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terça-feira, janeiro 05, 2016

Rostos de coragem: retratos íntimos de mulheres no fio da navalha


Apesar do declínio, apesar de alguns períodos de regressão civilizacional, nomeadamente, por cá, apesar de agora estarmos a atravessar um momento em que alguns direitos foram colocados num recesso do avanço dos tempos, a verdade é que temos a sorte de viver do lado do mundo em que grande parte dos direitos humanos ainda são maioritariamente respeitados.

É certo que, desde que a crise financeira sorveu os recursos financeiros antes alocados ao Estado Social ou à Economia, o abandono escolar, o desemprego, o abuso na utilização de recibos verdes ou empregos precários, os estágios abusivos tudo isso alastrou provocando bolsas de pobreza declarada ou escondida.

Kala é uma indiana com 14 anos, casada pelos pais aos 3 meses
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Heinavanker - Mu mano tulge latse (Come unto Me, Ye Children)
Do album Estonian Religious Folk Chorales

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Mas, ainda assim, nada que se compare com os lugares do mundo em que as mulheres são nada, meras máquinas de prazer ou de reprodução, criadas para todo o serviço ou mão de obra explorada.

Crianças que são casadas na infância, jovens adolescentes violadas ou grávidas, mulheres sujeitas a toda a espécie de violências, sem protecção, sem tratamentos - tudo isto, se nisto penso, é arrepiante.

Nazia tem 21 anos e foi casada aos 2 anos. Aqui partilha a sua história com mulheres indianas agredidas.
O marido arrastou-a atrás de uma mota quando ela estava grávida de 7 meses

Claro que temos (eu, pelo menos, tenho) esta faculdade de nos esquecermos, de fingirmos que o mal em grande escala não existe, de nos focarmos intermitentemente numa ou noutra novidade. Pode ser o carro de luxo que o CR7 ofereceu à D. Dolores, pode ser o CR7 a elogiar o Zidane, podem ser as férias animadas do CR7 com amigos, ou pode ser a deputada com a apresentadora ou a falta de gosto desta ou daquela na escolha dos sapatos, pode ser o penteado da blogger, podem ser os guarda-costas do Pinto da Costa ou a tontice destes debates televisivos a granel. Pode até ser um cão que matou alguém e que é preciso salvar a todo o custo -- ou uma qualquer outra causa que mobilize, durante uns dias, em regime de rebanho, uma multidão.

Jovem mãe com o filho no Quénia

Pode até ser um acontecimento mais distante. Aí as pessoas sentem nobreza de carácter, acham-se benevolentes para com a humanidade e um auto-orgulho infla-lhes a auto-estima, como se, de repente, se descobrissem menos fúteis. Por exemplo, quando se soube que meninas de várias aldeias lá num local que não se sabia bem onde ficava eram raptadas e usadas como escravas sexuais, durante uns dias as redes sociais animaram-se num movimento colectivo: fizeram-se tshirts, publicaram-se selfies com dizeres, as pessoas citaram-se umas às outras naqueles exercícios de vacuidade a que a nossa sociedade evoluída se vem especializando. Depois passou de moda.

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Uma sobrevivente de Boko Haram:  Boko Haram survivor: 'I met 24 of the Chibok schoolgirls'


É belíssima, esta mulher, e tem uma firmeza e uma coragem que nos tiram o chão -- mas o assunto de que fala já não nos diz nada, quanto muito diremos com superioridade: coisa lá deles, é mesmo assim, nada a fazer.
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Aconteceu o mesmo com o menino de três anos, Aylan Kurdi, que deu à costa como uma conchinha vazia: cartazes, posts, rezas, juras. Depois passou.


As campanhas alertando para o destino das crianças nestes cenários de guerra também já nos cansaram. Se alguém ousar persistir, dirão: já não se aguenta.

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É um facto: as pessoas estão mais formatadas para a superficialidade do que para a profundidade. 

Percebe-se. Dar-se-ia em doido se, a toda a hora, nos mantivéssemos preocupados e deprimidos com todo o mal que, a toda a hora, acontece um pouco por todo o lado.

