sexta-feira, agosto 08, 2025

Um caso a seguir

 

Em mais um dia longe de notícias e fofocas, regresso chez moi tarde e más horas e, incapaz de reunir forças para ir também passear o cão, fico-me por casa e, claro, não tem como não, reclino-me no sofá e pimbas: já foste, tiro e queda.

Por isso, agora que já decorreu um bocado e que me encontro naquele limbo entre o quase acordada e o quase a dormir, enquanto arranjo energia para me deslocar até aos meus aposentos, partilho o único vídeo que despertou a minha atenção. 

Um caso de visão estratégica, resiliência, paciência, determinação. Há um objectivo a atingir? Bora, vamos lá. A obra é para ser feita? Bora, é para fazer, faz-se. 

Nem mais. Um exemplo.

Inside the world of weaverbirds' stunning nest creation | BBC Global

How does the weaverbird attract a mate?

Watch as they build intricate nests along the Blue Nile.

Tenham uma feliz sexta-feira

quinta-feira, agosto 07, 2025

Momento grande: Adélia conversa com Bial
-- Uma entrevista rigorosamente a não perder --

 

Desde que a descobri passou a ser companhia sempre presente na minha vida. Adélia Prado é daquelas pessoas luminosas de quem se pode dizer que é 'do bem'. Sorrindo, fala coisas sensatas, sábias, simples. Não é daquelas que se 'acha', não enrola a conversa em prosa armada. É daquelas pessoas com quem se aprende, com quem se ganham anos de vida, com quem apetece estar.

E o Bial é outro que tal. Todo ele cativa: sabe ouvir, sabe falar, sabe olhar. As entrevistas conduzidas por ele são conversas sempre gostosas.

Por isso, uma conversa entre os dois é maravilha pura. Conversam de tudo com aquela leveza, aquelas gargalhadas, aquele desassossego que alegra e rejuvenesce. Pode a conversa fluir em torno da morte, da vida, de sexo, de religião que as palavras não fogem nem se espantam. Adélia fala e Bial, embevecido, deixa-se ficar a ouvir. De vez em quando, parece que gostaria de ficar em silêncio, a pensar no que ela diz. Mas a entrevista tem que prosseguir e, então, lá vem mais uma questão. Outras vezes leem poesia e o prazer é redobrado: ambos parecem submersos nas palavras.

Esquecemo-nos da idade de Adélia, os seus 90 anos não pesam, não desgastam, não cansam: aqueles tantos anos luzem com graça e inocência, como as luzinhas do cenário em que se encontram.

Adélia Prado em "Conversa com Bial"

Adélia Prado, maior poetisa viva do Brasil e recém ganhadora dupla dos prêmios Camões e Machado de Assis, maiores honrarias prestadas a escritores de língua portuguesa pelo conjunto de sua obra, concedeu entrevista ao Pedro Bial, no programa "Conversa com Bial".

Prestes a completar 90 anos, a autora aclamada que publicou o primeiro livro aos 40 fala de suas experiências, de sua voz poética, de diferentes momentos da vida.




Dias felizes

quarta-feira, agosto 06, 2025

Papa João Paulo II, Fidel Castro, Woody Allen, Mick Jagger, etc., etc. -- todos em fotografias com Epstein na sua galeria de conhecidos e amigos

 

Ver mais imagens da casa de Epstein em NY aqui ou aqui

Se há personagens misteriosos e fascinantes, sem dúvida que Epstein é um deles. Já vi uma série na Netflix sobre ele, já li muitos artigos, já ouvi entrevistas com quem o conheceu bem, e, no ponto em que estou, o meu desconhecimento sobre a sua vida e sobre a sua motivação permanecem totais.

Vejo que ninguém conseguiu descortinar a proveniência da sua extraordinária fortuna. Identificam-se algumas parcelas, mas nada que atinja a totalidade, identificam-se algumas alavancas (pessoas a quem ele pode ter burlado ou manipulado) mas, identicamente, nada que justifique o brutal amontoado de bens. Em tudo o que vejo e leio a conclusão é a mesma: não se compreende de onde veio toda a sua extraordinária fortuna.

