Pois é. Passou depressa. É o que acontece com o que é bom. Amanhã, ou melhor, hoje - porque já passa da meia-noite - retomo o trabalho. Noblesse oblige (ou coisa do género).
Não sei se é por causa deste estado de espírito, hoje nada me parece relevante para aqui registar.
Vejo os telejornais e os jovens americanos histéricos nas ruas a darem gritos de vitória por causa da morte de Bin Laden, vejo, um pouco por todo o lado, uma alegria que me parece um pouco estranha. Matar-se uma pessoa é sempre um acto de barbárie. Festejar-se em ruidosa alegria a morte de um homem é sempre um acto que contém em si algo de muito primário, de muito próximo da barbárie.
Multidões festejam a morte de Bin Laden (cuja operação secreta de captura deu cabo da lua de mel de William e Kate) |
Claro que Bin Laden, por mil razões e por várias dezenas de actos praticados e milhares de mortes provocadas, era um bárbaro.
Mas com a morte dele o terrorismo não vai acabar porque ainda há tantos bárbaros, porque somos todos tão bárbaros. Séculos e séculos de civilização e não passamos de uns bárbaros. As câmaras de televisão percorrem as divisões em que Bin Laden vivia, sangue, sangue, e o repórter relata, animadíssimo, o sangue que vê.
E eu vejo tudo isto e sinto-me um pouco enojada, talvez enojada com esta espécie humana a que pertenço, que parece não evoluir.
Vejo também aquela dupla infeliz na RTP1, Sandra Sousa e Vítor Gonçalves - que facies estranhos eles têm, não se percebe se estão sempre a sorrir, ficam com um ar entre o maroto e o atoleimado - a entrevistar o grande artista Paulo Portas. Ele fala, fala, diz o que quer, sabe bem a lição, é objectivo, não se desvia do que quer dizer, frases simples, bem construidas, o impacto previamente calculado.
O resultado destas eleições vai fazer com que, a Paulo Portas, nem um feijãozinho lhe caiba |
Vai ter um resultado muito bom nestas eleições. Não fosse ele quem é, não tivesse ele o pesado lastro que tem e tivesse ele equipa (porque não tem, é ele e pouco mais que ele, secou o partido) e seria, de facto, uma alternativa credível a Sócrates e a Pedro Passos Coelho, o boca-doce.
A seguir vejo o Miguel Relvas, voz esganiçada, com aquele ar de vizinha gorda e língua pontiaguda - nos bastidores, ao que consta, sempre de avental a conspirar com outras vizinhas de avental (ah, estas amizades aventaleiras... - e, o pior, é que também têm vindo baixaram o nível nas admissões no clube, não é?) - agora fazendo fofoquices sobre os quilómetros de Sócrates. Fiz zapping, não tenho paciência para o estilo deste ex-jota, falta-lhe um je ne sais quoi, ou melhor, faltam-lhe carradas de je ne sais quoi.
Pouco depois constato que o filme da troika está a chegar ao fim. O porta-voz já chegou. Com ar ajuizado, Amadeu Altafaj, porta-voz do comissário europeu da economia e finanças, Olli Rehn, diz que era bom que os partidos portugueses se entendessem e se comprometessem a pôr em prática as medidas.
Amadeu Altafaj, porta voz de Olli Rehn: as notícias estão a chegar |
Pois era. Era mesmo bom. Era mesmo bom para ver se se consegue evitar que o dinheiro deixe de circular porque, se isso acontecesse, a economia pararia de imediato (o dinheiro não está guardado numa caixinha: o dinheiro que há é o que circula). Era mesmo bom para ver se conseguimos voltar a por a economia a crescer. Era mesmo bom, para Portugal deixar de figurar na lista dos países relapsos.
E, aqui chegados, tenho que fazer uma confissão. Não sei o que a troika vai propor. Contudo as medidas que propuserem, serão, de certeza, melhores do que a desgovernação a que, há muitos anos, andamos a ser sujeitos. Acredito nisso e espero bem que se consiga, assim, através da mão de técnicos estrangeiros, desinfectar esta piolheira.
É que não chegámos ao ponto a que chegámos porque tenha caído do céu um anjo negro: não, temos sido nós que temos eleito a gentinha que nos tem governado; somos nós que permitimos que os professores vão para a rua a clamar contra a avaliação, a querer mais aumentos ou dinheiro extra para corrigirem exames; somos nós que permitimos que os advogados coloquem recursos atrás de recurso para dilatar os prazos dos processos até à prescrição; que permitimos que os juízes façam pouco, quando querem, como querem, com casa paga e muita autonomia; que os jornalistas divulguem tudo o que é pequena intriga, empolando-as até ao ridículo e tornando-nos a todos num bando de gente acrítica; somos nós que escolhemos para nos representar criaturas como os Relvas desta vida.
Agora já estou com sono e este post, como é costume, já vai longo mas, amanhã, se estiver para aí virada, conto-vos quando há uns anos (há tantos anos!), trabalhei sob orientação de um técnico do FMI, levando a cabo um trabalho em boa hora exigido pelo FMI. Que competência, meus amigos, que competência, que gosto foi!
2 comentários:
Realmente ontem foi um dia estranho. Reparo eu agora... olhe lá, esse tal de Amadeu Ataraf o Ataref é o Rui Unas, o do "Cabaré da Coxa". Ou trocou as fotos ou então é mais um caso de... separados à nascença!
(Há coisas...)
E não é que tem razão...? Como é que me escapou esta? Com sua licença, se calhar ainda vou ter que revelar mais este caso de separados à nascença... O Amadeu é de facto o mano tecnocrata do Unas.
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