Mãe e filha em Luang Prabang, no Laos

A verdade é que, levados pela mão da comunicação social -- que enche os horários nobres com telenovelas a metro ou com comentadores avençados, com futebol a toda a hora bem como os respectivos comentários sobre casos, jogadas, árbitros; e, nos intervalos, séries e filmes maioritariamente violentos ou estúpidos -- esquecemo-nos que podia haver reportagens, que podia haver programas sobre a vida noutros locais, que podia haver documentários bem feitos e instrutivos, que podia haver programas com escritores, com pintores, ou mostrando bibliotecas ou jardins. Talvez, se estivéssemos habituados a manter a nossa cabeça disponível para a diversidade e para a beleza, para a serenidade e para a bondade, conseguíssemos disponibilidade para nos interessarmos pelos que são diferentes de nós, pelos que vivem pior que nós, pelos que sofrem no corpo e na alma rasgões, pancadas, humilhações. Talvez até arranjássemos disponibilidade para nos indignarmos, para tentarmos mover mundos e fundos para que se tornasse impossível que algumas barbaridades persistissem.

Numa clínica no Bangladesh, uma enfermeira ocupa-se do filho de uma adolescente de 15 anos.
A jovem mãe aparece ao fundo, desinteressada do filho

É certo que a cultura faz tornar mais aceitáveis atitudes que, para nós, são crimes insuportáveis. Mas há casos em que a cultura tem que ser vista como uma batata. E a que se refere a maus tratos ou violência sobre as mulheres é uma delas. Descascar estas atitudes, mostrá-las como indecentes, monstruosas, inumanas, é um primeiro passo.

O fotógrafo Mark Tuschman  fotografou, ao longo de de cerca de dez anos, mulheres pobres, exploradas, escravizadas, violadas: na Ásia, África, América Latina.


Seni, em primeiro plano, é uma vítima do tráfico humano.
Foi levada da indonésia para a Arábia Saudita onde foi escravizada durante 3 anos,
sem poder contactar com a família. Só depois conseguiu reencontrá-los


Reuniu agora esses retratos num livro, Faces of Courage. E são rostos que, tantas vezes e apesar de tudo, conservam a capacidade de sorrir. E isso ainda me faz sentir mais revoltada comigo: como posso eu, por vezes, ir-me um bocado abaixo com pequenas ninharias quando estas adolescentes ou mulheres, que tanto têm sofrido, ainda conseguem manter a cabeça erguida e esboçar sorrisos de esperança?

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Mark Tuschman -- Faces of Courage: Intimate Portraits of Women on the Edge



Diz o fotógrafo:
For the past decade I have been on a mission to document the lack of autonomy that millions of women in developing countries have over their own lives and bodies. Through my photography, I bring these women and their stories to the forefront of global consciousness.
Este vídeo foi publicado há cerca de um ano e meio e à data em que escrevo teve apenas 143 visualizações. Quando um palerma qualquer se põe a dançar em frente à câmara facilmente atinge as centenas de milhares de visualizações num mês. É a vida, lá diria o outro. Pois.

Felizmente o livro foi considerado pela revista magazine American Photo como um dos melhores «Photo Books» de 2015 e tem agora sido referido na imprensa internacional de referência.

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Já agora falo de uma das formas de ajudar estas mulheres

Organismos ou fundações têm tentado romper com este infame estado de coisas, dando às mulheres meios para se tornarem financeiramente independentes. Uma delas é a Women's Trust no Gana com a sua ajuda a nível do micro-crédito.



Uma vez mais: o vídeo foi divulgado há mais de 5 anos e ainda só foi visto, em todo o mundo,  830 vezes. O tema da ajuda às mulheres carenciadas ou abusadas ou exploradas não é, definitivamente, um hit.
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Outra iniciativa notável que nunca será demais divulgar: As avós solares

Shining Hope's solar program is based on the empowerment of women and rural development.




By collaborating with Bunker Roy and the Barefoot College, this unique approach makes solar electricity available to the poorest populations in rural areas.

Illiterate women from rural communities are trained for 6 months at the Barefoot College in Tilonia, India, to become solar engineers. They learn how to make, install, repair and maintain solar panels. They set up maintenance workshops for panels that provide five hours of electricity a day. The villagers control and manage the initiative community and the users have ownership of the equipment.

When they are back home, they are able to bring solar electricity to 300 houses in their village, making it possible for children who work in the fields during the day to study at night, thus substantially improving families' lives.

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NB: Traduzi Women on the Edge por Mulheres no fio da navalha o que, como é bom de ver, não é uma tradução literal -- mas foi o que me pareceu mais adequado.
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Caso não tenham visto, permitam que vos convide a descer até ao post seguinte: Que consequências têm as nossas acções?
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça-feira.

