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sábado, novembro 02, 2024

Há coisas que só vistas

 

Durante toda a minha vida, escolhi por mim o que vestia fosse para o que fosse. Todos os dias eu saía de casa como se fosse um dia especial pois todos os dias frequentava locais em que toda a gente se arranjava muito bem e sentir-me-ia deslocada se me apresentasse arranjada de forma desatenta ou informal.

Vestia-me com cuidado, tudo a condizer (ou a contrastar, consoante o objectivo) sapatos adequados, maquilhagem no tom. 

Claro que quando havia mega reuniões ou encontros do Grupo ou situações em que eu ia falar para as 'massas', tendo os 'holofotes' sobre mim, tinha especial cuidado. Nessas alturas, claro que, na véspera, à noite, experimentava vários outfits, fazia uma pré-selecção, e depois pedia a opinião ao meu marido. Era frustrante para mim pois eu gostaria que ele olhasse com atenção, pensasse um pouco. Mas não. Eu aparecia e ele dizia logo 'acho bem'. Depois, eu mudava e aparecia com outra roupa, e ele, instantaneamente, dizia: 'A primeira'. Eu mudava para a toilette seguinte e acto contínuo, ele dizia: 'Pode ser.'. Ou seja, não se concentrava, não tinha paciência. Eu tinha que insistir bastante, mas ficava sempre com a sensação de que ele queria era ir jantar pelo que não tinha paciência para as minhas experimentações. 

Agora que estou reformada, a minha vida felizmente simplificou-se de forma radical. Mesmo quando vamos passear, ou almoçar fora ou a algum encontro ou a alguma situação em que faz sentido arranjar-me um pouco melhor, só tenho que ir ao roupeiro e escolher um conjunto que me agrade.

Mas depois há aquelas situações especiais. Aí tenho mesmo que caprichar um bocadinho. Não dá para ir muito casual e o registo informal está fora de questão. 

Uma coisa tenho muito clara, nesta e noutras condições: não vou comprar nada. Portanto, só tenho que saber escolher. Hoje, antes de chegarem os meus netos, estive a experimentar toilettes. 

Acabei por me fixar em duas. Uma baseada em tons azuis escuros e outra em tons azeitona. Fotografei-me e mandei à minha filha. Rejeitou liminarmente as duas. Na sequência disso, devo ter estado à vontade uma hora a trocar de calças, de blusa, de casaco, de sapatos. Finalmente, quando me parecia que inequivocamente era aquela, a minha filha voltou a rejeitar. Agora parece que já nos fixámos numa delas, com outra como alternativa. 

No fim, a cama tinha calças, blusas, casacos, tudo fora dos cabides, uma maçada de todo o tamanho para voltar a arrumar tudo. Ocorreu-me a paciência que aquelas pessoas que trabalham nos provadores da Zara ou de outras lojas de grande movimento têm que ter para passar horas a arrumar roupa que os outros despem e para ali deixam de qualquer maneira. Enfim.

Mas, com a short list de duas toilettes, agora tenho que convencer o meu marido a ser cooperante e dizer a sua opinião. Gostava que fosse ele a desempatar (mas não estou com muita esperança).

E ainda tenho que ir cortar o cabelo e, desta vez, a ver se vou mesmo à cabeleireira. Em quatro anos acho que só fui uma vez. Mas para um corte mais radical e para a situação que é, não posso arriscar nos meus amadorismos. 

Claro que, no meio de tanta desgraça. eu estar nisto é coisa abaixo de parva. Mas a vida tem destas coisas, muitas facetas, e, excepto em situações limites, há espaço para tudo.

Tirando isso, tive ajuda na cozinha, dois dos meninos colaborando, e, talvez com a excitação de tê-los ali, cada um a fazer a sua coisa, a falarem alto, numa alegria, o cão, que nunca liga patavina, desta vez também quis ver o que se passava e pôs-se de pé, duas patas na bancada, para espreitar e para ver se apanhava alguma coisa. Foi uma aventura para o pôr dali para fora pois obviamente quer estar onde estão as suas 'ovelhinhas'. A cozinha tem duas portas e uns corriam por uma porta e ele atrás e eu e o meu marido a fecharmos a porta e todos a quererem entrar pela outra e nós a tentarmos barrar-lhe a passagem mas, claro, eu a precisar de entrar. Há coisas que deveriam ser filmadas pois só vistas.

E agora que estou aqui na sala a ver uma coisa assustadora, os vídeos falsos gerados por Inteligência Artificial, uma coisa que me preocupa para além da conta (um dos habilidosos dizia que com um gasto mensal de vinte e poucos dólares, conseguia fazer não sei quantos vídeos -- ou seja, toda a tecnologia à disposição de toda a espécie de crápulas, de mercenários, de malucos, de agarrados que precisam de dinheiro, de psicopatas, de fascistas, etc), só me apetece continuar no registo das frioleiras, das futilidadezinhas inofensivas, que não me desgastam os neurónios, que não cansam a minha beleza.

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As imagens foram photoshopadas com muita graça por Volker Hermes

E um bom fim de semana para todos

terça-feira, fevereiro 14, 2023

Descubra o que é que nesta fotografia é falso

 

Isto de uma pessoa ser vcc (leia-se, velha como o caraças) tem o seu quê de ingrato. Uma pessoa lembra-se de coisas que já caíram em desuso.

Não havia internet nem televisão privada, muito menos canais por cabo. 

As notícias chegavam em papel. E, nos jornais, não vinham só notícias. 

Mal o meu pai chegava com o jornal eu ia logo à procura do 'descubra as diferenças'. Tenho ideia que eram sete. Sete diferenças. Duas imagens quase iguais. Mas a gente punha-se a olhar com atenção e os pormenores revelavam o que não coincidia. 

Gostava mesmo.

Agora os tempos são outros e o mistério está em saber o que é fake ou verdadeiro.

Por exemplo, li que está a dar que falar a fotografia de Kendall Jenner. E, ao que parece, a conversa não gira em torno do modelito do biquini, bonito e arejado, ou das formas acentuadas da filha de Kris Jenner e de Caitlyn Jenner (ex-Bruce Jenner) mas, sim, da mão. 

Não parece provável que aquela mão seja uma mão humana. E, nisto, como as suspeições são como as cerejas, já se duvida que a mão seja a única coisa intervencionada naquela fotografia.

Eu não digo nada.


quarta-feira, agosto 17, 2022

7 sinais de que a outra pessoa afinal não é a tal.
6 tipos de pessoas que deve evitar a todo o custo.
10 técnicas infalíveis para flirtar.
Fotografias photoshpadas que não têm nada a ver.
E, para começar bem, uma introdução completamente deslocada.

 


Depois do fim de semana prolongado que me soube a férias, retomei o trabalho e as suas reuniões e afazeres correntes. 

Há empresas  que convencionam fechar completamente em Agosto. Pode parecer uma coisa demasiado intrusiva na vida das pessoas, especialmente quando antes estavam habituadas a escolher livremente, mas, na verdade, é muito mais prático para o funcionamento das organizações, sejam empresas, escolas ou outras. 

