domingo, dezembro 31, 2017

Nas despedidas de 2017, os meus votos de que acabe bem e que dê lugar a um ano melhor.
A todos os meus votos de boas saídas e melhores entradas.
Um bom 2018 a todos!




Já estou vestida a preceito para o reveillon. Se há momento no ano em que faço questão de me aperaltar é para receber o Ano Novo. Escolhi um vestidinho preto, sem mangas, decote redondo, justo e um pouco por cima do joelho, com uma barra de veludo ao alto. Pus um colar de pedras brancas e transparentes, várias pedras sobrepostas e entrelaçadas. Acho que dá brilho e um certo toque de glamour. Tenho meias pretas e sapatos de veludo pretos. Brincos discretos: um brilhantezinho, para atrair a luz.


Penso que o jantar vai ser bom. Jantar tardio à luz das velas, um bom vinho. Tem que ser. À meia-noite formularei os meus votos pessoais que, naturalmente, incluem todos os que me são queridos. A seguir, tentarei telefonar àqueles que estão a festejar noutras paragens. 


No dia 1, como habitualmente, voltarei a ter a casa cheia e hoje de tarde já adiantei alguns dos ingredientes para que, quando os comensais cheguem, tudo esteja pronto a comer. Sugeriram brunch e brunch será mas brunch bem aviado.


Este meu último dia do ano tem sido bastante bom e incluíu uma tarde passada in heaven. Ontem tinha andado rente ao mar. Portanto, despeço-me de 2017 com a memória bem fresca da maresia e dos perfumes do campo. Na medida do possível é isso que hoje partilho convosco. Não há sons nem cheiros nem o friozinho húmido nem o calorzinho quando raia o sol. Mas quem dá o que tem, a mais não é obrigad, cero...?


Finalmente temos alguma chuvinha e tudo está verde e viçoso, a terra macia e húmida, cheirando a fertilidade, os pássaros num concerto feito de alegria.

E estou em paz, a consciência limpa, tranquila. Mais um ano que vira a página para se ir acolher ao passado, mais um ano a começar e eu só espero que, para todos, seja um ano feliz, que chegue em paz e permaneça em harmonia.


E muita saúde e muita sorte a todos. E que a beleza e o amor vos envolvam.
Ia dizer 'afecto' mas arrepiei caminho não fosse parecer que estou a colar-me ao Marcelo-Pinga-Afecto. Não senhor. Gosto muito de afecto, abraços e beijinhos mas com conta, peso e medida. Não me agrada lá muito a incontinência afectuosa. Mas enfim, cada um é como é. E as melhoras a ele, ao nosso Presidente. E que o ano novo lhe traga algum comedimento que a gente já não aguenta tanta imoderação verbal e afectuosa.
Um abraço a todos! 




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Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
(...)

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.


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E que venha 2018 que cá estamos para o receber.

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2017
-- A vida. A beleza. O humor. O amor. --




Mas, se não faço balanços e se não me considero competente para fazer selecções do que de melhor e pior se passou no ano e, se não guardo apenas recordações boas deste ano que está a chegar ao fim, a verdade é que, apesar de tudo, tenho algumas coisas a dizer. Nada de extraordinário, claro. Insignificâncias.


Por exemplo, continuo a achar que viver é um privilégio e que não devemos fazer a desfeita de não desfrutar a vida o melhor possível. Também devo confessar que aprendi a aceitar um pouco melhor que a decadência pode ser uma parte natural da vida, a aceitar a naturalidade de, ao mesmo tempo que num quarto, o corpo de um homem, no seu leito, caminha inexoravelmente para a anulação da vida, na sala ao lado várias crianças riem e brincam rodeadas de adultos que as olham com alegria e agradecimento. Constatei -- e isso foi importante para mim -- a forma inteligente como as crianças brincam depois de terem aceitado com verdadeira sabedoria que alguém da família se foi.

Uns vão, outros chegam. Um permanente devir que tem qualquer coisa de mágico, de maravilhoso. Mesmo que, por vezes, triste, é quase sempre maravilhoso. De 2017 guardo todos os momentos em que a vida me marcou.


E, depois, há a beleza. Parte da minha vida dedico-a à procura da beleza. Diria que me alimento de beleza. Seja numa paisagem, no tronco de uma árvore, na erosão de uma pedra, no revolteio de uma onda, na quietude de um veleiro que cruza o rio, na delicadeza de uma flor, no sorriso de uma criança, numa pintura, nas cores imprevistas que afloram uma parede, numa música, numa sombra ou num golpe de luz, num voo de uma gaivota ou no de uma bailarina, num harmonioso e elegante cerzir de palavras, no canto de um pássaro ou de seres humanos, no suave curvar de uma montanha recortada no horizonte, num simples gesto. Para mim a beleza é fundamental e de 2017 guardo todos os momentos em que a beleza me tocou.


E depois há o humor. A irreverência, a insolência, a graça e a inteligência. A síntese perfeita de tudo isso consubstanciada no riso. Ou apenas no sorriso. O condimento da vida sem o qual não passo. A vida sem beleza e sem humor poderia ser muito maçadora. Procuro o humor. Sinto-me bem junto a quem me faz rir. Não tenho muita paciência para pessoas incapazes de me fazerem rir. 2017 trouxe-me bons momentos de risota. Festejo-os -- e desejo que nunca o sentido de humor me abandone.


