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segunda-feira, setembro 16, 2019

Um grilo cantante, uma Nossa Senhora, dois Sto Antónios e um passaroco espanta-espíritos


Grilo de madeira pintada
Na fotografia dá ideia que é grande mas não, não deve medir mais que uns 10cm
O pauzinho que tem nas costas serve para passar pelo rendilhado dos lados, reproduzindo o cri-cri dos grilos de verdade


E é assim que estou de volta à cidade, preparada para, dentro de poucas horas, retomar a vida normal, longe de paisagens de cortar a respiração, longe de rios e mares, longe dos extensos areais por onde fiz tantas caminhadas, longe do dolce far niente com que tão afanosamente me tenho ocupado.

Apenas trago a pena de não ter conseguido ler tanto quanto desejaria mas a verdade é que, entre o que pouco que fiz e o muito que descansei, pouco tempo me sobrou. Mas, ainda assim, alguma coisa li e a melhor foi a última que comecei e de que ainda vou no princípio: Tudo o que tenho trago comigo de Herta Müller.

Entretanto, de regresso, já visitei os meus pai e, embora de raspão, já revi parte da descendência.

E, aqui chegada, já estive a fazer as minhas arrumações e preparativos, já voltei ao roupeiro para avaliar o que devo vestir, já fui ver se tinha dinheiro na carteira, já reencontrei gestos que estavam em stand by. Até o estar aqui sabendo que daqui a nada vou acordar com o despertador é um déjà-vu e, por acaso, até não é dos melhores.

Espanta-espíritos com pássaro articulado.
Ainda tem uma pecinha pendurada no fio que se vê
Está pendurado no telheiro onde está a mesa de madeira e respectivos bancos, o grelhador, etc

E, assim, a minha mente começa a adaptar-se à perspectiva de voltar a ver-me no meio do pára-arranque do trânsito, de ter reuniões umas a seguir a outras e decisões para tomar e prazos para cumprir. Não é das melhores perspectivas.
Nossa Senhora com o menino ao colo
Feita em crochet. Ofereci à minha mãe.
Em casa da minha mãe, quando ela me dizia que as minhas férias tinham sido tão curtas, eu disse que sim e que me sabe tão bem ser dona do meu tempo. Ela recordou que, quando deixou de dar aulas e o meu pai ainda trabalhava, deixou de usar relógio e ia sair, passear, ver montras, observar com pormenor as coisas do supermercado, sem pressa, sem ter que se despachar pois sabia que não corria o risco de chegar atrasada a algum lugar. Mas que, ao fim de algum tempo, já não sabia o que fazer com o tempo e pensava que estava melhor quando estava a trabalhar. Percebo-a. Disse-lhe que eu, quando chegar a altura de deixar de trabalhar (e ainda falta tanto tempo), terei que arranjar ocupação, rotinas, e que acho que não me vão faltar. Mas sei lá. Sabe-se lá alguma coisa do que vai acontecer seja no futuro mais longínquo seja, até, no mais próximo. O que for soará e pronto. Não quero fazer planos. Só tenho uma vaga ideia, um desejo, mas, ainda assim, se verá.
Mas, enfim, não é o tema.

O tema é que já estive também a arrumar as coisinhas que trouxe de Caminha. As bugigangas, diz o meu marido com aquele seu ar depreciativo. Diz que basta eu ver uma coisa que não serve para nada para ficar logo toda interessada -- e a verdade é que não tenho grandes argumentos para o contradizer.

Sto António com o menino ao colo
Igualmente feito em crochet
Não é que faça questão de andar à pesca do que trazer. Não, não mesmo. Mas gosto de ver artesanato. Gosto porque me enternece o trabalho manual e criativo das pessoas. Acho que é um tributo que presto às pessoas que, ou por amor ou por necessidade, fazem, com as suas mãos peças de que gosto e que gosto de enaltecer.

Duas ficaram na casa in heaven, outra foi presente para a minha mãe e apenas duas vieram para cá.

Mas claro que concordo com o meu marido: são inutilidades e, um dia, podem tornar-se numa dor de cabeça para quem tiver o pincel de dar destino a tanta tralha. Isso custa-me e penso que não posso deixar tal carga de trabalhos para ninguém.