No entanto, pelo próprio tipo de actividade da empresa isso pode não ser possível. Contudo, nestes casos, se a vertente mais operacional pode funcionar regularmente, já nas restantes, quase inevitavelmente, anda-se a meio gás. Quer andar-se com algum assunto e está sempre alguém de férias. Nessas ocasiões penso que era o melhor que eu também fazia, ir de férias.

No entanto, não gosto especialmente de férias em Agosto. Há muita gente, os restaurantes estão cheios, estacionar é um castigo e os hotéis custam um balúrdio. Sempre preferi mais o fim de Agosto, princípios e meados de Setembro. É certo que os dias estarão mais pequenos e muitas vezes já entardece com a temperatura mais baixa mas, ainda assim, as férias são sempre mais tranquilas. Mas o pior mesmo é aguentar até lá se chegar.

Ao fim da tarde, não fomos para a beira da praia, limitámo-nos a passear por aqui mesmo. Sou distraída, vou andando e conversando, olhando desatentamente para os jardins e para as casas por onde vamos passando. Ou seja, vou flanando, numa boa.

Às tantas o meu marido parou, disse-me que era melhor voltarmos para trás. Não percebi. Não tinha visto nada estranho. Então ele disse: 'Aquele cão grande está solto na rua'. Sou míope e, além disso, não fixo os cães em função das casas ou das ruas. O facto de ser míope contribui para ser distraída, uma pessoa como não vê bem ao longe até se esquece de prestar atenção. Mas, focando-me, vi o que ele dizia. Há uma casa que tem um cão gigante, mas ponham gigante nisto, todo peludo como o nosso mas em pelo castanho. O meu marido, que eu pensava que conhecia todas as raças, não identifica esta. O cão deve fazer uns dois ou três, senão quatro, do nosso e tem uma cabeçorra imponente. Quando passamos por lá, ele ladra com uma voz que mais parece um rugido ameaçador, num vozeirão encorpado, capaz de matar intrusos só com o medo que inspira. Portanto, foi com convicção que arrepiei caminho. Entretanto, saiu de casa um senhor com porte também de impor respeito, chamou-o e agarrou-o pela coleira, levando-o à força para casa. Estou convencida que o cão deve pesar tanto como o dono. E que o dono é capaz de ser tão possante como o cão. Les beaux esprits se rencontrent, so they say. 

Fiquei a pensar que corro riscos quando saio sozinha com o minha fera felpuda. Hoje, certamente, a coisa poderia dar para o torto pois não sei como seria o desfecho de um encontro de primeiro grau entre aqueles dois.  Quiçá sobraria para mim pois não poderia ficar impávida a ver o grandão a tentar desgraçar a vida do meu ursinho cabeludo.

Quando regressámos, uma vez que tinha o jantar feito, sentei-me à mesa de trabalho mas com o alívio de não ter que trabalhar. 

Notícias: a Serra da Estrela continua desgraçadamente a ser devastada pelos incêndios. Uma miséria. Entretanto, na Crimeia alguém anda a pôr a cabeça dos russos em água e isso são boas notícias. Tudo o que se faça para que aquele regime de corruptos, psicopatas, aldrabões e facínoras se ir abaixo das canetas é boa ideia. Pode demorar mas mais tarde ou mais cedo, a justiça será feita e os russos poderão ter esperança em viver num regime aberto, democrático e saudável. 

{E bem pode o comentador que aqui deixa comentários quilométricos, parte dos quais em maiúsculas, ou os leitores ordinarões que andam sempre com pénis na boca ou as eternas namoradinhas do pcp virem aqui ver se me maçam que eu não estou nem aí.}

De seguida, fui ver o que o YouTube tinha para me oferecer. Tem sempre alguma coisa. Por vezes não são coisas muito óbvias e eu precipitadamente penso que em todo o pano cai a nódoa. Mas o tipo é fino. Hoje, por exemplo, resolveu apanhar-me de cernelha, pelo lado da psicologia. 

Um conjunto de vídeos com uma animação apelativa, uma voz simpática e umas afirmações que me parecem acertadas. Uma vez mais, lamento que não haja legendagem em português. Mas a dicção é boa. E os conselhos parecem-me bastante úteis. A sério. 

7 sinais de que o outro/a não é o/a tal

Quando se começa a duvidar que o outro talvez não seja a pessoa com quem se quer partilhar o futuro, está na altura de apelar ao pragmatismo e equacionar um rápido fim para a relação


6 Tipos de pessoas que deve evitar a todo o custo

Is someone in your life draining your energy? Perhaps you’re always leaving feeling exhausted or in a worse mood than before. How do we know whether someone is a lifelong friend or someone we need to avoid at all cost? Well to help you out,  here are a few types of people you should avoid at all costs.

10 Estratégias psicologicamente provadas para Flirtar

Having trouble flirting? Here are some 10 tips you could use when it comes to getting the person you want! Each of these tips are backed by science! 

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O autor do photoshop a pedido é James Fridman, conhecido por gostar de fazer das dele

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Uma boa quarta-feira
Saúde. Vontade de rir. Paz.

segunda-feira, junho 06, 2022

Cenas de um dia, com uma fera a pingar como um pinto, com os célebres casos notáveis da multiplicação e com uma Rainha como nunca ninguém a viu.

E, a despropósito, uma espécie de spa subterrâneo construído à mão em 100 dias.

 

Anima-me a perspectiva de que esta semana vai ser mais curta. Semanas de quatro dias é que devia ser sempre. Com organização, era na boa.

Anima-me ainda já não estar na escola, sujeita a testes. 

Volta e meia, embora já há algum tempo que não, ainda sonhava que descobria que ia ter teste e não tinha estudado nada, não sabia nada. E ainda me lembro do nervoso miudinho quando os professores distribuíam os 'pontos' ou, nos exames, o formalismo todo do enunciado do exame e das folhas que não me lembro se eram de 25 linhas. Ia sempre um bocado nervosa. Na intimidade do meu pensamento, pedia que me corresse bem. Mesmo que me sentisse conhecedora da matéria, ia nervosa com receio que saísse alguma coisa cujo alcance eu não atingisse ou que eu desconhecesse. Isso ficou um pouco em mim. Ficou também em mim uma outra coisa. Nunca gostei de estudar de mais. Nunca consegui decorar nada pois nunca consegui ter paciência para ficar a perder tempo a decorar. Mesmo em exames finais, não conseguia estudar tanto quanto devia. Ainda agora quando tenho reuniões que são decisivas, não consigo 'ensaiar' na íntegra ou saber a priori tudo o que vou dizer. E isso deixa-me, depois, no momento antes, com algum receio. Vejo colegas que imprimem as apresentações e que, antes de chegar a vez delas, estão a ver e rever cada slide. Nunca fiz isso. Mal vejo os slides, nunca os imprimo e vou para as reuniões a contar na minha capacidade de improviso e com o que me há-de ocorrer. Mas, no momento antes, vendo que toda a gente se preparou, bate o nervoso miudinho. Mas não o evito. Uma espécie de atracção pelo abismo.

