Continuo a eremitar e não me peçam para me deixar disto. Estou bem demais.
Vi, de raspão, algumas notícias mas, logo à primeira que vi, a Ana Lourenço, ao dar a notícia, fez um esgar de desprezo pelo que dizia, como se não acreditasse no que dizia. Quando a Informação chega a este ponto, eu não aguento a agonia e fujo a sete pés.
Noutro canal, tinham noticiado qualquer coisa pois estavam a dar entrada aos comentadores. Os pseudo jornalistas torpedeiam ou deturpam as notícias que dão e, de seguida, como se fossemos incapazes de processar o que eles ajavardadamente noticiaram, aparece uma chusma de gente que vem mastigar para que os espectadores comam a comida já mastigada por aquela gente.
Claro que não são todos os comentadores que são uns zés-ninguéns, uns palermas encartados ou uns chico-espertos. No meio da avalancha, um ou outro são credíveis. O problema é o que é preciso gramar muita porcaria para chegar aos que interessam. E eu não tenho essa paciência.
Estivemos, isso sim, a ver e ouvir na RTP 2, os concertos Ao Largo. Tirando isso, nada.
Em contrapartida, de tarde, nova aparição. Descia o muro, na maior, até que se deteve sobre um murinho. Não se pôs sobre a azinheira mas sob, mas isso, em minha opinião, não desmerece o sagrado da aparição.
Não percebi o que estava a comer mas, sendo ali, presumo que fosse uma bolota. Aliás, vendo a fotografia, concluo que devia mesmo ser uma bolota pois parece que estava a tirar-lhe o chapelinho. Coisa mais fofa.
O que tinha à mão era o telemóvel. Aproximei-me, fotografei-o.
Olhou para mim e rapidamente abalou azinheira acima e já não consegui vê-lo mais.
Voltei a pôr bocadinhos de amêndoa na pedra que está aqui junto à porta da sala. Fiquei de tocaia. Nada.
Fui caminhar. Depois de uma ou duas voltas fui espreitar a pedra. As amêndoas tinham desaparecido. Mais esperto que eu.
E já vos contei: há pinhas roídas por todo o lado. Ficam como as espinhas de peixe que eu como, roídas até ao tutano.
Presumo que graças a eles e aos pinhões que devem sobrar das pinhas que roem, agora rebentam pinheiros por todo o lado. Não se dá conta.
Não sei o que pensarão, vocês que me lêem, talvez pensem que exagero, mas eu, perante estas aparições sinto-me verdadeiramente abençoada. Não se admirem, pois, se me acharem cada vez mais beatificada.
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Não tenho alma de jardineira, falta-me a persistência e a minúcia. O ambiente de floresta, ver como crescem as árvores, ver os musgos e os líquenes, os cogumelos, as florzinhas selvagens, tudo isso atrai-me muito mais. E os cheiros, a aragem fresca e perfumada, os caminhos, os rumores, tudo me enche de alegria.
Talvez por isso, me apeteça hoje partilhar o vídeo seguinte que tem a vantagem de ter legendagem em português.
The Constant Gardener
Os humanos são óptimos a fugir da verdade, mas no jardim ninguém não pode esconder-se. Vida e morte, vitalidade e decadência – tudo acontece diante dos nossos olhos.
O jardim é um espaço definido não pela sua fisicalidade, mas pelas emoções que evoca e pelas ligações que provoca. E o acto de jardinagem pode mudar para melhor a maneira como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor, dando-nos perspectiva e ensinando-nos lições sobre a vida.
Escolhemos plantar sementes de medo ou amor? Nós fertilizamos a raiva ou a harmonia? Regamos as conexões que temos ou deixamos que morram de sede?
As nossas almas são jardins. Os nossos corações são flores. Eles precisam de ser regados, cuidados, fertilizados e amados.
Tenho para mim que o excesso pode estragar. Gordura é boa se não for em excesso, a curiosidade é boa se não for em excesso, atingir a perfeição é um bom objectivo mas tornar-se-á uma pancada se for demais. E por aí vai.
Por exemplo, excesso de informação é uma fonte de confusão. Excesso de informação na comunicação social, excesso de informação nas redes sociais. Informação não filtrada, não processada, informação que não é nada, apenas lixo, informação a granel e em permanente atropelo. A quem aproveita tamanha enxurrada, tão carregada de detritos? Creio que a ninguém. Informação de qualidade que calhe acontecer vai de arrasto no meio da lama e do lodo que segue na torrente.
Vamos de canal em canal e todos estão cheios de gente a comentar o caso Marquês, sentenciando a torto e a direito como se pudéssemos prescindir da Justiça e substituir as suas instâncias pelos milhares de opinadores que, sem hesitação, se arrogam o direito de tecer teorias sobre o que apenas conhecem dos jornais e das redes sociais.
Conhecem o processo aqueles que opinam com tanta assertividade e ar tão clarividente? Presumo que não. Têm alguns conhecimentos jurídicos? Grande parte não tem.
E, no entanto, jornalistas que nunca ninguém viu mais pintados/as e que espumam raiva pelos olhos, palermas com a mania que têm competência para chefiarem governos e que, tanto opinam como economistas (fingindo que o são) como causídicos simulando grandes conhecimentos na área, putativas psicólogas que dariam tudo para se poderem apresentar de biquini com a depilação brasileira bem à vista, ex-candidatos à presidência da República em quem apenas a família votou e que de leis conhecem tanto como o cão dos meus vizinhos que ladra, ladra mas que, juraria, não leu as milhares de páginas do processo nem cursou leis -- e todos comentam, todos criticam, todos ajuízam.
Qualquer das pessoas que se apresenta na televisão queixa-se que nunca tal se viu, que tudo isto é incompreensível, e criticam iradamente Ivo Rosa por lhes ter trocado as voltas. Acabei de ver um, transtornado, a dizer que não percebe nada disto... e, ouvindo-o, até parece que a culpa é disto. Se, por acaso, um cirurgião tiver dificuldade em fazer um transplante complexo e perguntarem ao Joselito Gomes Ferreira, à Amaral Dias e a tutti quanti o que acham disso, provavelmente, também todos se sentem à vontade para tecer considerações, para dar palpites, para invectivarem o cirurgião por não tornar a operação mais simples para que eles possam perceber. E uns, sem qualquer sombra de dúvida, dirão 'se fosse eu aspirava o fígado por uma palhinha', outros não terão dúvidas que o que deveria ser feito era 'injectar um par de pulmões pelo rabo acima'. E a Ana Lourenço e outros e outras jornalistas farão olhares sentenciosos e justiceiros, pedindo sangue, mais sangue, que se esfole o Sócrates, o Ivo Rosa, todos os ricos e poderosos, mas que se esfolem vivos, e, de passagem, quiçá também mais uns e umas que para aí andam a dizer que à Justiça o que é da Justiça.
Enfim. Um desespero assistir a isto.
E, assim sendo, por ora, sobre o tema é o que tenho a dizer. Estou de ressaca tal a overdose de comentários e opiniões a que tenho estado sujeita. Portanto, se me permitem, vou arejar.