Há muita gente que pensa que parte da sua fortuna proveio de chantagem. Havia câmaras por todo o lado. Milhares de horas de gravações. Muitas fotografias, algumas guardadas no seu cofre. Para alguma coisa seriam. Mas pode a chantagem atingir valores desta natureza? E, de resto, nas fotografias, se algumas daquelas pessoas estavam a ser chantageadas, pareciam felizes por sê-lo.

Já ouvi diversas referências a ele ter sido apontado como um activo da Mossad e/ou da CIA, que interviria em situações de chantagem, e isso justificaria parte do secretismo de que as denúncias e os processos judiciais sempre parecem ter estado revestidos. Mas, sendo tudo secreto, como saber se isso é verdade ou se é mais uma das muitas teorias da conspiração em que a cultura americana é fértil?

E é tudo muito estranho. Vindo de uma família 'normal', sem riqueza, não acabou nenhuma licenciatura mas, não se percebe como, conseguiu enganar um prestigiado colégio onde deu aulas de matemática. Por ser lá professor, foi contratado como analista financeiro para uma empresa. Depois, por lá trabalhar e por desviado dinheiro, foi contratado por quem queria uma pessoa com o perfil dele, ambicioso, inteligente, fura-vidas, sem escrúpulos. Aí geria um esquema fraudulento em pirâmide e, claro, pessoa de 'confiança, cativante, insinuante, tornou-se próximo do big boss, a que se aliou e com quem burlou meio mundo. Quando a fraude foi descoberta, o big boss foi preso, mas ele, milagre, safou-se. E assim foi andando e, em pouco tempo, já tinha conseguido comprar casarões, mansões, um big rancho, uma ilha privada, um avião, um helicóptero, arte a gosto e a eito, pagar a não sei quantos funcionários, pagar 200 dólares a cada miúda que ia fazer um serviço e 200 a cada miúda que arranjava outra, e era normal haver desses serviços três vezes por dia, pois, segundo diziam, sexualmente, era insaciável -- e, sempre, em tudo, à grande e à francesa. 

Pelo meio, tudo o que era CEO das grandes empresas americanas, políticos e académicos e gente do cinema, cientistas, prémios Nobel, realeza, tudo estava caído nos encontros que ele organizava, uns meramente de tertúlia (embora sempre houvesse meninas a circularem pelas casas), outros de pedofilia pura e dura. Toda a gente lhe conhecia a fama. E mesmo depois de ter sido condenado e cumprido uma pena (ridiculamente baixa), ou seja, mesmo depois de ser público que era comprovadamente um pedófilo compulsivo, continuou a reunir em volta de si a habitual corte de amigos e admiradores. Como se ser pedófilo fosse coisa de somenos. Foram identificadas centenas de vítimas mas admite-se que possam ultrapassar as mil. Não só abusava delas como as traficava. Ele e o seu alter ego feminino, a sinistra Ghislaine Maxwell, presença constante na sua vida. 

Era também um conhecido filantropo. Oferecia dinheiro a rodos para partidos, para associações de beneficência, para pagar estudos e investigações, para bolsas. Dizem que parecia sempre bem informado e toda a gente gostava de falar com ele. Prestava atenção, parecia ter estudado os assuntos. Diziam-no uma pessoa interessante, interessada, afável, cativante. 

Apesar da sua reputação e do seu cadastro, parecia que as pessoas gostavam de ser vistas com ele. Ou, então, era ele que gostava de ser visto com elas. Nesta história não consigo perceber os contornos de nada.

Nas revelações que hoje vieram a público no The New York Times e já com reflexo noutros media, nas molduras de uma das suas incríveis casas, em Nova Iorque, há fotografias dele a visitar o Papa, dele com Fidel Castro, dele com Musk, dele com Mick Jagger, dele com Woody Allen. Muitas fotografias. Não se vê ninguém com ar de ter sido torturado para ali estar a sorrir. Todos parecem felizes, aparentemente descontraídos e orgulhosos por estarem em tão importante companhia. 

Leio que era visita do Palácio Real britânico e que, aparentemente, emprestou dinheiro a Sarah Ferguson, a ex do Príncipe Andrew. A teia de amizades vai sendo revelada, parece infinita. E inexplicável. Como chegou ele a tanta gente? E para quê?