E, depois, claro, o amor. A cola que me une àqueles que justificam a minha existência. Em 2017 como desde que me lembro de mim, o amor esteve presente na minha vida. Não há uma (uma única, quero eu dizer) forma de amor: há muitas. E tenho tido o privilégio de muito amar e de muito me sentir amada e de muitas maneiras. Não saberia viver sem isso. De 2017 guardo os gestos e as palavras de amor que para sempre ficarão guardadas no meu coração.




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Todas as histórias em que a generosidade de alguns e o trabalho pela inclusão de todos, em especial daqueles a quem a vida de alguma forma desfavoreceu, me merecem atenção e carinho e é com muito gosto que me despeço de 2017 com cinco dessas histórias.


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A primeira, a segunda, a quinta e a última imagens são obras de Sofia Bonati

A criança é uma refugiada  rohingya fotografada por Marko Djurica

O homem que contempla a natureza no Japão foi fotografado por Eugene Hoshiko

O homem-regador em função junto da mulher-flor representa o amor, o deixar o outro florescer, a necessidade de cuidados numa relação de amor e é da autoria de Wang Xingwe

Lá em cima Sabine Devieilhe e Marianne Crebassa interpretam Delibes no Duo des fleurs da ópera Lakmé

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E 2017 foi um ano bom para mim também por uma outra razão: o número de visitas a Um Jeito Manso continuou a aumentar e isso é, para mim, muito recompensador. Estar aqui a escrever e sentir que, do outro lado, está alguém que gosta de ler as minhas palavras deixa-me confortada, agradada. A todos quantos aqui me acompanham deixo o meu sentido agradecimento. 

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Penso que ainda aqui voltarei antes que 2017 acabe mas, pelo sim, pelo não, vou já adiantando que a todos desejo que 2018 venha com saúde, sorte e alegria. 

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2017 em 2 minutos
[Uma seleção de The Guardian com o toque de Cee-Roo]


Como já o disse no outro dia, eu não ouso. Balanços não são comigo. E, se nem a nível doméstico, muito menos a nível internacional. O mundo é um lugar grande demais para eu, ínfima e ignorante criatura, poder ter uma ideia sobre o que nele se passa, e um ano é tempo demais para eu poder abarcar todo o seu conteúdo. E se é verdade isso, não é menos verdade o contrário: que o mundo, aquele que conhecemos, é menos que uma quase invisível partícula de poeira vogando no infinito espaço que nos cerca e que um ano é nada na infinita linha de tempo. 

Por tudo isso, não me dou a importância de ousar contemplar o espaço e o tempo e fazer um best of.

Sei, isso sim, que algumas coisas me marcaram e sei também que o que a mim mais me marcou foram coisas cá muito minhas, algumas invisíveis. Ou, se factos públicos, então, muitas vezes senti-os ou interpretei-os de uma maneira geralmente não coincidente com a vox populi. Gostava talvez de dizer que ainda não foi em 2017 que aconteceram algumas coisas que gostava que tivessem acontecido ou que, por vezes, alguns momentos foram, para mim, muito complicados, muito difíceis de suportar. Mas, é verdade, podia ter sido pior e, em muitos outros momentos, foi bom, muito bom. 

Mas, em síntese, acho que somos uns serezinhos que não se enxergam, que se portam como uns bichos caretas, irracionais e que parecem não perceber o quão perecíveis são, equilibrando-se em cima de um pequeno planeta que, de forma geral, parece que tentam destruir ou, se não de forma explícita, pelo menos não o estimando como me pareceria justo.

Portanto, face à minha confessa incompetência, passo a palavra a quem sabe: The Guardian.

2017 reloaded: key moments from the last 12 months



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sábado, dezembro 30, 2017

Esconderijos domésticos para as coisas de valor
[Isto parece-me a suprema maluqueira: divulgar aos quatro ventos os esconderijos mais secretos de casa...
Mas a verdade é que há malucos para tudo. Essa é que é essa.]


Caixa escondida na parte de baixo da janela
Já me aconteceu esconder uma coisa, nunca mais me lembrar de tal e, quando a quero reaver vai lá, vai... Agora, se calha querer esconder algum tesourinho antes de sair para férias mais prolongadas, já chamo o meu marido para sermos dois a fixar o reduto usado. O pior é que ele não liga patavina a essas minhas preocupações e, portanto, na hora de descobrir o esconderijo, começa a lembrar-se de vezes anteriores o que ainda me baralha mais, deixando-me quase à beira do pânico -- um tesouro tão relevante e agora desaparecido no meio deste labirinto interminável que é esta nossa gruta doméstica...? Não... Não digo bem isto, claro, mas aos meus lamentos ele responde invariavelmente: se deitasses fora metade do que não precisas já não tinhas metade dos problemas que tens. Como sei que ele tem razão, não lhe dou troco e continuo a busca. Já pensei escrever num post-it e pendurá-lo na porta do frigorífico mas isso parece-me a contradição dos termos.

O meu pai era super-imaginativo e arranjava esconderijos mirabolantes. O pior é que eram também inacessíveis. A minha mãe desesperava. Uma vez arranjou um tal buraco secreto para esconder as coisas de ouro que, se ela queria usar alguma peça, era impossível. Ela zangava-se com ele e ele zangava-se pela falta de compreensão dela pois, para ele, nem pensar em voltar a tirar as coisas de lá.

