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sexta-feira, junho 20, 2025

Podem desmentir-me se quiserem

 

Isto é uma catedral

Gosto agora muito de me sentar no jardim ou no campo, em especial à tardinha, a olhar para o ar, para o céu, para as árvores. 

No jardim há agora um perfume novo, creio que a mistura de várias flores. É um perfume floral, isso sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, doce e íntimo. Os pássaros também gostam. Descem e vêm passear perto de mim, entretendo-se a debicar o que encontram na terra. 

Se estou sob as árvores gosto de as admirar, vendo-as de baixo. Não existiam e foram-se tornando a maravilha que são. E gosto de ver as flores através da luz. Ou a luz através das flores. Parece o mesmo mas não é. 

As nuvens também me cativam. São efémeras como uma aragem. Não têm a noção do tempo nem do espaço, são livres como uma partícula elementar, como uma palavra solta ao vento, como espíritos vogando por aí.

Isto é um deus, e creio que daqueles que não são particularmente santos
(honi soit qui mal y pense).

Muitas vezes tenho um livro comigo mas, se o livro não tem nada que me impressione (e impressionar no sentido em que a luz impressiona a película, nela gravando imagens, sombras, movimentos), fecho-o e deixo-me estar.

Isto é um milagre. Inexplicável. Fruto da inspiração de uma inexistente divindade

Tenho saudades de fotografar com as minhas máquinas fotográficas. Foram-se estragando e, depois, para quê continuar?, já tinha milhares de fotografias. Faz sentido continuar a acumular fotografias? Não vou voltar a vê-las. O que gosto é do momento em que capto a imagem. A partir daí já não me interessam. Agora uso o telemóvel. E vou apagando pois estou sempre a precisar de mais espaço.

Isto é uma obra de arte. Fortuita. Com a vantagem de não ser um Miró 

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Já contei muitas vezes que, quando fazemos as nossas caminhadas nestes dias de calor, mal transpomos e entrada do nosso jardim, sentimos a frescura que nele se acolhe. A temperatura está uns graus abaixo da temperatura fora dele. São as árvores, as trepadeiras, as flores, é o carinho que retêm.

In heaven a mesma coisa. Vou andar lá em baixo e, no meio das árvores, é outra a geografia. 

Em qualquer dos casos, o tempo suspende-se. 

Hoje estava sentada no meio das flores, o cão deitado, os passarinhos a cantar. Pensei que poderia ficar assim saecula saeculorum. Talvez bastasse não me mexer. O mundo à minha volta a girar e eu ali, parte do tempo, imóvel como o tempo, uma partícula imaterial suspensa na infinitude do espaço.

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E para que não protestem com o teor da conversa, para quem prefere temas mais concretos, aqui está um vídeo que poderia muito bem servir de inspiração a quem tem a responsabilidade de melhorar os espaços públicos.

THE MINI FOREST - Rewilding using the Miyawaki Method

Terrell Wong is about to plant 100 trees in her small Toronto backyard, a dense mini forest based on the Miyawaki Method. What at first seems like a simple act soon evolves into a complex story about dirt, lawns, fungus, wildlife, native species, and finally the human brain. An anti-lawn anthem from director David Hartman, The Mini Forest explores this innovative form of afforestation and the importance of restoring the native woodlands that once covered so much of Canada and the World.


Uma boa sexta-feira

quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Les beaux esprits se rencontrent

 

Quando tinha para aí uns dezassete ou dezoito anos, não sei bem, o meu namorado da altura perguntou-me, quando fiz anos, se havia algum disco que eu gostasse de ter. 

Naquela altura o conhecimento que havia -- sobre tudo mas, neste caso, sobre música internacional -- , era rudimentar face ao que hoje se passa. Hoje, com o youtube, o spotify e a internet em geral, o acesso ao conhecimento é instantâneo, praticamente universal, ubíquo. Mas, naqueles longínquos anos, os meus amigos eram muito apreciadores, havia sempre alguém que trazia discos de fora, e havia sempre festas com baile incluído, e, ou assim ou de qualquer outra maneira, eu ia minimamente sabendo sobre o que, a esse nível, se passava no mundo. 

Disse-lhe que gostava do último LP do Bob Dylan. Ele ficou espantadíssimo. Não fazia ideia que eu soubesse da existência do Bob Dylan ou que gostasse dele a esse ponto. Se bem me lembro da expressão que fez, creio que terá até ficado preocupado, sem saber se conseguiria obtê-lo, em especial no prazo de meia dúzia de dias, até eu fazer anos.

Mas ofereceu-mo. Provavelmente está ainda junto dos outros LPs que trouxe de casa da minha mãe. Não sei.

O que sei é que eu gostava imenso de ouvir o Bob Dylan. Adorava. Tudo ali era desalinhado: a voz, a música, a letra, ele próprio. E eu gostava muito disso.

Do Timothée Chalamet também sou fã. Também é desmanchado e também parece ter sido tocado por um talento insólito, pouco usual. Sempre que o vejo a actuar, fico espantada. Que rapaz versátil, que capacidade de representar inacreditável. Agarra qualquer papel e, em todos eles, é fantástico. Faz sempre que fique claro que bem representar é uma arte. Ainda não o vi a representar o Bob Dylan mas quem viu diz maravilhas.

Quanto a Anderson Cooper já aqui o trouxe muitas vezes: gosto imenso dele. É um repórter e um entrevistador extraordinário, talvez o melhor. Não há reportagem ou entrevista que ele faça que não seja irrepreensível, memorável ou quase.

Por isso, a entrevista que conduz com o Timothée Chalamet a propósito da sua interpretação do Bob Dylan é um prazer.

Timothée Chalamet: The 60 Minutes Interview

“A Complete Unknown” actor Timothée Chalamet, known for  “Dune,” “Wonka,” and “Call Me By Your Name” grew up wary of acting. He explains why and how he ended up making movies.

"60 Minutes" is the most successful television broadcast in history. Offering hard-hitting investigative reports, interviews, feature segments and profiles of people in the news, the broadcast began in 1968 and is still a hit, over 50 seasons later, regularly making Nielsen's Top 10.


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E uma bela sexta-feira!

domingo, dezembro 08, 2024

Esculturas feitas por robots...? E continua a ser arte...?

 

Sou amiga de longa data de uma escultora. Durante muito tempo apenas soube dela através de notícias. Mas era ela pequena e já eu percebia nela aquele toque para as artes. Lembro-me de, no liceu, nos primeiros anos, termos que fazer um desenho com guache. Eu e quase todos fizemos desenhos infantis, básicos. Ela não, fez um desenho de bailarinas. A pintura tinha movimento, tinha cor, tinha leveza e graça. As bailarinas estavam em pontas, debruçavam-se, saltavam, e tinham saias de tule, transparentes, e tudo ali dançava. Nesse dia fiquei estupefacta. Pinturas assim só conhecia de quadros nas paredes. Jamais pensaria possível que uma de nós pegasse em pincéis e tintas e, na maior das naturalidades, fizesse uma coisa assim.

