segunda-feira, setembro 30, 2019

Cristina Ferreira foi aos Globos de Ouro vestida de Anjo da Victoria Secret?
Ou de Nossa Senhora (ou de Irmã Lúcia, nem sei)?
Ou de bailarina de Can-Can?
Ou simplesmente na SIC já perderam a noção do ridículo?
Pergunto.


Porque a semana não me chegou e porque esta que entra também se afigura do caneco, para este fim de semana trouxe trabalho de casa -- trabalho chato e com alguma responsabilidade e, ainda por cima, parte escrita em inglês o que complica um pouco a faena já que, a uma hora destas, sem pachorra, quero fazê-lo com um olho no burro e outro no eleitor-alvo do CDS -- e isso, em cima de dias muito dedicados à família, deixaram-me sem grande disponibilidade para as minhas coisinhas ou para o fait divers. Ou seja, por exemplo, não tenho conseguido responder a comentários ou mails pessoais nem, a seguir, cirandar pelo mainstream.

Por isso, há bocado, enquanto trabalhava e o meu marido, mais a dormir do que acordado, via futebol e respectivos resumos e comentários, resolvi surripiar-lhe o comando e fazer zapping. E passei por uma coisa extraordinária. Eram os Globos de Ouro. Não sabia que era dia disso pelo que aquele aparato começou por me parecer uma Gala de algum programa qualquer que não estava a identificar. Mas logo percebi.

Apresentava o espectáculo a Cristina Ferreira vestida de uma forma inenarrável. Estava de asas pregadas a um vestidinho de tipo baby-doll, toda ela lingerie em desfile de Victoria Secret. O meu marido acordou com os gritos dela e quase se assustou com o que viu. Depois de se restabelecer, resmungou: 'Esta gaja não aprende'. Depois percebeu que estava diminuído (sem o comando na mão, ele não é ele) e pediu: 'Dá cá o comando'. Dei-lhe e ele voltou a fazer zapping. Passado um bocado, à sorrelfa, repeti a cena. Lá estava ela, outra vez mascarada, com plumas, folhos, tules, disparatada até à raiz dos cabelos. Ele voltou a acordar e quase não conseguiu protestar: 'Lá estás tu. Para que é que queres ver esta gaja?'. Levantou-se, então, e disse que ia dormir.

Voltei ao meu trabalho, esperando que fossem horas de dar o Desassossego da Maria João Seixas mas estava a dar atletismo pelo que, passado um bocado, coloquei outra vez nos Globos de Ouro. Apareceu ela, então, agora a receber também um prémio. E já estava mascarada de outra coisa, desta vez com as raízes dos cabelos espetadas para fora, e de tal modo era que chamei imediatamente o meu marido para vir ver. Quis saber o que era mas não lhe disse porque se lhe dissesse que era para ver a Cristina Ferreira era o vinhas. Disse-lhe só que era uma coisa do além. Ele chegou à sala, viu-a, e, perante o óbvio too much, agora em versão santinha a caminho do altar, fez um esgar quase de dó e disse: 'Eh pá...' e desandou. E já não viu o pior: é que, quando ela acabou um discurso (de tal forma auto-convencido que parecia estar a ajustar contas com alguém que lhe quisesse tirar o lugar) e virou costas, pareceu-me ver no manto os contornos ou da Nossa Senhora ou da Irmã Lúcia. E, nessa altura, fiquei naquele estado que se designa por estupor catatónico. Mas que raio de maluquice era aquela? É o que eu digo, parece que já vale tudo. 

Voltei a fazer zapping, tentando ver se o Desassossego já tinha começado mas, enquanto não, fui ver se conseguia descobrir que desconcertante desenho era aquele no vestido dela. Mas já ela se tinha trocado de novo. Estava outra vez em espampanante toilette, desta vez misto de Victoria Secret e de bailarina de Moulin Rouge, um excesso de plumas cor de rosa. Nela, talvez pelo exagero, talvez pelo tom de voz, talvez pelo conjunto, tudo fica com toque a novo rico em versão mais do que kitsch. Vinha agarrada ao Balsemão que, não sei se atarantado com tanto pink, tanto guincho e tanta luz, parece que vinha almareado -- e isto para não dizer que vinha disfarçado de múmia andante.

Fiz zapping, claro, e felizmente já a Maria João Seixas tinha começado. Desta vez convidou, de novo, o José Pedro Serra (digo de novo porque já o tinha convidado para o Afinidades). Um bálsamo. Até parei de trabalhar para melhor os ouvir.

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Para terminar num registo de tranquilidade, Joana Gama, a quem estou a ouvir neste momento, igualmente na RTP 2. Outro bálsamo.


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E a si que está aí desse lado desejo uma boa semana, a começar já nesta segunda-feira: 
saúde, alegria, sorte e o mais que queira de bom para si e para os seus.

Read my lips: a Catarina Martins é uma populista. Muito cuidado com ela.


Tenho a televisão ligada na RTP 1 e estão a passar imagens da campanha. 

A Cristas, com o seu séquito a reboque, anda pelas feiras e mercados e não sei se hoje algum militante do CDS terá dito o que disse no outro dia, que quer toda a ciganada a votar no PS. Aquela mulher não pode ser levada a sério. É alarmista, é desbocada, é despropositada, o pé está sempre a pedir-lhe chinelo. Desagradável.

Não vi nada no PSD. Não sei se o Rio estará a ver para que lado há-de aparecer virado na próxima aparição ou em que costas há-de espetar mais um punhado de facas ou se fui eu que estive distraída e não os vi em campanha. 

Vi o Jerónimo, digno como sempre, inteligente, com um discurso conciliador, civilizado. Posso não me identificar com a ideologia que têm no ADN mas reconheço no PCP um registo de parceria fiável. Já o disse e volto a dizer. Jerónimo de Sousa é um senhor. E só não escrevo senhor com maiúscula porque, apesar de simpatizar com ele, acho que também não é caso para o equiparar a Deus Nosso Senhor.

Vi o PS e estavam em Matosinhos, num espaço enorme, cheio de gente. Prestei relativa atenção ao Augusto Santos Silva e uma vez mais pensei que, apesar de ser uma pessoa inteligente, culta e de ser dono de um espírito suculentamente irónico, não faz bem o meu género. Ele gosta de uma boa polémica e de a agarrar com truculência. Seria uma boa pessoa para duelos aparatosos, supimpamente relatados por quem bem manejasse a pena. Só que os adversários de hoje não são gente de ir à luta de peito feito, são gente de falinha mansa, mamar doce. Por isso, não sei se o estilo Augusto Santos Silva terá a eficácia necessária.