Fundo de uma cadeira
Mas eu não é só com coisas de valor. É com tudo. Não sou boa a esconder nada. Parece que logo que escondo alguma coisa, é como se a coisa se varresse da superfície da terra. Esqueço-me. E o pior é que não é só esquecer-me do esconderijo: é mesmo esquecer-me das coisas. Passam anos e, por vezes, do nada, ocorre-me uma coisa que parece sair das trevas da memória: 'Eu tinha umas moedas antigas... Mas onde estarão...? Onde...?' E nada. Nem um leve sinal de nada. Esquecimento absoluto. Sei que um dia, sabe-se lá quando, haverão de voltar a ver a luz do dia mas, até lá, vou apenas supor que não sonhei, que, em tempos que já lá vão, as tive e que, talvez com medo dos ladrões, lhes dei total descaminho.
Prateleiras que são caixas

E vem isto a propósito do que acabei de ver: parece que muito boa gente anda a divulgar fotografias em que mostra onde encafua as coisas de valor. Lá está: se é secreto... Mas nestes tempos de exibicionismo exacerbado até se publicita o que supostamente seria absolutamente sigiloso. A única justificação que encontro é que, quem o faz, esteja a dar como certo que os ladrões não andam pelas nets. 

Seja como for, para o caso de haver Leitores meus que já estejam fartos de guardar a fortuna no colchão e não lhes ocorra alternativa à prova de roubo, aqui deixo alguns exemplos.


Atrás das tomadas

Drive de um computador

Falso boneco
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E agora fico-me por aqui pois estou já tão completamente a dormir que francamente nem sei bem a quantas vou. A verdade também é que tomei uma ceterizina a ver se a constipação que me apareceu não vai a mais e presumo que isso não apenas me tirou a vontade de espirrar e de me assoar, como me impede de me manter acordada.

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E, se me permitem, não deixem de descer até ao post seguinte: há um presente de um Leitor que me deixou encantada.

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O tema do poema é este meu falar de sexo




O tema do poema
é este meu falar de sexo;
mundo tão simples e tão complexo.
Basta-me dizer somente:
teu e meu
se entranhando na lava de um vulcão fremente,
rutilante clarão iluminando o breu.

E sendo apenas um fiosinho de nascente,
num inacessível lugar da nossa mente,
se faz rio de límpidas águas indomáveis,
de força libertária consciente,
cumplice na cumplicidade dos gestos insondáveis,
trazendo, no sangue alvoraçado, potros insandecidos
submergindo todos os sentidos.

Leva nas mãos de ânsia,
buscando os limites da loucura,
a íntima substância
de um imenso dar em jeito de ternura.
Talvez, a anos-luz, também haja a doçura de um receber
no dicionário do nosso dizer,
mas o certo nele é o obsceno usar estar banido
como coisa sem sentido.

O êxtase acontece
quando encontro o sinal feliz que amanhece
na imensidão do teu olhar
e te vejo, deslumbrante, chegar
com a incandescente flor presa em teus dedos
para nos acompanhar
no mais secreto dos segredos.


[Poema da auoria do Leitor LS a propósito do meu post de ontem: Quando uma mulher ama um homem]


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sexta-feira, dezembro 29, 2017

Quando uma mulher ama um homem





É um facto. Nisto da igualdade dos géneros convém não generalizar. Uma coisa é o direito à igualdade de oportunidades e outra, muito diferente, é fazer tábua rasa das diferenças evidentes entre homem e mulher. E nem estou a referir-me ao óbvio. Isso cada um sabe de si. As mulheres têm maminhas e os homens não? Bem. Não é sempre verdade. Há mulheres que não las têm e há homens que deviam usar under bra. Assim como pode haver homens que têm pirilau mas não o usam e mulheres que não o têm e munem-se de um. Portanto, adiante que nisto de minudências há excepções para todos os gostos e não pretendo aventurar-me por aí.

Refiro-me aqui apenas a coisas muito mais simples: à maneira de ser tipicamente feminina e à maneira de ser muito macho man.


Claro que também aqui poderia embrenhar-me pelas variantes e excepções: homens sensíveis e fofos e mulheres todas duronas e marialvas -- que pode não ser politicamente correcto falar assim deles e delas pero que los hay, los hay.
Exemplifico. Ontem estava atolada no meio do trânsito. Não mexia. E eu sossegadinha a ouvir música. Nisto, o carro da frente andou dois palmos e eu, em piloto automático, avancei o mesmo. E, nessa altura, ouvi ao meu lado uma barulheira de música aos berros e uma flausona, cara de rapper, cabelo curto platinado, toda machona, a gritar na minha direcção: 'Ó madama, és muita mázona. Atão não me queres deixar meter, ó madama? Já tou cheia de medo de ti!'. Eu atónita, tentando perceber a razão de tal desconchavo. Percebi que a dita vinha de lado e que estava a querer meter-se à minha frente. Tinha um carro pequeno, janela aberta e o braço de fora, a gesticular, e a boca escancarada a berrar sobre uma música igualmente escancarada. Ri-me e fiz-lhe sinal para se meter à vontade. Continuou: 'Tens a mania que és boa, ó madama!'. Quando o carro da frente andou mais meio metro, voltei a fazer-lhe sinal, convidando-a a enfiar-se à má fila à minha frente. Com cara de vingadora, não quis. Passado um bocado, ouvi-a a pôr o motor a fazer aceleradelas e a tentar fazer outra chicuelina a outro pacífico condutor. Aquela, notoriamente tinha a testosterona a fervilhar.
Mas eu estava era a referir-me à maneira que as mulheres (as mulheres em geral, dentro da média) têm de gostar dos homens. É uma maneira cheia de subtilezas. As mulheres gostam de ser adivinhadas, convencidas, surpreendidas. Não gostam de ter que ser explícitas. Quando uma mulher tem que ser explícita para o homem a perceber, aí desinteressa-se dele. É um totó, um destituído. No entanto, também não se aguenta um homem melga ou armado em engraçadinho, sempre a querer fazer surpresas bobinhas ou a dizer piadas secas.

