segunda-feira, maio 09, 2011

Sopa de tomate - agrada sempre, é fácil, económica e prolonga a vida

Li no post de domingo, dia 8, do Mar Salgado um texto sobre culinária popular e gostei de ler.

E apeteceu-me escrever também sobre o tema. Tudo o que se come cá em casa é cozinhado por mim. No dia a dia, sem motivação extra, limito-me ao normal, ao saudável e fácil. Mas se há mais convivas então inspiro-me e sai mesa farta.

Não gosto de fazer doces. É preciso seguir receita e isso é coisa, para mim, materialmente impossível. Por exemplo, se vejo uma receita de ovas de vinagrete como entrada e resolvo fazê-la, sem saber como, dou por mim a fazê-las de escabeche. E isso acontece sempre que tento fazer qualquer receita. É uma driving force, como me disse uma vez uma amiga, que me desvia da receita original. Por isso, faço tudo de improviso (o que não é aconselhável em doçaria).

Claro que também gosto muito do que é simples e aí não há grande espaço para improvisos. Uma posta de corvina ou de maruca ou de bacalhau, com batata, feijão verde e/ou brócolos ou couve portuguesa, com ou sem ovo – é isto mais coisa menos coisa e é óptimo.

Mas a cozinha mediterrânica, com os seus sabores, as suas ervas aromáticas, os seus legumes frescos, permite pratos saboroso, nutritivos e variados, apela à criatividade, à alegria culinária.
Hoje apetece-me aqui referir um dos pratos mais saudáveis e nutritivos, um verdadeiro concentrado anti-oxidante, com o plus de ser extremamente económico: a sopa de tomate. E é um prato tão simples que não vale a pena improvisar muito.

A versão básica

Há muitas variações, consoante se pretenda ou não que seja prato único ou entrada.

A que eu mais gosto é a sopa-sopa, simples, embora dispense a seguir um prato muito completo pois já tem nutrientes mais que suficientes.

Faço assim: começo por aquecer azeite virgem, depois junto cebola e deixo fritar levemente, alourando só muito ao de leve. Depois junto salsa, tomate maduro, com pele, talvez uns 5 ou 6 de tamanho médio e deixo refogar muito levemente.


A seguir junto água, 2 ou 3 batatas grandes às rodelas finas, um 1 ovo descascado e sal, não muito. Deixo que levante fervura e depois baixo a temperatura. Quando a batata estiver cozida, desligo. A seguir, desfaço tudo, muito bem, até ficar bem cremoso, com a varinha mágica.

Entretanto, à parte, cozo com casca ovos, ou 1 por pessoa ou, consoante o número de pessoas, cerca de ¾ de ovo por pessoa.


Depois de cozidos, passo-os abundantemente por água fria (para ser fácil de descascar) e migo-os. Coloco os ovos assim picados numa tacinha.

Cada pessoa serve-se de sopa e coloca, por cima, o ovo picado. Simples, saboroso, económico e nutritivo (e, pelas propriedades dos ingredientes, em particular do tomate, uma bomba anti-envelhecimento). E bonita.

Pode também juntar-se algum queijo ralado mas distorce ligeiramente o sabor. Se quisermos introduzir alguma sofisticação poderemos fazer à parte um pouco de queijo crocante, e depois colocar pequenas placas rendilhadas sobre a superfície da sopa, juntamente com o ovo picado.

Existe uma versão que é de prato completo. Aí, em vez de se cozerem ovos à parte, cozem-se descascados no caldo da sopa (escalfam-se). No final, não se desfaz a sopa. É servida assim, sobre fatias de pão. É a versão rústica, igualmente saborosa, nutritiva e económica.

(Nesta última versão, costumo introduzir uma variante que é a de moer o refogado de cebola e tomate, como se estivesse a fazer molho de tomate, e só depois introduzir a água, as batatas e os ovos).

Bom apetite!

Miguel Palma no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian e uma tarde bem passada nos Jardins, com almoço e lanche no restaurante do CAM

Venho sugerir-vos que vão ao Centro de Arte Moderna para ver a exposição de Miguel Palma, Linha de Montagem.

Peça da exposição temporária, Linha de Montagem, com o Fernando Pessoa da Colecção Permanente em fundo

É muito agradável especialmente quando se está com miúdos: adoram, querem ver, querem mexer (e não podem! Nalguns casos até é perigoso), fazem mil perguntas, só saem de lá arrastados.

O meu menininho mais velho, quase a caminho dos 3 anos, estava deliciado, corria, espreitava, o que é, mas o que é? O que é que faz? Porque é que faz? Quando é que faz? (porque alguns movimentos são intermitentes).

Carros, simuladores, écrans, comandos, movimento - uma tentação para as crianças


Se têm crianças não deixem de as levar, especialmente se forem rapazinhos que gostam de mecanismos, motores, aviões (pela minha experiência neste tipo de coisas com meninas, têm alguma curiosidade mas é relativa, não chega a ser entusiasmo).

E o espaço é agradável, amplo, e a disposição dos objectos permite circular, espreitar, ver tudo, voltar ao que se quer ver melhor.

Grande aquário (com um peixinho) instalado 'sobre' o lago dos patos junto ao CAM - inesperado e esteticamente muito interessante

E depois já se sabe, há os maravilhosos jardins (o NJ loves, loves, loves: ‘agora vamos descer uma colina muito alta’ (e nós de boca aberta: onde aprendeu ele a palavra colina?), ‘posso descer esta pedra sozinho? É muito grande? Não...? É média?’ (e nós divertidos, pela gradação que já sabe aplicar aos tamanhos), ‘podemos ir ali para o meio do bosque’, ‘ali não há mosquitas?’, e no final, ‘não vamos já ch’embora’, vamos ficar aqui a conversar’. Feliz, feliz da vida.

Alguém me sabe dizer que ave extraordinária é esta que ali anda, solitária, ar circunspecto, obsevando tudo?

E o impecável restaurante, a mesma ementa, os meus simpáticos empregados, desde há séculos (já aqui falei dele), almoçamos, lanchamos. É sempre um programa cinco estrelas, especialmente quando se anda com crianças. Mas também é agradável para quem namora, para quem está reformado e vai com a cara metade ou com amigos, e para solteiros, divorciados ou viúvos. É sempre agradável.

E, claro, aproveitei para fotografar e fotografar (mas aliás aproveito qualquer coisinha para dar azo a este meu gostinho): já ontem ontem coloquei duas no meu blogue das fotografias de rua, o Street Photo and Co. e hoje mais duas.

Tranquilidade, uma felicidade suave, nos jardins da Gulbenkian

Aqui fica, pois, como sugestão para umas horitas bem passadas.

domingo, maio 08, 2011

A necessária reviravolta em todo o sistema de ensino (os programas, as escolas, os professores) - a troika, muito bem, incluíu isso no memorando de entendimento e espero vivamente que os futuros governantes levem isso muito a sério e que todos os agentes ligados à educação também chamem a si a responsabilidade de participar activamente nesse processo

Pouco anos depois de eu própria ter saído do ensino secundário como aluna, voltei como professora. A minha surpresa foi total: a degradação tinha sido galopante, degradação a nível dos programas, dos conhecimentos por parte dos alunos, da dedicação dos professores, da rebaldaria nas aulas, nos corredores, nos recreios.
Decorridos mais uns anos, e não há muitos, talvez uns 3 ou 4 anos, voltei de novo ao secundário ao abrigo de um programa de voluntariado. É certo que estive durante uns meses apenas e é certo que estive numa escola de uma zona carenciada mas, aí então, era a catástrofe.

