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segunda-feira, agosto 05, 2024

A Bruna...

 

Conhecia mal a Bruna Lombardi. Aparecia nas novelas da Globo e era linda, uns olhos transparentes. Depois, fiquei a conhecê-la melhor, e era de nome, nos programas da Globo com o professor Aquiles Arquelau que babava por ela.

Aquela Bruna Lombardi

Mas depois ela foi aparecendo noutros cenários. Não era apenas uma cara bonita, não era apenas actriz da Globo. Afinal escrevia. Afinal tinha uma voz.

Gostei de ouvi-la aqui.

Bruna Lombardi revela conselho de Clarice Lispector, relação com Chico Buarque e livros afetivos

Charles Bukowski, James Joyce, Clarice Lispector, Gabriel García Márquez, Mia Couto, Virginia Woolf, James Baldwin, Manuel Bandeira - diga o nome e é provável que Bruna Lombardi já tenha lido. Isso fica claro diante das pilhas de livros que se espalham pelo chão do que já foi um dia a biblioteca da família. 

É ali, em uma ampla sala de dois andares, uma construção anexa à sua casa em São Paulo, em pleno jardim, que a atriz e escritora recebeu a reportagem do Estadão numa tarde de fim de outono para falar de seus livros.

Pelas paredes de vidro, vemos a natureza lá fora. Dentro, um acolhedor espaço com decoração moderna, esculturas, sofás. E os livros - ainda em fase de organização porque a tal biblioteca, que abrigava os exemplares que ela colecionava desde menina e que foram se juntando ao longo da vida aos do marido, o ator Carlos Alberto Riccelli, e, mais tarde, aos do filho, Kim Lombardi Riccelli, está sendo reformulada.


quinta-feira, agosto 01, 2024

O que fazer quando uma separação não dá certo...?
E outros aspectos relacionados com isto de se ser mortal.

 

Tinha aqui um outro vídeo para partilhar apesar do que a minha filha já gozou comigo. Não acha nada que a voz seja parecida com a do Castelo Branco, acha até que o comentário de que estou mais para a voz da Lady Betty está certo. Diz ela que falo com um fiozinho de voz, quase a desfalecer. Explico que deve ser por estar a andar sozinha e não me dar jeito falar alto. Ela diz que quem está a narrar para um vídeo deve falar como se estivesse viva e não a dar as últimas. 

Mas, para fazer o teste, sugeriu que desse aos meninos para eles ouvirem. Nessa altura já só estavam cá os filhos dela, os outros meninos já tinham ido com o pai. Comecei por dar a ouvir ao seu mais novo. Ouviu até que se fartou, achou que cinco minutos a falar de abelhas era tempo a mais. Quanto à voz, achou normal, não achou estranha.

O mais velho parece que também não achou nada de mais, percebi que achou que a voz era a minha, mas não posso acrescentar mais, já apanhei a opinião meio de raspão quando já estavam a arranjar-se para sair.

Mas se não partilho hoje o terceiro vídeo não é por isso, é porque lá me atiro aos alienados do PCP que apoiam o Maduro como se não tivessem qualquer neurónio na cabeça. E hoje não me apetece falar nisso ou poluir o meu bloguinho com coisas que não me agradam. Até o PC venezuelano se demarcou da pretensa vitória do Maduro. O nosso PCP é que continua ao lado do Maduro. Não descansam enquanto o partido não tiver menos do que 1% nas eleições. 

Enfim.

Adiante.

Li o livro 'O meu pai voava' da Tânia Ganho e, apesar de ser um livrinho de apontamentos, li-o de gosto. E que não se pense que o diminutivo tem a ver com a qualidade do livro. Não será literatura da grande mas, ao contrário do lixo e das tretas que por aí circulam, este é genuíno e lê-se com prazer.

De certa forma relacionado com a temática, estou agora a ler o 'Ser mortal' de Atul Gawande que, por mero acaso, a minha nora me recomendou depois de uma amiga, médica no IPO, lhe ter recomendado a ela. 

Até há uns meses eu fugia a sete pés de livros sobre estes assuntos (lidar com a finitude da vida, a própria ou a alheia), achando que eram mórbidos, deprimentes. Agora não acho. Quando lidei com a situação terminal da minha mãe não sabia o que fazer, o que dizer. Quando um dia lá apareceu um padre, só não escorracei o homem a pontapé por falta de energia mas fiz de tudo para o interromper. Uns dias depois entrou outro padre e mais uma vez tentei pô-lo fora do quarto. Temi que a minha mãe percebesse que estava muito mal e que pensasse que tínhamos chamado o padre para a extrema-unção. O padre disse que, se a minha mãe quisesse, podia rezar com ela. E a minha mãe disse que queria. Quando o ouvi rezar a pedir para a Nossa Senhora receber a minha mãe tive outra vez vontade de o expulsar a pontapé. Não queria que ela pensasse que estávamos a desistir dela e que estávamos a aceitar que ia morrer.

