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segunda-feira, maio 24, 2021

Dia grande no Um Jeito Manso:

presentes da Sta. UJM para os devotos da Serva-Mor, para a própria Serva (a célebre Agente também conhecida por Ministra dos Porquinhos), para os assim-assim e para todos.

Ámen

 

Diz o Víctor que sou dada a tendências ocultas e eu, como forma de recompensa por ele ter conseguido descobrir um segredo que trazia tão bem escondido há tanto tempo, acho que tenho que aqui atribuir-lhe um presente. Isto, claro, porque, devido ao confinamento, não posso organizar a cerimónia que estava planeada para festejar o grande momento. Não fora o corona e teríamos o Pavilhão de Portugal à pinha para a atribuição da medalha ao Leitor que primeiro descobrisse o tão bem guardado segredo.

Mas o corona ainda não deu as desejadas tréguas totais e, portanto, os festejos têm que ser aqui mesmo.

Assim, não é a gold medal que aqui tenho para lhe oferecer, fantástico e veloz Seco Gaspar, mas é um vídeo feito em sua homenagem por ser o mais rápido dos Leitores a descobrir o meu grande segredo: "a UJM tem tendências ocultas". 

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Para o Paulo B por quem tenho grande apreço, que tem um sangue na guelra que dá gosto e que vibra com a vontade de fazer justiça (nem que seja às mãos da Agente Mortágua) e que, ao mesmo tempo, tem um gosto invulgar e exigente pelas artes do espectáculo e pelo reino do absurdo e extraordinário, iria a medalha de prata. Como não há como, aqui deixo um apontamento de circo que espero que receba com um sorriso equivalente ao que tenho ao dedicar-lho. E espero que a vida e as suas agruras não lhe retirem a energia tão boa que a sua juventude põe em destaque. Este presente, que vai em vez da medalha, seria entregue com um abraço ao bravíssimo Paulo B. 


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O ilustríssimo P. Rufino, ultimamente, de cada vez que aqui vem e lê qualquer coisa de menos abonatório para a sua guru, a Agente Mortágua, não apenas fica tão enraivecido por eu o tirar do sério que fica totalmente descontrolado como todas as suas entranhas se reviram de tal maneira que não consegue evitar as náuseas. Para ele, iria a medalha do servo mais devoto da Serva-Mor mas, não podendo eu agraciá-lo com a devida pompa e circunstância, deixo-lhe um pequeno filme com a Maggie, outra bacana que padece do mesmo mal, o de não conseguir controlar as náuseas em público. 

Mas o vídeo tem um outro propósito: o de lhe dar esperança. Se a Maggie volta e meia dava estes tristes e embaraçosos espectáculos, a verdade é que conseguiu recuperar-se. Vejo-a agora transformada em David Walliams e em grande forma. É agora um homem simpático, cortês, bem disposto. Ponha os olhos nele, P.Rufino. Acredito que também conseguirá regenerar-se.


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Para o grande João a quem nada escapa, que tudo conhece e que denuncia tudo o que se passa aqui e além mar, desde as cabeças de cavalo até aos betolas com cabelinho à f...-se e caquinha na cabeça, e que obviamente merece todas as medalhas -- ouro, prata, bronze ou cortiça -- não tenho presente à altura. Na sua arca já residem todos os tesouros do mundo, nomeadamente as melhores músicas, as melhores vozes, as melhores interpretações, as melhores histórias. 

Por isso, o que aqui lhe ofereço mais não é do que uma tentativa de lhe dizer que muito sinceramente acho que, apesar de todas as divergências, importa a gente relativizar, divertir-se, improvisar, não levar muito a sério o que não passa de espuma. Somos efémeros. Apenas a arte é eterna.

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E para o VN que queria que eu contasse mais uma história envolvendo a Serva-Mor tenho a dizer que ainda não é desta. Este blog, como é sabido, é um blog de família e as histórias que envolvem a personagem seriam mais dadas à bolinha encarnada ao canto do ecrã do que a serem lidas pelos inocentes que frequentam esta casa. Portanto, só se um dia eu estiver tão a dormir que perca toda a censura interna... Só posso adiantar que acho que a Serva-Mor, para melhor compor a personagem, quando inquire os seus suspeitos deveria apresentar-se a preceito, quiçá com um hábito como o da pura Madre-Superiora que aqui almoça com o João de Deus.


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E ainda tenho aqui uma coisa para outra pessoa, alguém que é todos e nenhum, mil nomes, mil personalidades, alguém que paira por aí, que aparece e desaparece, que é assim e assado, poético e prosaico, quase normal umas vezes e muito malvado outras, erudito e ignorante, humano e desumano, absurdo e racional, consistente e inconsistente. Para ele, o chameleon man, aqui vai um vídeo com um dos seus alter-egos. Não é um presente, não é um bye, não é um smile, não é nada: é apenas uma forma de reconhecimento. Estamos cá. Há coisas que não se explicam e esta é uma delas.


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Para a Serva-Mor, a intragável e temível Agente Mortágua, a inquisidora que passa a pente fino os freaks do regime, vai o prémio de honra, um que aqui chegou pela mão do Paulo B., sempre inteligente e oportuno, a quem agradeço a lembrança pois a verdade é que, no meio de tanta generosidade, estava a esquecer-me de presentear justamente a inspiradora de toda a esta série.

Ei-la aqui, em versão loura e glamour, a estragar a festa a um grupo de pândegos. Mas, como sempre, a estragar é como quem diz pois na sala ao lado ou no dia seguinte, a festa prosseguirá. Mas, ok, não estou para tretas, estou mesmo é para me divertir, para ser uma mãos largas e distribuir presentes à direita e à esquerda. 

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E para todos e para todas os que aqui me acompanham, para os que riem e para os que choram, os que rangem os dentes e os que batem o pé, os que têm fair play e os que atiram pratos à parede, para os que acham tudo muito grave e para os que se estão a marimbar, para todos, aqui vai o meu convite: bora lá furar o esquema e dançar?


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Desejo-vos uma boa semana
Saúde. Alegria.

sábado, fevereiro 06, 2021

As chagas de carácter social

 

Tenho a certeza que é muita insensibilidade da minha parte não vir para aqui carpir sobre as agruras nacionais. É mesmo. Toda a gente lamenta coisas. Toda a gente e eu, que não sei se sou gente, se sou bicho, também. Como, estando eu imersa neste pequeno rectângulo sobrelotado de gente lamentando-se, não me deixo contagiar...? É muita insensibilidade. Muita.

Como, por exemplo, não estar aqui a lamentar que o Chicão, esse menino mais fofo, esteja agora a ser maltratado pelo Adolfo e demais amigos? Logo o Chicão, esse destemido gaiato com uns olhinhos azuis mais lindos. Devia lamentar, que o momento é de tristeza e chicana. Mas não me ocorre o que dizer.