Mais: o homem tem que ser uma boa ajuda em casa, claro que sim!, mas também não pode ser mais arrumadinho que a madrinha rezingona que não suporta um grão de pó no móvel ou que vai aos arames com uma toalha torta no toalheiro. E não deve ser um copinho de leite, que essas mariazinhas são de se fugir delas a sete pés, tal como não deve ser um copofónico que isso, credo, é de terror.  Deve, sim, saber apreciar um bom vinho, tal como deve saber pegar no copo e deve saber ser didáctico a propósito do tema mas só até ao ponto em que não pareça ser um deslumbrado ou um petulante a precisar de uma belinha.

E tem que gostar de ler mas não ser um maçador cheio de citações. Homem que só fala de livros ou que só sabe falar de música, tal como se só souber falar de futebol, é para esquecer. Pode suportar-se durante um hiato mas ponham hiato nisso. Logo, logo receberá ordem de marcha. Homens mono-interesses são uma seca de primeira. Interessezinhos diversificados, tudo bem temperado de erudição, humor e desconstrução, isso sim.

E quem diz isto, diz muito mais que isto.

Por exemplo. Só se for perfeito sem parecer perfeito, ou elegante sem ser uma maria dondoca, e empático sem ser uma amélia lamechas é que a mulher poderá dar-lhe a hipótese de ser escolhido.

E etc, etc, etc.

E ponham mesmo muitos etcs nisso que a lista de to dos e not to dos é extensa. Eu é não pretendo ser exaustiva.

Mas uma coisa tem que ficar clara: quem escolhe é a mulher mesmo que possa parecer que não. E deve ser como e quando ela quiser (mesmo que faça de conta que não quer ou que tanto lhe dá). E o homem deve ter plena consciência disso embora deva disfarçar, tentando conquistá-la como se acreditasse que tem um poder que obviamente não tem.

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E isto tudo para introduzir um poema que me agrada:

When a woman loves a man de David Lehman


Capisce?

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Ok, ok, ok.

Eu sei que muitos leitores (homens, sobretudo) não acham graça nenhuma a poesia. Acharão que poesia é coisa para almas sensíveis e eles, qual quê, são empedernidos, mas empedernidos encartados, de papel passado, com um calhau no meio do peito - um calhau palpitante, é certo, mas isso é só porque tem que bombar o sangue -- e nada de palavrinhas nheco-nheco, só palavras que sirvam para andar à traulitada. 

Por isso, esta agora é para eles: um vídeo que devem ouvir com atenção. Ok?

Poema para pessoas compreensivelmente demasiado ocupadas para lerem poesia

de Stephen Dunn


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Enjoy

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O que é o hiplet?


É uma graça. Uma mistura de leveza, de irreverência, de elegância, de subversão, de bom domínio do corpo. Misture-se o ballet e o hip hop, dance-se em pontas, use-se vestuário urbano. Polvilhe-se com um ar de modernidade e alegria. Teremos o hiplet.

As bailarinas de Chicago Multi-Cultural Dance Center fazem a festa



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quinta-feira, dezembro 28, 2017

Qual a cor de cabelo mais indicada para si?
[Com um implante capilar no texto: recomendações relativas aos cabelos dos dois candidatos marretas e uma proposta ganhadora para um certo putativo candidato surpresa]


Entretenho-me com qualquer parvoíce. Mas tem que ser parvoíce a sério. Coisa de gente que se acha e que escreve convencida que está a escrever coisa importante não me interessa. Tem que ser mesmo parvoíce despretensiosa, tontice desempoeirada. De preferência, deve ser coisa que não lembre ao diabo.

Hoje, por exemplo.

Não sabendo de nada do que se passou durante o dia senão aquilo do financiamento partidário, tema que, já de si, me dá um bocado de brotoeja, e tentando saber a quantas andou o mundo, logo me desinteressei das coisas importantes, nomeadamente das reacções da Madame da Coxa Grossa e Alma de Santinha ou a reacção dos dois marretas Rio & Flopes.

Pelo contrário, deixei que a minha atenção se prendesse com mais um daqueles testes que amo de coração. Pode ser a maior maluqueira que, mal a vejo, já eu estou aí. Hoje o teste era para descobrir qual a cor de cabelo indicada para o meu tom de pele e maneira de ser. Achei o máximo. Pertinente. Indispensável.