Os alunos não sabiam nada de nada, mas não me refiro apenas a conhecimentos académicos, refiro-me também a simples regras de convivência social. Os primeiros 10 a 15 minutos de aula decorriam com eles a entrarem na sala, a sentarem-se, a mudarem de sítio, a ajeitarem-se entre eles, tudo no meio do maior ruído, e uns de boné na cabeça, elas de telemóvel a mandarem sms, outros com os pés em cima da cadeira do lado.


Mas o curioso é que o professor ‘residente’ que me acompanhava parecia achar normal estar rebaldaria e os alunos pareciam nem perceber a minha insistência em que estivessem com os pés no chão, que tirassem os gorros, capuzes e bonés que quase lhes tapavam os olhos, que não atendessem telemóveis ou mandassem sms - como se eu fosse uma marciana que ali tivesse aterrado.

Quando finalmente eu conseguia restabelecer alguma disciplina, o grau de concentração e de interesse era mínimo e passado pouco tempo, pela dinâmica da saída, já se começava a perceber que o toque de saída não tardava. Apesar disto, diziam que gostavam das minhas aulas e o director de turma louvava a mão que eu tinha neles e o interesse que demonstravam – mas eu só podia mesmo ficar perplexa: se aquilo era com interesse, o que seria então quando estavam desinteressados?

Quando no primeiro dia do curso pedi a cada um que, numa folha, se identificasse, se descrevesse e dissesse que profissão queria ter, foi um castigo. Não queriam escrever, não percebiam porque deveriam escrever, não sabiam o que escrever, uma desordem, um reboliço como não há descrição. Quando consegui que percebessem que deveriam fazer isso porque ali quem mandava era eu e eu os tinha mandado escrever, a contragosto lá o fizeram.


O resultado final foi um susto, um desgosto. Letras quase ilegíveis, uma escrita pouco acima da escrita de analfabetos. Mas pior: para minha surpresa, grande parte das profissões que me apareceram foram, e pasme-se, ‘ajudante’.

Ajudante? Quando perguntei, a cada um dos que tinham escrito isso, a que se referiam em concreto, não percebiam a minha pergunta, ‘Ajudante! Ajudante é ajudante, o que é que quer saber? Ajudante, ora.’. ‘Mas ajudante de quê, de quem?’, insisti. Então as respostas eram variáveis, ‘de cabeleireira’, de ‘cozinha’ de ‘pedreiro’, etc.

Ou seja: não tinham como ambição ser cozinheiros ou pedreiros mas apenas ajudantes. Verdadeiramente deprimente.

Os corredores e recreios pareciam tudo menos de uma escola, tal como entendo que deve ser uma escola. Era barulho, confusão, gente pelos cantos, tocava e ficavam na mesma, sem se mexer, e os empregados ou professores que, por eles passavam, também não se incomodavam com a situação.
Mas pior ainda: a sala de professores. Quase todos vestidos na maior balda, grande parte deles esparramados nos sofás da sala de professores, comendo de boca aberta, falando com a boca cheia, a campainha a tocar e eles preguiçosos e enfastiados a arrastarem-se a custo para as salas de aula.

Não é ficção: eu vivenciei isto.

Claro que há escolas e escolas, alunos e alunos, professores e professores. Tenho familiares muito próximos que são professores e sei como generalizar é injusto para aqueles que são competentes e dedicados e para as escolas que funcionam exemplarmente. Só que situações como as que descrevi não deveriam ser possíveis.
Isto passou-se num 8º ano de uma escola da Grande Lisboa e esses jovens ainda lá devem andar, a menos que tenham desistido, coisa que vários diziam que tencionavam fazer já que, segundo eles, ‘andavam ali a perder tempo’, ‘não aprendiam nada de útil’.

Que preparação a escola dá a estes alunos? Pouca, muito pouca.

Que formação académica, técnica e cívica terão quando adultos? Pouco acima de zero.

Dá ideia que as reformas e mais reformas que, nas últimas 3 décadas, têm ocorrido a nível do ensino são todas no sentido de abandalhar, enfraquecer, desorganizar, desautorizar, aligeirar.
Os programas, em todos os níveis de ensino, têm que ser mais exigentes, as avaliações mais exigentes, tem que haver mais tempo de aulas, os professores têm que trabalhar mais horas (horários de 12 horas semanais é pura aberração; se nas profissões normais se trabalha em média 37,5h ou mais, por que carga de água haverão os professores de trabalhar um terço ou metade disso? – falam que têm que preparar aulas e corrigir testes e é um facto; mas fui professora e sei o tempo que isso leva, em termos médios mensais não é muito e, além disso, quantas vezes os não-professores trabalham fora de horas, noites, fins de semana e o que for preciso? E, na maior parte das vezes, for free), tem que haver disciplina, hábitos de trabalho e de aprendizagem. Havendo tudo isso, a motivação surgirá espontaneamente.

Mas mais: uma escola, qualquer escola, tal como qualquer unidade organizativa, tem que ser gerida e, quando me refiro a gestão, refiro-me a gestão do ponto de vista integrado.

Suponhamos, como exercício abstracto, que eu recebia a incumbência de gerir aquela escola onde estive como voluntária durante uns meses.

Primeiro reuniria os dados:

 o orçamento por natureza (custos com professores, com pessoal auxiliar, custos de manutenção, etc) e por destino (laboratório, educação física, projecto-escola, etc)

 a distribuição de alunos por turmas, com caracterização (idade, sexo, aproveitamento médio, repetente ou não, etc)

 uma análise por disciplinas e por ano do aproveitamento médio

 a caracterização dos professores por disciplina (idade, sexo, antiguidade na função, antiguidade na escola, etc)
….

Face a essa análise, avaliaria então quais as áreas mais críticas e quais os planos de intervenção para as atacar (com os recursos disponíveis): quais os objectivos a alcançar e em que prazo, quais as metodologias para implementar as alterações necessárias, quais os indicadores de aferição para monitorizar a evolução dos planos, quais os responsáveis por cada objectivo.

E, regularmente, reuniria com as equipas formadas para avaliar a boa execução do plano.

No final do ano deveria ter atingido objectivos tais como, por exemplo: reduzir em 20% as desistências escolares do 9º ano; subido em 1 nível a avaliação média da disciplina Matemática do 8º ano, subido 20% no número de alunos a fazer testes vocacionais no 9º ano, etc, o que no conjunto e de forma global, se deveria traduzir em que a escola subisse o seu rating de XPTO para YPTO de acordo com uma escala previamente definida.

E claro que os professores teriam que ser avaliados consoante o nível de prossecução face aos objectivos que lhes tivessem sido estabelecidos.

E claro que seria suposto que o Ministério criaria as condições para que a gestão global de cada escola fosse monitorizada e a sua equipa de gestão responsabilizada. Tudo muito objectivo, sem mas mas.

+ + +

Outro aspecto: as análises demográficas de séries longas são essenciais para traçar metas para o país e têm que ser analisadas sob diferentes perspectivas.

