a saber que raio de reunião era aquela. Uma estupidez de uma reunião, disse eu. Vontade de a ter: bola. Mas, sopesados os prós e os contras, acabámos por aceitar fazer a reunião na parte da tarde. Lembrei-me do outro, a confortar-me, anos antes: todos temos uma cruz para carregar.

Resumindo: nem dei pela caminhada.

Em casa, também mal tive tempo para comer uma mísera sopa, um mísero ovo e uma simples salada. Mais telefonemas, mais mails. Depois a reunião. Uma coisa enervante. Calma, maria-odete, pensei cá para mim a cada cinco minutos. 

A seguir, quando a xaropada acabou e me dirigia à cozinha para comer uns cajus e uns arandos, pensando que já não poderia aparecer mais nada para me chatear a cabeça, outra pessoa a ligar, se eu podia participar numa reunião. Não gritei por um triz. Caraças. Depois mais telefonemas. E mais essa reunião descabelada. E mails e apresentações para ver.

Quando chegou o meu marido estava eu ao telefone, irritada. Disse-me: 'Não tinhas dito que ias ter um dia tranquilo...?'. Pois. Limitei-me a encolher os ombros pois estava ao telefone . 

Há bocado sentei-me aqui e, enquanto ele adormecia no sofá e o cão dormia a sono solto no chão, adormeci também.

Acordei agora com ambos a irem para a cama (cada um para a sua, bem entendido). 

Enquanto tentava perceber quanto tempo tinha dormido, ouvi na televisão uma ave esganiçada, veias do pescoço salientes, ar sobredotado. Era a dita. Insurgia-se contra os portugueses que não sabem fazer nada, que não atinam, que já vem do tempo do Eça, que nunca foram capazes de fazer porcaria nenhuma. Notoriamente, a iluminada criatura, deve achar que não faz parte do grupo dos indigentes mentais dos portugueses. Será que acha que é chinesa? 

Tentei concentrar-me, numa de benefício da dúvida. Com muita paciência e tolerância, a modos que deixa cá ver se não sou eu que estou com os dois pés atrás, esforcei-me por lhe prestar atenção. Mas -- lamento -- não. Nada do que a senhora diz se aproveita. Mistura ironia, sarcasmo, desprezo, arrogância. Mas como tudo tem por base um zero absoluto, tudo aquilo resulta numa chachada.

Aliás, tudo o que se diz em volta daquela mesa é um exercício de parvoíce, de gabarolice, de pretenso humor. Não se aprende nada. Não se aproveita nada. Não sei qual a justificação para aquilo.

Se eu fosse responsável pela programação da SUC despedia-os a todos. Mas a que mais rapidamente ia de patins era esta insuportável criatura, que não diz uma que seja fundamentada. Ouve uma aqui, outra ali e vai para ali armar-se em letrada, em superior.

Não há pachorra. 

Nem sei porque é que isto ainda dá na SIC N. Vou fazer zapping ou espreitar a HBO e a Netflix. Puxa. Depois de um dia como o de hoje era o que me faltava era ainda ter que estar a aturar esta gente. Livra.

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Para ver se o post não é uma treta pegada, descobri estas fotografias no Guardian. Fazem parte de LensCulture Art photography awards 2022. Vêm acompanhadas pelos U2 com Stay (Faraway, So Close!)

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Desejo-vos uma boa sexta-feira

Confiança. Esperança.  Saúde. Alegria. Vida nova. 

sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Qual é a pessoa qual é ela que anda sempre a surfar qualquer onda sem ter inteligência e habilidade para perceber a qualidade da onda?
Qual é a pessoa qual é ela que não acerta uma mas que erra com a cagança que costuma estar reservada aos que acertam sempre?
Qual é a pessoa qual é ela que tem a maior cara de pau, dizendo uma coisa e o seu contrário sempre com a petulância dos seres superiores?
Qual é a pessoa qual é ela que, mediante a dimensão dos seus juízos errados e dos seus raciocínios avariados, em vez de se demitir e nunca mais nos aparecer à frente, aparece sempre como se não fosse nada?
Quem é a pessoa qual é ela que não apenas tem cabecinha de alfinete como, pelos vistos, a tem vazia?

 

Penso que mais do que adivinhas, estas são perguntas retóricas. Branco é, galinha o põe. 

Mas, a quem tenha dúvidas, aconselho a rever o Eixo do Mal desta quinta-feira e o compare com o da semana passada. 

E, para quem não aguente (o que se percebe porque, na realidade, não se aguenta!), aconselho vivamente a leitura atenta do Completely SICk. Lê-se e não se acredita. 

Só mesmo a Clara Ferreira Alves para falhar tanto, falhar tão grosseiramente, falhar tão ridiculamente.

Transcrevo uma parte do que o Valupi transcreveu:

«António Costa escreveu o manual "Como não fazer campanha eleitoral - Erros a não cometer". Conseguiu cometê-los todos. Ele pode estar a milímetros de acabar ingloriamente a sua carreira política. Não há cargos europeus para quem perde eleições neste cenário.»

«António Costa partiu com aquela soberba que lhe é peculiar e acabou a fazer uma espécie de discurso de caixeiro-viajante à porta a vender escovas e sabões.»

«António Costa foi errático e isto dá uma aparência de desonestidade intelectual. E isso é muito grave.»

«Ele não é capaz de negociar consigo mesmo. Lá naquela bazófia, ele está visivelmente nervoso e sua de pânico porque sabe que pode estar a muito pouco de perder, e de perder tudo. E de rematar uma longuíssima carreira da pior maneira. Rui Rio está contente, evidentemente.»

Clara Ferreira Alves – 27 de Janeiro de 2022

Clara Ferreira Alves, a maior perdedora nas eleições legislativas 2022: 

mostrou à saciedade que não acerta uma, que não é intelectualmente honesta, que não é perspicaz, que não sabe ler a sociedade, que é uma catatua papagueante, que é uma cabeça vazia, que não tem vergonha na cara


Agora, já com António Costa vencedor, o PS com uma maioria absoluta, é vê-la, sem vergonha, armada em esperta, a louvar o Costa, a explicar porque é que o Costa ganhou, a cair sarcasticamente e a pés juntos em cima do Rui Rio. 