Também me parece insensível da minha parte não fazer um reparo ao conselho amigo que Mário Machado, essa incontornável e cadastrada figura, líder de movimentos sobejamente tintilantes, veio fazer ao Ventura para que modere a agressividade e a conversa potencialmente apelativa à violência. Parece-me um gesto bonito, bonito demais, e auto censuro-me por não estar aqui a louvar estes actos de coração. Mas dizer o quê? O que se diz numa situação destas... Que é a lei da vida...? Que branco é galinha o pôs...? Não sei...

E mais. Soube há pouco que o governo não vai dar tolerância no carnaval. Não me parece nada bem e ainda pior me parece eu não fazer da condenação de tão insana medida a minha guerra pessoal. Se este não é motivo para a mais sentida lamentação não sei o que seja... A gente quer fazer desfiles e não pode, quer fazer rodar a baiana e não pode, quer despir-se de alto a baixo, só com uma estrelinha brilhante nos sweet nipples e na rosa clandestina, e não pode, quer ir fazer uma festa bem danadinha de boa, todos tapados e mascarados do pescoço para cima, e não pode... e, como se a afronta não bastasse, ainda nos cortam a tolerância. Mas como? Temos que ficar em casa...? Não pode...! Fechados? Não... Mas vou dizer o quê? Que mascarar-me de irmãzinha da caridade-pum e não poder ir para a rua fazer de conta que sou a Alcoforado não me parece bem...? Bahhh, não tenho saco. Esgotei. Já dei para esse peditório.

Claro que poderia falar da meia-irmã da costureira da prima da cunhada da amásia do padrasto do presidente da Junta de Freguesia de Caganita de Baixo que se abifou com uma vacina já meio morna. Mas quê? Pôr-me a fazer concorrência à impoluta e suportável Sandra Felgueiras...? Ainda se eu fosse como o colega dela e soubesse praticar aquela eloquente e histriónica língua gestual, se me faltasse a parte detrás da cabeça, se tivesse orelhas de abanico e conseguisse falar como se estivesse sempre a ponto de apanhar com um míssil no missing toutiço... Mas não. Eu sou só eu. Fazer o quê...? Nada, né? É que, para falar a verdade, ninguém merece.

Portanto, na presença de tão grande insensibilidade e na ausência de ter mais o que dizer, calo-me já.

E que entrem os convidados.






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O título foi retirado do discurso de Vasco Santana

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Desejo-vos e belo e confinado sábado.

quarta-feira, fevereiro 03, 2021

A vacina da prima, os jornalistas que só praticam a má-língua e o grande João de Deus, aka João Vuvu

 

Do que me tenho esforçado por não ouvir pouco consigo concluir. Não sei de que estamos a falar. Por cada lote, entre os que faltam e os que não aparecem, sobram umas quantas vacinas que, para não serem deitadas para o lixo, são aplicadas aos braços que estão mais à mão? Se for isso, é mau? 

  • E de quantas vacinas, nestas circunstâncias, ao todo, face ao total aplicado, estamos a falar? Cagagésimos percentuais? Ou lots and lots
  • Ou não é isso, trata-se é de uns quantos chicos-espertos que usam o seu petit poder para distribuir vacinas pela família e amigos? Quantos? Uma dúzia de chicos espertos em mil que se portam bem? Ou quinhentos?

Pergunto.

E peço desculpa pelas perguntas. Se calhar, isso já é sabido e eu é que estou por fora. 

Além disso, sorry mas tenho outra coisa: gosto de pôr os dramas em perspectiva. Se estamos a falar de insignificâncias que apenas espelham algumas margens da sociedade, que não é perfeita, estou fora. Por muito que as beatas e os orelhudos de Auschwitz se insurjam, não são estes fogachos indignativos que vão tornar o mundo perfeito.

Não alinho, mas nem um bocadinho, nesta sanha persecutória, """jornalistas""" e """jornalistas""" por este país afora, armados em inquisidores de meia-tigela, a ver quantas vacinas descongeladas, em vez de irem para o lixo, foram para o braço da padeira da rua. 

Claro que se não foi bem assim e umas quantas vacinas foram parar ao braço da cunhada e da empregada doméstica em vez de irem para o braço de duas idosas do lar, aí talvez já seja crime. Mas apure-se a verdade dos factos, avalie-se  dimensão do crime e deixe-se que a Justiça funcione. 

Mas poupem-nos. Não se aguenta mais tanta miséria jornalística. Procuram ou inventam motivos para exercitarem a sua língua peçonhenta, para empolarem a tragédia, para apelarem ao choradinho, para pintarem um quadro de nepotismo generalizado, para desencadearem a justiça popular, para abrirem a porta ao populismo. Não tenho um mínimo de pachorra.

Esta cambada que mais não faz do que encher o espaço público de maledicência, criando rebanhos ululantes de maledicentes, enoja-me. Olhem, faço minhas as palavras de um dos meus ídolos. 

E como me apetece fugir a sete pés das notícias -- e não encontro alternativa válida na televisão e como tive um dia de trabalho que durou até não há muito e estou cansada demais para ir procurar melhor alternativa -- permitam que partilhe convosco uns vídeos que me apareceram quando estava à procura do último, vídeos aqui reincidentes e sempre bem vindos. Ganda João Vuvu, João de Deus, João César Monteiro. 

Há pouco, ali em cima, ia dizer de um dos meus falecidos ídolos. Mas resolvi retirar o falecido. Enquanto houver quem se lembre dele e dos seus filmes e vá ao youtube procurar os seus vídeos ele estará vivo.

[Red Alert: quem padeça de ouvidos sensíveis deve abster-se de ouvir os vídeos abaixo. Talvez seja prudente retirar o som ou, pura e simplesmente, desistir porque daqui hoje não sai mais nada]


 





E, quanto aos pseudo-jornalistas que espalham maledicência de forma continuada, é isto mesmo: 

Quero que as más línguas se f...! Paragraph. E assim sucessivamente.


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Resposta a um comentário de há dias: claro que bebemos vinho. Como não? Que pergunta vem lá a ser essa? 

E obrigada ao poeta anal: os seus poemas vão fundo.

E obrigada ao Francisco, uma riqueza de simpatia, sempre com sol nas suas sorridentes palavras.

E ao Amofinado, ao Luís, ao Paulo, ao aamgvieira, à Pôr do Sol, ao Pedro e ao José a quem também devo resposta a comentários ou mails. 