As áreas de formação privilegiadas devem ser antevistas e preparadas antes de lá se chegar. Por exemplo:
• se quisermos voltar a ter alguma independência na agricultura, nas pescas, na indústria, então tem que se avaliar, a nível nacional, qual o intervalo razoável de alunos que têm que receber formação nessas áreas (nessas e não em cursinhos de brincadeira) e têm que se organizar as escolas nesse sentido (professores dessa área formados em número suficiente, laboratórios em número suficiente, etc)

• e se o país se tornou um país de funcionários e de subsidiados, então há que formar uma geração de empreendedores e há que dar formação em empreendedorismo

• ... e por aí fora.

+  +  +

Tudo isto são áreas em que há que ter uma visão estratégica, integrada, fundamentada e em que há que pôr os pés na terra, arregaçar as mangas e, de forma pragmática, partir para a acção.

E, se for indispensável, há que catequizar o insuportável Mário Nogueira para a necessidade de se deixar de brincar aos Homens da Luta e passar a colaborar na construção de um país melhor. Todos somos poucos para deitar a mão a isto.

É com gente educada, formada e motivada que se conseguem ter patrões competentes, gestores capazes, trabalhadores qualificados em todas as áreas da sociedade pelo que, sem sombra de dúvida, a educação deverá ser uma grande prioridade nacional.

sábado, maio 07, 2011

Paulo Portas muito bem hoje no debate com Jerónimo de Sousa e, a seguir, no '5 para a meia-noite' na RTP 2' - desenha-se com clareza a grande surpresa nas próximas eleições


Neste momento está no '5 para a meia-noite' da RTP 2 e, se o programa não está a ser extraordinário, a culpa não é dele, é do Luís Filipe Borges que está a encher o programa com tudo e mais alguma coisa, retirando palco a Paulo Portas que está muito informal, muito simpático.

Ainda há pouco na RTP1, no debate com Jerónimo de Sousa, derreteu o líder do PCP, literalmente derreteu-o.

Está de facto, durante este processo que estamos a viver, na posição mais fácil mas numa posição ainda mais fácil está o boneco de plástico Pedro Passos Coelho... e vê-se o que tem feito.

Paulo Portas tem estado muito bem. Focado como sempre mas, para além disso, mais maduro, mais crescidinho, mais responsável e mais humanizado.

Acho que vai ficar com votos de todas as áreas: com gente do BE, do PSD claro e, também, do PS e, desta vez, com gente do PCP que desta vez percebeu os irresponsáveis e demagogos que são os dirigentes comunistas, malta mais nova sem dívidas históricas para com o Partido.

Paulo Portas tem um lastro grande e pesado e não tem equipa mas, em tempo de escassez, as pessoas podem esquecer-se disso.

Ou seja, Paulo Portas vai levar o CDS a uns 15% e o Sócrates vai facilmente para perto dos 40% e, portanto, cá para mim, nas calmas, PS + CDS vão somar bem mais de 50%. Mas era bom que o futuro governo fosse mais abrangente e vai sê-lo certamente mas, o core, cá para mim, poderá ser PS+CDS. Whisful thinking? Não sei. Mas acho que os actuais dirigentes do PSD não cumprem os mínimos, não consigo ver aqueles tristes amadores em funções de responsabilidade.


Nota: É um facto que o programa do próximo governo tem que ter como referencial o memorando de entendimento acordado entre o governo e a troika mas há mil coisas mais a fazer e há a alma que se dá ao que se faz. Não é indiferente quem está no governo.

Sócrates à frente de Passos Coelho nas intenções de voto, de acordo com as últimas sondagens - dá para perceber?



Fazendo a média entre as duas sondagens divulgadas nestes últimos dias, poderá dizer-se que, à data da sua sua realização, há sensivelmente um empate técnico entre Sócrates e Passos Coelho.

Apelando a alguns conhecimentos de probabilidades e, sobretudo, ao senso comum, poderá dizer-se que, a julgar pela tendência que se vem desenhando e, ainda mais, analisando o que vem acontecendo, sou tentada a dizer que, realizando a sondagem hoje, a diferença se acentuaria a favor de Sócrates.

Mas, como é possível? Sócrates esteve no poder nos últimos 6 anos, o país acabou de ter que pedir apoio externo, o país está agrilhoado a um acordo que o obriga, sob supervisão de funcionários estrangeiros, a apertar o cinto, a arrumar a casa como há décadas o não fazia. A economia não está bem e a auto-estima nacional está péssima.

E, apesar de tudo isto,... a população continua a apostar em Sócrates para 1º ministro?

Dá para entender?!

No entanto, não são precisas explicações muito científicas para perceber a coisa.

Suponham os meus amigos que são homens (talvez alguns não tenham dificuldade nisso). Suponham agora que têm umas calças (que alguns achariam fora de moda, outros que o tecido não é grande coisa, mas enfim, gostos não se discutem) mas que já têm algum brilho, com as presilhas um bocado gastas, a parte de baixo, a que roça nos sapatos, já a dar mostras de querer desfiar.

Resolvem: está na hora de mudar.

Vão à loja comprar outras e os meus amigos, que têm um gosto comum, começam a ficar preocupados: vêem umas à boca de sino, um pouco curtas, new fashion, outras aparentemente muito male mas, afinal, justinhas, de lycra, tipo calcinha de bandarilheiro, outras de caqui com peitilho, dão voltas e mais voltas e conseguem descobrir umas mais ou menos normais, animados lá vão provar e afinal são 3 números abaixo, pedem à empregada que veja se tem o vosso número e ela, depois de 10 minutos lá para dentro, no armazém, aparece com umas dobradas, afinal tinha, vêem o número e é o vosso e, ufff, dirigem-se para a caixa. No balcão, quando as empregadas as abrem para as acondicionar no saco, viram-nas e explica-vos que a parte escura era o avesso e... o que fica à vista são umas calças às cores, com a braguilha abotoada com grandes botões dourados, com presilhas para o cinto encarnadas, com borboletas pregadas nos bolsos, com o bolso de trás bordado a lantejoulas 'make a better world' e que, afinal, o que parecia um par de calças normais não passa de uma maluquice da pior espécie.


O que fazem os meus amigos?

Presumo que, se de facto são pessoas com um gosto comum, encolhem os ombros e, que remédio, continuam com as mesmas calças: desistem, para já, de mudar.

sexta-feira, maio 06, 2011

Agora que já estamos com dono, só espero que os finlandeses não roam a corda. Estranhos tempos estes. Aqui vos deixo, adequado à circunstância: Strange Affair - June Tabor with Martin Simpson

antes vos falei de como gosto da June Tabor.

Hoje lembrei-me dela para acompanhar este sentimento de estranheza que sinto ao dar por mim essencialmente preocupada com a probabilidade de os finlandeses não aprovarem o plano de resgate. Já estamos nisto: a esta hora decorrerão certamente grandes negociações a nível da comissão europeia a tentar convencer os finlandeses a deixarem passar a ajuda a Portugal. Que vão estourar com o dinheiro, que aquilo é um País insolvente e inimputável, que ninguém se entende, que o tipo da oposição é um nabo que não tem rama por onde se lhe pegue, que os tipos da função pública - sem que haja dinheiro para lhes pagar os ordenados - ainda vão fazer greve e dizem que são contra a ingerência do FMI, que aquilo ali é tudo gente sem competência, saloios armados em governantes [será possível que alguém na City tenha aceitado reunir-se com o papo-de-anjo PPC...? Espero que seja bazófia dele, que aquilo de se ir reunir com investidores seja só conversa de treta, até me assusta pensar na fraca figura que ele anda por Londres a fazer, a dizer-se e a contradizer-se sem se dar conta disso, que vergonha ], etc, etc - é o que os finlandeses devem dizer.