Também quero aproveitar para dizer outra coisa. Estávamos a jantar e a vermos a RTP 3. Por indolência fomos ficando. Gosto do Ministro Pedro Marques. Gosto desde que foi Secretário de Estado. É um fulano sóbrio. Não atira foguetes, não tenta agradar, fala do que sabe e, se não sabe, diz que não sabe. E, do que sabe, fala com determinação. Gosto. Não há cá rodriguinhos, bolas de efeito, jeitos à esquerda e à direita. E dá ideia que tem os pés assentes na terra, não parece ser fulano para se deixar deslumbrar.
Mas, então, lá estava ele, tentando manter uma linha de rumo racional face a perguntas da Ana Lourenço que o interpelava numa lógica de imediatismo, como se, agora que o fogo foi apagado, já se estivesse em condições de começar a trabalhar. Que ainda não haja levantamento de estragos, que, por conseguinte, muito menos se tenha podido avaliar a forma mais expedita e económica de fazer face a todos os estragos ou se há seguros que cubram parte dos danos ou condições efectivas para se pedir o recurso a fundos, isso, para ela não interessa nada. Para aquela cabecinha (que antes me parecia mais ou menos atilada e que, com o tempo, tenho visto a tender para a desmiolice) seria normal que, não se sabendo ainda nada disso, o Ministro estivesse em condições de responder com números exactos a quanto vai custar ou quando vai estar tudo pronto.
Como é que eu poderia alguma vez ocupar cargos em que tivesse que aturar perguntas assim...? Jamais!(ler em francês de Alcochete, se faz favor). Se numa situação destas, no dia em que fosse nomeada para coordenar a reconstrução de uma coisa com a amplitude de toda a zona ardida nos diabólicos incêndios de Pedrógão e Góis, e sem se saber ainda o exacto âmbito e a real dimensão dos estragos, me aparecesse uma Ana Lourenço a fazer perguntas destas, acho que responderia com ar sério:
Com certeza, Ana. Eu digo-lhe. Vai demorar três meses e duas semanas e meia e vai custar quatro milhões, quinhentos e vinte e sete mil duzentos e setenta e seis euros e vinte e três cêntimos.
A ver se ela percebia a ironia... Na volta, não.
Para os jornalistas qualquer asneira dita com ar convicto é letra de forma, coisa equivalente ao que antes era atestado em papel azul de vinte e cinco linhas com selo branco e escriturado por notário. E quatro ou quarenta, milhões ou milhares de milhões para os jornalistas é tudo igual ao litro. Vão por mim: ainda pior que cliteracia de alguns australopitecos é a confrangedora iletracia matemática dos jornalistas. Mas, enfim, acho que, quanto a isso, não há nada a fazer. Temos que sofrer em silêncio (ou, então, seguir o avisado conselho da Mãe Preocupada).
Continuando. Na volta, a dita Ana Lourenço (e aqui leia-se Ana Lourenço em sentido lato) achava que eu estava a falar a sério e ainda me perguntava a seguir: E quantas pessoas vão estar envolvidas nessas operações? E eu, na mesma linha, responderia, com convicção:
Ainda bem que fez essa pergunta, Ana. Vão estar envolvidos catorze engenheiros civis, dois mecânicos, quatro electrotécnicos, dez biógofos, dois astrofísicos, um astronauta, sete arquitectos, duzentos e trinta e sete pedreiros, treze electricistas, doze canalizadores, a equipa do Querido, Mudei a Casa, cinco silvicultores, dois deputados do PSD Ribatejo, trinta e três motoristas, vinte e nove agricultores, a ex-ministra Cristas, cinco jardineiros, dois fotógrafos, rédeas curtas para dez meios jornalistas, milho para meia dúzia de galinhas sem cabeça (bem, talvez essas não precisem de milho), uma gaiola para cinco papagaios e uma jaula para seis abutres.
Enfim.
Mas adiante que não era sobre isto que eu ia falar.
A cena é que a Ana Lourenço -- que hoje não se apresentava com o habitual cabelo em asa de corvo mas, sim, numa rutilante cor de cobre -- estava com um generoso decote que deixava antever parte dos seios. Acresce que dá ideia que os pousava sobre a bancada, empolando os volumes que se acomodavam dos lados do vale que se formava entre eles.
Em frente, o pobre ministro tentava manter o olhar acima da linha de água para que ele (ele, olhar) não se afundasse na regueira por onde talvez escorresse a putativa transpiração entre-seios da Ana Lourenço.
Contudo, o pobre, de vez em quando, quando ela falava e ele se via forçado a encará-la, fechava os olhinhos, tentando não ver o que ela tinha bem à vista. Olhinhos semi-cerrados. Franzidinho, franzidinho... Ou isso ou é míope e estava, o maroto, a focar a visão para melhor alcançar as poitrines da Lady in Red Hair.
E estava eu a pensar isto -- mas em silêncio, que eu os pensamentos íntimos gosto de os guardar só para mim -- e diz o meu marido: 'Não deve ser fácil um gajo manter-se concentrado... a Ana Lourenço hoje está com as mamas quase de fora'.
Exagero dele, claro. Não estavam quase de fora coisa nenhuma, estavam apenas sofialorianamente bem insinuantes, digamos assim.
Esta dele (dele, meu marido) até me fez lembrar uma do marido de uma colega. Conta ela que ele, quando ela sai de casa mais decotada, lhe alarga o decote com um dedo, espreita bem de perto e lhe pergunta: 'Olha lá, achas que vais bem assim, as mamas todas à mostra?'. Conta ainda ela que, calmamente, o elucida: 'Olha lá tu. E tu achas que os meus colegas costumam meter o dedo no meu decote e espreitar lá para dentro?'
E sai de casa assim mesmo, orgulhosa nos seus bem fornecidos seios.
E faz ela muito bem. Desde pequena que ouço dizer que o que é bom é para se ver. Ora essa.
Enfim.
Isto só para dizer que, por todas as supra aduzidas razões, aquele pobre ministro Pedro Marques deve ter suado as estopinhas para sair lúcido daquela entrevista com a Ana Lourenço.
Não tenho novidades do Stephen Hawking. A verdade é que, mal acabei de escrever o post sobre quem parece fadado para não conseguir experimentar a felicidade, caí para o lado. Deve ter sido a profundidade do tema que me deixou arrasada.
(e eu devia agora incluir aqui um smile, três eheehehe e mais um lol para ter a certeza que todos percebem que estou a gozar -- senão ainda ficam a pensar que sou parva, como se acreditasse mesmo que aquilo que escrevi tivesse alguma profundidade).
Adiante.
Acordei com o meu marido a levantar-se do sofá, meio a dormir, e a ir para a cama. Mas ele tem razão em estar assim pois madrugou e, antes, ainda foi fazer uma caminhada. (Não estou eu já farta de confessar que gosto de malucos?) Mas, portanto, lá acordei. Arrastei-me até aos comentários para agradecer e agora, ainda patati-patata, apeteceu-me voltar a abrir uma página em branco.