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segunda-feira, outubro 06, 2014

"Primeiro eles ignoram-te, depois riem-se de ti, depois combatem-te - e depois tu vences"



No post abaixo já deixei uns conselhos a Passos Coelho. O PCP quer atazanar-lhe o juízo, o PS e o BE também e os sacanas da coligação assobiaram para o lado. Por isso, o nosso Pedrortas, aquele que abria as portas, lá vai ter que ir fazer mais uns truques de prestidigitação à AR. Não é fácil, poor Pedrortas. Por isso, as minhas desinteressadas sugestões.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Aqui fala-se de coisas sérias.



de Emerson Luis Souza (em Curitiba - Paraná-Brasil)



No penúltimo post antes de se despedir (e espero que seja apenas uma despedida temporária), J. Rentes de Carvalho escreveu um post a que chamou Diferenças e que muito me tocou. 

Permito-me transcrever uns excertos:

Entre os imensamente ricos não fica atrás o califa de Abu Dhabi, que não somente é dono do Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, mas por 650 milhões de US$ mandou construir nos estaleiros Lürssen, de Bremen, o maior dos iates privados que navegam os oceanos, o Azzam, que com os seus 180 m. de comprido deixa atrás muito navio de cruzeiro.

(...) um jovem amigo holandês que, anos atrás, com coragem e forte espírito empreendedor, emigrou para Mumbai e lá fundou uma companhia de internet (...). Uma coisa sinceramente o aflige quando vai para o trabalho: os pobres que, deitados no passeio, lhe dificultam a entrada no prédio. O que ele acabava de descobrir, e no mail me queria contar, era que os infelizes que dormem no passeio não o fazem de graça, têm de pagar umas quantas rupias ao manager do passeio, em geral um ou outro que nessa rua tem loja.


Falta de Educação de Ordi Calder (no Rio de Janeiro)



As assimetrias brutais na distribuição da riqueza são uma vergonha para a humanidade.

Há pouco ouvi na televisão que Fernando Santos vai ganhar 100.000 euros por mês enquanto seleccionador nacional. Só pode ser piada. Não acredito que, nos tempos que correm, alguém ainda cometa a indignidade de pagar ou receber verbas obscenas como esta.


Mas, isso até serão trocos face ao que alguns plutocratas arrebanham para si, fortunas imorais que ignoram a miséria de muitos, muitos outros.

Nunca hei-de perceber para que se quer tanto dinheiro. A vida é finita e ninguém goza a riqueza depois de morto. Se é para deixar fortunas imensas a filhos e netos, é disparate. Filhos e netos que não tenham que trabalhar ou perceber o valor do dinheiro amolecerão, darão sossego aos neurónios. Ou eles ou outros a seguir a eles tornar-se-ão uns desgraçados, impreparados para a vida.

Por isso, para quê amealhar milhões sobre milhões?

E, sobretudo, como gozar esses milhões sabendo a desgraça e a pobreza envergonhada de tantos, tantos, tantos?


Andarilho urbano II de  Denisse Salazar (em Salvador, Bahia)



Peço-vos que atentem na apresentação abaixo.

Hans Rosling é um sueco de 66 anos, médico, académico, estatístico e que fala de forma muito gráfica e impressiva de realidades que conhecemos; mas, ditas e evidenciadas da forma como o faz, tornam-se ainda mais gritantes.




Hans Rosling's Yardstick of Wealth - Don't Panic - The Truth About Population





E, a propósito dos que têm tão pouco, lembrei-me de uma obra notável, a Universidade dos Pés Descalços. Quando se ouve Bunker Roy sentimos ternura e, ao mesmo tempo, um murro no estômago. 


Sei que parece coisa contraditória - e é. Mas há situações em que nos interrogamos sobre a forma mesquinha e egocêntrica como vemos a vida e, ao mesmo tempo, nos orgulhamos por haver outros melhores que nós. 

Pergunto-me muitas vezes sobre o que farei quando parar a minha vida de trabalhadora por conta de outrem. Penso que vou ler, ler com tempo, pôr em dia as leituras que tão sacrificadas são agora, ir ler deitada na relva de um parque enquanto ouço saxofone, ir ler sob a copa de um chorão que cai sobre um lago onde deslizam cisnes e esvoaçam gaivotas, e penso que talvez também tenha, então, tempo para viajar, ir de comboio por essa Europa adentro, vendo deslizar as paisagens na janela enquanto leio e me deleito, e mais tempo para os meus sem os quais não passo, e, até, talvez, tempo para escrever. Mas, no fundo de mim, receio que tudo isso me saiba a pouco. Tenho muitas vezes a noção de que o que tenho para fazer nesta vida é mais do que ando agora a fazer ou do que o passeio alegre que, por vezes, imagino quando me reformar. Ainda falta muito tempo mas por vezes tenho vontade de me começar a preparar. 
Colocar-me ao serviço dos que precisam de ajuda para superarem melhor a sua condição de muito pobres e invisíveis, parece-me um destino que ainda está por se me cumprir. Mas a vida se encarregará de me ir conduzindo.


