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quinta-feira, julho 27, 2017

Hugo Soares = nojo *
Ascensão e queda de um líder parlamentar falhado - ou a fatal entrada em cena do Hugalex.
-- E mais um passo em falso da Cristas da Coxa Grossa --
[Já para não falar em mais um prego no caixão do jornalismo em Portugal que os boateiros do Expresso fizeram o favor de espetar]


Não estou em grande forma. A outra noite, para mim, não foi bem uma noite, foi mais um dia de juízo. Agora, um bocado cansada e muito mal dormida, estava aqui mais numa de assuntos tranquilos, daqueles que não me indispõem. Percebam-me, por favor: nem todos os dias está uma mulher pronta para a guerra. Tem dias em que se está mais numa de, suavemente, deixar correr a pena, o coração nostálgico, a melancolia a tolher-nos as mãos -- e nós sem darmos luta. 
A dor de um filho que perde um dos seus progenitores não é coisa pouca e, tanto pior, se, à altura da perda, for quase criança e as sombras abruptamente invadirem um espaço que antes era de luz e amparo. 
E foi neste estado de espírito que, serenamente, falei da memória que guardo da fatídica noite de 31 de Agosto de 1997 e do tributo que, vinte anos depois, os filhos prestaram à sua mãe Diana que foi Diana de Gales.

E agora, na mesma pacífica modorra, estava aqui a ler blogues alheios, por vezes prova saborosa, enquanto na televisão correm as notícias do dia.

O fogo a devorar tudo o que é verde. Correndo montanhas, atravessando estradas e rios, o fogo avança como um bicho esfaimado, um bicho de grandes patas, de ameaçadoras goelas. Fogo e mais fogo. O fogo é um dos elementos matriciais disto tudo. O ar, a terra, a água, o fogo -- tudo muito para além do que a inteligência e a força humana conseguem dominar. Por vezes, parece que nos esquecemos que a natureza, quando se agiganta, é capaz de devorar quem ousa desafiá-la. A seca, o vento, gestos irracionais (tantos incendiários que há no meu país... alguém já terá estudado seriamente este fenómeno?) e a pouca sorte são uma mistura explosiva.

Mas, logo a seguir, talvez porque, pelo meio, me tenha distraído e perdido o fio à meada, lá me apareceu o desinfeliz Hugo Alexandre, agora já na versão 'derrotado pela evidência dos factos'.


E quais os factos a que me refiro? Não é certamente à lista dos que pereceram na tragédia de Tancos, que eu não tenho por hábito juntar-me aos abutres que não passam sem rondar a carniça nem vou atrás dos boatos que o Expresso lança para a praça pública (mostrando os riscos que a democracia e a liberdade de expressão comportam ao serem usadas para minar a confiança nos seus pilares). Não. Os factos que derrotaram a ambição política do Hugo Alexandre Soares, aka Hugalex, são mais simples que isso. 

Não sou supersticiosa mas acho que não é bom augúrio começar o que quer que seja alicerçando-se sobre aldrabices envolvendo mortos. Os mortos merecem respeito e contenção. Ora o Hugo Alexandre resolveu cavalgar uma trapalhice a que o Expresso, num mais infelizes episódios da sua história, resolveu servir de megafone. Mostrando ter falta de tino, falta de bom senso, falta de sentido de estado e de solidariedade humana para com os familiares das vítimas, o ridículo Hugalex, depois de um desafiador 'dou 24 horas' e de, ao cabo de pouco mais do que isso, ter recebido, através da tão demandada 'lista dos mortos', o atestado público da sua estupidez apareceu perante as câmaras de televisão a mostrar como é patético o exercício público de enfiar o rabo entre as pernas. Contudo, em vez de o fazer de pianinho, low profile, a ver se passava despercebido, não senhor: intelectualmente pouco honesto como é e bastamente desinteligente como tem demonstrado ser, ainda apareceu com o dislate de vir congratular-se pelo fim da polémica sobre a lista dos mortos -- como se fossemos parvos e não estivéssemos todos carecas de constatar que quem mais alimentou a polémica foi ele, justamente ele.

Uma indigência política esta a que chegámos, quando uma função como a que o Hugalex agora desempenha, é entregue a alguém tão incapaz como ele.

E estava eu a antever que aquela pobre e destituída figura não se aguentará muito tempo nestas suas novas funções quando logo a seguir me apareceu outra que tal -- a Cristas, na televisão, também a culpar o Governo de ter criado o furdunço em volta da lista dos mortos e, tal como o outro, a mostrar que em boa hora e muito justamente os portugueses mostraram querer ver-se livres desta seita dos PàFs, gente que dá ânsias a qualquer português bem formado e com dois dedos de testa.

São os salvados dessa gentinha que agora por aqui andam, à babugem dos boatos que as sobras da comunicação social vão espalhando. Julgam os portugueses à sua imagem e semelhança, julgam que papamos toda a porcaria que nos querem impingir. Mas enganam-se: estou em crer que ainda há muita gente inteligente.

Não posso terminar a referência a este fétido capítulo da política e do jornalismo da era lapariana sem referir uns quantos nomes que ficarão bem ao lado do Hugo Soares, da Cristas, do Láparo e desta gentinha-poucachinha que infesta a política nacional. Refiro-me a alguns representantes do jornalismo desclassificado que, por estes dias, campeia em Portugal e que mostraram, uma vez mais, que, a continuarem assim, um dia destes os portugueses vão achar que estão melhor sem eles. E são, a saber: João Miguel Tavares, Pedro Santos Guerreiro (de quem eu, antes dele entrar para o coito dos boateiros, até gostava), Bernardo Ferrão. Populistas, fuxiqueiros, levianos, cheios de uma empáfia que ainda os desvaloriza mais. Falo nestes mas, atenção, não são os únicos, são apenas, pelos piores motivos, três bons exemplos -- até porque seria uma felicidade se fossem só três e não, não temos essa sorte. Upa, upa. 



* nojo = luto, repugnância
(escolham, os meus doutos Leitores, qual o sinónimo que melhor se adequa ao momento político que o líder parlamentar do PSD resolveu criar e nele se enterrar)
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NB: As imagens com que polvilhei o texto não têm muito a ver. Quis ter aqui algum toque de humor já que a conversa era sobre gente que não é boa companhia. Encontrei-as no Bored Panda e gostei. Umas mostram uma mulher dita 'normal' que resolveu mostrar como fica quando reproduz fotos de beldades e outras mostram actos de vandalismo urbano, mas um vandalismo inócuo e divertido.

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Permitam que relembre: caso vos apeteça mudar para um registo, queiram descer até Diana, a nossa mãe (incluo o vídeo completo)

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sexta-feira, julho 17, 2015

A situação na Grécia e a inviabilidade da actual Europa. E o que dizem Pedro e Viriato. E o que dizem os números. E o que dizem alguns jornalistas alemães.






Nas empresas que pertencem a Grupos é normal criarem-se órgãos de gestão conjunta por forma a capturar sinergias, adquirir eficiências e tudo isso de que os consultores gostam de falar e as administrações de ouvir.

Criam-se Serviços Partilhados ou Direcções Centrais, estudam-se os modelos de governo desses novos serviços que trabalham para todas as empresas, aferem-se indicadores que reflictam o bom funcionamento dos mesmos, etc, etc, etc. Conheço bem estes processos.

Quando isto acontece, criam-se mecanismos que permitam validar se está tudo a funcionar bem e, se necessário for, corrige-se a trajectória ou procede-se, com alguma regularidade, a um conjunto de ajustamentos.

Claro que uma empresas ou um grupo de empresas não é a mesma coisa que um conjunto de países. Claro que não, é mais simples, muito mais simples. Terá o seu qb de política, de diplomacia, de militarismo, de democracia, de estratégia, de humanismo, etc, mas tem sobretudo a ver com gestão.

Mas se nas empresas se avança de uma forma organizada, estudada, monitorizada, como é que nos países se avança à maluca como aconteceu com a adopção da moeda única?