Sinto vergonha mas percebo-os. E Angela Merkel, semblante carregado, avisa que, se a ajuda vier, Portugal vai estar sujeita a apertada vigilância. Chegámos mesmo a este ponto.

Até o meu pinheirinho chora com isto

Mas agora é hora de voltar a página, de deitar mãos ao trabalho e agir com juizinho: cortar o que há a cortar, arrumar a casa, gerir com equilíbrio e pragmatismo, fazer contas antes de resolver o  que quer que seja, e, sobretudo, apelar ao empreendedorismo, investir, criar riqueza, criar emprego, produzir, substituir importações por exportações.

Mas, por hoje, chega. Vou ouvir a June Tabor em Strange Affair (com atenção, porque a letra parece-me vir a propósito).


quinta-feira, maio 05, 2011

Belle de Jour

Finalmente encontrei o DVD de Belle de Jour, belíssimo filme de Luis Buñuel com Catherine Deneuve e Michel Piccoli. Séverine, a dona de casa burguesa e entediada, ou Belle de Jour, a outra dentro dela ou ela própria, magnificamente interpretada pela bela Deneuve.

Há muito que procurava este DVD e hoje encontrei-o e a bom preço. Aqui vos deixo o trailer, legendado em inglês (o que desconcentra um pouco - mas, enfim, pode ser útil para quem esteja mais à vontade com o inglês).

O texto do acordo da troika/governo que consubstancia o memorando de entendimento: já o li, 34 páginas de um pdf muito bem feito

Pois é, já o li, embora, confesso, numa leitura algo superfial. É o documento típico de uma equipa de gestores experientes e multi-competentes. Muito objectivo, indicando o planeamento de execução e a economia expectável para cada medida, sector a sector.

Se eu tivesse recebido a incumbência de propor um plano deste tipo, fá-lo-ia da mesma maneira: tipo carro-vassoura, percorrendo todas as 'casas' em que há descontrolo, em que há ineficiência, em que há constrangimentos.

Li-o e, do que conheço do país, revi-me nas medidas enunciadas.


Claro, meus caros, que há aspectos em que a leitura é acompanhada por um frio no estômago. Custa ler o capítulo da flexibilização dos despedimentos, a redução dos prazos e dos montantes dos subsídios. No entanto, conheço pessoalmente vários casos que, só por si, justificam a justeza das medidas e, além disso, estende-se agora, a protecção no desemprego às pessoas em regime de recibo verde o que é positivo. Mas a questão nem é essa: a questão é que tenho esperança que, com estas medidas, haja um desvio da população activa e dos recursos financeiros do sector administrativo estatal para a economia real e que, dentro de uns dois anos, a economia cresça, criando novos empregos, criando oportunidades reais de trabalho.

Mas, tirando a questão do desemprego (que é, de facto, o lado negro da crise), e tirando um novo sangramento fiscal sobre a classe média, o que vejo ali é um guião para uma forte reorganização em sectores que estão a funcionar de forma ineficiente, ineficaz. Fundir sistemas informáticos, gerir compras em conjunto capturando benefícios, montar serviços partilhados (para além dos incipentes que hoje timidamente existem), centralizar orgãos de gestão, reforçar a componente técnica de auditoria na máquina fiscal, acabar com repartições antiquadas, fundindo organismos afins, etc, tudo isso me parecem medidas muito, muito ajustadas.


Estou a ouvir o Dr. Silva Lopes na televisão, que, com o Professor Jacinto Nunes está a falar com o José Gomes Ferreira, a lamentar que o documento não tenha ido até às tributações extraordinárias nos grandes rendimentos mas, tal como ele diz, há que analisar isto a nível mundial pois os grandes geradores de lucros facilmente levantam arraiais e vão para outro lado.

Refere também ele que o documento deveria atender ao grave problema que é o despedimento de longa duração. Mas não sei se o documento deveria ir a tudo. Isto, de facto, é um problema fatídico mas a solução aí passará provavelmente pela sociedade civil, por nós todos que temos que ser diferentes, mais solidários, mais activos.

Claro que ao ler o documento há um outro aspecto que me embaraça: têm que vir técnicos estrangeiros para nos arrumar a casa? Que cambada somos nós que não temos cabeça para tão comezinhas arrumações?

Mas a questão é que somos mesmo uma cambada. Apenas vi um pequeno excerto da entrevista do Pedro Passos Coelho e não é o que lá o ouvi outra vez que, se for governo, vai logo jardinar as medidas do documento que vai assinar? O fulano não é bom da cabeça. Então vai assinar um Memorando de Entendimento e, ainda nem o tendo assinado, já ameaça que, se for para o governo, se marimba para o documento e vai fazer outra coisa.

Isto é o tuga rasca no seu pior, aquele que mal chega ao governo, destrói o que o antecessor fez.


O sistema de saúde, o sistema de justiça, o sistema educativo, o sistema de gestão autárquica e por aí vai, também foram varridos e também aparecem aqui boas medidas mas nisto há sempre dois lados: se os apodrecidos poderes corporativos e os anquilosados sindicados resolvem minar tudo isto, então não valerá de nada o facto de estarmos perante um bom plano, esta será mais uma oportunidade perdida e sermos pedintes pela europa fora será o futuro que nos espera.

Mas, se um conjunto fortíssimo de competências, com grandes capacidades de liderança, com uma sólida estrutura moral, democrata, humanista, agarrar as rédeas do país e governar a sério, então esta pode ser a oportunidade de ouro para tentarmos sair da cauda da Europa.

Apetecia-me aqui fazer uma análise técnica do documento, área a área, mas o post vai longo, aqui não é sítio para textos minuciosos. Por isso, vou apenas referir um outro aspecto: o País tem que largar as brincadeirinhas com que se tem andado a entreter e dedicar-se à produção de bens transaccionáveis. Temos que importar menos e exportar mais. Não podemos continuar a importar tudo. Extinguimos a indústria, a agricultura, as pescas e isso saíu-nos tragicamente caro.

E foram as Mckinseys, as Boston Consulting Groups e outras majors que andaram a vender, a peso de ouro, estratégias que, a pretexto da criação de valor para o accionista, aconselharam o desinvestimento de tudo o que tivesse a ver com sujar as mãos: bom eram os serviços, as participações financeiras e coisas do género.

Depois há um outro aspecto: tirando dois ou três, não temos capitalistas em Portugal. Todos os grupos portugueses foram feitos a partir de dinheiro nenhum. Salvo uma ou outra irrelevante excepção, todos os grupos económicos nacionais alavancaram-se em cima de fianciamentos bancários, operações  pomposamente designados por project finance. Muitas vezes (ou todas as vezes?) esses empréstimos são pagos 'a la longue' com o 'pêlo do cão' ou seja, com dinheiro que sai da empresa que se compra ou se cria. Ou seja, as empresas são 'sangradas' para pagar os empréstimos com que se comprou ou montou a empresa. Subindo as taxas de juro, o custo dos empréstimos sobe e as empresas ficam ainda mais afogadas.

Como já referi aqui várias vezes, é o próprio regime fiscal que estimula a alavancagem financeira. Ora, como se viu, isso é perverso e, se a banca está como está, é também porque se descapitalizou a enfiar dinheiro nas empresas, dinheiro que mal consegue recuperar.