A minha fera felpuda também mostrou tê-lo. Estávamos perto de uma piscina. Eu não que eu estava de roda dos casos notáveis relembrando outros tempos. Dois meninos a preparem-se para testes de matemática, um em cada poiso e eu a ajudar um deles. Às tantas um grande chinfrim e o alerta de que o urso cabeludo tinha caído à piscina. A minha filha, vestida, que estava a comer um gelado, atirou-se logo. Um dos meninos não sei se se atirou ou se lá estava. Eu e o meu marido claro que também corremos. Ainda vi o anfíbio peludo a nadar e depois a ser içado. Saiu a escorrer, com metade do volume, a correr, alvoroçado. A minha filha também saiu molhada, com o gelado na boca, também são e salvo.

Mas, dizia eu, que há coisas que me animam. 

E o saber que estou a entrar numa semana curta que antecede uma ainda mais curta anima-me ainda mais. E estamos a entrar no verão e isso também é bom.

E estar em vias de pôr em prática, na empresa, uma little revolution que acho necessária também me anima. Tenho dificuldade em acomodar-me a situações que acho um atraso de vida. Portanto, ou vai ou racha. Uns vão adorar, outros vão odiar. Mas isso não me preocupa. Gosto de cortar a direito.

Bem. Sobre o dia também tenho a dizer que não vi nada do jubileu. Deve ter sido um misto de Santos Populares, Carnaval e Live Aid. Ou seja, uma festa pop, boa para todos. Mas não vi, andei por outras bandas.

Quanto ao resto, segundo vi nos onlines agora à noite: por cá, acho que nada mexe, tudo na maior tranquilidade. No resto do mundo, o bicho ronda. Mas ainda espero um milagre. 

Por milagres. A minha mãe hoje dizia que gostava de ir a Fátima, que há muitos anos que não ia. Que eu me lembre, deve ter ido quando eu teria uns dezasseis anos e fomos conhecer as grutas. Se foi depois, desconheço. Às tantas quer ir fazer pedidos. Ou agradecer. 

O meu pai que sempre conheci agnóstico (isto para não dizer ateu), quando já estava acamado e, volta e meia, um pouco perdido das ideias, quando a minha mãe foi operada a um cancro, mostrava-se inquieto e dizia que rezava a Nossa Senhora de Fátima para ela se pôr boa. Nunca lhe dissemos o que ela tinha, nem pouco mais ou menos. Nem ele percebeu que ela esteve fora tanto tempo. Mas dizia isso. Quando contei à minha mãe, ela ficou admiradíssima: 'Essa é boa... Mas ele nunca acreditou em nada disso....'. Não ia a missas e acho que tinha embirração por padres e afins. Vá lá a gente perceber alguma coisa. Mas se calhar é isso que ela quer ir agradecer, ela ter atendido o pedido do meu pai. Mas não sei, não faço ideia, não me apeteceu perguntar-lhe.

Adiante. À falta de novidades, abri o youtube e vi um vídeo que achei o máximo. Já uma vez tinha visto um assim e depois quis revê-lo e não consegui. Agora, ao ver este foi como se tivesse reencontrado amigo de longa data. Acho o máximo. Acho de uma habilidade incrível, imaginação, força, determinação. Gostava de ser capaz de fazer coisas assim com as minhas próprias mãos. Até me fez lembrar aquela história que ilustra a motivação, aquela do homem que quando lhe perguntaram o que estava a fazer, disse que estava a construir uma catedral quando os outros, que faziam o mesmo, disseram que estavam a partir e a carregar pedra.

 100 Days Building A Modern Underground Hut With A Grass Roof And A Swimming Pool


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Para não se dizer que não ligo patavina ao jubileu resolvi enfeitar o texto com fotografias que mostram a Rainha segundo a lente digital e criativa de Hey Reilly

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Alegria. Paz.

quinta-feira, novembro 04, 2021

O que basta para mudarmos o rumo das nossas vidas

 


Anoitece muito cedo e, ainda por cima, à noite estava muito frio. Depois de virmos da clínica veterinária, já de noite, cheguei a casa e despi-me para me pôr à vontade. Pouco depois, o ursinho mais fofo jantou e, para evitar surpresas, abri a porta para ele ir ao jardim. A seguir, fui eu para o chamar para dentro. Sem agasalho, desprevenida, gelei. Noite cerrada e fria. Estamos no início de Novembro e o tempo parece pender já para o inverno. 

O dia esteve ocupado. Ao longo do dia os problemas vão-me chegando. Não há tréguas. Apenas à hora de almoço e à noite consigo desligar-me. Não sei se é o que é ou se me viciei em não impedir que seja diferente.

De vez em quando alguém recomenda um livro ou sei de algum lançamento. Noutros tempos, tocariam campainhas dentro de mim e iria à livraria conferir. Agora é apenas ao de leve que presto atenção mas de uma forma despojada, sem vontade de ter. Parece que cada vez mais me acontece isto com quase tudo: deixar de ter vontade de ter.

Continuo a receber mails que me anunciam private sales ou collection items. Nem abro. 

Não foi assim há tanto tempo que não apenas eu abria todos esses mails como visitava os locais onde podia tocar o tecido, apreciar o corte ou experimentar o modelo. Agora é coisa que acontece num outro planeta.

E há outra coisa em que também não estou igual. Se ouvia falar em fábricas de startups ou de unicórnios, eu sentia uma brotoeja a subir por mim acima e uma azia a consumir-me de alto a baixo. Agora não. Agora estou mais tolerante, agora apenas sinto desprezo. Agora limito-me a ignorar. 

De unicórnios apenas reconheço um: o que desestabiliza a dama, pela mão de Maria Teresa Horta. 

De resto, é tudo treta, ficção da pior, da mais rasteira. E os que enchem a boca para os apregoar ou louvar uns tolos. E já não consigo desperdiçar o meu tempo com eles. Gente sem substância, sem miolo.

Já estamos em mais uma quinta-feira e eu, antes, aqui chegada, pensava que estava quase na sexta. E já antecipava o prazer.

Ansiava pelas sextas-feiras para, à hora de almoço, ir à Gulbenkian passear pelos jardins, almoçar por lá ou por perto, para ir espreitar alguma temporária e... para ir à Almedina . Nunca vinha de lá de mãos a abanar. Uma livraria pequenina mas que me agradava, uma livreira simpática, uma boa onda. E à livraria da Gulbenkian, lugar de silêncios, de paz, de livros bons... e de objectos bonitos.

Desde Março do ano passado que lá não vou, nem às livrarias, nem às exposições, nem à esplanada ou aos restaurantes lá perto nem, sequer, aos jardins. Penso nesses momentos com alguma saudade. Creio que a esse hábito terei que voltar. 