Não que tenha alguma coisa para dizer porque não tenho.
Não tenho paciência para as cenas da CGD. Parece que fica tudo maluco quando o tema é CGD. Como é que é possível que alguém consiga gerir uma empresa, que é coisa que se rege por princípios racionais, com meio mundo a meter o bedelho? Era a mesma coisa que eu, lá no meu estaminé, fazer as contas para ver como manter lá uma cena qualquer equilibrada e saltarem-me em cima as temíveis manas Mortágua, o walking dead Láparo, a Cristas enxertada em kiwis, o Carlos César a reboque, e, pasme-se, até o ubíquo Marcelo -- todos a alvitrarem isto, aquilo e o outro. Havia de ser giro.
Está tudo mas é passado, oh caraças.
Manter um banco vivo e de boa saúde passa por geri-lo com seriedade, com sentido de inovação, e com os pés na terra (e as mãos, que se querem limpas, sempre à vista). Não passa por sujeitar cada decisão a plenário nacional.
Se há actividade que maior reconversão sofreu e há-de ainda sofrer é a da banca. De negócio de proximidade passou, sobretudo, a negócio virtual. E isto tem que ser encarado com pragmatismo. É assim e cada vez há-de ser mais.
Claro que nas aldeias, nas vilas, em lugares de população envelhecida, isso não existe, o que existe é o balcão e a pessoa que se conhece e em quem se confia. Então não vejo pela minha mãe? Ou somos nós que tratamos de alguns assuntos pela net ou é ela que vai ter lá com a amiga da CGD.
Só que a verdade é que não faz sentido manter um balcão em cada canto e esquina só para movimentar meia dúzia de contas e atender uma pessoa de vez em quando. Mais vale haver lojas de cidadão com pessoas disponíveis para ajudar na utilização de meios informáticos e que apoiem na consulta a saldos ou a fazer levantamentos ou depósitos.
E o que faz ainda menos sentido é esta histeria colectiva em que mergulham os políticos (de A a Z) de cada vez que o tema é Caixa.
Tirando isso não sei de mais nada. No telejornal, durante o bocado que vimos, só se falava de mortos, quer de mortos por acidente, por briga ou por doença. Depois ouvi a Ana Lourenço a perguntar sobre o aumento de capital já nem sei de quê, devia ser da CGD: 'e o que é que pode correr mal?. Parece que toda a gente se viciou na desgraça. Sobre um tema destes, um aumento de capital, a pergunta que lhe ocorreu foi aquela. Se eu estivesse lá e a pergunta me fosse dirigida acho que poria o meu ar mais sério e diria: 'pode vir uma onda maior e levá-lo' ou outra parvoíce qualquer que cheirasse a tragédia.
Mudámos logo de canal. Depois passei para a prostituição na RTP 1 mas, ou porque já estivesse com sono ou quiçá até mesmo a dormir, pareceu-me que a única que disse coisas interessantes foi a profissional do sexo. Os outros nem percebi bem quem eram. Isto do sexo ser discutido por gente que parece que nem sabe bem o que isso é nunca pode dar grande coisa.
Depois a televisão desligou-se e, embora tenha o comando ao meu lado, não me apetece ligar. Gosto é de ver programas sobre bichos raros do fundo do mar, ou expedições a aldeias perdidas no meio de inóspitas montanhas, ou entrevistas a pianistas ou pintores. Coisas assim.
Uma coisa engraçada que tenho para contar é esta: ontem, quando estava à porta a despedir-me da minha mãe, vi um vulto do além a fazer-lhe adeus e a dizer-lhe 'tudo resolvido, já as tenho aqui comigo, vou levá-las à serra' e apontou para qualquer coisa dentro de um jeep.
A minha mãe contou-me, então, que de tarde, um vizinho tinha visto vir pelos ares uma nuvem escura, uma coisa estranha, e que essa nuvem tinha ido para dentro do quintal duma outra vizinha. A medo e já suspeitando, o vizinho foi espreitar. Eram milhares de abelhas. Por sorte, sabia de um apicultor. E era esse apicultor, todo coberto, que eu ali tinha visto. Só tinha visto antes na televisão e nunca esperaria ver um ali, na rua da minha mãe. Chapéu, máscara, colete, mangas, luvas. Achei graça a ele dizer que as tinha apanhado a todas e ia levá-las de volta para a serra. As malucas tinham vindo dar uma volta à cidade.
E agora calo-me. Tenho em carteira mais uma coisa sobre a inteligência artificial e uma coisa qualquer que me ocorra sobre casamentos porque vi umas fotografias com uns vestidos de noiva mesmo ao meu gosto e estou até capaz de fazer uma dieta que me ponha com dez quilos a menos para caber dentro de um modelito assim para depois convencer o meu marido a renovar os votos, e isto só para o ouvir disparatar, até porque isso dos votos deve ser só para quem casou por igreja, o que não foi o nosso caso, e porque ele não tem o mínimo de pachorra para essas coisas (e eu ainda menos que ele).
Mas fica para outro dia. A ver é se no dia em que estiver para virada para esses temas esotéricos não me aparece o Marcelo a opinar sobre a pessoa que querem substituir no balcão da CGD de Alguidares de Baixo, coisa que, justamente, nem a dona leal ao coelho nem a dona galinha nem as manas amazonas acharão nada bem e isto para já não falar nas pessoas que serão interpeladas na rua por uma chusma de jornalistas exorbitantes e que dirão, para as câmaras, que fulano de tal é muito boa pessoa, sorri para toda a gente e que nunca antes ninguém tinha desconfiado que batesse na avó.
Mas, pronto, partindo do princípio que isso não vai acontecer, pode ser que eu, para a próxima, arranje oportunidade para falar de temas relevantes.
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As fotografias claro que não têm nada a ver com o assunto, estão aqui só porque gosto delas. Fazem parte das selecções das Fotos do Dia do The Guardian.
Lá em cima Benjamim Clementine interpreta I Won’t Complain.
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E, caso queiram conhecer três casos verídicos de quem nunca conseguiu relacionar-se bem com a felicidade, é só descerem um pouco mais.
Há vários dias que me apareciam nas estatísticas de palavras-chave que tinham trazido os Leitores até a Um Jeito Manso referências a Ana Lourenço. De lá, copio para aqui as mais usuais:
"ana lourenço 2015", "ana lourenço e ricardo costa", "ana lourenço biografia", "ana lourenço", "ana lourenço broche"*, "ana lourenço wikipedia", "quem é ana lourenço?"
De facto, as pessoas têm andado intrigadas com a ausência dela dos ecrãs e, em especial, destes espaços dedicados aos debates ou comentários políticos. Ainda no outro dia aqui falei nisso. Estranhava mas não fazia a mínima ideia do que se passava.
Como referi, nas suas últimas aparições achei-a impaciente, irritadiça, quase fazia ar de enfado quando as respostas não lhe chegavam de feição. Mas, enfim, poderia ser indisposição, TPM, funcionamento anómalo da tiróide, estar farta de aturar tanto chato, sabe-se lá.