Sempre vivi bem com a minha cor de cabelo. Até já inspirou alguns poemas, coisa que, parecendo que não, acrescenta uns pontos ao cv.

Mas quem sabe se a minha cor certa não seria  antes uma coisa outra, quiçá na base da asa de corvo? Nunca se sabe. E eu, que sou open minded, se soubesse de uma tal coisa, logo me dirigiria a um cabeleireiro para me pôr mais parecida com a verdadeira eu. É que, pensando bem, o cabelo deve espelhar a nossa alma.

Portanto, obedientemente, fui respondendo a todas as perguntas. E se as perguntas eram curiosas... Íntimas, até. Por exemplo:
  • como gosto de me vestir para sair à noite, 
  • qual a minha preocupação quando tenho amigos cá em casa para jantar, 
  • como é que sou no trabalho, 
  • qual o tipo de roupa que atrai o meu olhar quando entro uma loja, 
  • como reajo quando sei que uma amiga se divorciou, 
  • etc, etc,e tc. 
E eu, respondendo sinceramente e a pensar: deixa lá ver o que sai daqui. Querem ver que vou ter uma surpresa...? Olha se isto me diz que bem, bem, ficava era de cabelinho branco, toda avózinha. O tanas é que ia levar o teste a sério...

Pois bem. Eis o resultado de forma resumida: 
Sonhadora, criativa e enigmática você tem, secretamente, um temperamento fogoso. O ruivo claro ou o louro veneziano, essa cor hipnótica, é a cor feita para si.
Pronto. Ficamos, então, assim.


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Para quem não saiba bem a raça de que estamos a falar, assim são as ruivas de tipo louro veneziano:

1 - A intuição que dispensa a aprendizagem



2 - As brincadeiras a que não se consegue resistir



3 - A audácia

(A confissão de Veronica Franco)


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Já agora, para acabar com um momento musical:
Loreena McKennitt, a ruiva, canta a canção de Penelope



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Implante capilar no texto

A despropósito, permitam que acrescente que, no que respeita a cabelos, o do Rui Rio está bem em cinzento mas o que já não está com nada é aquele corte. Careca que é careca e que tem pinta, rapa o cabelo. Pode ficar com um milímetro e não mais que isso. Assim, com aquele cabelão nas laterais, Rui Rio parece que saíu do século XIX -- e, para o cenário de contabilista d'antanho ficar ainda mais a preceito, só lhe faltam mesmo as mangas de alpaca. Ó homenzinho mais maçador e poeirento... Eu, se fosse a ele, para ver se conseguia produzir algum impacto visual junto dos potenciais eleitores, rapava completamente era a cabeça e deixava crescer a barba. Não há que ter medo, não vai parecer um terrorista, não parecerá terrorista nem que apareça de cinto de explosivos à cintura e granada na mão. Com aquele ar de guarda-livros, por mais que faça, por mais que tente radicalizar-se ou, vá, modernizar-se, o mais que vai parecer é que talvez já viva no século XX.

Já o outro artista, o galã Santana Lopes, deve manter a trunfa que tão bem o caracteriza: melena nem curta nem comprida, nem cizenta nem amarela, nem bem lavada nem bem ungida, nem moderna nem antiga, nem feia nem bonita, nem útil nem inútil -- apenas adequada para inspirar bocas. Um dia que a corte, a pinte ou a deixe sem brilhantina perderá toda a graça. A ele apenas recomendaria que diversifique: uns dias com um rabinho de cavalo, outros com bandolete, outros com um puxinho em cima. E sempre acompanhado daquela boca em biquinho e a pose de candidato a senador para a gente não estranhar. Um Marcelo em ponto piqueno e blasé, com a grande diferença de precisar de muitas horas de sono.
[Que duo mais marreta, senhores, este do Flopes & Rio. Previsíveis, mais do mesmo, comida mastigada. O PPD/PSD (é que nem conseguem optar por um nome para o pobre partido) está a caminhar a passos largos para a irrelevância e não é nenhum destes dois que vai conseguir travar a trajectória descendente]. 
Será que o nosso fofo Hugalex não quererá dar o salto e aparecer à última hora a ver se abocanha o lugar até agora ocupado pelo seu dono e guru, o já quase saudoso Láparo dos Passos ? Eu a ele tinha umas recomendações capilares (e não só) completamente ganhadoras, coisa mesmo na base do win-win: cortes de cabelo à Cristiano Ronaldo -- rapado dos lados, com o risco aos zigue-zagues, cristinha arrebitada ao centro -- treino musculatório para reforçar os peitorais, uma namorada talentosa como a Merche, a Irina ou a Georgina, filhos feitos alhures -- coisas nessa base que dão popularidade e geram bué de likes no Face ou no Insta. A falta de inteligência até passava despercebida. Aposto que deixava os outros dois xé-xés a um canto. Força, Hugalex, a malta está contigo!


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 E agora vou pregar para outra freguesia.

Inté.