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Desejo-vos um dia bom

domingo, abril 14, 2019

A propósito do sósia do Vuvu


A sensação que se tem ao confirmar que há pessoas iguais é uma sensação estranha. Já aqui contei como já me aconteceu alguém confundir outra pessoa comigo. A última foi na Gulbenkian e foi, uma vez mais, bizarra, talvez até desconfortável. Duas pessoas estavam certas que eu era outra pessoa, não tiravam os olhos de mim. E diziam que era o aspecto físico, era a cor dos olhos, era a forma de sorrir, era a voz. Não percebiam que pudesse ser possível eu não ser a outra. Assim mesmo tinha acontecido em Espanha, com uma jovem incrédula, arrepiada, não acreditando: eu era tal e qual a tia e, à medida que eu ia falando, explicando que não, que nem era espanhola, mais ela ficava aterrada, jurando que eu falava tal e qual a tia, que o cabelo, os olhos e até a forma como me vestia eram dela.

Pois hoje aconteceu-me a mesma coisa com outra pessoa. O homem estava a fumar, sentado junto ao alpendre de entrada do restaurante. Sendo muito magro, cruzava as pernas como os homens muito magros as cruzam. Falava também ao telefone. Eu nem queria acreditar: tal e qual o João César Monteiro.

Nós entrámos, sentámo-nos. Passado um bocado, o homem entrou e juntou-se a quem estava na mesa redonda, grande, perto da nossa. Estava de frente para mim. Rosto fechado, de cada vez que falava, toda a gente desatava a rir. Quando uma das comensais, uma loura bem fornecida e com um vestido solto com muitas aberturas, se levantou para fotografar o grupo, veio recuando, quase para cima do meu marido que, se encolheu, divertido com a cena. Tão absorta estava na escolha do ângulo certo que nem deu pelo quase abalroamento. O sósia do João Vuvu manteve-se inalterado mas mal a fotografia aconteceu disse qualquer coisa, com a voz também igual, e a mesa rompeu em gargalhadas.

Perto do fim do nosso almoço, voltou a levantar-se. Quando saímos estava no mesmo sítio, de novo a fumar. Até nisso, igual, igualzinho, ao outro. 

Não sei como acontecem fenómenos destes, absolutamente improváveis. Se eu sou igual a outras pessoas que não conheço, é uma sensação um pouco estranha mas, creio eu, muito menos do que se eu conhecesse as outras de quem sou a réplica. Mas um homem que é igual a outro de quem há imensos registos e que pode ver-se ao espelho sendo a imagem de um outro deve sentir-me mesmo incomodado. Digo eu... Ou então, a maneira de ser deste é igual à do outro e diverte-se à brava com isso.

No caminho para casa, vindo a falar na insólita semelhança absoluta, lembrei-me da aula dada pelo Vuvu na escadaria da Assembleia da República e pu-la para  meu marido ouvir. Enquanto eu me ri à gargalhada, ele apenas sorriu. É muito contido. Mas, entretanto, já reprocessou o que ouviu e já me fartei de rir com as derivações e parvoíces que já disse. E tentei descobrir o da madre superiora mas não encontrei para lhe mostrar. Mas agora fui à procura e já aqui está. Uma cantiguina deliciosa.

A Isabel e outros Leitores bem comportados que me perdoem mas já sabem que, não sendo eu vernacular na forma como habitualmente me exprimo, não me choco com o vernáculo alheio especialmente quando vem servido com elegância, destemero e humor. E, no caso do João César Monteiro, esse ganda maluco com toda aquela dose de absurdo, aquele surrealismo tresloucado diverte-me mesmo.












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Agora ainda vou ver se o vídeo que fiz hoje ficou alguma coisa que se aproveite ou se é outra vez para esquecer. 

Amanhã, para além do vídeo (caso não esteja tão impróprio para consumo como os da semana passada) também tenho uma questão para formular ao nosso ubíquo presidente. 

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E um belo dia de domingo.

segunda-feira, junho 25, 2018

Bruno de Carvalho, a Mary Roach do nosso futebol...?


Nunca se deve menosprezar a poder de ataque, de desestabilização, de destruição e de infecção de um maluco.

Sei do que falo. Durante meses, vi-me e desejei-me para lidar com uma maluca.

A criatura não dava uma para a caixa mas achava-se a maior; na verdade, dizia-se brilhante, ameaçava quem se atrevia a duvidar do seu brilho, quase não dormia, fazia compulsivamente coisas estranhas, aparecia onde não era esperada, portava-se descaradamente, dizia-se perseguida.

Para além disso, ofendia e caluniava os que achava que a queriam prejudicar. E umas vezes mostrava-se agressiva, mas de uma forma inquietantemente destemida, outras vezes aparecia eufórica, como que querendo demonstrar que nada a afectava, que era superior a tudo. Outros dias aparecia mansinha, coitadinha, vítima inocente de quem, incompreensivelmente, lhe queria mal.

Por vezes, para me autotranquilizar, eu pensava que aquilo teria um fim, que ela não aguentaria durante muito mais tempo aquela pressão, que haveria de quebrar, cansar-se, tratar-se, dar descanso.

Mas não. Nunca se cansou, nunca abrandou, nunca ganhou juízo. Nunca. Uma resistência que eu nunca tinha visto.

Uma resistência e um tormento que ninguém merece e que não desejo ao meu pior inimigo.
Não que tenha inimigos. Mas, por exemplo, não desejo o convívio com um psicopata deste calibre nem ao Passos Coelho nem à Miss Swaps. Isto só para verem que é mau, muito mau. 
Lidar com um maluco num estado avançado é terrível, tira-nos do sossego, chegamos a um ponto em que já não sabemos como agir, em que começamos a perceber que a coisa pode ter consequências sérias, em que quase nos assustamos. Se aconselhamos a que se tratem, quase nos comem vivos, como se lhes tivessemos feito a pior das ofensas e quase como se os malucos fossemos nós. 

No caso de que falo, teve que haver um afastamento quase coercivo embora, por comiseração, se tenha agido como se fosse outra coisa, como se estivessemos a arranjar-lhe uma alternativa extraordinária.

Qualquer pessoa no seu perfeito juízo teria percebido e situação e saído airosamente, agradecendo a generosidade da ajuda que estava a receber. Mas não. Armou um cagarim como não há memória. Vitimizou-se, contou histórias a meio mundo, distorceu a realidade como não se acharia possível. Felizmente já não tenho que conviver com a pessoa mas, se calha vê-la, percebo que, finalmente, deve andar medicada mas que ainda está muito longe de estar bem e que uma recaída pode estar para acontecer a qualquer momento. 

De cada vez que vejo as atitudes do Bruno de Carvalho parece que estou a vê-la a ela. Não sei que tipo de psicopatia é esta mas que é uma psicopatia séria não tenho dúvidas.