Vejam por favor Bunker Roy, o indiano de 69 anos que construíu o Barefoot College (e que já antes aqui falei) e tornou engenheiras solares mulher de idade analfabetas, as orgulhosas avós engenheiras.



(O vídeo, felizmente, está legendado pelo que pode ser mais facilmente acompanhado por quem não compreenda muito bem a língua inglesa.)







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As fotografias que usei fazem parte do projecto Retratos de um Brasil de desigualdades promovido pelo Instituto Maria Preta e nele vários fotógrafos ilustram a assimetria gritante existente no Brasil.

(E, quem diz Brasil, diz muitos outros países.)


Filho de bolivianos e seu sorvete por Claudio Lins (em Paraty)


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Relembro: sobre uns conselhos que generosamente tenho para oferecer a Passos Coelho, desçam, por favor, até ao post já a seguir.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Muita saúde, afecto e sorte é o que vos desejo.


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terça-feira, fevereiro 07, 2012

As fotografias de Sebastião Salgado, a Universidade dos Pés Descalços de Bunker Roy e o som de Natalie Merchant - e um programa de vida: não baixar os braços, lutar, inovar, crer, querer melhorar, querer viver uma vida digna, decente e feliz


Música, por favor.


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Defender que a vida deve ser um calvário, uma prova de obstáculos, uma sucessão de derrotas é do pior que há. É uma estupidez, é uma coisa mórbida.


A vida deve ser fácil, suave, cheia de sucessos, com as pessoas a gostarem uma das outras, a ajudarem-se mutuamente, leais, generosas, cada pessoa deve ter direito ao seu grande amor (ou a mais do que um), aos seus momentos de arrebatada paixão (se necessário for, intercalados por momentos de drama para acentuar ainda mais o calor da paixão), a vida deve poder ser vivida sem rupturas insuportáveis, sem tragédias, sem sofrimentos prolongados. A vida deve ser uma sucessão de realizações, deve proporcionar motivação, entusiasmo, alegria. A vida deve ser uma feliz procura de conhecimento, de experimentação, de descobertas surpreendentes e boas.

Sebastião Salgado com Lélia (que dizem que 'costura as suas imagens')

As pessoas com mais de sessenta (eu, se tudo me correr como desejo, hei-de lá chegar, e depois serei  septuagenária e, depois, por aí fora, até ser uma centenária bem disposta e atilada da cabeça – e façam o favor de perceber que isto sou eu a falar na brincadeira, não sou maluca ao ponto de pensar que a vontade tudo pode) devem concordar comigo pois, como já aqui o referi, as pessoas, à medida que têm mas experiência de vida, vão percebendo melhor o que é a tolerância e a felicidade. Mas os que são jovens devem achar que inalei qualquer coisa estranha (por exemplo o gás do riso – que levou a Demi Moore ao hospital, imagine-se uma coisa destas), que devo estar a flutuar algures num qualquer limbo bem acima da realidade.

Nada disso. Tenho os pés bem assentes na terra, movo-me em terrenos em que a racionalidade e o pragmatismo são indispensáveis.

Contudo, o que penso é o que escrevi e isso é todo um programa de vida.

Acredito que nos foi dada (pelos nossos pais – por quem mais havia de ser?) a possibilidade de vivermos e que é agora e só agora que deveremos usar os meios que temos ao nosso alcance para desfrutarmos essa experiência da melhor maneira possível. 

Índios Zo'e do Pará

Sendo supostamente dos poucos seres racionais à superfície da terra, porque nos haveremos de portar mais irracionalmente do que os animais das demais espécies?

Que não se pense que isso significa usar à labúrdia todos os recursos, espatifar com tudo à nossa volta numa insana luta hedonista - o prazer pelo prazer do prazer, como se não houvesse amanhã. Há amanhã para nós, para os nossos descendentes, para as gerações futuras e o que deveremos querer, de forma consistente e sustentada, é um mundo cada vez melhor em que as pessoas vivam em paz e harmonia entre si e entre si e a natureza.