Desde aí nunca mais parei de me espantar com a facilidade dela em inventar peças, em dar-lhes vida. Não se tornou pintora mas, sim, escultora.

Ainda recentemente concebeu uma peça absolutamente fora da caixa, inesperada. Apesar de muito elogiada, foi humildade que percebi na sua voz e na sua expressão quando me perguntou: 'Gostaste?'

Há algum tempo ouvi uma outra escultora dizer que há peças que requerem muita força, que pode ser um trabalho muito pesado, que já as evitava pois já não tinha a energia e a resistência que tinha antes. E, de facto, compreendo.

Uma vez enviei uma carta com sugestões à pessoa que ocupava a presidência do município em que, na altura, vivia. Uma delas é que abrisse concursos junto de artistas como escultores ou ceramistas ou graffiteiros para que inundassem a cidade de arte de rua. Achava eu que a cidade deveria transformar-se na cidade das artes, artes ao dispor de todos. Achava eu, e acho, que isso valorizaria de forma duradoura a cidade e que traria alterações estratégicas pois atrairia um turismo de qualidade que, por sua vez, garantiria audiência para outras demonstrações artísticas (festivais de música e de dança, festivais literários ou de cinema ou de fotografia). Enfim, dissertei sobre as potencialidades virtuosas que essa transformação traria à cidade.

Claro que isso tem custos. A arte custa dinheiro. Os artistas não apenas gastam dinheiro nos materiais como muitas vezes têm que contratar ajudantes, têm que arrendar espaços onde possam trabalhar e, claro, têm que viver.

Contudo, agora aparecem os robots, aparece a impressão 3D, e, a montante, o software em que se definem os modelos que estão na origem do que vai ser feito. E, nesse caso, claro que as obras aparecem feitas muito mais depressa. Desde logo, os robots trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana. Claro que, por detrás, há o trabalho humano de programação. Só que, uma vez construído o software que instruirá o robot, este pode fazer essa e milhões de outras iguais. Claro que aí será do interesse do artista destruir o software após a realização da peça para evitar cópias. Só que isso não é bem assim. Quem concebe os modelos matemáticos e quem programa os equipamentos não será o artista pelo que há sempre várias mãos a mexer no software. E, por segurança, haverá cópias. Portanto, o escultor pode acreditar que o software foi destruído e, na realidade, haver ainda uma ou mais cópias. E pode até o próprio artista se predispôr a fazer não um exemplar mas uma série deles.

Seja como for, como em tudo, há lados fantásticos e aspectos preocupantes.

Contudo, quero aqui deixar um apontamento: o mais recente colar, que acho lindo, é composto de peças impressas numa impressora 3D. São peças de uma cor profunda, com um toque macio, maravilhoso, e têm um movimento incrível. Tenho uma amiga, que pertence a uma família ligada às artes e à moda, que faz colares artesanais, bonitos. Quando viu este meu ficou muito impressionada pela sua invulgaridade e beleza. 

Robots sculpt marble in Italy, sparking worries about future of art form | 60 Minutes

A fleet of marble-sculpting robots is carving out the future of the art world. It’s a move some artists see as cheating, but others are embracing the change.


Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, novembro 23, 2024

Mentenegro é um pintas. Lança números enganadores e, quando confrontado com as distorções, faz aquele sorrisinho cínico e, sonsamente, diz que não quer alimentar querelas.
Não percebo é como o Expresso se presta a dar cobertura a tanta trapalhice.

 

Neste governo todos tentam iludir-nos com habilidades acrobáticas. É uma coisa que tem a ver com o pecado original: conseguiram ser governo por terem mentido e iludido o eleitorado durante a campanha para as legislativas e que, logo que tomaram posse, continuaram a fazer malabarismos para tentarem encobriar mentiras e manipulações.

Os mais destituídos, tropeçam nas suas próprias habilidades e estatelam-se ao comprido, por vezes atropelando vítimas inocentes (Ana Paula Martins, Coisinha Blasco, etc). Os mais espertos, como são um bocado mais elaborados, ainda vão conseguindo ser levados a sério pelos mais incautos. 

O caso da notícia agora posta a circular pelo Ministério da Educação e logo papada pelo Expresso (que das duas uma: ou continua a querer ser o órgão oficial de propaganda do PSD/AD ou continua a ter lá a trabalhar totiços que comem tudo o que lhes é posto à frente), é daquelas que, de tão improvável, dá logo para ficarmos de pé atrás. Mas o Expresso, dado ser parangona benéfica para o Governo, logo embandeirou a notícia em arco e dela fez uma gorda. 

Claro que, durante o dia, veio a explicação por parte da equipa do PS e veio contestação generalizada: estavam a ser comparados alhos com bugalhos, o que não é coisa séria de se fazer. 

Agora que a acrobacia se desfez no ar, o Expresso ainda continua a dar voz à contra-argumentação do artista Fernando Alexandre que, no intervalo de fazer stand-ups por aqui e por ali, se entretém a fazer autopropaganda.

Mas, o pior ainda é o Mentenegro que dá voz a todas as trapalhadas da sua equipa e quando confrontado com a pouca seriedade do que fazem, faz de conta que não é nada com ele, sorrisinho sarcástico, e, de caminho, faz-se de Calimero e pede para o deixarem trabalhar. Sonso. Julga que somos parvos.

É um governo ao nível da obra de arte "banana colada na parede". Uma tanga. Ainda, por cima, a gozar com o pagode. Os otários que fiquem com ela (ela, a banana).

Quanto ao Expresso, com coisas como estas descredibiliza-se. Quando me perguntam porque é que não volto a assinar o Expresso, a resposta (a minha e, ainda mais, a do meu marido) é que não gostamos de jornais que parece terem por missão fazer o frete a PSDês e quejandos. Uma tristeza que um jornal dito de referência na prática seja um canal de reverência.

domingo, setembro 29, 2024

Ele aí anda...


Marcelo, esquecendo que é mestre em dissolver a Assembleia sem nenhuma necessidade disso -- apenas porque tinha essa 'fisgada' já que andava mortinho por tirar o PS do Governo --, agora anda por aí 'ó tio, ó tio' com medo de acabar o mandato a dissolvê-la outra vez, desta vez sem querer.