Um maluco neste estado avançado não tem mão nas suas atitudes, é gente que não quer saber de coerência, de falar verdade, de respeito pelos outros, é gente que já nada receia, que chegou a um ponto em que nada tem a perder, é tudo na base da fuga para a frente, que tão depressa apelam ao choradinho e à autocomiseração, como lançam calúnias, acusações ou instigam ao ódio. É gente que pode ser perigosa. É gente que não conhece limites.

A Mary Roach é outra que tal mas em versão artística. Vejam-na e constatem as analogias com o desvairado Bruno de Carvalho. Só que o Bruno já a ultrapassou, já chegou àquele ponto em que, como venho dizendo há que tempos, só lá vai com camisa de forças -- ao passo que esta apenas deve incomodar quem tem que a ouvir.


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Cá para mim, acagaçado com o que aí vem a nível da justiça e sem fonte de rendimento, a atitude que ocorre à cabeça tresloucada do Bruno é fazer de conta que o Sporting não vai passar sem ele. E como há malucos que vão em todas, ainda vai ter alguns apoiantes.


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Tudo isto poderia ter graça. O pior é que estamos a falar de tragédias pessoais e as tragédias pessoais, como é sabido, volta e meia arrastam outras pessoas e causam sérios danos.

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segunda-feira, junho 18, 2018

Para que ela saiba que continuo a escutá-la


[Este é o amor das palavras demoradas
Moradas habitadas
Nelas mora
Em memória e demora
O nosso breve encontro com a vida]

Quando a visitava e estava sozinha, ela, assim que me via, abria um sorriso que me deixava prostrado de felicidade e de remorsos por a visitar tão menos quanto devia e queria ou podia. Mas ela nunca reclamava, sabia e compreendia. 

Ao princípio, falava muito, queixava-se do país, da política, disto e daquilo, do mau tempo, da falta de sol e de luz. 

Depois, se eu estava de regresso de alguma viagem, queria saber tudo. Embora me tenha dito uma vez uma frase que já citei algures ('Miguel, viajar é olhar'), não queria ver fotografias algumas, que eu não levava, aliás: queria apenas que eu lhe contasse o que tinha visto, como se ela pudesse então ver também. 

[Eis aquela que parou em frente
Das altas noites puras e suspensas.

Eis aquela que soube na paisagem
Adivinhar a unidade prometida:
Coração atento ao rosto das imagens,
Face erguida,
Vontade transparente
Inteira onde os outros se dividem]

Mais do que tudo, intrigavam-na as minhas frequentes viagens ao deserto:

- Mas o que há no deserto, Miguel?

- Nada, mãe.

- Nada?

- Nada. Areia e pedras. E, à noite, há estrelas.

Calava-se, então. Essa era uma das suas características mais pessoais: podia calar-se a meio de uma frase de um interlocutor e ficar assim, como se tivesse partido para outro planeta, sem aviso.

[Devagar, devagar, em frente à luz,
Carregado de sombras e de peso,
Arrancando o seu corpo da raiz.

No extremo dos seus dedos nasce um voo
No vértice do vento e da manhã
Uma asa vai perdida dos seus dedos]

Quem não a conhecia bem, ficava sem chão, sem saber o que fazer. Mas eu sabia, também aprendi com ela que saber partilhar o silêncio é a forma mais íntima de estar com alguém. E, na verdade, por maior que seja o silêncio, nunca deixou de falar comigo. Quanto mais não seja nos poemas que deixou nas páginas dos seus livros, alguns dos quais escrevi nas paredes da minha casa para que ela saiba que continuo a escutá-la.

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Não é primeira vez que aqui tenho estes vídeos mas, se puderem, mesmo que também já os tenham visto, por favor vejam




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Excerto do livro Cebola crua com sal e broa, da infância para o mundo, de Miguel Sousa Tavares
Fotografias feitas este domingo in heaven onde se podem ver poemas de Sophia escritos em azulejos
Primeiro vídeo: "Sophia de Mello Breyner Andresen -- O Nome das Coisas"
Segundo vídeo: Sophia de Mello Breyner Andresen de Joao César Monteiro 

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quinta-feira, fevereiro 15, 2018

Passos Coelho vai ser professor universitário...?
A sério...? Onde...? De quê?
Acho que deve ser afixado em edital para a malta ter o cuidado de evitar.
Foge...
A menos que, qual João Vuvu, vá ensinar a arranjar fundos comunitários para tecnologias de ponta


Li essa notícia mas, como abaixo referi, a net aqui anda a pedal pelo que, na volta, isto é notícia de há dois dias, notícia de carnaval. É que se for para a gente se rir, acho bem a notícia. O Láparo professor universitário...? É de gargalhada, de facto. E seria professor de quê? De contas mal feitas, de orçamentos inconstitucionais, de pôr a economia a descer? De pôr o desemprego a subir? De correr com a malta qualificada do país?

Pois não sei. Ensinar filosofia, acho que não irá. Nunca o vi capaz de filosofar, nem que fosse filosofia de bolso. De poesia também não. Aquilo lá mostrou ser mais calhau que as pedras da calçada. De medicina, muito menos. Não curou uma única maleita do país e, quando tentou, enganou-se na prescrição e nas doses e ia matando os doentes todos. De engenharia também não lhe vejo jeitos. Nunca mostrou ser capaz de química com quem quer que seja; mecânica, civil ou eléctrica então é que nem pouco mais ou menos. De direito olha lá. Aquilo ali ou anda nas franjas da legalidade ou, mal a malta se distrai, já está mesmo com o Constitucional à perna. De cenas de Cultura nem pó. Mostrou que cultura não é bem a praia dele. De canto coral já se viu que também não. Nem o La Feria o aproveitou. De contabilidade claro que também não. Não acertou uma, rectificativos atrás de rectificativos. 

Enfim... 

Só se, com a sua vasta experiência naquela cena da Tecnoforma e adjacências, vai ensinar a malta a sacar umas massas lá dos fundos... Talvez ensinar a arranjar fundos para formação a costureiras? Ou fundos para não sei quê de aeroportos de aldeia? Ou a abrir portas? Lembro-me de ler que o patrão da Tecnoforma gabava muito o Pedro por ser bom a abrir portas. 

Na volta já anda a ter explicações com a fada-madrinha, a Rainha Cavaca, sua indefectível protectora. Aulas de ressabiamento, aulas de paranóia. Por exemplo.