Oração de agradecimento em Oaxaca, Máxico

O que isto significa é que pensar assim é sinónimo de:
  • não fazer da expiação, do sofrimento, do empobrecimento, do desemprego, uma prática política;
  • é não fazer da amargura e azedume uma forma de estar;
  • é não querer que a comunicação social se alimente de tudo o que é mesquinho, negativo, deprimente;
  • é querer que se divulgue o que é bom, belo, feliz e não, sistematicamente, o que é mau, horrível, angustiante;
  • é querer que a arte em todas as suas formas seja de divulgação obrigatória desde a mais tenra idade;
  • é querer que, nas escolas, se ensine os jovens a serem melhores cidadãos, a saberem lidar com o inesperado, a saberem conhecer-se, a serem lutadores, exigentes, a terem auto-estima
  • é ensinar, mas ensinar mesmo, filosofia, psicologia (a par da língua portuguesa, das matemáticas, de outras ciências, das demais humanidades, etc, etc .) pois o País precisa de gente com saber, com técnica – mas gente culta, informada, bem formada, que saiba pensar, que saiba lidar com os outros, que saiba vencer as suas próprias limitações, que perceba que há sempre mais para além do que já se sabe;
  • é ensinar a dar, é ensinar a receber, é ensinar a partilhar
  • …. e mais coisas neste comprimento de onda.

Sei que quem me esteja a ler e tenda para o pessimismo vai achar que isto é xarope e do mau, que isto poderia ser convertido num livro de capa azul e muitas florzinhas e borboletas, com a minha cara retocada, rosada e sorridente e, lá dentro, muitas fotografias do género, passarinhos, carinhas larocas, frases a bold e muita auto-ajuda.

Paciência. Podem fazer os sorrisinhos complacentes e superiores que tanto se me dá.

Sei por prática que isto é saudável e que é possível.

Se na mesma organização houver um sector que segue esta linha de conduta e um outro em que de cima vêm exemplos de derrotismo, de inércia, de rivalidade, as diferenças dentro de cada departamento são notórias. De um lado teremos pessoas motivadas, lutadoras, generosas, bem dispostas e, do outro, teremos pessoas abúlicas, desinteressadas, ressabiadas, improdutivas.

O País tem que sair da fossa em que se encontra e na qual parece que há quem queira que fiquemos enterrados, vivos.

Serra Pelada


Não podemos globalmente, como nação, expiar culpas que não são de toda a população, não podemos deixar-nos para aqui ficar sendo geridos por quem não sabe nada de coisa nenhuma, um governo que a única coisa que sabe fazer é obedecer cegamente a ordens, mesmo quando as ordens conduzem ao caos, à penúria e à desestruturação social como se vê que está a acontecer na Grécia.

Para clarificar o que penso: acho que, na situação em que estávamos, endividados por décadas de desequilíbrios estruturais, com os 'mercados' a atacarem-nos como cães esfaimados, com as taxas de juro a dispararem dia após dia e com as agências a não nos largarem as pernas, não podíamos ter deixado de recorrer a ajuda financeira nem podemos deixar de pôr em prática medidas de reestruturação e de contenção de gastos despropositados. Na altura em que li o memorando da troika concordei com grande parte do que li. Era um programa de racionalização bem feito. O drama é o prazo tão curto pois não se fazem ajustamentos destes em 3 anos, o drama é querer ser mais papista que o papa e desatar a fazer tudo e mais do que isso, com medidas avulsas e a correr, sem olhar aos danos colaterais ('custe o que custar' diz Passos Coelho numa bravata que lhe há-de, um dia, sair cara e depois se verá quem é o piegas) e, pior, muito pior que isso, o drama é não equilibrar esse plano com um outro de relançamento da economia.

O facto de olhar apenas para um dos lados da equação e à bruta, tem provocado todo este desequilíbrio suicidário.



O que há a fazer é ter um pensamento estruturado para o país, um pensamento baseado na confiança, na auto-estima, na motivação, no conhecimento, e pô-lo em prática de forma balanceada: racionalização de gastos por um lado e relançamento económico, por outro - e tudo acompanhado por políticas humanistas e de incentivo ao conhecimento.



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Peço agora a vossa melhor atenção para Bunker Roy e a sua notável Universidade dos Pés Descalços.


(Está legendado e dividido em duas partes - mas, por favor, tentem ver tudo)





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Tenham, meus Caros, um belo dia!

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(PS: Já o disse no título e penso que não oferecem dúvidas pois têm inegavelmente a sua marca, mas não é demais repetir: as fotografias, de uma sensibilidade tocante, são de Sebastião Salgado.)