Então, andando, como sempre, pela rua a distribuir beijinhos e a fazer selfies e, pelo meio, apanhando-se com microfone à frente da boca, manda bocas: diz ao Governo que tem que perceber que o interesse do País está acima do programa do Governo e diz ao PS que tem que compreender que não é Governo e que, se o 1º e o 2º partido não se entendem, vai ficar o poder de decisão para o 3º partido. E se o 3º partido quiser não decidir, sobra para ele. Dá vontade de lhe perguntar: 'Ah é... e só agora contaram pr'a você, foi...?'. Não pensou nisso quando criou este caldinho? Agora que esta gentinha desqualificada da AD por aí anda aos papéis e agora que o Chega chegou aos 50 deputados é que anda aflito...? Não pensou antes nas previsíveis consequências dos seus actos?

Não tenho pachorra. 

Corro o risco de me repetir e de repescar o que o meu marido aqui disse mas acho que é bom que se tenha presente o que a comunicação social parece quase branquear.

Entretanto, as televisões continuam a mostrar uma porção de Urgências fechadas. Passam os meses e nem Montenegro nem a sua Madame Arruaceira da Saúde conseguem resolver o que, na campanha eleitoral, garantiam que eram favas contadas, em 60 dias resolviam tudo. Já decorreu meio ano, já correram com meio mundo... e o que se vê é que não resolvem coisa alguma. Nada. Uma zaragata pegada com a ministra a arranjar confusão com todos e as mulheres a parirem nas ambulâncias que é uma vergonha.

Quanto à Habitação, com a medida estúpida de isentar de IMT as casas para os jovens (jovens até aos 35 anos, leia-se, sejam eles podres de ricos e sejam as casas do melhor que há) o que aconteceu é que o preço das casas disparou. Ah pois é, bebé, aumento de cerca de 8%. Ter gente sem cabeça a governar só dá nisto, tiros nos pés atrás de tiros nos pés.

Da Educação, o fofo do Ministro, com aquele seu sorriso fofinho e gosto por falar para o público, por aí anda em digressão. Milhares e milhares de alunos sem professores, cerca de 150.000 alunos neste momento, e ele por aí anda, na boa, todo stand up,  todo contente.

E da Administração Pública e da Justiça nem se fala, uma desgraça sem tamanho. Da primeira, então, até dá vergonha (vergonha alheia) a gente falar. Uma pouca sorte.

Aquela do Trabalho e da Segurança Social, a mana da Margarida Rebelo Pinto, depois de destratar a Ana Jorge e despedi-la por não ter entregue um plano de reestruturação para a Santa Casa, escolheu um que diz que quando resolver as coisas logo diz qual é o plano. Gozão. E, com este, a ministreca engole e cala. Surreal.

Quanto aos outros nem se sabe o que andam a fazer. Excepção para o Nunelo de Olivença que dá ideia que não tem os alqueires bem medidos e que mais valia que não abrisse a boca.

É uma parvoíce andar sempre a votar...? Pois, se calhar é. Mas enquanto não houver uma solução estável e capaz e enquanto tivermos um PR que é um brincalhão, qual a alternativa?

Face a este lindo panorama, quem é que tem medo de ir a eleições? 

Eu, se fosse ao PS, não tinha. Para a frente é que é caminho.

Seja como for, não me apetece falar mais nisto. Já falei hoje até dizer chega (é só passar ao post a seguir a este). 

Vou antes ver pintura. Gosto desta pintora. São delas as pinturas que escolhi para atenuar a secura do texto.


Step into Flora Yukhnovich's studio


 Flora Yukhnovich and François Boucher: The Language of the Rococo

The Wallace Collection, 5 June–3 November 2024

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Desejo-vos um bom dia de domingo

segunda-feira, setembro 23, 2024

Lambível...?

 

Já aqui contei que, uma vez em Bilbau, no Guggenheim, ao subirmos umas escadas, fomos dar a uma sala em que num canto estava um monte, encostado à parede, de rebuçados amarelos clarinhos embrulhados em papel celofane. Os meus filhos que, na altura, teriam uns dez, doze anos, por aí, não sei bem, precipitaram-se a tirar um rebuçado para comerem. Fomos atrás deles e, quando vimos uma placa com o nome da obra e o do autor, ficámos para morrer. Quando lhes dissemos para reporem imediatamente a parte da obra de arte que tinham retirado, uma funcionário disse que era mesmo assim, para comer, era uma obra de arte comestível. Todos os dias a obra era refeita.

Nesse dia também vimos num canto um balde com uma esfregona e também admitimos que fosse uma obra de arte. Mas, afinal, não era. Vá lá.

A arte é uma coisa muito sui generis e o que faz sentido para uma pessoa pode ser um disparate para outra. Nada a fazer, é o que é.

Ainda não fui visitar o novo CAM mas vi, com alguma perplexidade, a entrevista a Leonor Antunes cuja obra está exposta na inauguração. E, do que vi, é daquelas obras de arte em que fico meia beige, sem saber bem o que pensar. Assim, pela televisão, não me pareceu ter graça ou beleza ou quelque chose. E, no entanto, há quem certamente pense o contrário.

O vídeo abaixo mostra escultura feita em açúcar e em que no processo há intervenção digital e uma certa tecnicidade. Parecem-me peças interessantes. Aparentemente não são, à partida, obras eternas pois, do que ouvi, podem deteriorar-se ao fim de algum tempo. 

Mas o engraçado, e engraçado para o próprio autor, Joseph Marr, que se mostra espantado, é a reacção de muitas pessoas que, ao saberem que as esculturas são feitas com açúcar, as lambem. Diz ele, admirado, que as pessoas não sabem quem lambeu antes aquelas peças... De facto, que coisa bizarra... 

Would You Lick This Art?

Berlin-based artist Joseph Marr doesn't make sculptures from bronze, marble and clay instead he uses sugar! His sugary and edible exhibitions have gained him a lot of attention and even though he never expected this, everyone licks his artwork. 

This is how to make incredible art out of sugar...


quinta-feira, agosto 08, 2024

A culpa é do raio do long covid... Só pode...

 

Ainda não consegui chegar ao ponto que tanto ambicionei: ter tempo e organização pessoal para me pôr a experimentar coisas, a fazer o que me apetecer, sem ter que interromper por mil e um motivos.

Provavelmente é este regime de fazer caminhadas, geralmente duas por dia, uma curta, para aí meia hora a meio do dia (e está calor para mais), e uma mais longa, quase uma hora, mais ao fim do dia, que anda a cortar demasiado o dia, a interromper o que estou ou vou fazer. 

Claro que me refiro a quando não tenho cá crianças ou a família em geral. Nesses casos só consigo fazer uma caminhada à noite ou perto disso. Mas esses dias estão fora destas considerações pois, obviamente, nessas circunstâncias, não é possível outra coisa que não dedicar-me a eles.