Mas se calhar estou a subvalorizar a criatura. Na volta, capaz de já ter evoluído para tecnologias de ponta e produtos asiáticos. Já estou a ver uma Universidade Privada, coisa como, por exemplo, a UPGRPV, coisa de que ninguém ouviu antes falar, a publicitar:
Inscrevam-se! Inscrevam-se! Últimos dias! Saldo! Saldo! Propinas a um sexto do preço! Venha aproveitar a experiência: Passos Coelho à frente da cátedra de Arranjar Fundos para Tecnologias de Ponta! Aprendeu com o Grande Mestre Dr. João Vuvu! Garantia de qualidade. Inscreva-se! Não perca mais tempo! Venha já!


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Bem.

Caso lhe apeteça ficar in the mood for love ou saber das minhas prosaicas tarefas in heaven, queira, por favor, descer até ao post que se segue.

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sexta-feira, agosto 11, 2017

Vários cisnes e nenhum o é


Passo pelos cartazes autárquicos e interrogo-me sobre a eficácia dos meios usados nas campanhas eleitorais.

Por exemplo, vejo a Cristas da Coxa Grossa em grandes cartazes mas em todos eles não é ela, a conhecida peixeira das arruaças e dos papéis coloridos com bonecos levados à Assembleia para ilustrarem ideias imaturas; quem ali está é uma figura em versão Nossa Senhora da Assunção, toda ela photoshopada, uma verdadeira santinha, sem rugas, expressão beatificada. 


Depois é a Teresa Leal ao Coelho com dizeres fúteis, infantins, certamente inventados por marketeers saídos da escola. 


E fico a pensar que esta gente acha que pode ser o que lhe dá na bolha mesmo que não tenha vocação ou preparação para issoou mesmo que ninguém as queira para tal. Retoques nas fotografias e slogans a la minute e aí estão elas e eles, geralmente gente do aparelho, sorrisos plastificados em caras pespegadas em cartazes de beira de estrada.

Depois, em cima disto, há as guerras figadais entre candidaturas: gente que parece odiar-se como se isto fosse uma guerra de seitas e não uma coisa limpa entre gente que, com nobreza de carácter, quer servir as populações. 

Não sei qual a utilidade de cartazes, não sei qual a utilidade das tretas das campanhas nem sei se tudo isto das lutas autárquicas não devia ser limpo à mangueirada. 

Claro que há executivos de grande competência e claro que há gente que está ali para pugnar pela sua terra. Não é isso. Aquilo de que falo é do clima tribal, é da falta de senso na forma como encaram as campanhas eleitorais, é do espírito caciquista que parece estar frequentemente presente nas gentes por esse país fora, como se um lugar numa Junta de Freguesia fosse caso de vida ou de morte, é do vale tudo para fazer uma lista e para tentar tornar credíveis candidaturas que não valem um caracol.

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Olha, a propósito: tantos patinhos.

Ah, não, não são patinhos, são cisnes.

Ah não, espera lá, cisnes não devem ser porque têm pescoço curto... Serão patos marrecos?

(Olha, e um pombinho...)

de Jeff J Mitchell em Edinburgh, UK, in the Guardian
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Olha, aqui abaixo quatro patinhos saltitões. Tão lindos. Tão fofinhos.

Ah, não. Espera lá... São quatro meninas disfarçadas de cisnes.

Ups... Não... São quatro calmeirões disfarçados de bailarinas.

[Les Ballets Trockadero de Monte Carlo no Lago dos Cisnes]

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Olha, os patinhos agora transformaram-se em príncipes. 
Ah não, espera... transformaram-se foi em sapos... 
E olha como eles dançam bem... Ah não, também não são sapinhos, são homens.
Caraças.

(Mas nada é o que parece, caraças...?)

[Guangzhou Military Performance Group - Os cisnes transformam-se em sapos]¨

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Olha... outro cisninho...!

Mas este é um cisninho-gordinho. E tem uma franja loura. Que lindo.

Não... espera... não... não é um cisninho. Nem sequer um patinho...

É uma galinha. É a galinha Donald.

E aterrou ao pé da Casa Branca...
(E logo agora que o pato Trump está a trabalhar no campo de golfe e, para se desenfastiar, a ver se arranja um sarilho nuclear).


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Eu e as pessoas que conheço, sem excepção, sabemos em quem vamos votar desde sempre. Para quê estas campanhas, feitas nestes moldes? Alguém me diz...? E aquelas duas, as pafiasas Cristas e Leal ao Coelho, estão nisto para quê? Para ver se conseguem um lugar de vereadoras? Para salvar a honra do convento e terem candidato? Senão é para quê? Para irem armar peixeirada para a Câmara?

Haja paciência.

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E assim estou, como aqui me vêem, cheia de dúvidas existenciais. Assuntos profundos que me tiram do sério, é o que é.

Portanto, permitam que me mantenha no mesmo registo e termine com alguém que, bem mais do que eu -- oh, bem mais -- sabe tecer reflexões verdadeiramente filosóficas.

E é, até, caso para dizer: ena, Jorge, tanto patinho...!

(Ah, não, perdão, também não é bem isso, é mais: Ena, Jorge, tanto patinho...!)


[João César Monteiro em Vai e Vem -- Diálogo entre pai e filho]

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma feliz sexta-feira.

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terça-feira, julho 18, 2017

Trezentas velhas em fralda de camisa


Depois do que abaixo escrevi, para que não venham para cá queixar-se -- que sou destemperada, que não me porto bem, que devia ter mais tento na língua, que devia pôr os olhos nos betinhos, nos jotinhas, nos beatinhos, nos alinhados bloggerzinhos, nos fofinhos que nunca partem um prato -- aqui estou eu a fazer recolhidos mea culpas, mea maxima culpas. 

Sei que isto hoje não está a correr nada bem, muita esculhambação, muita inconveniência, muito passo fora na norma. Eu sei. Então não sei? Sei, claro que sei. Numa única jornada trazer aqui o Manuel João e o Cesariny é fruta a mais para tão austera audiência. Sei. Por isso, se repararem bem já estou a benzer-me. Penitência a sério. Aqui onde me vêem, expio os meus pecados com arrependimento. Só me faz falta ter um convento onde me recolher. Eu, vestida de Madre Superiora, em introspecção, pedindo perdão pelo palavreado que tão rudemente tem ferido os vosso castos olhos, underwearmente cravada a cilícios. Teria a vida facilitada -- que o hábito faz a monja. Assim, como estou, impudicamente tentando vencer o calor nesta noite tão quente, sem negros paramentos cobrindo-me o afogueado corpo, como conseguir lembrar-me de todos os pecados capitais a ver se escapei a algum?