Já pensei: in heaven, onde há espaço -- e que espero que fique na família por muitos e bons anos -- se calhar um dia arranjo uma sala com várias vitrines (para não lhe entrar o pó e a sua limpeza não ser outra dor de cabeça) e levo para lá toda a bonecada, santos e anjinhos, caixinhas, ampulhetas e tralha miúda de toda a espécie. No fundo aquilo a que o meu querido pimentinha mais crescido uma vez se referiu como 'o museu da Tá'. Tenho que pensar nisso. Mas, na volta, quando falar nisto ao meu marido, é bem capaz de achar que é mais uma maluqueira sem pés nem cabeça. Mas a mim parece-me uma boa solução. Logo se vê.

Sto António com menino e peixinho ao colo
[O que trouxe de Caminha é o pequenino -- e, na volta, está tão espantado por ver que há outro e bem mais flausino que ele]
A fotografia foi feita in heaven mas ele veio para cá, está ali ao pé de outros Stos Antónios


E não me perguntem se sou devota de Sto António pois estaria a fazer género se dissesse que sim. Simplesmente acho graça à figura. Acho graça e sinto uma certa (e inexplicável) ternura. É como com a Nossa Senhora. Gosto da figura talvez por ser maternal, talvez por pensar que, como em todas as mães, tem em si a capacidade de abençoar e amar. Como sei que a minha mãe reza e pede pelos seus, pensei levar-lhe aquela ali em cima. E não sei se uma simples figurinha feita em crochet pode ser intermediária das preces de quem acredita no poder de uma qualquer força superior mas se calhar sim. Há coisas que não se explicam, não é?

E, para terminar, não resisto a partilhar mais quatro fotografias de Caminha, aquela terra tão linda.







Caminha

E até já.

domingo, setembro 15, 2019

Caminha no Caminho de Santiago.
E, com vossa licença, umas freirinhas e uma igreja muito linda e uma futebolada na praia e mais umas vistas.





Repito-me -- e peço desculpa por isso -- mas esta pequena vila tem sido um poçozinho de revelações. 

Agora mais uma: víamos chegar ao hotel pessoas que chegavam de mochila e que pareciam sair na manhã seguinte. Ou, então, grupos que chegavam e a seguir chegava uma carrinha com malas. Registavam-se e, entretanto, alguém ia deixar-lhes as malas na entrada. Estávamos intrigados com aquilo.

E nas ruas ou rente ao rio. Na direcção da foz, com mochilas, ar de caminhantes. Caminhantes por todo o lado. Víamos também grupos de ciclistas, mas ciclistas atípicos. 

Reparámos que muitos traziam nas mochilas uma concha e alguns também umas fitas. Começamos a perceber que se tratava de peregrinos. 


Pensámos logo: o Caminho de Santiago, el Camiño. Mas a passar por Caminha? Quem faz uma peregrinação não tentará todos os short cuts possíveis? Podendo traçar uma diagonal no percurso, porque haveria alguém de fazer o caminho mais longo, por Caminha? 

Mas, então, eis que, na Vila, na praça central, vendo-os aos magotes, reparei que alguns olhavam o chão. Olhei também. Umas pequenas placas. Confirmava-se, pois, que Caminha está na rota de Santiago.

Entretanto, numa pequena lojinha de artesanato, ao conversar com a sua simpática dona (e a ver se ainda faço um post com os recuerditos que trouxe), perguntei-lhe se agora é altura de peregrinação. Riu-se, não, é todo o ano, embora menos no inverno e mais no verão. Perguntei: muito movimento aqui, não? Ela disse: nas comidas e dormidas sim mas, nas lojas, não. Trazem pouca coisa, não podem andar carregados. Falou-me então em cadernetas, disse-me que punha carimbos. Falou-me na concha, nas fitas, que isso é o que lhe compram mais. E mostrou-me: lá estavam, iguais às que eu tinha visto. Perguntei se em Caminha há muito onde ficar já que via tantos peregrinos. Disse-me que talvez a maior parte fique no Albergue e creio que me falou em seis euros por noite (mas será que percebi bem? Seis euros...!?). Mas acrescentou que cada vez mais também no hotel, lá em baixo, na foz do rio. Pois, lá está. E acrescentou: mas cada vez há mais pois parece que estão a preferir mais o caminho do mar. Pensei: então é isso, preferem vir pela costa, o caminho português da costa, deve ser mais bonito apesar de mais longo.