É isto o que a SIC tem para nos servir? Acha a SIC que somos parvos? Acha que temos paciência para isto?

Não percebo, mas não percebo mesmo, porque é que a SIC continua a contratá-la. Claro que o Luís Pedro Nunes também não dá uma para a caixa, um misto de candidato a parodiante histriónico e de aluno cábula. Também não se percebe em que qualidade é contratado. Dos outros dois, Daniel Oliveira e Pedro Marques Lopes, agora não digo nada, já dou de barato. No meio de tanta mediocridade, a gente já dá o desconto aos que conseguem ter uma conversa mais estruturada. Podem, com alguma frequência, dar alguns pontapés na lógica, na gramática, na história, na verdade dos factos, etc, mas, pelo menos não são tão desmiolados, descarados, despudorados, impreparados, desrespeitadores da inteligência de quem os ouve, etc, como os outros dois.

Entre Luís Pedro Nunes e Clara Ferreira Alves, esta ainda é pior. Poderia parecer difícil mas não: Clara Ferreira Alves é mesmo do piorzinho que por aí há. Parece que o Balsemão gosta de ter por lá coisas assim, gentinha sempre pronta para fazer o frete. E, quanto mais acéfala é, mais prestimosa essa gente se mostra. Escrúpulos não têm, vergonha também não. Por isso é vê-los. 

Quanto a CFA ser pior que o LPN: é que Luís Pedro Nunes se apresenta como um comediante, está ali só mesmo para largar umas larachas. Ela não, ela apresenta-se como se soubesse o que diz. Pior, apresenta-se como se só ela é que soubesse o que diz. E uma arrogância sem razão de ser é simplesmente manifestação de falta de inteligência.

Depois da barracada do que disse às vésperas das eleições, se eu fosse ela, obviamente demitia-me. Mas não. Já está noutra. Quem a ouça parece que sempre disse o contrário do que disse. Quem não faz ideia do que diz nem sabe do que fala, quem se exprime cavalgando ondas sem sequer perceber se são ondas a sério ou ondas fake e, pelos vistos, sem sequer saber o que é uma onda, está ali, na televisão, a fazer o quê? A vender banha da cobra? Mas... a vender a quem? Há compradores para banha da cobra?

Não há pachorra. Não há mesmo.

quinta-feira, agosto 05, 2021

De sexo bem aviado e de boca colada ao ouvido

 


Como é que um lugar como a Faculdade de Ciências, com os seus professores catedráticos e eminências muitíssimo pardas, podia rivalizar com o magnetismo pecaminoso dos 'imperadores do Chile', chulos que prostituíam as raparigas do bairro, engatatões que se contentavam 'com as sobras das desenganadas do Clube Estefânia, das academias recreativas ou dos tristes bares do Intendente'? Que professor monocórdico podia ensinar tanto sobre a vida como os 'carteiritas mal-engonhados que andavam à babugem', a fauna dos bailes dos Bombeiros, da Rádio Graça, das Manas Pretas, do Incrível Almadense, dos Alunos de Apolo, os jogadores de batota que se reuniam em casas clandestinas, os 'bilharistas às três tabelas, batedores de sueca brava ou praticantes de dominó em sintaxes ardilosas', 'um Al Capone viseense que fazia os negócios numa leitaria da Almirante Reis enquanto acariciava os anéis', uma Dona Sol, manicura de 'ancas majestosas', os homens com alcunhas dignas das personagens do submundo nova-iorquino -- 'Mãos de Seda', 'Mil e Quinhentos', 'Ganso', 'Carlos Chófer', 'Dente de Ouro' -- ou esse inesquecível Simas Anjo que, na Sociedade Recreativa Vitalense, em Campolide, templo de bailes com orquestras de cordas e bufete -- 'pede-se aos cavalheiros o favor de acompanhar as damas ao bufete' -- 'dançava de sexo bem aviado e de boca colada ao ouvido da garina para que ela o escutasse por entre as pernas'?

Mesmo que se esforçasse muito e conseguisse boas no Desenho de Máquinas, Geometria Descritiva, Estereotomia e Física, que futuro é que isso lhe oferecia? Quando muito, via-se como um professor medíocre de liceu, a exibir nas salas de aula o seu tédio e resignação a manadas de alunos na sua maioria desinteressados. Não, a faculdade também não era lugar para ele. Mas haveria um lugar para ele?

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José Cardoso Pires aparece aqui retratado por Júlio Pomar e por Abel Manta e descrito por Bruno Vieira Amaral em Integrado Marginal, biografia de José Cardoso Pires.

Simone Távora Stross é a compositora de Valsa lenta que é interpretada por Arnaldo Rebello ao piano

O título deste post, extraído do pequeno excerto que acima transcrevi, é deliberadamente provocador e mais não pretende do que chamar a atenção para este livro que, até ver, me está a sair melhor do que a encomenda.

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Já agora, José Cardoso Pires por ele mesmo




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Desejo-vos um dia feliz

sexta-feira, outubro 30, 2020

Eh pah... mas ninguém tira a Clara Ferreira Alves da televisão porquê...?

 

Sem querer, passei pela SIC Notícias e aqui está ela, no Eixo do Mal, feita histérica, revoltada contra tudo e contra todos, contra incertos, contra o ar que se respira, contra os outros que respiram o ar que, se calhar, não era para ser respirado. O que é que ela diz? Não faço ideia. Com palavras avulsas proferidas com um ar ressabiado, assanhado, ela antecipa desgraças, fatalidades, cataclismos, toda a espécie de fenómenos sinistros. Ela superior a tudo e a todos, dizendo parvoíces, banalidades, contradições parvas, e tudo com ar furioso, toda ela arrogância, acusa o Governo, acusa as pessoas, acusa o vírus, acusa não se sabe bem o quê. 

Tudo espremido, o que ela diz vale zero. Zero. Nem o penteado lhe vale. Pelo contrário, acentua-lhe o ar de galinha espremida das ideias. Fútil, populista, leviana, fala-barato, transbordante de vã soberba, intragável. 