Acreditem: eu não queria ser assim, Irmãos, não queria. Isto é genético, uma coisa na base da orientação sexual: sou eu e a fatalidade da minha queda para o pecado. Sou fraca, Irmãos. Tanta reza e tanta oração aqui na galeria lateral, todos bem comportados, todos tão normais, todos tão afobados com quem ousa proferir anómalas afirmações e eu, passo trocado, aqui a blasfemar. Ímpia criatura, eu. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa,

Vou pedir que todos os santinhos do universo e da blogosfera me inspirem porque na verdade sei que lindo, lindo mesmo, é a gente nunca dizer nada que arrelie o sacristão nem o diácono, que nunca o vento sopre de feição e lhes tire um fio de cabelo do aprumo capilar, ou que à beata com substracto de intelectual de esquerda nunca um pêlo púbico se desalinhe para fora da cueca. Vou pedir que saiba eu também bem comportar-me, para passar por betinha, menina linda.

[Mas ainda não, ainda não... -- como pedia o outro, o amante da Flora Emilia]

E, entretanto, sabendo que estão a passar trezentas velhas em fralda de camisa vou juntar-me a elas. E adivinhem V. em que posição me vou eu colocar.

(E assim sendo, com vossa licença, que entre o meu terceiro guru que, para que a série fique completa, depois do Manuel João e do Cesariny, tinha mesmo que aqui ter o saudoso João de Deus, e, justamente, num almoço com a Madre Superiora. Está na hora dos cânticos religiosos. Ámen)


As bodas de Deus -- a cena do almoço


[Pena que o cantar final seja tão breve. Gostava de me juntar ao coro mas, afinal, não foi senão um mero amuse-bouche]


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E permitam que vos aconselhe: cuidado com o que abaixo se segue. 
-- Avisei --

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quinta-feira, outubro 27, 2016

Podia ser um aprendiz de líder* mas não: é apenas um aprendiz de maluco
[Ena Jorge, tanto peixinho... Anda ver o Oceanário...]


Continuo com ele. Algum psicólogo que aí esteja que explique isto. Pensará o meu subconsciente que, com tanta maluqueira por que passo durante o dia, já só me sinto bem entre doidos? Ou quererá ele, o meu subconsciente, que eu perceba que não tenho razão de queixa já que malucos a sério são de outro calibre que não aqueles aprendizes que animam o meu dia?

Le Puy en Velay, França

Pois não sei. O que sei é que saio cedo de casa e só regresso bem de noite e, todo o santo dia, é um entra e sai e um 'temos um problema' ou 'posso dar-lhe uma palavrinha?' e, pelo meio, telefonemas, dezenas de mails, reuniões. E eu, aqui chegada, às quinhentas da noite, só me apetece uma de duas: ou um duche prolongado ou pôr-me a ver vídeos malucos. Como duche prolongado a esta hora faria o meu marido rifar-me já que agradece que eu, ao menos, não faça barulho, opto por me pôr aqui a rir a ver endoidados verdadeiramente encartados. Nisto dos doidos varridos tenho alguns de estimação. Agora voltei ao João Vuvu ou João de Deus.

Há bocado estive a ver o Sócrates com a Judite. Aquele penteado e aquela pintura de olhos não favorece especialmente o rosto. Refiro-me à Judite, bem entendido. Ele igual a si próprio. De cabeça erguida, afirmativo, oferecendo o peito às balas. Pode ser que um dia eu reconheça que me enganei redondamente. Mas, até lá, vejo-o como sempre o vi. Indiferente às polémicas e aos cães que ladram na beira da estrada, ele e a sua carruagem continuam a passar.


A vida é curta para ser gasta com logros, ódios, sombras negras, ocas vaidades. 

Caíu um assessor por, ao que se diz, mais uma falsa licenciatura. Cai debaixo de uma pública humilhação. A ser verdade o que se lê nos jornais, interrogo-me se o que ele sentia ao ser tratado por doutor ou engenheiro compensava o risco de vir a passar por este vexame. Eu diria que não.

Mas cada um sabe de si. Quem sou eu para julgar sobre as motivações dos outros?

Juliette et les Esprits, Montpellier, França

Não ligo a tretas, à imagem, a tudo o que me parece fútil e efémero. Não me passaria pela cabeça dizer que sou doutorada. Para quê? Qual o gozo disso? Se fosse, tudo bem. Mas não sendo, para quê querer parecer o que se não é? Sou licenciada numa altura em que eram 5 anos intensivos, fiz pós graduações, cenas de programas de gestão de alta direcção e tanta coisa que já nem me lembro bem. Não tenho o hábito de registar o que faço, ou os cursos, seminários ou conferências em que participo. Vejo CVs em que cada passo que dão aparece plasmado como se tivessem posto um pé na lua. Nem me encaixo nos europasses, como é bom de ver. No outro dia pediram-me um CV actualizado e até me deu vontade de rir a versão antiga que encontrei. Optei por escrever de novo, sintetizado, sem palha. De tudo isso, espremido, o que uso hoje é quase nada. Pouco do que preciso tem a ver com isso. Serve-me de mais a literatura, um poema lido ou ouvido, a música, o conhecimento das pessoas e da vida do que de toda a teoria com que tentaram empanturrar-me. Felizmente tive o discernimento de dosear o que retinha. 

Cada vez mais acho que as pessoas que se levam muito a sério não são boas da cabeça. Ou são umas chatas que não se aguentam ou são chanfradas. 

Não sei se foi ontem ou antes de ontem, vi um bocado da entrevista de Jerónimo de Sousa na televisão, não sei em que canal. Pensei: 'ora aqui está um homem bom'. E fiquei contente por ter pensado isto. Acho que é das melhores coisas que se pode dizer de um homem. Não faço ideia se o líder do PCP estudou mas isso é tão irrelevante face ao que ele tem de densidade humana e de carisma que parece até estultícia trazer esse assunto para aqui.

Em Palmitas, Mexico, toda a cidade foi pintada com coloridos fortes

Mas enfim. O sono com que estou faz destas: já nem sei a que propósito veio esta conversa. Mas pronto, é um sinal para me despachar, mostrar o vídeo que estive a ver há bocado, pegar na trouxa (qual trouxa?) e ir pregar para outra freguesia.

E, entretanto:

Vai chamar pai a outro!




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As fotografias de casas mostram pinturas que enganam os transeuntes incautos.
(Mais no Bored Panda)

(*) Aquele asterisco no título tem a ver com o malandreco do Sócrates ter dito à Judite que o António Costa ainda está a aprender a ser líder. Cá se fazem, cá se pagam. Olho por olho, dente por dente. Mas inócuo. Coisa de mano velho e mano novo. 


Lá no título, o aprendiz de maluco não tem nada a ver nem com o Costa nem com o Sócrates: é apenas o filho do pai aqui de cima.  

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E desçam, por favor, caso queiram ler recordações minhas a propósito do maluco que apanhava moscas.

