quarta-feira, maio 03, 2023

Os testículos de António Costa, a bicicleta de Marcelo, o SIS, a não demissão de Galamba e a cabeça de Holofernes como compensação aos que tanto salivavam pela cabeça do homem do brinco

 

Há coisas que não percebo, que me parecem altamente questionáveis. Uma delas é uma pessoa com o CV do Frederico Pinheiro ter sido Adjunto de um Ministro. Não vejo no seu percurso nada que o qualifique para tal. Pelo contrário, imagino o sacrifício que gestores experientes e capazes tinham que fazer para lidar com gente com esta inexperiência e desconhecimento do mundo real. É que, do mundo real pelo qual ele passou, o que vejo é que foi empregado de mesa e vagamente jornalista do SOL ou do Record, coisa que, convenhamos, pode ser respeitável mas não é, certamente, um extraordinário cartão de visita para um Adjunto de um Ministro das Infraestruturas. Tirando isso, o que vejo é o percurso da malta que anda de curso em curso, começando na comunicação, passando pela política, investigando coisas de duvidoso interesse, e que assim anda, mestrando-se e doutorando-se e, en passant, assessorando estes e aqueles.

Isto, sim, parece-me muito questionável. Ele e todos os outros e outras que, sendo amigos do BE ou do PS ou do que for, e frequentando os corredores das intrigas partidárias, acabam compensados com lugares bem remunerados como adjuntos e assessores. 

E falo no BE pois é público que  quem deu a mão a Frederico Pinheiro para ele se introduzir nestes meios foi Ana Drago. Transcrevo:

(...) de janeiro de 2013 a março de 2014, tornou-se assessor de Política Económica e Financeira da Assembleia da República, sob o aval de Ana Drago. A deputada assinou uma carta de recomendação onde dizia ter convidado pessoalmente Frederico Pinheiro para trabalhar como colaborador do Bloco de Esquerda. 

Estamos falados.

Além disso, do que vejo, Frederico Pinheiro estava há uns anos naquelas funções de Adjunto de Ministro. Ou seja, trabalharia com Pedro Nuno Santos e terá sido herdado pelo Galamba.

Se agora, por quebra de confiança, Galamba o demitiu, nada a dizer. Terá feito bem. Não se pode ter um Adjunto em que não se confia. E, tal como já o disse, fosse eu ministra, alguma vez quereria ter um Adjunto com um CV como o deste Fred...? É que nem pouco mais ou menos. 

E nem quero saber do folhetim das notas, tretas que são milho para pardais. Falo apenas do CV do amigo 'pessoal' de Ana Drago (sic).

Mais. Ficou agora a saber-se, pela reação do dito Frederico, que emocionalmente não será muito maduro e que, quanto a sentido de Estado, tem sido a tristeza que se tem visto: despeja mensagens e mails para a comunicação social, levou (sem autorização) um computador do ministério com informação classificada, teve reacções violentas, etc. Portanto, face a isto, ainda mais razão há que dar a Galamba. Se o exonerou, se calhar o que há a censurar é que só tenha sido agora.

Volto a dizer que o que me preocupa nisto é, sobretudo, pensar que há gente deste calibre nos ministérios.

De resto, não percebo bem que 'culpas' se atribuem a Galamba. Não pode ser o brinco. Se ele tivesse um piercing num neurónio eu poderia ficar preocupada, talvez lhe afectasse o raciocínio. Agora um piercing na orelha não vejo que isso prejudique o seu trabalho.

Pelo contrário, não tenho ouvido dizer mal a quem tem lidado profissionalmente com ele, em especial quando estava na Energia.

No meio desta catadupa de suspeições e acusações, parece que agora se pede a cabeça dele por supostamente o Ministério ter contactado o SIS. Só que penso que as pessoas pensam que o SIS foi contactado para recuperar um computador roubado quando isso era caso para a PSP.

Ora tenho a dizer que eu, no lugar do Galamba, teria pensado e feito o mesmo que ele. Se um computador com informação classificada e sensível para o Estado está nas mãos de alguém ressabiado que foi demitido, então deve ser dado o alerta ao SIS. 

Se calhar as pessoas pensam que o SIS só deve ser alertado em caso de terrorismo ou coisa do género. Errado. Tanto quanto julgo saber, o SIS deve ser alertado sempre que esteja em causa zelar pelos interesses do País, nomeadamente quando se pensa que informação sensível pode ir parar a mãos que a usarão contra os interesses do país, seja em temas com contornos económicos, estratégicos ou outros.

Já participei em operações de venda de empresas. É sempre um tema sigiloso em que a informação tem que ser restrita e acessível apenas a quem é inequivocamente capaz de guardar segredo seja em que condições forem. Qualquer fuga indesejada de informação prejudica sempre quem vende.

Por exemplo, tendo o Frederico Pinheiro no computador o plano de reestruturação da TAP é certo e sabido que, se alguma informação transpira para os potenciais compradores, logo o que lá consta será sinónimo de um desconto. Se, por exemplo, lá consta que, para modernizar a empresa, se terá que investir 200 milhões de euros, logo qualquer comprador dirá que vai abater essa verba ao valor que ia oferecer. Branco é, galinha o põe.

Escusado será dizer que quaisquer empresas compradoras se 'pelam' por obter informações (e são conhecidas algumas práticas pouco recomendáveis para aliciar interessados em passar essas informações). 

É obrigação do SIS zelar por que os interesses do País sejam acautelados. Não nos esqueçamos que se o negócio correr mal (e não me refiro apenas ao preço de venda) é Portugal que ficará prejudicado. 