E, entretanto, os ciclistas. Os e as. Muitas mulheres. Fotografei um grupo que aparentemente tinha ficado no hotel. De resto, na entrada do hotel, tínhamos estranhado uma zona de estacionamento para bicicletas. Era, então, isso. Falavam animadamente. Ingleses. Mais mulheres que homens. E, diria eu, maioritariamente acima dos cinquenta. Aliás, alguns e algumas, diria eu que bem acima dos sessenta. Estava pasmada. Como é que gente desta idade se mete a fazer percursos assim, de bicicleta? O meu marido, que não se espanta com nada, respondeu simplesmente: Com treino. Com certeza que não estão agora a andar de bicicleta pela primeira vez. Pois não sei. Nem sei que vos diga. Nem sei de onde partem para, sendo ingleses, estarem ali, a caminho de Compostela. O meu marido disse: Provavelmente vêm da terra deles de avião até ao Porto e aí é que, se calhar, começam o percurso. 


O grupo que fotografei saíu do hotel e, quando eu estava à espera que fossem pela ciclovia até ao cais do ferryboat, não, seguiram pelo passadiço, a caminho da praia. Voltei a ficar admirada. O meu marido disse: Se calhar aproveitam para conhecer os lugares por onde passam, se calhar vão ver o mar. Mas não. Nós, que íamos a pé para a praia, encontrámo-los na pequena paliçada do cais do barco-taxi e, aos poucos, na maior animação, começaram a ir.


Passado um bocado, andávamos nós a caminhar junto ao mar, reparei em pontinhos coloridos já do lado de lá, em Espanha. Eram eles. Já lá estavam todos. Esperaram que estivessem todos e depois ala, lá foram pedalando, um atrás do outro. Bonito de ver.


Perguntei ao meu marido: como será fazer uma coisa destas? Não de bicicleta, que não teríamos estaleca para tal, mas, sei lá, a pé. Nem respondeu. Perguntei: mas as pessoas virão por motivos religiosos ou pela graça de fazerem o percurso? Respondeu apenas: Sei lá. E não me deu conversa. Não é coisa que lhe interesse. E eu, se quiser ser realista, terei que reconhecer que uma caminhada destas deve ser obra.

Mas fiquei a pensar. Sendo uma coisa soft, ficando em hotéis, parte do percurso em autocarro, não seria uma caminhada boa de se fazer? Ir por aí, andando, conhecendo cada local, fotografando, até chegar lá, ao fim do Caminho. O meu marido acha que não, que, deslumbrando-me eu com cada pequena coisa e querendo fotografar tudo, nunca mais chegávamos ao nosso destino. Pois, se calhar tem razão.

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E já que falo em peregrinações (que, se calhar, maioritariamente têm motivações religiosas), faço a agulha para outro tema que também mete religião. 

Na esplanada no Largo principal de Caminha, uma freira já com alguma idade anda de mesa em mesa, chocalhando uma caixinha e perguntando se queremos uma medalhinha de uma santinha, não percebi qual. Quando se pergunta quanto é, diz que é o que se quiser dar. E a verdade é que muita gente lhe dá uma moedinha.


Quando, depois de termos petiscado, entrei na Igreja do Largo, lá estava ela na última fila, absorta, contando o dinheiro que tinha conseguido. Mas, ao ver aproximar-me, de imediato levantou a caixinha e fez a mesma pergunta: uma medalhinha da minha santinha? Achei graça.

Mas eu estava ali apenas para ver, para estar. Gosto de entrar em igrejas vazias. São frescas, são lugares de tranquilidade. E espaços bonitos, carinhosamente cuidados. 


Entretanto, quando, pouco depois, andávamos a passear, lá iam mais duas, conversando. E pode ser visão selectiva ou distracção mas a verdade é que não tenho ideia de ver em Lisboa um par de freiras a andar na rua há que séculos. Se calhar é porque não passo ao pé de algum convento onde elas vivam, porque é capaz de haver algum e acredito que ainda se vistam assim, em Lisboa como no resto do país. Mas a verdade é que achei graça. Tendo eu acabado de ver nas esplanadas gente com um ar tão ou mais cosmopolita do que em Lisboa e, inclusivamente, tendo acabado de fotografar uma mulher tal e qual a Lady Gaga, com um chapéu giríssimo que lhe ficava a matar, pareceu-me estar a ter uma visão do passado ao ver, naquela ruela, as duas 'irmãzinhas da caridade'.


E, por ora, é isto. Temo que, com tanto post -- e tão longos e com tanta fotografia--, já estejam fartos da minha reportagem em Caminha. Entretanto já lá não estou, já regressei à minha selva in heaven.

Mas ainda tenho aqui tanta coisa bonita que gostaria de partilhar convosco. Não sei o que faça. Também fomos a Vila Nova de Cerveira e também gostava de mostrar algumas imagens. Mas sei que uma pessoa pode tornar-se uma maçadora de primeira a querer impingir aos outros aquilo que viu. Portanto, calo-me já deixando-vos apenas com mais quatro fotografias. 