Mas, nos dias em que estamos só os dois, eu gostaria de ter tempo para fazer mil coisas: jardinar, pintar, fazer peças com pedras e conchas, escrever, fotografar, fazer vídeos. Mas não consigo. Ou porque são horas disto ou horas daquilo, parece que não consigo ter disponibilidade ou rendimento. 

Além do mais, continuo com os mecanismos do sono avariado. Falei com um médico sobre isto. Contei-lhe que pode ser impressão minha mas acho que desde que tive Covid o meu sono nunca mais foi o mesmo. Posso dormir lindamente de noite, acordar por mim, tudo na maior. Pois, mal acabo de almoçar, fico perdida de sono. Se me sentar a ler ou a ver o computador, são as passas do algarve para não dormir. Ele disse-me que acredita que é o long covid, que há muitos doentes dele que se queixam do mesmo. Diz que alguns não se queixam disto e outros queixam-se durante uns meses a seguir mas que há outros que, ao fim de um ou dois anos ainda se queixam. É o meu caso. Diz que ainda não sabem como tratar isto.

Caraças.

Mesmo que não durma, não tenho aquela energia necessária para improvisar, para ter vontade para inventar, para arriscar. 

Vejo os vídeos que, quando trabalhava via e que me faziam ter uma imensa vontade de me reformar para ter uma vida assim, e constato que estou a milhas. O meu marido diz que se me deitar cedo, acordo cedo e tenho a manhã toda ao passo que agora tenho apenas uma parte. Não creio que seja isso. 

Vejo esta Elaine e penso que eu que gosto tanto de pintar galos, que pintei carradas de telas cheias de galos, não poderia continuar a improvisar e a diversificar em torno do tema? Podia, não é...?

Elaine Savoie - Painter, Market Gardener

Zsofin Sheehy meets painter Elaine Savoie on her Hornby Island homestead and Studio. An unapologetic iconoclast, Elaine uses her painting practice to question the norms of her Catholic upbringing and human-centred society. The conversation follows Elaine's life of making, raised by the community of island artists and shaped by her process, connection to the land she stewards, and using art as a tool to play and explore oneself. In addition to her creative practice in painting and drawing, Elaine also uses writing and poetry to humorously and fearlessly delve into the intricacies of island life and reflect on her Metis heritage, interweaving themes of personal identity and the complexities of intergenerational processing.  

An artist and farmer born on Hornby Island, Elaine Savoie's upbringing within the early farming settlements of the Savoie family, the Catholic church, and the island's unique natural landscape laid the foundation for her creative journey from a young age. In her nationally recognized Icon series, she seamlessly merges canonical and imagined saints, creatively embodied as roosters, seabirds, and other local creatures. 


Saúde. Alegria.
Dias felizes.

terça-feira, agosto 06, 2024

Memória de belos e gostosos slows nas festas de garagem de um amigo.
[E, a despropósito, uma arte diferente]

 

Enquanto as televisões se enchem de entendidos a delinear estratégias para resolver a putativa guerra Irão - Israel, eu distraio-me tentando descobrir outras coisas que me interessem. A esta hora já não me dá para ler livros, só para escrever ou para cirandar pelos vídeos ou pelas gordas dos onlines.

Há bocado, ao ver uma mensagem, num grupo de amigos, de um deles, o que tinha a melhor casa e que generosamente a disponibilizava para as famosas festas em sua casa, pensei como curiosamente continua a mesma pessoa, low profile, reservadíssimo, mas, ao mesmo tempo, surpreendente com a sua cultura, em especial, cultura musical mas, também, uma visão humanista e invulgar sobre o mundo.

Ele sempre foi muito alto. Desde miúdo que é igual. Baixava-se um bocado, parece que se encurvava um bocado para não ficar muito mais alto que os outros. Tinha óculos que parece que lhe punham os olhos maiores e que lhe davam um ar ainda mais tímido. Nas aulas nunca se destacou. Também nunca se portou mal. Nunca se meteu em sarilhos. Quase nos esquecíamos dele de tão boa pessoa que ele era.

As festas eram na garagem que ficava vazia para nós. Ao fundo havia mesas onde a trupe da luz e do som instalava aparelhagem sonora e luzes que piscavam. Estávamos por nossa conta. Havia um belo jardim mas ninguém queria saber do jardim para nada. Queríamos era estar na garagem, de preferência à meia luz.

Muitos slows ali dancei, muito mel ali se destilou. Namorei que me fartei naquelas festas.

À hora do lanche, abria-se a porta que fazia a ligação da garagem à casa e avançávamos. 

A casa era fantástica, grande, muito bem decorada. A escada, interior, era invulgarmente larga e no patamar intermédio, entre os dois lances, junto a uma grande janela, havia um piano. 

Aí, havia sempre alguém que ia tocar, no piano, as músicas mais conhecidas da altura. Nos últimos anos, apareceu um 'artista' e aí as pianadas eram mais a sério. Muito bom.

Na sala de jantar havia uma mesa enorme cheia de comida. Coisas boas com fartura.

Tento lembrar-me da mãe mas a ideia que tenho é vaga, mistura-se com a imagem da mãe de um outro que tinha mais ou menos a mesma maneira de ser e que tinha pais que já não me pareciam novos, o pai era o Notário da cidade e a mãe era uma senhora que se arranjava muito bem, distinta, sempre muito bem vestida e penteada. Lembro-me, sim, que a mãe deste da garagem (o outro também fazia belas festas mas não tínhamos instalações tão independentes) era discreta, simpática, mal se dava por ela (a do outro também).

Curiosamente casou com a irmã do meu namorado da altura. Ele era um maluco de primeira. A irmã era o contrário mas não se espantava, não se escandalizava nem se indignava com as doideiras do irmão. Era como se aceitasse que era normal que, volta e meia, a família tivesse  chatices com o irmão. Casou com o colega do irmão, o colega melhor comportado. Deve ser um casal tranquilo. Pelo menos assim parece. Na altura, ela parecia uma rapariga crescida quando nós éramos uns catraios. Agora parecemos todos da mesma idade.

Sei que se interessam por arte e não me admirava nada que, se eu lhes mostrasse este vídeo, também achassem piada.

Tanya Marcuse: Artist

“I try to kind of have both of those things visible at once…in a single piece there’s some kind of sense of the duality and unity between growth and decay.”

When you venture into nature, you probably find yourself thinking about how naturally beautiful the environment looks. Artists strive to capture that beauty, and Tanya Marcuse does this by foraging and recreating natural scenes in her photography. 