E isso leva-me ao Bloco de Esquerda. Farejo perigo quando pressinto um populista. E esta Catarina tornou-se um concentrado de populismo. O que ela diz, naquela sua voz suave e bem cadenciada, é música para os ouvidos de quem a ouve. Se está numa terra em que fecharam serviços, ela diz que os quer abrir. Se for a um sítio em que a população tem rendimentos baixos, ela fala do apoio que o governo deu aos bancos. É como se uma foice tivesse cegado toda a compreensão económica e todo o sentido de responsabilidade que alguma vez pudesse ter tido e a única coisa que agora valesse fosse a palavra que cai bem. Se me vierem dizer que a reforma vai passar a ser aos cinquenta e que quem trabalhar mais do que isso receberá uma bonificação por cada ano a mais e se eu não fosse pessoa razoavelmente informada, se calhar também ficava cativada e me bandeasse para o lado dela. E o receio é este: que os menos informados caiam na esparrela das palavras ilusórias.

Além disso, tem mostrado ser desleal, uma pessoa que mostra querer o poder a todo o custo. Não era assim, ela. Dá ideia que lhe subiu o poder à cabeça. Ela e o Bloco a reboque dela. Tentam agarrar qualquer pessoa, até apelam ao voto nos descontentes do CDS (como, no outro dia, em Viana do Castelo). Ouço-os e fico arrepiada. Tomara que as pessoas percebam a tempo e lhes mostrem que em política não vale tudo. Este não é o Bloco do João Semedo. Nem o do Miguel Portas. Esta é uma degeneração, uma deriva populista. Já não são de esquerda nem de direita, são, simplesmente, populistas.

Aliás, estou em crer que um dos males do mundo e uma das maiores ameaças ao desenvolvimento sustentável e harmonioso dos países é a chaga do populismo.

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Entretanto, começou a entrevista ao Costa, na sede do PS, e a sua segurança e maturidade, a sua visão equilibrada e humanista e o seu vasto conhecimento da realidade nas suas diversas vertentes, confirmam porque é que vou votar no PS. Além do mais, pelos frutos os conhecemos.

domingo, setembro 29, 2019

O espanto do meu marido perante o silêncio de Marcelo, Comandante Supremo das Forças Armadas, face à forma como a acusação do Ministério Público expõe as Forças Armadas.
E o que a minha mãe diz do Caso de Tancos, do Rui Rio e da Cristas.





O dia foi preenchido. De manhã tratámos de coisas cá em casa, depois fomos ao Leroy comprar parafusos e buchas, goma autocolante para fixar quadros pequenos sem ter que furar a parede e umas ripas de madeira para o meu marido tentar desempenar uma tela de um metro por oitenta cuja armação tem vindo a retorcer-se.

A seguir fomos levar algumas compras aos meus pais e, dali, seguimos para almoçar fora com a minha mãe. Umas belas sardinhas assadas. Depois fomos passear com ela à beira-mar e estava-se bem, calozinho bom, um sol ameno, uma aragem suave. Fotografei os veleiros e o mar e só não estivemos mais tempo, não por ela -- que está para as curvas -- mas porque o trabalho que nos esperava ainda era bastante. 

Depois de irmos pô-la a casa, fomos ao supermercado e foi mais um daqueles valentes carregos. Ao regressarmos, enquanto o meu marido foi aos seus afazeres, fui logo tratar do jantar que era trabalhoso pois deu-me para ter prato de peixe e prato de carne e, logo a seguir, chegariam todos (todos menos o mais crescido que foi passar a noite a casa de um colega da escola; não te esqueças que já é um pré-adolescente, avisa-me a minha filha quando me vê triste por não o ter cá também). E assim foi: chegaram, como sempre fizeram aquela festa quando se encontraram, conversámos, os pequenos brincaram alegre e ruidosamente, e etc. Depois jantámos e, a seguir, os dois rapazinhos mais crescidos foram brincar às lutas e, pouco tempo depois, regressaram ambos à cozinha e, directamente da travessa, desataram a comer os restos como se não houvesse amanhã e, claro, como se não tivessem acabado de jantar meia hora antes.


Mas, recapitulando, almoçámos com a minha mãe. No restaurante, a televisão estava ligada e a dar o noticiário. Quando apareceu o Rui Rio, a minha mãe quase tapou os olhos, virando a cara com ar enjoado, 'Já não tenho paciência. Olha aquele papagaiozinho. É mesmo um papagaiozinho. Um parvalhão. Não consigo ouvi-lo. Quando aparece, mudo logo de canal, vou ver aquele programa dos dois irmãos que restauram casas. É como aquela regateira da Cristas. Outra parvalhona. Já não consigo ter paciência.' Rimo-nos com a veemência dela. 

Quis saber a opinião dela sobre O Caso: 'Então, mãe, e aquilo de Tancos?'. Responde ela, igualmente enjoada: 'Uma pouca-vergonha. Nesta altura é que se saíram com aquilo. Não descansam enquanto não derem cabo do PS. Uma autêntica pouca-vergonha'. 

Contei-lhe aquilo de os ladrões terem transportados as muitas caixas das munições em carrinhos de mão e contei que a vedação é longe do quartel, que deve ter sido giro os ladrões a roubarem caixas pesadíssimas em carrinhos de mão, para trás e para a frente, vários percursos com o carrinho de mão. Ela desatou-se a rir.

O meu marido voltou à conversa que tínhamos tido no carro: 'A mim o que mais me intriga é o Marcelo não falar. Fala sobre tudo e sobre nada e perante uma coisa destas, uma acusação que põe a ridículo a PJM e a malta do quartel e as hierarquias das Forças Armadas de que ele é o Comandante Supremo das Forças Armadas... e não diz nada? E se o Chefe da Casa Militar de Belém foi informado, ele não foi? E não diz nada? Deixa que as Forças Armadas sejam todas postas em cheque e não tem nada a dizer? Acho isso tudo muito curioso...'. A minha mãe, que geralmente está de acordo com o genro, disse: 'Pois é... Tem razão. Mas, se calhar, como disse que não é o papagaio, agora quer mostrar que sabe estar calado. Mas tem razão, é curioso. Mas a mim o que me chateia mais é isto ter saído em cima das eleições. Uma pouca vergonha'.


Confirmei: 'Vai votar, certo...?'. É que, volta e meia, especialmente quando há coisas destas que a deixam incomodada, parece que desalenta, fica a achar que já não tem paciência para 'tanta porcaria', perde a vontade, quase tenho que lhe pedir encarecidamente que não se abstenha. Se, em cima disso, está de chuva ou frio (o que não é o caso de dia 6, que até vai estar calor), então, ainda mais perde a vontade. Nessas alturas, ofereço-me para a levar mas não quer, diz que a escola é perto, que não é preciso. E já cheguei a apanhá-la hesitante em quem votar. Penso que tem oscilado entre o PS, se calhar algumas vezes PCP, se calhar alguma vez o BE e, cá para mim, também já votou alguma vez no PSD (mas isso, pouco assumidamente, quase como se tivesse sido um mau passo). Mas desta vez respondeu convictamente: 'Claro que sim!'.