A Europa não tem um modelo de governo a sério, não tem órgãos que monitorizem e validem e corrijam as trajectórias, não tem sequer gente capaz à frente dos lugares mais importantes. Quando nos países de origem se querem ver livres de alguém, de emplastros, de pesos-mortos, de alforrecas ou chernes, chutam-nos para a Europa. Depois, o que acontece é que cada totó que tem assento nos lugares onde mais se decidem os destinos da Europa responde é perante o seu eleitorado doméstico onde as motivações são culturais e regionais, mal informadas sobre o que se passa nos outros Estados.

Aquilo a que se tem vindo a assistir nesta Europa desgraçada, acéfala, à deriva, é uma perfeita aberração: para obedecer a ditames absurdos, para encaixar em tratados ridiculamente inalcançáveis e para agradar aos eleitorados nacionais, um bando de anormais tomou decisões que, à semelhança de tudo o que decidem, representaram um atentado brutal contra um dos seus Estados. Uma União como esta, em que já nada faz sentido e que não tem governabilidade ou que não é monitorizada pelos cidadãos dos seus Estados membros, é um aborto, uma porcaria. 

Não faz sentido um país pertencer a uma União que destrói a vida do seu povo, que destrói a sua dignidade, a sua economia, a sua esperança.




Não me interessa saber se a culpa foi do partido A, B ou C ou do lunático X, do inexperiente Y ou do atrasado mental Z. O que me interessa é como é que, no conjunto, deixámos que aqui se chegasse e ainda continuamos a fechar os olhos a este projecto falhado.
Tragédia, miséria, humilhação - e tudo é encarado na maior ligeireza, como se isto pudesse ser reduzido a pequenos episódios. Para evitar mais tragédia, miséria, humilhação todos nós nos deveríamos levantar para exigir que ou nunca mais tal aconteceria ou bardamerda para esta porcaria (e peço imensa desculpa pelo meu linguajar mas é o que me ocorre dizer a este propósito).




O que aconteceu com a Grécia e que está ainda a acontecer e as reacções que ouço mostram bem a estupidez que é esta União Europeia. Da forma como está e como funciona, acho que, ou há a capacidade de a repensar e refundar (o que me parece ser altamente improvável) ou mais vale limpar as mãos à parede -- antes que haja alguma coisa ainda mais séria (e que já me pareceu mais longínqua).

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Pedro Santos Guerreiro, com aquele seu ar de menino bem comportado (daqueles que deixam crescer a barba para ver se parecem mais crescidos), continua a mostrar que é inteligente, lúcido, e um excelente comunicador. Escreveu mais um artigo brilhante e eu não poderia deixar passar isso em claro.


O Syriza já está destruído, podemos agora salvar a Grécia?


Chegará o momento em que tiraremos as mãos das carteiras e as poremos na consciência. Chegará o momento em que já não veremos os ricos que roubaram mas os pobres que ficaram. Em que não quereremos ressarcimento mas reparação. Em que perceberemos que não se pede sequer solidariedade, mas piedade. Em que nem os sádicos se divertirão com o espetáculo degradante dos políticos gregos. A União Europeia foi longe de mais na violência estéril e vingativa. Para destruir o Syriza está a ceifar-se um povo. Já não é indignação, é súplica: SOS Grécia. E se tudo o resto falhar, apele-se à inteligência, que não é de esquerda nem de direita, pois é preciso mudar aquele plano que, além de horrível, é burro, é mau, é pior para todos.

Nos palácios de Bruxelas, nos sofás de Berlim ou mesmo nos bancos de jardim de Lisboa permanece apetecível distribuir culpas e medir ideologicamente o debate. Mas nas ruas de Atenas já passámos essa fase. Sobra o desespero de saber que nada vai valer a pena porque pagar ou não pagar parece indiferente, o tudo ou nada resultará sempre no pouco, no de menos, no insuficiente, porque o plano não funciona. Repito: a Grécia vai ter uma recessão pior do que a que os Estados Unidos viveram na Grande Depressão de 1929. Repito: o plano económico vai falhar porque foi concebido para falhar. Repito: desistimos dos gregos e resistimos a ver o desastre encomendado.

(...)

É preciso mudar o plano. Somar à austeridade um programa de investimento que estimule a economia e que apoie casos sociais de pobreza. Isso é ser inteligente, até porque é a única forma de tentar recuperar parte da dívida. Talvez a linha dura dos alemães queira apenas humilhar o Syriza e tenha feito um plano para que, depois da capitulação de Tsipras, mude o plano para melhor. Até seria bom que isso fosse verdade. Seria maquiavélico mas, ao menos, saberíamos que a loucura iria mudar. E que, portanto, a Grécia haveria de ter uma saída da crise em vez de uma saída do euro. Para já, o que vemos é o que temos, um país inteiro a afundar-se na desgraça.





Os gregos estão desesperados porque a situação é desesperante. Coloquemo-nos no lugar deles por um minuto: um governo de extrema-esquerda ajoelhado depois de cinco anos de tareia, de desemprego e de austeridade, depois de décadas de corrupção e roubo institucionalizado com os governos de centro. E o que lhes dizem que se segue? Pobreza. Talvez a esta hora também estivéssemos na rua.


[Artigo completo no Expresso; recomendo a sua leitura. E daqui envio os meus parabéns e o meu agradecimento ao Pedro Santos Guerreiro, um grande jornalista]

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Outra análise que recomendo é a de Viriato Soromenho Marques, no DN.  


O pior de dois mundos



No tempo em que Deus não tinha ainda morrido, o espetáculo da tragédia de série B em que a Europa se transformou provocaria tremor e ranger de dentes face à expectativa de um castigo divino. Obrigar um primeiro-ministro a impor um programa em que não acredita, que foi derrotado esmagadoramente num referendo, parece desprovido não só de bondade mas de eficácia. Agravar a austeridade quando ninguém, mesmo entre os credores (FMI, por exemplo), parece acreditar que a dívida grega já existente possa alguma vez ser paga, é um absurdo cruel. A Grécia transformou--se no labirinto em que a lógica e a ética pública dos governantes europeus se perdeu. Por um lado, acusa-se a Grécia de - e isso é verdade - não ter sido capaz de construir um Estado moderno pós-clientelar, baseado em sistemas universais abstratos (nomeadamente de recolha de impostos), por outro, lança-se sobre ela uma barragem de planos de "resgate" que aniquilam o embrião de competência e organização administrativas, além de fazerem recuar os indicadores macroeconómicos para os níveis de uma economia de pós--guerra num país derrotado, deixando milhões de cidadãos aturdidos, empobrecidos e entregues à mais devastadora e desamparada das solidões. Ninguém sabe se Tsipras cumprirá o titânico e envenenado caderno de encargos que poderá garantir a Atenas arrastar-se num terceiro resgate. Mas, rompendo o véu obscuro da novilíngua do Eurogrupo, se a "confiança" (leia-se, submissão) não for demonstrada, o "acordo" (leia-se: ultimato) falhará. Nessa altura, talvez a Grécia seja arrastada para fora da zona euro numa explosão de desordem e violência social. Com isso, a zona euro entrará na lista infame dos crimes contra a humanidade.

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As imagens foram obtidas na net e mostram o dia a dia grego com execpeção da última que mostra um homem derrotado, humilhado até à exaustão (independentemente de se ele agiu de forma madura ou inteligente ou não).

A pintura é de Theodore Ralli (pintor grego, 1819-1878), Eavesdropping

A música é do compositor grego Dimitri Mitropoulos --- Greek Sonata 1920 [1. Allegro non troppo (ma con passion)  --  piano Charis Dimaras]

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Aconselho também que vejam o vídeo que Leitor, a quem muito agradeço, me deixou em comentário num post abaixo.

Os alemães ficam lesados com o apoio à Grécia?

Ou muito pelo contrário...?


