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quinta-feira, janeiro 18, 2024

Só para saber se ele sempre teve olhos azuis

 

Numa operação de zapping, comecei pela 1. E passei pela Fátima Campos Ferreira, naquele seu tom repuxado, quase gongórico, a entrevistar o José Luís Peixoto. Sei que é escritor renomado, um dos mais publicados e, se calhar, até lido. 

Quem por aqui me acompanha saberá que, nesta como em muitas outras coisas, não sou flor que se cheire. Não é por mal nem para chatear nem para mostrar que sou diferente mas a verdade é que tendo a não gostar do que é consensual para a maioria das pessoas. Não gosto nem deste fofinho nem do fofinho Valter Hugo Mãe nem do fofinho em versão tentativamente alternativa Gonçalo M. Tavares. Não fazem o meu género nem como escritores nem como pessoas. 

Mas, lá está, posso ser eu que vou em contramão na autoestrada. Se calhar estes fofos, simpáticos, que gostam de se fazer passar por simples, quase simplórios (e, se calhar, estão a ser genuínos), são como é suposto os escritores fofos serem e eu é que não atino pois toda a gente, menos eu, sabe que os escritores se querem fofos e que, os homens em geral, se querem também muito fofos. E se há algum Editor aí desse lado que não concorda pois que faça o favor de o dizer.

O que aconteceu é que o meu marido quase saltou da cadeira quando viu aquele dueto: 'Não vais pôr-te a ver estes dois pois não?'. Sosseguei-o, que não, mas que pacientasse durante dois minutos só para eu aferir a minha opinião. Não precisei de dois minutos. Mudei. Aquela pessoa que ganha a vida a ser escritor não faz o meu género. Agora com uma coisa fiquei eu estupefacta: apareceu de olhinhos azuis clarinhos. Ora juraria que é moreno de olho castanho. Ou não? Sempre foi fofinho de olho azul ou, para reforçar a fofura, resolveu aplicar lentes cor de olho de boneca?

Só isso. A quem puder esclarecer, agradeço.

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Aqui neste vídeo não se vê bem mas, no plano que calhei apanhar, eram azulinhos, azulinhos sem tirar nem pôr.

Fátima Campos Ferreira em Primeira Pessoa com José Luís Peixoto


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PS: Mas não sou só niquenta com os nossos fofos escritores-estrela. Tenho muito mais opiniões assim que fazem com que frequentemente me sinta carta fora do baralho. Quando meio mundo gaba a última obra ou a qualidade da escrita ou a honestidade da narrativa de vários outros eu salto fora, assumo-me como freak, digo logo que o mal é certamente meu. Por exemplo: Lídia Jorge. Prémios e mais prémios. E, no entanto, como escritora não tenho paciência para ela, acho-a uma maçadora. Portanto, estão a ver. 

sexta-feira, novembro 27, 2020

Alf e Gonçalo M. Tavares: o elogio da derrota em grande estilo
[Com o Valtinho aqui no meio a segurar a vela]

 

Fui a uma pequena livraria de bairro. Há muito tempo que andava a ser catequizada para lá ir e, na verdade, de bom gosto lá iria se me ficasse em caminho, se fosse fácil estacionar lá perto ou se estivesse aberta fora de horas. Nunca era o caso. Mas desta vez, por outros motivos, tive que ir a um sítio nas redondezas e aproveitei. 

Gosto de comprar livros em livrarias a que já conheça os cantos. Ali não. E, como é pequenina, tem tudo muito concentrado, cada milímetro ocupado. E não estão apenas ao alto, em estante. Não, há pilhas, tem que se ir levantando um e outro e outro para descobrir o que está por baixo. E há estantes até ao tecto e eu, míope, não consigo ver nada do que para ali vai.

Mas uma livraria é uma livraria é uma livraria e, passados os primeiros minutos de desorientação, já eu estava a separar um e outro, a fazer montinhos. E pus-me na conversa com a simpática Livreira que me contou que há quase trinta anos luta para manter a livraria aberta e que, apesar da luta, é para ela um prazer ali estar. Que conversa boa, que ambiente acolhedor.

Comprei a pensar que dali extrairia presentes de Natal para todos e, pelo meio, acredito que sobrarão um ou dois para mim. 

E, às tantas, na exploração, dei com um do Mãe, essa coisa mais fofa (refiro-me ao Mãe, não ao livro, que não li). Tenho ideia que saiu livro dele há pouco tempo pois tenho-o apanhado por aí, sempre a dizer coisas fofinhas, sempre a lamentar não ter filhos, sempre a ser o amiguinho fofo que as meninas tristes e as senhoras solitárias gostariam de ter. Nunca percebi porque é que, com tanta senhora a babar com suas as fofices, nunca nenhuma se ofereceu para ser mãe de um filho que teria duas mães, sendo que uma do sexo masculino (ups, que trocadilhinho mais coisinho). Folheei o book e pareceu-me o do costume, mais do mesmo. E digo-o isto com à-vontade e isenção até porque nunca consegui ler nenhum livro do peludo escritor. Não sei se o que vi é o último mas lá estava ele na capa, desenhado como gosta de se mostrar, nu, peludão, quase machão. Mas estava com o bracinho em frente das partes pudibundas pelo que, ó que pena, não se lhe vê o passarinho. Aliás, cá para mim já nem o tem no sítio pois, fofura das fofuras, está com ele na mão. 

Mais à frente, um do ilustre escritor Gonçalo M. Tavares. Outro que tal. Só não se queixa de não conseguir fazer filho. E, que eu saiba, também nunca se apresentou em pelota. E acho que não dá entrevistas fofas. Mas tem ar de também ser peludo e, sobretudo, também nunca conseguiu escrever coisa que se aproveite. E, igualmente, estou à vontade para o dizer: nunca li nada do ilustre escritor. Nunca consegui vencer a barreira que se ergue entre mim e a sua prosa.

Sou como os enólogos: cheiro, espreito, vejo-lhes a cor. Folheio, folheio. E só compro aquilo que me parece ter substância. E, caso me pareça que tem substância, que me pareça ter elegância. Mas, até hoje, nunca vi nenhum livro do Gonçalo M. Tavares que cumpra os mínimos.

Sou leiga? Claro. Leiguíssima. Básica? Ui, ponham básica nisso. Portanto, é do alto da minha ignorância que o digo: de cada vez que, nas livrarias, folheio algum livro do Gonçalo M. Tavares penso sempre: este fulano não dá uma para a caixa. Nada do que escreve faz sentido, tem graça ou, sequer, tem utilidade. Penso eu. De que.

Por isso, nunca percebi como é que continua a publicar livro após livro, uma publicação numerosa e incompreensível, direi mesmo torrencial  -- por acaso até acho que alguém deveria fazer-lhe o que se faz aos cães: esterilizá-lo, literariamente falando, claro --, a receber prémios, a andar por aí, até literalmente falando (passava a vida a vê-lo, na minha encarnação pré-pandémica). 

E ainda menos percebo que uma pessoa como o digníssimo alf se dê ao trabalho de escrever um longo, elaborado e erudito texto sobre a obra do dito GMT. Será que o alf conseguiu submeter-se ao castigo de tragar tanta página de tão desconchavada prosa? Ou é que nem eu (mas em bom) e consegue fazer tal dissertação só a partir do que intui da extensa e desiluminada obra? Mistérioooo....