Dias felizes!

quarta-feira, junho 26, 2024

Borboletas, flores, pedrinhas, brilhozinhos

 

Sempre fui muito dada a trabalhos manuais como bordados, tricots, crochets. Escrever é apenas uma outra forma de ter as mãos ocupadas enquanto a cabeça vagueia. Quando vejo algumas artes que impliquem trabalho de mãos (se calhar todas implicam...) tenho sempre vontade de experimentar. O problema é que fico viciada, desato a produzir em larga escala e depois não tenho o que fazer às coisas.

Já pensei algumas vezes em meter-me nessas coisas dos instagrams e pôr as coisas que faço à venda, nem que seja só para perceber a adesão. Mas como não quero vender à candonga e não me estou a ver a meter-me em trapalhadas de registar actividade nas Finanças, a passar facturas, etc (senão, às tantas, ainda teria que ter contabilidade organizada), não faço nada. E, não querendo continuar a encher a cave de coisas, fico-me pela contemplação e pela imaginação.

Isto que hoje partilho é o tipo de coisa que me daria um gozo brutal a fazer, desde a procura de materiais à concepção, à execução. Mas, já viram, onde é que eu ia depois colocar quadros, caixas, jarrões? 

Uma pena.

Mas vejam. Eu acho uma maravilha, uma graça. 

Creating Masterpieces for Steve Jobs, Bill Gates and The Pope

South Korea, Yangpyeong-gun. Mother-of-pearl art with Kim Young-Jun and Gabe Sin - embark on a journey as they revive the ancient Korean art of Najeonchilgi. Kim, a former financier turned master craftsman, has created intricate mother-of-pearl masterpieces for icons like Steve Jobs, Bill Gates, and even designed a chair for the Pope. Alongside him is Gabe Sin, a visionary hairstylist who draws inspiration from these timeless designs, integrating them into elaborate creations showcased on the cover of Vogue. Discover how Kim and Gabe are redefining Korean art for the modern world, blending heritage with innovation in mesmerizing ways.


Dias felizes

terça-feira, abril 02, 2024

Filigrana de pedra, o Spiritu Sancto, a suposta crise em Portugal, o IRS e etc.

 

Muito frio a partir do meio da tarde, em especial quando a aragem nos fustigou. Choveu mas muito menos do que se anunciava. À noite, frio mas, como não havia vento, talvez mais suportável.

Mas isso é pormenor. A cidade é o que se sabe: muito bonita. 

Quando lhe dá o sol mostra-se quase dourada. A pedra é macia e tem aquele tom suave do ocre tingido de patine.

O que agora me surpreende, e não tem nada a ver com as vezes anteriores em que aqui tínhamos estado, é a quantidade de portugueses. O hotel está cheio deles. Nas ruas, a todo a hora se ouve falar português. Onde anda a crise que a ex-oposição mais os seus arregimentados comentadores e jornalistas apregoavam?

Em Lisboa, quer ir-se a um restaurante, só reservando. Os concertos, esgotam quase instantaneamente. As agências de turismo dizem que nunca venderam tantas viagens como agora. Os hotéis estão cheios. E chego aqui e há portugueses por todo o lado.

Das duas uma: ou a malta que hoje é governo mais os que os apoiam ou fingem que apoiam está toda redondamente enganada, e isso é chato, ou são os números oficiais que mostram uma coisa e a realidade é outra, o que não é menos chato. Cá para mim é um misto pois não tenho dúvidas que a economia paralela faz parecer o que não é e só quem não pode fugir ao fisco é que não foge, fazendo girar muito dinheiro não declarado. 

Já agora, outra coisa. Não tem a ver com economia paralela mas com fisco. Tenho aqui defendido amplamente que o IRS deve baixar, mas isso ao mesmo tempo que deve haver uma verdadeira caça à economia paralela. Hoje muita gente não paga IRS pois recebe oficialmente pouco mas 'por fora' recebe, se calhar, outro tanto. E os que pagam, sobrecarregados e revoltados, fazem contas à vida antes de trabalharem mais. Já aqui falei de amigos médicos que dizem que continuar a trabalhar não lhes compensa. Muitos reformaram-se e, nos casos em que ainda trabalham, não fazem mais que 10 horas por semana senão ficam prejudicados. Com a falta de médicos que há... E é lógico que assim raciocinem. O que não é lógico é que os impostos para este tipo de rendimentos sejam o exagero que são. O Fisco trata a classe média como se fossem bandidos capitalistas que devem ser espoliados até ao tutano, e ala moço, vá de espetar com eles no escalão dos ultramilionários. Seria bom que este Governo agarrasse o assunto mas agarrasse a sério, sem demagogias, com cabeça.

Mas, pronto, hoje não me apetece falar mais em impostos.

Hoje apetece-me é partilhar imagens de filigrana em pedra. Tudo muito sereno e belo.








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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Boa disposição. Paz.

sábado, março 30, 2024

No fim de contas, bem vistas as coisas, até se consegue descobrir, aqui e ali, boas notícias, maravilhas, motivos para encantamentos

 

Chateia-me à brava quando vejo dar cabo de dezenas, centenas de árvores, para fazer novas urbanizações. E ultimamente tenho visto umas quantas. Fico passada. Com a falta que elas fazem, como é possível tamanha chacina? Não seria possível compatibilizar o crescimento urbanístico com a preservação de manchas verdes?

Mesmo a um nível mais reduzido, tenho visto decepar, degolar árvores lindas e enormes que estão perto de estradas em locais em que não vejo que possam fazer mal. Mesmo pelo respeito que deveriam merecer-nos pelo número de anos que têm, acho que deveriam ser poupadas. Soube recentemente de uma petição para acabar com esta estupidez e fiquei satisfeita por haver ainda pessoas atentas e preocupadas.

Gosto cada vez mais de ver ou ler notícias de locais antes ermos, desertificados, que foram recuperados e se tornaram verdejantes, férteis, por acção humana, por plantação de árvores, por criar zonas de sombra e de escoamento e retenção de águas. Não haverá outro caminho para que o nosso pequeno planeta continue a ser um local habitável pelos seres que hoje ainda existem.

E vi este vídeo abaixo e achei-o também maravilhoso.

The Fascinating Plant That Lives For 300+ Years | Seasonal Wonderlands | BBC Earth

Svalbard in the Arctic spends many months of the year in complete darkness, an unrelenting frozen winter with temperatures down to minus 40 Celsius. Some organisms – such as the compass plant – have adapted an ingenious method to survive in these extremes, ready for when the sun finally reappears.


Back to the future: Reforesting Scotland's iconic hills | Focus on Europe

After being deforested centuries ago, southern Scotland is now dry and barren. Now, to preserve nature and protect the climate, weekly volunteers are replanting pastureland to be forests in the future.


... e depois coisas inesperadas mas em que igualmente se revela o amor e respeito pela natureza. 

Man builds an entire village for mouse he saw in his garden


... e depois um daqueles lugares em que parece que a natureza é simplesmente um lugar feliz já que tem sido respeitada, amada.