Se pensar nisto fico um pouco intrigada. A pandemia introduziu uma fractura nos meus hábitos. E agora que poderia retomá-los, parece que deixei de sentir a falta de quase todos. A minha vida mudou muito. Os meus hábitos mudaram radicalmente. Aboli idas a lojas, a livrarias, aboli grande parte do trânsito, aboli restaurantes. Contudo, por razões que ainda desconheço, não me sobra tempo para mim. Estou ocupada de manhã à noite. Sinto que há para aqui um estranho paradoxo que ainda não consegui perceber mas que só pode ter por base o facto de que, a par de tudo o que aboli, esteja também parte da minha inteligência.

E disse que a minha vida mudou muito mas a verdade é que poderia ainda mudar mais. Tenho presente em mim uma permanente vontade de mudança. Aventurar-me, percorrer caminhos desconhecidos. Anseio por eles. 

E sei que o que custa é dar o primeiro passo. 

Mas dá-lo-ei.

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O vídeo abaixo fala disso: dos dois minutos que bastam para darmos o passo que nos levará noutra direcção. 

The 2 Minute Rule Will Quickly Change Your Life – James Clear


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E quando os dias são mais pesados ou as noites descem mais cedo e mais geladas, a mim só me apetece espantar pesos e negrumes com risos e desacertos.

Best Comedy scene "History of the World" by Mel Brooks 


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As imagens são fotografias manipuladas pela mão de Martijn Schrijver na companhia do Bonobo em 'Tides (feat. Jamila Woods)

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Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Harmonia. Coragem. 

sábado, outubro 30, 2021

E ao terceiro dia apareceu o sinal pelo qual eu tanto esperava.
Para festejar, recebam com um aplauso: Caetano Veloso na preparação para o seu vídeo para o TikTok

 


E ao fim do terceiro dia abre-se uma clareira na qual a crise e os malucos que a causaram não têm cabimento. Pode ser que amanhã ou depois ou depois volte à carga. É muito provável que sim. Motivos para me divertir ou arreliar não vão faltar. Mas hoje, sexta-feira virada e o sábado já caminhando, não estou nem aí. 

A minha praia esta noite é outra. Lá fora deve estar uma noite feia e toldada mas, aqui dentro de casa, reina a acalmia. 

Durante o dia, o pequeno urso aprendeu o que é o vento e a chuva. Sentado, empertigado, à porta da cozinha que estava entreaberta para o pátio, olhava com espanto para estes elementos da natureza. Nem queria ir ao jardim. Agora à noite, levei-o lá fora para ver se fazia alguma necessidade. Veio uma rabanada de vento e eis que o pobrezinho largou a fugir para o pé de mim, de novo sentado, intrigado, olhando para mim. Expliquei: 'É o vento. Não faz mal'. Não sei como interpreta o que lhe digo. Nasceu no verão, desconhecia até hoje outra coisa que não o bom tempo.

Haverá de se habituar. Ele tal como todos nós acabamos sempre por nos habituar a tudo. Que remédio.

Como referi na devida altura, nesta quarta-feira entrámos em blackout: nem internet nem televisão nem telefones. 

Veio o técnico, ligou, desligou, fez bypass, auscultou, fez boca a boca... e nada, nem pio para dentro nem pio para fora. Saiu a dizer que o mal devia ser no exterior. Coisa para outra equipa. Ao segundo dia nada aconteceu. Em cada uma das três chamadas, deu para perceber que nada estava a acontecer. Diziam que o assunto estava a ser acompanhado. O terceiro telefonema fui eu que o fiz: quando é para partir a louça, avanço desencabrestadamente. Avisei o jovem que o telefonema só acabava quando ele contactasse a equipa técnica e me transmitisse o que estava programado. Interrompeu e regressou com uma informação: que na sexta de manhã, antes das 10:30, haveríamos de receber uma chamada para confirmarmos que o serviço estava restabelecido. Mas que eu descansasse que o assunto estava a ser acompanhado. Deve ser o que lá têm escrito para dizer. Zanguei-me: não quero que o problema esteja a ser acompanhado, quero é que seja resolvido. 

Mesmo assim, tive esperança. Sou confiante. Ao primeiro dia acontece isto, ao segundo aquilo, ao terceiro aqueloutro. Sou crente. Fazer o quê? 

Só que, à hora da prometida revelação, nem telefonema nem serviço. O milagre não se tinha dado. Voltei a ligar e pedi para me passarem ao supervisor. O supervisor disse que me compreendia, que me pedia desculpa, depois ofereceu-me três canais de borla durante um mês, coisa que eu disse que não queria, queria era o problema resolvido. Disse-me, e pediu que eu acreditasse, que ia fazer o seu melhor. E insistiu na oferta dos canais, fazia mesmo questão. 

De tarde, por milagre, apareceu um técnico. Depois de verificar o que o outro tinha verificado, informou que o colega anterior não percebia nada do assunto. Não sei o que foi. Estava ainda em reunião, foi o meu marido que o aturou. Mas, quando acabei a reunião e lhe perguntei se já estava tudo a funcionar, estava mal disposto, chatices lá no trabalho dele. Por isso, quanto tentei perceber qual o problema da falta de internet, telefone e televisão, disse-me que se estava nas tintas, que estava farto destes gajos todos, queria era que o deixassem em paz. Não sei bem de quem estava ele a falar pois o telefone não parava de lhe tocar.

Resumindo: no que interessa, problema resolvido. Voltei a estar ligada ao mundo.

E, assim sendo, relembrando como funcionam as notícias e os comentários, a televisão voltou à vida. Vi um bocado do noticiário e um bocado do Expresso da Meia-Noite. Um bocado não. Um bocadinho. Talvez menos de cinco minutos. Desistimos. Mais do mesmo. Um bocado antes, quando lhe tinha aparecido o Louçã, o meu marido bufou: 'Eh pah, este gajo é que não'. Pedi para deixar ouvir, estava curiosa, sempre queria ver. Contrariado, cedeu. Ao fim de poucos minutos, resolvemos ao mesmo tempo: 'Já chega. Porra.'. É que ninguém merece.

Agora decorre uma novela da globo e está bom assim. Bobeira de alto a baixo, coisa de não torrar miolo nem dar arrelia. E com um plus que é dos bons. O Fagundão, tentador que só ele. Envelhece com qualidade, melhor que em barrica de carvalho. Todo ele, a cara, o físico, a voz, a graça com que fala: tudo um apetite. Olha-se e o que se pensa é que só de ver, mesmo que de longe, já se sente o perfume daquele pedaço de homem.

Olha. Acabou. Coisa mesmo só para dar água na boca. Eu à espera de cena bonita com o sempre e eterno amadaço Fagundão e afinal já era, a coisa já passou para outra. Uma novela em que parece que todos ciciam. Não tem graça. Não se percebe isto. 

Portanto, agora passei para o Governo Sombra. Só o RAP é que está bem encarado. Bronzeado. Os outros parecem-me macilentos. O Vaz Marques, desde que emagreceu, ficou com ar pendurado. O Mexia parece-me mais gordo e com más cores. Ou foi a maquilhagem que se distraiu nas cores ou devia fazer análises para ver se ataca a tempo. O João Miguel Tavares continua como sempre foi: baderneiro, confusionista, maledicente e mal jeitoso. Terei que voltar a fazer zapping.

