Tive mais um dia muito cansativo. Cheguei tarde a casa e sem vontade de ligar o computador ou ver televisão. No telemóvel, espreitei as notícias.
E, para minha estupefacção, vi que houve mais um erro do Ministério Público: a tão propalada, censurada e debatida/comentada reunião entre Lacerda Machado e Escária com Afonso Salema, então CEO da Start Campus, na sede do PS, no Largo do Rato, em Lisboa... afinal não existiu. O erro denunciado pelos envolvidos já foi assumido pelo Ministério Público. Mais um erro.
Já parece demais, não é? É assim que o Ministério Público -- destrambelhadamente, irresponsavelmente -- trabalha? É?!
E é com base nestes despautérios sem pés nem cabeça que alguém decide mandar avançar dezenas de polícias para invadir a casa das pessoas, revistar-lhes as gavetas, prendê-los, pespegar tudo nos jornais -- com base em suspeições/acusações que afinal eram infundadas, erradas?
É com base nisto que se deita abaixo um governo (de maioria absoluta)?
E, de cada vez que o Ministério Público manda estas notícias, afinal fake news, para a comunicação social, logo saltam os comentadeiros e as galinhas sem cabeça da oposição, capitaneadas pelo omnipresente Ventura, tudo a saltar em cima a pés juntos, todos dizendo que não se espantam, que era expectável, que é tudo uma cambada -- e... afinal... era mentira. Aquilo que estes descerebrados zés-ninguéns já sabiam, afinal, não existiu.
E, nessas alturas, depois de se saber que foi cometido mais um erro pelos procuradores, onde estão todos os que cuspiram em cima dos que foram visados pelo Ministério Público? Não os vejo. Calados que nem ratos. Cobardes.
E, mais uma vez, pergunto: onde está o murro na mesa que se impõe a Marcelo? Onde está Marcelo a dizer que os ramos mortos da Justiça, nomeadamente a cadeia hierárquica e as maçãs podres do Ministério Público, têm que saltar fora?
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E quando pessoas lúcidas, informadas e inteligentes como Augusto Santos Silva (ASS) vêm pedir explicações aos que fizeram porcaria (porcaria e porcaria a valer), e celeridade a quem tem que desembaraçar o emaranhado que os fora-de-lei teceram, logo aparecem, uma vez mais, as galinhas acéfalas e aos papagaios descerebrados a pedir a demissão de ASS e a lançar confusão.
E eu, de novo, pergunto: porque não vem Marcelo dizer o mesmo que ASS ou Vital Moreira, porque não vem dar cobertura aos democratas que se insurgem e batem o pé e levantam a voz para defender a democracia, a liberdade e a justiça (a sério)?
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Mas hoje estou cansada, não me apetece continuar a escrever.
Deixo-vos em boa companhia
Fran Lebowitz's 5 Points of Culture with CpULTURED Magazine
De vez em quando, ao ver algumas das telas que pintei, fico admirada. Não estou a dizer que as acho excepcionais, note-se. Estou a dizer que me espanto por aquilo ter saído de mim. É como quando, às vezes, leio coisas que escrevi há muito tempo e fico admirada por aquilo me ter ocorrido.
Nunca tive vontade de aprender a pintar tal como não me ocorre frequentar um curso de escrita criativa. Tenho a ideia, porventura errada, de que estas coisas ou saem genuinamente do nosso íntimo ou não vale a pena. Tenho também a ideia de que a aprendizagem tem que ser às nossas custas: experimentar, falhar, tentar de novo.
Na pintura, sempre me senti tentada pela abtracção ou, quando é figurativo, que o objecto da pintura seja inexistente. Pessoas inventadas, flores irreais, casas imaginárias, caminhos impossíveis. Talvez me aproxime do surrealismo.
Poderia pensar que é uma defesa contra a falta de perícia. Sei que se quisesse retratar fielmente uma pessoa iria falhar. Por isso, pintando coisas inexistentes, não há o risco de virem dizer-me que a boca na pintura é mais carnuda do que a real ou que o joelho saiu bicudo demais. Mas não é (só) isso pois, ao apreciar arte alheia (em galerias ou museus) nunca é a pintura figurativa, realista, naturalista, etc, que me seduz. Prefiro aquilo que apenas existe porque o pintor o criou a partir da sua imaginação ou capacidade de abstração.
E uma coisa de que gosto é de ver/ouvir pintores, não os conceptualizam muito mas os mais prosaicos, menos dados à auto-promoção ou a armarem-se em intelectuais da coisa.
Mas esta porta aberta para o mundo, presente, passado e futuro, que é a internet leva-me a descobrir o que de outra maneira talvez nunca descobrisse.