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E, visto no blog do Embaixador Seixas da Costa, Duas ou Três Coisas, que pergunta: Em 2015, como será? e no Ladrões de Bicicletas onde Nuno Serra pergunta Fundo de Activos ou Pacote de Indemnizações?, um quadro com números que nos deveriam fazer pensar. E chorar. E lutar.




Uma vergonha insuportável.

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Vinha com ideia de escrever sobre amor, de incluir uma música da Melody Gardot, coisinhas saborosas e estivais desse género. Afinal, deu-me para isto. A ver se mais logo não me desvio dos meus românticos propósitos.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira.

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segunda-feira, abril 06, 2015

Pedro Santos Guerreiro em 'Os Imortais, os Imortais' empareda, ou melhor, encosta à parede Miguel Macedo, Luís Montenegro e Marques Mendes. (Os Imortais a que ele se referia eram obviamente outros: Herberto Helder e Manoel de Oliveira). E um PS sobre as presidenciais.


Diz Pedro Santos Guerreiro na sua crónica 'Os imortais, os Imorais' no Expresso deste sábado:





(...) Os casos são todos desta semana. Miguel Macedo, segundo o jornal 'i', foi investigado pelo Ministério Público, que encontrou indícios do crime de prevaricação no caso dos vistos gold. Prevaricação não é corrupção nem tráfico de influências, é agir de modo contrário ao interesse público (foi por este crime que Maria de Lurdes Rodrigues foi condenada). Macedo não é sequer arguido, no que parece ser uma nova política do Ministério Público de deixar os suspeitos à torreira do sol enquanto constrói o caso. Mas o acórdão fala de encontros, telefonemas, jantares, presentes que destroem a carapaça que Miguel Macedo construíu para si mesmo quando se demitiu do Governo. Uma demissão é um acto honrado, mas não de imunidade; é uma consequência política, não um saneamento da responsabilidade.



Prevaricação é ser amigo do seu amigo, dando uma mão, abrindo uma porta, fazendo um telefonema para a pessoa certa. São os 'facilitadores', nome detestável para um detestável modo de ser que se infiltrou na política como minhocas nas maçãs. Facilitam negócios, contactos ou cursos na Lusófona (Miguel Relvas foi um de 153 que o terão feito, segundo o Ministério da Educação). o escritório de advogados do deputado* Luís Montenegro, segundo a TVI, ganhou contratos de 70 mil euros por ajuste directo da Câmara de Espinho, de cuja Assembleia Municipal o próprio Luís Montenegro foi presidente. Outro escritório de advogados, o de Aguiar Branco, promove negócios nos países que o ministro visita.





Este é o mesmo país onde há funcionários do Fisco a aceder a dados de contribuintes de forma ilegal e descontrolada, alguns por curiosidade, outros porque talvez os queiram vender. Os vistos gold encheram cofres em Portugal, por venda de cidadania europeia, mas encheram também bolsos de intermediários.


Na semana passada, o Expresso entrevistou um empresário do Porto, Ricardo Costa, que ganhou um prémio da Christie's pelo desempenho na venda de imóveis de luxo, sobretudo a estrangeiros. Quando lhe perguntámos se o negócio vinha dos vistos gold, ele respondeu: 'Isso é um fenómeno de Lisboa, suportado pelos escritórios de advogados'. Ele lá sabe. Nós também. Qual foi o escritório que mais negócio fez nos vistos gold? O de Marques Mendes, um prodigioso 'fazedor de chuva'.

(...)


E eu, se fosse qualquer um dos visados, preparava-me já para o pior porque, como é sabido, alvo para que, com aquele seu ar de menino bem comportado, Pedro Santos Guerreiro aponte é, mais cedo ou mais tarde, alvo abatido. 


* Por lapso, no texto do Expresso está escrito 'do agora ministro' quando Luís Montenegro é deputado - coisa que o Mestre Plúvio (que regressou depois de uma longa e notada ausência) fez questão de não deixar passar em branco. E fez muito bem: nenhuma argolada ali passa despercebida (e o responsável não se escapa de uma valente palmatoada que, lá nisso, Mestre Plúvio tem a mão bem pesada).

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As imagens provêm do blogue We Have Kaos in the Garden

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PS: Sobre as presidenciais ainda não me apetece falar porque nada é certo, porque é cedo, porque a coisa está meia pantanosa. De todo os que se perfilam acho que o prof. Marcelo da TVI é um psico-tretas do qual nada de bom o país poderia esperar, seria uma intrigalhada permanente, do Henrique Neto só se fosse para me rir mas, a sério, vontade de me rir não me dá, do Sampaio da Nóvoa ou do Carvalho da Silva acho que há boas razões para estarmos favoravelmente expectantes mas um exclui o outro. E não sei se há mais. Não inclui aqui o Santana porque acho que, se ele se chegasse à frente, teríamos o país transformado numa gargalhada geral e isso também não me parece grande ideia.





Da reacção do Sérgio Sousa Pinto à eventual candidatura de Sampaio da Nóvoa também não gostei, parece-me coisa de fedelho birrento, e assusta-me pensar que o PS de hoje é isto.


Portanto, um dia destes pode ser que me apeteça dizer qualquer coisa sobre as presidenciais. Até lá a ver se me vão aparecendo melhores assuntos.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

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segunda-feira, novembro 17, 2014

O rabo da Kim Kardashian que quase parou a internet é de verdade ou é realidade aumentada? Não tenho provas. Mas acho graça, em especial à paródia dos rapazes a imitarem-na. E se quiserem saber: 'afinal quem é essa Kim Kardashian?', tentarei responder.


No post abaixo já falei o que tinha a falar sobre a demissão de Miguel Macedo. E como não me apeteceu falar muito no novo bocado que caíu ao chão desde governo que se está a despedaçar à vista desarmada, passei para o humor. Digo-vos que é coisa digna de ser vista. A sério. E, ao contrário do caso de que aqui vou falar, aqueles aparatos ali são mesmo reais.

Mas isso é a seguir.

Entretanto, estive para aqui a ver se me redimia da minha ligeireza numa altura em que o País está feito num oito. Percorri os jornais online, espreitei blogues. Esforcei-me.

Li o Pedro Santos Guerreiro, sempre tão objectivo e lúcido, escrevendo a propósito dos vistos gold, da corrupção, do ministro no meio de um grupo de gente de quem se suspeita:

As suspeitas que hoje existem e as informações já recolhidas por jornalistas mostram uma súcia que envolve quadros do Estado e à volta do Estado, com negócios intermediados por agentes e advogados, funcionários a receber dinheiro por debaixo da mesa, comissões e facilitações. Não é coisa pouca. E mesmo que tudo isso se tenha passado sem intervenção de um ministro, passou-se debaixo das barbas que ele não tem. A responsabilidade política existe, sim. Se um governo falha criando negócios vulneráveis à corrupção, ela própria participada por pessoas do Estado e próximas da política, está a prestar serviços de incompetência que aproveitam a alguém em detrimento da sociedade.

Concordo. Gostava de ter disposição para também dizer qualquer coisa mas a verdade é que não ando com pachorra para mergulhar neste charco.

Então, pedindo antecipadamente para não levarem a mal que me entregue a temas tão de cu, passo ao tema que agora aqui me traz.

O rabo de Kim Kardashian aparece-me por todo o lado. Oleado, aparatoso, e dizendo que pretende parar a internet.







Não sabendo quem era a moçoila, fui à procura. Pois bem. Parece que é uma socialite de 34 anos, com 1,59m, conhecida pelas formas generosas. Em linguagem de outros tempos dir-se-ia que tem um corpo tipo viola. Não sei se ainda se diz. De resto, parece que não é assim de origem e, além disso, ainda lhe acentuam os montes e os vales  com doses generosas de photoshop.