E depois há o seu grande amigo, Best Friend Forever, Trump. Li que se zangaram não por Epstein ter 'roubado' uma menina de 16 anos que trabalhava em Mar-a-Lago mas porque Trump deu cabo de um negócio imobiliário milionário que Epstein queria fechar. Dizem que Trump seria testa de ferro de oligarcas russos. E aqui entram os russos, de mão dada com Trump? Outra teoria da conspiração? Ou outra vertente do mistério?

Questiona-se também qual o papel de Melania no meio deste filme. E as hipóteses que tenho ouvido são todas igualmente bizarras. E, também aqui, o mistério tem contornos imprecisos.

Os grandes jornais americanos não estão a largar o que a Justiça americana, pela mão de Trump, anda a querer esconder.

Não sei se alguma vez vamos perceber os contornos desta história mirabolante mas, pelo que se vê, entretanto vamos continuar a ser brindados com novos episódios que, em vez de revelarem, ainda adensam mais o mistério sobre esta estranha nebulosa.

Para quem não consegue ver o artigo que hoje está a bombar no NY Times, aqui fica um vídeo onde se fala disso.

A Disturbing New Look at Jeffrey Epstein's NYC Mansion

New photos reveal strange statues, cryptic and disturbing letters, and the presence of long-rumored hidden cameras inside the townhouse on Manhattan's Upper East Side. 


Desejo-vos dias felizes

terça-feira, agosto 05, 2025

Dar de mamar até as crianças terem 6 anos? Mas está tudo doido ou quê? Poupem-me.

 

Não vi, até agora, nenhuma concretização de jeito por parte do Governo Montenegro. Antes das eleições, já por duas vezes, era vê-lo, fanfarrão: que fazia e que acontecia, era só chegar ao governo, e todos os problemas se resolveriam em 2 ou 3 meses -- e, afinal, como é público e notório, tudo em que tocou ficou ainda mais estragado.

Por isso, não pode haver dúvidas sobre a minha opinião geral sobre a falácia Montenegro. Mas isso não me tolda o raciocínio. Sou, e creio que enquanto tiver a mente a funcionar normalmente, assim serei isenta. Pelo menos, esforço-me por isso. E é assim que hoje vou sair em defesa de Madame Palma Ramalho.

Enfim... mais ou menos...

No que se refere ao tema da legislação laboral, continuo sem perceber qual a necessidade de tanto fuzuê. Trabalhei durante anos e anos e nunca vi que a legislação fosse um problema. Saídas por negociação, saídas por extinção de posto de trabalho, saídas por despedimento com justa causa ou mesmo despedimento colectivo são o pão nosso de cada dia. Sem espinhas.

Claro que não se consegue despedir, unilateralmente falando, alguém só porque sim. Pode não se gostar nem um bocadinho de uma pessoa, pode saber-se que é um traste de primeira, que é uma pessoa tóxica ou psicopata, e, ainda assim, não conseguirmos livrar-nos dela. Sei do que falo. Passei por situações em que toda a gente queria ver uma doida varrida pelas costas: má profissional, má colega, perigosa mesmo. Em relação a mim, por diversas vezes, usou tácticas intimidatórias. E, ainda assim, o mais que conseguimos foi mudá-la de funções. Poderíamos, claro, ter avançado para um despedimento individual coercivo. Mas teríamos que carrear provas, teríamos que nos preparar para que um advogado nos fizesse a vida negra, teríamos que arcar com o risco de que fosse para as redes sociais deturpar tudo e causar danos reputacionais à empresa. Engolimos em seco e engendrámos uma solução em que fizesse o mínimo de estragos. Mas, ainda assim, continuo a defender que é preferível arcar com as consequências de ter gente pestilenta e imprestável nas empresas do que correr-se o risco de que patrões desonestos ajam discricionariamente contra trabalhadores indefesos que não lhes caiam nas boas graças.

Por isso, de cada vez que vejo que a bandeira da legislação laboral anda outra vez de mão em mão, dou um passo atrás e fico, cepticamente, à espera de ver o que vai sair dali. Felizmente, de forma geral, as montanhas parem ratos. Haja paciência.