Seja como for, é digno de se ver. Se puderem apreciem a arte de bem esquartejar a todo o post: Gonçalo M. Tavares: investigação de um sucesso inevitável (com um bocadinho de inveja à mistura, texto galhardamente ilustrado com imagens de Irina, ex-Miss Aveiro, que nada tem a ver com o contexto tal como David Gandy que aqui nos visita e que, qual J. Pinto Fernandes, igualmente nada tem a ver com a história.


Tão lindo que ele é apesar de não ser um escritor de alto gabarito como o nosso fofo Valtinho ou o nosso prolixo Gonçalito.
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E queiram continuar a descer para presenciar os pré-beijos na boca da Catarina & Mortáguas ao Rio e, quem sabe, um qualquer dia destes, ao Ventura. Como diria o outro: uma órgia.

sexta-feira, novembro 01, 2019

Três misteriosos casos por desvendar:
para o Jaime Ramos, para a Agência do Ó ou para quem os apanhar


Não que, em minha defesa, possa dizer que sou uma newborn. Nem pensar. Num sentido, basta olhar-me ao espelho e, noutro, para o arquivo aqui ao lado. Sou mas é uma veterana. Vintage, .

Ou seja, já ando nisto da blogosfera para cima de uma meia dúzia de anos, já devia saber mais disto. Mas é de mim. Não dou por nada. A miopia dá-me a desculpa para não ver as coisas, para mais não usando óculos, mas sou é desatenta. Ou isso ou outsider -- isso talvez. Não encaixo. Não sou de lado nenhum. Nunca fui, nunca serei. Taxonomicamente, quanto muito, encaixo no grupo  d'Os que mijam fora do penico.

Vem isto a propósito de que num e noutro dos sites aqui da lateral comecei a ver coisas de uma tal Agência do Ó. Parece ser estabelecimento instalado faz tempo mas, como tanta vez me acontece, parece que toda a gente o conhece menos eu. É como esse tal do Jaime Ramos cujo criador é aquele ex-governante que em vez de dizer levar diz tomar e que vejo referenciado all over. E eu nunca.
Por exemplo. Já aqui contei, acho eu. No outro dia, numa reunião com uma outra empresa, uma senhora elegante, daquelas cujas nove horas se demonstram de alto a baixo, do penteado aos sapatos, passando pela elegante toillete, sucedeu um caso. No intervalo de assuntos de milhõe$, começámos uma daquelas small talks tão típicas de mulheres que não abdicam das suas idiossincrasias. Às tantas, já estávamos a falar do trânsito, das aflições, da vontade de fazer chichi que às vezes temos, do sítio onde moramos. E, aqui chegadas, ela logo se alegrou, que conhece bem, que vem muito por por estas bandas pois é fã de uma tasca onde se comem dos melhores petiscos de Lisboa e arredores. E disse o nome. Eu nunca tinha ouvido falar de tal coisa. Descreveu onde era. Pertíssimo da minha casa actual e ainda mais perto da anterior. Eu, zero. Nem ideia. Quando falei aos meus filhos, ambos disseram que sabiam muito bem, que é um ex libris, que é um local de reunião de tout le monde, local mais eclético não há, melhor marisco também não. E eu, bola. Depois disso, já lá fomos algumas vezes.  Confirma-se. Sempre a rebentar pelas costuras, gente na rua. E eu nunca tinha dado por ela. Ou seja, nada a fazer, é assim. 
Bem. Portanto, nunca tive o prazer de conhecer nem a cria do Francisco José Viegas nem a tal Agência do Ó. Nem sei se esta só tem um agente pastelão e respectivas réplicas ou se também algum mais apresentável, tipo 007, ou, mesmo, um naipe de agentes secretas daquelas que enganam toda a gente incluindo o próprio marido, agentes com skill softs adaptadas às exigências das missões ou dos clientes. 

O que sei é que tenho alguns casos que gostava de ver desvendados. Deixo-os aqui a ver se algum dos referidos experts se chega à frente e aceita o serviço.

Refiro alguns dos mais prementes.

1º caso

Afinal quem é o demissionário presidente da Iniciativa Liberal?

Gostava de saber se o Carlos Guimarães que andou a aparecer na campanha pela Iniciativa Liberal -- e que sempre teve ar de quem não era para ser levado a sério, tanto que, agora que conseguiram meter um deputado no Parlamento, resolveu dar de frosques -- se chama mesmo Carlos Guimarães ou se é, afinal, o Fernando Santos aka Emplastro. Ou serão gémeos univitelinos separados à nascença?


Pergunto: será que a conceituada Agência do Ó ou o Jaime Ramos agarram o caso?

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2º caso

Afinal o que se passa com as Leitoras devotas do Valtinho?

Valter Hugo Mãe em Guadalajara, México
Foto de Adélia Carvalho (reprodução do Facebook). Retirado daqui

Gostava de saber se todas as devotas do Valter Hugo Mãe já estão na menopausa ou se são apenas umas ingratas. Anda o homem por aí a carpir que trocava os livros todos por um filho, que dava tudo para ser pai, conta que até já foi raptado por uma que o amava de paixão e, afinal de contas, não há uma única fã que se chegue à frente e lhe faça um filho? Ou, vá, pelo menos, lhe alugue a barriga? Não percebo. Algum mistério há.

Será que a Agência do Ó ou o Jaime Ramos agarram o caso do VHM?

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3º caso

Afinal estamos a exportar minhotas?


Este caso requer alguma internacionalização mas, na volta, a Agência do Ó até já se franchisisou e abriu sucursal nos Champs Élysées ou em Piccadilly ou na 6th Avenue. E o Jaime Ramos parece que até já anda a caminho de Pequim. Portanto, capaz de estarem todos à altura. E o caso é o seguinte: sempre ouvi dizer que as minhotas têm, como traço fisionómico marcante, o buço. E, calma, estou a vender pelo mesmo que comprei. Até pode ser que não sejam as minhotas mas, sim, as algarvias. Não sei. Cinjo-me ao que tenho ouvido. Minhotas. Peludas, farta bigodaça. Mas eis que, para minha surpresa, dou com um anúncio para inglesas de bigode. E nem sei se é só para inglesas. Pode ser para inglesas, francesas, americanas. Todas bem apilosadas. A que se deve? Depois de andarmos a exportar enfermeiras agora exportamos minhotas? 


Será que alguém da Agência do Ó ou o Jaime Ramos desvendam o terrível mistério das minhotas exportadas?

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E tenho ainda outros mistérios mas são ainda mais cabeludos pelo que ficam para outro dia 

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E um belo fim-de-semana prolongado a todos: saúde, alegria e afecto com farturinha

segunda-feira, março 26, 2018

Valtinho, melga confesso, enerva-se com o Herberto Helder



Teve um poema em que dialogava com Herberto Helder. É um deus?
É verdade... O Herberto Helder foi para mim das figuras mais iluminantes do mundo e vivi com a ansiedade de o poder conhecer. Mas o Herberto não era acolhedor. Cheguei a falar com ele por telefone umas duas vezes e até lhe bati à porta - teria uns 26 anos -, e falámos pelo interfone. Não abriu a porta nem me quis receber. Disse que só queria apertar-lhe a mão e ter o privilégio de olhar a cara dele uma única vez; recusou e disse que não desceria nem abriria a porta. Depois disso, disseram-me que estava sempre num café, mas achei que não me competia aproximar mais dele. Foi o que fiz, deixei-me estar. Magoou-me e vai magoar-me a vida toda o facto de ele não ter tido normalidade suficiente para me cumprimentar, mesmo que continue a ser uma personagem divina no meu universo.
O poema não está nesta antologia!
Não está e nem desgosto dele, mas o Herberto Helder enerva-me e por isso não está no livro.

