Não é que a medida seja desnecessário (e o mais certo é que não chegue). As finanças estão num estado tal que todo o saque aos contribuintes é justificável. Foram muitos anos de políticas erradas, desde os tempos gloriosos do cavaquismo, até ao facilitismo associado à adesão ao euro, passando pelo oportunismo dos países fortes que impuseram o fim da indústria, agricultura e pecas para terem para onde escoar os seus produtos.
Mas o que chateia é que Passos Coelho derrotou o Governo alegando que não eram admissíveis tantos sacrifícios, no mesmo comprimento de onda de Cavaco Silva quando tomou posse (dizendo que há limites aos sacrifícios). Afinal, agora que Sócrates foi derrotado, o discurso muda e, com igual convicção, se diz o contrário do que se dizia há um ou dois meses atrás.
Justifica-se agora Passos Coelho que soube ontem em quanto ia o défice e que resolveu isto: one time shot, um imposto extraordinário que é uma injecção única. Estranho. Primeiro porque o défice do 1º trimestre não é significativo, contém ainda resíduos do ano anterior. Segundo porque grande parte das medidas ainda não foram implementadas - a sê-lo puxarão o défice para valores mais baixos. Terceiro, um soco no estômago destes dá-se assim, sem pensar, depois de uma única noite?
Justifica-se agora Passos Coelho que soube ontem em quanto ia o défice e que resolveu isto: one time shot, um imposto extraordinário que é uma injecção única. Estranho. Primeiro porque o défice do 1º trimestre não é significativo, contém ainda resíduos do ano anterior. Segundo porque grande parte das medidas ainda não foram implementadas - a sê-lo puxarão o défice para valores mais baixos. Terceiro, um soco no estômago destes dá-se assim, sem pensar, depois de uma única noite?
Oportunismo, cinismo - e fico-me por aqui para não ter que ir buscar outros epítetos igualmente adequados.
Ocorrem-me, nesta altura, as palavras de Nuno Júdice (Luta de Classes in A a Z):
Na primeira hipótese, há uma causa
que obriga a multidão a avançar pela rua,
sabendo o que tem pela frente. As suas vozes
esperam que alguém as acorde com uma fórmula
que dê sentido ao seu movimento; mas
nem isso é preciso, quando olhamos o conjunto
e encontramos uma lógica que
determina cada passo.
Na segunda hipótese, a expressão do rosto
transporta uma decisão que ultrapassa o objectivo
do grupo. Poderia falar-se de uma metafísica
colectiva, e recorrer à dialéctica do Hegel para
descobrir esta violência serena que antecede
o grande combate que o filósofo descreveu como
simples antítese. A abstracção do raciocíonio
liberta-nos da realidade.
O que não vemos é o que está à sua
frente, e nunca tem rosto. A devastação
do mundo é, no fundo das coisas, a terceira
hipótese, mesmo quando uma planta ainda nasce
no terreiro vazio, depois da batalha.
Atenas |
Sem comentários:
Enviar um comentário