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O bestiário ou o cortejo de Orfeu


A minha vida já deu cinquenta mil voltas, já trabalhei em vários locais, já tive colegas que perdi de vista, já perdi a conta àqueles com quem gostei tanto de conviver e de quem já raramente me lembro. Um dos meus mais fantásticos colegas começou por ser grande inimigo. Mas acabámos bons amigos. Diziam que liderávamos facções antagónicas dentro da empresa. Vínhamos de empresas que antes eram concorrentes e o processo de fusão começou por não ser bem assimilado. Se havia facções inimigas, eu não fazia por isso. Mas ele eu acho que sim. Os homens têm aquele lado bélico que os faz gostarem de ter inimigos, cultivar o ódio ao outro para alimentar tropas fiéis, travar batalhas, contabilizar despojos. As mulheres não são assim. Mas a verdade é que eu também não lhas perdoava e, de cada vez que eu achava que ele estava a pôr-se a jeito ou a ser menos transparente ou menos correcto, caía-lhe em cima a pés juntos.

Volta e meia ele apresentava queixas de mim ao presidente da empresa e este vinha tirar a coisa a limpo comigo. Só o facto de eu saber que ele se tinha armado em queixinhas já me tirava do sério e era só até surgir a hipótese de eu lhe aparecer pela frente, dando-lhe desandas que o deixavam apeado. Lembro-me que uma vez ele me tinha feito uma que me tinha deixado furibunda. Segurei-me para deixar que surgisse o momento em que o justo correctivo lhe ia doer a sério. E um dia, com ele entre os subordinados, deixei-o verdadeiramente arrasado. O vexame custa mais quando é testemunhado.

Fazer isto não me deixava feliz. Na verdade, era mais forte que eu. Por cada uma que ele me fazia, geralmente à traição, respondia-lhe eu à bruta, em campo aberto.

Numa altura, tivemos um desentendimento tão sério a nível profissional que teve que ser chamada uma empresa de consultoria para vir arbitrar a contenda. Mais uma vez a nossa empresa se dividiu ao meio, cada um de seu lado, numa luta sem tréguas. Uma vez, quando a coisa estava feia, ele tentou negociar: ele cedia numa coisa, eu cedia noutra - propôs ele. Neguei-me, que não negociava as minhas convicções. A administração assistia incrédula a uma tal disputa, tentando deitar água na fervura, tentando que conseguíssemos conciliar pontos de vista. Não conseguiu. Fomos até ao fim. Ganhei e ofereci-lhe o meu silêncio para que não pudesse acusar-me de deitar sal em ferida aberta. 

Mas, não sei como nem porquê -- talvez porque tanta guerra tão extremada tenha feito com que cada um de nós reconhecesse no outro alguns méritos -- tudo isso ficou para trás e, mais tarde, acabámos a rir das guerras que tínhamos travado.

Era uma pessoa que sendo um excelente profissional e uma pessoa que cultivava, em público, uma certa snobeira tinha, depois, em privado, um lado de desconcertante maluqueira.

Poderia escrever dezenas de posts a contar peripécias a que lhe assisti. Há pouco, depois de acordar (uma vez mais caí aqui no sofá e adormeci), a ver se espertava, pus-me a ver excertos do João de Deus. E, ao ver este aqui abaixo, lembrei-me que este meu colega, senhor director muito importante, gostava de estar no gabinete de janela aberta. Por baixo da janela havia um jardim. Por isso, volta e meia, havia uma mosca ou melga sobrevoando-lhe a secretária ou a mesa de reuniões. E estavamos nós, fossemos quantos fossemos ou fossemos quem fossemos, a tratar de assuntos que até poderiam ser importantes e, de repente, ele sacava de um mata-moscas daqueles à antiga que tinha sempre à mão, ou debaixo da cadeira (se estivesse na mesa de reuniões) ou por baixo do tampo da secretária, um daqueles que são constituídos por uma haste com um rectângulo de plástico na ponta, e zás, uma traulitada na mosca. Ainda me lembro de um dia em que ele estava, como sempre, à cabeceira da mesa e a mesa cheia de gente em volta e a tratarmos de assuntos sérios com pessoas com quem ele até nem tinha muita confiança e, estando um outro cavalheiro a falar, vai ele e zás, pumba!, um assassinato em cima da mesa mesmo à frente do outro que, não estando à espera de tal coisa, deu um salto na cadeira, verdadeiramente assarapantado.

Eu fartava-de de rir com tamanho despropósito. Depois ficava a mosca espatifada na mesa. Ele pedia licença, levantava-se e, com um papel, arrastava a defunta para outro papel que atirava para o lixo. E prosseguia a reunião como se nada de insólito se tivesse passado.

Outras vezes, dava com o mata-moscas no ar, vidrado na mosca, não descansando enquanto não a matasse. Se a mosca voava na minha direcção e eu o via ameaçador, dizia-lhe 'nem lhe passe pela cabeça dar-me com isso' porque já o tinha visto dar com aquilo em colegas, nos braços, nas costas.

Contando isto assim talvez se fique a pensar que se trata de um maluco. Talvez seja um bocadinho. Mas é um profissional dos melhores que já conheci e, quem não lhe conheça este lado mais privado (digamos assim), nem de tal suspeita já que guarda uma certa distância e gosta de mostrar um lado de gentleman, algo superior.



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.

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terça-feira, outubro 25, 2016

Uma declaração de amor a preceito


Não sei se ainda se usam as declarações de amor. Nem sei bem o que é uma declaração de amor. 

É, do nada e sem que nada o fizesse antes suspeitar, uma pessoa chegar ao pé de outra e confessar-lhe o seu amor? Se for, imagino a surpresa, talvez até o incómodo. Deve ser estranho, isso. 

Ou é, depois de já ser mais que óbvio que uma pessoa gosta de outra, aparecer-lhe como se fosse dar -lhe uma grande novidade? 

Mas isto sou eu a pensar. A minha mãe volta e meia dizia: 'Esta rapariga parece que é muito racional, racional a mais, não sei...' E é verdade, tenho um lado mesmo muito racional. Se há coisas que não fazem sentido, não arranjo maneira de as fazer parecer úteis ou suportáveis.

Nisto do amor, no que me diz respeito, tenho cá para mim que a primeira e última palavra é forçosamente a minha. Por isso, se chegasse ao pé de mim alguém por quem eu nunca antes tivesse mostrado interesse e me aparecesse com declarações de amor, claro que levava uma corrida em osso. Pelo contrário, se eu mostrasse interesse por alguém e esse alguém também interesse por mim, qual a lógica de se pôr a chover no molhado com uma converseta melada?

Outra coisa é uma demonstração de amor, um momento a dois. Isso, sim, muito bem. É bom, é necessário, é útil. E não venham dizer-me que demonstração e declaração vai dar no mesmo. Não vai. Nada a ver.