[excerto do artigo: "Herberto Helder enerva-me, por isso não está neste livro", com uma entrevista feita por João Céu e Silva a Valter Hugo Mãe]

terça-feira, setembro 19, 2017

Casais improváveis
[Com um número extra em pós post: o casal maravilha cuja missão seria, nada mais, nada menos, que a procriação]


(diz-se ter fixação em ou fixação com? -- volta e meia tenho destas ocorrências, fico sem saber; e é que a gente a falar é mais ou menos na base do 'olha, já foi' e bola para a frente, a asneira fica para trás. Aqui não, aqui, se a gente diz um disparate, fica escrito saecula saeculorum, uma responsabilidade), 
lembrei-me, dizia eu, que, se tivesse um meio televisivo à minha disposição, inventava um programa daqueles em que se colocam pessoas em situações que induzem o romance. Podia ser daqueles em que fazem perguntinhas pessoais, e eles tête a tête, e às tantas a coisa já começa a ficar morninha, depois quentinha, e a gente a ver que a intimidade já se abeira e que, a bem dizer, já estão capazes de sair dali e ir fazer um cafuné um no outro, beijinho aqui, beijinho acolá e, pumba, truca-truca, coisinha mai boa.


E até aí tudo bem. Déjà-vu. A net cheia disso. O picante da coisa estaria nos parzinhos que eu ia arranjar. 

E é aí que entra a conversa do Valupi. 

Dois que eu poria numa de a ver se rola seriam o Sócrates e a Helena Matos. Haveriam de começar numa de arrogância para aqui, arrogância para acolá, chispas a tordo e a direito, desprezo, cada um mil vezes superior ao outro, cada um a cuspir para o chão, ódio e mais ódio. Mas depois, não sei cá porquê, a ver se não saíam de lá os dois com sorrisinhos cúmplices, tímidos e malandros e a gente a ver onde é que aquilo ia dar. Até um livro a meias haveriam de publicar. E a ver se ele não fazia um restyling naquele ar pingão dela. Haveria de ficar uma giraça, toda bué produzida, toda ela chameguinhos bons no Zé.



Outro casalinho: o Láparo e a Catarina Martins. Ele armado em superior, sensaborão, boca retorcida, a fazer perguntas parvas. Ela, ao princípio, sem ter jeito, furiosa, incapaz de se articular com aquele coiso. Depois, lembrando-se do objectivo do programa, artista, olhinho sorridente, boquinha marota, a dar-lhe a volta. Daqueles apanha-os ela à mão. No fim, quando ele estivesse a piar fininho e a vir , de facto, já comer-lhe à mão, aposto que ela desatava a rir pela ratoeira que lhe tinha armado. Querias, não querias, ó láparo...? Pois é, querias... Mas não vais ter. E a ver se desta não vais, no futuro, aparecer a gabares-te de que, se quisesses, tinhas feito e acontecido... Tinhas uma ova, ó láparo. Como diz a Constança Cunha e Sá, 'se cá nevasse, fazia-se cá ski'. Ahahahaha. Ganda asinino, este láparo. Haveria até de chamar as manas Mortágua para, as três, rebolarem a rir da partida que ela tinha pregado ao láparo.

Mais um: o Centeno e a Pinóquia Albuquerka. 

Ela a começar feita cagona e ele todo pacholas, com uma paciência danada, ela toda peixeira e ele professor, ela a dizer cavaladas e ele, didáctico, a explicar-lhe que não, nada disso, ora pense lá melhor. E, no fim, ela já toda derretida, já até esquecida do sarrafeiro que lá tem em casa. E o Centeno, apesar de tímido e com aquela carinha de anjolas, a lembrar-se da macaca que é ela -- e a mandá-la bugiar. Olhe, Drª, porque não vai antes dar banho ao cão do Schäuble?


Mais um casaleco: João Miguel Tavares e Fernanda Câncio. Bem. O que haveria de ser. Faíscas, raios e coriscos. Cá para mim, aqui não havia química possível, a coisa haveria de acabar ao estalo. Ela nele, claro. E ele, feito parvo, a tentar fazer trocadilhos. Trocadilhos pirosos, de mau gosto, a ver se se fazia engraçado. E ela, furibunda, a começar por lhe atirar água a cara para acabar a tentar agredi-lo, a produção do programa a agarrá-la, a chamá-la à razão. E o outro, todo totó, cheio de medo, a inventar desculpas, todo tantã, o tatibitate do costume.


E ainda mais um: o Mexia, Pedro Mexia, com a Cristina Ferreira. Ela a querer pô-lo a dançar, ele a querer falar de literatura, ela a rir escaganifada e ele, atrapalhado, sem saber se rir, se chorar, ela a fazer-lhe perguntas inconvenientes e ele sem saber como limpar tal nódoa do seu exemplar cv sem ser rude, e ela a piscar-lhe o olho, depois a descalçar-se e a enviar o pé pela perna das calças e ele, a fazer de conta que não estava a dar por nada, e a perguntar-lhe qual o autor preferido. No fim...? Pois, neste caso, não arrisco palpites.


E, para terminar, o casal que se impõe: Valter Hugo Mãe e Cátia Palhinha. Sabido é que o Valtinho tem um problema: não consegue ter um filho. Presumo que tenha tentado. Contudo, como penso que o seu clube de fãs seja constituído maioritariamente por senhoras menopáusicas, a coisa não lhe tem corrido de feição. Vai daí, mandaria vir uma fogosa mulher, e até a poria vestida de agente da Cruz Vermelha que o tema é de cariz quase social tantos os lancinantes apelos que o nosso bardo tem lançado. Diria mesmo que aconselharia a que a célebre Palhinha fizesse uso do seu golpe de magia que, como se sabe, se traduz em, do nada, mostrar uma passarinha. Penso também que é o tipo de mulher que deixaria o Valtinho inspirado em todos os sentidos, incluindo no bíblico. Cá para mim nem seriam precisas as trinta e tal perguntinhas da praxe nem os olhos nos olhos do costume. Capaz até da coisa pintar e rolar logo ali. Um pico de audiências nesse dia.



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Podia continuar. Bloggers. Também arranjava uns casalinhos improváveis. Estou aqui danadinha para lançar uns quantos à liça. Mas pronto, fico-me por aqui. Um dia que me reforme e que crie um canal de youtube logo ponho as minhas ideias em prática.


A imagem de abertura do programa -- que se chamaria Love is the air -- poderia ser, por exemplo, qualquer coisa romântica deste género:


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terça-feira, janeiro 31, 2017

Bolas! Já estou mais descansada!
Parece que o livro do Valter Hugo Mãe foi parar ao Plano Nacional de Leitura devido a um erro informático.
Assim, já percebo. Nenhum humano de bom senso recomendaria um livro do Valtinho para ser lido por crianças.
E não é pelo palavreado. É que aquilo não é literatura: aquilo é o populismo aplicado à escrita.


E já sei que estou a pôr-me a jeito. De cada vez que aqui ferro o dente na canela do Valtinho, logo alguém mais devoto vem tentar chamar-me à razão. Que ele é bom, mesmo bom. Mas é escusado, Leitoras. 