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quarta-feira, dezembro 27, 2017

Por quem sois, claro que isto não é um balanço de 2017




Começo a ver balanços um pouco por todo o lado, está na altura deles. Não que me façam falta ou que me entretenham o desfastio. Mas tenho pena de não ser capaz de fazê-los. Se fosse, se calhar também não os fazia mas, enfim, não fazer era uma coisa voluntária. Assim não, assim é olhar para balanços alheios e pensar: para eu conseguir produzir um teria que fazer uma monda danada, como quando quero oferecer fotografias e tenho que passar em revista as milhares que fiz ao longo do ano. Penso: se calhar a coisa inteligente era, de cada vez que faço uma fotografia engraçada ou que acho algum evento marcante, fazer-lhe logo a devida assinaladela para, no fim do ano, as tarefas estarem praticamente aviadas. 

Acreditem. Os melhores filmes do ano, os melhores livros do ano, as frases mais inteligentes do ano, os actos mais fantásticos, as músicas mais maravilhosas -- assim de repente não me lembro de nada. Ou, então, começo a desbobinar aquilo de que me lembro e sei lá eu se foram os melhores.

Mas, lá está, que interesse tem estar a desenterrar os mortos para os glorificar?
Ok, estupidez, sei que sim. Um livro lido não é um livro morto. Idem para o resto. Foi uma metáfora não apenas sinistra mas também estúpida. Mas é que não quero já saber do que fiz, a única coisa que me interessa é o que vou fazer.

Listas. To do lists. Também nunca fiz. Não gosto de me programar. Gosto de me sentir livre para fazer o que me apetecer.

Lista de boas intenções. Nunca fiz. Não tenho boas intenções, só más.

Acho extraordinário quando aconselham as pessoas a fazerem uma lista de projectos ou de ideias a perseguir no ano que se segue. Eu nem pó. Nunca na vida fiz tal coisa. Sei lá o que é que devo fazer. Em vez disso posso entreter-me a ler horóscopos ou a deitar cartas de tarot. Claro que mal acabo, já me esqueci. Tem uma graça momentânea mas altamente perecível. Por exemplo, fui agora ver à Vogue o que me aguarda em 2018. Como sempre, espera-me: trabalho, desafios, a minha criatividade posta à prova. Coisas assim. Sempre isto. A nível de amor também um ano em grande, paixão transbordante e quem sabe se até um bebé. Pelos vistos, até a menopausa me vai passar. E eu tão descansada que ando que já nem me lembro dessa coisa dos anti-concepcionais. Bolas, bolas, bolas. 

Bem. Adiante. 


Isto para dizer que acho muito bem. Um diz que vai ler a Agustina, outro voa sobre o ano que voou, outra diz que vai ser assim e assado e até a Estrela Serrano distribui medalhas. Gosto de ver. Gente com a cabeça no sítio. Tomara eu.

Eu, que tenho a minha sempre na lua, o mais que consigo dizer é que o Marcelo é incontornável. Até de carrocel já o vi hoje na televisão. Ia de boné e quase podia parecer outro mas juro que era ele. De vez em quando diz uma ou outra com sentido. Mas parece que já quase esgotou o reportório de coisas assisadas. A maior parte das vezes já só o ouço a dizer irrelevâncias, a anunciar cuidados para daqui por um ano, a sugerir remoques contra incertos ou a querer que se façam casas sem projecto, se calhar na candonga, clandestinas, e sem orçamentos, sem nada, tudo na base do sempre a abrir. E quando vê que as casas até já foram efectivaente construídas -- e como deve ser, algumas boas como nunca foram antes e tudo certinho, direitinho -- aparece a dizer que isso não chega, tem que se fazer mais. E o engraçado é que ele diz isto sabendo que o Governo está mesmo a estudar a forma de repovoar o interior, de aí dinamizar a economia. Mas o Marcelo parte do princípio que as pessoas não sabem que o Governo está a trabalhar nisso e aposta em que, quando as coisas aparecerem feitas, a malta pense que foi graças a ele e às bocas que andou a espalhar aos microfones e perante as câmaras. Cansa-me este Marcelo. Não é tanto já me enjoar aquilo de ele andar sempre a escarafunchar no luto alheio e a dar beijinhos a tudo o que mexe, é mesmo a sua necessidade compulsiva de dizer coisas. Não interessa que coisas. Coisas. Sempre a dizer coisas. Sempre na televisão a dizer coisas, sempre metido em cenas a dizer coisas. Um cansaço.


É que eu, assim que me lembre, a quem devemos mesmo tirar o chapéu é a António Costa. Pisando terreno quase sempre minado, com uma oposição desmiolada e desavergonhada, com uma comunicação social acéfala e com uma agenda muito própria em que vale tudo, com uns amigos de geringonça que acham que, para não perderem o pé, devem andar sempre com ralhetes, ameaças e greves pela trela, e com um presidente ciumento e obsessivo-compulsivo relativamente à fama, Costa tem conseguido ultrapassar a barreira de fogo alimentada pelo coro de carpideiras que está sempre à espreita, escudada pela ideologia do neo-afecto, tem resistido ao facilitismo e tem conseguido ir equilibrando as contas, restabelecendo a confiança e restituindo a dignidade aos portugueses. Com a sua forte alavancagem pessoal até conseguiu que Centeno fosse a presidente do Eurogrupo e vamos ver se, uma a uma, as pedras do caminhos europeu não começam a apontar num outro sentido que não o da dispautérica austeridade. Nem tudo tem sido perfeito e alguns maus momentos para sempre pesarão na memória colectiva de 2017 mas António Costa fez o melhor que conseguiu e o que se vê é que não foi pouco.