Giverny Monet's Home and Garden

Monet's house and garden in Giverny is a picturesque oasis of beauty and tranquility, where the famous impressionist artist found inspiration. The vibrant colors of  the flowers, serene pond with his iconic water lilies, and the charming French country house creates a truly enchanting experience. Explore Normandy's town of Giverny! 
 

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Que a ressurreição seja também a da natureza nos locais em que se encontra definhada, a do respeito e amor às árvores, às flores, aos pássaros, ao ar puro, à beleza.

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Um sábado feliz

Saúde. Harmonia. Paz.

domingo, março 24, 2024

Antes que os porcos triunfem

 

Várias ideias me ocorrem mas vou rejeitando umas por exigirem um espaço e uma ponderação diferentes deste canto em que escrevo e outras por temer não encontrar as palavras justas. 

Vou antes falar das perplexidades que têm ocupado o meu pensamento nestes meus últimos dias. É certo e é devido que todos tenham direito a votar e que o voto de um marginal ou de um ignorante valha tanto quanto o de um trabalhador esforçado ou de um catedrático. Um voto é um voto e todos os votos são iguais. É um dado adquirido e penso que assim deve ser.

O que me custa é que não se perceba que é muito provável que os ignorantes, em especial os que nem têm consciência de quão ignorantes são ou os que gostam de viver nas margens da sociedade, tudo farão para se vingar dos outros, dos integrados, dos que estudam, dos que sabem.

Se há coisa que sei, até pela minha formação, é que só se podem fazer generalizações quando a amostra é significativa. 

Para conhecer a opinião dos portugueses sobre dado assunto, não precisamos de ouvi-los a todos. Podemos apenas ouvir uns quantos. Mas temos que ouvir os que representem fielmente a população. Por exemplo, se x% são homem e y% são mulheres, tenho que ter essa percentagem representada na amostra. Se uns tantos são analfabetos, uns quantos têm o 9º, outros o 12º, uns a licenciatura e outros o doutoramento, é bom que a amostra também os contemple em idêntica percentagem. E se x% têm até 18 anos, y% estão entre os 18 e os 25, etc, etc, etc....(e por aí fora). Saber montar uma amostra significativa é uma tarefa exigente e requer que se saibam identificar os factores que influem na votação. Por exemplo: se os desempregados votam de uma maneira diferente dos que trabalham, então a amostra deve inclui-los na devida proporção. Ou, relevantíssimo pelo seu peso, os reformados/pensionistas que também devem estar presentes na proporção certa. 

E agora vou dizer uma coisa que pode ser polémica e que, para eu poder fazer finca-pé, teria que validar. Ou seja, afirmo-o agora por mera intuição: creio que a população que se informa sobretudo via redes sociais deve ter um comportamento diferente da que vê televisão, lê jornais ou lê vários livros por ano. Seria interessante que este factor diferenciador fosse testado em estudos de opinião e, se se verificasse a diferenciação, que esse aspecto passasse a estar presente nas amostragens.

Ou seja, constituindo uma amostra significativa, se ouvir o que pensam, poderei generalizar ao todo, embora haja sempre uma certa margem de erro (que desejavelmente será bastante baixa). 

Portanto, eu arrepiar-me com os disparates que ouço no balneário ou mesmo com alguns dislates que ouço a amigos, uns porque são mais conservadores, outros porque não pensam e se limitam a ser maria-vai-com-as-outras, não significa que isso seja amostra do que vai pelo país. Sei disso.

Mas, apesar de não poder generalizar, não posso ignorar. Não posso fazer uma estatística e atribuir probabilidades mas posso acreditar que o que ouço são indicadores.

E o que ouço são coisas descabeladas, sem pés na cabeça, fruto da mais profunda ignorância. Votam convictamente por assumirem como verdadeiros pressupostos que são disparates sem ponta por onde se pegue, fruto da mais profunda iliteracia económica ou social ou de ausência completa de estudo ou de raciocínio. Repetem mentiras já mil vezes desmascaradas, afirmam anormalidades que não são verdade nem aqui nem em parte nenhuma do mundo. Mas acham que, ao votarem no Chega, estão a fazer justiça. Uma dizia, ufana: 'Depois ainda não querem que a gente diga as verdades? Quem é que julgam que são para nos quererem impedir de dizer as verdades?'. E várias outras sorriam e acenavam que sim, que claro que sim, que a elas ninguém as calava. E eu pensava: 'Mas estão a falar de quê? De quem? Elegeram quem? Estão convencidas de quê?'

Passei no outro dia por um sítio em que ganhou o Chega e, olhando para aqueles prédios, pensei: 'Andares e andares de gente inculta, desinformada, ressabiada, ignorante. Vão votar sem perceberem que estão a dar tiros nos pés'.

A democracia contém todas as permissões para que, quem queira, a devore, a detone, a faça implodir.

Não acredito que seja benéfico nem quero que se restrinjam liberdades. Longe de mim.

Mas alguma aprendizagem estes ignorantes deveriam ter. Não sei como. Seria bom, num mundo ideal, utópico, certamente meio maluco, que, para se votar, as pessoas tivessem que estudar e passar num teste em que mostrassem saber o bê-a-bá do que é a sociedade, de como funcionam as instituições, de quais são as bases da Constituição, de quais são os riscos das sociedades anti-democráticas em que a liberdade individual não é respeitada, do que é a Economia e as Finanças, do que é a Justiça. E quem chumbasse, qual exame de Código, não poderia ir votar. Tão simples quanto isto.

Se calhar, está na altura de se pensar outra vez no Serviço Cívico ou nas Campanhas de Alfabetização. Engendre-se uma coisa adaptada aos tempos actuais, quiçá via redes sociais. Não sei. 

Uma coisa é certa: alguma coisa deve ser feita. Senão, um dia destes estamos a ser governados por porcos que lá porque andam em duas patas e se vestem com calça e casaco já se julgam tão ou mais preparados que os humanos.

Haverá, entre quem me lê, quem ache que, dizendo isto, estou a revelar um elitismo descabido. Seja. Mas pense-se na qualidade dos primeiros deputados que pisaram a Assembleia da República a seguir ao 25 de Abril e compare-se com parte significativa dos que vão pisá-la dentro de dias. Uma diferença abissal. É como querer comparar o Género Humano com o Manuel Germano. Vamos continuar a aceitar que a democracia vá caminhando por esta rampa descendente que não se sabe onde vai levar (mas a bom sítio não é)?

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E parece que vem aí, outra vez, a chuva. E ainda bem. Faz falta sempre a agora, em particular, para lavar o ar que anda carregado de poeiras. 