Há poucos dias, soube-se da próxima substituição de Pedro Norton da Administração da Impresa, supostamente por vontade própria, por Francisco Pedro Balsemão, um dos filhos de seu pai. Hoje sabe-se disto da Ana Lourenço. Sendo mais uma saída de peso em pouco tempo e sucedendo-se à saída do jornalista e cavalheiro António José Teixeira (como refere o Embaixador Seixas da Costa), já nos fica alguma perplexidade ou inquietação no ar.
Esperemos que não esteja a acontecer também por lá o que parece ser moda nos órgãos de comunicação social: para reduzirem custos, livram-se dos mais seniores e dispendiosos, optando por contratar maçaricos ou, de preferência, enchendo os horários com comentadores, maioritariamente com comentadores de quinta categoria, que representarão sempre encargos inferiores pois não constituem obrigações laborais por parte da empresa contratante.
Mas não sei. Pode, simplesmente, ter sido contratada por algum canal da concorrência. Ou pode ter-se fartado da degradação a que se vem assistindo nos media e, em particular, na SIC e ter decidido dedicar-se à criação de cavalos, ela que tanto gosta de montar. Seja como for, tomara que vá para melhor. E tomara que, um dia destes, não tenhamos as televisões completamente entregues à bicharada. De resto, já não falta muito.
...
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quarta-feira muito feliz.
Ganda Tino. Poderia dizer que até me lembrei daquela graça chinesa que diz que enquanto uns apontam e olham as estrelas, outros, quando apontam, olham para a ponta do dedo. Não digo o que, na dita graça, se chama a uns e a outros nem digo qual deles é quem, se o Mano Costa se o Tino.
Tirando isso, fiquei a saber que, do debate (que não vi) entre o comentador Marcelo Rebelo de Sousa e a fofinha Maria de Belém, a Maria de Belém ficou afónica. Será que perdeu a tramontana, desceu do salto, arreou a canastra e despejou o abecedário inteiro em cima do Marcelo? Terá perdido a cabeça e desatado ao grito com o Zelig? Pois não sei. Ouvi que, a conselho médico, foi para casa descansar as cordas vocais para ver se consegue aguentar-se com Sampaio da Nóvoa.
Marcelo não, não perdeu o pio. Por ali anda, na festa, todos de pé de um lado para o outro, a darem entrevistas, jogando conversa fora, e ele igual ao Henrique Neto, sem tirar nem pôr o de Morais, o espelho do Bernardo Ferrão, gémeo univitelino da Marisa, a cara chapada do camera man, farinha do mesmo saco do Louçã. Talvez não venha a ser o próximo Presidente da República mas vai, certamente, ser um caso de estudo.
Marisa Matias está com um penteado muito bonito, que a favorece e está de preto, muito bem, sexy e bem disposta.
Está também ali um ser de outro planeta. No outro dia não sabia quem era e agora continuo sem saber. Também não sei de onde veio e para onde vai, nem tão pouco o que faz ali. Aquele ser bizarro tem estampado no rosto e da armação dos óculos a dúvida existencial da espécie humana. Parece que é psicólogo e que se chama Jorge Sequeira mas não sei se, bem vistas as coisas, não será como o tal que dizia que era do FMI e que deu um grande baile ao Nicolau Santos.
Também vi um senhor com bom ar e já fui ver que é médico e também do PS. Chama-se Cândido Ferreira e parece que abandonou um debate em directo, em sinal de protesto. Agora, ali no meio da festa, falou outra vez com ar indignado. Não percebi bem a razão da zanga, não sei se é de haver tanto candidato se é da qualidade dos croquetes.
Tirando isso, acho que nada. A quadrilha do Eixo do Mal está no Expresso da Meia-Noite especial e a Clara Ferreira Alves, também in full black, está em grande estilo, a pele esticada e reluzente, sem rugas, bem conservada, toda ela sapiência e, agradeçamos-lhe, continua a ter paciência para aturar os colegas.
Antes disto vi António Costa na Quadratura do Círculo: em boa forma, tranquilo, convincente, bem preparado. Os colegas de programa questionaram-no e ele esclareceu-os. Gostei. Sem segredinhos, sem pose, sem sinais de superioridade. Um fulano civilizado, deste tempo. Nem é de bom tom compará-lo com o antecessor, aquele láparo desqualificado que até o padrinho renegou. Nem vale a pena recordar que, em tempos, houve um outro primeiro-ministro, um tal que está prestes a sair de Belém e que vai sair pelas ruas da amargura, com imagem negativa, uma impopularidade como nunca se viu. Não. António Costa está num outro patamar. Acredito que nunca envergonhará os portugueses.
E, sobre política, televisão e cassetes piratas, para já é isto. Não tendo mais nada a declarar, fecho este post fazendo coro com os meus Leitores que têm entrado no Um Jeito Manso através da pergunta:
Onde anda a Ana Lourenço? Ou: O que é feito da Ana Lourenço da SIC?
Pois não sei. Anda por ali, na festa, a Clara de Sousa, anda aquela moça forte com cabelo cor-de-laranja que às vezes vejo na converseta com o Cláudio Ramos, andam umas poucas e outros tantos - e nada de Ana Lourenço. Será que pifou? Ela andava irritadiça, parecia ter vontade de bater nos convidados. Também a achei, de vez em quando, mais cheiinha do que costume e pensei: Estará grávida? Não sabia nessa altura, nem sei agora. Se voltar que volte com melhor humor, é o que eu desejo.
Bem, e desta é que não tenho mais nada a dizer sobre estes magnos assuntos a não ser que o que eu estimo é o que eu desejo.
Até um contrato estar assinado, ainda não há contrato - e isto é assim com todos os contratos e em toda a parte do mundo. Portanto, se o contrato entre o PS, o PCP, o BE e os Verdes ainda não está completamente assinado (e eu não sei se está ou não), para mim é como se ainda não houvesse contrato. Mas também sei que entre a vontade de assinar um contrato e conseguir chegar-se a acordo sobre todo o clausulado vai um grande esforço.
Quando as pessoas que estão nesse processo negocial se põem a analisar ao pormenor cada vírgula é o fim da picada. Sei do que falo. E é sempre assim - até que a coisa está fechada e toda a gente assina. Não é drama nenhum: é o normal.
Portanto, não me vou pronunciar sobre o acordo ou o não acordo. Quando houver acordo, falo sobre ele. Enquanto não há, não me ralo com isso, não alinho na excitação maluca que parece ter tomado conta dos PàFs e (et pour cause) da comunicação social
Quanto à entrevista de António Costa na SIC, não consegui vê-la toda pelo que há aspectos que, agora que escrevo, me faltam. Leio nos jornais online que parece que ainda não está tudo acertado com o PCP mas não sei se isso é o tal frenesim miudinho das virgens que nunca discutiram um contrato na vida ou se ainda há mesmo algum rabo para esfolar. Tanto me dá pois, pela parte que me toca, acredito que haverá acordo. Seria dramático para as esquerdas se não conseguissem chegar a um entendimento - o eleitorado não lhes perdoaria. Por isso, acho que as partes envolvidas vão deixar para trás velhos ressentimentos e preconceitos fora de moda e vão conseguir fechar todos os pontos.