Cativante esta Alice Neel na forma simples e directa como fala que parece ser o espelho da forma como pintou. O auto-retrato (acima) ou o retrato de Andy Warhol (abaixo) são disso exemplo.
Os vídeos estão traduzidos mas, aviso já, a tradução não é das melhores, deve ser tradução automática. Em tudo em que, em inglês, o género é neutro a tradução sai no masculino mesmo que se esteja a falar de mulheres. Mas, enfim, para quem não domina bem a língua inglesa, sempre será melhor que nada.
Alice Neel, 1978
Alice Neel entrevistada por Barbaralee Diamonstein-Spielvogel, para o programa de televisão Inside New York's Art World, 1978.
Engraçada também a entrevista com Fran Lebowitz sobre, justamente, Alice Neels (e não só). Fran Lebowitz é uma daquelas carismáticas figuras nova-iorquinas, diz o que lhe apetece, conhece meio mundo dos meios artísticos e boémios, tem sentido de humor e é inteligente.
Fran Lebowitz on Alice Neel | PROGRAM
Fran Lebowitz discute a vida e a obra da pintora Alice Neel, vivendo em Nova Iorque nos anos 70 e o que significa ser artista -- entrevista com Helen Molesworth.
É o que já aqui disse e que muitas vezes penso: eu devia era ter um diário a sério onde pudesse contar tudo. Assim, tudo o que é mais relevante eu que permitiria identificar alguém é omisso ou ocultado.
Se falo, tenho o cuidado de usar abstracções ou de passar ao lado de referências geográficas ou biográficas. Por exemplo, apetecia-me relatar ipsis verbis todo o meu dia. Mas, com muita pena minha, não posso.
Hoje saí e estive fora cerca de seis horas. E, durante essas seis horas, presenciei cenas indescritíveis. Presenciei não: participei. Vi-me dentro de um cenário que merecia ser filmado. À noite, ao falar com o meu filho, eu disse que gostava de conhecer um realizador que se predispusesse a filmar aquilo. Só visto. Que magnífico filme ali se faria. E teria de tudo: ambiente underground, vilões, desgraçados, disfarces, intriga. E o ambiente, a luz, a forma como os personagens se movimentam, os labirintos... tudo é incomum, surreal. Uns olham-me de lado, outros simulam normalidade, outros baixam a cabeça para me cumprimentar. Um, com ar descarado, perguntou-me: 'E você quem é?'. Disse o meu nome. Ele fez um sorriso e disse: 'Ah... já ouvi falar...'. Uns passos depois perguntei quem era, Disseram-me o nome. Nunca tinha ouvido falar. Mas o que soube a seguir ainda mais intrigada me deixou.
Quando ia a sair, um veio ter comigo, disse que queria falar comigo, que não seriam mais que uns minutos. Disse: 'Diga'. E ele: 'Aqui não, é melhor irmos falar lá para fora'. Tudo do além. Fui. Estava muito nervoso, muito estranho, parecia assustado. Ouvi-o mas sem perceber bem tudo o que me estava a dizer.
Outra pessoa, depois, perguntou-me. Disse-lhe por alto. Juntou os dedos várias vezes. 'O quê? Não percebo'. E ele: 'Está com medo'. Não disse nada. Também não percebi. Medo de quê?
Quando estava a visitar outro local, recebi uma chamada. Queria saber como tinha corrido. Disse que ligava depois. Liguei do carro. Contei-lhe mas não é possível contar tudo. Contei, por exemplo, a bizarra indumentária duma. E a forma como tinha falado, e a forma como outros tinham reagido. E tudo muito bizarro. Contei algumas coisas do resto. De vez em quando, ao relatar cenas mirabolantes, do lado de lá uma gargalhada. E eu, por fim, também a rir, parece que tinha assistido a um filme de Fellini ou a um teatro maluco.
Assim não dá para perceber porque, neste caso, eu deveria ser literal, descritiva. Um diário com todas as letras. Assim, tudo vago e abstracto, não dá para perceber.
Ao chegar ao computador, tarde, e ao ver o ror de mails que entretanto tinham chegado, vi uns quantos que voltaram a tirar-me do sério. Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar, já lá dizia o outro (e eu concordo tantas vezes com ele).
E, com isto, já é sexta-feira e vai ser dia de festa na comunicação social. Vamos ver que rato a montanha vai parir. E não, Senhora Dona Kina, isto não tem a ver com o Sócrates ser o Sócrates mas com o Sócrates ser um cidadão do meu País que está a ser vítima da má Justiça do meu País. Nem tem a ver com o PS. Se há coisa que aqui tem a ver com partidos só se for por termos partidos cobardes que fecham os olhos à pouca vergonha a que, neste caso, talvez mais do que em qualquer outro, se assistiu com as fugas de informação, as perseguições ad hominem (digamos assim),a devassa em regime de vasos circulantes entre Justiça e Comunicação Social. A si nada disto a choca? Ou, por ser o Sócrates a ser vítima, a gente deve juntar-se aos cobardes e ficar calada? Not me, Kina, not me. Todas as pessoas são inocentes até prova em contrário -- e esse é um princípio do qual não abdico. E mesmo os condenados merecem ser tratados com a dignidade devida a todos os seres humanos. E é isto que penso, trate-se do Sócrates, trate-se de si, Caríssima Lady Kina.