E reparem como não tenho medo: vou confessar aquilo que fará as mais devotas ainda afiarem mais o dente para ripostarem a preceito - nunca li nenhum livro do Valtinho. Juro. Nunca.

Como sempre faço de cada vez que escolho um livro, abro, folheio. Farejo a escrita. Leio em diagonal e olha lá. E não me enganam. Nunca fui capaz de trazer um cá para casa.

De cada vez que dou uma hipótese, deixa cá ver se não estou a ser preconceituosa, fecho o livro, enjoada, à segunda ou terceira diagonal. Não dá. Prosa de enleio fácil. Prosa de engate. Mas engate sem sofisticação. Engate pobrezinho. Prosa besta metida a poética, prosoleio desenxabido, coisinha a fingir de elegância oriental mas de quem da orientalidade não bebeu senão o chá barato do restaurante chinês. 

Parece que naquele tal livro 'o nosso reino' o valtinho põe em escrita actos que não o levarão nunca a conseguir ter o filho que há anos anda a ver se faz. 

Não reproduzo aqui. Este é um blogue de família, apenas se usam palavras de salão.

Quando o meu filho era pequeno, mas pequeno de andar na infantil, dizia palavrão que até fervia. Eu zangava-me. Proibia-o. Mas, descarado, volta e meia la vinha palavrão. Ameaçava-o. Nada. Um dia disse: mais um palavrão e levas pimenta na língua. Bem dito, bem feito. Desafiando-me, como sempre fazia, novo palavrão. Agarrei-o e pus-lhe um bocado de pimenta na língua, Deu um salto, aflito, aflito, a chorar. Assustada, arrependida, agarrei-o e fui a correr à casa de banho lavar-lhe a língua, lavar, lavar. 

Acho que não deu resultado nenhum. A mim é que fez efeito que ainda hoje, arrependida, me lembro do disparate que fiz. 

Casalinho mais fofo
Outra vez, com ar malicioso disse que uma qualquer era fofa. Não percebi o ar malicioso. Teria uns quatro ou cinco anos, nem sei. Perguntei: mas que é que tem ser fofa? E ele com ar cada vez mais malandro: Não sabes...? E eu, ingénua, Fofa...? E ele com ar de intelectual, a ensinar-me, 'gosta de mulheres...'. O esforço que fiz para não me desatar a rir. E a minha filha, uns seis ou sete anos, a dizer-me em segredo, 'mãe, acho que ele quer dizer fufa'. E eu siderada, sem imaginação para uma saída airosa. 

Agora imagine-se que chegava ao 8º ano e lhe davam a ler o livro do Valtinho. Então é que eu estava feita... Ficava legitimada aquela tentação que o rapaz tinha de dizer o que não devia. 


Disparate. Disparate puro. 

Mas, pronto, se não foi gente parva que cometeu tal dislate mas sim um vulgar erro informático já fico mais descansada. Embora, na volta, não foi erro informático nenhum. Foi erro mas de outra natureza: alguma admiradora, quiçá uma daquelas que lhe escrevem a oferecer-se para serem a mãe da criança que ele tanto quer parir, teve um lapsus vaginae e em vez de escrever José Rodrigues Miguéis saiu-se com Valter Hugo Mãe. Compreende-se, são parecidos.

Tirando isso, se o erro vai ser corrigido, o país pode sossegar e voltar à normalidade. Melhor dizendo: podemos voltar a ficar à coca a ver quando é que o láparo volta a sair da toca para fazer mais algum disparate e a malta se rebolar a rir. Até já dou por mim a pensar nele e a incitá-lo: salta macaquinho.

Ah. O mundo afinal é perfeito. Tão bom, tão bonitinho este mundo, fofinho mesmo. 

Até vou acabar o meu dia de hoje a ouvir as palavras sábias e sensíveis de tão ilustre e inspirador escritor.
(Valtinho, valtinho, o que seria do nosso reino sem ti, quiduxo mai lindo? - aqui que ninguém nos ouve, digo eu de mim para mim, sonhadora)
Vejamo-lo e ouçamo-lo:

Valter, o filho de mil homens e uma primeira frase demolidora.


Ui.


O que faz uma primeira frase.


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Mas olhem, meus Caros Leitores -- apesar de certamente arrasados com as palavras enlevantes de um dos nossos mais badalados e peludos escritores, um dos melhores Crisóstomos da nossa vida -- não deixem de descer para contactarem de perto com outros seres especiais. Melania, Ivanka e Donald. Fantásticos, eles.


¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

sexta-feira, outubro 18, 2013

A palavra aos admiradores de Valter Hugo Mãe. Será que sempre foram assim ou será que estão infectados pela bactéria da 'Desumanização? Pergunto. E será que se pode dizer: 'Diz-me quem te lê, dir-te-ei como escreves'? Pergunto.


Como é sabido pelos que por aqui vêm ler o que escrevo, debrucei-me há dias atrás sobre a inexplicável vassalagem que a comunicação social presta ao homem que vai nu, o Valter Hugo Mãe.

(Quem não tenha lido, caso queira conferir, pode clicar aqui, aqui e aqui)


Escrevi inexplicável mas é uma força de expressão. Sei perfeitamente qual a explicação. Tendo recebido o prémio Saramago e tendo caído no goto de um certo público feminino que, inclusivamente chega a oferecer-se para ter um filho dele, a editora joga forte no produto Valtinho. O mercado do género, especialmente quando se alarga a terras do Brasil, faz tinir a caixa registadora e, logo, uma boa ofensiva de propaganda, por cara que seja, paga-se por si.



O que me incomoda é que revistas da especialidade - que deveriam dar-se ao respeito - se prestem de forma tão desavergonhada à farsa. Dar notícia, uma coisa breve, ainda se percebia. A publicidade é necessária à sobrevivência da comunicação social tal como a conhecemos. Mas daí a darem honras de figura literária de primeiro plano já me parece chocante. Tentar sobreviver é uma coisa, venderem-se é outra. O Jornal de Letras, a Revista Ler, o suplemento Actual do Expresso mostram a sua decadência enquanto imprensa especializada séria quando concedem páginas e páginas a Valter Hugo Mãe, louvando-o como se de um escritor de primeira água se tratasse.



Felizmente, a semana passada, quer Clara Ferreira Alves, quer Ana Cristina Leonardo, no mesmo suplemento Actual, puseram-no no seu lugar ao referi-lo como um dos escritores sobrevalorizados da actualidade.



Mas o que aqui me traz hoje já nem é o dito Valtinho, o do sexo lavável e outras pérolas que tais. O que me faz alguma impressão é o tom dos comentários que me deixaram nos textos que escrevi.

Transcrevo-os pois, pelo que me é dado perceber, exprimem a opinião dos leitores-admiradores da dita criatura e, pela forma como a exprimem, acho que posso dizer que exprimem também a sua natureza.

Ora vejam.


Anónimo disse...

Tanta crítica à pessoa e zero de crítica à obra, sem informação concreta sobre a mesma.

É tão inteligente e superior, que se vê na necessidade de achincalhar para se sentir melhor. 