De resto, do que vi, a Ana Lourenço, ar sinistro, assustadora, ar de quem vai servir veneno na bebida, decote profundo a deixar antever les poitrines, tentou de todas as maneiras desestabilizar o António Costa. Claro que até usou a artilharia da Nato. Esteve bem o António Costa não apenas ignorando-lhe o sulco entre os seios mas, também, quando lhe explicou que os partidos não vão abdicar da sua matriz ideológica nem das suas idiossincrasias - vão, sim, estabelecer linhas de convergência sobre as quais se comprometem a manter o acordo relativamente a uma linha de governação. Apesar da paciência dele (mas talvez devido à desgraçada dicção de que ainda padece), a Ana Lourenço pareceu não compreender que os partidos não precisam de ser completamente iguais, constituídos por almas gémeas, para que consigam conviver.
E eu, pensando nela e em todos os outros que pululam nas televisões, rádios e jornais inventariando pontos de divergência entre os partidos, avanço aqui com o meu caso.
Explicação do que é um acordo de entendimento a quem nunca deve ter conseguido viver um relacionamento com alguma estabilidade
Quem por aqui me acompanha sabe que sou casada há mais de mil anos. Casei-me ainda menina e moça e já sou avó - imaginem bem a duração disto.
Quem sabe disse também já me conhece e, na volta, também já consegue perceber, mais coisa menos coisa, como é o meu marido.
Mas eu vou contar algumas das nossas características para que os que não conseguem perceber como é que o PS, o PCP e o BE vão conseguir encontrar um chão comum para servir de sustentação a um governo, verem como é possível uma relação durar décadas apesar dos intervenientes serem completamente diferentes.
. & .
Sou noctívaga. Sabem disso. Deito-me às quinhentas. Desde que me conheço que é isto.
Ao meu marido, lá para as onze e picos já lhe está a dar o sono. E depois, claro, acorda cedíssimo enquanto eu, se pudesse, dormia até meio da manhã.
Se tem que fazer uma coisa, não descansa enquanto não a faz, especialmente se for coisa desagradável.
Eu dou primazia ao que me apetece e retardo as obrigações maçadoras até mais não poder (excepto se for coisa a nível profissional que, aí, não tenho estados de alma).
Gosto de poesia, consumo-a em doses avantajadas.
Ele não pega num livro de poesia.
Eu gosto de ler livros de arte, entrevistas a pintores ou escritores, gosto de ler livros com colectâneas de cartas, crítica literária - coisas assim.
Ele nem pó. Em contrapartida, lê livros imensos sobre política económica, história económica ou coisas do género para as quais não tenho eu um pingo de pachorra.
Ele é sportinguista ferrenho, gosta de ver futebol, sabe tudo do futebol, os pontos, com quem vão jogar, os resultados que têm que ter para conseguir ganhar (coisas desse género que nem sei nomear dado que, para mim, é ciência oculta).
Eu não ligo peva e não sei nada de nada de futebol - nem consegui ainda perceber o que é um 'fora de jogo'.
Eu gosto de cozinhar para muita gente, gosto de ter a casa cheia de gente e a barafunda familiar é para mim o máximo.
Por ele isso aconteceria só quando o rei faz anos, prefere ir a restaurantes, levar os miúdos para o parque, para a praia - tudo menos meio mundo a fazer barulho, a cirandar por todo o lado, a desarrumar e a deixar copos pela casa fora até às tantas. O rebuliço caseiro em excesso e a casa virada do avesso é coisa que o vira a ele do avesso.
Quando os nossos filhos eram adolescentes, eu não conseguia dormir enquanto eles não chegavam a casa.
Ele não estava nem aí. Virava-se para o lado e dormia que nem um santo.
Eu adoro fotografar, parar para ver ângulos, pormenores, reflexos de luz, movimentos - mesmo nos percursos mais do que habituais.
Ele acha que é sempre a mesma coisa, nada de novo, arrelia-se por eu estar sempre a parar.
Se chove, sou avessa a chapéus de chuva, gosto de andar à chuva.
Ele gosta de se proteger para não se encharcar.
Ele arrelia-se que eu tenha tantos sapatos, acha que, por cada par que compro, devia deitar outro fora.
O espaço dos sapatos dele está sempre muito organizado enquanto o meu - reconheço... - é meio caótico.
Tenho (relativa) paciência para aturar chatos e consigo até ouvir, durante um bocado, o José Gomes Ferreira, o João Miguel Tavares, o José Manuel Fernandes, o Ricardo Costa, a Maria João Avillez, o Luís Montenegro, a Teresa Leal Coelho, a Teresa Caeiro, o filho do Menezes, e toda a espécie de cassandras, vizinhas alcoviteiras, papagaios avençados, papagaios trainees e etc. (e isto não porque seja masoquista mas, especialmente, para perceber a linha de argumentação que seguem).
Ele nem por um segundo consegue suportá-los, quase voa sobre o comando para os calar, insulta-os, fica doente.
E por aí fora.
Dir-se-ia que não temos nada em comum. Mas temos: temos uma vida inteira em comum. Temos uma família que formámos, que amamos e junto da qual somos felizes.
Quando nos casámos nunca pensámos se era para durar um ano, dez ou cem. Metemo-nos no casamento pensando na nossa vida futura e, porque achamos que é melhor estarmos um com o outro do que sem, ainda aqui estamos os dois, juntos.
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Ao escrever isto - e pensando também na histeriazinha que por aí reina perante a perspectiva de um governo apoiado por partidos não habituados à amena convergência - pensei no tango: se tu avanças, eu recuo; se tu recuas, eu avanço. Passos dissonantes mas complementares, desentendimentos consentidos, distanciamentos que são mais aparentes do que verdadeiros e que, sobretudo, incentivam uma inevitável aproximação, uma convivência permanentemente negociada, concertada. A coreografia das diferenças em sintonia.
O último tango - Astor Piazzolla
(Não é o tango tradicional mas é a versão em dança clássica - Olga Smirnova e Vladislav Lantratov)
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A música lá em cima é Flower Duet da ópera Lakmé de Léo Delibes, interpretado por Milica Ilic (soprano), Victoria Lambourn (mezzo soprano), Tasmanian Symphony Orchestra conduzida por Andrew Greene.
As fotografias que usei para 'enfeitar' o texto são da autoria de Isabelle Chapuis que, nas que têm flores, contou com o apoio de Duy Anh Nhan Duc.
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Hoje fico-me por aqui, tenho sono.
A ver se amanhã vos conto que, afinal, parece que é mesmo verdade: acho que sou lésbica ou bissexual.
Mas, a menos que mude de ideias, é assunto para amanhã.
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António Costa e Jerónimo de Sousa falaram bem mas devagar, devagarinho, parece que estavam devastadoramente cansados.