Tirando isso. Não me apetece falar de um outro incontornável, um outro narcisista. Só que, a nível cultural, esse outro não chega aos calcanhares deste nosso. Nem tem de base uma matriz democrática nem lhe dá para andar a bater perna vinte horas por dia a distribuir afecto e a fazer-se à selfie. Este a que agora me refiro é estúpido, bronco, básico e perigoso. Trump. A anedota do século. 


Nem me apetece falar de algumas outras palhaçadas. Maus passos que a populaça, quando estimulada emocionalmente, volta e meia dá. Por algum motivo (e empresas como a Cambridge Analytica lidam bem com esses 'motivos'), uns resolvem atirar-se para fora da Europa e vão atrás do verbo insuflado de chicos espertos que, à primeira dificuldade, metem o rabo entre as pernas e arrepiam caminho, outros resolvem separar-se do país ao qual sempre pertenceram. Derivas independentistas que a razão desconhece e que, tarde ou cedo, darão com os burrinhos na água.

Também não vou falar dos que partiram -- e não foram poucos. Nos enterros há aquela velha máxima que toda a gente diz, encolhendo os ombros: é a lei da vida. Não sei se é, se não é. É o que é e nada se pode contra isso. Uns vão cedo demais, uns sofrem demais ao partirem, outros deixam um estranho vazio que se sabe que nunca será preenchido. 

Mas há também os que chegam, leves como o futuro inteiro que têm pela frente e a quem desejamos toda a sorte e felicidade do mundo. Transportam em si o tempo por viver e a esperança de melhores dias.


A nível artístico muitos foram os que me proporcionaram bons momentos mas há dois em que estou agora a pensar -- e, lá está, se eu fosse de elaborar raciocínios ponderados, talvez pudesse, em consciência, afirmar a pés juntos que são estes e nenhuns outros; assim, são apenas os que, neste instante, me estão a ocorrer. E são eles:
  • o Salvador Sobral. Menino talentoso, invulgar. O coração que o acompanhou enquanto levou a canção da mana Luísa aos quatro cantos do mundo já não é o que agora lhe bate no peito. E eu desejo, mas desejo muito, que saia desta, que o transplante vingue, que todos os seus órgãos reajam bem e que, cedo, cedo, volte a estar bem, que recupere totalmente e que, um dia destes, já aí o tenhamos de volta, cantando e encantando, irreverente e alegre -- por muitos e bons anos;
  • e Alma Deutscher, essa menina prodigiosa que compõe, improvisa, interpreta. Sonatas, concertos, óperas. Canto. Uma coisa inacreditável. 
Devia agora puxar pela cabeça para tentar falar também de pacifistas, ambientalistas, fotógrafos, bailarinos, escritores, políticos. Devia. Mas não vou fazê-lo. Ia falhar muito. 

Também não vou falar das grandes dores, das grandes vergonhas, de todas as traições feitas ao género humano ou cometidas contra seres vivos, em geral. Iria também falhar em toda a linha. Por cada pequena conquista, várias pesadas derrotas. E se para ilustrar este não-texto escolhi ao acaso algumas imagens que, por algum inconsciente motivo, me agradam, para terminar escolho duas que, por motivos totalmente conscientes, ilustram a barbárie que vive dentro de nós.



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Mas, não obstante a bestialidade cujas demonstrações nos ferem o coração, o mundo é ainda um lugar maravilhoso, múltiplo nas suas magias e encantos.
É bom viver.
Convenhamos: 2017 não foi um ano mau de todo. 



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2017 está, pois, quase a acabar.
E que acabe em beleza que cá estaremos para as despedidas e para receber, com esperança, 2018

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terça-feira, dezembro 26, 2017

Miguel Esteves Cardoso e Bruno Nogueira na RTP 1


Não consigo escrever nada porque não consigo parar de ouvir e de rir com estes dois malucos à conversa. O MEC em grande forma: maluco como gosto dele.


Quando eles acabarem, já me concentro. Acho que o programa se chama Fugiram de casa de seus pais.

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O maior trauma do MEC -- e um programa anterior





Com o Markl a falar de problemas muito dele


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Algumas das minhas decorações de Natal
[E o making of das tiropitas e o galo do campo acabado de sair do forno]





Isto de estar aqui agora a mostrar decorações de Natal no fim do dia de Natal até me faz lembrar quando sei das coisas só quando já se passaram.
Dia da Poesia com malta a declamar pelos cantos -- olha que giro que deve ser, mas, azarinho, já foi. 
Dia da Música, concertos eveywhere, que bom -- olha que pena, já foi.
Assim eu agora: árvores de natal todas pisca-pisca -- olha, já está quase na altura de serem retiradas.
Mas no outro dia disse que quando calhasse haveria de vos mostrar as minhas christmas trees todas prêt-a-porter e sentir-me-ia mal se saísse da época sem cumprir. Aqui estão elas. Simplezinhas como vos disse:

  • aquela encarnada pequenina lá de cima onde se colocaram umas luzinhas pisca-pisca à volta e uma estrela em cima;
  • uma estrutura branca e dourada onde pendurámos umas bolinhas encarnadas e na qual o meu marido hoje também pendurou as bolas de luz que eu tinha posto sobre o aparador (e que hoje teve que ser limpo de tralha para nele se pôr a comida), mais uma estrela em cima;

  • ou uma que tem luzinhas nas pontas e que acho tão linda que uso todo o ano como candeeiro. Na volta é mesmo um candeeiro e eu é que penso que é árvore de natal.