Não quero com isto dizer que não haja aspectos a burilar. Há. Pormenores, aspectos específicos, pontuais. E, nesses casos, mais inteligente seria se partidos, sindicatos e associações patronais pensassem no País e não nas corporações em que se entrincheiram.

Mas, aqui chegados, eis que salta para a arena o tema da amamentação. O Governo quer limitar a redução de horário (duas horas) aos primeiros dois anos. Quando ouvi, pareceu-me normal, inócuo. 

Contudo, de repente, levantou-se um banzé do caraças, toda a gente a defender que as mulheres devem ter duas horas a menos de trabalho para amamentar crianças até aos 6 anos. De loucos. Pela cabeça de quem é que passa que é normal uma mulher dar de mamar a crianças com mais de 2 anos? Em especial, que o faz em horário diurno? Está tudo maluco ou quê?

Falo com conhecimento de causa. Foi há muito tempo mas a realidade é a mesma: uma mãe a amamentar os filhos.

Amamentei a minha filha até ela ter 13 meses. Já o contei: já falava e andava e ainda mamava. Mamava de uma mama, depois levantava-se, dizia, 'agora a outa', sentava-se na minha outra perna, encostava-se a mim, e mamava. Claro que o fazia depois de ter comido a papa da manhã, antes de sairmos, e, à noite, antes de ir para a cama. Por fim, só à noite. E eu confesso: fui eu que acabei com aquilo, já estava fisicamente saturada, já me custava. E foi um processo natural que ela também aceitou bem. Disse-lhe: 'A mãe já não tem mais leitinho nas maminhas. Sabes como vamos fazer? Já és grande, agora vais passar a beber um copinho de leite como os meninos crescidos'. E assim aconteceu, naturalmente.

De todas as minhas amigas, colegas e conhecidas eu fui a única que amamentei até tão tarde. Toda a gente achava um disparate, quase como se fosse uma cedência ao mimo de uma criança. Não quis saber. A minha intuição dizia-me que era benéfico para ela e assim foi.

Na altura, só havia licença de amamentação no primeiro ano da criança.

Com o meu filho, foi diferente. Sempre speedado, com um ritmo sempre difícil de acompanhar. Mamou até aos 4 meses, mas sempre foi um desatino. Quando a minha filha mamava, era um momento tranquilo: aninhava-se em mim e mamava pausadamente. O leite do meu peito sempre foi proporcional às suas necessidades. Com ele sempre foi o oposto: mamava sofregamente, mamava, mamava, com uma força e uma velocidade que não dava para acreditar, parecia que estava sempre esgalgado de fome. Claro que depois engasgava-se. Eu assustava-me imenso, ficava sem conseguir respirar e eu levantava-o, abanava-o. Enquanto isso, o meu peito ficava a esguichar leite enquanto ele tossia, engasgado, o leite a atingi-lo na cara, a entrar-lhe para os olhos e, quando se desengasgava, chorava, incomodado. O meu peito, face a tal sofreguidão, produzia leite até mais não poder, transbordava, encaroçava. Quando chegou aos 4 meses, deixou de querer mamar. Tive um desgosto grande, uma grande preocupação. Custou-me muito que esse elixir, essa garantia de saúde, não pudesse ser-lhe proporcionada. Tentei de tudo, mas ele foi taxativo. Fechava a boca, torcia-se, rabiava, esperneava. O leite acabou por ir secando. Por essa altura, já tinha introduzido a comida sólida no seu regime, e era só disso que ele queria. Não papas, que isso o agoniava, queria era sopa, comida com sabor. Devorava comida normal. Mas, bebé que era, como tinha que beber leite, dava-lhe no biberão. Mas só de eu lhe pôr a tetina na boca, começava com vómitos. Tinha que apanhá-lo a dormir, para lhe dar leite à socapa. Mas criou-se, cresceu, fez-se grande e forte. E mantém-se um bom garfo.

A tendência agora é que a amamentação seja exclusiva até aos seis meses. Acompanhei o processo pelos meus netos.