Mas, dizia eu, já é sexta-feira e vai ser um dia grande. Eu, pela parte que me toca, tenho a agenda preenchida e ainda quero arranjar tempo para, ao fim do dia, para tratar de umas coisas cá minhas.
Já aqui o contei e desculpem por me repetir. Lembro-me muitas vezes de quando a minha mãe -- numa altura em que deu aulas perto de um bairro de lata -- no regresso à escola depois das férias, chegou a casa impressionada com a resposta que recebeu de uma aluna à pergunta sobre os presentes de Natal. A menina, toda contente, disse que tinha recebido um plástico muito bonito para pôr por cima da cama para não chover. A minha mãe ficou muito comovida e eu, que era adolescente, também o fiquei. Tanto que essa imagem não mais me abandonou.
Lembro-me também de quando ia beber café a uma pastelaria perto de casa e me fazia muito impressão, no dia de Natal, perto da hora de almoço, ver pessoas a comer sozinhas, com ar apagado, olhar baixo, quase como se não suportassem a imagem alvoroçada dos sorridentes que ali iam beber café, comprar pão ou buscar bolos de última hora para apressadamente voltarem para casa, para junto da família.
Também me lembro de um colega que dizia que na noite de Natal jantava com a mãe, ia para casa cedo porque a mãe jantava muito cedo e, no dia, ia com ela comer um prego o que, para ela, era uma excentricidade, uma aventura especial. E ele contava esse seu programa de Natal como se quisesse disfarçar o que quase me parecia vergonha.
A minha véspera e o meu dia de Natal são festas em família, felizmente gente sempre animada. Temos tido problemas, e quem os não tem?, temos perdido pessoas que amamos, alguns têm estado doentes, sustos daqueles mesmo maus mas que, por sorte, têm sido ultrapassados, outros assistem ao lento declínio dos que lhes são mais próximos. Mas, talvez porque há sempre crianças e as crianças, com a sua graça e alegria, fazem ultrapassar qualquer sombra e mágoa, até agora e desde que me lembro, por sorte, os meus Natais têm sido sempre felizes.
Contudo, tempos houve em que, num lado da família herdada, algumas pessoas incompatibilizaram-se com outras e deixaram de passar os Natais juntos. Custava-me muito isso mas nada podia fazer. Nessa altura, eu, o meu marido e os meus filhos íamos ver esses que tinham sido banidos pelos outros. Tentávamos levar-lhe um pouco do calor familiar e de alegria. Quando a última dessas pessoas morreu e tivemos que 'desmanchar' a casa, encontrei os presentes que lhes deixávamos pelo Natal, muito estimados, com a data desse Natal escrita à mão.
Não é um dia diferente dos outros mas, em volta dele, a sociedade criou toda esta imagem de ilusão, de inclusão, prosperidade e afecto que, provavelmente, deixa um pouco desamparados os que não têm a possibilidade de viver o Natal dessa forma. Penso especialmente naqueles que perderam entes muito queridos e em que as circunstâncias da vida e o tempo ainda não não esbateram a dor. Penso em Leitores que, ao longo do tempo, me têm contado as suas perdas e os seus imensos desgostos. Lamento muito e gostava que, um dia, a memória suavizasse a perda, transformando-a sobretudo em saudade, em doce saudade.
Esta segunda feira vou ter um dia bem preenchido com todo o tanto que tenho que fazer mas penso que, antes de sair de casa para ir festejar a véspera de Natal junto de parte da família, ainda conseguirei vir aqui -- mas temo que seja muito a correr. Por isso, é agora que me alongo.
E o que agora me apetece dizer é que perdas e dores sempre acontecem, sempre, mas que a vida sempre continua.
E também que não é de agora que o mundo está cheio de infortúnios, de injustiças, de desigualdades, de pobreza e de solidão. Penso que o mundo nunca foi perfeito e nem valerá muito a pena encontrar culpados. Se hoje as disparidades são tão escandalosas, se há tanta gente a viver no limiar da miséria, a verdade é que não consigo apontar o dedo a um grupo de culpados em particular, especialmente quando são os mais desfavorecidos que elegem aqueles que mais os prejudicam e mais acentuam o fosso entre extremos opostos. Somos todos nós, globalmente, que plantamos as sementes do mal e que, dessa e de outras formas, nos afastamos da nossa humanidade.