Enquanto ela fala, o Pedro Marques Lopes olha-a incrédulo. Vai ter que aturá-la até ao fim do programa. Eu não. Bye, bye Madame Cagona.

sexta-feira, agosto 21, 2020

Estantes, maminhas, marteladas e etc.




Acordei com uma dor numa perna. Tantos esforços tenho feito, tantos pesos tenho carregado, tão abaixo e acima tenho andado, debruçando-me nas caixas, esticando-me para arrumar os livros, alguns em prateleiras bem altas, livros e o demais,  que algum músculo se esticou para além da conta. Em simultâneo o trabalho, as reuniões, os telefonemas, e sempre a correr, sempre a pensar no que falta fazer. E, portanto, o corpo deu de si. Em mim, volta e meia, o muito esforço manifesta-se assim. Posso carregar caixas como um estivador que até eu fico espantada com a minha força, posso trabalhar dias a fio, horas a fio, e toda a gente acha de mais e me pede que abrande e eu só percebo que estou cansada quando aqui, à noite, caio instantaneamente a dormir. A energia e a resistência física não me faltam. Mas a ligação dos músculos aos ossos não deve ser das mais famosas. Acho que é aí, em cima, na zona de uma das virilhas, que me dói. Já tomei um ben-u-ron pois fomos ver se comprávamos candeeiros (e uma broca e buchas e extensões) e fiz mais uma máquina e tive uma reunião complicada e fomos ao supermercado. E, como estava com aquela dor e toda coxa, não tive outro remédio senão tomar um comprimido. Mas não arrumei livros nem deu para me esforçar muito, seria impossível.

De manhã, o meu filho veio com os meninos buscar as bicicletas para irem pedalar. Depois vieram largá-las e foram à vida deles. Mas estava em reunião nem consegui estar com eles. Ao fim da tarde vieram para fazer o favor de colocar as portas nas sacanas das estantes cor de rato quando foge. Desisti de me meter em trabalhos. Não era isto que eu queria mas a verdade é que, vendo bem as coisas, sendo benevolente e ceguinha, a coisa até é capaz de ficar com uma certa pinta. Uma parede toda em clarinho e outra, em perpendicular, toda em platinado foncé. Quando lá tiver os livros dentro logo faço a minha avaliação final. Como não gosto de me martirizar, quando acho que não vale a pena o desgosto, marimbo-me para as reticências e faço por descobrir vantagens. Na volta é a isto que se chama optimismo. 

A minha menininha mais linda queria ir trabalhar, ajudar-me, queria arrumar livros. Como eu estava impossibilitada, tal a dor, fomos sentar-nos na chaise longue que fica entalada entre a dita estante e a janela. Os parapeitos aqui são baixos e, por isso, ficamos a ver a rua, o jardim. Ela encostada à parede, entre a estante e a janela, eu reclinada no encosto. Ali estivemos a conversar. Adora estar cá. Disse-me que já escolheu a cama. Diz que o irmão a seguir fica na outra. A mãe perguntou onde fica o bebé. Ela disse que fica ou com ela e com o mano. Depois acrescentou: tu e o pai dormem no outro quarto. A mãe riu: ah, nós também dormimos cá? Ela sorriu, fez que sim. A mãe respondeu-lhe: 'Não... eu e o pai vamos mas é passar a noite a um hotel...'. Ela disse: 'Está bem'. E sorriu, toda contente. 

O mais pequeno queria ir à viva força para a cave, queria que eu fosse abrir-lhe a porta. Não fui. Expliquei que não havia ninguém para ir com ele. Disse que não fazia mal. Depois disse que podia ir o avô. Expliquei que o avô estava a acabar uma coisa, que tinha mesmo que acabar, não podia falhar. Depois perguntei-lhe: Mas queres ir lá para baixo fazer o quê? Respondeu: Para ir descobrir coisas. De facto, esta casa é uma verdadeira arcazinha do tesouro. Entre os recantos (e o que eu gosto de recantos...) e o que os anteriores donos cá deixaram, há sempre, de facto, coisas para descobrir. De vez em quando, a senhora, quando andava nas suas mudanças, perguntava-me se podia deixar algumas coisas. Eram coisas difíceis de retirar ou transportar, que não lhe serviam na casa nova. Tenho ideia que disse que sim a tudo. Vasos muito grandes, alguns candeeiros, prateleiras, arcas de madeira, uma mesa metálica que pesa toneladas e que, aproveitando os possantes homens das mudanças, veio para debaixo do telheiro. Portanto, de vez em quando, em especial na cave e garagem, vejo coisas que não sei bem para que servem. Por exemplo, uns módulos de gavetinhas. O meu marido perguntava no outro dia: 'Para que é que os gajos quereriam isto?'. Não faço ideia. 'Para guardar facturas, coisas assi...'. O meu marido achou que não: 'Só tu é que ias pensar numa coisa dessas'. Pois bem. Ontem, para minha surpresa, vi que já ocupou um módulo. Buchas, pregos, parafusos. Só o vi usar uma gaveta mas, na volta, vai organizar as suas ferramentas e afins por gavetinhas.

Mas o bebé não sabe disso. Se soubesse, então, ficaria curiosíssimo. Gosta de montar coisas. O pai até lhe ofereceu um martelo a sério. Quando o vejo de martelo em punho fico em pânico, a temer que me destrua a casa. Mas, até ver, ainda não.

O mano do meio é de outro calibre. Estava a ver televisão e, de repente, deixei de vê-lo. Chamei, chamei. Nada. Fui em busca, de divisão em divisão, e nada. Depois vi a luz da casa de banho acesa e pensei, ora, coitado, já não pode ir à casa de banho em paz. Passado um bocado a irmã veio dizer-me: o mano não está na casa de banho: ele é muito esperto, acendeu a luz e fechou a porta para nos enganar. Chamei por ele e ouvi a voz a vir da sala. Perguntei-lhe: 'Onde estavas?' Respondeu-me, com ar lampeiro: 'Estava aqui...'. e eu: 'Não estavas nada. Diz lá.' Detectei-lhe um arzinho de quem queria disfarçar a matreirice. E aí tive um lampejo: 'Não me digas que foste outra vez a procura daquele livro...'. Desmanchou-se: 'Descobri outro também com mulheres nuas...' e fez um ar malandro. Só me ocorreu dizer: 'Não posso crer. És maluco'. Não disse mas pensei: sai ao pai que, era quase bebé e já todo ele se entusiasmava com maminhas. Tudo o entusiasmava: fotografias, estátuas, manequins em montras. Pois quem sai aos seus não degenera e cá está o mano do meio, oito anos acabados de fazer, sempre empolgado com seios femininos.