Transcrevo da wikipedia:

Kimberly Kardashian West, nascida Kimberly Noel Kardashian, mais conhecida como Kim Kardashian (Los Angeles, 21 de outubro de 1980) é uma cantora, modelo, socialite, atriz, empresária, produtora executiva e reality star norte-americana. Filha do falecido e renomado advogado Robert Kardashian, ficou conhecida após protagonizar um vídeo de conteúdo erótico com seu ex-namorado, o rapper Ray J, irmão da cantora Brandy.
Kim hoje, possui quatro lojas com suas irmãs, Khloé e Kourtney, chamada DASH. Além de fazer aparições em filmes e lançamentos de produtos, é também a protagonista do reality-show Keeping up with the Kardashians que mostra o dia-a-dia de sua família. Estima-se que a aparição de Kim em Keeping Up with the Kardashians custe US$80 mil (por episódio), sendo assim, a mais bem paga estrela de reality show dos Estados Unidos.


Agora Kim Kardashian foi capa e editorial da revista PAPER e o seu rabo fez arregalar os olhos e explodir em riso a malta que viu tal avantajamento.



PAPER - Break the internet - Kim Kardashian


E as comparações e as paródias não se fizeram esperar. Por todo o lado, encontro imitações, ridicularizações. Kim Kardashian deve agradecer: quanto mais publicidade fizerem dela, mais ela factura.










E a seguir vieram os vídeos. Há imensos e a dificuldade está na escolha. (E reparem no estado de alienação a que cheguei para evitar pensar neste malfadado e estapafúrdio desgoverno - imagine-se que até me pus a ver filmes a parodiarem uma criatura de quem até há uns dias atrás nunca tinha ouvido falar).




Her ass broke the internet, ours merely cracked it - dizem os rapazes.

Actores: Keith Habersberger, Eugene Lee Yang e os BuzzFeed's Zach e Ned

Banda sonora: Monsters Under The Bed

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A ver se aparece algum vídeo que mostre as maluqueiras da Marta Gautier enquanto era desfeita pela Manuela Moura Guedes no programa Barca do Inferno. Estive a ver uma paródia no Canal Q e é de ir às lágrimas. Não tinha ideia que a moça fosse tão ocazinha, tão ignorantezinha. Um dó de alma. A Manuela Moura Guedes desfê-la e até a percebo. Claro que a Marta, filha de Rita Ferro, já desistiu do programa e, a julgar pela amostra, fez bem.


Mas o vídeo viria a calhar, agora que ando nesta onda de disparates. Se aparecer, avisem-me, está bem?

[E a ver se amanhã já estou mais atilada para conseguir dedicar-me a temas mais eruditos não vão os meus Caros Leitores pensar que surtei e que sou um caso perdido]

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Relembro: não deixem de ir até ao post já a seguir, não se vão arrepender, verão. Para além de que lá tenho um anúncio de emprego que pode ser útil a algum dos meus Leitores.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.


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terça-feira, setembro 09, 2014

Missa do 1º mês mais uns dias pelo moribundo BES (que ainda não morreu) e encomendação de algumas almas. Quando o Novo Banco começar a funcionar logo faço aqui a missa do baptizado. Hoje limito-me a trazer a Quadrilha e a dançar em volta do Buraco.


Pedro Queiroz Pereira, primeiro, e José Ricciardi depois, denunciaram a situação de sobre-endividamento do Grupo Espírito Santo e de basculação de liquidez do Banco para o Grupo e, em sentido inverso, o basculamento de dívida periclitante para dentro das contas do Banco.

O Expresso e o Jornal de Negócios pegaram no assunto e, quando Pedro Santos Guerreiro transitou para o Expresso, pôs de vez a boca no trombone.


Carlos Costa foi, então, obrigado a chegar-se à frente. Mandou de castigo para casa Ricardo Salgado e pediu que ele indicasse sucessor. Mais tarde, Carlos Costa veio a dizer que desde Outubro do ano passado que já andava de olho no que se estava a passar. Veio a dizer, através de informação que foi mandada plantar nos jornais, informação essa devidamente papagueada pelos papagaios e catatuas do regime e da comunicação social, que tinha blindado o BES e que este não apenas estava imune ao regabofe que ia no Grupo como tinha até uma sólida almofada financeira. O aumento de capital social do BES destinava-se mesmo a isso, a aumentar a estabilidade financeira do banco.

Lembro-me, mas ó tão bem, de como a papagaiada tecia loas ao Governador e como afirmavam, serenos e convictos, que o assunto BES não tinha nada, mas ó nada mesmo, a ver com o caso BPN.

Supostamente também com base na informação do Banco de Portugal, Passos Coelho e a sua chefe, a ministra das Finanças, vieram dizer que não havia problema nenhum com o BES mas sim com o GES e que, de qualquer forma, não havia plano nenhum para agir no banco, que o problema do banco era dos accionistas, que o Estado não tinha nada que ajudar privados. Os papagaios rejubilaram, assim é que é!, as catatuas aplaudiram e as galinhas da oposição continuaram entorpecidas.

Disse supostamente pois custa-me a crer que não haja no Ministério das Finanças uma única alma que se dedique a acompanhar o sistema bancário, que estejam todos intelectualmente dependentes da informação que lhes é dada à boca pelo BdP. E quem diz o Ministério das Finanças diz também o adjuntinho do láparo, o trokinhas. Tantos testes de stress, tanta coisinha e tão competentinho que ele é todinho e passou-lhe tudo ao ladinho? Ó que belo comissário que ele vai ser, tadinho.
Adiante.

Ricardo Salgado indicou como sucessor o seu braço direito, um Sr. Silva, digo o Sr. Amílcar, leal súbdito. Carlos Costa não disse nem sim nem sopas e o Expresso dizia que a escolha não agradava lá muito ao senhor Costa mas que a Assembleia Geral que dissesse. E a equipa de gestão manteve-se em gestão e Ricardo Salgado, em vez de ir para casa, continuou a tratar do expediente já que não havia sucessor em funções e um barco daquela dimensão não pode ficar sem comandante.

Enquanto isso, o Expresso continuou a lavar a roupa suja do Grupo em público. Ora era o investimento da PT sem se perceber como, ora era a bandalheira em Angola, ora eram os empréstimos com garantias cruzadas e efeito nulo.

De cada vez que o Expresso fazia nova barrela, o inefável Carlos Costa dava mais um soluço. O Sr. Amílcar Pires não!, veio então a balbuciar. E que tinha é que ser Vítor Bento, homem sério (embora sem experiência como banqueiro mas isso de se ser banqueiro em Portugal já não é medalha, isso já é bafo de onça, por isso que venha gente sem cadastro). 

Mas o Vítor Bento, que não tem apenas a cabeça pelada, tem o rabo também já razoavelmente coçado, disse que só ia quando Ricardo Salgado e restante pandilha fechassem as contas. Carlos Costas, como de costume, disse que sim.

E, portanto, o BES continuou sem outra gestão que não a de sempre: a da equipa de Ricardo Salgado.

Enquanto isso, o Governo foi a banhos. Entrevistado na Manta Rota, Passos Coelho reagiu como se o BES fosse drama de desocupados lisboetas: que estava tudo bem, tudo controlado, nada que lhe dissesse respeito. 

Nas televisões continuava a louvar-se o fantástico papel de Carlos Costa: tinha prevenido tudo, o BES estava solid as a rock, refastelado numa folgada almofada financeira de centenas de milhões.

Mas o sacana do Pedro Santos Guerreira, sempre pronto a atirar baldinhos de água fria, dava a entender que não.

Claro que, perante tanta delonga, semanas nisto, suspeitas, dúvidas, gente que reage a pedal e que demonstra que não é capaz de ver um boi à frente dos  olhos, o dinheiro começou a fugir do Banco. A PT, os petróleos da Venezuela, grandes depósitos de empresas e particulares, tudo a fugir de lá. Em situação de chatice, ficam defendidos os depósitos até 100.000 euros por depositante. Mas, quem tem muitas centenas de milhares ou milhões, safa enquanto é tempo!