E o mais aborrecido é que não sei quais os canais que o outro fez questão de oferecer. Nem sei como descobrir. Pobre e mal agradecida, vê se pode.

Portanto, sem canálios extra, a penúria do costume. Vou mas é desligá-la que fico melhor sem ela. 

Com licença que vou ver se há alguma coisa que se aproveite na Netflix. 

Parece-me que não. Não sei se sou eu que não sei pesquisar ou se é mesmo tudo mais para  fraquinho. Já vi o Estorninho, já vi O Escavador. Desses gostei mas agora não descubro nada que me desperte atenção. Ando biquenta, é o que é. Tudo me parece a tender para o rasteirinho, envolto em plástico. Ou é tudo excessivamente colorido ou excessivamente escuro. 

Pronto. Já descobri. Uma comédia com a Meryl Streep. Luminosa como sempre é, há-de ser uma boa companhia. Estou é na dúvida se já não a vi.  Se já vi, terei que ir dormir. Vou averiguar.

Bem. Fico-me por aqui. O dia foi puxado. Aliás, estes dias, puxa vida, têm sido puxados, coisa mesmo do bêleleu. Vou mas é descansarecos. Mas, antes, permitam que vos deixe em boa companhia.   

Caetano no TikTok 

Segue em primeira mão a nova coreografia e versão de Leãozinho: Gosto muito de te ver, Caetaninho (mão por cima da cabeca 3x). Caminhando com o Porta (andada em câmera lenta). Gosto muito de você, Caetano (movimento de coração com as mãos). Para desentristecer, Caetano (mão fechada em baixo dos olhos, simulando choro). A minha Porta tão só (sai de costas e olha pra câmera dramaticamente)


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As imagens são photoshop a pedido, trabalhos de James Fridman
Lá em cima Mercedes Sosa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gal Costa interpretam Volver a los 17
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Desejo-vos um bom fim-de-semana

segunda-feira, março 29, 2021

O mistério Nuno Rogeiro, a Cleópatra da Malveira, os padres que rezam para que lhes comprem queijo e uns quantos Photoshops um bocadinho exagerados

 



Pouco tenho a acrescentar. Dia tranquilo, com uma ou outra demanda e com as dúvidas que nos têm ocupado a mente. De manhã caminhámos e, como ultimamente tem acontecido, cruzámo-nos com muitas pessoas. Notoriamente já ninguém consegue manter-se fechado em casa. É normal. Ainda por cima com este tempo amável puxando as pessoas para os seus braços... Mas, ao ar livre, e havendo um mínimo de distanciamento -- e, se não for garantido, com máscara -- acho que tudo bem. Arzinho livre mais bom...!

Enquanto almoçávamos, ligámos a televisão. Estava a Nuno Rogeiro a comentar cenas. E, uma vez mais, senti-me beige. Onde é que ele desencanta toda aquela informação? Li há algum tempo que ele se arma em bom, travestindo-se de espião, fazendo de conta que está a fazer revelações escaldantes, quando, na verdade, diz coisas que estão disponíveis em todo o lado. Não vou nessa. Nos jornais normais, pelo menos, não vêm. Ele mostra fotografias, ele revela conversas, ele sabe de telefonemas, ele divulga relatórios secretos. E mostra as provas. Ouço-o e fico sempre sem perceber: é ele um garganta funda que actua às claras? Um descarado dedo-duro? Um alcofinha new age? E tudo o que ele diz é verdade ou anda há séculos, com ar de quem tem a manga recheada, a espalhar fakes por tudo o que é sítio? Por acaso gostava que me esclarecessem. É que, se tudo aquilo é verdade, gostava que me dissessem como é que ele tem acesso a coisas tão improváveis? E mesmo que me digam que é tudo público, gostava que fizessem o favor de me dizer como é que ele selecciona e relaciona tudo aquilo. É muito jogo. E há um outro mistério a envolver o caso: é que, sendo tudo aquilo tão extraordinário, como é que a coisa não dá brado? E, reparem, nem falei no penteado. É que se juntasse esse pormenor, ainda a situação assumiria contornos mais inexplicáveis.

Mas adiante.

Agora à noite, perante a indigência que é a programação televisiva dominical, fiz zapping e passei pela mais estrídula, descabida e narcisística criatura de que há memória nos escaparates. Pior que a Guilherme. Pior que tudo o que se conhece. Desta vez apresentava-se mascarada de cleópatra ou o escambau. Um carnaval ambulante enfeitado de guinchos e escancaradas fake gargalhadas. O meu marido entrou na sala, olhou para a televisão e, ao vê-la a interagir com um bizarro painel, disse: 'Parece tudo muito rasca, não é...?'. E é, concordei. Desandei rapidamente do canal em busca do que se pudesse ver. Ele disse: 'Não queres acreditar mas a única coisa que se consegue ver é o futebol'. Uma tristeza.

E, portanto, acho que não tenho muito mais a dizer: não sei de nada, não vi notícias nem comentadores. Mantenho-me longe dessa praga que é pior do que a lagarta do pinheiro. 

Circulo pelo internacional e, tirando aquelas desumanas e insanas notícias que me fazem ter vontade de hibernar, só coisas sui generis é que call my name. Desta vez foi a notícia de que os monges de uma abadia em França estão a orar para que apareçam clientes para as toneladas de queijo que têm feito e que, graças à covid e à falta de fiéis e devotos a visitar a abadia, correm o risco de passar o prazo de validade. Assim vamos. Penso que é a isto que se chama o novo normal: os padres a rezarem para terem clientes para o queijo. Não sei onde é que isto vai parar. Sempre pensei que a fé não tinha nada a ver com pragmatismos ou prazos de validade. Afinal tem. Se calhar com isso e com mais coisas do género. Credo.

Já agora, por falar em queijo: ao jantar comi apenas uma maçã royal gala -- as que prefiro, das miudinhas, destratadas e saloias -- acompanhada por little fatias de um queijinho artesanal recheado com mel. Dá para imaginarem a delícia dos deuses que é? Claro que não moderei. A moderação cansa-me.

E é isto. Nada mais a declarar. Estou por tudo.


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E, vá, para que haja substância nisto, que se junte alguém que faz do perigo a sua profissão -- e que venha o mais rogeiro dizer-me que isto não é nada, que destas tem resmas para mostrar aos espetadores. Espetadores sem c, claro está. 

The world's most dangerous bus route 😱 | Mountain: Life at the Extreme - BBC


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As fotografias mostram pessoas que se retocaram tanto que ficou uma coisa do além. Quem quiser constatar como não há limites para a estupidez humana pode espreitar: Instagrammers Who Edited Their Pictures So Much, They Got Shamed For It Online

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Desejo-vos uma boa semana.