E depois, uma vez montadas as portas das estantes, lá foi o casal fazer uma corrida e, uma vez regressados, lá se foram os cinco.

E eu fui trabalhar e o meu marido lá continuou. Depois fiz os meus telefonemas. Depois fui fazer o jantar. Jantámos às dez e meia da noite. 

Uma vez aqui chegada ao sofá, ainda circulei pelos jornais a ver se alguma coisa puxava por mim. Pode andar por aí meio mundo às turras, os médicos e o Costa, o Rio e o Albuquerque armados em não sei o quê ou pode o Marcelo andar feito nadador-salvador, pode a imprensa e as redes sociais andarem com o André Populista ao colo ou pode o Chiquinho-bebé andar a brincar aos partidos... que eu, Caro Anónimo, não sei se é das canseiras, se é da falta de pachorra para coisas assim, a verdade é que nada disto me dá pica para escrever sobre.

O que me interessa é seguir o conselho do Amofinado sobre o reencaminhamento do correio, o da Gata Aurélio sobre a forma de fixar quadros sem furar paredes (já cá cantam, já os trouxe do Leroy), a solidariedade do Francisco quanto à corzinha arratada da estante, a empatia da querida Sol Nascente e a todos que, em comentário ou mail, me deixam palavras sempre tão simpáticas e a quem aqui deixo os meus agradecimentos.

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E usei aqui pinturas de Wassily Kandinsky ao som de Max Richter: Never Goodbye.

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Entretanto, adivinhando que ando à volta das minhas estantes, o meu amigo algoritmo tinha estes vídeos aqui abaixo para me sugerir. Não é a primeira vez mas é o género de vídeo que posso ver várias vezes pois descubro sempre alguma palavra nova.

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A estante do Pedro Mexia


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A estante de Clara Ferreira Alves

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A estante de Rui Cardoso Martins


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A estante de Teolinda Gersão


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E uma bela e feliz sexta-feira

quarta-feira, fevereiro 26, 2020

As estantes deles. E alguns dos livros que arranjaram guarida in heaven. E o que os livros que escolhemos dizem de nós.
E outras coisas.





Há sempres partes dos meus dias de que aqui não falo. Mesmo quando parece que falo de muito, em geral aquilo de que falo não é senão o que se passa in between. Geralmente também não falo do que me preocupa enquanto me preocupa. Quanto muito, falo quando já não estou preocupada. 

De vez em quando sou surpreendida com comentários que nem chego a publicar ou mails nos quais as pessoas querem mostrar-me que conseguiram traçar as linhas que juntam os pontos que me definem e só falta desenharem o que pensam ser o meu retrato robot. Pasmo. Mas, se calhar, pasmo porque sei que o que omito é mais do que o que revelo. Mas aos ousados que me escrevem a evidenciar a prova da sua inteligência não passa pela cabeça que jamais se pode traçar um perfil e, muito menos, enchê-lo com carne e espírito, quando, na realidade, pouco se sabe de uma pessoa.

Mesmo que eu aqui expusesse os meus dados biográficos, o meu curriculum vitae detalhado, a minha ficha clínica e as actas das reuniões em que participo não se poderia concluir muito. A vida de uma pessoa é sempre tão mais do que aquilo que parece ser.

Mais: mesmo de pessoas cuja vida se pode consultar na wikipedia, que têm presença regular na comunicação social e na vida pública e mesmo quando praticam um estilo quase confessional, dificilmente se pode concluir que as conhecemos. Por exemplo, quem nos garante que, em privado, não se desdobram em disfarces ou que cultivam segredos ou que alimentam vícios inconfessáveis ou que escondem amores intangíveis? Ninguém garante.

Portanto, ninguém conhece ninguém, excepto, quanto muito, quando se trata de pessoas bidimensionais, desinteressantes até à quinta derivada, pessoas que se comprazem numa vida de inutilidade absoluta. Conheço pessoas assim. Olha-se e dir-se-ia que são pessoas que vivem vidas absurdas de tão desprovidas e nulas que são e, no entanto, são felizes nas suas rotinas e gestos inúteis. Dou por mim a pensar que, justamente, talvez sejam essas as pessoas que me melhor interpretam o absurdo ofício que é viver. 

Estou com isto pois hoje, de tarde, estando no campo, dei por mim a olhar alguns dos livros que por lá param. Geralmente são livros que levo para ler e que acho que é melhor lá ficarem para os completar no fim de semana seguinte ou para quando tiver tempo. Ou livros que acho que é melhor que estejam à mão quando quiser ir ler à sombra. Ou livros que quero ler com mais tempo, talvez nas férias. E pensei: será que, por estes livros desirmanados, alguém poderia decifrar o meu ADN?

Fui buscar a máquina e fotografei alguns dos montinhos. Ao ver agora as fotografias descobri alguns, poucos, uns dois ou três se tanto, que não sei bem o que são. Provavelmente esses ficaram justamente por não saber isso mesmo: o que são e onde melhor se encaixarão. 

Já agora, a propósito, um apontamento confessional: andei a ver aquilo de que a casa está precisada. E é tanto. Falta-me tempo para deitar mão a isso mas não poderemos adiar por muito mais. A parte mais antiga precisa de pintura por fora e por dentro, as madeiras do chão e do tecto precisam de óleo protector. Se calhar no chão, cera. Gosto muito do cheiro da cera. Dá mais trabalho mas o cheirinho é um consolo.