Fiz esta fotografia dentro de água, mesmo, mesmo na foz do rio, no sítio em que ele entra no mar.
(E, apesar do risco, a máquina fotográfica aguentou-se...)
Do lado direito Portugal, Caminha, e, do esquerdo, Espanha

Talvez nesta perspectiva se perceba melhor onde é a foz do rio Minho.
(Tal como a primeira fotografia, esta foi feita num dos miradouros da Vila.)
A ponta de areia que se vê mais ou menos à esquerda é o areal que, do lado de cá, é praia de rio e que, depois do bico, é praia de mar, indo em contínuo até Moledo.
Do lado de cá das águas é, pois, Portugal e, do lado de lá, Espanha
Não é uma paisagem tão linda?

Futebolada na praia (Espanha em frente).
A sorte destes miúdos...

Pôr do Sol do lado do rio (continua a ser Espanha o que se vê do lado de lá das águas)

E agora é que é. Vou ver se fotografo ainda os little recuerditos para vos mostrar. Tralha, inutilidades, diz o meu marido. Pois, não digo que não.

E um bom dia de domingo.

Há sereias em Caminha





Só para que se saiba como sou distraída e ignorante: na minha pouco abonatória cabeça, Moledo era uma praia ali a seguir a Vila Praia de Âncora. Caminha era a terriola ali a seguir, a caminho de Valença. E se uma vez lá tínhamos ido jantar, a um restaurante recomendado, a visita nocturna à vila foi exígua e deixou impressão de ser terra apagada, sem nada de relevo a registar. Portanto, como tenho vindo a registar, foi agora com grande surpresa que descobri que é absolutamente encantadora.


Mas não sou só eu. O meu filho, naquela noite em que estávamos com vontade de nos pôr a caminho e sem saber para onde, perguntou porque não íamos 'lá para cima', Gerês por exemplo. Disse-lhe que lá tínhamos estado não há muito. Logo a seguir, o meu marido, que não tinha ouvido o telefonema, sugeriu: 'E se fôssemos até lá acima? Por exemplo, outra vez, até à praia de Moledo?'.

Ao fazer pesquisa, o booking sugeriu-me um hotel em Caminha. Vimos e gostámos. Mas o meu marido interrogou-se: 'Ficar mais do que uma noite em Caminha...? Não sei...' Para ele também não haveria lá nada que se visse. Portanto, segundo ele, ficaríamos um dia lá e seguíamos para outro lugar. Mas uma qualquer intuição me fez acreditar que devíamos ficar mais.

E foi o que vos tenho dito: uma descoberta, um deslumbramento. Sob todos os pontos de vista. As fotografias que tenho feito são mais do que muitas e as dificuldades em escolher umas quantas para aqui vos mostrar muitas.


As praias não têm quase ninguém. Pode praticar-se nudismo ou semi-nudismo nas calmas. A largueza é total. A praia de rio, mais pequena (mas não pequena), é abrigada. Mesmo se do lado do mar faz algum vento, no lado do rio está-se lindamente. Além disso, as cores do pôr-de-sol bronzeando o rio e o casario, embelezam ainda mais a paisagem. A praia de mar é extensa, orlada por pinhal, com o monte espanhol em frente, com a ínsua, com uma beleza paradisíaca.

Fotografei os casais, fotografei as aves, fotografei as casas, fotografei o mar e tudo o que vi e achei belo. E fotografei algumas sereias. Não interessa a idade, as 'medidas' ou o design da vestimenta (ou a ausência dela). Uma mulher pousada no areal é sempre uma sereia.

A fotografia aqui abaixo não foi feita de noite. Pelo contrário, foi feita em pleno sol. O que acontece é que lhe toldei um pouco a visibilidade pois, ao fotografar, tento captar o instante em pura abstracção, sem que se identifique a sereia em causa.


E até já, não com sereias mas, talvez, com freirinhas. Ou ciclistas.

sábado, setembro 14, 2019

As afinidades explícitas entre os casais.
No Minho tal como no Algarve.





Já no outro dia, depois de ter estado em Lagos e ao falar das afinidades entre os elementos dos casais felizes, que resistem ao tempo, mostrei um conjunto de casais que, caminhando à beira-mar, revelam como o seu andar e a sua atitude corporal involuntariamente traduzem a convergência que habita o seu afecto.

Agora, não a Sul mas o mais a Norte possível, volto a deixar registo daquilo que, ao longo de anos, venho constatando. 