Mas o facto de haver mais um ou dois meses de amamentação em exclusivo ou de ser claro que o leite materno é uma mais valia e que prolongar-se até aos dois anos pode não ser o disparate que antes parecia, não significa que seja natural, saudável (lato sensu), amamentar uma criança para além dos dois anos, em especial durante o dia. Diria que é um absurdo sem pés na cabeça e duvido que haja mais do que meia dúzia de mulheres que o faça. Duvido muito.  

Dito isto não quero dizer que não faça sentido que as mães (ou os pais, à vez) não devam ter redução de duas horas de horário de trabalho até as crianças terem 6 anos. Chamemos-lhe 'licença de acompanhamento parental'. Isso, sim, faz sentido.

Relembro os meus tempos de jovem mãe, com horário rígido, sem redução após eles terem 1 ano. Eu com uma menina quase bebé, depois grávida e com ela ao colo ou pela mão, depois com um bebé de colo e ela, pequenina, pela mão. Não usava carro nessa altura. Nessa altura o meu marido estava na Marinha, sem flexibilidade para me apoiar mais, e, depois, quando saiu de lá, entrou para uma multinacional que o tirava frequentemente de Lisboa e do País. Não foram tempos fáceis. Mas era o que era e, apesar dos sacrifícios, sobrevivemos. Na boa. 

Mas poderia ter sido melhor. Não tive mais uns quantos filhos por me ser tão difícil (e por não ter suporte ou apoio logístico para as dificuldades do dia a dia). Tivesse eu tido uma vida mais facilitada e não teriam sido dois, teriam sido uns três ou quatro filhos. Se bem que o que eu gostava mesmo era de ter tido uns seis. Mas era impensável, ingerível.

Mas agora que o mundo mudou e que a flexibilização de horários é uma coisa normal, que o regime de trabalho pode ser híbrido, pode -- e deve -- ir-se mais longe.

A demografia em Portugal é uma lástima. Mesmo que os imigrantes nos venham dar uma ajuda no rejuvenescimento populacional, não chega. 

Tudo deve ser feito para incentivar a natalidade e o mínimo que se pode fazer é garantir que os pais possam acompanhar minimamente os seus filhos pequenos, trabalhando menos 2 horas por dia até que atinjam os 6 anos.

Isso e mais medidas: todas são poucas para incentivar os pais a terem mais filhos. Creches gratuitas, horários flexíveis e reduzidos sem redução de ordenado, abono de família generoso e crescente consoante venham mais filhos para a família. E o mais que, razoável e inteligentemente, se saiba pôr em prática.

segunda-feira, agosto 04, 2025

É assim que a Inteligência Artificial vai destruir a humanidade...? Em 10 anos...?

 

Já o referi e tenho vontade de repescar essas memórias para ilustrar o meu raciocínio. Houve uma altura em que ia a Paris com alguma frequência. Por exemplo, via anúncios à Minitel no metro ou na rua numa altura em que, por cá, nem se sabia bem o que era. Por cá, mais tarde, quando a Telepac começou a oferecer serviços, nas empresas era uma confusão para se conseguir perceber como usar. 

Ainda me lembro de ver estudos para analisar quais as vantagens do fax. Criaram-se novos processos para aproveitar a rapidez do fax. Quando se adoptou, destronou o telex. Desapareceram as salas de telex e as Operadoras de telex.

Também me lembro de, em Paris, ver, com espanto, uma pessoa a conduzir e com uma coisa grande na mão através da qual falava como se falasse ao telemóvel. Depois reparei que não era o único.

Também acompanhei a atribuição de telemóveis na empresa, sendo contemplado com um porque era directora. Era uma coisa enorme e pesada e só dava para servir de telefone. Por essa altura, na empresa dele o meu marido foi contemplado com um BlackBerry e lembro-me de, na empresa, haver discussões para se perceber vantagens e desvantagens de cada um. Se na altura desta revolução me falassem que os telemóveis poderiam fotografar e filmar e enviar as imagens de imediato diria que estavam a sonhar. Isso estava fora das melhores conjecturas.