Também estive a abrir os roupeiros dos quartos que eram dos meus filhos e constatei que estão cheios de roupas que eram deles. Penso que jamais as voltarão a usar mas, com alguma esperança, iludo-me que, talvez um dia aos miúdos, os seus filhos, lhes dê jeito usar alguma daquela roupa, ou porque se sujaram  ou porque se molharam. Mas tenho que rever o que ali está pois o mais provável é que tenha os armários cheios de coisas inúteis.

Entretanto, a minha filha pediu que tentasse encontrar os seus livros de pautas de quando estudou piano. Por isso, fui ver a grande estante que está na despensa e que, quando comprámos a casa, estava em lugar de destaque na sala da lareira, e descobri não apenas imensos livros e brinquedos de ambos, de vários escalões etários, bem como cadernos e livros da escola -- e também pensei que não sei se faz sentido ter aquilo tudo ali, entocado e inútil. E, como sempre acontece quando procuramos alguma coisa, tudo menos pautas. Fui, então, à casinha lá fora onde estão as máquinas de cortar mato, a serra eléctrica, tintas, uma mesa de ping-pong, uma mesa de plástico desmontada e uma grande arca antiga, de sândalo, trabalhada, e para a qual nunca descobri um lugar digno e visível. Pensei que talvez as pautas ali estivessem. Mas não. Estava um grande saco com cobertores e um outro com lençóis bordados e com rendas. E isso encheu-me de pena. Eram de tias do meu marido, talvez até dos avós. Na altura, tive pena de deitar fora coisas que eram tão estimadas e que estavam numa casa tão bonita, tão bem cuidada. O meu marido queria deitar fora, dizia que nunca iríamos utilizar. Não fui capaz. Mas agora, ao ver que tinha posto ali as coisas e que nunca mais delas me tinha lembrado, pensei também que tenho que repensar algumas decisões. Guardo coisas que penso que têm memórias associadas a elas, coisas que, daqui por algum tempo, alguém possa gostar de conhecer. Mas quem? Quando? 

Mesmo os livros. Receio o que um dia lhes venha a acontecer. As pessoas têm as suas casas e elas não são elásticas, podem não conseguir acomodar o que lhes possa ser destinado. Vi quando foi dos meus avós, de qualquer deles. Nenhum dos meus primos quis ficar com alguma coisa. Disseram que não tinham onde pôr. Pude ficar com tudo o que quis mas, verdade seja dita, pude porque tenho uma casa no campo, com espaço.

Ao ir agora escolher uma música para ouvir enquanto escrevo, o YouTube tinha para me mostrar estantes em casa de pessoas conhecidas. Claro que vi todos os vídeos, e com que interesse os vi. Uma estante é um mundo e o amor que se tem a cada um dos livros que ali está transporta um pouco de nós para aquele lugar que, para quem ama livros, é do domínio do sagrado.
Mas fico a pensar, tal como penso em relação a mim: o que acontecerá quando a pessoa for desta para melhor e alguém se vir a braços com tudo isto, tendo que dar destino a todos estes volumes? 
Há coisas que fazemos que só fariam sentido se vivêssemos eternamente. Assim é tudo meio louco. E o melhor é nem pensar nisso.

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E estas são algumas das estantes de alguns deles








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As fotografias foram feitas esta terça-feira in heaven e achei que uma Bachianas Brasileira de Villa-Lobos vinha mesmo aqui a calhar
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Desejo-vos uma bela quarta-feira


sexta-feira, fevereiro 01, 2019

A tal da rede que era Sofia que era Cláudia e que morreu e por quem Nuno se apaixonou -- e que afinal ressuscitou porque era outra.
E a Clara do Mal. E o Bercow do Bxt.
E duas adivinhas para rematar.




O dia, como ontem avisei, foi mais repleto que um ovo. Mas não foi ovinho de codorniz ou ovito da franganita. Não senhor. Foi um big ovo. Ovo de avestruz. Talvez até de dinossauro. De dinossaura new age. E mais que ser big, foi intenso. O chamado ovo intenso.


No fim, alguém me veio perguntar como tinham corrido as coisas. Não quis dar conversa. Encolhi os ombros e disse que achava que sim. Disse-me ele: Está nas suas mãos.

Não lhe disse mas pensei que nunca tanto na minha vida como hoje tinha sentido que, de facto, está nas minhas mãos. Totalmente nas minhas mãos. Uma sensação um bocado estranha. Não posso contar com mais ninguém do que comigo nas decisões, nas orientações. No fim haverá decisão colegial mas sobre o caminho que eu, de minha lavra, tiver traçado. Mas sei lá eu qual o melhor caminho? Posso até saber qual o melhor caminho em geral, mas sei lá qual o melhor caminho para mim? Não sei pensar quando faço parte da equação. Só sei ir em frente, desbravando, fazendo o caminho, sem saber se tenho pernas e braços para a empreitada. 

Seja como for, a verdade é que acho que o carro foi posto em marcha e agora para a frente é que é caminho. 


Mas como parece que na minha vida nada é em pequena dose, ao mesmo tempo aparece-me mais um caminho, um segundo, num outro contexto, num outro lugar, e pedem-me que o desbrave. E dizem-me: damos-lhe os melhores para a ajudarem na caminhada. E eu sinto-me pequena face à dimensão do que me pedem por um lado e do que, por outro, eu quero fazer.

E talvez porque seja muita intensidade e muito ovo, uma verdadeira omeleta de cenas, a verdade é que hoje, pouco depois de aqui estar, adormeci.

Esta sexta-feira é outro dia especial mas por outras razões e vai começar cedo e, palpita-me, vai ser outro dia dos bem preenchidos. Aqui no meio das sonecas, vou tentando organizar a logística do dia mas porque, enquanto acordo e adormeço, tenho a Clara Ferreira Alves, catastrofista e superior, a falar alto demais -- o que perturba o meu fim do dia -- não estou a conseguir concluir se devo ir ao supermercado à abertura e depois vir a casa depositar os víveres ou se devo tentar vir mais cedo à tarde. E agora que escrevo isto reparo que o Eixo do Mal fez um step in e ocupou o espaço da Quadratura do Círculo que se desbaldou para a TVI e que vai ter o ubíquo Marcelo a abrilhantar a vernissage. Na próxima, para equilibrar, tê-lo-emos ao colo dos paineleiros do Mal.  Baralhar e dar de novo.

