Talvez um dia o Passos Coelho, depois de acumular negas para a Câmara de Lisboa, resolva convidar Cláudio Coelho.
Cláudio Coelho, conhecido por ser jogador de poker e, sobretudo, pelas suas participações nos reality shows apadrinhados por Madame Teresa Guilherme e pelos mediáticos romances que vai tendo com estrelas do seu calibre, uma das quais Cátia Aveiro, embalado pela fama, com o ego em cima face a ser capa de tantas revistas e a ser tão requisitado, resolva que está na hora de pôr a sua arte e manha ao serviço do povo.
E talvez o povo português, iludido, seguindo o exemplo dos americanos que puseram um biltre platinado na presidência, achem que mais vale um não político, um sujeito esperto e charmoso, do que um qualquer outro sem graça e com menos antena do que o Cláudio Coelho -- e o elejam.
E, portanto, depois do que tenho visto nos últimos tempos, não me admiraria muito que também o nosso pobre país aparecesse um dia maculado pela presença de um qualquer espécime desse estilo ao comando dos destinos de uma cidade, quiçá até de todo o país.
Hoje, enquanto não chegava a nossa vez na caixa do supermercado, deixei o meu marido na fila e fui espreitar as revistas. Uma notícia deixou-me espantada: Maria Vieira diz que o desaguisado com Ana Bola ainda acaba no tribunal. Pasmei. Sempre achei que fossem amigas e gente decente. Abri a revista e li em diagonal. Tricas expostas ao público no facebook, bloqueio de uma e outra na rede de amigos, cenas que não percebi mas que me pareceu terem a ver com comentários no facebook.
Mulheres já maduras, com mundo, e para aí andam em bate-boca nas rede sociais. É este o mundo em que tudo se propaga, onde tudo se empola, emporcalha e desvirtua.
É o tempo da democracia mais absoluta, sem representantes. Cada voz vale por si e tanto como as demais. É este mundo imediatista, populista, em que a opinião de um burro vale tanto como a de um sabedor, em que um cão ou um gato pode ter a sua página com milhares de seguidores, em que todos seguem todos e todos sabem quem são os amigos de um e outro, em que toda a gente solta likes ou emite opiniões que não valem um caracol mas que logo se enchem de likes e se propagam como coisa importante. Ecos de ecos de coisa nenhuma.
Mais: os mais carenciados, os mais vulneráveis são os primeiros a gostar de espreitar a vida de fausto dos ricos e famosos e os primeiros a darem o seu voto quando uma qualquer dessas bestas douradas se apresenta a votos, mesmo que a besta anuncie que vai espezinhar ainda mais os carenciados e favorecer os esquemas, a fuga ao fisco ou, até, o comportamento mais misógino, retrógrado e execrável.
Não sei como se combate esta onda. Mas sei que tem que ser combatida.
O que se passa nos Estados Unidos é de vómito. Aquelas imagens que nos chegam, o Trump à secretária -- rodeado de figuras de enfeite que mais parecem saídos de uma comédia do Borat -- a assinar determinações que parecem anedotas de mau gosto, são de uma pessoa se arrepiar. Assina e mostra para as câmaras. Só falta aparecer a seguir uma do género da Teresa Guilherme, com um vestido coberto de lantejoulas, apertado para além do razoável, com decote até ao umbigo, cabelos até meio das costas e riso alarve, aparecer a comentar e louvar o sucedido. Os reality shows a chegarem à Casa Branca. O impensável a acontecer. E nós a assistirmos. Em directo e a cores.
E, no entanto, se Donald Trump, depois de todo o lixo que já produziu nesta semana, se apresentasse de novo a votos era capaz de ainda ter uma votação idêntica à que obteve.
Pacheco Pereira tem escrito sobre isso e tem escrito bem. Mas ele elucubra sobre como estamos. Chora sobre leite derramado. Chove no molhado. O mesmo que eu estou a fazer mas com sabedoria e um mérito que não tenho. No entanto, face ao que está a acontecer é preciso mais do que isso, é preciso quem veja mais longe e saiba como travar esta onda.
Isto a que assistimos é a democracia em formato lúmpen e daqui, como se vê, não sai nada de bom; só sai rebotalho.
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E, também já agora, uma graça
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A Boa Mãe -- La Madre Buena (The Good Mother)
The tale of a Mexican mother torn between her politics and pleasing her only son’s request – to have a Donald Trump piñata for his birthday party.
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