Claro que o Banco de Portugal teve que injectar liquidez e, com a situação a arrastar-se desta maneira, não havia como não agir. Mas a verdade é que não agia. Então o BCE, vendo a arrastadeira em que o BdP  estava armado, encostou-lhe a faca ao peito: ou fazem alguma coisa ou a gente fecha essa porcaria em três tempos.

Durante esses últimos tempos, a confusão reinava no Banco de Portugal. Sem gestão nova em funções no BES e com um clima de desconfiança em relação à anterior, ninguém sabia ao certo o que se passava nem a real dimensão do buraco.

Ricardo Salgado começava a organizar-se no Palácio do Estoril, a tratar de algum expediente, coisa pouca, umas cartitas de conforto, nada de mais, e o hotel começava a ser o escritório onde se organiza a defesa do ex-Dono Disto Tudo.

Mas, enquanto isso, os papagaios e catatuas continuaram a louvar a eficiência e presciência do grande crânio Carlos Costa, esse génio de imaculado curriculum, sempre a agir atempadamente, nada que se compare com a actuação do BdP no escândalo, esse sim, um escândalo, do BPN..

No fim de semana da confusão final, sob pressão, sem cabeça já para saber bem o que fazer, com um Vítor Bento instalado mas a declarar não se responsabilizar pelas contas do 1º semestre, com o BCE à perna, foi parida uma solução aberrante, confusa e operacionalmente difícil de implementar. Carlos Costa, titubeante, apareceu perante o País como o único pai da criança, criança essa que viria a materializar-se como uma borboleta verde.

Entretanto, o BES já repescou alguns administradores da anterior equipa, já contratou assessores, consultores, certamente muitos advogados, já mudou de nome, já lançou publicidade, etc. Mas que eu saiba tudo continua na mesma, todos os movimentos e todas as contas a serem contabilizadas no BES. 

Na altura, disse-o aqui que na melhor das hipóteses precisariam de 3 meses para montar toda a máquina informática, contabilística, administrativa para acomodar o Novo Banco e para migrar para lá tudo o que foi apregoado, incluindo o respectivo histórico de movimentos mas que, para a coisa ser feita como deve ser, seriam precisos cerca de 6 meses, e isto com uma equipa experiente a liderar o assunto. Presumo que seja, neste momento, a prioridade deles e espero que consigam chegar a bom porto. Não é coisa fácil e só gente experiente pode montar de raiz toda uma nova máquina, segregar as coisas e passá-las de um banco para o outro de forma a não ocorrer paragem de operações ou algo pior.

E, entretanto, a que assistimos?


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(intervalo)



Que entre a Quadrilha






(fim de intervalo)
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A que assistimos, entretanto?, perguntava eu.

Pois bem.

Carlos Costa, tendo constatado as críticas e acusações que lhe eram feitas, começou por insinuar que a culpa tinha sido do auditor do BES, a KPMG, que não o tinha avisado a tempo. Depois que a culpa era também do fraudulento Ricardo Salgado que tinha armado trambique quando já tinha sido posto de castigo. Finalmente, não sabendo quem mais culpar, saíu de cena, foi mandado para casa. Não sei se já regressou e se veio em condições. Mas não há milagres: mesmo que tenha dormido 15 dias de seguida, não será o crânio que nunca foi.


Por sua vez, não contente com as acusações, a KPMG anda pelos jornais a dizer que avisou vezes sem conta o BdP e que não tem culpa que não tenham percebido os alertas ou que não tenham sido capazes de agir. 

Um advogado de pequenos accionistas, Miguel Reis, diz que não quer saber de misérias: que neste processo falhou tudo e falharam todos e que foi tudo feito a trouxe-mouxe e que alguém vai ter que responder pelos prejuízos sofridos pelos pequenos accionistas a começar por Carlos Costa e Cavaco Silva. Nem que seja com o próprio património. Pumba! Uma bomba em cima da mesa.

Cavaco Silva que parece que tem um karma muito negativo com bancos e que está no palácio para ficar bem no retrato e não chamuscado, saíu logo a terreiro, ar de quem anda cismado, boca arreganhada, a espadeirar contra um alvo bem definido: que a culpa não tinha sido dele, que tinha dito que o BES estava sólido porque eram essas as informações que tinha do Banco de Portugal. Toma!


Quando os jornais lhe caíram em cima dizendo que lá tinha ele tirado o tapete a mais um amigo e que, face a isto, já era questionável se Carlos Costa tinha condições para se manter em funções, voltou a sair a terreiro, desta vez para corrigir o tiro: em tom profético retardado disse, sibilinamente, que esperava bem que o Governo o tivesse avisado caso tivesse em sua posse dados relevantes. E frisou que essas são as obrigações do Governo face ao estipulado pela Constituição. Penso que foi uma indirecta, a chamada boca para a geral: é que se há rapazes que se estão a marimbar para a Constituição, sabemos bem onde se acoitam.


Por seu lado, Passos Coelho, como desde o início, continua na moita. Quanto menos falar sobre isto, melhor e, com um bocado de sorte, os papagaios e catatuas nem se vão lembrar de o relacionar com o assunto. Se apertarem com ele, sumirá o que ainda lhe sobre dos estreitos lábios, colocará ainda mais os olhinhos a meia haste e ensaiará um número qualquer, daqueles redondos em que não se percebe onde começa ou acaba a prosa, onde nada se percebe ou bate certo mas em que, enfim, poderá uma vez mais mostrar o efeito positivo de uma voz bem colocada. Isto se não se limitar a rir desbundadamente como é seu apanágio ou se não largar a correr para cantar a Nini a plenos pulmões, que também é moço para isso.


Face a este passa culpas, quem é que eu acho que esteve mesmo mal nisto tudo?



  • A administração do BES (e do GES, claro - mas, para este efeito, o mais preocupante pelos riscos sistémicos é o BES). 
  • O Banco de Portugal e provavelmente também a CMVM (que deixou que o aumento de capital tivesse tido lugar quando já deveriam ter elementos que apontavam para a necessidade de uma intervenção a sério e não através de um saque aos accionistas). 
  • E também o Governo que, em vez de dizer que o BES estaria seguro fosse de que forma fosse e em vez de ter criado imediatamente uma equipa de coordenação do problema - equipa envolvendo o BES, o BdP, a CMVM, elementos do BCE e logicamente elementos do Ministério das Finanças e dos Negócios Estrangeiros (para lidar com os casos de Angola, Venezuela, Panamá, EUA, etc) - lavou as mãos e ficou na moita a assistir à derrocada e a assobiar para o lado. 
  • E também o Presidente da República que, se mais ninguém percebeu que alguém tinha que puxar as rédeas a si e gerir tudo ao mais alto nível e de forma muito controlada, ele tinha obrigação de o ter percebido e ter imposto uma gestão profissional e responsável para o problema. Não apenas é um político com décadas de tarimba, como já foi ministro da área e primeiro-ministro, foi funcionário do BdP, é professor e economista.


O deixar a situação degradar-se de dia para dia, agindo a reboque e sempre a meio gás, não garantindo a coordenação global de um assunto tão complexo e não garantindo que todas as pontas ficassem agarradas, só poderia dar em bagunça como deu.


Que mais de um mês decorrido ainda andem todos a negar a paternidade da borboleta ou a dizer que agiram sob o efeito de substâncias que os outros lhes ofereceram ou que desconheciam os efeitos secundários da coisa é sintomático do bardinanço que tem sido todo este processo: gerir o assunto com os pés em vez de com pinças cuidadosamente manuseadas, uma descoordenação incompreensível, um amadorismo aterrador, um experimentalismo leviano, uma ligeireza que demonstra desconhecimento da realidade prática da gestão e, também, muita, muita cobardia.

Pode não penalizar os depositantes mas a ver vamos o efeito sobre os outros bancos e sobre a economia em geral. Já para não falar no efeito de desconfiança no sistema bancário português que já há-de ter levado muitas poupanças para bancos estrangeiros, nomeadamente para bancos alemães.