O vídeo que mostraram no fim do Eixo a ilustrar a cavalice dos juízes que julgam os casos de violação suspeitando da conduta das vítimas é que vi com atenção e foi bom. De resto, tenho para mim que não perdi grande coisa. Para ser bom, tinham que dar banho à Clara a ver se ela larga aquela peneirice aguda que a torna intragável. E isto ela, porque os outros não me assistem.


Antes de começar a escrever isto, e nos intervalos de cair morta de sono, tinha estado a ver mais uma exorbitante e extraordinária intervenção de Bercow, o meu Speaker preferido. Fala bem, ele. No meio do histrionismo e da graça, ele fala bem, frases inteligentes e boas de ouvir. Aqueles ingleses estão marados, perdidos da cabeça, autênticos bifes a andarem à volta do rabo. Aquele parlamento é um carnaval gerido por um Bercow que dá um baile de dar gosto.

Quando aqui me sentei, pus a box para trás para ver aquela maluqueira da Rede no final do noticiário das oito na SIC, aquela cena doida de uma varrida que se desmultiplicou em perfis falsos, enredando meio mundo em histórias inventadas. No fim, viu-se o vulto da criatura a falar com a Conceição Lino: quarenta e tal anos, divorciada, com filhos, professora do ensino básico. Era, então, a tal que se fazia de Sofia (e de irmã e mãe de Sofia e de amiga e de sei lá quem mais) -- Sofia essa que, afinal, era Cláudia que não sabia de nada do que se passava. A dita criatura gastava centenas de euros em telefonemas para simular que era várias, telefones distintos, fingindo vozes diferentes. Coisa assustadora. Gente doida dá com os outros em doidos. Nem sei o que pensar de uma coisa destas. O que move gente assim? O prazer de enganar os outros? São doentes a precisar de internamento?

Pelos vistos o juíz resolveu a coisa condenando-a a indemnizar os queixosos numas centenas de euros.


E agora vou dar três pontos no arraiolos antes de cair de vez para ver se consigo ir para a cama a pé.

E, na despedida, duas adivinhas que a minha menininha mais linda me contou no outro dia:
1. O que é que um pato diz a outro pato?
2. Como é que se faz uma omeleta de chocolate?
E, antes de ir, mais um cheirinho de Bercow, o actor principal da comédia que dá pelo nome de Brexit



[Respostas: 1 - Estamos empatados   2 - Com ovos da Páscoa]

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E, ufffff, thanks god it's friday.

Be happy.

domingo, novembro 19, 2017

A pesporrência de Clara Ferreira Alves.
Mais do que me apetecer debater as notícias de que tomei conhecimento na cabeleireira ou querer saber porque é que não há duas impressões digitais iguais ou porque é que acordo todos os dias com a mesma alma dentro de mim, o que eu gostava mesmo de saber é se há alguém à superfície da Terra que ainda tenha pachorra para aturar a Clara Ferreira Alves


O meu sábado foi bem preenchido de manhã à noite. Não vi televisão nem ouvi notícias. Espreitei agora as notícias e dá-me ideia que nada de relevo.

De manhã fui à cabeleireira. Já não ia desde o verão. Até há pouco tempo não ia. Depois ganhei-lhe o gosto. Mas a coisa há-de ser espaçada. No entanto, quando lá estou, gosto. Um mundo paralelo. As conversas que ouço... O que percebo do que falam...

Hoje, uma veio lá de dentro toda gira. E elas a gabarem-lhe as sobrancelhas. Bem desenhadas. Pensei: Terá ido arranjar as sobrancelhas? Depilá-las...? Mas eis que a que me tratava do cabelo lhe perguntou: Então e doeu alguma coisa...? Ao que a dona das ditas disse: Não. Só no fim, quando a anestesia estava a passar... Mas nada de mais... E aí eu pensei: Anestesia..? Mas num cabeleireiro dão anestesias...? E anestesia para arrancar pelos das sobrancelhas...? Que mariquice...

Agora cá em casa, com as meninas, comentei. Uma disse: Devia ser tatuagem. E outra: Deve ser aquilo a que se chama microblading.

Nunca tinha ouvido falar em tal coisa. Tatuar sobrancelhas. Microblading. Fui googlar. É mesmo. 

Depois uma jovem falava com a especialista em nails. Falavam em desenhos, em cores, em brilhos. Gosto particularmente destas conversas. Rosa brilhante, metade de cada côr, fúcsia com estrelas, azul mar, numas, espuma brilhante, noutras. Depois ouço o conselho: Eu, se fosse a si, escolhia bailarinas. Silêncio. A cliente a consultar o catálogo. Depois: Sim, gosto. Bailarinas!. Relatei à mesa de jantar. Uma das meninas estranhou. Eu imaginei minúsculas bailarinas desenhadas artisticamente. Mas outra menina explicou: Bailarinas tem a ver com o feitio da unha, comprida e a ir em bico mas a ponta a direito, como os sapatos das bailarinas em pontas.

Outra novidade absoluta. Também já fui conferir. Não. A mim não me convencem.

Aprendo também imenso com as revistas. Mal chego, antes de me sentar, vou abastecer-me.

Partilho convosco algumas coisas relevantes que colhi.

  • Que o Manuel Maria Carrilho perdeu num processo contra a Maya e creio que contra o Graciano que terão dito qualquer coisa que não lhe agradou, 

  • que a Luciana Abreu também anda na justiça com o pai, e que está grávida de duas meninas e que no outro dia foi ao hospital mas foram todos muito simpáticos com ela,

  • que meio mundo se separou do outro meio mundo e que parte desse meio mundo se troca e destroca com outra parte. 
  • E que uns, apesar de destrocados, continuam a apoiar os outros e que alguns nem por isso, especialmente quando há filhos envolvidos. 
  • E que uns estão bem sozinhos, outros estão apaixonados, outros com vontade de terem filhos 
  • E outros sem essa necessidade já que gostam muito dos sobrinhos. 
  • E que há bloggers que são famosas por serem bloggers e que as mais famosas são as que falam da sua vida de mães com filhos
  • E que há actrizes de novelas que têm blog e uma até diz que o dela é ela que o escreve mas que há outros que são pura fancaria escritos por fantasmas.
  • E que há bloggers que lançam livros e vão com a família toda atrás pois a família é a matéria do blog.