E eu, sendo indiscreta: 'E pode saber-se em quem?'. A resposta foi imediata: 'No PS'.

Fiquei contente.

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E garanto-vos que o que escrevi é rigorosamente verdade, não estou a pôr palavras minhas na boca da minha mãe ou do meu marido. Aliás, ele está aqui ao meu lado e não me deixa mentir.

Embora concorde com ambos, as minhas palavras são estas:

Tancos: factos, dúvidas e conclusões. E muitas perplexidades.


sábado, setembro 28, 2019

Tancos: factos, dúvidas e conclusões. E muitas perplexidades.



Primeiro facto: supostamente uma ou várias pessoas assaltaram Tancos e, segundo ouvi, roubaram várias caixas de munições, no total pesando toneladas, transportando-as em carrinhos de mão até ao veículo que as levou dali para fora não sei de uma vezada ou em mais. 

Dúvidas
  • Por que razão a investigação não avançou logo e não impediu o roubo quando um dos envolvidos na preparação do roubo se chibou com um mês de antecedência à PJ? Note-se: á mesma PJ que agora, no fim, aparece como a boa da fita, depois de, en passant, ter desacreditado a PJ Militar e mais uns quantos. Não atinjo.
  • Não há câmaras, não há rondas, não há nada naquele quartel que impeça que tal coisa, a ter ocorrido, se faça assim, às claras? Não atinjo.
  • Os oficiais, sargentos e cabos que lá estavam não deram por nada? Estavam a dormir? é normal, isto? Não atinjo. 
  • Por que raio de carga de água foram os ladrões roubar munições maioritariamente obsoletas?  Não atinjo. É que não atinjo mesmo.
  • Por que raio de carga de água os ladrões, supostamente, queriam vender munições obsoletas à ETA quando a ETA há que séculos que foi desactivada? Ainda menos atinjo.

Segundo facto: aparentemente pouco tempo depois, soube-se quem tinha estado envolvido no roubo e  alguns meses depois o material apareceu.

Dúvidas:
  • Porque não acusaram quem tinham de acusar e, pelas vias normais, não recuperaram o material roubado? Também não atinjo.
  • Porque é que, enquanto andavam uns, os militares, a investigar e, supostamente, a conseguir a recuperação do material roubado, andavam outros, os civis, a investigar os que que estavam a investigar? Não se atinge, parece brincadeira.
  • Porque é que os homens em geral e alguns em particular são tão infantis e têm um orgulhozinho tão besta e pueril que os leva a pelarem-se por brincar aos polícias e aos ladrões até serem velhos? Não dá para atingir.
  • Como é que, mesmo numa situação que ganhou imediatamente contornos mediáticos, os militares da PJ Militar acreditaram que iam conseguir recuperar aquele maravilhoso conjunto de tretas roubadas e ficar bem na fotografia, não desconfiando que os da PJ Civil estavam de olho e fariam de tudo para lhes fazer a folha? Dá para atingir? Não me parece. Aliás, parece improvável demais para poder ser levada a sério.
  • Porque é que os militares, mesmo perante uma situação tão absurda (porque todo aquele suposto roubo, a ter acontecido, é absurdo, cómico até), se mantiveram naquele espírito de 'defender os seus', contra tudo e contra todos, não percebendo que iam encrencar toda a gente, desde o pobre coitado do ministro Azeredo até ao Marcelo que é o Chefe Supremo das Forças Armadas? Não atinjo. Alguém atinge? Eu não.
  • Com base em quê é que alguém, no meio desta paródia, andou a 'escutar' e a ler 'sms' ministros e deputados? Não se atinge, parece coisa descabelada demais para ser verdade.
  • Que raio de ladrões são aqueles que não apenas roubam material obsoleto para tentar vender a uma organização desactivada como, quando devolvem o material, devolvem material a mais? A mais?! E como é que tinham esse material a mais? Já tinham roubado antes? Ou...? Ou tudo isto não passa de outra coisa qualquer? Não atinjo, não atinjo mesmo.

Conclusões

1ª - Há muita coisa bacoca e ridícula nesta história. Muita. Demais. Tudo isto me cheira a macacada. Aliás, estou certa que isto ainda vai dar um filme de gargalhada pegada. E, se querem que vos diga, ainda não estou certa de que tenha havido qualquer roubo de verdade. Não descarto a hipótese de que isto tudo de que se anda a falar não seja simplesmente um amontoado de invenções ridículas. Não me parece descabido que tenham começado por engendrar uma desculpa esfarrapada para uma qualquer irregularidade e que, para lhe darem substância, se tenham posto a engendrar cenas parvas atrás de cenas parvas e que, tendo o enredo descambado, lhe tenham perdido o controlo dando no que deu. E que, agora que tudo isto assumiu tamanhas proporções, já não tenham lata de vir a terreiro dizer que pedem muita desculpa por andar a causar tanto sururu porque a única coisa que aconteceu foi que, para justificarem não terem o inventário em dia, resolveram fingir que tinham sido assaltados... Ou isso ou outra parvoíce do mesmo obsoleto calibre. Quem sabe não foi uma rasteira montada para encalacrar alguém, coisa que era para ser mais discreta, e que, às tantas, escalou até onde escalou sem que se lhe pudesse pôr travão...?

2ª - Quanto ao ministro Azeredo, coitado, deixem o pobre homem em paz. É um homem decente e honrado que, sem saber como, se viu metido neste jogo de faz de conta, de meias palavras, de pactos de silêncio. Devem ter-lhe dito qualquer coisa como: 'Não se preocupe que está tudo a ser tratado e não podemos entrar em pormenores mas, tranquilo, vamos resolver tudo e isso é que é preciso e tudo o que há a fazer vai ser feito'. E o inocente Azeredo deve ter acreditado que a investigação estava a decorrer na normalidade, sem perceber que tudo aquilo era uma armação. E, cá para mim, sem ter percebido que, de uma ponta a outra, toda esta história não deve passar de uma armação. Embora, pelo menos no princípio, ele tenha suspeitado pois chegou a dizer: '... no limite pode até não ter havido roubo...'. Pois.

3ª - Toda esta pangalhada em volta disto -- com o palerma do Rio (repito e  com todas as letras: p-a-l-e-r-m-a), a cínica da Catarina e a destrambelhada Cristas a condenarem o ministro Azeredo na praça pública, a crucificarem o António Costa (que nada tem a ver com isto*) e a enxovalharem a campanha eleitoral, transformando a comédia delirante que é o 'caso Tancos' num lodaçal onde querem soterrar o Governo e o PS -- é uma estupidez pegada. Um atentado à nossa inteligência.

4ª - Quanto ao momento escolhido para lançar a acusação nem vale a pena dizer nada. É a estocada final em toda esta palhaçada. Sabendo-se a confusão que isto ia causar em plena campanha eleitoral foi mesmo agora que teve que ser. O pilar da Justiça está corroído e não venham dizer-me que isso não é um risco para a Democracia.