Não me interessa se publica ou não o comentário, como já deve ter entendido, penas me interessa dizer-lhe que, mais cedo ou mais tarde, lhe cairá um cão com pulgas no colo. 
E mais uma coisa: atenção à língua portuguesa, que nem a devida pontuação sabe fazer.
Daniela Martins
Braga
Outubro 12, 2013

Anónimo disse...
Pois é... os cães com pulgas não devem gostar das cadelas com raiva. Por isso não lhe cairá nunca um no colo (desta vez).
Outubro 14, 2013  

Anónimo disse...
Bota gelo e pomada que isso passa :D
lolololol
Outubro 18, 2013

Anónimo disse...
A dor de CORNO que por aqui vai =D
querias ter-lhe a fama e a capacidade? Vender livros e ter pessoas a admirar o trabalho feito?
"estudasses"!! ;)
inveja é feio, viu..?
Outubro 18, 2013  



*    *


Generalizações a partir de amostras de que não se sabe se são ou não representativas é coisa que não deve ser feita e, por isso, não vou dizer que, pela amostra, dá para perceber qual o público de Valter Hugo Mãe.

Por isso, vocês, meus Caros Leitores, ajuizem por vocês.

domingo, outubro 13, 2013

"Barómetro Literário" do Expresso. O PSI 20 dos escritores portugueses segundo os críticos literários do Actual, Clara Ferreira Alves, o dito José Mário Silva, Pedro Mexia, Luísa Mellid-Franco e Ana Cristina Leonardo. Muito bem. Gostei. E belas ilustrações de Gonçalo Viana. Estão de parabéns.






Depois de ter já aqui algumas vezes desfiado o meu desagrado pelos fretes que as revistas e suplementos literários fazem às editoras ou ao público mainstream (que consome tudo o que é vendido com roupagens propagandísticas bem engendradas), eis que hoje o Expresso me surpreende agradavelmente.

Por causa das doze páginas que o Viegas deu ao Valter não comprei este mês a Revista Ler tal como não compro Jornais de Letras ou o que quer que seja que estenda passadeira vermelha a artistas que se convencem que são escritores mas que, hélas, não passam nem por lá perto.


No outro dia fiquei passada com o José Mário Silva no Actual, todo ele a enroupar aquele fulano que gosta de andar nu e assim deveria ser mostrado. Quando um crítico literário louva os Valtinhos desta vida, eu, a partir daí, deixo de considerar a sua opinião e, por arrastamento, descreio dos jornais ou revistas que contratam críticos de gosto tão duvidoso. Não é por nada mas como é que, a partir daí, posso fiar-me no que dizem?

Claro que, em relação ao Expresso, não posso ser tão purista pois, não tendo eu tempo para ler jornais diários, tenho que me desforrar ao fim de semana e, além do Actual, gosto de ler todo o resto (excepto o que se refere a desporto).


Posso achar que o Ricardo Costa gosta de se armar em profeta - e de, a partir daí, se ver na necessidade de provar que tem ou vai ter razão ou de justificar porque é que não a teve - e que, pior ainda que isso, tem pouco sentido crítico, não é intuitivo, se um palerma qualquer diz uma parvoíce qualquer, ele não duvida. Posso também achar que é de gosto muito duvidoso ter lá uma criatura como o Henrique Raposo, que é vulgar e de um reaccionarismo primário, ou um Daniel Bessa que defende uma coisa e o seu contrário, tudo sempre fora de tempo e dando palpites sempre ao lado, ou um Henrique Monteiro que escreve banalidades com ar proficiente, demonstrando que é tão influenciável que até chateia - mas, enfim, tem também uma Clara Ferreira Alves, agora um Pde José Tolentino Mendonça, um Nicolau Santos, um João Garcia, um Fernando Madrinha, um Pedro Adão e Silva e outros cujas opiniões gosto de ler, mesmo que nem sempre concorde com o que escrevem.


Por isso, reportando-me agora apenas à crítica literária, não é uma andorinha como o José Mário Silva que estraga a primavera e, portanto, de forma fiel, lá continuo todos os sábados a ler o Expresso.


Mas, dizia eu, esta semana surpreenderam-me e redimiram-se. Com um trabalho como o de hoje o Expresso fez um favor aos seus leitores.

A ideia do Expresso foi dar oportunidade aos críticos literários residentes de, no que à literatura portuguesa diz respeito,  separarem o trigo do joio, indicando quais, em sua opinião, são os escritores mais sobrevalorizados e quais os mais subvalorizados. 


E, ao fazê-lo, revelaram a sua própria qualidade de críticos literários. 

Os leitores do Actual do Expresso agradecem esta separação de águas.

Não apenas é interessante confrontarmos a nossa opinião pessoal com a deles como ficamos a perceber melhor quais os seus referenciais.



Clara Ferreira Alves coloca Alexandre O'Neill e 'Subvalorizar "novíssimos"' no grupo dos que deveriam merecer mais atenção. 


E, de forma clara, aponta o dedo aos jogos de interesse que proliferam nos pequenos meios literários que sobrevalorizam uns, impedindo a valorização de outros que a mereceriam. 



Refere explicitamente que a LER é um produto de lobby, o de Francisco José Viegas com o seu index de inimigos e desagrados


Concordo com ela.


Por outro lado, coloca Miguel Torga e Valter Hugo Mãe no grupo dos que são sobrevalorizados. Sobre Miguel Torga não sou tão justiceira como ela mas, sobre o segundo, faço minhas as suas palavras: é um dos exemplos mais cómicos do cabotinismo literário lusitano.


Com José Mário Silva não me identifico, excepto talvez no que se refere a Carlos de Oliveira que acha que é subvalorizado face ao que vale. Não me revendo nas suas restantes opções, passo à frente.



Pedro Mexia deixa-me curiosa com as suas escolhas sobre os que acha que mereceriam melhor reconhecimento: Rui Knopfli e Teresa Veiga. Conheço mal o primeiro, não tenho, pois, ideias formada sobre ele, e não conheço Teresa Veiga. Tenho um único livro dela e acho que ainda não li. Tenho que ir averiguar. Prezo a opinião de Pedro Mexia (apenas uma vez achei que estava a fazer um frete mas percebi depois que, a ele, a amizade por vezes tolda-lhe a isenção e, enfim, sendo isso raro e sendo por uma boa causa, por aquela vez passou).


Quanto aos que acha que valem menos do que o valor que lhes é atribuído, acho que Pedro Mexia foi um cavalheiro: sobre Luis Sttau Monteiro cingiu-se à peça 'Felizmente há luar' e, ao referir Florbela Espanca, falou da sua vida complexa e tempestuosa que despertou uma atenção tal que ajudou a sobrevalorizar a sua obra. Concordo.


Luísa Mellid-Franco escolhe Fernando Campos e Pedro A. Vieira como os mereceriam mais atenção mas não posso opinar: não conheço a obra de um e outro. 


Nos que considera sobrevalorizados coloca António Lobo Antunes (com excepção para os três primeiros livros). Eu juntaria às excepções os livros de Crónicas. Os restantes livros são como diz Luísa Mellid-Franco: circulares, déjà vu. Junta J. Rodrigues Santos como um dos que não merece a fama que tem. 


Custa-me ver António Lobo Antunes ao pé do gnomo no jardim, parece-me que, apesar de tudo não há comparação. Mas, enfim, embora guardando as devidas distâncias, concordo que o primeiro é sobrevalorizado no que toca aos romances a partir dos três primeiros e concordo que o segundo não pode ser considerado escritor.