Mas sempre fiquei na dúvida sobre o que dizer: animá-la? Dar-lhe falsas esperanças? Ou o quê? As enfermeiras diziam que ela lhes dizia que não queria morrer. E eu sei bem como ela queria viver até ao fim dos tempos. Não aceitava que um dia iria morrer. Por isso, até ao fim tentei fazer de conta que isso não iria acontecer.

Mas foi tudo tão difícil que me senti totalmente impreparada. Muito, muito impreparada para lidar com tudo. A minha mãe também estava impreparada para aceitar o que ia acontecer. Quando eu falava com os meus, lamentava que a minha mãe não aceitasse que o fim haveria de chegar. Mas pensava: se fosse comigo, estaria eu preparada para perceber que o fim estava a chegar e aceitá-lo-ia com serenidade?

Ainda estou no início do 'Ser mortal' pelo que não sei se vai ser esclarecedor em relação às minhas dúvidas.

O livro da Tânia Ganho não é exactamente sobre isso mas trata do luto, da aceitação de quem fica, da aceitação que a culpa não tem sentido.

E agora, quando estava por aqui a veranear, depois de um dia cheio de alegria e de brincadeiras e de juventude, apareceu-me o vídeo que aqui partilho. E gostei de ver e ouvir. É importante perceber que não estamos cá para sempre. Ou seja, o fim é natural. E é bom que saibamos lidar com isso. Talvez não seja forçoso que o fim seja triste, doloroso.

Este vídeo fala nisso.

Flávia Pedras: casamento com Jô Soares, a relação e os últimos momentos juntos | Conversa Com Bial


Dias felizes

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

"Ser gay é uma desgraça", escreveu alguém no google e veio parar ao Um Jeito Manso. E eu digo: desgraça coisa nenhuma. Porque haveria de ser? E relembro a história do gago que me tirou do sério. Nada a ver, claro. Mas é que ser gay ou gago não tem mal. Já eu ser maluca é capaz de ser um problema (pelo menos às vezes é).


A frase que referi no post anterior foi a frase que escrevi em epígrafe. Quando a li nas estatísticas de acesso, fiquei um pouco triste por pensar que alguém deveria estar a sentir-se infeliz e tentou encontrar algum amparo na internet, alguém que lhe dissesse que não tinha por que se sentir desgraçado(a).

Talvez a pessoa que escreveu isso queira esconder a sua orientação sexual e conviva mal com o disfarce ou talvez o tenha assumido e sinta alguma recriminação social. O que eu posso dizer é apenas a minha opinião mas o que diria se estivesse a falar com essa pessoa seria que assumisse e vivesse a sua vida sem vergonha ou constrangimentos. Com dignidade. Com segurança para que ninguém se sinta no direito de troçar.

É verdade que toda a gente sente uma vontadezinha infantil de dizer piada ou fazer sorrisinho perante algumas situações que fogem ao padrão: é com o vesgo (conforme o divertido vídeo do post abaixo deste), é com o gago, é com o baixote, baixote mesmo, é com o gay abichanado. Mas isso, de facto, é coisa sem importância. Pode magoar os visados, e acredito que magoe, mas o que eles têm que perceber é que quem ri o faz sem más intenções, por pura parvoíce.

Vou contar-vos. Aqui há uns anos eu estava a ter uma reunião com um grupo no qual se incluíam vários espanhóis. Às tantas, já no fim da reunião, antes de irmos almoçar e já todos cheios de fome, ficámos todos em círculo, de pé, conversando, num registo informal. E, às tantas, um dos espanhóis que tinha estado calado até então, um que tinha ar de mexicano, começou a falar. E, senhores... era gago, gago mas gago. Uma coisa desesperante. Para começar a falar dava balanço e ficava ali quase a gripar, aquilo não pegava de maneira nenhuma. Eu já aflita porque o homem de cada vez que abria a boca ficava ali g...ga....g....ga....ga....ga.... e nada. Todos em suspenso e nada. Por fim, com a língua a esbracejar-lhe dentro da boca, quase como que a pedalar, a coisa lá saía mas, logo a seguir, porque uma frase se faz de várias palavras, vinha mais outro suplício, p...p....pa....p...pa. E todos em círculo, cheios de fome e o mexicano a querer contar qualquer coisa que não saía nem por mais uma. 

E então aconteceu aquilo de que tenho pavor. Começou a dar-me vontade de rir. Temo esses momentos. Começo a tentar conter-me e a vontade de rir vai aumentando quase descontroladamente. 