😜

sexta-feira, dezembro 14, 2018

Conselho não aplicável a carecas


A chuva ondula-me o cabelo, transtorna-o, parece que lhe duplica o volume. O vento, então, tira-o do sério, revolteia-o, desestabiliza-o. Já aqui o confessei: atravessar a rua em dias assim e entrar directamente para uma reunião sem poder ir antes compor-me fragiliza-me. Se alguém quiser abusar de mim -- salvo seja, claro -- é apanhar-se insegura assim, sem saber se tenho o cabelo virado do avesso, se estou com ar de maluca, despenteada mental.

Quando era adolescente olhava com pena (de mim) para o cabelo liso e escorrido de algumas amigas. Achava isso o máximo. Uma delas tinha um cabelo fininho como fios de seda. Era assim que, na altura, eu gostava que fosse o meu. Tinha o cabelo muito louro e os pais passavam a vida a viajar. Ela ficava em casa com o irmão e com as empregadas. Quando regressavam traziam-lhe coisas que não existiam cá: travessões lindíssimos para o cabelo, blusas incríveis, bolsas para os lápis, mochilas com cores felizes. Nós com os livros em malas de pele, estojos também de pele, coisas escuras e sem graça e ela com coisas em turquesa, verde alface luminoso, pink reluzente. E o cabelo lisinho, enfeitado com coisas de todas as cores. A minha mãe dizia dela: cabelinho de rato. Mas eu não ligava, achava que ela dizia aquilo só para me consolar.

Já adulta, houve uma altura em que, se calhava ir à cabeleireira, esticava o cabelo. Quando chegava ao trabalho, toda a gente estacava a certificar-se que era eu, ultra penteada. O que eu gostava de sentir o cabelo elegantemente descendo, esvoaçando e aterrando sempre em grande estilo...

Já me deixei disso. Cada um é como é.

Quanto aos homens. Não convivo de perto com homens com cabelos que fiquem despenteados com o vento. 

Em tempos tive um colaborador muito estranho, muito grande, muito mastronço, muito caladão, uma espécie de mula no masculino, ronceiro, inexpressivo. No entanto, ninguém é exactamente o que parece. Casado e pai de filhos, demos por ele apaixonado por uma colega, igualmente casada mas dada a folguedos de toda a espécie e feitio. Deu-lhe bola. Penso que ter um devoto assim dava-lhe jeito. Na prática, fez dele um motorista particular. Um dia, os colegas de sala, divertidíssimos, vieram contar-me: todos os dias a meio da manhã, a meio da tarde e antes de sair, o tipo sai com um envelope de serviço na mão e regressa, depois vai encontrar-se com ela. Andávamos intrigados e ontem foi bisbilhotar. Imagine: É uma escova de cabelo. Desatou-se a rir a contar e eu fiz o mesmo. Daqueles fulanos com um cabelo ralo, fino, liso, escasso, mas que, por ser grande, disfarçava a escassez. Ia então, escovar os três cabelos antes de ir ter com a namorada. 

Mas, enfim, esta converseta vem a despropósito do vídeo seguinte. Um homem pediu a James Fridman, um retocador de fotografias que lhe compusesse o cabelo na fotografia em que aparece a ser beijado pela namorada. E James assim fez: arranjou maneira de ele o pôr com um cabelinho à maneira. Ora confiram lá, se fazem favor. E todos quando padecemos de despenteamento crónico ou esporádico podemos seguir a boa ideia. 


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As outras fotografias que aqui aparecem foram também photoshopadas pelo patusco do James.
Se quiserem podem mandar-lhe que ele se encarregará de vos tratar da saúde.

sexta-feira, setembro 28, 2018

Agora que a Santa Mana Joana está de saída, eis que chegam à ribalta duas santinhas new wave, as duas divas maiores do showbiz --
Lady Cri, a Princesa das Audiências do Povo, e Manu, a desbocada Cruella Moura Guedes que tem sempre muitas contas para ajustar



Eita, cena mais benta. Vozes ao alto. Logo agora que o altar estava em risco de ficar sem santas, com a Mana Joana a deixar o casal Mariani e o seu pet, o Láparo, sem terem a quem acender velinhas, vem o canal do Tio Balsas e, de uma vezada, resolve saciar a fé deles e demais povão. Vozes ao alto. 

Começou com a Santa Cristina, AKA Sta Caga-Milhões, a new Princesa do Coração dos Anunciantes e do Povo, a prometer animar a malta com muitos desmanchamentos de sisudos e outras surpresas e continua com a Bocas Moura Guedes, comentadeira de notícias e alimentadeira de polémicas de faca e alguidar. Temos santinhas no altar, o povão já pode rezar, fazer votos, pagar promessas, confessar-se, aprender o caminho para o céu. As audiências vão começar a subir, ah isso vão. 

Não tardará muito até termos a Boca Guedes a dar entrevistas à Caras, depois os intelectuais da Passadeira Vermelha a comentar as entrevistas da Bocas, depois o ilustre académico Casanova, essa misteriosa e pessoana criatura, a comentar o carnaval televisivo que há-de galopar a passos largos (pardon my french, que é como quem diz, relevem o equídeo pleonasmo) a caminho do refugo total. Um circo. Com sorte também vão repescar o Marinho Pinto, o Zezé Camarinha, a Maria Leal, o Paulo Futre (esse conceituado andrologista) e outras grandes figuras do mediatismo tuga para terem o seu próprio programa.

E porque a Senhora Directora Cristina gosta de desconstruir e surpreender, não me admiraria nada que ainda fosse desestabilizar as Manas Carmelitas que estão em silêncio há anos e as pusesse a desfilar em biquini ou a cantarem rap ou que a próxima contratação fosse essa sumidade da intelectualidade religiosa, esse artista que assentou arraiais no coito dos Cavaquistas & Laparistas Encostados, AKA Observador, o Pdre Portocarrero de Almada e lhe dessem canal, pondo-o a comentar as toilettes e penteados das deputadas do Bloco de Esquerda, do PCP e demais esquerdas reunidas (obviamente pouparia a Madame Cristas, essa devota da Nossa Senhora dos Manda-Chuvas e outras individualidades que publicamente já tivessem dado mostras de grande devoção)


Também penso que estamos a caminho de ter telejornais da noite ditos por stripteasers (machos e fêmeas, quiçá até por híbridos como o famoso Carlos Costa (não o do Banco de Portugal porque esse não dá canal)), por ter a Quadratura do Círculo animada por back dancers e sorteios de dinheiro entre quem telefonar e acertar em perguntas simples formuladas pelo Pacheco Pereira ou o Eixo do Mal, não com aqueles paineleiros vintage que já são muito déjà-vu, mas por malta com sangue novo como, por exemplo, e é mesmo só por exemplo, a Carolina Patrocínio, o Cláudio Ramos, a a Georgina Rodriguez, o saudoso Bruno Maçães e, para dar conteúdo intelectual à coisa, o não menos saudoso Lombinha dos Briefings. Tudo devidamente moderado e apimentado pela Madame Bocas Guedes. Claro está.