[*Coloquei ali um asterisco porque não sei se o Governo tem poder para mandar pôr a tropa fandanga** que estava colocada em Tancos e/ou a brigada de investigadores, todos em formatura aí num qualquer lugar de passagem para a gente que passa se poder rir deles à cara podre.  Ou a eles ou o Rio, a Catarina e a Cristas, esses três tristes da vida airada, encostados a uma parede para a gente lhes pôr orelhas de burro e ter pena deles.  É que, se tem poder para isso e ainda não o exerceu, está mal.

** E coloquei agora dois asteriscos na frase acima porque se calhar é injusto falar de todos por igual quando aquilo pode ter sido obra de apenas uns dois ou três]

Whatever...

Que entre mas é a tropa dos meus amigos Monty Python


Pim-pam-pum.

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Adendas

Chegam-me por mail dois alertas:

1º - Rui Rio no início da semana, antes de ser divulgada a telenovela chunga que é esta acusação, terá dito (aos microfones da TSF?) que estaria para dentro de poucos dias o conhecimento de mais uma encenação de António Costa. Na altura terá soado misterioso, quase a lembrar o 3º mistério de Fátima. Agora, que se sabe a que é que ele se referia, parece legítimo que se pergunte: 
Rui Rio teve acesso a segredos de justiça? Ele que até os jornalistas punha de cana? O que é que ele sabia? Sim, o que é que ele sabia? E, sim, se ele sabia, como é que sabia? 
E o afã dele, ele que dias antes tinha condenado os julgamentos em praça pública, em vir tentar enlamear António Costa parece agora ainda mais suspeito. 

2º - Enviaram-me também por mail link para um artigo de Carlos de Matos Gomes (militar, investigador de história contemporânea, escritor com o pseudónimo Carlos Vale Ferraz) intitulado Tancos e as Operações de Falsa Bandeira


Transcrevo apenas o final do artigo:
Os beneficiários desta acusação Tancos, são a PJ e o MP, que reforçam o seu poder como corpos determinantes das políticas do Estado. Poderes fáticos. É um dado. Os grandes prejudicados são os poderes eleitos pelos cidadãos, o governo saído de uma assembleia e um presidente eleito por voto direto. É ainda atingida a instituição armada, aquela que representa a última autoridade do soberano, as forças armadas.
Tecnicamente e sem subterfúgios: chama-se a isto um golpe. Para defesa da democracia e do Estado de Direito, em minha opinião, este golpe e os seus autores têm de ser enfrentados e desmascarados, com todos os riscos que isso comporta.
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E isto para dizer que a procissão ainda vai no adro e que o primeiro milho é para os pardais.

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sexta-feira, setembro 27, 2019

Tenho uma dúvida de fundo e duradoura: porque é que a TVI contrata o Paulo Rangel como comentador?
É que não se aguenta. É um baderneiro, sempre em estado de histeria. Não se consegue ouvir.


E nada mais tenho a dizer sobre o tema, só mesmo isto. Paulo Rangel na televisão é sinónimo de zapping. 

[Haverá quem consiga ouvi-lo? Haverá quem aprenda alguma coisa com o deputado-macaquinho? Juro que tenho essa dúvida]

Quem é o papagaio-mor do reino?
Será mesmo o Marcelo...?!?, perguntam vocês.
E eu esclareço: claro que não.


No post abaixo, confessei que sabia e demonstrei que, se eu sabia, obviamente o meu marido também sabia. E, se não sabia, é igualmente grave porque aí perguntar-se-á que mais não sabe ele. E, portanto, mais do que certo, a esta hora eu e mais uma data de gente já estamos cada vez mais afogados na lama da suspeição pública pois, se o meu marido sabia, os colaboradores directos dele também sabiam e se eles sabiam, as mulheres deles também. E se as mulheres sabiam, as mães delas também. E, se as mães também, não me venham dizer que os pais não. E, se meio mundo sabia, que dizer então do papagaio-mor do reino? E se todos sabiam como é que não disseram? Grave, gravíssimo.
Claro que tudo baseado na premissa de que eu sabia, coisa que não está provada (embora isso, claro, seja amendoim, pormenor). E isto já para não dizer que não se sabe bem de que é que se está a falar. Até porque o crime de verdade aqui, cá para mim, foi mesmo o roubo (?) ou o deixar roubar ou o não agir quando houve o aviso de que ia haver o roubo (?) ou as conivências à volta do roubo (?). Etc. Mas isto sou eu a dizer.
Mas, aqui chegados, temos então a magna questão: quem é, de facto, o papagaio-mor do reino que, esse sim, sabia

Toda a gente assumiu que o papagaio-mor do reino só podia ser o Presidente. Não sei porquê pois, que eu saiba, ele pode ser o rei das selfies ou dos beijinhos a granel e, quanto a nicknames, que eu saiba ele dava era pelo nome de catavento, mas não o tenho por papagaio. Ná. Nem pó. Mas, para meu espanto, o próprio Marcelo enfiou o barrete e veio dizer que não é criminoso. Surreal, surreal.

E agora, para minha surpresa, que o tinha em melhor conta, foi o Alpakas que apareceu a dizer que o Presidente está acima de qualquer suspeita e que foi tudo mais um SãoBentoGate para desviar atenções a mais não sei o quê e, portanto, também ele veio publicamente dar como certo que o papagaio-mor é o nosso Marcelo. 
Não atina, o Alpakas. Não apenas surpreendeu o País mostrando que não tem boa índole, como que, ele sim, é o verdadeiro catavento. E, ainda por cima, provou à saciedade que não tem pingo de inteligência. Nem de vergonha.
E eu, embora de forma encriptada, venho aqui esclarecer: tenho para mim que o papagaio-mor não é o Marcelo. Read my lips. Acho que não é.

Gostava de aqui vos dizer quem penso que é mas acho que é melhor não senão ainda poderia ver-me metida em trabalhos e ainda ter que provar como é que sabia, E era o que faltava. Como não me canso de dizer, sou maluca mas não sou parva. Aliás, eu até é mais bolos. 

O que posso dizer é que, se for quem penso que é (e reparem que digo 'penso' e não que 'sei'), todos vocês o conhecem. Tenho até ideia de que eu própria já o tratei por papagaio. Posso também ainda dizer que, se for, as suas penas não são encarnadas, nem cor-de-rosa nem azuis nem verdes, são da cor que falta. E posso ainda acrescentar, para vos ajudar a descobrir -- porque se o descobrirem terão sido vocês a descobrir e não eu a dizer -- que se o tal Brazão, ao falar com a irmã, se tivesse referido ao dito passarão como um passarinho talvez já alguém tivesse mais ou menos desconfiado. Pensem bem. Quem é, quem é? O papagaio pouco louro e de bico mais do que amarelo? Pensem, pensem.  Quem é que sabe sempre tudo de tudo e papagueia tudo a propósito de tudo? Pensem, pensem.