Portanto, se a declaração de amor caíu em desuso, caíu muito bem. E, se não e se algum dos meus Leitores (ou Leitores) é um romântico de antanho e quer surpreender a senhora (ou o senhor) do seu coração, aqui está um modelo altamente inspirador.

João de Deus declara-se a Helena



Assim, sim.

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quarta-feira, maio 04, 2016

Cá estão eles outra vez, os meus queridos malucos


Há lá forma mais eficaz de seduzir uma mulher do que dizer-lhe poesia? E, melhor ainda, infalível, se for em francês -- aí haverá mulher que resista?

E o humor? Há lá também arma mais eficaz? Qual é a mulher que resiste ao humor?

E à maluquice?

E tudo junto: poesia + humor + maluquice? Há lá cocktail mais afrodisíaco?

Se calhar há. Se calhar as mulheres ajuizadas preferem outro género de cocktails, por exemplo: ter muita erudição + usar botões de punho + escrever um blog a armar-se em engraçado.

Mas não sei. Não estudei suficientemente o assunto para me poder pronunciar. Portanto, abrevio que isto não são horas para a metafísica e passo já aos meus queridos malucos.


Pedro Paixão fala de Poesia




(Ah. Já agora uma pergunta: a poesia é coisa para preguiçosos?)

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Traduzir sem rede. Editar à pressa. Emprestar o nome. Riscos, riscos, riscos. Risos.

Luiz Pacheco, o Tradutor




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A sopa ou a cultura?

Alberto Pimenta, Vítor Silva Tavares e o caldo verde



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João César Monteiro e a Comédia de Deus



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E, para terminar em beleza, o querido Candidato Vieira


Em férias


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É verdade: será que não há malucas? Só malucos?
Tenho que puxar pela cabeça: gostava de ter aqui malucas. 
Enfim... é certo que estou eu aqui que, no que se refere a maluquice, tenho para dar e vender...
Mas gostava de aqui ter outras. Será que não há malucas encartadas em Portugal? 
Só betinhas, atadinhas, amarguradinhas, azougadinhas, liricazinhas, tiazinhas, vizinhas? 
Malucas a sério só eu?! Bolas. Quero companhia.

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Ah... E não deixem de visitar os comentários aqui já abaixo. Dir-me-ão se não há ali um negócio apetecível...


quarta-feira, abril 06, 2016

Panama Papers: as vítimas dos offshores
Já agora:
O que é o ICIJ?
Como funciona? Como recolhe informação? Como se pode colaborar com eles?
[E, para espantar os horrores, João Vuvu e a mulher-a-dias conversam na sala de estar]


No Expresso:
Em comunicado, um porta-voz da Mossack Fonseca disse que a firma conduziu "as devidas diligências de forma minuciosa com todos os nossos novos e potenciais clientes, que muitas vezes excedem em rigor as regras e padrões atualmente existentes a que nós e outros estamos vinculados. Muitos dos nossos clientes vêm [até à Mossack Fonseca] através de firmas de advogados de renome em todo o mundo, incluindo os principais bancos correspondentes, que também estão abrangidos pelos protocolos internacionais ‘conhece o teu cliente’ e pelas suas próprias regulações e leis domésticas.” (...)

Um site a acompanhar: o do ICIJ, o International Consortium of Investigative Journalists

O que é o ICIJ?

The International Consortium of Investigative Journalists is a global network of more than 190 investigative journalists in more than 65 countries who collaborate on in-depth investigative stories.
Founded in 1997 by the respected American journalist Chuck Lewis, ICIJ was launched as a project of the Center for Public Integrity to extend the Center’s style of watchdog journalism, focusing on issues that do not stop at national frontiers: cross-border crime, corruption, and the accountability of power. Backed by the Center and its computer-assisted reporting specialists, public records experts, fact-checkers and lawyers, ICIJ reporters and editors provide real-time resources and state-of-the-art tools and techniques to journalists around the world. (...)

Porque é que o ICIJ existe?

The need for such an organization has never been greater. Globalization and development have placed extraordinary pressures on human societies, posing unprecedented threats from polluting industries, transnational crime networks, rogue states, and the actions of powerful figures in business and government.
The news media, hobbled by short attention spans and lack of resources, are even less of a match for those who would harm the public interest. Broadcast networks and major newspapers have closed foreign bureaus, cut travel budgets, and disbanded investigative teams. We are losing our eyes and ears around the world precisely when we need them most.
Our aim is to bring journalists from different countries together in teams - eliminating rivalry and promoting collaboration. Together, we aim to be the world’s best cross-border investigative team. (...)

Apelo à 'Fuga' de informação
LEAK TO US


The International Consortium of Investigative Journalists encourages whistleblowers everywhere to securely submit all forms of content that might be of public concern - documents, photos, video clips as well as story tips.
We accept all information that relates to potential wrongdoing by corporate, government or public service entities in any country, anywhere in the world. We do our utmost to guarantee the confidentiality of our sources.
Our motives are squarely aimed at uncovering important government and corporate activities that might otherwise go unreported, from corruption involving public officials to systemic failure to protect the rights of individuals. Journalists from the relevant countries will evaluate and pursue all leads and content submitted and, if merited, report on these issues.
There are basic safety measures you can take to protect yourself when giving information to ICIJ. For instance, details of phone calls made from a large building are often recorded on the building's electronic systems. There is nothing sinister in this. But it is safer to use a public phone when contacting a reporter, just as it is safer to use an internet cafe when sending files. (...)
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 As consequências do escândalo começam a surgir

Protesters in front of the Icelandic Parliament call for the resignation of Prime Minister Sigmundur Gunnlaugsson on April 4, 2016

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E sobre as vítimas de toda esta pouca vergonha à escala global?


Panama papers: As vítimas dos Offshores

Vídeo a ver

The Panama Papers is a global investigation into the sprawling, secretive industry of offshore that the world's rich and powerful use to hide assets and skirt rules by setting up front companies in far-flung jurisdictions. 
Based on a trove of more than 11 million leaked files, the investigation exposes a cast of characters who use offshore companies to facilitate bribery, arms deals, tax evasion, financial fraud and drug trafficking. 
Behind the email chains, invoices and documents that make up the Panama Papers are often unseen victims of wrongdoing enabled by this shadowy industry. This is their story.


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E, para que nem tudo sejam desgraças neste post, que entre o meu ídolo

João Vuvu e a mulher-a-dias em conversa na sala de estar, a meio de uma pausa para limonadas




Vejo isto e até me esqueço das big lavandarias de dinheiros obscuros.
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Este post vem na continuação deste outro
(também com os Panama Papers e com João de Deus, outros dos alter ego de João César Monteiro).

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