Finalmente Ana Cristina Leonardo. Gostei das suas escolhas. Nos que considera que deveriam ser melhor divulgados, refere Teresa Veiga, tal como Pedro Mexia o fez. E junta Ferreira de Castro, o que me agradou muito. Li a obra inteira de Ferreira de Castro ainda era menina e moça e acho que foi com ele que conheci a vida dos que, vivendo em condições difíceis, conservam a dignidade, dos que têm a sabedoria da vida em tempos de neve, nas serras, entre pedras, mãos calejadas, aventuras e sobrevivência a par de uma vida dura. E a Selva, que tenho em luxuosa edição, capa de pele e ilustrações de Júlio Pomar, que me ensinou o que é natureza humana quando a sobrevivência tem lugar na solidão de uma natureza cuja vida rebenta por todo o lado, a toda a hora. Gostei muito que Ana Cristina Leonardo se tivesse lembrado de Ferreira de Castro.



Como concordo com as duas estrelas de pechispeque que a falta de exigência vigente confunde com estrelas de verdade: José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe. Sobre o primeiro gostei, salvo erro, do Nenhum Olhar e gosto de um ou outro poema. Mas de todos os outros penso que são puro pastiche, lugares comuns, kitch, coisa armada nem sei em quê, uma repetição saturante. Sobre o segundo, o homem do sexo lavável (vá lá, ao menos é limpinho), faço minhas todas as palavras de ACL (nomeadamente quando diz que, se toda a literatura é fake, convém que não se note logo).

Ana Cristina Leonardo é uma arretada do caraças (e agora falo também da sua vertente pessoal, que conheço através do seu Meditação na Pastelaria). Tirando as vezes em que se atira, sem dó nem piedade, à jugular do colega de profissão, Eduardo Pitta - faz-me impressão aquele destratamento impiedoso para com um colega; acho que poderia ser crítica sem ser tão cruel ou, se sente mesmo necessidade de o mutilar, então que o fizesse em privado - geralmente estou de acordo com ela e até acho piada à forma desabrida e destemida como dá o peito às balas. Acho que conserva aquele despudor e aquela irreverência próprios das adolescentes difíceis - e isso tem graça.



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Como referi no título da mensagem, está também de parabéns o ilustrador Gonçalo Viana. Belo trabalho. 


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A música é Sou tua numa interpretação de Marta Dias com António Chainho. Gosto muito da voz de Marta Dias. Escolhi-a porque queria uma música portuguesa pouco conhecida e interpretada por alguém que não fosse maisntream - e foi logo dela que me lembrei


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E, por agora, por aqui me fico. Tenham, meus Caros Leitores, um belo domingo.

sexta-feira, outubro 04, 2013

E sobre a conferência de imprensa de Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque e Carlos Moedas a falarem da (8ª e da 9ª) avaliação da troika e do défice e mais não sei quê não vai nada, nada, nada...?! ------ Então não? Claro que vai. Para cada um um nariz encarnado, uma cabeleira aos caracóis, uma lata de tintas para pinturas faciais e uma caixinha cheia de pequenas e médias pílulas laxantes. Se calhar mereciam coisa mais apropriada mas a mim, agora que os vi na televisão, é o que me ocorre.



Os três artistas, Tortas, Pinokia & Porta-Moedas
anunciando qualquer coisa de que ninguém se lembra muito bem

Fazendo de conta que o brutal corte anunciado há meses pelo Governo já está em vigor e que, portanto, o que aí vem não é nada de novo, Paulo Portas, o mestre da prestidigitação, lá nos apareceu, rodeado pela sua amiga pinokia e pelo porta-chaves, digo, porta-moedas, a dizer coisa nenhuma (lá está: deve ser aquela cena da caixa vazia a funcionar à força toda).


Rodando as palavras na boca com o vagar que se lhe conhece (no que o Pedrito da mota o tenta imitar), Paulo Portas não estava na sua praia. 

Números não é lá muito com ele: ele é mais a vermelhinha, a bisca lambida, o truque, o coelho na cartola. 

Mas, ainda assim, não se atrapalhou. Inventou aquela das pequenas e médias poupanças e ficou o dia feito. 


Um bom sound bite em que os jornalistas peguem é o que é preciso. O resto é treta. 

Os funcionários públicos e os reformados vão levar pela medida grossa? Azarinho. Não falamos nisso que eles já estão debilitados, já não dão por nada.

Os impostos vão continuar ferrados na carne? Azarinho. Levem a sede das empresas para a Holanda. Ah, não têm empresas? Azarinho, não fossem aselhas, pusessem os olhos nas empresas do PSI 20.

A educação e a saúde vão levar mais um corte dos valentes? E então? Que mal tem isso? "Não têm pão, comam brioches", não diz que dizia a outra? E eu, que também gosto de viver em palácios, digo: Não há professores? Então tirem as crianças da escola, ora. E não há compressas nem dinheiro para roupa lavada nos hospitais? Ora, o que é que eu tenho com isso?, levem trapos de casa. 

Mas o melhor mesmo é não se falar em nada disso. 

Estão a ouvir? 

Vá lá, prestem atenção às tácticas que eu sou o vice-primeiro-ministro e quem manda em vocês sou eu. 

Ouçam que eu vou explicar como é que vamos fazer.. 

Eu introduzo o tema, faço uas flores, uns sorrsos compassivos, e depois entra você, pinokia, a dizer rácios, a baralhar a malta com números vagos que ninguém entende, e, se algum jornalista lhe perguntar pelos papéis que já ninguém sabe se andaram perdidos ou escondidos, ou se alguém perguntar pela saúde dos swaps, diz que terá todo gosto em dizer mais umas quantas mentiras, que nunca se furtou a isso, e que trocar as tintas e os papéis é mesmo a sua especialidade, olarila, ou não estejamos a falar da miss suápe (e, nessa altura fará um sorrisinho sexy de olhinhos fechados, toda franzidinha para ficar mais fofa, certo?).

E depois, à vez, dizemos que bla bla bla, bla bla bla, bla bla bla e, no fim, vou perguntar se a senhora ministra quer acrescentar alguma coisa e depois corrijo, ah, é o senhor porta-moedas, e lá virá você, porta-moedas, dizer bla, bla, bla, bla, bla, bla - e fica a festa feita.

Estamos combinados?

/\

Foi isto, meus Caros, aquilo a que assisti e que imagino que terá sido precedido pelos ensaios que aqui imaginei.

Resumo? Bola. Zero. Coisa nenhuma. Coisa nenhuma, disse eu..? Qual quê...? A desgraça do costume.

O que concluo eu disto tudo? Que síntese, em termos objectivos, é que posso fazer daquela conferência de imprensa?

Pois bem, concluo que o Paulo Portas ia bem vestido, aquela roupa é bonita e cai-lhe bem, estava elegante. De resto, ainda não percebeu que, a continuar assim, na palhaçada, qualquer dia não tem nem 1% de votos. Já ninguém o leva a sério. Se não tinham nada para dizer, mais valia que ficassem calados. 

E mais? Que concluo eu mais? Ora deixa cá ver... Concluo que, naquela mesa, fazia falta uma pessoa para a coisa ficar verdadeiramente composta. Quem...? Ainda não adivinharam...? Ora, ora... puxem lá pela cabeça...

O Valtinho. Olarila. Deveria ter sido ele a encerrar a sessão e a responder às perguntas. Assim já aquela conferência tinha o seu momento intelectual. Mas intelectual mesmo a sério. Ui, ui. 

Ah e então em quanto é que vai ficar a dívida bruta?, perguntava o jornalista da TSF.