  • E que a Jessica Athaíde é filha de uma relação extra-conjugal (quem é a Jessica Athayde...? -- Esclareço: é a menina aqui ao lado, aquela que, há tempos, incendiou as redes sociais com a sua perna grossa e a sua barriguinha algo proeminente) 

  • Vi também que o Presidente Marcelo apoiou a Cristina Ferreira com a sua revista Cristina e que ela usa muito os ensinamentos dele.


Mas não reparei na idade das revistas pelo que não sei bem qual a linha do tempo das notícias. Mas isso não interessa já que é tudo demasiado extraordinário para que a cronologia possa atrapalhar.

Agora, a noite bem adentrada, aqui na sala, em sossego -- já sem jogos de futebol, a rapaziada em grandes remates e grandes defesas, sem as gracinhas do bebé, já a querer levantar-se, e a mana amuada porque a tia a mandou assoar-se -- reclinei-me no sofá e pus-me a cirandar pelos vídeos que o youtube me recomenda.

Um agradou-me. Neil deGrasse Tyson and popstar Katy Perry discuss the science of human individuality and uniqueness. Uma conversa com piada. Também partilho.


E, estando eu por aqui, nesta na suave preguiçota, eis que, inadvertidamente, sofro a invasão do grupo dos déjà-vu. Dizem-se, repetem-se, contradizem-se, não acrescentam, patinam, maçam. Houve um tempo em que havia alguma frescura naquilo. Nos primórdios. Agora o Eixo do Mal é mais um daqueles programas onde os papagaios vão papaguear o que ouviram a outros iguais a eles. Há uma série de programas do género. E eu já não suporto nenhum. Se, em tempos, alguns deles tiveram ideias genuínas e inovadoras naquelas cabeças, tantos programas depois, já estão esgotados. Mas insuportável mesmo, mas uma coisa já de pele, alergia mesmo, é o que sinto com aquela convencida arrepelada, aquela arrogantezeca. Não se aguenta. A forma como ela fala. Sobre qualquer assunto, mesmo quando notoriamente não é tema sobre o qual tenha competência, ela põe o se ar mais irritantemente blasé para começar: 'Eu explico.' E avança, desfiando lugar comum atrás de lugar comum, como se estivesse a explicar alguma coisa. Intolerável. Uma maçadora emproada armada em maria-cagona, toda prosa. Zapping com ela.


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E agora zapping comigo.

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domingo, outubro 22, 2017

Clara Ferreira Alves. João Duque. Raul Vaz.
Alguns dos vírus que intoxicam e estupidificam a opinião pública.


Claro que, depois de aqui ter estado a meditar, na maior tranquilidade, -- e, já percebi, para mim escrever é uma forma de descansar a mente e o corpo -- a última coisa que me apetecia era voltar ao tema da porcaria de comentadores e de jornalistas sub-dotados que não vêem um palmo à frente do nariz, que aparentemente são pagos para dizer apenas o que os mais descerebrados dos espectadores esperam ouvir e que intoxicam a opinião pública de forma viral.


Mas sentir-me-ia mal se não me pronunciasse sobre o que estou a ver, o Eixo do Mal, com a histérica e demagoga Clara Ferreira Alves a demonstrar, de novo, que, quando fala, desliga o intelecto.


Já no outro dia, aquando do despacho de acusação do processo Marquês, ela se tinha atirado a Sócrates de uma forma excessiva e desmiolada. Quando o Daniel Oliveira lhe perguntou se tinha lido o dito despacho para assim falar, engasgadamente reconheceu que não. Contudo, a esperteza ainda lhe chegou para dizer que não mas que tinha lido a narrativa que colegas do Expresso tinham feito sobre o assunto e que isso lhe chegava. Clara Ferreira Alves é isto. Come comida mastigada por outros e parece que isso lhe chega. Ou seja, com aquele seu ar emproado, não passa de uma catatua que papagueia o que outros dizem. Em primeira mão não sabe nada nem tem um pensamento consciente e bem informado sobre coisa alguma. Histriónica, descontroladamente excitada, ela é como muitos outros a quem a televisão dá palco: acham que é portando-se como caniches acéfalos que ladram constantemente e que se mostram prontos a morder as canelas de quem esteja debaixo de fogo por parte dos PàFs que garantirão o bem remunerado emprego de comentadeiros.



Claro que todos gostamos que não haja incêndios, todos gostamos que as linhas telefónicas não ardam, todos gostamos que haja bombeiros e aviões que cheguem e, sobretudo, todos lamentamos as vítimas, os danos, as perdas. Alguém duvida disso? Espero bem que não.

Mas, a bem do decoro e da inteligência, quem seja intelectualmente honesto compreende que as causas para estas desgraças são muitas, algumas fora de controlo humano (seca severa, trovoadas secas, ventos intensos), são profundas (terras abandonadas há décadas, habitações esparsas no meio da floresta), resultam de erros antigos (terras não limpas, linhas de alta tensão a tocar as árvores), de hábitos ancestrais (foguetes e queimadas em tempo quente e seco), de receitas erradas (redução de gastos na prevenção) -- e que não é em poucos meses que se revoluciona tudo e se consegue evitar ou controlar catástrofes de dimensão incomum. 

No entanto, aquela mulherzinha que ali está na televisão, grita contra António Costa e contra a ex-ministra Constança como se eles estivessem no governo há anos e fossem os responsáveis por tudo. Só uma mentecapta pode dizer o que ela diz. Gentinha como ela é perigosa pois pessoas assim recusam-se a compreender as coisas e apenas fazem barulho, quase incitando ao desmando. Assim se cria o terreno para o populismo. O populismo é isto que Clara Ferreira Alves aqui está a fazer. Assim se alimentam os mais primários e irrracionais instintos de vingança e justiça popular


Já antes, até ter feito um higiénico zapping, me tinha arrepiado com o ar arrogantezinho blasé de João Duque na SIC a pronunciar-se sobre as medidas do Governo.