Começaram parecendo muito alinhados mas, apesar do registo de slow motion, acabaram por evidenciar as profundas divergências.
António Costa, com a sua segurança habitual, ao seu bom estilo bulldozer, leu o surpreendente programa do PCP, uma coisa do além, que só pode existir para auto-prazer dos seus membros e para mais nada já que nada daquilo será, alguma vez, minimamente exequível. Jerónimo de Sousa é bom a criticar, a identificar o que está mal, e é empático, a gente concorda com as críticas. Mas, ó caraças, estampa-se clamorosamente quando apresenta qual a alternativa do PCP. Uma coisa que só seria possível se a fada-madrinha nos tirasse da UE e das suas regras, nos tirasse do euro, eliminasse as consequências que daí adviessem, se levasse Portugal para uma ilha maravilhosa onde qualquer coisa fosse possível. Perlimpimpim. Uma utopia desfasada da realidade. Pim.
Ou seja, quanto ao PCP, lamento: nada daquilo bate certo e, além do mais, há neles uma atitude anti-moderna - e eu sou virada para a modernidade (e nem vou falar no que se passou no Avante porque tudo me custa a crer já que do que tenho lido, a ser verdade, seria uma agonia). Por isso, adiante.
Muito bem António Costa a falar do desastre do Novo Banco, um desastre total. A falta de credibilidade do Carlos Costa, essa nódoa que não sai do Banco de Portugal e a descredibilidade de Passos Coelho são quase extravagantes, tal o desastre que foi todo este processo e do qual estamos longe de conhecer o buraco que por lá alastra.
Mas todo este debate foi muito tranquilo. Acho que o problema esteve mesmo na moderadora. Ana Lourenço deu-lhe para o registo intimista a ver se os embalava e se nos punha a todos a dormir. Parecia o momento Vitinho da campanha eleitoral. Parecia que estava na hora de irmos para a caminha - se calhar, foi essa a ideia dela.
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De resto, hoje na televisão, na TVI, gostei de ver a Catarina Martins com o Ricardo Araújo Pereira: a moça tem pedalada, sentido de humor, é inteligente. Gostava de a ver num governo, já o disse. É mal empregada se ninguém lhe deitar a mão para a pôr, de facto, com um cargo executivo na governação.
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Quanto à cena da carta do Passos Coelho ao Sócrates a dizer que apoiava a vinda da troika, pode ser que toda a gente se entusiasme muito com isso - mas, a mim, zero. Sou pessoa do futuro, não do passado. Já formei a minha opinião sobre aquela situação. Há mais de 4 anos.
O que está em causa agora não é o que se passou em 2011 mas sim durante a desastrosa e anti-patriótica governação Passos-Portas. Face ao conhecemos daqueles dois tratantes e face ao que se propõem continuar a fazer e face ao que o PS se propõe fazer, é ao PS que vou entregar o meu voto (como sempre, naquela velha lógica O'Neilliana: não me apetece mas voto PS).
Que eu gostaria que o PS se regenerasse de forma mais profunda, que se modernizasse, que a lógica aparelhística, conservadora e com tiques de antanho levasse uma volta, claro que sim. Hoje um colega meu dizia-me que o PS deveria levar um abanão a ver se se modernizava e se largava os vícios de partido do regime. Pois. Mas, face ao risco de o abanão fazer voltar a ter Passos e Portas por mais 4 anos, voto no que, apesar de tudo, me oferece maiores garantias de haver respeito pelas pessoas e defesas dos interesses dos portugueses.
Quanto ao resto, isso das cartas tal como antes das pizzas, tretas e mais tretas - lamento mas estou-me nas tintas.
Tirando isso, vou mas é ver se me ocorre algum assunto mais animado para ver se o dia hoje por aqui não fica uma maçadoria.
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As esculturas são da autoria de Jason DeCaires Taylor e podem ser vistas em Londres, no Tamisa, ora dentro ora fora de água.
Ana Lourenço não facilitou a vida a António Costa
mas, por fim, não resistiu:
rendeu-se
Depois de abaixo ter falado do Totó-Zero inSeguro, assunto que me deixa amofinada, nada como desempoeirar a cabeça vendo uma pessoa que se apresenta de peito feito, cabeça erguida, bonomia, ideias claras, tranquilo e seguro. António Costa concedeu uma grande entrevista a Ana Lourenço. Ao princípio ela estava hirta, fria. Parecia que estava contrariada, nem sei. O meu marido disse: não gosta dele, deve preferir o Seguro. Duvidei. Devia era estar nervosa. O António Costa é de uma inteligência brilhante e isso deve inibir um bocado os entrevistadores, especialmente os que não o conhecem bem. Pois António Costa, respondendo com firmeza, não fugindo a nenhuma questão, aos poucos foi conquistando a fria beldade que, para o fim, já sorria abertamente, como que contagiada pela boa onda de António Costa.
A bonomia de António Costa transmite confiança:
é a determinação sem crispação
António Costa criticou a actual direcção do PS mas sem entrar em ataques pessoais, explicitou o que tinha explicitar e foi frontal mas sempre sem ser indelicado ou agressivo, e apontou caminhos, sobretudo abriu o caminho à esperança.
Podem os azedos argumentar que ele diz banalidades. Certo. Ou melhor: fala um português corrente. Mas diz coisas com sentido e está do lado certo e isso é o que é preciso
Não se espera que fale caro, que apareça com grandes tiradas ou a fazer promessas ocas ou que, armado em menino marrãozinho, enuncie 137 medidas. Nada disso. Basta que aponte um caminho na direcção certa e, talvez tão importante como isso, basta que revele inteligência e determinação para persistir nessa direcção e que revele temperamento e atitude para incutir nos outros vontade de o acompanhar.
De resto, se conseguir derrubar os aparelhistas que se enquistaram no PS e que se agarram ao inSeguro como se este fosse o seu Seguro de Vida, António Costa posicionar-se-á com firmeza ao lado dos que, na Europa, começam a perceber que o factor humano e social é mais importante do que o financeiro. E é disso que nós precisamos já que uma parte relevante da política nacional resulta das imposições burocráticas e interesseiras da máquina europeia.
Não é o Messias (graças a Deus). Mas António Costa já mostrou que sabe trabalhar com outras sensibilidades políticas e isso é importantíssimo. Portugal é dos países da Europa onde o desenvolvimento é mais anémico, onde a qualidade de vida é mais débil, onde a confiança é mínima. Portugal, estou certa disso, encontrará um novo fôlego se tiver um Governo encabeçado por António Costa que puxará por todos - porque todos somos poucos para o muito que há para fazer.
E se, por um qualquer infeliz acaso, o inSeguro se blindar no meio de um aparelho ultramontano, António Costa e todos os que o apoiam deverão formar outro partido. Que a força e a esperança os anime que o País bem precisa de um Partido Socialista forte (já que o PSD e o CDS são um vergonha de que nem é bom falar).
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Para se perceberem melhor as diferenças entre o actual líder do PS e o que se espera que o venha a ser, desçam, por favor, até ao post seguinte.