E respondia o Valtinho, Ai, não seja tão cruel, não lhe chame bruta. Eu quando era pequenino tinha muito medo das dívidas brutas, achava que deviam ter um buço com pêlos muito rijos e depois, quando eu conseguisse que elas me dessem beijos na boca, já viu, ficava com o céu da boca todo arranhado.

Aliás, agora que penso no Valtinho, lembrei-me: o verdinho Maduro não ia arranjar um porta-voz para substituir o Lombinha dos briefings?

Então...? Não se está mesmo a ver quem seria a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa...? O Valty, claro. O Valty.

Valty! Valty!

Vamos fazer uma manif a exigir: Valter a porta-voz! Valter a porta-voz! Valter! Valter! Valter!

Mas adiante que o tempo ruge.

E o que é isso de a troika para o ano obrigar o défice a ficar nos 4%? Mas alguma vez o défice obedeceu a ordens da troika? O défice nas mãos desta trupe é um desobediente, ainda ninguém percebeu?


O Cacos bem pode esforçar-se para ter mão em alguma coisa; mas, do que a gente vê, nem nele próprio tem mão, diz uma e coisa e o seu contrário aparentemente sem dar por isso. Diz coisas que a até a ele próprio devem deixar de boca aberta. E todos se lhe riem na cara. Ele é o Pacheco Pereira a defender o Rui Moreira contra o Menezes às escâncaras, ele é a Manuela Ferreira Leite a gozar com ele que nem uma perdida, ele é cada um a dizer sua coisa e a fazer o contrário ou o que calhar. A bagunça total. O PSD e o desGoverno na maior baderna.


Não sei, aliás, se não será Passos Coelho o masoquista de que Cavaco por aí anda a queixar-se. 


Estou a vê-lo: o Cacos, de gatas e com um pom-pom de coelhinho no rabo, e a Laurinha vestida de cabedal e bota alta a dar-lhe chicotadas, Ora toma, ora toma...!

Será...?


*

As imagens melhoradas são da autoria do fantástico blogue We Have Kaos in the Garden.

Bem, fico-me por aqui, que já estou cheia de sono. Tinha coisas tão boas para dizer e logo se havia de ter metido isto pelo caminho, senhores. A ver se amanhã não me esqueço. 

Se descerem até ao post seguinte poderão ver como tenho andado a ser assediada pelo Valtinho. Esse ubíquo do caraças aparece-me em todo o lado, credo, um verdadeiro pesadelo.

Muito gostaria ainda de vos convidar a darem um saltinho até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. A música é linda, uma bela música de amor pelo Trio de Keith Jarrett. A seguir é Vasco Graça Moura que nos deixa um poema sobre os cálamos calados de setembro e são as minhas palavras que voam sobre uma praia desolada.

*

Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma sexta feira do melhor que há.

Valter Hugo Mãe na capa da revista Ler. Lá dentro 12 páginas de entrevista com a mesma criatura. A capa do Jornal de Letras...? Valter Hugo Mãe. No outro dia na televisão? Valter Hugo Mãe. ... Entro na FNAC e para onde me vire... Valter Hugo Mãe. Mas o que é isto, senhores? Está tudo doido? Este país ensandeceu ou quê? De uma coisa estou eu certa: Valter Hugo Mãe está para a literatura como o Passos Coelho para a política. E que me caia aqui no colo um cão com pulgas se estiver errada.


Francisco José Viegas num momento de ternura com o seu Valtinho,
esse Fofinho

Claro está que não vou comprar a revista Ler, não faço parte do grupo de masoquistas de que Cavaco Silva tanto se queixa. 


Ma-so-quis-ta é o que é toda a gente que consuma o valtinho às colheradas. Ma-so-quis-ta.  

In-sus-ten-tá-vel é o que é esta overdose de um prato tão requentado como o piroso do Valtino. Não se aguenta.

Fartinha da cara deste fulano, fartinha. Está em todo o lado. 

Assim vão estes tempos. Predomina o absurdo. Mas um absurdo sem glamour, sem graça, um absurdo pindérico.

Deve ser isto a decadência: uma total ausência de exigência, de critério. Vale tudo. Tudo. À frente do Governo um Passos Coelho, e em tudo o que é jornal ou revista ou canal de televisão (órgãos de comunicação social que deviam respeitar a literatura e a arte) o Valtinho. Já vale tudo. A mediocridade a ocupar todo o espaço como uma mancha de óleo.



Valtinho (ou Valty)
um artista que gostava de ser escritor
mas que é apenas um sujeito que vai nu
Em relação a este sujeito, o Valter, interrogo-me: mas ninguém vê que a criatura vai nua, senhores?


Eu, como não sou masoquista e prezo a sustentabilidade, só me apetece mandar uns quantos para reciclagem: cacos coelho, valtinho, cavaco, todos os pseudo críticos literários que estendem a passadeira vermelha a tudo o que é nulidade, a todas as universidades de verão que formam jotas e amigos dos agiotas, albuquercas, portas aos pentas, menezes e isaltinos, searas e cães com pulgas, e mais uns quantos. 


Tudo para reciclagem. Tudo para compostar, reciclar, o que quiserem desde que seja longe de mim. Bolas para isto.


Leio um excerto do que deve estar no interior da revista e a única coisa que me ocorre para caracterizar o que leio é que é uma pomada. Ora vejam (destaques meus):

Eu achava que ia morrer virgem, que era tão feio que nunca ninguém me tocaria, achava que nunca arranjaria emprego, que levaria milénios para aprender a fazer alguma coisa, nunca procurei uma editora para editar nada, pensei sempre que escrevia para me ajudar a pensar melhor e sobretudo para fugir da burrice, para não ser tão estúpido e tão alheio à inteligência.
Achava que morreria cedo, que nunca conseguiria entrar na tropa porque não era robusto o suficiente. Com 18 anos devia pesar 42 quilos, era só ossos e tudo me magoava, tinha sete ou oito gripes terríveis por ano, caía de cama constantemente. Acabei o liceu era um aluno imberbe e não sabia nada, não tinha gostado nada do liceu. A minha vida só começou a fazer sentido mais tarde.
Na universidade quis namorar com uma cachopa que me dizia que só namoraria comigo pelo meu lado interior, porque eu era tão feio. E ela também era feia e eu não tinha coragem de dizer. Hoje se a apanhasse... Eu só me candidatei porque achei que ela era tão estrupício quanto eu e estaria à altura. Esta não me vai dizer não porque, coitada.
Obviamente tinha de esperar muito tempo para construir uma autoestima qualquer e sobretudo para me curar. É preciso muitos livros para me curar. Ao Lobo Antunes, que eu saiba, nunca lhe faltaram umas cachopas. Era lindo, teve mulheres lindíssimas. Sempre cobicei muito a beleza.




E mais não digo para não parecer que até eu estou a publicitar o estrupício - e citei. Quem quiser saber a minha opinião sobre a criatura que queria fugir à burrice (e citei de novo - e só não acrescento que queria mas não conseguiu porque o sucesso que está a ter só prova que burra sou eu) é clicar aqui e aqui.

E adiante.

*

[Nota: Cheguei ao fim e ainda nenhum cão com pulgas me caíu no colo. Logo...]

terça-feira, setembro 24, 2013

A desumanização de Valter Hugo Mãe que me deixa quase em estupor catatónico só de ver a contracapa do livro. Imagine-se como ficaria eu se lesse o livro todo. [Mas, face a esta minha reincidência, interrogo-me: será que corro o risco de estar a incentivar a compra de tal utopia de purificar? Se há, aqui deixo já o meu ALERTA: cuidado que este livro é do mais plástico que há!]


