sexta-feira, maio 19, 2023

Comissão da Palhaçada e das Infantilidades (CPI) dedicada às horas exactas a que o Galamba ligou às pessoas (quaisquer pessoas)

 

Vínhamos no carro a ouvir a inenarrável inquisição a João Galamba. As perguntas e o tom em que são feitas são do domínio do inqualificável.

Gente daquelas, ao prestar-se ao papel de fazer perguntas daquelas, pueris, ridículas, num tom ora justiceiro ora circense (em especial no capítulo dos palhaços), repetindo-as vezes sem conta, repetindo-as até à agonia, sobre assuntos acessórios e apatetados que em nada contribuem para o que quer que seja para além de alimentarem a fauna que invadiu os meios de comunicação social revelam como a nossa democracia ainda é frágil e longe, em muitos casos, de ser civilizada.

Quando o que estaria em causa, naquela anedota que é a CPI, seria perceber a qualidade da gestão e do controlo praticado na TAP, há criaturas que questionam o ministro sobre as horas a que ligou para este ou para aquele, sobre o que disse ou deixou de dizer, ou seja, não sobre o tema da dita Comissão mas sobre a reacção do staff ministerial face a um acesso que, pela descrição, quase parece ou desesperado ou psicótico, de um exonerado, ao que parece emocionalmente perturbado.

E o que mais me incomoda é que, perante o infindável festival de disparates, parece que não há ali um adulto que dê um murro na mesa e diga, alto e bom som (e façam o favor de perdoar o meu francês): "Bardamerda para isto. Já chega de palhaçada. Ou são capazes de se interessar sobre o tema da Comissão ou, se não, andor, desapareçam daqui e é já. Vão dar banho ao cão e não ponham cá mais os pés. Chiça."?

E, se calhar ainda temos que nos dar por felizes por, até ver, apenas um caso destes ter acontecido. Imagine-se que o dito Fred da Bike tinha um primo que resolvia lavar a honra da família Pinheiro e invadia o ministério e pichava as paredes de alto a baixo. Será que o próximo a ir à CPI era o primo pichador para explicar porque o tinha feito e, a seguir, exigiam que lá fosse outra vez o Galamba, a Chefe de Gabinete e o Segurança de serviço para serem confrontados com as afirmações dele? Ou, se descobrirem que um cão mijou na parede do ministério, vão chamar o cão à CPI e depois, outra vez, o Galamba para se explicar porque permitiu a mija do cão ou a que horas é que ligou para alguém a dizer que andava um cão a mijar nas esquinas? Se calhar vão.

Não há pachorra.

É que, no meio disto, em vez de louvarem o ministro que tentou livrar-se de um fulano que, pela descrição e pelo pouco que vi, parece um complicado de primeira, ou louvarem as funcionárias que tentaram que ele não fanasse o computador, parece que está tudo é a favor do dito exonerado...

Parece que está tudo maluco.

Se não nos pomos a pau, é um ápice enquanto esta gentalha adepta da justiça popular e que emprenha pelos ouvidos volte aos tempos do apedrejamento e das fogueiras. 

Pedem a cabeça de Galamba porquê? Juro que ainda não percebi. 

E não me venham com essa coisa do SIS porque só revelam uma burrice sem tamanho.

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Mas, ao ver uns excertos do dito exonerado Frederico e ao ouvir um pouco das declarações da Chefe de Gabinete (que nunca tinha visto mas de quem fiquei com uma boa impressão pois pareceu-me ponderada, calma, sóbria, segura, bem articulada) e hoje ao ouvir um pouco das explicações do Galamba, lembrei-me de uma que trabalhou comigo por mais de vinte anos.

Essa, de quem vou falar, sempre foi uma pessoa com as suas idiossincrasias. Mas quem as não tem? Trabalhava que nem uma moura, vivia para o trabalho, fazia de tudo para ser útil para os colegas. Por vezes, naquela sua preocupação de agradar e de fazer tudo o que podia, quase chegava a parecer servil ou, outras vezes, a comprometer o rigor que se impunha, pois quase fazia o trabalho dos outros, tornando nebulosa a delimitação de responsabilidades por ficar diluída e causar situações ambíguas.

Nunca a achei especialmente inteligente mas esforçava-se tanto, entregava-se tanto que, de certa forma, isso compensava algumas limitações. Aliás, quem não lidava de muito perto com ela nem se apercebia disso pois o que se via é que, se necessário fosse, trabalhava até de madrugada e, quando as pessoas chegavam de manhã, já ela lá estava.

Sempre tentei que não o fizesse e pedisse ajuda. Várias vezes me aborreci pois não queria que pessoas que trabalhavam comigo seguissem regimes tão absurdos. Mas ela recusava-se a ter ajuda. Ficava melindrada como se eu estivesse a questionar as suas capacidades.

Até que um dia começaram a surgir situações algo estranhas. Detectavam-se, aqui e ali, situações erradas. Claro que ela nunca assumia. Segundo ela, eram sempre os outros que interferiam e misteriosamente boicotavam o trabalho dela, eram documentos que, segundo ela, desapareciam, eram suspeitas que ela levantava sobre terceiros. Nunca era ela. E quando se tentava averiguar se, de facto, alguém andava a interferir ou a boicotar o trabalho dela, nunca se conseguia apurar nada pois tudo era envolto numa sucessão de histórias de contornos dúbios, inexactos, voláteis. E, por várias vezes, quando se tentava reconstituir o que tinha acontecido, as provas desapareciam. Ou eram ficheiros que desapareciam ou arquivos apagados ou o telemóvel que ela dizia que achava que lhe andavam a mexer. Sempre tudo inexplicável.