Numa visita que fiz à sede de uma multinacional em Zurique, vieram mostrar-me uma coisa que acharam que eu apreciaria muito. Era um Grid, um microcomputador. Explicaram-me o que era e mostraram-me o Lotus 123. Fiquei fascinada. Em Portugal só mais tarde começaram a ser comercializados os computadores pessoais com as suas aplicações de tratamento de texto e de folha de cálculo.

Achei uma coisa tão vital que consegui que se formassem algumas pessoas que, por sua vez, formaram centenas de pessoas na empresa. 

E, mais tarde, quando finalmente a oferta de internet começou a ser comercial e operacionalmente interessante, lembro-me de haver grandes discussões sobre quem deveria ter acesso e se haveria forma de restringir o uso. Havia receio que algumas pessoas se entretivessem a ver imagens pornográficas em vez de trabalhar. Bati-me convictamente para que fosse dado acesso geral pois achava que a internet era uma porta aberta para o mundo e a empresa ter trabalhadores informados e curiosos era uma mais valia. E levei a minha avante.

Tudo isto parece pré histórico. Mas não é. 

Só que de aí para cá as coisas evoluíram tão exponencialmente que um mundo sem internet e sem telemóveis parece inviável. 

Viajar por países desconhecidos ou por lugarejos sem sinalização sem GPS parece hoje impossível. Mas era possível (embora desafiante) e isso aconteceu até não há muito tempo atrás. Como somos agora guiados, verbalmente, em tempo real, com indicação precisa de cada desvio, da existência de acidentes, em cada canto e esquina do nosso percurso, pode parecer já uma banalidade. E, no entanto, quanta tecnologia e quanto conhecimento estão envolvidos...

A velocidade do progresso só não nos deixa estupefactos porque já nos habituámos a ela. Mas a mim, que sou velha como o caraças e que tenho acompanhado isto desde o início, deixa-me mais do que estupefacta: deixa-me apreensiva. E deixa-me apreensiva porque sei que a tecnologia anda a um ritmo superior ao que as organizações precisam para se adaptar -- isto admitindo que percebem que têm que se adaptar.

Se por um lado a tecnologia (por exemplo, a nível da Inteligência Artificial) é extraordinária e deve ser integrada na nossa vida, por outro é impossível controlar a forma como é usada.

Pela parte que me toca, inofensiva aposentada, só uso para o (meu) bem. Por exemplo, o programador de rega voltou a pifar. O eletricista não está por cá e, com este calor, sem rega seria o desastre para o jardim já que as mangueiras não chegam a todo o lado. Fotografei o aparelho e passo a passo fui guiada até que voltou a trabalhar. Um ténis novo, aparentemente o melhor possível, topo de gama, impec a olho nu, magoa-me o pé num certo sítio. Fotografei o sapato e pedi informação. Explicou-me qual o problema e indicou-me a solução. O meu marido lembrou-se de fazer um acompanhamento de legumes assados no microondas, saudável e rápido. Perguntou ao chatgpt e saiu-lhe um belo acompanhamento. Quando recebi o relatório de umas análises, digitalizei e pedi informação. Relatório imediato e bem explicado. Precisei de ter um contrato para um certo assunto. Pedi-lhe e obtive um de tal maneira bem feito que foi aceite sem uma questão, como se tivesse sido feito por um advogado de mão cheia. Coisas assim, simples. Além disso, pela minha experiência, de vez em quando, quando quero estar 100% segura ou alguma coisa me parece inconsistente, vou validar o que 'ele' diz e não raras vezes detecto algumas imprecisões. Corrijo-o e acabo por receber uma resposta 'limpa', sem incorrecções. 

Mas imagine-se isto mal usado ou usado por quem não se dá ao trabalho de validar ou por quem quer usar para efeitos nocivos. Ou no ensino, usado por alunos que fazem os trabalhos dispensando-se de estudar, investigar, aprender. 

Ou, pior que isso, usando o algoritmo para incorporar programação mal intencionada. 

E não falo, porque me parece óbvio, que isto torna dispensáveis muitas profissões.