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O buraco




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O poema Quadrilha é da autoria de Carlos Drummond de Andrade que aqui também o lê.

O último vídeo é um excerto do bailado The Hole de Ohad Naharin numa interpretação pela Batsheva Dance Company 


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Ainda não é hoje que acabo o dito post que comecei há uns dois dias e que está quase pronto. Há bocado, em vez de o acabar, pus-me a fazer isto que acabaram de ver e, como de costume, fui escrevendo, escrevendo, e depois ponho-me a enfeitar o texto com imagens e depois mais isto, aquilo e o outro e agora já passa da uma e meia da manhã. E esta minha semana é tão repleta de coisas para resolver e tantos telefonemas e reuniões que tenho que me levantar cedo e ir de cabeça fresca. 

E esta terça feira é o debate dos Antónios na TVI - e tomara que o Seguro contenha o ódio e não desate a cuspir na cara do Costa ou que não lhe dê para fazer birra em directo - que o mais certo é que depois me apeteça falar nisso.  


[A ver se a pobre Judite Sousa (... sem 'de'!) já está operacional pois esta segunda feira não apareceu e ouvi, no domingo, o José Alberto Carvalho dizer ao Prof Marcelo que lhe tinha morrido mais um familiar próximo. Pobre mulher, credo. Tomara que consiga ultrapassar este período negro da sua vida e que as marcas se vão esbatendo com o tempo. E tomara que tenha junto a si alguém que a apoie neste período tão difícil da sua vida.]


Bem, logo vejo quando é que completo e publico aquilo. Qualquer dia perde a oportunidade. Eu devia escrever menos ou aprender a portar-me como gente séria que enfeita o texto com gráficos e não com carinhas de pau.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça-feira. 
Muita saúde e muita sorte é o que vos desejo.



sábado, agosto 16, 2014

Alô! Alô! Senhores do Expresso que fizeram o "Especial BES"! Não se terão esquecido de nenhuma geografia no mapa BES? Não quererão dar uma vista de olhos ao 'Nine to Five'? Dou uma ajuda: "A crise bancária portuguesa: um ricaço leva mil milhões para as Ilhas Cayman e sobrecarrega a Europa com um grupo Espírito Santo sem qualquer valor".


Sendo o Um Jeito Manso um blogue, presta-se à diarística e, assim sendo, volta e meia gosto de aqui registar as minhas andanças. Sou moça simples, eu. Poderia até dizer que sou um verdadeiro caso de alterne. De facto, ora sou executiva ora sou sopeira, ora sou dada à política ora à decoração. Este sábado fui sopeira, femme à menage e com muito orgulho e, pelo meio, ainda fiz uma reportagem fotográfica de modo a satisfazer os meus Caros Leitores que gostam de decoração.

Mas isso é a seguir, no post a seguir a este.

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Aqui agora, alterno de novo e de sopeira passo a alfinetadeira. Ora, então, aqui vai mais uma alfinetadela. Coisa simples.

Depois das limpezas, do banho reparador e do jantar, foi tempo de Expresso.

E que vi eu?

Depois do BES, a PT como não podia deixar de ser. A seguir, outras virão. Quando uma borboleta bate as asas no cu de Judas, alguém aqui espirra. Imagine-se agora se, em vez de uma borboleta, for um colosso e se, em vez de ser no cu de Judas, for aqui mesmo ao pé de nós...? Numa economia frágil, em que o capitalismo é de brincadeirinha e que, em vez de fortunas, há dívidas, cai um Grupo Espírito Santo e um banco como o BES e toda a economia abana. Riscos sistémicos. 

Por enquanto, a coisa fica-se pela guerra aberta na PT e é informação e contra-informação com o Expresso no olho do furacão. 


Se o trabalho dos jornalistas económicos do Expresso tem sido determinante (Pedro Santos Guerreiro a fazer um trabalho que ficará na história do jornalismo português; João Vieira Pereira a sair da casca e, entre umas tacadas de golf que eu bem o vi lá no Expresso/BPI, lá consegue assinar crónicas cada vez mais veementes), há agora o risco de serem instrumentalizados. Começamos a ver mails e comunicados de um e outro lado, Ricardo Salgado e advogados, brasileiros da Oi, há para todos os gostos. A guerra aqui não é a brincar: é daquelas guerras sujas em que vale tudo. Tomara que 'os homens do Expresso' (nos quais incluo as jornalistas mulheres envolvidas neste trabalho) consigam preservar o distanciamento necessário para verem com alguma clareza no meio das nuvens que vão sendo forjadas e das que existem e são espessas.

O que eu espero é que a justiça aja rapidamente porque fazerem o que fizeram a uma grande empresa como a PT - que não tarda é nada, esfumando-se entre guerras em que ninguém ganha e que deixam o caminho totalmente livre para os accionistas brasileiros que já mandam e desmandam à boca cheia nesta mera subsidiária da Oi - deve merecer punição e da grossa.

O que eu leio, não apenas é uma subserviência cega perante o accionista BES como é, sobretudo, um desrespeito pelas mais elementares regras de gestão e, melhor, uma gestão de faz de conta. Estou mesmo a ver: um senhor faz os taleaux de bord com os dados relativos à gestão. Deve ter umas ferramentas de business intelligence  ou até uma simples folha de cálculo com tabelas dinâmicas, toda formatada, cheia de links,  em que há uma linha para os depósitos do BES. Quando lhe aparece papel comercial do GES deve ficar sem saber o que fazer. Reprogramar aquilo tudo para inserir mais uma linha? Se se mete a fazer isso, ainda acaba por não conseguir entregar a tempo e horas o quadro com os KPIs (KPI=Key Performance Indicator). Portanto, que se lixe, assim como assim, para quem é, bacalhau basta. E, portanto, soma-se o BES com o GES e fica na linha do BES e está muito bem.

Para quem lê os mapas, se é que os lê, é tinto. O que interessa é o glamour da gestão, os contactos, o bom da coisa. Mapas...? Bahhh...

Põe-se a outra questão: mas quem é que autorizou?

Pois, cá para mim, ninguém. Deviam ser renovação de outros que se venceram e, nestes vazios de permissões que existem nestas empresas cuja gestão de topo é essencialmente um faz de conta, ninguém se deve ter lembrado de pensar: 'Espera aí. Mesmo que seja renovação e em condições idênticas, deve ser analisado e autorizado na mesma, porque as circunstâncias podem ter-se alterado'. Pois. Mas, do que se vê, isso já era esperar de mais. Era preciso que houvesse naquela administração alguém que fosse capaz de pensar. E depois, aquilo eram produtos dos Espíritos e toda a gente sabia que os Espíritos é que mandavam na PT e que, se Granadeiro pudesse escolher, até escolhia Ricardo Salgado como irmão.

Quanto à auditoria do Sr. Mello Franco que veio dizer que a auditoria viu tudo o que era suposto ver: claro! Está a falar verdade. Mas o que prova é que, na PT como no BES e em tantas outras empresas, haver ou não haver auditorias é tudo a mesma coisa. Uma treta. O que o Sr. Mello Franco veio constatar é que não está lá a fazer nada.


É como aquelas cenas das certificações de Qualidade, Segurança, Ambiente, Gestão de Recursos Humanos, etc. Tretas. Aquilo até poderia ser uma boa coisa se fosse conduzido por gente inteligente e por gestores a sério. Assim é uma treta. A Administração sponsoriza, claro, porque todos os consultores dizem que é importante que a Administração se envolva. Depois o Administrador arranja um responsável pela Qualidade (idem para a Sustentabilidade, idem para a Segurança, idem para tudo). O responsável* depois vai falar com os responsáveis pelos outros processos. Os responsáveis têm mais que fazer e delegam noutro. O outro não tem tempo para essas merdas e delega noutro. Às tantas quem está a descrever os procedimentos é o funcionário que faz o que faz porque sempre fez e, portanto, relata o business as usual. E passa a letra de forma. Claro que depois a cadeia hierárquica em peso vai receber a descrição do procedimento para a validar. Mas, caraças, quem é que tem pachorra para andar a ler folhas e folhas a dizer como é que se faz uma encomenda ou se faz um depósito a prazo? E vai de cruz. 
(* Digo o Responsável apenas por facilidade, já que o mais frequente, nestas empresas, é serem putos contratados por empresas de consultoria.) 

a fina flor do entulho da gestão em portugal
A partir daí, todas as auditorias vão verificar se as coisas estão a ser feitas conforme estão descritas no procedimento. E, se estão, concluem que está tudo bem. Claro que o procedimento pode ser um disparate ou estar omisso em relação a uma série de aspectos - mas isso não interessa para nada.