Portanto, quem anda por aí na maior histeria por o SIS ter sido alertado só pode ignorar isto.

De resto, gostei da intervenção de António Costa. O meu marido comentou: Tem tomates. Mas eu, que aqui escrevo, porque acho que, sendo ele Primeiro Ministro, devo ter algum tento na língua, digo apenas que acho que ele os tem no sítio, referindo-me naturalmente aos seus respeitáveis testículos.

Não se pode governar em função dos bugalhos desta vida nem dos jornalistas que, esquecidos que a sua missão é informar com isenção, resolveram todos saltar para a ribalta para tomar partido e para defender acerrimamente quem lhes dá na bolha, sem um pigo de racionalidade ou isenção. Não se pode governar indo atrás de bocas ou de humores. Há que ter os pés na terra e agir com objectividade. 

Gostei bastante do ouvir o Costa. Acho que tem coluna vertebral, que tem cabeça, que tem os pés na terra, que não vai em cantigas.

[Que eu gostaria que o Costa conseguisse arregimentar para o seu Governo gente de alto calibre como, no seu tempo, foram Álvaro Barreto ou Nobre da Costa, claro que sim. Mas duvido que, nos tempos de hoje, com a chusma de besouros venenosos e melgas palradoras que enxameiam a comunicação social, pessoas experientes e competentes largassem os seus empregos para se irem sujeitar à vida política de hoje em que meio mundo se acha no direito de enlamear quem ousa afirmar a sua vontade.

Curiosamente, há pouco, ao falar com o meu filho, pessoa competente, experiente e com um trabalho que o motiva, disse-lhe isto e perguntei-lhe se ele, por exemplo, aceitaria ir para ministro, ele disse-me que sim, Fiquei muito admirada. Percebi que gostava de servir o País. Contudo, acrescentou que, não estando ligado a nenhum partido e, portanto, sem ligação a qualquer aparelho, não seria recomendado e, portanto, não seria convidado. E que, portanto, a questão nem se põe.

Não sei se será assim mas, na volta, é mesmo. Não sei como funciona a selecção de nomes ministeriáveis mas, do que se tem visto, de facto António Costa não tem conseguido sair da bolha política do partido.

Mas isto é um tema geral, que transcende o Costa, que transcende o PS, que transcende o PSD. É uma questão de regime. E é um tema sério, basilar. Por isso, tenho falado que este assunto, sim, seria um tema que Marcelo deveria agarrar: como conseguir atrair para a política -- e para a governação, em particular --, gente séria,  experiente e competente?]

Mas, no tema em concreto do Galamba, nas actuais circunstâncias, percebo que António Costa tenha tomado a atitude corajosa que tomou, dando o peito às balas para seguir a sua consciência. Revela sentido de Estado, revela princípios, revela cabeça fria, revela coragem, revela liderança. É o que se espera de um Primeiro-Ministro.

Já o que não percebo é a reacção de Marcelo ao emitir uma Nota em que mostra publicamente o desacordo perante a posição de António Costa. Não percebo mesmo. E não gostei. Fiquei, até, incomodada. Todos os comentadores se agarrarão agora a isto, explorarão este publicitado desacordo ad nauseam. E isso não é saudável para a democracia. Parece-me uma reacção semelhante à do 'puto' Fred que, fulo por ter sido demitido, invadiu o ministério, roubou o computador e, segundo li nas notícias, atirou a bicicleta contra as portas de vidros. 

Falta a Marcelo o que Costa revelou na sua intervenção. Marcelo -- que já se tinha esticado ao deixar que anunciassem publicamente o seu pedido de demissão do Galamba e que tem andado a atear a fogueira da dissolução para gáudio das mediáticas marabuntas --, escusava de ter-se exposto ainda mais com esta Nota. Diminuiu-se publicamente.

Espero que reconsidere e se reposicione pois, em minha opinião, com esta Nota, qual bicicleta atirada contra os vidros de São Bento, prestou um mau serviço ao País (e desgastou, ainda mais, a sua imagem).

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Para os que se sentiram defraudados por Costa não nos ter servido a cabeça do Galamba, para ver se se acalmam, junto várias pinturas que mostram Judite com a cabeça de Holofernes na mão. 

Menina mais castigadora que só visto...! Estava mesmo bem como comentadeira, esta Judite. Era ela e a Moura Guedes. Olha que duas.

(NB: O Holofernes é barbudo e não tem brinco, lamento, mas é o que se arranja).

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Um bom dia

Saúde. Tino. Paz.

4 comentários:

Anónimo disse...

Subscrevo!!!

Anónimo disse...

Como é que uma pessoa tão espírito livre, quando o assunto é o PS perde a objectividade...

Anónimo disse...

...objetivamente se deixasse andar a AR "ia de vela" de acordo com os artes pertinentes da CRP ou sem eles, de acordo com a muita conversa do pr que publicou um"miserável" texto na seu dele sitio.
nV

ccastanho disse...

Viva, UJM

Gostei do que diz.

António Costa, tinha descido na minha consideração enquanto primeiro-ministro.

Depois de ontem. sentar Marcelo Rebelo de Sousa no seu devido lugar, mostrou ter (tomates,"UJM chama testículos" eu, Alentejanamente, digo, tomates)
suficientes para liderar um país, e ao mesmo tempo, convidar os portugueses a ajudarem o débil PR, a acabar o seu mandato com a dignidade que o cargo exige. Marcelo bem precisa de ajuda de todos dada a sua desorientação politica que o assola em ultrapassar as suas competências constitucionais.

Costa ganhou sem reservas, a continuação do meu voto no PS, como há quarenta e tal anos vem acontecendo.