É todo um modelo que tem que ser repensado porque, como se provou ( q e d), não funcionou. As finanças ficaram exangues, a a economia paralisada.


Quando no outro dia, creio que no 1º de Maio, ouvi uma jovem numa manisfestação a dizer que ainda 'não está à rasca' porque ainda está a estudar mas que se estava a manifestar porque, se calhar, quando se licenciar, vai para o desemprego, fico mal disposta quando, tendo-lhe sido perguntado o que estava a estudar, a ouço responder: "Culturas e artes comparadas".

Não pode ser, como se chegou a isto? Tanta gente com cursos destes... Numa altura em que são precisas competências em áreas que sirvam para fazer coisas concretas, temos, ao invés,  multidões de estudantes com licenciaturas, mestrados e doutoramentos em áreas que são totalmente desadequadas para a economia real.

Tudo isto derrapou de uma forma estúpida: falhou na análise demográfica, na análise finnaceira, na análise económica ou mesmo na cultural. O modelo de desenvolvimento está estupidamente errado e o resultado é o que está à vista.

Aos olhos dos outros países parecemos tontos, totós, relapsos, malucos, saloios.

Por isso, intervenções patarecas como as do Catroga ontem depois da conferência de Sócrates ou a do palerma de Passos Coelho a dizer que não vai assinar de cruz e que, mal possa, jardina aquilo tudo, é tudo o que Portugal não precisa.

Finalmente uma palavra para a reacção inteligente de Paulo Portas. Uma vez mais teve palavras responsáveis e inteligentes. Isto, em terra de cegos, quem tem um olho é rei e por isso ele nem diz nada de muito especial mas, enfim: diz que obviamnete que vai assinar e que, com um bom governo, o acordo ainda pode ter melhores resultados.

E é de uma atitude construtiva assim que Portugal precisa.

Reparem no peixe: o pescador estava todo orgulhoso, o peixe rabiava que se fartava e ele, ali, todo feliz, a posar para que eu o fotografasse

Por isso também se compreende a atitude optimista (optimista, por vezes ao ponto de raiar a alienação ou a manipulação) de Sócrates: temos que, solidariamente, sem tricas estúpidas, ir em frente e, já que quando somos bem orientados, demonstramos ser uns trabalhadores competentes e produtivos (quando emigramos, por exemplo), deixemo-nos agora governar.


Nota: Claro que as fotografias não têm nada a ver com o texto. Mas hoje, depois do trabalho, ao entardecer, fui passear para o pé do rio e tirei estas fotografias. Como o texto está maçudo, lembrei-me de as colocar aqui.

Outra nota: É verdade, claro que tudo o que estava no PEC IV está aqui neste documento, com alguns ajustamentos. Mas este documento é muito mais ambicioso, mais abrangente, limpa o pó, varre, arruma a casa (quase) toda. O PEC IV era um apertar de cinto: isto é todo um restyling. Ou seja, são irrelevantes e absurdas as discussões sobre se isto tem ou não a ver com o PEC.

quarta-feira, maio 04, 2011

Sócrates, ao lado do mudo e quedo Teixeira dos Santos, anuncia um bom acordo com a troika e, com isso, deixou Catroga a nadar em seco, desdizendo-se, dizendo coisas despropositadas, uma coisa confrangedora

Um package de medidas estruturantes é um conjunto de medidas que, articuladas entre si, conduzem a um resultado que, previamente, se fixou como o objectivo a alcançar.

Nenhuma medida vale de per se. Apenas quando se conhecerem todas, se poderá ajuizar da bondade do package.

No entanto, face aos comentários que entretanto se ouvem, nomeadamente os de directores de jornais económicos, posso conduzir que há quase uma unanimidade relativamente à conclusão de que este package é harmonioso (se o termo é aplicável a matérias desta natureza), menos gravoso do que se temia, perspectivando algum reacendimento da economia apesar de arrefecer algum consumo, permitindo uma progressiva desalavancagem financeira, sem ser à bruta, não atirando ao tapete, de morte súbita, as empresas mais frágeis, não exponenciando as taxas de desemprego. Se assim for, respiremos de alívio.

Porque, se assim for, é menos mau. Se, à pala disto, nos virmos obrigados a reestruturar alguns sectores anquilosados e ineficientes, haja deus.

Mas não nos alienemos mais do que é razoável: estamos tecnicamente falidos, estamos de mão esticada a pedir apoio, é bom que rezemos a todos os santinhos para que os finlandeses não venham estragar a festa, é bom que nos lembremos que temos uma classe política incapaz, abaixo dos mínimos, a maioria nem para presidentes da junta seriam capazes, é bom que não esqueçamos que vamos pagar caro estas medidas, a classe média deve sair ainda mais esmifrada, e, sobretudo, não nos alheemos do facto de que demonstrámos ao mundo a nossa incompetência total.

Ou seja, ninguém de bom senso pode vir cantar grandes vitórias em cima disto.

Por isso, se já me arreliou um bocado que Sócrates na sua habitual onda zen, quase que só tenha dito que este acordo é bom, tão bom, ai é tão bom, ainda mais me custou ver Catroga, com ar de quem nadava em seco, um peixe afobado a quem, de repente, faltou a água depois de um dia inteiro a secar à espera que o chamassem, desatando, quase em delírio, a dizer que o acordo é bom, ai é tão bom e é por causa de mim, fui eu que disse aos senhores da troika para fazerem um acordo tão bom, que já não corta as pensões, que não despede ninguém, fui eu, fui eu! O mérito é meu, a mim ninguém mo tira!



Tão ridículo. Custa ver uma pessoa que se tinha por minimamente respeitável assim, esgrouviado, desaustinado, baralhado, desdizendo o que antes tinha sido dito (que o PEC IV era brando demais, por exemplo). Está de cabeça perdida, até dói.

Ainda por cima, nas televisões, toda a gente a dizer que o acordo é bom e toda a gente a apontar o dedo ao desnorte do PSD...

A esta hora devem estar todos lá na S. Caetano à Lapa a ver como se vão agora sair desta.


Devem estar: 'O sacana do Sócrates antecipou-se, aquele c.., amanhã temos que dar cabo dele, bora lá escrever mais uma carta. Sacana do Sócrates, e agora o que é que a gente faz? Ó Catroga diga lá aí que é que a gente agora lhes vai perguntar, é pá, puxe pela mona, qualquer coisa. Ah, já sei, vamos perguntar ao tipo porque é que o Teixeira dos Santos estava com ar de quem tinha vontade de lhe dar um estaladão, vá escreva lá, pá, é boa a pergunta, então não é? E olha lá, ó Relvas, põe lá aí o avental e liga aos teus amigos, ao Lello, ao Coelho, a esses, vê lá o que é que eles dizem, vê lá se eles se descaem com qualquer coisa para a gente ter onde pegar, o sacana do Sócrates, a pata que o pôs, safa-se sempre, rais-parta! Vamos mas é dizer que se chateiam muito não assinamos porcaria nenhuma, assinem eles, caraças para isto tudo

E, enquanto isto, enquanto o destravado Catroga, o marrãozinho Moedas, o perplexo Macedo, o Frasquilho da pulseirinha fatal, a Teresa Morais desvairada aos gritos, quiçá o blasé Duque, o Relvas, a brasileira e os outros se matam a ver o que amanhã vão dizer, o boca doce, o doce jota, anda numa fona na cozinha a preparar farófias para servir daqui a nada, que já estão todos varados de fome, por esta conferência do Sócrates é que não estávamos à espera, deixa-me lá escalfar aqui mais uns ovos, já tenho é pouco açúcar e isto ficava melhor com uma casquinha de limão, mas, olha, vai mesmo assim que em tempo de guerra não se limpam armas, comem as farófias sem o gostinho do limão, olha, paciência e ainda tenho que ir avisar a Laurinha que vou chegar mais tarde.