(Já adivinharam?)

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Quando ao script dos factos, os verdadeiros, os relevantes, a ver se ainda cá volto para vos contar. Tudo imaginação minha, claro. Imaginação ou o que vou sabendo por aqui e por ali -- que eu, prestem atenção, não tenho acesso a processos nem trabalho no Correio da Manha (sem til, obviamente). Estou é com sono e tenho que me concentrar. A ver.

Eu também sabia


E como eu sabia e fui apanhada numa sms a dizer que sabia, agora façam favor de também me considerar arguida.

Mais: se eu sabia, o meu marido, das duas uma, ou sabia e é grave porque não disse que sabia ou, se não sabia, ainda é mais grave porque assim até podemos especular sobre que mais se tem passado que ele não saiba.

E outra: o papagaio-mor também sabia. 

E digo mais: cá para mim foi o meu marido que, para não suspeitarem que sabia, lançou a suspeita sobre o papagaio-mor. 

E tudo isto é muito grave.

E ainda outra: no outro dia, quando a minha prima me enviou uma sms a dar os parabéns, eu agradeci e disse-lhe que sabia e que estava toda contente. E isto é também muito grave porque, se a minha prima sabia, devia ter dito. E isto é gravíssimo porque não se pode brincar desta maneira. Cá para mim, ela também deve ser imediatamente chamada.

E é bom que vá tudo dentro, tudo, o meu marido, a minha prima, eu e toda a gente que sabia. Isto é uma vergonha. Não pode ser. Tudo dentro. 

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E aqui chegada, aposto que o Rui Rio só não está também já aos pontapés na minha cabeça porque felizmente tem perna curta e não consegue chegar até aqui. Consta que, a esta hora, está ao espelho a rir-se para si próprio (e isto porque, como não é só a perna que é curta, é também o neurónio, ainda não percebeu que deveria era estar a rir-se de si próprio). 


E a Assunção Cristas só não está aos saltos em cima do meu cadáver por duas razões: primeira, porque ainda estou viva e, segunda, porque anda muito ocupada a dar saltos em cima da sua peixeira-sombra.


E a Catarina só não está a espetar facas nas minhas costas também por uma de duas razões: primeira, porque teria que crescer um bocadinho mais (a nível de pontaria, quero eu dizer; e, já agora, também de carácter) e, segunda, anda muito ocupada a espetar alfinetes no boneco do Costa.

E outra coisa: muitos dos meus Leitores, aqueles que facilmente vão na canção de qualquer bandido, já devem estar a fazer coro com o Rio, a Cristas e a Martins. Sabia! Sabia! Grave! Sabia ela e os outros todos! Muito grave! Isto tem que ter consequèncias! Mas outros, os mais prudentes, devem estar a coçar na cabeça e a dizer: Caraças. Mas estamos a falar de quê? O que é que a UJM afinal sabia?

E, aí, eu, que não gosto de polémicas mixurucas, esclareço: eu sabia que estava mais magra. Não sabia exactamente quanto mas que estava toda orgulhosa lá isso estava.

E sabia ainda outra coisa. Mas não posso dizer. Sou maluca mas não sou parva.

quinta-feira, setembro 26, 2019

O efeito borboleta





Sabes? Hoje li que as borboletas estão a desaparecer. Notícia triste, não achas?

No outro dia dei comigo a pensar que não sei para onde vão as borboletas quando morrem. Nunca as vi caídas no chão. Pensei que, se calhar, vão para o céu. O que achas? Um céu cheio de borboletas, já pensaste? 

Li que o desaparecimento tem a ver com as alterações climáticas. As borboletas e outros insectos. Li que a polinização pode ficar em perigo e, sem polinização, o que acontecerá é tão mau que nem quero falar-te nisso.

Mas deixa que te conte outra coisa. No outro dia, vieram chamar-me para ver. Fotografei-a, claro. Uma borboleta muito bonita.


Uma semana depois fotografei outra, igualmente bonita. Mais colorida. Depois, no mesmo sítio da primeira vez, vi outra igual à primeira e pensei que poderia ser a mesma. Depois pensei que não sei se as borboletas conhecem os lugares, se voltam a eles, se pensarão que estão a voltar a um lugar onde já foram felizes. Também não sei se pressentem as pessoas por perto.

(Tu pressentes-me?)

Contemplei-as, encantada com a sua beleza. E intrigada. Faz-me muita impressão que um ser tão belo -- uma daquelas belezas perfeitas para as quais conseguimos encontrar explicação: simetria, harmonia, conjugação feliz de cores -- resulte de uma metamorfose que parece um passe de mágica. Sabes o que penso? Penso que o mundo real é, afinal, um mundo de magia onde os milagres acontecem. E isso enche-me de esperança. 

Eu não sei como explicar que seres tão sublimes habitem o mesmo mundo que eu. Não sei se para seres assim, que nascem outros e que são tão efémeros na sua extrema beleza, o tempo é o mesmo que o meu. Não sei se uma borboleta, recém nascida depois de ter sido outro ser, tem consciência de como o tempo passa. Não sei se sente que o seu tempo se esvai mais rapidamente do que para mim. Talvez não. E talvez seja o meu tempo que passe sem que eu o sinta, tão longe estou. Tão longe estou. Tão longe. Sentes isso, não sentes?

Que tempo é o nosso?


Sentirá a solidão, a bela borboleta cujo tempo se esvai? Sentirá que um dia ninguém mais saberá dela? Saberá que um dia o bicho anterior não mais se transformará, deixando-a por acontecer? Quantas coisas, diz-me, quantas coisas ficam por acontecer sem que ninguém o saiba?

Olha. Fecha os olhos e pensa. Como ficará o mundo sem a beleza efémera das borboletas? Consegues imaginar? A tristeza e a escuridão descerão sobre nós? Ou teremos nós, entretanto, adquirido a capacidade de nos transformarmos em seres sem destino, inexplicáveis, fatalmente belos e efémeros? 

Faço muitas perguntas, não é? É que não sei respostas, sabes? Tu sabes? Tens respostas para mim?

Saberás tu que contemplo a beleza das borboletas? Saberás que sinto que o tempo, um dia, nos surpreenderá na sua suprema sabedoria? Será que deus, afinal, é o tempo? O tempo que está em todo o lado, infinitamente sábio, infinitamente bondoso. Um deus que nos transporta, que nos suspende, que nos traz os sonhos que nos mantêm vivos. Um deus que nos abraça. Que nos traz a palavra que nos abraça. Que nos traz aquele olhar. Aquele sorriso. A tua mão que se estende até mim. Mesmo que em sonhos.


Olha, não me respondas. Prefiro não ter respostas, prefiro sonhar com borboletas livres e eternas voando e dançando in heaven.  Prefiro adivinhar-te. Prefiro pressentir-te aí, imóvel, escutando em silêncio a minha respiração.