A felicidade não é eterna, não é infinita, e também não tem receita, nem tem que ser igual à dos outros, e, claro, não se mede. Acredito que a felicidade pode ser um somatório de breves instantes, de coisas de nada, de coisas muito cá nossas. E, mesmo quando se perde, pode voltar a ser encontrada. Pode vir sob a forma de uma palavra, de um sorriso, de um gesto, de um vislumbre, de uma recordação.
Durante algum tempo eu gostava de, nesta altura, aqui referir o nome de todos os meus Leitores cujo nome, por me terem contactado, eu sabia. Mas são muitos e temo esquecer algum. Por isso, apesar de não o nomear agora aqui, querido Leitor ou Leitora, saiba que não esqueço quem um dia quis chegar até mim. Para si vai o meu afecto e, ainda que apenas desta forma tão limitada, vai também a minha companhia.
Abaixo mostro vídeos onde se podem ver as casas dos muito ricos em Nova Iorque, depois as inconcebíveis 'casotas' dos mais desfavorecidos em Hong Kong, depois o que é a vida nas favelas do Rio de Janeiro e, finalmente, o que é viver no deserto. São vídeos que acho muito interessantes e que fazem pensar. Este é o mundo em que nos foi dado viver e não sei se temos sido suficientemente inteligentes para o usarmos da melhor forma.
E talvez isto nem tenha muito a ver com o espírito natalício mas permitam que vos diga que acho que não há relação entre o valor das habitações e o nível de felicidade dos seus habitantes. Não há regras de três simples nestes casos. A felicidade não depende do número de presentes recebidos pelo Natal nem dos metros quadrados ou do conforto da nossa casa. A felicidade é outra coisa, uma coisa muito só nossa.
A sua vida tem sido pontuada por actividades distintas em que sempre deu nas vistas - de resto, o seu hábito de se vestir ostensivamente com roupas masculinas, só por si, já a tornaria um pouco diferente.
Lebowitz é conhecida pelos seus sardónicos comentários sociais sobre o estilo de vida americano, comentários esses filtrados segundo as sensibilidades de Nova Iorque. Há quem a chame a Dorothy Parker actual.
No vídeo abaixo, feito para a Vanity Fair, Fran Lebowitz que nunca se intimidou perante temas polémicos, fala sobre o problema dos sem-abrigo e dos imigrantes em Nova Iorque.
Pode dizer-se que há aqui uma visão ingénua, talvez populista, talvez simplista - e não sei julgar se ela profere o que profere por provocação, se por convicção, se por um misto das duas coisas - mas a verdade é que, se muitas vozes respeitadas não se cansarem de apontar o dedo a situações que, se bem vistas, são aberrantes, contrárias à ordem natural das coisas, talvez as consciências comecem a despertar para as injustiças sociais que levam a que uns tenham tanto, quase tudo e outros, pouco, quase nada.
O vídeo foi hoje colocado no Youtube (à hora a que escrevo ainda tem apenas 250 visualizações) e não tem legendas em português. Mas, porque o acho interessante, aqui o partilho convosco.
Fran Lebowitz sabe o que fazer com todos esses oligárquicos apartamentos
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E desçam, por favor, até ao post abaixo se quiserem saber onde adquirir livros belamente encadernados ou ilustrados.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira. Peace and love, my friends. ..
Convido-vos a ver um Naked Cowboy nas ruas de Nova Iorque ou os mais jeitosos rapazes de Michael Kors na esquina da NYSE - observados pela Tita que generosamente me enviou notícias de lá, autorizando-me a divulgá-las. Vinham estas fotografias a propósito do que aqui escrevi no outro dia sobre o bem que faz à saúde masculina contemplar seios femininos, deduzindo eu que as mulheres, para o mesmo efeito, deverão ver exemplares masculinos. Pela sua natureza, coloquei-as no meu Street Photo & Co.
Aqui coloco a fotografia que a Tita fez junto ao Memorial às vítimas do 11 de Setembro.
Trancrevo as suas palavras: "Estive no Ground Zero, agora chamado de novo World Trade Center. Está um espaço belíssimo e muito místico. Os 2 lagos que construíram, com dimensão igual à da base de cada torre, são impressionantes: o tamanho, o caudal de água, a forma possante de cair dessa água e o próprio ruído profundo das cataratas que deslizando vigorosamente em milhares de fios líquidos, são de uma forma quase etérea, atraídos, serenamente, para um buraco central... As 3000 mil pessoas, cujos nomes estão escritos nas bordas dessa piscina, estão ali bem presentes na sensação que, a cada um de nós, tudo aquilo transmite. Que bom e que merecido!"