Tenho muita pena por ir conspurcar uma vez mais este meu canto mas acabo de ouvir e ver na televisão um sujeito que, sempre que aparece, me faz logo fazer zapping. Diz sempre umas coisas sem sentido e tem uma voz insuportável. Até o meu marido, que é sportinguista de gema, acha o discurso da criatura uma coisa de fugir.
Mas hoje não fomos a tempo de lhe barrar a conversa e ouvimos, com espanto, uma coisa inenarrável. O nível desta gente está a descer a uns patamares que não se podem tolerar.
Para Bruno de Carvalho o futebol português cheira mal. "Temos que pensar no que realmente é importante para o futebol português. Na gíria popular, porque sabemos que o futebol português está bipolarizado, isto funciona como o ânus onde temos duas nádegas que se enfrentam uma à outra dizendo 'estou aqui e sou melhor do que tu'. Entre algo fisiológico como o ânus, ou sai vento mal cheiroso ou trampa. E é disto que o futebol português está cheio por dentro e por fora: trampa", disse esta quarta-feira o presidente do Sporting.
Fez-me lembrar as crianças que, pelos dois ou três anos, entram na fase rebelde e começam a dizer, com ar maroto e despropósito: chichi, cocó. Mas este marmanjão tem ar de ser mais velho (embora a idade intelectual talvez ande ao nível da escola infantil).
Mudámos logo de canal, eu escandalizada com isto, com os dizeres, com o sorrisinho alarve, com tudo.
Mas não mudámos para melhor: fomos parar a um canal onde a tropa fandanga dava a entender que o Tribunal Constitucional está a deixar o País entregue à instabilidade e a impedir o cumprimento de compromissos oficiais.
A conversa não incluía o tipo de vocabulário usado pelo tal de Bruno de Carvalho (mas apenas porque foram usados outros termos).
O ataque cerrado que o Governo está a fazer ao Tribunal Constitucional - como se não devesse haver um guardião da Lei Fundamental do País (Lei essa que juraram cumprir) - é aterrador. Quando os órgãos de soberania não se respeitam, chega-se a um impasse institucional que pode tomar contornos imprevisíveis.
O Tribunal Constitucional não é um coito de anarquistas nem um bando de oposicionistas: não, é um conjunto de juízes dos mais variantes quadrantes políticos e faz parte dos órgãos de soberania do País.
Este Governo, constituído por gente impreparada a todos os níveis, incluido o cívico, nem isso percebe, tal como não percebe que deve agir dentro do quadro legal que jurou cumprir.
Ao pôr em causa, ao desacatar e desafiar o Tribunal Constitucional, o Governo parece que está a querer subverter as regras democráticas.
Passos Coelho agora cancelou a ida ao Brasil, ao futebol, e estou-me bem nas tintas para isso, mas isto é ele, de cabeça perdida, a fazer birra, a extremar posições.
Depois também já ninguém respeita a Inconseguida Esteves. Uma vergonha.
O Parlamento está manietado por uma maioria que está nos antípodas do povo que a elegeu e que usa o Parlamento para garantir a aprovação de todos os dislates que o Governo vai inventando - e a sua Presidente não é levada a sério nem a sua (inconsistente) opinião tida em consideração.
Cavaco Silva não diz nada ou o que diz não aquece nem arrefece. Numa altura em que devia aparecer, com voz firme, a dar um murro na mesa e a obrigar a que, ao menos, os órgãos de soberania se respeitem uns aos outros, fica calado.
Uma vergonha. Um pântano.
Se isto não é a política a um nível baixo, baixo, rasteiro, abominável, então nem sei que diga.
E isto enquanto o Tozé empata a situação dentro do PS, deixando a situação política do País ainda mais encalacrada, sem oposição.
Estou a ouvi-lo na SIC N com a Ana Lourenço (inesperadamente com uma suavidade mais macia que veludo) e aqui está de novo, em estado de negação, a achar que o País está com ele e a arranjar maneira de empalear todo o processo de substituição da liderança do PS.
E eu, ao ler nas estatísticas a manifestação daquela preocupação ou curiosidade, fiquei a pensar: pois é, não a tenho visto.
Mas não faço ideia. Se calhar está de férias. Vamos esperar que sim.
É uma pessoa que faz falta na televisão e o que temos pena é que não tenha mais saídas picantes (voluntárias ou não) como aquela em que se trocou toda ao dizer o nome da santa criatura que tinha convidado para o bate-papo, o Martim Br... de Freitas - upssss....!
Já foi há algum tempo mas há coisas que a gente não esquece nem perde a vontade de rir. São estes pequenos episódios que apimentam a história da televisão.
Cheguei a casa há pouco. Mais uma noite de laré. Enquanto os dias ainda estão granditos e as noites amenas há que aproveitar. Tirei umas fotografias e agora poderia falar no que andei a fazer e mostrar-vos em que param as modas - mas o facto é cheguei a casa tão cansada e tão perdida de sono (isto vai-se acumulando, sabem; a ver se este fim de semana consigo recarregar as baterias) que agora não tenho energia para as passar para o computador, escolhê-las, reformatar as que quiser colocar no blogue, etc, não tenho mesmo (e não faço outra coisa senão bocejar, credo). Fica para amanhã ou depois.
Além disso, já estou como ontem. Por um lado acho que deveria falar de coisas sérias mas, por outro, apetece-me é pairar com ligeireza sobre coisas que não interessam para nada.
E assuntos sérios é o que não falta. Um autêntico massacre:
O Governo, se facultou dados que espelhavam uma realidade incompleta e que percebia que, com isso, ia induzir o FMI em erro, dando-lhes a ideia de que ainda existe margem para mais cortes de ordenados, fez mal. Mas, se o fez (e é óbvio que o fez), não consigo ficar espantada. Acho que esta gente que nos governa é, no seu conjunto, um bando de feios, porcos e maus. Seja porque gostam de fazer sofrer a populaça, seja porque são desmazelados, seja porque a sua incompetência não dá para mais, o que se passa é que dali só espero mesmo que façam porcaria. Por isso já nem me apetece falar deles. É gente que lá não devia estar e ponto final. Por cada dia a mais que lá estão, de mais disparates se vai sabendo. Se o dono de um restaurante contratar um cão como empregado de mesa, alguém se pode espantar se o cão meter as patas dentro dos pratos? Estranho será o contrário. É como com estes: a gente espantar-se-á é no primeiro dia em que façam alguma obra asseada.