Que entre, pois, o genial Jacob Collier (que, aqui, vem acompanhado por: Madison Cunningham & Chris Thile).

Jacob Collier - Summer Rain


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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. ?. Paz.

domingo, março 17, 2024

Porque ele há coisas, há quem goste e quem não goste.
Veja-se o caso da colecção de arte dos Anderson

 

Como podemos pretender interpretar o que nos rodeia da mesma maneira se, perante uma mesma coisa, temos reacções tão diferentes?

Às vezes pasmo com comentários que recebo*. Posso estar, em meu entender, a ser obviamente irónica e logo me aparece alguém a interpretar tudo ao contrário e a achar que estou a gozar com maleitas alheias. Fico de boca aberta. Mas como? Não perceberam que o tom era de ironia? Serei tão pouco hábil na escrita? Terei que intercalar smiles para que percebam que é brincadeira? Ou quando ironizo sobre as adivinhas que se fazem em torno do desparecimento de alguém e há quem que se ache mais esperto que outros e, porque leu ou ouviu umas aqui e outras ali, já acha que sabe tudo e aparece como se estivesse a dar-me uma chazada por achar que mostrei não ter compreensão...? Fico de olhos arregalados. Mas como...? 

A nível político, então, é o pão nosso de cada dia. Digo uma coisa, interpretam o oposto e aparecem a mandar bocas. Gostam de tresler? Ou não sabem ler? Frequentemente é isto: eu acho que estou a dizer potato e logo alguém aparece a mandar vir porque acha que eu disse tomato

Coisas assim.

Fazer o quê?

Temos que aceitar que o mundo é diverso e que há lugar para todos. Portanto, aceitemos que, para alguns, falamos uma língua estrangeira ou aceitemos que, porque vivem uma vida diferente da nossa, nos acham, a nós, estrangeiros. Aceitemos.

É como na arte: no outro dia uma conhecida mostrava pinturas que acha excepcionais. E eu, atrapalhada, sem saber o que dizer. A mim parecia-me tudo tão básico, tão horrível. Jamais, mas jamais, seria capaz de pendurar uma coisa daquelas na minha casa. Não que não fosse uma espécie de reprodução realista de paisagens ou de retratos de pessoas a quem tivessem sido aplicados filtros de saturação de cores ou de contraste para ficar tudo absolutamente 'perfeito'... Só que, para mim, uma coisa do mais piroso que existe. Fiz uma ginástica do caraças para não deixar perceber que achava tudo aquilo detestável.

Em contrapartida, se mostro aquilo que a mim me agrada, é inevitável que alguém desate a rir como se aquilo até o filho ou o neto de cinco anos fosse capaz de fazer, e de olhos fechados. Como explicar que não gosto de coisas óbvias, que não gosto de coisas 'perfeitas'? 

Mas posso eu achar que o meu gosto é melhor que o gosto de quem gosta de coisas que acho um pavor...? Não posso.

Mesmo aqui nos blogues, há quem os tenha com letras de todo o tamanho e feitio -- umas inclinadas, outras a bold, umas pequenas, outras grandes, umas às cores, outras aos saltos -- e tudo intercalado com bonecada que, a mim, me parece básica e de mau gosto. E, no entanto, para os autores e para os amigos, aquilo deve ser o máximo. E, se calhar, é. Para eles, deve ser. É subjectivo, isto. Nada mais subjectivo que o gosto. Portanto, tudo certo. Não os frequento porque me incomoda o que a mim me parece mau gosto e, naturalmente, não vou lá 'mandar bocas'. Sou civilizada e respeito os outros e, daquilo de que não gosto, faço uma coisa muito simples: afasto-me.

Agora, confesso, faz-me confusão que haja quem viva bem consigo próprio ocupando o seu tempo a ser desagradável para os outros. Mas, enfim, é o que é. Há gente para tudo.

Também por isso é que os resultados das eleições são para mim, por vezes, algo difíceis de perceber. Porque é que há tanta gente que vota em partidos que defendem medidas que lhes vão ser prejudiciais? Ou porque é que, perante a responsabilidade de escolher pessoas que nos representem, haja quem as escolha apenas para desestabilizar e causar ruído? Não percebem o risco?

Tudo um pouco bizarro. Os antropólogos ou os sociólogos -- ou mesmo os filósofos (e, se calhar, também os psicólogos, nomeadamente os especializados em psicologia social) -- que estudem estes fenómenos.

Eu, por mim, limito-me a render-me às evidências.

Agora uma coisa vos conto: gostei imenso de ver este casal aqui abaixo. Fantásticos. O que eles têm escolhido, coisas tão 'fora da caixa', o que eles têm, tantas obras e tão interessantes... E a generosidade deles... E, no entanto, o que não deve faltar deve ser gente que ache que aquelas obras não valem nada... e que os gestos deles pouco valor têm...

Mas é o que é.

Convido-vos a ver. E espero que se maravilhem como eu me maravilhei.

Anderson Art Collection to Open at Stanford

A new Bay Area art museum will open its doors this fall at Stanford University to showcase a who's-who of American post-war greats, including a large sampling of modern California masters. The works are a gift from Bay Area collectors Harry and Mary Anderson. KQED Newsroom visited the Andersons in their home to see what it's like to live in a house full of masterpieces — and why they're sharing their acclaimed collection with the public.


Nota: Lá em cima (*) refiro-me a comentários que me deixam de tal forma estupefacta que nem os publico. Não gosto de ter conversa tóxica aqui a incomodar quem os lê.
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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Paciência. Paz.

domingo, janeiro 28, 2024

Falamos junto à luz


Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen, em ‘Dia do Mar’


De tarde, chamados pela luz suave e dourada, pelo prenúncio de primavera que nos trouxe temperaturas muito aprazíveis, e, sobretudo, pelo menos pela parte que me toca, pela necessidade de oxigénio, fomos para a beira do rio.

O prazer de andar e conversar num dos lugares bons da cidade, a diversidade de gentes com que nos cruzamos, o sol sobre o rio, a boa companhia, tudo isso é remédio certo para lavar a alma.

Em tempos fotografava pessoas. Adorava. Sentia-me sempre uma observadora clandestina e, ao mesmo tempo, transparente. Já conseguia antecipar os movimentos das pessoas, as suas expressões. Estava de tocaia e, quando a ocasião se proporcionava, disparava. E, aparentemente, ninguém dava por nada.

Tenho muitas centenas ou, melhor, provavelmente, milhares de fotografias de pessoas. Mas depois temia sempre publicá-las pois receava que estivesse a pisar o risco da privacidade. É certo que há mesmo a modalidade de fotografia de rua e muito do que era a sociedade em tempos mal documentados se conhece através do trabalho de fotógrafos de rua. Mas, por via das dúvidas, encolhi-me. E, se não posso mostrar, para quê estar a fazer?