Boa. Ainda há uma fatia de pizza!
Efe-Erre-Á! Á!

(Imagens photoshopadas por Hayati)

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Só boas notícias. Por isso, aleluia, irmãos, aleluia! Vozes ao alto. Cantemos. 

(Eu, se fosse a Princesa Cri, contratava já este jovem altamente promissor para ir abrilhantar o noticiário da noite. Qual Rodrigo? Qual Clara? Pelo amor da Santa... esses já eram)

Aleluia


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Não sei se depois de notícias tão estaladiças e pipoquentas terão vontade de tigres.
Se tiverem, Borges poderá levar-vos pela mão.

terça-feira, junho 26, 2018

Ilusões




Isto para dizer que, agora que já tentei não dormir a sesta e que não consigo discernimento para acabar a noite com o Miguel Carapau, a comer cebola crua com sal em cima de broa, pus-me a fazer zapping mas nada do que para aqui passa me assiste.

O meu marido, depois de, em vão, ter desesperado a ver se conseguia ser canalizador, acabou por desistir e agora adormeceu mas não sem antes me pedir que telefone a ver se alguém sabe de um a sério que venha compor o que ele descompôs debaixo do lava-louça. Amanhã de manhã vou ter que lavar a fruta e a louça do pequeno-almoço no lavatório da casa de banho.

Adiante que, se ele ler isto, ainda fica com o ego ferido por eu estar aqui a pôr em causa os seus extraordinários dotes de bom bricoleur.

O dia, na parte da manhã, foi dose de cavalo e, na parte de tarde, foi passado a aturar os ditos mas do tipo 'mulas', éguas' e 'burras' de ambos os sexos. O calor e o apetite pelo verão não me fazem lá muito bem à cabeça. Ainda se pudesse ter aqui um jardim a precisar de rega para despejar água em cima de mim, ainda ia que não ia. Agora assim...


Estava aqui a ouvir um barulho muito suspeito e pensei que a televisão estivesse a preparar-se para levantar voo. Intrigada, desliguei-a e o barulho continuou. Olhei. Na SIC, um homem acaba de dar uma valente bofetada a uma mulher. Assim vamos: a violência é banalizada de todas as maneiras possíveis e imaginárias nas telenovelas portuguesas. Agridem-se, roubam-se, matam-se. Não consigo ver, é canalhagem a mais para o meu gosto de brandos costumes feito. 

Fui à janela ver o que se passa. Como estou cheia de calor fui como a mademoiselle abaixo mas dispensei o lençol pelas costas. A casa dela deve ser mais fresca que a minha. Olha, afinal é um carro do lixo que estranhamente veio hoje a horas pouco madrugadoras mas faz tal barulho que não me admira que daqui a nada levante voo e me apareça aqui à janela. 

Pronto foi-se embora e a sala voltou a ficar silenciosa. Isto é o que dá estar de janelas abertas. Tenho aqui ao meu lado uma ventoinha que faz um ventinho bom mas também é um bocado barulhenta. Vou ligar e fechar a janela porque não percebo o que é isto. Dá ideia que chegou outro camião. Na volta estão a sugar o prédio pelas bases. Que coisa estranha, esta. Um chinfrim de garrafas, agora. Se calhar isto acontece frequentemente mas, estando habitualmente com os vidros das janelas fechadas à noite, não se ouve.


Pronto. Adiante que este tema não é lá muito histórico-filosófico e eu acho que os meus Leitores são mais dados a isso do que a divagações vadias. Ou a isso ou a metafísica arraçada de semântica ou de pornografia travestida de poesia ou a geografia urbanística ou a farmacologia pré quelque chose ou a engenharia financeira ou jornalística ou a advocacia diversa ou a turismo ou a antiguidades ou a whatever. Coisas sérias, portanto, não a maluqueiras encartadas como as que ultimamente por aqui estou numa de plantar sem parar.

A propósito: dantes, há mil anos, eu achava o Carlos Queirós giro e o meu marido achava-o parvo. Eu pensava que ele dizia isso por ter ciúmes. Ele dizia que ciúmes o tanas, que o outro é que era mesmo parvo. Com os anos, fui achando que o Queirós foi ficando com os olhos encovados e o que perdia em graça ganhava em estupidez. Hoje, finalmente, dei o braço a  torcer: estúpido todos os dias. O meu marido disse: há muitos anos que digo isso.

Não sei se é do calor ou se é que estou a ficar velha do Restelo mas a verdade é que cada vez mais constato que há malucos, parvos, estúpidos e atrasados mentais a pulular por aí em cargos em que apenas devia estar gente boa da cabeça. Mas é que é por todo o lado. Parece que dantes não era tanto. Eu eu não dava tanto por eles. Não sei. Parece que se multiplicam.

Aquela conversa do Carlos Queirós, no fim do jogo, é coisa de gente boa da cabeça? Fiquei incomodada. Há gente simplesmente parva mas há outra que abusa.

Mas é que não é só no futebol: é na política, é nas empresas, é all over. Uma cambadilha sinistra alapada a lugares onde pode exercer o seu pequeno e nauseabundo poder. Não há pachorra.


Desisto. Hoje não consigo falar de nada. Tretas e mais tretas. Ou então é do sono. Ou do calor.

Olho à minha volta e vejo livros por todo o lado. Devia pôr o móvel pequeno que está na zona larga do corredor que dá acesso a esta sala no hall que dá acesso aos quartos para, no lugar dele, pôr uma estante um pouco mais larga e alta. Mas o meu marido não quer, recusa-se a ir ao IKEA e nem quer pensar em chegar a casa com caixas e pôr-se com montagens. Também não quer pôr o móvel no hall dos quartos, diz que quer movimentar-se sem ter que se desviar de nada. Portanto, temos aqui um círculo que precisa de se transformar num quadrado. Coisa bicuda, esta. Qualquer dia os livros tomam conta desta casa. Se ao menos os personagens saíssem das páginas e viessem fazer uma farrinha aqui ao pé de mim, andar às cavalitas uns dos outros, apanhar gatinhos a fingir em cima dos móveis, brincadeirinhas gozudas e cabeludas assim. 


E lá em baixo continua o camião, o mesmo ou outro -- já nem sei, o que sei é que rugem como um aeroplano. Na volta estão a testar se a minha rua serve para o famigerado novo aeroporto: qual Ota, qual Montijo. Aqui mesmo, debaixo da minha janela. Pois que seja. Há tantos anos que, a propósito de fazerem um novo aeroporto, por aí andam nessa coisa de mastigar sem engolir que acho que é de se topar qualquer parada. Antes isso que andar o pessoal já todo ao estalo no saturado e a rebentar pelas costuras aeroporto da Portela.

Bem. 

Esta minha conversa é silly talk. Silly talk na silly season. Os meus Leitores não merecem isto. Mas fazer o quê? Deitar-me em pelota à sombra da bananeira a ver se algum marmanjão aparece para me fazer companhia?