A sério: não sou dada a raivinhas ou embirrações à toa. Se acho um sujeito um parvo de primeira, tendo a ignorá-lo. Mesmo a nível profissional, por vezes, se tenho que indicar pessoas para qualquer coisa, acontece-me esquecer-me de alguns. Nem é por mal. Esqueço-me das pessoas que acho palermas. Esqueço-me mesmo. Nada a fazer. O pior é quando alguém armado em freud de algibeira me diz com arzinho cúmplice, esse esquecimento deve querer dizer qualquer coisa... Finjo que nem percebo, não estou para fazer confidências sobre os meus palerminhas de estimação.

Por isso, mais depressa falo do que gosto do que daquilo de que não gosto.

Claro que tenho que abrir excepções: é o caso dos ignorantes e incompetentes que nos (des)governam. Aí não é que goste de falar deles: não gosto. Falo deles quase à força, contrariada. Mas é quase um dever de cidadania: sinto que não posso refugiar-me no meu comodismo, sinto que tenho que os denunciar, que ajudar a correr com eles. Se eu fosse só eu talvez conseguisse abstrair-me e ignorá-los olimpicamente. Mas não: tenho descendência a quem gostaria de saber com futuro, tenho ascendentes a quem gostaria de ver a viver em tranquilidade, tenho amigos que estão desempregados, tenho amigos com famílias desestruturadas, cada um em sua parte do mundo, tenho olhos para ver o que se passa à minha volta, tenho consciência.

Por isso, de Passos Coelho, da Albuquerca, do Crato, do Paulo Portas (que agora por aí anda com ar faceiro a apregoar que vai a caminho da estratosfera subindo uma qualquer escada metafísica), desses eu tenho que falar. Uma praga que veio com assessores, consultores, adjuntos e adjuntos dos adjuntos para que todos juntos resultem numa soma nula, uma malta que joga ao lose-lose, e todos tão palermas que facilmente são metidos no bolso por quem, de facto, manda no país (os bancos, a malta dos fundos financeiros, os burocratas, a malta que trafica interesses, essa raça de gente que é apátrida, amoral). 

Também, de vez em quando, abro a porta à pink society que escancara as portas da sua vida às capas das revistas e digo qualquer coisa, geralmente na brincadeira. Essa é gente que não faz mal a ninguém, são os pink salpicos da espuma dos dias, pode parecer que estou a gozar mas não, sinto até uma certa ternura. Coitada da Judite tão magrinha, não merecia a desfaçatez do Seara, e toda a gente a falar da tal vereadora, e das cenas no telemóvel dele, coitada da Judite, e a Rita Pereira que disse que estava magoada para não dançar e, afinal, anda a curtir a night, que ela até é boa pessoa e tem a mãe do Angélico a trabalhar lá em casa, e o Pedro e a Kelly também com qualquer coisa, e a Cristina Ferreira que tem uma química com o Senhor Alberto (e eu confirmo, que ontem bem os vi no mel, todos agarradinhos no slow, cheek to cheek, sorrisinhos derretidos). Coisas assim, converseta, nada de mais, nada de mal. Falo por falar. Vou ao supermercado e vejo as capas das revistas, toda cusca, e fico logo a saber as últimas, nem preciso de lhes ver os interiores.

Mas agora, com um ou dois dias de intervalo dou por mim com vontade de vir aqui dar umas bicadas no Valtinho (claro que ao falar em bicadas corro o risco que algum engraçadinho me diga, sorrisinho atrás da orelha: quem dá bicadas são as galinhas; seja, quero lá eu saber disso). E vocês, os que forem perspicazes, são até capazes de ver a perigosa liaison entre este tom de escrita e o próprio do Valtinho.

O caso é o seguinte: fui hoje à hora de almoço, numa corrida, dar uma espreitadela à FNAC para ver em que param as modas. Mas a coisa não correu bem. Há aquelas coisas do topo de loja e prateleiras de destaque e não sei que mais. Pois não é que estava tudo cheio do livro do Gulbenkian, o último do José Rodrigues dos Santos, mais o espumoso livro do Valtinho? Por todo o lado. Meia volta e lá estavam os dois, cheek to cheek, na maior intimidade, o Orelhas e o Valtinho.


Pensei, ó senhores, mas para que hei-de eu ser tão difícil? Bora lá, vamos lá ver se não é preconceito meu, daquele muito mau, se calhar estou a ser injusta.

No do Orelhas nem peguei. Não dá. Pode vender como pipocas, mas eu não acho graça a pipocas, aliás até me aborrece ir ao cinema porque estar ali no escurinho - que devia ser uma coisa boa e não é por causa daquele cheiro adocicado e daquele ruído cavalar da turba a dar à mandíbula - já se torna uma coisa maçadora. 



A desumanização do Valtinho, digo:
Valter Hugo Mãe
Mas peguei no livro do Valtinho. A capa toda adolescente, figurinhas coloridas, devem ser bonequinhos do imaginário islandês, sei lá. Mas até aí, vá lá. O caraças foi a contracapa. 

Pensei, isto não é possível, não dá, aquele garoto José Mário Silva devia rezar quinhentos pais-nossos por ter gabado tanto tal coisa.

Então sabem o que fiz? Saquei do telemóvel e fotografei, não fossem vocês pensar que estou para aqui a alucinar.

As fotografias ficaram todas tortas, tive que tirá-las à pressa e meio à socapa. Estava uma senhora ao meu lado a folhear um livro e eu senti-me quase envergonhada por estar a fotografar o livro, às tantas a senhora ainda pensava que tanto eu gosto do Valtinho (aquela fotografia em que aparece nu tem os seus méritos, não digo que não) que até lhe fotografo os livros. Ó senhores, o que eu sofro para lhe poder dar uma ou outra bicadita bem fundamentada, com provas circunstanciais.



Leio então:


Mais tarde também eu arrancarei o coração do peito para o secar como um trapo e usar limpando apenas as coisas mais estúpidas

(palavras do grande escritor e devem ser das melhores para merecerem este destaque)



O livro mais plástico de Valter Hugo Mãe. Um livro de ver. Uma utopia de purificar a experiência difícil e maravilhosa de se estar vivo.

(palavras da editora).


Percebem agora porque é que eu corri o risco de ser apanhada por algum conhecido a fotografar isto? Confesso: para poder ler estes nacos de prosa com atenção. Para ver se percebo.

Um livro mais plástico? O que será lá isso...?

Uma utopia de purificar a experiência difícil bla bla bla...? Mas isto estará, ao menos, bem escrito...? Caraças. 

E secar o coração como um trapo para limpar as coisas mais estúpidas...? Mas o que vem a ser isto? Será coisa da editora para gozar com o bom do Valtinho? Ou terá sido o Valtinho que escolheu esta pérola como best of da sua obra prima?

Juro: isto é para mim cá uma dor de alma que vocês nem imaginam. Com tanto bom escritor que tem que suar as estopinhas para conseguir publicar a sua escrita honesta e escorreita, e há depois estes artistas que conseguem a proeza de cair em graça, ter honra, fausto, prateleira de topo e lágrima no canto do olho da matrona, conseguindo facturar como pipocas. Ó senhores que este mundo é muito injusto.

*

Relembro que o meu anterior desabafo sobre este putativo artista pode ser visto aqui.

*

A ver se ainda cá volto.