Este é o mesmo casal da primeira fotografia. Aqui, aparentemente, o jovem preparava a cana com a ajuda dela.
Lá em cima, bem mais tarde, era ela que segurava a cana, ambos esperando um peixe ao entardecer

Nesse mesmo post uma Leitora dizia-me, num comentário, que achava não ser forçoso que os membros de um casal sejam almas gémeas, gostem das mesmas coisas. É um facto. Concordo. Almas gémeas num casal acho que só pode correr mal. Só um narcisista quereria ter uma relação com alguém igual a si já que, assim como assim, ficava dispensado do trabalho de se ver ao espelho. Mas uma coisa é uma alma gémea e outra, muito diferente, é existir o conjunto de afinidades básicas que constitui o chão comum do relacionamento. Claro que se um não gosta de praia ou de uma tarde na piscina, o outro pode ir sozinho. Ok, vai sozinho. Ou se um não gosta de picnics no campo e o outro gosta. Ok, vai sozinho. E, quem diz sozinho, diz com amigos (mas não com ele). Ou se um não gosta de ler e o outro gosta. Ok, lê. Mas falar sobre livros não é coisa que possa fazer com ele. E quem diz isso diz muitas outras coisas. E, associado a isso, haverá as conversas desconfortáveis em que um quer, o outro não, um gosta e o outro não -- e em que o clima entre ambos vai secando, esfriando. E o que acontece é que essas divergências, cada uma pouco grave quando vista de per se, se vão acumulando ao longo do tempo gerando uma pesada solidão e um cavado fosso entre os dois. E, portanto, é quase inevitável que o relacionamento não tenha pernas para andar. Não há frutos que daí possam nascer porque não há o chão comum mínimo. Até que, um dia, um dos dois vai inevitavelmente dizer: 'Se é para isto, então, mais vale cada um ir à sua vida -- e amigos como dantes, quartel general em abrantes. Adeusinho e bye-bye'


Em contrapartida, há os que andam lado a lado, partilham gostos, ajustam-se, há cedências mútuas, espontâneas, e olham na mesma direcção, trazem estabilidade emocional e alegria um ao outro, caminham na direcção de um futuro que não é baseado em ficção mas numa realidade prazerosa. 

A jovem aqui acima está grávida, linda e feliz, tal como é bonito e animado o seu companheiro. Até nas cores há coerência. Andando sintonizados, a bom passo, nitidamente com o futuro pela frente, ali iam na maior esperançosa alegria.

Tal como, frequentando já o futuro, o casal abaixo caminha lado a lado, ajudando-se mutuamente, preparados ambos para as mesmas circunstâncias, sempre um para o outro, parceiros de longa viagem.


O casal abaixo, ambos muito elegantes, caminha na direcção da Praia do Moledo que é contígua à de Caminha. 
Ah, a propósito. Respondo-lhe aqui, Lucilia: o lugar maravilhoso é Caminha. Espanha em frente. Banhada pelo rio cuja foz separa a praia de rio da praia de mar. Conhecíamos Moledo: ainda há muito pouco tempo lá tínhamos estado, uma vez mais. De Caminha guardávamos a ideia do que era a Vila há uns anos, coisa apagada, achávamos que nem valia a pena lá dar um salto. Pois bem. O que era nada tem a ver com o que é hoje. Alindou-se, deixou à vista os seus encantos que são múltiplos. Está outra, está um dos lugares mais lindos em que já estive. 
Atravessamos a rua, chegamos à foz, vamos por um passadiço, atravessamos as dunas, entramos na praia e vamos caminhando. Uma imensidão de costa. Praia quase deserta. Linda, linda, linda.

O percurso que o casal abaixo fez, estávamos também nós a fazer. Em Modelo já há mais gente que na praia de Caminha e há surf e kite surf. No entanto, este 'mais gente' é relativo porque, na verdade, como se vê, é pouca.