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E prefiro não pensar no dia em que as borboletas vão desaparecer

E sabes porquê, não sabes? É que não sei se ainda vamos a tempo de as convencer a ficar por cá e isso entristece-me muito.  

O que achas? Temos tempo? Vamos ter o nosso tempo?

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E agora, a quem possa interessar, convido a descer até ao post seguinte. É o avesso do outro, do das metáforas. 

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E um dia feliz a todos.

A quem possa interessar





Quando queremos dizer uma coisa e os outros não o percebem, das duas uma: ou nós não comunicámos bem ou os outros não captaram bem.

Ontem escrevi um post que era, todo ele, uma alusão a alguns critérios de selecção do partido em que votar nas próximas eleições. Ironizei, metaforizei. Mas, porque me apercebi que posso não ter tido a habilidade suficiente para me fazer entender, volto ao tema.

1. Queria eu, ontem, dizer na minha: 
Se este PS provou ter competência, engenho e arte para inverter o rumo depressivo em que o País se encontrava ao tempo do PSD+CDS, se restituíu rendimentos aos portugueses, se devolveu a tranquilidade à maior parte das pessoas que deixaram de recear cortes nos ordenados ou aumentos de impostos, se reduziu drasticamente o desemprego, se reduziu o défice e a dívida pública, se provou à Europa que a austeridade não era o caminho certo e também que austeridade não é sinónimo de rigor nas contas, se conseguiu fazer pontes à esquerda abrindo o futuro aos mais desfavorecidos, se estancou a emigração dos mais jovens, se conseguiu pôr os olhos do mundo no exemplo deste nosso pequeno País, se não se antevê que haja outro partido melhor preparado para fazer mais e melhor... então porque não votar no PS?
Faz sentido que, gostando do PS, em vez de votar neles, vá votar noutro partido, correndo o risco de que, na contagem dos votos, em vez de termos o PS a poder continuar a governar, se fique perante um impasse governativo ou com o PSD a conseguir fazer novo governo em conjunto com o CDS da Cristas?
Eu acho que não, que não faz sentido correr tal risco. 

2. Queria também eu ontem dizer na minha: 
Se acho que a Catarina Martins desperdiçou a oportunidade de falar de temas importantes num debate em horário nobre com todos os candidatos, na RTP, pondo-se com quezílias irrelevantes para o futuro dos portugueses, trazendo para a discussão, à força e com deselegância, um tema de há quatro anos que não interessa nem ao Menino Jesus e com o qual pretendeu deixar ficar mal António Costa nem se sabe a propósito de quê, por que razão não haveria eu de dizê-lo com todas as letras? Porque a Catarina anda sempre ao colo da comunicação social? Porque tem um pendor populista que soa como música para os ouvidos de muito boa gente?  
Ou porque a Catarina agora meteu na cabeça que deve convencer os portugueses de que o acordo à esquerda foi gizado por ela e que tudo o que aconteceu de bom foi também obra dela, devo fazer de conta que não acho isso uma infantilidade, uma deslealdade e uma parvoíce só para não ir contra a boa imagem que a comunicação social quer construir dela?
Era o que faltava. Lamento mas eu, quando digo a minha opinião, não estou para usar meias palavras. Prefiro ser directa.

Ou seja, como disse acima, ontem travesti (ou pelo menos tentei) os argumentos que por aí vou ouvindo ou lendo sobre as eleições com o intuito de os desmontar ou demonstrar os seus riscos. O post era, pois, sobre isso. Sobre isso e sobre bolos. Não era sobre o que penso do Ronaldo, da Ana Gomes, do cão ou do canário, do chocolate negro ou dos caramelos de Badajoz, do chá ou do panaché de coca-cola. Embora, claro está, também fosse. Mas esse não era o foco.

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E porque isto das metáforas e das ironias, se não forem bem conseguidas ou bem percebidas, é  um risco, resolvi condimentar este post com imagens que parecem fotografias mas que não são. E pode parecer que, se as ponho aqui, é porque gosto muito delas e também não é o caso. Trata-se de pintura figurativa, por vezes hiper-realista, que pretende ser sensual. E eu acho que, para ser tão realista, mais valia ser fotografia. E, para ser sensual, não devia ter um ar tão bem comportadinho, tão bonitinho, tão cândido, com pudores envoltos em negligés transparentes e com folhinhos. Mas, lá está, é a minha opinião.

O pintor é Vicente Romero Redondo, um espanhol de 63 anos, que pinta que se farta e que não faço ideia em quem vota.


Quanto à habanera que escolhi para nos acompanhar, bem, aí a conversa já é outra. Ou, na volta, não. A vous de choisir. Faites vos jeux.

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Post scriptum, que é como quem diz PS

Gostei de ver a Joacine Katar Moreira com o Ricardo Araújo Pereira na TVI -- que, reconheça-se, se aguentou como um valente.

Com uma gaguez por vezes avassaladora, para além de bonita e com uns olhos muito expressivos,  Joacine tem uma alegria, uma descontração, um sentido de humor que, às tantas, depois de um primeiro embate em que quase pasmei com aqueles arranques em falso ou quase sofri por a palavra não lhe sair, acabei a admirá-la. Assim é que é. Uma lição para quem padece de complexos de inferioridade, geralmente infundados. 

quarta-feira, setembro 25, 2019

Paradoxos, contradições, cenas, coisas que não são o que parecem.
E, claro, bolos.





Nesta era de fake news, de bruah-ah-ahs virais, de inflamados estados de alma e de funfuns e gaitinhas para todos os gostos parece que já não se pode ser politicamente incorrecto e dizer, tout court, o que verdadeiramente se pensa.

E isso é que era bom. Era, era. Era o que faltava.

Por exemplo.

E é mesmo só exemplo. Porque quem diz isto que vou dizer podia dizer outra coisa qualquer.

Por exemplo, se acho que o Ronaldo é o melhor jogador do mundo vou votar no Zé da Gatinha porque já não posso com o rabo da Georgina sempre espetado para a fotografia? Ora abóbora.

Ou.

Se acho que a Ana Gomes é a melhor comediante da televisão portuguesa, vou votar no Batatinha para o Globo de Ouro? Porquê?

Ou se acho que o Louçã é que tinha mesmo pinta de Cardeal, ia votar no poeta Tolentino para fazer turma com o Manuel Clemente et al.? Eu não. Está bem que aí não risco. Mas isto é um exemplo, ok?

Ou, se acho que o cão é o melhor animal para guardar a casa, vou mas é arranjar um canário fofinho só para o cão não ficar a achar-se? Sou maluca ou quê? (Quero dizer, ser se calhar até sou mas não sou parva, olhem lá)

Ou, se sou encalorada, vou vestir um casacão com gola de pele só para os encalorados não ficarem em maioria? isso é que era bom.