É como o iminente ataque à Síria. Sentimos que estamos em counting down e sabemos que muitas vidas se vão perder. Cirúrgica ou não, a intervenção vai sair cara em recursos de toda a espécie, incluindo os humanos. As consequências indirectas, neste caso, não serão inferiores às directas. Um perigo, esta brincadeira. E nem percebo quem é que vai financiar isto com os cofres americanos e europeus quase vazios. Tal como ontem referi, se houvesse alguma lógica nisto, dever-se-ia perceber em nome de quê e para quê se vai intervir militarmente num país - ainda por cima sabendo que isso vai perturbar o já de si instável equilíbrio de forças entre blocos de interesses económicos e geo-estratégicos antagónicos. Ninguém quer que se massacrem civis mas também ninguém quer que, sem provas (verídicas) e sem alternativas políticas conhecidas a priori, se avance à maluca. Mas parece que é isso que vai acontecer. Entretanto o governo sírio parece que entregou provas na ONU que demonstram que foram os rebeldes e não eles que usaram armas químicas. E, perante, divergências tão agudas e as inconsistências do costume por parte dos americanos, continua a assistir-se ao avanço, que quase parece irreversível, para uma guerra de consequências imprevisíveis. Não há dúvidas: o lobby do armamento e tudo o que tenha a ver com a indústria da guerra são vergonhosa e assustadoramente poderosos. É para isto que lhes dá jeito (a eles e ao sector financeiro) que nos governos dos países estejam zés-ninguéns sem miolos, joguetes fáceis, paus mandados sem moral.
Também podia falar de uma notícia que me chocou (e devo mesmo ser muito parva para ainda me chocar com coisas destas). Transcrevo uma parte:
O presidente da Federação da Indústria Alemã (BDI), Ulrich Grillo, propõe como alternativa na resolução da crise grega que Atenas transfira parte do seu vasto património nacional para o fundo de resgate europeu, que poderá vendê-lo para se financiar.
Acho isto asqueroso. Primeiro, para ter excedentes na balança de transacções, a Alemanha exporta ou força a que os outros países importem (por exemplo impondo regulamentos cujo cumprimento só é possível com recurso a equipamentos fabricados na Alemanha, como aconteceu, por exemplo, com os equipamentos de climatização obrigatórios para efeito de restauro escolar), depois, para que tenham dinheiro para o fazerem, emprestam dinheiro; a seguir, quando as contas dos outros começam a mostrar sérios desequilíbrios, fecham os olhos à maquilhagem das contas; a seguir fecham a torneira e exigem o pagamento da dívida; como não têm como pagar, impõem-lhes juros agiotas e, quando os pobres estão exauridos e na mais indigente míngua, pretendem sacar-lhes o património. É certo que isto é um déjà-vu mas o que é chocante é como décadas (ou séculos!) de história em cima de episódios vergonhosos como o que se volta a pretender levar a cabo não serviram para os povos se precaverem. É mesmo a lei do mais forte - porque, de facto, deixemo-nos de fantasias, isto é uma selva e o resto é conversa.
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Por isso, porque tudo isto me parece mau demais, previsível demais, inevitável demais, é compreensível que só me sinta bem com os pés na rebentação, naquele sítio em que não é água nem deixa de ser: uma espuma que vai e vem, não deixando rasto.
Ou seja, só me apetece falar de coisa nenhuma.
No outro dia, quando estava in heaven e meia a dormir, vi na RTP 2 a repetição do Lado B do Bruno Nogueira. Estava lá a Manuela Moura Guedes.
O meu marido também estava entre o sono e a difícil vigília. Tenho ideia que quando fez zapping e foi ali parar, disse qualquer coisa como ‘coitada, olha para ela…’. Tenho ideia que levantei os olhos do Expresso que estava a tentar ler a todo o custo e que também fiquei impressionada. Fico sempre quando a vejo mas desta vez fiquei mais. Deixo aqui a parte inicial da entrevista, que tenho ideia que nem é a mais significativa daquilo que estou a dizer mas agora não consigo estar a ver tudo para escolher a parte mais obnóxia.
Mas não foi apenas pelo rosto insuflado – lá está: maçãs do rosto enxertadas, subidas, redondas, boca a transbordar de botox, arrebitada, esbardalhada, a disformidade do costume que, vá lá saber-se porquê, atrai tantas mulheres -, foi sobretudo pelos trejeitos dengosos, pelas boquinhas, parece que se estava a armar em boa, volta e meia toda ela parecia esponjar-se no braço do sofá, toda ela revirava olhos, boca, língua. Um disparate. E dizia coisinhas, parecia uma adolescente palerma – olhem nem sei.
Por mais do que uma vez o meu marido tentou tirá-la do ar, dizia que não conseguia ver aquilo. Mas as alternativas deviam ser piores, ou então era o nosso sono que nos deixava sem acção, pelo que por ali foi ficando.
Cheia de requebros, meneios, sacudidelas de cabelo, olhares lânguidos, queixava-se que estava sem trabalho, em casa, que gostava de voltar à televisão (e tudo isto, claro, à mistura com mostrar que se acha uma fantástica jornalista, acutilante, incisiva, brava, do melhor que há – quando era, sobretudo, mal educada, exagerada, incomodativa; as entrevistas conduzidas por ela eram um stress que não acrescentava nada à qualidade do que as pessoas diziam, pelo contrário, tinha vezes de quase nem as deixar falar).
Se eu fosse responsável por um canal de televisão também não a contratava. É conflituosa, cria atritos com os próprios convidados. Não é isso que a gente quer ver. Eu, pelo menos, chego à noite e quero é calma. Quero ser informada, sim, ouvir opiniões, sim, mas com bons modos, nem gritos, nem vozes sobrepostas, nem gente com modos arrogantes ou intempestivos.
Pense-se, por exemplo, na diferença para uma impávida mas incisiva Ana Lourenço, para uma serena e atenta Carla Moita
... ou, continuando apenas nas mulheres:
para uma tranquila mas certeira Clara de Sousa, e ainda para uma suave mas intransigente Paula Costa Simões.
Mas eis que vejo agora que a RTP a repescou mas, ó vã glória de mandar, ó tristes rasteiras do destino, já não para nenhum cargo de chefia, já não sequer para jornalista mas, tão só, para entertainer. Em vez do Malato, a Bocas Moura Guedes a apresentar um concurso, o Quem quer ser milionário.
Fico sem saber bem o que dizer. Não posso esconder que sinto uma certa pena. A vida dá voltas…
Percebo que ela se aborreça de estar em casa, diz que jardinava, que fazia ginástica, que tinha um personal trainer que a ajudava a manter a forma, coisas assim: de facto muito pouca adrenalina para quem se alimentava dela. Acredito que a ânsia por sair de casa e voltar à pica de ter as câmaras à frente devia ser muita. Talvez isso justifique a decisão de ir apresentar um concurso na RTP.
Mas será que justifica mesmo? Não será isso uma forma triste demais de nos voltar a aparecer pela casa dentro? Não sei. Não sei mesmo.
Às tantas perdeu-se mas foi uma artista da rádio, TV, disco e da cassete pirata.
Foram cardos, foram prosas.
Ou foram rosas e agora são cardos? É isso, não é...? Agora é chegado o tempo dos campos de cardos.
***
A ver se amanhã escrevo sobre a nossa Avenue, nomeadamente sobre o que se pode ver por lá.
Hoje fico-me por aqui e a ver se consigo ir a pé até à cama.
Resta-me desejar-vos, meus Queridos Leitores, uma bela quinta-feira!!!!!