Dentro do pinhal, nas dunas, há um pequeno parque de campismo que não se vê, nem da estrada nem da praia.  Não sei se o casal aqui abaixo ia para lá. Mas, uma vez mais, iam coordenados, alinhados.
Nunca fui dada a campismo. Já contei aqui que fizemos uma única tentativa. Comprámos duas tendas, uma para os meus filhos, outra para nós. Fomos com amigos que faziam campismo com frequência, descobrindo sempre espaços naturais, com pouca gente, bem cuidados. Daquela vez quisemos fazer a vontade aos nossos filhos. 
Eram tendas redondas, acho que de bom tamanho. Acontece que, de noite, o meu marido não conseguia encontrar posição. Não cabia lá dentro. Não conseguia estar com as pernas encolhidas. Às tantas, abriu o fecho da portinhola e pôs-se com as pernas de fora. A noite toda a entrar dentro da tenda. Eu a tentar que ele parasse quieto mas qual quê, punha-se de lado, esticava as pernas, revirava-se. Mas eu própria não estava confortável. Incomodava-me especialmente a perspectiva de, se precisasse de ir à casa de banho, ter que ir pelo campo, às escuras. De madrugada, ele desistiu e foi para o carro, tentando dormir lá, e eu lá consegui descansar alguma coisa. Quando viemos de lá, convergimos: não era para nós. Até hoje.
Contudo, em bungallow ou cabana ou coisa do género, não vejo por que não. Seja como for, não sei se este casal ia para o cmpismo mas que iam bem coordenados iam.


Quando a maré está vazia, como é o caso da fotografia abaixo, há uma linha, a toda a volta, em que há um declive. Aliás, quando está cheia, também, só que não se vê.  Entrei na água, toda afoita, e tentei avançar mas senti que mais uns passos e mudava de piso, caía. Faz alguma impressão. Afunda. 

Há zonas sob vigilância mas, ainda assim, para quem, como eu, não está habituada a um mar assim, o banho fica-se pela entrada até meio corpo, andar dentro de água... e pouco mais. Na zona de rio é diferente, a água é tranquila, tudo na boa (e também com nadador-salvador).

Ao fazer a fotografia abaixo, eu ia a andar dentro de água e o casal, lá em cima, como que em linha de fuga. Gostei de ver. No fim, já eram um pontinho. Único.

Lá em cima seguia também o meu marido, que também fotografei, andando a bom ritmo enquanto eu ia curtindo a beleza envolvente.


E há a Ínsua de Caminha com a sua fortificação. Se fosse outro o piso, talvez as pessoas se abalançassem a ir a nado. Assim, o que vejo a ir para lá são barquinhos. E as pessoas saem, passeiam naquele lugarzinho no meio do mar. É muito bonito a qualquer hora do dia. 

O casal abaixo, de mão dada, conversando, também já dentro do futuro, um futuro que certamente foram construindo a dois, pareceu-me muito bonito, envolto pela luz doce de um entardecer quase outonal de tão sereno.


E termino com o jovem casal da fotografia abaixo. Eu estava sentada, no piso de cima do areal, a observá-los. Iam, lá em baixo, pela orla do mar, e riam, brincavam, depois simplesmente conversavam para, logo de seguida, ele lhe passar o braço pelos ombros, para depois o deixar deslizar até à cintura dela e ela fingir que fugia -- pareciam querer perseguir-se embora não se afastando. E riam e brincavam, na maior felicidade. É a ternura dos apaixonados. Claro que o abraço tinha que acontecer. Há momentos em que a imensidão do mar e o perfume da maresia tornam urgente o estreitamento entre corpos, os beijos e as palavras de amor.


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A todo o tempo dizemos que só é pena Caminha ser tão longe. De manhã, à tarde, ou mesmo, quando saímos a passear à noite pela beira do rio, dizemos que temos que voltar, pena é ser tão longe. Claro que em Portugal qualquer longe é um longe relativo. Mas, ainda assim, não é escapada que se possa dar numa de escapadinha, um fim de semana de ir e vir. Mas se, para quem mora a meio do País, Caminha é um bocado longe, já para quem mora in between é perto -- e o que vos digo é que é daqueles lugares que qualquer pessoa, podendo, deve conhecer. Um lugar de sonho.

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Tenho aqui tanta coisa para mostrar. As freirinhas, as capelinhas, as sereias, etc. Mas não sei se ainda consigo habilitar-me a começar novo post. 

Portanto, até já ou até amanhã, quiçá durante o dia.

sexta-feira, setembro 13, 2019

Reportagem da mulher-pássaro





Começo com uma imagem nocturna mas é só para despistar. O tema é outro: a seguir às casinhas seguem-se os passarinhos. 