Portanto, agora tento evitar a presença de pessoas. Contudo, por vezes, é impossível deixá-las de fora. Mas, como sempre costumo dizer quando aparecem pessoas nas minhas fotografias, se alguém se reconhecer aqui e não quiser cá estar, bastará que mo diga.

Fomos lanchar ao CCB, depois fui lá tratar de um assunto e, de seguida, fomos passear para a beira do rio. 

O que abaixo partilho é parte da arte de rua que por aqui se pode ver. Escultura de homenagem ao pessoal clínico em tempos covid, a escultura Central Tejo, os big e engenhosos trabalhos da Joana Vasconcelos (se é arte ou gigantes trabalhos que incorporam design e montagem isso não sei), o mural em que vários artistas homenageiam o 25 de Abril, os belos murais de azulejos com poemas de Sophia, o próprio edifício do MAAT que é escultural.

A última fotografia não foi feita hoje nem é em Lisboa. É em Setúbal, no belo PUA, e é uma homenagem a José Afonso. A minha filha estava lá à frente mas, com o corrector, retirei-a. Não ficou perfeito mas como a escultura é algo 'incerta' a modos que disfarça.

Em dias como estes, é bom sair de casa, andar a passear, a laurear, a flanar, a desopilar, a vadiar, a turistar, a espairecer, a espanejar, a dar ar à pluma. Mas, para quem não possa fazê-lo, aqui fica um cheirinho.


























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E vi este vídeo de que gostei e que gostaria de partilhar. Já não é Green Renaissance mas Reflections of Life e são sempre tão tranquilos, transmitem serenidade, a vida a ser vivida com vagar, o contacto com a natureza, o prazer de existir de forma simples.

BELONGING - Finding Connection

Quando somos incompreendidos e sem apoio, é fácil sentir-nos sozinhos, como se não nos encaixássemos no mundo que nos rodeia. Mas algo lindo começa a acontecer quando entendemos que nossa singularidade não é uma falha, mas um motivo de comemoração.

À medida que aprendemos a valorizar e a partilhar os nossos dons individuais, reconhecendo a beleza das nossas diferenças, encontramos uma ligação renovada com o mundo - semelhante à harmonia encontrada na natureza, onde cada elemento contribui para a beleza geral da paisagem.

Inspirando-nos no mundo natural, entendemos que abraçar as nossas diferenças é um presente que podemos oferecer ao mundo, tornando-o um lugar mais bonito para todos que nos rodeiam.

A resposta reside em colmatar lacunas, cultivar a empatia e revelar a vibrante tapeçaria da nossa experiência humana partilhada através do reconhecimento e da celebração da diversidade.

Filmado em Singapura

Com Kathleen Yap


Desejo-vos um bom domingo
Saúde. Serenidade. Paz.

segunda-feira, janeiro 22, 2024

Em dia de sol e família
acabo na companhia da Sharon Stone e de Rothko

 

A família tenta que eu não fique tão exclusivamente focada no problema que nos toca a todos. Não há quem não tente pôr-me racionalidade na cabeça. Compreendo-os mas há coisas que não resultam apenas da nossa vontade. O meu marido, para além disso, quase me empurra à força para a psicóloga. Mas eu, nesta fase, não tenho disponibilidade de qualquer espécie pelo que não vou já agendar nada; mas acredito que, mais tarde, talvez agende umas sessões.

Mas não estou passada de todo pelo que, pelos meus próprios meios, estou a tentar continuar a viver com a normalidade possível. 

[A minha filha disse que quando, no final do ano (ou no início deste?) fiz o balanço de 2023 só falei das coisas negativas, esquecendo-me de todos os bons momentos, do muito que escrevi, de todas as muitas vezes em que estivemos juntos, etc. Disse-me também que nem pareço eu pois eu, tal como era, não reagiria como estou a reagir. E o meu filho, no outro dia, disse-me que não posso esquecer-me que tenho filhos e netos. E disse-me que parece que envelheci trinta anos. E eu, ouvindo-os, reconheço que têm razão em tudo o que dizem.]

Então, fomos todos almoçar fora, passeámos à beira rio, os meninos estiveram e brincaram juntos e eu senti-me feliz. Claro que há sempre aquela sombra, aquela preocupação, aquela angústia que me aperta as entranhas. Mas vê-los contentes, conversadores, estando com eles e deixando-me contagiar pela alegria buliçosa das crianças, sinto-me melhor e, de vez em quando, consigo mesmo abstrair-me do que se passa.

É que, por muito que nos custe assistir, de perto, diria até que por dentro, a uma situação como aquela que atravessamos, a vida continua. 

E os meus netos são bem a prova viva disso. E são também, só por si, um motivo de felicidade absoluta, tal como o são os meus filhos.

Portanto, apesar dos pesares, este domingo foi um dia feliz, luminoso.

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E agora, para que não venham outra vez dizer que parece que não sou capaz de falar de outra coisa, deixem que partilhe convosco dois vídeos muito interessantes. Pode até parecer heresia juntar a Sharon Stone e o Rothko mas eu sou herege. Nada a fazer.

[Os textos abaixo são traduções google dos textos que acompanham os vídeos]

Sharon Stone, artista

Quando era estudante universitária, Sharon Stone viveu a vida de uma artista faminta, vendendo as suas pinturas por US$ 25 cada. Hoje, a atriz nomeada para um Oscar voltou ao seu amor pela pintura, com as suas obras a ser vendidas na casa das dezenas de milhares. Já teve duas exposições em galerias nos EUA, com uma terceira prestes a ser inaugurada em Berlim. O correspondente Lee Cowan visita Stone no seu estúdio em Los Angeles e observa-a a criar um novo trabalho.


Mark Rothko -- visita privada à exposição na Fundação Louis Vuitton

As obras abstratas… Sim, mas não só. Mark Rothko defendeu-se afirmando que a sua pintura estava viva. Demonstração aqui na Fondation Vuitton, com esta magistral exposição, a maior do mundo dedicada a ele. 115 obras-primas em formatos absolutamente monumentais que estão disponíveis nos 4 andares da instituição parisiense. Diante desta paleta XXL, é difícil não nos sentirmos absorvidos por essas cores difusas, quase hipnóticas, que exercem sobre nós esse misterioso poder de fascínio. À distância, massas perfeitamente equilibradas, com geometria difusa. De perto, um nevoeiro difuso que nos absorve. Dê um passo para trás. A obra não é mais o que você via no início. Nosso olhar muda, decifra, sente.
Exposição Mark Rothko  --  Fundação Louis Vuitton, Paris  -- Até 2 de abril de 2024
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As fotografias foram feitas no domingo no Parque das Nações

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Ânimo. Paz.