Não dava para me rir, todos em volta do gago, convidados de cerimónia, uma situação sem escapatória. Podia sair dali a correr como se me tivesse dado uma vontade súbita de fazer chichi mas isso seria ridículo e, além do mais, o terror que acompanha esses momentos tolhe-me o raciocínio. O gago continuava a ganhar balanço para mais uma sílaba e eu vejo toda a gente de olhos postos nele a ver no que aquilo ia dar e ao olhar para os outros ainda mais aterrorizada eu ficava pois sabia, de certeza certezinha, que bastaria detectar algum sorriso contido para eu me desatar a rir descontroladamente.

Então pus-me de olhos no chão e já estava a ver o caso mal parado. Percebia que era absurdo o homem estar a falar e eu de olhos no chão. Às tantas, um colega meu, o que estava ao meu lado, percebendo que alguma coisa se passava comigo (e sem discorrer que tinha a ver com o patinanço do gago), pergunta-me 'Passa-se alguma coisa?'. Claro. O mal nestas coisas é alguém me dar o pretexto. Eu queria ser capaz de lhe dizer em surdina 'passa-se que o gago nunca mais vai chegar ao fim da frase' mas desatei a rir, a rir, mas de lágrimas mesmo. Virei-me de costas e o meu colega virou-se também para me encobrir e para fingir que estávamos a conversar. Eu chorava a rir e até já estava era mesmo cheia de vontade de fazer chichi, e ria, ria, sem me conseguir controlar. E o meu colega, os homens conseguem ser mesmo parvos, não percebia o que se passava 'mas o que foi...?' mas só de me ver rir assim já ele se ria também à gargalhada.




Juro que não sei como foi que a coisa acabou porque estive lavada em lágrimas a rir feita maluca, eu e o meu colega, de costas, um pouco afastados, nem sei quanto tempo.

Por fim, lá vimos o grupo deslocar-se para a saída e lá nos dirigimos para o almoço. Quando respirei ar puro até me parecia mentira, refresquei, passou-me aquela pancada. Ao meu colega também. E lá me voltou a perguntar 'mas o que foi?'. A custo lá consegui articular 'o gago...' e desatei-me outra vez a rir. E ele, ainda sem perceber: 'o que é que tinha o gago?'. Desisti de explicar. Aliás não tinha explicação.

E agora que estou aqui a escrever e a relembrar-me estou outra vez na mesma, a chorar a rir.

Mas digam-me lá: que vontade de rir é que isto dá? Nenhuma, não é? Maluquices, que se há-de fazer?


E até me sinto ainda mais maluca por parecer que estou a comparar a gaguez com a homossexualidade. Sei que não tem nada a ver. Mas a questão é que não há que ter vergonha, esconder, reprimir, etc. Há é que estar psicologicamente preparado para reacções parvas dos outros. E rir com essas reacções, encarar com bom humor, reverter a situação a seu favor.

Mostro-vos um exemplo: uma entrevista de Jô Soares com Cláudio Gaspar Dottori, Claudinho, um político gago com um fabuloso sentido de humor.





E, como já aqui o disse tantas vezes, quanto a políticos gays: sejam eles políticos, deputados, ministros, o que forem, o que interessa é que sejam inteligentes, decentes, competentes e honrados.

Drama é serem parvos, manipuladores, incompetentes.

Ainda se fossem umas bichas descaradas como o Sebastian... ao menos far-nos-iam rir. Agora estes que por cá temos dão-nos é vontade de chorar.

Ora vejam o bom do Sebastian nos EUA com um presidente giro e negro (does it ring a bell?) e um presidente francês, fraca figura (a bon entendeur, salut !)

É Little Britain, uma série that I love, love, love.




*

Se descerem um pouco mais, poderão ver mais uma prova do que são preconceitos inaceitáveis, desta vez contra os vesgos. É na Porta dos Fundos, o sítio onde se passam coisas impróprias para consumo.

NB: Hoje não consigo responder a comentários nem a mails (ando uma gazeteira imperdoável, eu sei, mas não tenho mesmo conseguido) porque ainda tenho que ir trabalhar. A sério. Dá para acreditar? Aliás, entre o post que se segue e este também estive a trabucar.

[Dantes, quando havia trabalho para todos, costumava dizer-se: quem não trabuca não manduca. Velhos tempos.]

*

E, assim sendo, despeço-me apressadamente, desejando-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira. 

Nem sei se vai estar de chuva ou não. 
Mas como desde que saio de casa de manhãzinha até que regresso à noite não ponho um pé ao ar livre, na prática nem me faz diferença. 
Isto é que é uma vida... Deve ser por isso que fico com os fusíveis meio curto-circuitados.