Deixei de fora os pombos, não que os ache da ralé, do bas-fond do passaral ou coisa quejanda mas por serem bicho muito infestante, especialmente se houver quem os alimente quase à boca. Agora, felizmente cada vez menos. Não há muito, havia uma senhora que, perto de mim, todos os dias, ia para um banco do passeio, que é largo, e levava um grande saco cheio de bocados de pão e de milho. Atraía pombalhada que não vos digo nada, era pombo a vir de todo o lado, parece que ouviam sirene, vinha tudo à uma, uma coisa quase sinistra. Mas ela, coitada, ficava feliz com aquilo, acho que devia pensar que estava a fazer uma boa acção. Só que isto das boas acções, como é sabido, é coisa subjectiva. 
Veja-se a Teresa Guilherme: achava que as que tinha eram das boas e, afinal, deu no que deu, menos que pombo mal arraçado. A ver o que o juíz acha do assunto, se foi o Salgado que as tinha mal alimentadas ou se foi ela que, como aquela senhora no banco, não viu o que estava mais do que à vista. 
Mas isto para dizer que vi muito pombo mas não os fotografei. Também vi passarinho miúdo mas apanhá-los só à fisga ou com tripé. 
À fisga nem pensar, sou do bem. Nunca atirei pedras com fisga a passarinhos; mas os meus amigos da escola e o meu primo mais novo sim e eu, na altura, achava normal, brincadeira de rapazes. Até moí muito a cabeça ao meu melhor amigo, rapaz atilado, gozando com ele por não ser dado a essas aventuras que eu via nos outros rapazes. O meu primo, então, tinha cá uma pontaria. E depois comia-se os passarinhos. E eu gostava. Já fui muito bárbara. Primitiva, mesmo.
Mas, pronto, isto também para dizer que para passarinho miúdo na copa das árvores só à força de muito zoom e muito zoom não é compaginável com vento a dar-lhe ou com estar quase a andar quando disparo

Ou seja, só pássaro de bom tamanho. O chamado passarão. 

Este que estava num declive de areia mesmo à beira-mar era grande. Melro só se for de raça gigante. Não sei o que seja. Habituado ao infinito do mar e ao canto das ondas, não esteve nem aí para mim. Fotografei-o, aproximei-me e foi o que se vê: desprezo.


Aqui abaixo uma menina gaivota, toda mesuras, toda a fazer pose para a imagem ao espelho, coquette e cheia de formosuras. Só falta mesmo uma pulseirinha no tornozelo para ficar ainda mais feminina. 


Esta aqui a seguir não sei se será mesmo gaivota. Mais uma marquesa-gaivota, talvez. Só tapete de veludo, chão, para a menina, só se for alcatifado em verdes e azuis, E toda ela prosa, toda ela andar de gazela, bico escuro, coisa distinta, plumagem em tigresse. Nada de confianças com a plebe.


Segue-se a pernilonga bailarina. Creio que seja uma garça real. Mas não sei. Parecia jovem do Chapitô, andando sobre andas. Só sei que levantava o pezinho de cada vez que a suave ondulação trazia a ondinha. Muito atenta, dá ideia que não houve mexilhão tresmalhado que lhe tenha escapado.


Volto-me agora para a praça da vila. O chafariz cheio de pombos gulosos e de gaivotas aventureiras, molham-se, bebem, gozam a vida. Mas alguém se levanta de uma mesa, deixando migalhas ou restos nos pratos, eis que largam o lazer e já aí está a fauna da limpeza. Quer os pombos, quer as gaivotas. Qualquer dia aparece uma nova espécie urbana: a pombota, misto de pombo e de gaivota.

Como disse, pombos não fotografei, só gaivotas. E vejam a pinta desta madame aqui abaixo, andando, toda flauteada, como se fosse gente. Alguém lhe empreste uns óculos escuros, se faz favor.


E quando estão de papo cheio, elevam-se aos beirais e ali ficam a curtir um banho deste generoso e suave sol de Setembro.

Andar à pesca ou atrás dos barcos dos pescadores dá muito trabalho. Andar a rapinar batata frita ou restos de pão pita ainda a saber a hamburguer dá menos trabalho e sabe melhor. Chamem-lhes burras.


E, de regresso às águas, e o sol já a dourar-se para a cerimónia do entardecer, eis uma que se acha um pato ou um cisne, deslizando sobre o lago. Só lhe falta levar auscultadores para ir ouvindo Tchaikovsky, toda na perfeição, alheada das agruras do mundo.


E depois apareceu um ser curioso, patas encarnadas, armada em inspectora, a passar a pente fino o lodo. Só lhe faltava uma lupa ou uns óculos de alta graduação.

A fotografia não está especialmente nítida -- as minhas desculpas. A fraca luz já não me deixou obter melhor definição. Ou isso ou o meu compagnon de route que não parava de chamar por mim. Agora diz que o meu pára-arranca para fotografar passaralhos (quando começa a ficar furioso comigo, trata assim os pobres passarinhos) lhe faz doer as pernas. Como se eu acreditasse. Agora claro que me desconcentra. Veja-se como ficou a fotografia.