MR gosta de andar de avental mas na cozinha da S. Caetano à Lapa não entra: papos de anjo, queijadas ou farófias, isso é pelouro do DJ PPC !

Barack Obama, Hillary Clinton e outros assistem a execução de Osama Bin Laden - um remake, para pior, para muito pior, do Dead Man Walking com Sean Penn e Susan Sarandon

Que um criminoso frio, brutal, um assassino perigoso e com uma actuação multinacional, merecia uma punição exemplar, acho que ninguém questiona.

Poderiam pegar em Osama, içá-lo para um helicóptro, metê-lo num avião, levá-lo a julgamento, aplicar-lhe prisão perpétua - era humilhante para ele e para os seus apoiantes, era um castigo aplicado segundo os direitos do homem, segundo as leis mais básicas da civilização.

Agora que, apesar de desarmado, Bin Laden e a família, incluindo filhos, sejam perseguidos dentro da sua própria casa como bichos sarnentos e, a sangue frio, abatidos, o sangue espalhado pela casa e tudo a ser filmado para ser observado em tempo real com entusiasmo por Obama, Nobel da Paz, por Hillary Clinton e outros, enche-me de estranheza, sinto como que uma angústia indefinida.


O mundo na mão de pessoas assim.

Não é humano que se abata alguém [apesar de ser um criminoso raivoso e perigoso], dentro de casa, alguém que está com a família, desarmado, não está certo que se faça isso quando se podia agir segundo a lei, nem é normal que esse acto brutal não seja levado a cabo pela máfia, por mercenários a soldo de um qualquer gang ligado à droga, mas sim por agentes das forças armadas sob supervisão directa do Presidente dos EUA, nem é normal que se assista em êxtase, em euforia a um assassinato assim, perpetado a sangue frio.

Convido-vos a assistir à cena da execução de Dead Man Walking. Não tem a qualidade dos trailers mas, ainda assim, assistam.

Se para mim é horrível a ideia de se condenar uma pessoa à morte, ainda mais grotesca é a ideia de que alguém se sente a assistir à execução.

Como é que quase toda a gente rejubilou com o acto, dizendo e escrevendo que 'se fez justiça'?


terça-feira, maio 03, 2011

A Alice pode queixar-se, o coronel também ...mas Sócrates não! Eduardo Catroga et al, em nome do PSD de Pedro Passos Coelho escrevem-lhe cartas e cartas... No espaço de uns quinze dias, já lá vão 5 (cinco!)

Tenho pena de não encontrar nem o vídeo da canção de Carlos Tê/Rui Veloso, nem o trailer do filme mas não seja por isso.

Aqui vai um cheirinho da bonita canção sobre a infeliz Alice:

"Talvez uma só palavra
Talvez um simples recado
Pudesse mudar a agulha
Dum coração desvairado

Mas o carteiro passou
Nada deixou nada disse
E o recado não chegou
Ninguém escreve à Alice"

Quanto ao queixoso coronel, aqui fica uma imagem do seu testemunho, nas palavras de Gabriel Garcia Márquez.
 
Pois bem, disto o Sócrates não tem razão de queixa. O carteiro ali da zona de S. Bento até já se deve rir... O Governo de Sócrates recebe cartinhas atrás de cartinhas.
 
Ou a brasileira que se ocupa da imagem do PSD ou o guru Miguel Relvas ou então o Catroga que anda a agir de forma muito preocupante, alguém é: alguém anda a congeminar esta hilariante estratégia de enviar cartas e mais cartas ao governo e, a seguir, torná-las públicas, numa atitude que parece mesmo de pura calhandrice.

Eduardo Catroga: acho que ele não anda bem, só o vejo a fazer e dizer coisas estranhas

Miguel Relvas: sempre com este jeitinho de vizinha, de concierge, de leva e traz
 Não sei se agora, que o plano de ajuda negociado com a troika está concluído, vão enviar mais alguma epístola.  Cá para mim, como talvez percebam que não faz grande sentido e como não vão ter outro remédio senão aceitar as medidas e amancebar-se com o PS, talvez passemos a ver pombos correio a levarem lencinhos bordados, com textos escritos pelo grande filólogo Miguel Relvas. Ora aqui está já um, em primeira mão para os leitores de Um Jeito Manso.

Linda a próxima mensagem do PSD ao PS; só espero é que, à semelhança do que fazem com as cartas, também divulguem os lencinhos de namorados (é que, quem goste de bordar, sempre tem por onde se inspirar)

Quanto a Catroga, talvez vá fazer um check-up médico e, a seguir, prudentemente se recolha e se passe a dedicar à diaristica. Aguardemos.

Amadeu Altafaj Tardio e Rui Unas gémeos separados à nascença?

Permito-me a liberdade de aqui trazer à colação a divulgação de mais um par de gémeos separados à nascença, agradecendo a Packard.o ter-me alertado para o facto.

Rui Unas o mano português, separado à nascença de Amadeu: este, que também é mais para o tardio, move-se mais por cabarés, especialmente os frequentados por coxas e, como se vê. é o mano risonho

Amadeu Altafaj, o mano tecnocrata do Rui Unas: ambos bem falantes, já que este é porta-voz, mas com a diferença que Amadeu frequenta meios bem menos divertidos que o Rui e, talvez por isso, é, dos dois, o mano sisudo

No dia em que foi anunciada a morte de Osama Bin Laden, em que Paulo Portas foi entrevistado na RTP1 assumindo-se como candidato a Primeiro Ministro, no dia em que Amadeu Altafaj, porta-voz de Olli Rehn, chegou a Lisboa para na 4ª feira nos anunciar o que nos espera, eu, aqui, depois de uns míseros diazitos de férias, ganho balanço para amanhã retomar o trabalho.

Pois é. Passou depressa. É o que acontece com o que é bom. Amanhã, ou melhor, hoje - porque já passa da meia-noite - retomo o trabalho. Noblesse oblige (ou coisa do género).

Não sei se é por causa deste estado de espírito, hoje nada me parece relevante para aqui registar.

Vejo os telejornais e os jovens americanos histéricos nas ruas a darem gritos de vitória por causa da morte de Bin Laden, vejo, um pouco por todo o lado, uma alegria que me parece um pouco estranha. Matar-se uma pessoa é sempre um acto de barbárie. Festejar-se em ruidosa alegria a morte de um homem é sempre um acto que contém em si algo de muito primário, de muito próximo da barbárie.

Multidões festejam a morte de Bin Laden (cuja operação secreta de captura deu cabo da lua de mel de William e Kate)

Claro que Bin Laden, por mil razões e por várias dezenas de actos praticados e milhares de mortes provocadas, era um bárbaro.

Mas com a morte dele o terrorismo não vai acabar porque ainda há tantos bárbaros, porque somos todos tão bárbaros. Séculos e séculos de civilização e não passamos de uns bárbaros. As câmaras de televisão percorrem as divisões em que Bin Laden vivia, sangue, sangue, e o repórter relata, animadíssimo, o sangue que vê.