Ou, se quero fazer uma casa à maneira, vou contratar não um arquitecto mas um alfaiate só porque acho que os arquitectos acham que sabem desenhar casas e já não tenho pachorra para isso?

Ou se o chá de lúcia-lima me sabe bem e me faz bem vou beber um panaché de coca-cola só porque não gosto de facilitar a vida ao chá de lúcia-lima? Vou, vou...

Ou, se gosto de me perfumar antes de sair de casa, vou mas é pulverizar-me de alto a baixo com detergente para a louça só porque gosto de dar tiros nos pés?

Ora.

E, em vez de dizer o que me vai na alma a propósito do que vejo à minha volta, vou antes falar de equinócios dourados, outonos românticos, céus brancos e névoas macias como tule só para ninguém se sentir maçado com as minhas opiniões?

Ora. Era o que me faltava. Era mesmo.

Ou.

Só por exemplo.

Por exemplo, se gosto de chocolate preto e, ao mesmo tempo, de meter na boca um ou dois cubos de gengibre cristalizado, quero lá saber de mais ninguém gostar disso e de ninguém perceber que raio de gosto é o meu. Eu gosto, digo que gosto. Que é que hei-de eu fazer se sou de gostos inconsensuais? Fazer de conta que não? Em vez de chocolate preto à mistura com gengibre vou comer caramelos de Badajoz? Vou, vou. Havia de ter graça.

E se faço um esforço do pior que há para não me desatar a rir que nem uma perdida quando tenho pela frente um ga-ga-go muito ga-ga-ga-go a disfarçar que é ga-ga-go muito ga-ga-go porque hei-de eu dizer que não, que não me dá nenhuma vontade de rir? 
[E isto apesar de ter um na família e de eu própria, em miúda, durante algum tempo, ter sido ga-ga-ga. Aliás, o meu familiar acha que ser ga-ga-go é muito sexy, diz que tem muita saída junto das mulheres à conta disso.]
E se já estou a rir só a antecipar o que vai ser amanhã a entrevista da Joacine Katar Moreira com o Ricardo Araújo Pereira vou dizer que não? Vou, vou, esperem por essa. 

E vem esta conversa toda a propósito de quê? -- perguntarão vocês.

   Ora, a propósito disto tudo -- confessarei eu sem perceber a vossa dúvida.

Mas o que é 'isto tudo'? -- perguntarão vocês, ligeiramente atónitos.

     Ora, 'isto tudo' é o infinito que nos cerca -- responder-vos-ei eu do alto da minha perplexidade.

E aí vocês olharão à volta e, em silêncio, espantar-se-ão: Oh pá, mas esta gaja pirou de vez ou quê?

      E aí, lamento, não poderei esclarecer-vos porque resolver paradoxos abertos é coisa que não é para mim. Eu é mais bolos.

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E estes bolos -- que parecem feitos de propósito para adoçarem a nossa mente durante este nosso simpático período eleitoral -- foram confeccionados pelo pasteleiro Luke Vincentini que, qual J. Pinto Fernandes, não tem nada a ver com esta história.

E agora, para terminar, se não se importam, vão buscar uma flute de champanhe e preparem-se para delicadamente depositar este moranguinho na minha boca, ok?


Nham-nham

terça-feira, setembro 24, 2019

No debate da RTP, a Catarina Martins perdeu uma boa oportunidade de estar calada.
Resolveu lavar roupa suja em público mas acabou por ter que pegar na sua própria roupa, fazer a trouxa e ficar com ela à frente da sua cara.
[E, de caminho, uma palavrinha a propósito sobre Jerónimo, sobre Rui Rio, sobre a Cristas e sobre o André.
E, claro, sobre o Costa]


Acabo de ver mais uma má jogada da Catarina no debate que está a passar na RTP 1. Resolveu armar peixeirada, atirar-se ao Costa da forma traiçoeira e deselegante e acabou por levar uma lição dele. Ficou mal, mal, mal na fotografia, esta Catarina. Acha que vale tudo, que os golpes de teatro são sempre eficazes e, afinal, ao ir longe demais, ao exagerar na forma e no conteúdo, estatelou-se a ao comprido. E, depois de levar uma valente e justa ensaboadela do Costa, em vez de enfiar o barrete e ficar caladinha, voltou à carga com uma regateirice que não lembra ao diabo. E agora, no final, vendo que a peixeirada lhe saíu mal, voltou ao tom da boa menina, de amiguinha do PS, de sonsa. Uma artista, em plena actuação. Para ela, a política é um palco e quer é receber palmas.
Não sei se há muita gente a ver o debate ou se há ainda gente oscilante quanto ao sentido de voto, mas, se houver, é bem capaz de a brincadeira lhe sair cara, é bem capaz de esta sua actuação, por mostrá-la como uma artista com défice de credibilidade, fazer perder votos ao BE. Seria bem feito.
Melhor, bem melhor, Jerónimo de Sousa. Um senhor. Tomara que o PCP fique acima do BE nas eleições. Pode defender uma ideologia datada mas uma coisa é certa: este homem é um homem honrado. E isso conta. E é sensato. E isso também conta. E o PCP é, todo ele, um partido de gente séria, gente de palavra. E isso, para os portugueses, é importante. Ou, pelo menos, devia ser.

Quanto ao Rui Rio, vejo-o divertido a assistir ao debate mas não sei se isso é determinante para alguém decidir votar nele. Talvez seja um homem espontâneo e honesto mas falta-lhe foco e sentido prático e, sobretudo, não tem mão no saco de gatos que é o seu partido e tudo isso, nas funções que desempenha, é grave.

Quanto a Cristas, nada de novo. Irrelevante. Fala, fala, mas nada de novo sai dali. Continua a ser uma flausina que debita casos, a verdadeira picareta falante. Ainda por cima, de dedo espetado. Incomoda. Cansa. Os portugueses estão cansados dela. Por isso, ou muito me engano ou, não tarda, fará parte do passado do CDS.

Sobre o André do PAN, nada a dizer. Tudo espremido, pouco sumo deita.

Escuso de fazer uma declaração de interesses. Como é sabido por quem por aqui me acompanha, não sendo eu filiada em nenhum partido, sou, em geral, votante no PS -- em especial nas legislativas. E António Costa é um grande líder, um socialista inteligente, muito inteligente, ágil e hábil, perspicaz, corajoso, paciente e determinado. E é um excelente governante. O que ele tem feito no País é notável. Portanto, será com todo o gosto e inteira convicção que votarei, uma vez mais, no PS.

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Uma palavra final para Maria Flor Pedroso: uma grande jornalista. Uma mulher de pulso. 
Ganda pinta.