E depois há um pai-natal trepador que sobe por uma coisa com luzinhas (quando fotografei estavam desligadas) e que tem música. Ou a rena aveludada e toda colorida que está no espelho junto da entrada da casa para dar as boas-vindas. 

E no sítio onde almoçámos há uma cortininha de luzinhas todas pisca-pisca. Esqueci-me de fotografar isso mas dão também um look festivo e alegre, embora discreto.

A verdade é que o ambiente fica natalício e os miúdos começam logo a rir quando entram em casa e vêem tanta luzinha, musiquinha e tanta cor.


E, agora, a pedido de várias famílias que me têm pedido que explique como é que faço as tiropitas, aqui está a reportagem. É facílimo e faço-as com os mais diferentes ingredientes. Para a ceia da véspera tinha feito umas com farinheira e outras com alheira. Para o almoço de hoje (e é sempre para entrada), fiz com ricota (1 embalagem dá para 4 tiropitas) -- a ricota é obrigatória em todas as que faço --  salmão, cebolinho, maçã (1/4 de maçã, às fatias finas para cada tiropita) .


Começo por cortar o círculo de massa ao meio. De cada metade, faço uma tiropita, conforme se vê. Depois enrolo. Aliás, ao lado, já se vêem duas enroladas.

Depois ponho um pouco de azeite no papel vegetal e rebolo-as por lá. A seguir, na parte de cima, ponho um pouco de mel e polvilho com sementes (usei sésamo mas poderiam ser outras)


Ponho assim, com o papel, sobre a grelha do forno que é previamente aquecido. Ponho calor por baixo e por cima, e depois de lá pôr as tiropitas, baixo para 160º. Ficam para aí uma meia hora, não sei bem, é até estarem estaladiças e louras. Estão meias desengonçadas mas não faz mal pois, quando sirvo, corto-as às fatias. Ficam melhor quentinhas mas comem-se bem também frias.

Também fiz bacalhau com todos (couve portuguesa, feijão verde, cenoura, batata normal, batata doce, ovos) mas isso não tem história. Desta vez já lavei a couve portuguesa na banheira para não ficar com o chão da cozinha todo molhado. Levo um alguidar e seguro cada folha enquanto lhe dou uma bela chuveirada.

E mostro-vos o galo acabado de sair do forno para vir repousar durante uma hora. Antes de servir voltou a entrar no forno depois de regado com um fo de azeite e sumo de limão.


O que se vê por cima dele é alecrim, alho e louro. Asso-o em cima da grelha com um tabuleiro com um pouco de água para que não haja fumos nem cheiros com a gordura que cai do galo.

Acompanhei com papillotes de puré a la UJM. Num tacho com pouca água, cozi batata normal e batata doce e meia farinheira. Depois das batatas cozidas esmaguei-as com a farinheira e com um fio de azeite e coloquei porções individuais em papel de alumínio que levei ao forno.

O meu marido achou por bem que houvesse também arroz branco não fosse alguém não simpatizar com a esmagada papillotée.

Com o resto do recheio fiz um rolo que embrulhei em papel de alumínio e que levei também ao forno, servindo identicamente como acompanhamento. Como cozi os segumes separadamente, tanto serviram para o bacalhau como para o galo, para quem quis legumes no prato.

O vinho tinto foi alentejano e muito bom, um monocasta especial, oferta do produtor.

Para sobremesa tive um porquinho doce feito com amêndoa, gila, doce de ovo e chocolate e o resto de um delicioso arroz-doce feito pela mãe da minha nora, ambos vindos de casa do meu filho. Comprei um bolo de chocolate de tipo brigadeiro na Padaria Portuguesa e comprei-o contrariada. Sabia que não era isto de que eles gostavam mas o meu marido teimou que eles se pelavam. Queria ter trazido uma tarte de chocolate ou outra mas ele que não, que não, que eu estava a fazer confusão. Pronto. Viu-se quem é que estava a fazer confusão. Não acharam graça nenhuma ao bolo, que era maçaroco, que era doce demais.

Também tinha fruta mas não lhes assistiu, os miúdos já não se aguentavam sentados à mesa e os grandes já estavam cheios demais.

E foi assim.

E, de resto, foi a brincadeira do costume com os foliões de sempre e com o bebé já enturmado.








Faz um ano o bebé ainda estava escondido. Tenho fotografias da mãe, pelo Natal, toda balãozuda e com umas hastes de rena na cabeça em animada conversação com a cunhada que, por sua vez, estava com flores nos cabelos. Agora já cá está sorridente, um menino lindo, o quinto pimentinha, fazendo adeus ou dando 'passou-bens', todo feliz da vida.

Para o ano há mais.  (Mais Natal, quero eu dizer.)


Entretanto, à laia de despedida da época natalícia, um vídeo giríssimo que um Leitor, a quem agradeço, me enviou.


Até já.

Ho Ho Ho

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