E não vos faço perder mais a paciência com tanta passarada. E olhem que só mostrei as que estão a andar ou a nadar ou a repousar. É que tenho bué a voar. Mas poupo-vos.

Termino com um casalinho. Ele ousado, pluma arrebitada, olhar de galaroz, todo pimpão. Ela toda hashtag, #MeToo, sem querer nada com manobras de sedução, toda a ameaçar com denúncia de assédio. Ou isso ou beata, não deu para perceber. Ou, então, mulher honrada, daquelas que não têm ouvidos nem olhos nem neurónios (não ouvi, não vi, não sei de nada). São as piores.


E, por ora, c'est ça (a propos: muitos franceses também por aqui) A luzinha que estou a usar para escrever é discreta, apontada ao teclado,  mas, ainda assim, estou a ser fortemente instada a desligar isto (sendo que isto é luz e computador). Este cavalheiro que aqui tenho ao meu lado não se habitua a ter uma blogger a teclar na sua cama. Não é millennial como eu. estas disparidades geracionais são um problema. Mas, pronto, hashtag vou dormir.

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E um dia feliz a todos vós, passarões e passarinhas.

Uma casa na praia, uma casa tradicional na montanha mas com vista para o rio e duas casas modernas também na montanha mas agora com vista para o rio e para o mar.
Em dia de jackpot no Euromilhões faites vos jeux





Gosto muito do meu país, isso é mais do que sabido, e não me canso de mostrar lugares que me encantam. De cada vez que descubro um lugar novo é quase inevitável que me surpreenda com a sua beleza. Por vezes, para além da beleza natural, há o cuidado no seu arranjo, há o bom que é lá estar. Assim de repente poderia referir alguns que elegeria como os mais belos de Portugal. Mas este em que estou agora é mesmo lindo para além da conta e conjuga isso com um sereníssimo acolhimento e, por isso, tenho que vos pedir que me desculpem pelo excesso nos encómios: aqui tem rio, tem mar, tem praias, tem serras a toda a volta, tem miradouros, tem pinhal nas dunas, tem uma vila bonita e bem arranjada, com uma bela praça, com boas esplanadas em volta de um belo chafariz, tem belas terras nos arredores e um caminho rés à água entre elas. É uma beleza absoluta. 

Interrogo-me: não há ninguém aí desse lado que seja de lá? Se há, porque não me avisou que eu tinha mesmo que cá vir para conhecer por dentro a beleza deste lugar?

Acabei de ver as fotografias que fiz hoje com a máquina (porque fiz também com o telemóvel para enviar para os meus filhos e para a minha mãe) e nada mais, nada menos do que duzentas e sessenta e três. Tanta coisa bonita para mostrar que nem sei por onde começar. Fazer selecção não é fácil. Não quero enfastiar-vos mas custa-me desdenhar de tanta coisa linda que os meus olhos viram.

Enfim. Dificuldades.

Começo por mostrar casas lindas. 

A Isabel gostava de ter uma casa na praia e eu, ao ver esta que aqui mostro abaixo, pensei que esta era mesmo boa para ela. Uma casa no sopé de um monte, entre arvoredo, mesmo na praia. Claro que lá toda a gente a trataria por Chabeli mas Chabeli é um petit nom que lhe assenta como uma luva.


E a seguir uma outra. Não na praia mas não muito longe. De carro, uns cinco minutos. Num monte virado para o rio, para o lugar onde o rio parece um lago, um lago tranquilo, um lago por vezes espelhado, e vista também para vários outros montes. É uma casa tradicional, uma casa assolarada, uma casa de quinta. 


E, finalmente, também na serra, perto dos miradouros de onde se tem uma vista assombrosa, duas casas de linhas direitas, com janelas de onde certamente se pode ver a foz do rio e o mar, este mar largo que faz parte da nossa alma portuguesa.


A fotografia da casa 'da Isabel' foi feita de manhã e as duas últimas ao pôr do sol. Daí a diferença de tonalidades. 

Claro que, do que vejo, as casas não estão à venda -- o que é uma pena. Mas nunca se sabe e, além disso, há dias de sorte. E, mesmo que a casinha da praia nunca vá parar às mãos da Isabel ou qualquer das outras às minhas ou às vossas, não faz mal. Os donos estarão, certamente, a dar-lhes muito uso e isso é que importa. E importa também saber que há casas bonitas em lugares bonitos, casas na praia ou casas with a view, e só de vê-las assim por fora a gente fica contente a imaginar como deve ser bom viver nelas. Neste nosso lindo, lindo, lindo País.