E eu vejo tudo isto e sinto-me um pouco enojada, talvez enojada com esta espécie humana a que pertenço, que parece não evoluir.

Vejo também aquela dupla infeliz na RTP1, Sandra Sousa e Vítor Gonçalves - que facies estranhos eles têm, não se percebe se estão sempre a sorrir, ficam com um ar entre o maroto e o atoleimado - a entrevistar o grande artista Paulo Portas. Ele fala, fala, diz o que quer, sabe bem a lição, é objectivo, não se desvia do que quer dizer, frases simples, bem construidas, o impacto previamente calculado.

O resultado destas eleições vai fazer com que, a Paulo Portas, nem um feijãozinho lhe caiba

Vai ter um resultado muito bom nestas eleições. Não fosse ele quem é, não tivesse ele o pesado lastro que tem e tivesse ele equipa (porque não tem, é ele e pouco mais que ele, secou o partido) e seria, de facto, uma alternativa credível a Sócrates e a Pedro Passos Coelho, o boca-doce.

A seguir vejo o Miguel Relvas, voz esganiçada, com aquele ar de vizinha gorda e língua pontiaguda - nos bastidores, ao que consta, sempre de avental a conspirar com outras vizinhas de avental (ah, estas amizades aventaleiras... - e, o pior, é que também têm vindo baixaram o nível nas admissões no clube, não é?) - agora fazendo fofoquices sobre os quilómetros de Sócrates. Fiz zapping, não tenho paciência para o estilo deste ex-jota, falta-lhe um je ne sais quoi, ou melhor, faltam-lhe carradas de je ne sais quoi.

Pouco depois constato que o filme da troika está a chegar ao fim. O porta-voz já chegou. Com ar ajuizado, Amadeu Altafaj, porta-voz do comissário europeu da economia e finanças, Olli Rehn, diz que era bom que os partidos portugueses se entendessem e se comprometessem a pôr em prática as medidas.

Amadeu Altafaj, porta voz de Olli Rehn: as notícias estão a chegar  
Pois era. Era mesmo bom. Era mesmo bom para ver se se consegue evitar que o dinheiro deixe de circular porque, se isso acontecesse, a economia pararia de imediato (o dinheiro não está guardado numa caixinha: o dinheiro que há é o que circula). Era mesmo bom para ver se conseguimos voltar a por a economia a crescer. Era mesmo bom, para Portugal deixar de figurar na lista dos países relapsos.

E, aqui chegados, tenho que fazer uma confissão. Não sei o que a troika vai propor. Contudo as medidas que propuserem, serão, de certeza, melhores do que a desgovernação a que, há muitos anos, andamos a ser sujeitos. Acredito nisso e espero bem que se consiga, assim, através da mão de técnicos estrangeiros, desinfectar esta piolheira.

É que não chegámos ao ponto a que chegámos porque tenha caído do céu um anjo negro: não, temos sido nós que temos eleito a gentinha que nos tem governado; somos nós que permitimos que os professores vão para a rua a clamar contra a avaliação, a querer mais aumentos ou dinheiro extra para corrigirem exames; somos nós que permitimos que os advogados coloquem recursos atrás de recurso para dilatar os prazos dos processos até à prescrição; que permitimos que os juízes façam pouco, quando querem, como querem, com casa paga e muita autonomia; que os jornalistas divulguem tudo o que é pequena intriga, empolando-as até ao ridículo  e tornando-nos a todos num bando de gente acrítica; somos nós que escolhemos para nos representar criaturas como os Relvas desta vida.

Agora já estou com sono e este post, como é costume, já vai longo mas, amanhã, se estiver para aí virada, conto-vos quando há uns anos (há tantos anos!), trabalhei sob orientação de um técnico do FMI, levando a cabo um trabalho em boa hora exigido pelo FMI. Que competência, meus amigos, que competência, que gosto foi!

segunda-feira, maio 02, 2011

A cara lavada e os bolsos lavados de Pedro Passos Coelho, o maridinho da Srª D. Laura, grande fazedor de farófias e de queijadas e de papos de anjo - ou como quase a 1 mês das eleições o PSD continua à deriva, sem rei nem roque

Por falta de tarimba política ou por falta de jeito ou porque estamos a assistir à demonstração do Princípio de Peter, Pedro Passos Coelho demonstra à saciedade uma total incapacidade em encontrar uma mensagem que mobilize quem quer que seja - conduziu mal as coisas, não anteviu a dimensão da crise que estava a provocar, não avaliou o quão impreparado o PSD ainda estava e, agora, semanas decorridas sobre o chumbo do PEC 4, para espanto do País, continua à deriva.

Não tendo ele uma visão para Portugal, entregou a obtenção de ideias a vários grupos, os quais, na ausência de liderança, adquiriram vida própria. Tal como tem sido referido, são académicos (ou mesmo gestores) sem preparação política, outros sem noção do impacto social ou político das propostas que engendram. Mas, sobretudo, falta a Pedro Passos Coelho mão ou, melhor, punch para os agarrar ou conduzir e, então, o que se vê é que aquela gente anda descoordenada, a dar ideias a eito, à toa. Agora vai acabar (ou já acabou) com os grupos de trabalho, sem ser capaz de dali extrair qualquer bissectriz. Tempo perdido, oportunidades perdidas.

Depois, estranhamente, no meio daquele voluntarismo académico, aparece um sénior (mas que deve estar a passar por algum mau bocado): Catroga, colega de curso, amigo pessoal e ex-ministro de Cavaco Silva, depois da imparável e caricata veia epistolar, aparece-nos agora desfigurado, aspecto hipertenso, cara vermelha, congestionada, a falar da pensão de reforma ou do subsídio 'ou coisa assim' dos velhos, a incitar os jovens a processarem criminalmente o primeiro ministro, e a boca escancara-se, espumando de raiva, numa inusitada agressividade (numa altura em que toda a opinião pública apela à concertação).

Catroga, aqui está muito comedido. Não consegui encontrar a fotografia do momento em que espumava com uma raiva mal contida

E quem, em casa, assiste a esta violência quase apoplética, fica perplexa com este PSD.

Mas o desconchavo não se fica por aqui.

No lançamento do livro 'Um homem invulgar', Laura Passos Coelho e a autora, Felícia Cabrita

É que, ao mesmo tempo, Pedro Passos Coelho aparece-nos por outras vias, agora nas revistas cor de rosa, a querer agradar às donas de casa, à classe média-baixa: diz a Srª D. Laura que o seu maridinho é imparável a fazer doces, e ele confirma: 'sou especialista em farófias, em papos de anjo, em queijadas'.

Mas alguém escolhe um primeiro-ministro por ser bom em papos de anjo?

Ridículo.

Já antes a senhora nos aparecia sorrindo beatificamente de mão dada com o maridinho, sentados na sala, e a conversa versava o quanto gostam da família e da saúde e assim e boa páscoa a todos. Uma cena deveras massamasiana.

Ok, Srª D. Laura, o seu maridinho é uma maravilha, faz farofiazinhas muito boas, quer ter mais filhos e assim mas, deixe lá, não nos conte mais intimidades, não queremos saber... Já antes a Felícia Cabrita dissertava sobre a boa figura do Obama de Massamá [sic]. Falta o quê? Colocarem-no assim, no stock market, com um lacinho? Que coisa mais kitch. Quem é o assessor de imagem do DJ PPC? O Relvas, não é?