O ambiente entre a equipa andava de cortar à faca. Ninguém queria sequer aproximar-se dela pois toda a gente sabia que, tarde ou cedo, ela levantaria qualquer suspeita. No meio disto, ela vitimizava-se e contava histórias mirabolantes. E, quando viu que junto de mim isso não colhia, começou a minar tudo à sua volta.

Contava a meio mundo a mártir que era, que tudo fazia pela empresa, e que o esforço, em vez de ser agradecido, era ignorado. E que os colegas andavam a tentar destruir a reputação dela e que eu, em vez de a defender, dava era ouvidos aos outros.

Por diversas vezes a aconselhei a ter acompanhamento psicológico, que a empresa suportaria os custos e que ninguém precisaria de saber. De todas as vezes reagiu mal, algumas até de forma agressiva e, por fim, já ameaçadora. Perguntava-me, violentamente, se eu estava a chamar-lhe maluca e ameaçava que as coisas não ficariam assim. Outras vezes punha-se a olhar fixamente para mim e era capaz de fazê-lo durante longos minutos com ar francamente assustador.

A par disto, tinha toda a espécie de comportamentos incompreensíveis. Ficava até às tantas a imprimir coisas. Ninguém fazia ideia do que pudesse ser. Quando eu a chamava e perguntava o que tanto andava a imprimir e a fotocopiar dizia-me que eram manuais pois os dela tinham desaparecido e não conseguia ver no computador, tinha que ter tudo em papel. Tive que lhe dizer que ou me mostrava exactamente o que andava a imprimir compulsivamente ou eu daria ordem de interditar o uso da impressora fora do horário normal.

Uma vez tive eu que ficar a trabalhar até tarde. Estava sozinha naquela ala do escritório, creio que deveriam ser umas nove ou dez da noite. Por economia, as luzes apagavam-se automaticamente a partir das oito, a menos que fosse detectada presença. Portanto a luz do meu gabinete estava acesa mas o resto estava mergulhado em breu. Eis senão quando as luzes se acendem e a vejo vir na minha direcção. Confesso que me assustei. Entra-me no gabinete com um sorriso pérfido e diz: "Não se assuste que não lhe vou fazer mal..."

Quando lhe perguntei o que estava a fazer ali, disse uma parvoíce qualquer que vi que era mentira. E foi-se embora.

No dia seguinte tratei de resolver o assunto. Não tinha dúvidas que ela estava perturbada e que a coisa estava a ir de mal a pior. Equacionámos qual a forma mais pacífica e menos traumatizante para ela. Acabámos por lhe arranjar uma função em que ela não pudesse fazer estragos nem perturbar o trabalho dos outros.

Aceitou mal, fez ameaças, chantageou, vitimizou-se. Mas foi assim que ficou. Não voltei atrás.

Claro que muita gente que não conhecia a verdade dos factos -- e eu própria dei instruções para que as equipas não divulgassem os comportamentos anómalos dela, sobretudo para a proteger -- ficou a achar que eu fui uma megera afastando uma técnica tão extraordinária e não a defendendo das maldades de que foi vítima. 

Mas é assim, muitas vezes não somos compreendidos. Fiz o que achei que devia fazer e pobto final.

Agora o que seria ridículo seria que, por ter na minha equipa uma pessoa que, às tantas, surtou, eu fosse penalizada por isso. Ou que, perante todas as evidências dos erros que ela cometeu ou das perturbações que ela causou, em vez de me darem ouvidos a mim ou a toda a equipa que testemunhou o comportamento dela, acreditassem era nas maluqueiras dela.

Mas, enfim, as coisas são o que são. Muitas vezes, uma tragédia.

6 comentários:

Anónimo disse...

Subscrevo!!!

Filo Stone disse...

Subscrevo também.
Isto tudo só me faz vir à memória o refrão da canção da Ala dos Namorados: "
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
Se a Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar"
Abraço da Filo

Anónimo disse...

Assisti ao início do interrogatório ao ministro Galama, pareceu me que o deputado do BE, era um membro da Pide no tempo do fascismo, tal a violência verbal que usou. Não devia ser permitido

afcm disse...

com todo o respeito, vocês são lestos a julgar onde está a verdade e a razoabilidade.
Curiosamente, está sempre do mesmo lado ...

ccastanho disse...

As pessoas ficam surpresas com a votação do Chega como se os portugueses fossem todos homens livres, livres pensadores de esquerda civilizada, não dogmática, não traidora dos trabalhadores como o PCP e BE, esses execráveis e idiotas uteis serventuários da direita.

Dizia eu a propósito do Chega, é que uma imensa maioria dos portugas, para além de falta de cérebro, são apreciadores de ditadores, de fascistoides pidescos.

Os interrogatórios são de uma tal violência verbal ao jeito de um interrogatório da inquisição no pelourinho da vergonha. Aquilo é bafiento, é sobranceiro, vil e intelectualmente desonesto.

Parece que o PR Marcelo, continua com a mesma palhaçada, diz que só ele é porta voz de si mesmo, mas todos lemos o que ( a pé de microfone a quem chamam de jornalista do expresso) nos dá a conhecer a correspondência que esta "carteira servilmente" nos mostra os humores marcelistas.

Marcelo ainda não percebeu que, se demitir o Parlamento, o PS volta a ter maioria absoluta e Marcelo enrola a trouxa e tem que dar corda aos sapatos a milhas do poder.

UJM, um bom dia para si.

JOAQUIM CASTILHO disse...

EXCELENTE!! UM ABRAÇO!!