Ah, só mais uma coisa. Ainda não comentei. Sabem?

Os insectos estão a desaparecer do Reino Unido e de muitos outros lugares e isso pode causar uma catástrofe de dimensões incalculáveis.

E outra: o Facebook está a vender espaço político e, com isso, caminha(mos) a passos largos para a total subversão da democracia.

E uma ou outra coiseca. Tudo minudências sem importância.

E nem falo dos barcos cheios de imigrantes que ninguém quer ou das crianças, aos montes, lá na fronteira da propriedade gerida pelo Trump, enjauladas num calvário burocrático para voltarem aos pais.

Ou de outras frioleiras que tais.

A questão é que o calor derrete-me os miolos e o que fica a funcionar não dá para tanto. Que se ocupem disso as mulas, as éguas, as burras -- de todos os sexos -- que tomam conta deste mundo.


Eu, pelo lado qu eme toca, vou continuar aqui, nesta minha vidinha toda recheada de ilusões. Por exemplo, para ver se durmo mais fresca, vou sonhar que vou para a beira de um lago, que vou toda nuazinha, que vou olhar para vocês com uma carinha laroca a fazer de conta que qual é o mal? Nunca viram uma barriguinha branca e umas maminhas mais branquinhas ainda?

E, quando sair do banho, para não arrefecer, vou vestir um impermeável a dizer I really don't care. Do u?



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As imagens, com excepção da fotografia da Melania Trump feita quando foi visitar os miúdos retidos na fronteira (obra do maridinho), mostram o trabalho do brasileiro Gabriel Nardelli Araújo para  o Canvas Project, no qual ele mistura personagens de pinturas clássicas com fotografias do ambiente actual, retocando-as com photoshop.


sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Acidentes de Photoshop


Um verdadeiro bissexual ou seja com dois sexos e que, ainda por cima, dá para os dois lados
(As perninhas é que não ficaram lá muito bem cerzidas mas, enfim, face ao valor acrescentado aqui apresentado, quem é que vai prender-se a minudências dessas...?)


Não sou de me exibir, nem aqui nem em qualquer outro lugar. Não me acho interessante enquanto objecto. Por exemplo, não sou como este aqui acima que tem uma mais valia relevante. Eu não. Sou banal. Por exemplo, não tenho maminhas à frente e maminhas nas costas. Gosto de fotografar, não de ser fotografada.

Apenas uma vez aqui me mostrei. Quando o Um Jeito Manso se aproximava perigosamente dos dois milhões de visitas, o meu marido, ao perguntar-lhe eu como me sugeria que assinalasse o momento, voltou a dizer-me que me desse a conhecer melhor. Depois de começar por rejeitar a ideia, fiquei a pensar e ocorreu-me que, então, me fotografasse ele. Assim o fez. E foi assim que, nesse post, não apenas se ouve a nossa conversa como se pode ver a misteriosa autora deste blog.

Quando no outro dia cheguei às 2.500.000 visitas pensei voltar a pedir-lhe que me fotografasse e, em cima da imagem, photoshopá-la de forma a ocultar a minha identidade mas inserindo-lhe algum humor. Mas nem tenho sapiência para fazer isso de forma ágil ou artística nem me sobra disponibilidade para aprendizagens nestes domínios. Portanto, não fiz nada e, de resto, esqueci-me da ideia e, quando dei por ela, e foi a partir de um mail de um Leitor, já ia avançada nos dois milhões e quinhentas e muitas mil. 

Um casal de outro mundo flutuando sobre o varandim da escadaria

Um dia em que me sobre tempo ainda me hei-de aventurar a ver se consigo pôr umas asas a sair-me das costas, umas mãos compridas das quais jorrem palavras, uns olhos dos quais jorrem cores, uma boca da qual jorrem sorrisos, umas pernas das quais jorrem mares, uns cabelos dos quais nasçam árvores e, por cima, mil luas, mil sóis. Coisa assim. E, no fundo, poemas, músicas, flores, montes, pássaros, veleiros, frutos doces e maduros. Coisa simples, portanto.

E, se ficar imperfeito, paciência. Não sou perfeccionista. Até porque se há coisa a que acho graça é a manipulações fotográficas desajeitadas. Há-as deliberadamente amalucadas e há aquelas em que, simplesmente, a coisa não correu lá muito bem.

Estas que aqui tenho são acidentes que terão resultado de distração, pressas ou ajuste de contas com os visados.

Se eu fosse jeitosa na arte de manobrar o photoshop também podia tentar fazer graças 'acidentais' como estas. Ainda há um ou dois dias, vi o ex-irrevogável aí num debate qualquer, todo ele prosa e pose, e fiquei danadinha para o fotografar para logo o desconstruir e voltar a construir com ainda mais garbo, feito empresário vintage e com um láparo no bolso. Ou, agora que estou a ver na televisão a notícia sobre aquilo de que falo no post abaixo -- a incontinente bizarria de Dom Clemas --, era bom que conseguisse pô-lo, qual Diácono Remédios, a enfiar-se na cama de desnudos casais pecadores para os impedir de chegarem a vias de facto, 'oh meus amigos, não havia nechechidade'. Mas, para a coisa ter graça, pô-lo-ia a ele próprio castamente nu (para lhes provar que se pode conversar em regime de tête-a-tête, nu em pêlo, como os casados o fazem e, ainda assim, não se pecar). Bem, todo nu se calhar não que, provavelmente, as pessoas de bem não se põem nuas. Talvez com uma púdica e discreta cuequinha em lycra nude e com uma cruz na mão para afugentar o capeta, mas tendo o cuidado de o pôr a segurar a cruz de forma benevolente, jamais sado-inquisitorial. 
Mas, claro está, tudo acidente meu de photoshop - 'Uuupsss, a cara não era para ser a dele. Queria a cara de uma santa figura do Tiepolo e, sem querer, saíu-me a de Senhor Dom. Não sei como. Totalmente involuntário, Inabilidade minha. Sorry. Passa a vida a acontecer-me. Caraças. Tenho que me deixar disto, troco sempre as mãos e, vai daí, sem saber como, aparecem-me as caras trocadas.'
Upsss... Estava a retocar a rainha... Upsss... que nabice a minha... nem sei como... troquei as caras.... Sorry.

Adiante. 

Por aqui me fico. Era para falar de um tema já aqui antes abordado, o das bonecas sexuais com inteligência artificial, mas o tema pede recato e eu, com o sono com que estou, já não consigo articular três palavras de seguida quanto mais debruçar-me sobre um assunto tão dado a profundidades, declinações e cálculos diferenciais. Não. Para pegar nelas, não apenas tenho que estar de luvas como tenho que ter pelo menos três neurórios a funcionar. Não hoje, portanto.

Uma nadadora a quem o exercício fez crescer o braço
(para além de lhe dar uma boa elasticidade)
A ver se na fisioterapia, quando lá conseguir ir, me conseguem ginasticar desta boa maneira
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E queiram espreitar a árvore aqui abaixo para verem o safado do macaquinho empatador.

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