Hoje ouvi o Doce Jota PPC a dizer que o PSD está de cara lavada e de bolsos lavados. O que quer ele dizer com isto? Bolsos lavados? Só parvoíces, só parvoíces.

E ao mesmo tempo que diz que só divulga o programa eleitoral depois de conhecidas as medidas da troika, vai já distribuindo rebuçados, dizendo que não vai baixar ordenados nem subir impostos, mas acrescenta que, a seguir, quando for governo, pode mudar as medidas aprovadas (a troika deve adorar ouvir isto...) e tudo isto é um caldo em que nada joga com nada, em que juntando tudo só fica a sensação de que dali só sai disto, só parvoíces. Um verdadeiro conjunto vazio.

Imaturo, politicamente infantilóide, impreparado, Pedro Passos Coelho não dá mostras de estar minimamente à altura das responsabilidades que lhe seriam exigidas. A imagem, fantástica, foi obtida na net, aqui. Não admira, pois, que agora, como no tempo do outro Pedro, do Santana Lopes, sendo o PSD como é, os irmãos mais velhos já andem a dar pontapés no bebé fraquinho, muito fraquinho, que está no berço (ou  na incumbadora)

Só que isto não é para a gente se rir... o momento é grave e exigia gente capaz.

domingo, maio 01, 2011

Westminster Abbey, telemóveis e uma carpete artesanal do Afeganistão

Há alguns anos, por inacreditável que possa parecer, as pessoas conseguiam viver sem telemóveis. Hoje custa-me perceber como, mas eu sou dessa era pré-histórica e confirmo, perante mim própria, que assim eram esses tempos.

No entanto, às vezes teriam dado muito jeito.

Sobre o casamento real e sobre Westminster, lembrei-me de uma dessas vezes, nessa era.

Eu estava com duas outras pessoas em Londres, no Cumberland Hotel, em Oxford Street (um àparte: de manhã, quando passei pela imensa entrada do hotel pensei que tinha chegado ao céu: vi-me rodeada de marinheiros lindos, ainda por cima a falarem italiano... A armada italiana estava por lá).

No último dia, dividimo-nos e combinámos encontrar-nos em Westminster para visitar a igreja e, depois, voltarmos ao hotel para buscar as coisas e irmos para o aeroporto.

Eu, que tinha vários planos, acabei por deixar esgotar o tempo apenas nas compras, roupas e roupinhas sobretudo (acho que, por exemplo, a Mothercare ainda não tinha chegado cá). Inclusivamente, creio que no Selfridges, encontrei uma feira de artesanato afegão que me fez perder a cabeça. Tenho uma certa dificuldade em resistir às verdadeiras tentações e, sem pensar, comprei um pequeno tapete bordado e uma grande carpete de lã prensada e bordada.

Aqui está a minha bela carpete afegã: frágil e tratada com muito cuidado

Pois, carregada que já estava antes, quando dobraram o tapete e a carpete e os colocaram em sacos, percebi que mal conseguia dar passo... e o tempo escasseava.

Percebi também que, com aquele carrego, não conseguia deslocar-me até Westminster e, assim, lá me arrastei até o hotel, que era no início da rua, para deixar os sacos e, cansada, a correr, lá fui para o metro que me pareceu ser o meio mais rápido de lá chegar.

Se houvesse telemóveis, teria ligado aos meus amigos a dizer que não tinha tempo de me encontrar com eles em Westminster, que viessem para o hotel. Assim, não tive outro remédio senão ir.

Desci, se a memória me não falha em Charing Cross, já atrasada e enervada, e lá fui a correr. Passei pelo Big Ben e, às tantas, estranhei a distância, tinha ideia que era mais perto e, então, lembrei-me de perguntar a uma pessoa, que por ali passava, se Westminster era longe. A pessoa perguntou-me :"Que Westminster?". Respondi, "The church". A pessoa riu: "There are two, Westminster Abbey and Westminster Cathedral". Claro. Como é que não me tinha lembrado disso? Fiquei para morrer.

Já atrasadíssima, já só a pensar que, por minha causa, íamos os três perder o avião, sem ter como os contactar, sem saber onde estavam, com receio que, às tantas se fossem embora, já só me apetecia chorar. 'The nearest', lá respondi, ao calhas. Pensei que ia à procura na primeira e, se não os visse, ainda tinha que ir para a segunda.

Lá parti a correr, num sufoco. Quando me aproximei do grande relvado, uma fila enorme de gente para entrar e eu a pensar, numa aflição: 'Como é que os vou descobrir, nesta barafunda? Valha-me Deus, que é que eu fui fazer, atrasar-me desta maneira, não esclarecer bem onde era o ponto de encontro? E agora, que é que eu faço, valha-me Deus...?!'.

Mas Deus valeu-me e eu ouvi chamar por mim. Felizmente era mesmo ali que estavam e foram eles que me descobriram. De longe, apontavam para o relógio e perguntavam o que tinha acontecido.

Claro que não conseguimos visitar coisa nenhuma, lá fomos à pressa, de taxi, para o hotel. Quando chegámos, eles nem queriam acreditar: ao pé da minha mala, sacos e mais sacos e mais sacos, e um deles enorme, com uma carpete. 'Mulheres!', disseram. Foi uma correria louca até ao aeroporto, uns nervos mas, embora à tangente, lá conseguimos. E foi uma mão-de-obra desgraçada para conseguir transportar aquilo tudo... E, quando cheguei a casa a parecer o preto da casa africana, a surpresa não foi menor, 'Que maluquice, até uma carpete'.

Na 6ª feira, ao ouvir os relatos do casamento de William e Kate, sempre que ouvia que se estavam a casar em Westminster, eu dizia cá para mim, 'Westminster Abbey, nada de confusões, porque também há a Westminster Cathedral'.

E a minha frágil carpete afegã ainda dura, com mil cuidados, já foi forrada por trás para ficar mais resistente, com a lã prensada cosida por dentro em algumas partes que teimam em abrir.

Algures, há muito tempo, nas montanhas do Afeganistão, alguém desfiou e prensou lã de cabra, bordou e fez um tapete que depois foi para Inglaterra, para ser comprado por uma portuguesa que, muitos anos depois, aqui a mostra. As voltas que o mundo dá.

Catherine Elizabeth e William of Wales, futuros reis de Inglaterra, casando-se em Westminster Abbey

Sobre um tapete de Arraiolos (modelo moderno, feito sem desenho), 'Santo António com menino e chapéu de chuva' de Pedro Riobom da Bailhamedeus

Ainda no rescaldo de festa casamenteira, mostro-vos um Santo António muito bonito de Pedro Riobom para o Atelier de Cerâmica Bailhamedeus, que ganhei de presente.

É uma figura de alguma dimensão, com um colorido vistoso, revelando sentido de humor na escala e composição, e que, para tentar ir de encontro às numerosas visitas diárias que recebo à procura de temas relacionados com tapetes de Arraiolos, aqui coloquei - para a fotografia - sobre uma carpete que me deu muito gozo fazer, sem desenho, sem planos: apenas ir fazendo como se estivesse a pintar. Contudo, tem uma pequena barra, como se fosse uma moldura, e toda a execução segue, ipsis verbis, o preceito dos tapetes de Arraiolos.

Santo António sobre Tapete de Arraiolos