Isto é assim em todas as empresas? Não. Felizmente. Sempre que há gestores a sério, gente que sabe o que anda a fazer e que, em vez de querer receber prémios de centenas de milhares de euros a troco de uma gestão de faz de conta, gere mesmo, questiona, quer saber, quer ver, sabe perguntar, isso não acontece. Mas, estou em crer, são excepções nas grandes e mediáticas empresas.

Portanto, a PT foi ao ar sem ninguém dar por isso e agora anda tudo às turras e aos murros na mesa a ver quem é que foi e ninguém faz a mínima. E no GES/BES foi a mesma coisa. 


Soube há pouco que o Montepio também está a ser investigado e tomara que não venha por aí mais outra bronca, mais um Novíssimo Banco - e isto é tudo uma grande vergonha, uma verdadeira bandalheira.

Mas, enfim, volto à cold cow, ao GES/BES.

No Expresso de hoje, aparece uma imagem do mundo em que se sinalizam os locais por onde os Espíritos andaram a circular ou, em particular, por onde o dinheiro andou a viajar.

Contudo, noto que não aparecem as Ilhas Caimão.

Ora as Ilhas Caimão aparecem referidas no site holandês 925.nl como sendo o destino dos milhões de Ricardo Salgado. 


Já lá foram publicados alguns artigos relativos ao escândalo Espírito Santo, artigos que falam da OnGoing e de Nuno Vasconcellos e Maria Alexandra Mascarenhas, falam das empresas no Luxemburgo e na Suiça, falam nas contas furadas, mostram números, desmontam esquemas e afirmam que nas Ilhas Caimão terá Ricardo Salgado qualquer coisa como mil milhões de euros. Coisa pouca. Trocos. 


Cá para mim, parece-me um exagero mas já não digo nada.

Segundo me dizem e quem o diz sabe o que diz o  principal do 527 é advogado, foi redactor-chefe de uma prestigiada revista, é assustadoramente bem informado, amigo de há uma vida de Marc Rutte, o actual PM da Holanda, mas sujeito independente a sério e capaz a sério. Fora isso, comentador da TV, figura do Jet Set, dandy também a sério.

Os textos são naturalmente escritos em holandês mas, a quem não compreenda a língua, dou a dica que me deram a mim: a tradução do google para português é imprópria para consumo mas a tradução para inglês dá para perceber alguma coisa, o suficiente para se perceber que, quem escreve aquilo, documentou-se e não fala de cor.


Do fim para o princípio: aqui, aqui (o tal onde se fala das Ilhas Cayman) e aqui. Acho que falta ainda um mas agora não consegui encontrar.

Conviria que alguém, com tempo, desse uma vista de olhos ao Nine to Five pois pode ser que debaixo daquele angu haja caroço.

O que me dá mais pena, para além da desgraça para tanta gente que não tem responsabilidade nenhuma nestes verdadeiros crimes e se vê vítima*, é a imagem desgraçada que damos de nós próprios lá fora. Parece que isto é um país de terceiro mundo, em que o poder fátuo do dinheiro (que nem sequer existe, já que o que há são monstruosos buracos) a todos corrompe e, além disso, uma cambada de totós que é roubada por um bando de artistas de alto gabarito e que não dá por nada.


* Uma vez mais Henrique Monteiro assina no Expresso uma crónica do mais infeliz que há. Dá-lhe o nome 'Calma, ó vítimas do BES'. Mostrando que, como sempre, não vê um palmo à frente do nariz, põe-se agora a criticar os que criticam a decisão do BdP porque, diz ele, investidores não podem ser comparados com aforradores e quem anda à chuva molha-se. 


Mas, digo-lhe eu, muitos pequenos investidores são como pequenos aforradores, acreditam no que lhes diz a pessoa da agência, acreditaram que o dinheiro aplicado em acções do BES estava seguro e que rendia mais. Mas se é um crime rapar o dinheiro dessas pessoas que não tinham voto na gestão (e estou a referir-me aos pequenos investidores) também é um tiro no capitalismo e, por infame que o capitalismo frequentemente se mostre, é o regime em que vivemos. Tirando os especuladores, a malta do short selling e dos CDSs, quem é que, em consciência, vai voltar a investir no mercado de acções em Portugal? E não pensarão que, se isto é assim agora na Europa, mais vale é estarem quietos? Poderia tentar aqui explicar ao Henrique Monteiro muitos outros aspectos espúrios desta decisão, da forma como ela se revestiu, mas estaria a gastar o meu latim. O Henrique Monteiro gosta de falar de cor, diz o que lhe vem à cabeça, gosta de tiradas de efeito e pouco mais. Não é para ser levado a sério. A chatice é que passa a vida nas televisões a dizer o que diz e, com isso, é capaz de influenciar muita gente.

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Bem, é tardíssimo, fico-me por aqui. Não vou rever porque já não me aguento acordada.
Relembro: sobre decoração de casa de banho e limpezas e mais não sei o quê, desçam, por favor, até ao post já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.


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sábado, agosto 02, 2014

O BES vai ter que ser intervencionado pelo Estado, o BES foi contagiado pelo GES, o BES é pior que o BPN - tarde e más horas, quem o deveria ter percebido antes, começa agora a acordar. Uma actuação reactiva e ao retardador, a revelar impreparação e falta de inteligência - assim tem sido a actuação do Governo, do Banco de Portugal e de parte da Comunicação Social (e do António José Seguro). O não terem percebido a tempo o que estava a acontecer, tem custos dramáticos para o País, em geral, e para muitas empresas e pessoas, em particular.




Como é sabido por quem por aqui me acompanha, o tema BES, para mim, e desde que dele tive conhecimento, passava por:
  1. uma intervenção rápida de forma a estancar hemorragias e para desincentivar ataques especulativos, intervenção essa que poderia passar (mais do que certamente) por uma intervenção pública na recapitalização do banco
  1. por suspender a actuação dos responsáveis pela descapitalização e descredibilização do BES e por apurar responsabilidades (aos níveis que fossem).






Contudo, como é sabido, a linha dominante (Passos Coelho, Carlos Costa, Comunicação Social) apontou para a direcção oposta, a saber:

  1. desvalorizar a situação, decretando que o Banco de Portugal tinha tido uma actuação exemplar, louvável, que tinha blindado completamente o BES, que não tinha havido contágio do BES por parte do GES, que a almofada era mais do que suficiente, e que o BES não era o BPN já que o BPN é um caso de polícia e o BES nem pouco mais ou menos.
  2. face a isso, decidiram deixar correr o marfim, esperar que Ricardo Salgado indicasse um sucessor, tendo ele indicado Amílcar Morais Pires, depois deixar passar imenso tempo até mostrar que este não seria aceite, deixar que outro nome fosse testado na comunicação social (Joaquim Goes), depois, enquanto a situação se degradava - e toda a mesma equipa de gestão se mantinha em funções - avançar com o nome de Vítor Bento mas, tendo este exigido, prudentemente, que as contas fossem fechadas por Ricardo Salgado, esperar que isso acontecesse, etc, etc, até que o Luxemburgo começou a actuar, o Panamá tomou conta do BES local, as empresas começaram a declarar falência, etc. Só então as autoridades acordaram e fizeram com que Vítor Bento entrasse e Ricardo Salgado e o seu braço direito Amílcar, saíssem (... mas deixando que os demais se mantivessem em funções...). Mas continuaram a decretar que o Estado não tinha nada que intervir, que este era um assunto dos 'privados' e que o BES não era o GES e que o BES não era o BPN. O ar convicto de grande parte dos comentadores a dizer isto deixava-me desnorteada (Ricardo Costa, Henrique Monteiro e tantos, tantos mais)
  3. entretanto, as acções começaram a ser descartadas a toda a velocidade, os especuladores desataram a ver se as acções baixam o mais possível, cada acção a valer pouco mais do que a minúscula moeda de 10 cêntimos, o BES a valer menos cerca de 70% menos do que valia, o Banco em incumprimento de rácios de solvabilidade, o BdP a ter que injectar liquidez para evitar o colapso mais do que certo, as pequenas e médias empresas a manifestarem pânico já que era no BES que maioritariamente se costumam financiar.
  4. até que veio o tão esperado relatório de Resultados do 1º Semestre. Um buraco brutal. Pelo tipo de coisas que se evidenciou, torna-se expectável que mais esqueletos sejam descobertos. A equipa de Vítor Bento diz que não se responsabiliza por aquelas contas (e percebe-se). E diz que há-de vir um plano (mas qualquer pessoa percebe que é difícil montar um plano em cima de uma realidade em acentuada decomposição).
  5. perante a incerteza, perante a forma reactiva como isto está a ser conduzido (reactiva e ao retardador), perante o avolumar de depreciação e o avolumar de suspeitas, é o ver se te avias de fugir a sete pés de um activo que parece ser todo ele mais do que tóxico. O goodwill precioso que era o nome Espírito Santo transformou-se num badwill, o nome de gente de terceiro mundo que usou dinheiros alheios para benefício próprio, que, perante toda a espécie de auditorias, se marimbou para regulamentos e leis e agiu como se Portugal fosse a República das Bananas e a família não passasse de um ramo da máfia.

  • Agora, no dia em que mais duas empresas declararam falência, em que a venda de acções em bolsa está suspensa, e em que o TotóZero Seguro continua a choramingar que o enganaram e que não quer intervenção estatal, começa finalmente, uma vez mais tarde e más horas, a falar-se que a mais do que óbvia necessária intervenção estatal está a ser equacionada.



Até que enfim.

Mas a toda esta forma de agir por parte das autoridades e dos opinion makers, chama-se amadorismo, falta de inteligência e de competência, falta de visão. Isto que estou a dizer poderia não ser grave, poderia ser apenas uma questão de ficarem mal na fotografia. Mas o drama é que é mais do que isso. 



Esta sexta feira, parte do BES estava paralisado, reuniões internas, pânico, as equipas de gestão desorientadas e assustadas. 
Se a liquidez começa a escassear não é apenas o pânico que começará a alastrar, como a economia começará a ficar ainda mais paralisada. 
Quando as empresas começarem a precisar de financiamento para fazerem face a pagamento de ordenados ou a pagamento a fornecedores e o BES não tiver como acorrer, será um desastre cujas dimensões não me atrevo a prever. 
E nem falo de outro problema dramático mas que acaba por ser menor quando comparado com o que acabo de referir: o drama do mais do que expectável despedimento de um numeroso grupo de colaboradores. 

Com esta hecatombe, o BES já é um Banco pequeno e não apenas vai ter que alienar activos como reduzir drasticamente custos. O fecho de agências e o despedimento de pessoas vai ser, provavelmente, inevitável. E quanto mais tempo este impasse durar mais rapidamente tudo isto desaba.


E nem falo de um outro escândalo que um dia vai ter que voltar para a ribalta: a destruição do valor da PT, uma das jóias da Coroa. Os prejuízos a curto, médio e longo prazo para Portugal são enormes e quem fez este lindo serviço deve ser responsabilizado e punido.


Por isso, lamentando que o País esteja entregue a gente tão impreparada, só espero que um plano, ainda que incipiente venha a público, que o Estado intervenha rapidamente e que seja posta no terreno uma estrutura organizativa que inspire absoluta confiança a Vítor Bento (a quem, apesar de não ter experiência como banqueiro, nem ele nem José Honório, dou o benefício da dúvida, achando que merece um grande apoio neste momento tão crítico). Vítor Bento não poderá sanar as contas e tomar decisões rápidas e seguras se lá tiver gente com funções de responsabilidade conotada com os vícios de gestão de Ricardo Salgado. Seja por nacionalização parcial, mesmo que disfarçada, seja por empréstimo, seja por uma solução mista, seja por isolar os activos tóxicos num qualquer 'veículo' - que isso seja feito e que seja rápido.


Sobra para nós? Claro. Sobra sempre. O que agora é preciso é cabeça fria para perceber qual a forma mais benigna. Quanto mais tarde se perceber isto, mais o desastre alastra, mais difícil será estancar, mais 'custosa' será a intervenção. 

Passos Coelho, depois de ter escolhido o seu porta-Moedas de bolso para a equipa de Juncker*, já apareceu em férias com a  D. Laurinha a seu lado como se não estivesse a acontecer um problema seriíssimo no País e o Tozé Seguro já apareceu a repetir que rejeita uma intervenção estatal no BES. A irresponsabilidade continua a campear, portanto.


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* Quanto à escolha do Moedas, em completo desalinhamento com as indicações de Juncker, ainda tenho esperança que o Parlamento Europeu não sancione a equipa por não obedecer a parte dos critérios e que Juncker mande o Trocos de volta. Seria um bom sinal para início de 'reinado' da nova Comissão Europeia mas temo que isso seja optimismo a mais da minha parte.


As imagens foram obtidas na internet a desconheço a proveniência original.


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Estou neste momento a ouvir José Gomes Ferreira na SIC N (eu não digo que ninguém me poupa...?) a dizer aquilo que qualquer pessoa com dois dedinhos de testa percebia logo a olho nu: que o Estado vai ter que entrar na recapitalização do BES já que preparar um aumento de capital pelos processos normais requer tempo (semanas, no mínimo) e requer conhecimento de causa e confiança. Ora, OBVIAMENTE, nenhuma destas 3 premissas é viável. Ou seja, já cá está o Gomes Ferreira a cavalgar a onda, a dizer que vê coisas quando as coisas já se metem pelos olhos adentro de toda a gente. Mas, com o usual ar douto, explica que isto não tem nada a ver com nacionalização. Como se ele soubesse do que fala. Se isto é um especialista em assuntos económicos e financeiros, vou ali e já venho. 


Estou também a ver Passos Coelho a dizer que a estabilidade financeira é fundamental e que o Estado intervirá se for necessário. 

Ora bem. Assim é que é - e era, justamente, por aqui que ele deveria ter começado. Muitos danos colaterais se teriam evitado se ele tivesse tido cabeça. (Eu não ando há tempo a dizer que ele ia ter que engolir a fanfarronice de dizer que o Estado não se iria meter no assunto Espírito Santo?)


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Vi agora um video com a opinião de Pedro Santos Guerreiro, 

(confesso: é o meu alter ego, embora, de início, também tenha engolido aquela pastilha do importante papel do BdP na blindagem e a almofada e etc mas, enfim, desculpo-o porque ainda é novinho; com mais uma ou duas destas, ganha endurance e, não tarda, estará homem feito e já não comerá tão facilmente tudo o que lhe dão a comer), 

opinião esta que, como sempre, é crystal clear. Diz ele que só há uma solução para isto, que é óbvia e que deve ser rápida. Não consigo incluir aqui o filme pelo que deixo o link para lá. Se o Expresso só tivesse gente do calibre dele ou do Nicolau Santos (que acha que deveriam estar todos presos), a ver se eu não assinava o Expresso Diário Online. Agora com Gomes Ferreiras, Duartes Marques, a par dos Henriques e outros que só dão mau nome ao local onde escrevem, é o ver se lá me apanham...