À pergunta sobre o que tinha ele a dizer sobre o que tinha acabado de ser anunciado, responde o dito João Duque -- que, lembremo-nos, foi fervoroso apoiante de Passos Coelho e que assinava por baixo de tudo o que láparo decidia -- qualquer coisa como: 'O que se pode perguntar é porque é que o governo esperou tanto? Porque é que esperou tantos meses, depois de Pedrogão?'

E eu daqui apeteceu-me perguntar ao dito doutor-sapateiro-calceteiro: 'E porque é que não fez essa pergunta quando Passos Coelho era primeiro-ministro?' ou então: 'É isso que ensina aos seus alunos? Que tomem decisões sem estudar, sem fazer contas, sem analisar a sua exequibilidade?'

É que é muito fácil perguntar isto agora que aconteceram as desgraças mas nunca estes novos acusadores se lembraram de pensar no assunto quando, ao longo de quatro anos do anterior governo (e de muitos quatro anos de muitos outros governos de todas as cores políticas), nada foi feito para ordenar o território, limpar as matas, vigiar e proteger, etc, etc. 

Não digo que, nestes dias de desgraça, tenha sido feito tudo o que devia ter sido feito: o que digo é que não sou eu ou qualquer outro zé da esquina que sabe avaliar as causas do que aconteceu e saber como mitigá-las. Mas há quem o saiba.

O estudo que foi apresentado por uma comissão de sabedores, ao que ouço dizer, foi claro, exaustivo, abrangente. Segundo li, percorre de uma ponta a outra os aspectos a ter em atenção para prevenir e combater os incêndios florestais.

Ora, segundo António Costa disse, o Governo esteve à espera dos resultados do estudo para poder decidir como mais eficazmente actuar na raiz dos problemas, em profundidade, atacando o mal em várias frentes, de forma integrada e consistente.

E o que hoje ouvi no fim do Conselho de Ministros extraordinário parece revelar um conjunto de medidas inteligentes e abrangentes que parecem corresponder às necessidades detectadas aos mais diversos níveis.

Mas sobre o estudo das causas do incêndio de Pedrogão ou sobre as medidas agora decididas nem uma palavra de Clara Ferreira Alves. Nem dela nem do outro artista que se senta ao lado dela, o Luís Pedro Nunes. A estes dois zinhos apenas interessa se Costa chorou ou se a emoção que demonstrou foi genuína ou se não passou de uma lágrima política. Para estes zinhos, o exercício governativo não deve ser um exercício sério e honesto mas sim um exercício mediático para agradar aos comentadores.


Mas não são só eles. Não. A coisa é viral. Por todo o lado apanhamos disto.

Ao fim do dia, vínhamos no carro e ouvimos uma notícia na Antena 1. Dizia o jornalista que Marcelo tinha avisado o Governo: que os milhões que vão ser gastos nos apoios não deviam fazer esquecer a necessidade de manter o défice baixo. Ouvimos e ficámos perplexos. O meu marido exclamou: 'Este gajo... primeiro quer medidas e agora avisa para a aplicação das medidas não dar cabo do défice?'. Mas, logo a seguir, passaram as palavras do próprio Marcelo. Afinal não era nada do que o jornalista tinha dito. Marcelo concordava com as medidas de que já tinha conhecimento e referia apenas que a fórmula de cálculo do défice não deveria contar com estas verbas excepcionais e as palavras dele eram dirigidas sobretudo a Bruxelas e a quem monitoriza as contas públicas. Ou seja, o jornalista não tinha percebido nada. Mas, mais grave, logo a seguir passam a palavra a Raul Vaz. O que achava ele das palavras de Marcelo? Pois bem. Mostrando não ter ouvido as palavras de Marcelo mas apenas o disparate do jornalista, Raul Vaz, com voz assertiva, encheu a conversa de censura ao Governo, dos apelos de Marcelo para que não esquecesse o controlo do défice, para que não use o dinheiro que agora parece que salta das pedras para dar cabo do défice. Nem queríamos acreditar naquilo. Não se tinha dado ao trabalho de ouvir as palavras de Marcelo e ali estava a desfiar disparates, papagueando o que outro tinha dito. A desinformação espalhada pelos comentadores é uma mancha que alastra pelas rádios, pelas televisões e jornais.


Depois, o dito Raul Vaz continuou, pseudo-falando das medidas anunciadas -- e criticava o Governo por ter esperado tanto sem fazer nada -- e como se as medidas tivessem nascido ali, na reunião do Conselho de Ministros, sem preparação prévia, como se os ministros ali estivessem apenas a mando de Marcelo, e tivessem estado todo santo dia a inventar medidas à pressão. Num tom destrutivo, a conversa do dito Raul Vaz girou, sobretudo, em torno de, segundo ele, se ter quebrado o estado de graça do governo ou a boa relação entre Marcelo e Costa. Uma conversa de vizinha, a alimentar intrigas. Ouvíamos aquilo perplexos. Não quis saber das medidas e falava como se tivessem sido meros improvisos para calar o Marcelo. Então aquela criatura não percebe que, antes de as medidas irem a discussão e aprovação no Conselho de Ministros, são feitos estudos nos ministérios, que orçamentam verbas, que equacionam alternativas, que analisam a forma de implementar as iniciativas que referem...? Acharão que trabalho sério se faz em cima do joelho, sem bases? Sem antes terem negociado com Bruxelas verbas extraordinárias? Sem antes terem negociado que estas verbas não contam para o cálculo do défice?

E como se dá palco e se põe um microfone à frente da boca de gente que não pensa, não estuda, não se informa? Porque é que os contratam? Para quê? Com que intuitos? 

Não passam de uns vulgares maledicentes, ignorantes, populistas, incendiários sociais.  

Estes comentadores avençados estão a destruir a credibilidade do jornalismo e a intoxicar a opinião pública. 

São uma doença. São um perigo para a democracia. 

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[E queiram continuar a descer caso vos apeteça descansar o espírito: o outono in heaven é bem mais tranquilo do que isto]

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