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Costumo ter imagens nos meus posts e, desta vez, também as tenho. Não sei se têm a ver com o debate ou com as duas senhoras partidárias, uma conhecida peixeirona encartada e outra que, achando que os espectadores gostam de novelas que metam traições e cenas de faca e alguidar, resolveu lavar roupa suja em público, armando uma peixeirada que deixou a outra, a sister in populism, armada em superior perante tais sinais de baixeza.

Mas, se as imagens não tiverem a ver com isto ou com aquilo, também não faz mal. Vi no Bored Panda esta moda outono/inverno para galinhas e achei graça. Quem sabe não vai dar jeito a muita galinha desmiolada que por aí anda.

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E uma boa terça-feira a todos.

O atrevimento de Greta Thunberg.
How dare you?


É notável o dom de palavra, a acutilância, a coragem e a paixão desta miúda. Tem 16 anos mas atreve-se a enfrentar quem lhe apareça pela frente com conversa mole, com desculpas esfarrapadas, com ignorância estampada na cara.

Com uma determinação ímpar e palavras fortes e certeiras como murros, Greta tem conseguido a proeza de mobilizar o mundo e fazer com que os 'poderosos' deste mundo a ouçam.

E, se pararmos para pensar, temos que aceitar que é extraordinário que este movimento que tem trazido milhões de pessoas para a rua tenha nascido da revolta de uma miúda que percebeu que o tempo se está a extinguir e que, corajosamente, resolveu tentar agarrar o assunto com as suas próprias mãos e, dessa forma, tentar travar essa perigosa tendência. E é extraordinário que sejam maioritariamente crianças, crianças inspiradas por ela, a puxar pela consciência da população. É extraordinário e comovente.

A forma enfurecida e emocionada como hoje falou na Cimeira do Clima em Nova Iorque tem corrido mundo e é deveras impressionante.

'You have stolen my dreams and my childhood with your empty words,' climate activist Greta Thunberg has told world leaders at the 2019 UN climate action summit in New York. In an emotionally charged speech, she accused them of ignoring the science behind the climate crisis, saying: 'We are in the beginning of a mass extinction and all you can talk about it money and fairy tales of eternal economic growth - how dare you?


E, abaixo, a miúda franzina no seu canto enquanto o grande e todo-poderoso Trump e a sua entourage chegam às Nações Unidas
Greta Thunberg briefly crossed paths with Donald Trump at the United Nations in New York on Monday. Thunberg, the Swedish climate activist, fixed Trump with a steady stare as he arrived at the UN to attend a meeting on religious freedom. The US president decided to snub a major UN climate summit, held on the same day

O semblante enraivecido (e enojado?) de Greta fala por si.

segunda-feira, setembro 23, 2019

A melhor arte do século 21....?
-- Está bem, está. Se isto é o melhor, vou ali e já venho --




Cada vez mais me convenço de que não sou verdadeiramente conhecedora de coisa alguma. E ia dizer coisa nenhuma mas não sei se nisto da escrita se aplica o mesmo que na matemática em que menos por menos dá mais. É que o quero dizer é que não há nada sobre o que eu possa dizer que sei muito. Nada. Sei é nada.
De dia para dia ganho consciência do meu desconhecimento. De dia para dia constato que caminho por uma estrada que não tem fim e, mesmo quando chegar ao fim do meu caminho, ele continuará aberto aos que vierem depois de mim, infinito, infinito no que esconde.
Posso gostar de uma coisa, de um tema, e, aí, tento conhecer mais -- mas chegar ao ponto de achar que estou à vontade no assunto isso é sensação que não conheço desde que me conheço. E cada vez menos. Ou melhor: cada vez mais sei que sei menos. 

Por exemplo, pintura. Exposições, museus, livros, artigos. Volta e meia até me dá para pintar. E, cá em casa, muita coisa. Também escultura mas, aí, não tenho muita coisa cá em casa, é mais o que aprecio na rua, em lugares públicos, em museus. Performances, não é frequente entender-me bem com. Muitas vezes parece-me coisa bizarra e a impressão de bizarria canibaliza outras sensações. Mas, em geral, mesmo pintura ou escultura, não sou conhecedora, sou apenas apreciadora. E não sou apreciadora em geral, sou apreciadora do que gosto. Quando não gosto, passo ao lado. Mas, quando gosto, emociono-me. Ou gosto de olhar. Ou gosto de estar perto. 

Por tudo isto, quando vi o título The best art of the 21st century, avancei sem qualquer esperança.

Nos livros, The 100 best books of the 21st century, ainda conheço alguns e, se não os livros em si, pelo menos alguns autores. Li com curiosidade a escolha, animada por não estar na total ignorância. Mas, para o melhor da arte, parti logo desenganada. Como qualquer pessoa vencida à partida, já ia a saber que não haveria de gostar de muita coisa, que não haveria de conhecer a maior parte dos artistas. Só que foi pior. Apenas gostei de uma das escolhas e, por acaso, gostei muito: The Upper Room de Chris Ofili, em que uma das 14 pinturas que a compõem é a que está lá em cima, no início do post. Em relação a tudo o resto fiquei naquela em que tantas vezes penso de outras pessoas -- gente que intimamente acho retrógrada, conservadora, estreita de ideias. E assim me vi eu: 'Mas isto é o quê? Arte? Arte, o caraças. Arte, isto? Uma ova.'. Uma a uma, por desconhecer, fui googlar. Vi todas as obras que quatro críticos de arte do The Guardian elegeram como as melhores do século XXI. E, juro, não estou a fazer género: fiquei como boi para palácio. Nem consegui escolher um exemplo para aqui colocar.

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Calhou, quando estava a ver as obras seleccionadas pelo The Guardian, estar a dar na RTP 2 uma entrevista a Graça Morais sobre a sua exposição Metamorfoses da Humanidade à qual pertencem as obras aqui imediatamente acima e abaixo. E, como sempre que a ouço ou que vejo as suas obras, sinto a grandiosidade desta mulher. É simples no falar, é terra a terra, mas, na forma humanista como olha os outros, é uma pessoa superior. E as suas pinturas e desenhos são genuínos, é arte de verdade, há autenticidade e vivência, há elevação e intemporalidade. Arte: não experimentalismo ou paródia.
Mas, lá está, certamente ignorância minha, reaccionarismo meu. Se calhar, daqui por uns anos olho para as obras seleccionadas pelo The Guardian, obras que hoje olho com estupefacção, e acho uma maravilha. Quem sabe?
Duvido. Mas não digo que não.
Mas, por enquanto, prefiro, neste post, complementá-lo com obras da Graça Morais.


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Woolf Works – Orlando pas de deux
(Natalia Osipova, Edward Watson; The Royal Ballet)

- que pertence ao conjunto de bailados seleccionados pelo The Guardian em 
The best dance of the 21st century



Deste bailado, inspirado na vida e na obra de Virginia Woolf, em 7º lugar na lista do The Guardian, eu gosto

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E uma boa semana a todos a começar já por esta segunda-feira.
Saúde, alegria e verdadeiro afecto.