Mas os riscos são maiores que isso. A BBC não é propriamente sensacionalista. Recomendo que vejam o vídeo abaixo. Está legendado. Claro que há sempre quem desvalorize. Se calhar, quando eu cheguei a Portugal e disse que tinha visto pessoas a conduzirem e ao telefone houve muita gente que achou que era uma excentricidade francesa, um brinquedo. Ou, quando eu cheguei cá e disse que fazer o orçamento da empresa poderia passar a ser uma coisa automatizada que permitia fazer simulações em tempo real, houve quem me achasse uma deslumbrada ou uma miúda que falava do que não sabia. Há sempre quem não consiga ver o alcance do que por aí vem e só dê por ela quando a onda está a passar-lhe por cima.

Talvez não venha a ser drama nenhum. Talvez. Assim o espero. Mas, por via das dúvidas, deveríamos prestar atenção ao assunto, ouvir os que talvez saibam um bocadinho mais do que nós.

AI2027: Is this how AI might destroy humanity? - BBC World Service

A research paper predicting that artificial intelligence will go rogue in 2027 and lead to humanity’s extinction within a decade is making waves in the tech world. 

The detailed scenario, called AI2027, was published by a group of influential AI experts in the spring and has since spurred many viral videos as people debate its likelihood. The BBC has recreated scenes from the scenario using mainstream generative AI tools to illustrate the stark prediction and spoken to experts about the impact the paper is having.  


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Desejo-vos uma boa semana

domingo, agosto 03, 2025

Vários
-- A palavra ao meu marido --

 

Escrever um texto sobre o que se passa em Portugal depois da publicação do post escrito pelo meu filho sobre o genocídio dos Palestinianos por parte de Israel parece ridículo. 

Sobre isso, em minha opinião, essas atrocidades resultam sobretudo da política e dos interesses do Bibi Netanyahu e da extrema direita israelita, apoiado pelo Trump, mas não estou seguro de que um grande número de israelitas não apoie, de forma mais ou menos fervorosa, estas ações.

É uma vergonha para todos os europeus que a Europa não tenha ainda tido uma posição frontal e sancionadora deste genocídio. 

Não sei se existe uma solução viável para este problema mas é absolutamente necessário que, com urgência, se acabe com aquela chacina. 

Mas, ainda que correndo o risco de que o tema pareça menor (e sem dúvida alguma que o é quando comparado com um drama como o que o meu filho tão bem referiu no texto que escreveu), vou voltar ao que se passa cá pelo burgo.

Foquemo-nos primeiro no tema da Habitação e depois nos Impostos. 

  • Os presidentes dos bancos portugueses vieram a público alertar que a crise da habitação vai agravar-se e que as medidas do governo contribuíram para o aumento  dos preços. Era tão óbvio que era o que ia acontecer que nem vale a pena comentar. Espero, com curiosidade, a reacção do governo. Só espero é que os comentadores habituais não venham dizer que os presidentes dos bancos são perigosos comunistas. 
  • A fuga aos impostos através das empresas unipessoais é bem conhecida e já várias vezes aqui comentada. Parece que a AT ficou surpreendida ao ter conhecimento de que remunerações variáveis e/ou prémios estão a ser pagos a alguns trabalhadores através das empresas de que são proprietários. Assim, fogem aos impostos e tornam complexo o cruzamento de informação pois, quando recebem através da empresa de que são donos, o que aparece é o NIF e o nome da empresa e não o seu próprio nome e NIF. Com o recurso ao subterfúgio destas pseudo-empresas, pagam menos IRS, deduzem IVA e não pagam IRC porque carregam as empresas com custos que nada têm a ver com a atividade profissional (férias da família, refeições, combustível, leasing de viaturas, ... ), o que lhes permite, no final do dia, pagar menos ou nenhuns impostos. O curioso é a AT ficar surpreendida com a descoberta que fez. Será que não tem conhecimento do que se passa no setor da saúde, por exemplo? Haverá médicos que não recebam simultaneamente por dois carrinhos, o do ordenado propriamente dito e o de tarefeiros (enquanto trabalhadores e sócios das ditas empresas)? Se calhar, os senhores da AT andam ocupados a ver se um tipo que trabalha por conta de outrem e ganha mil euros paga o IRS devido. 

Aliás, como já aqui foi questionado quer por mim quer pela minha mulher, será que a Spinunviva não serviria também para este tipo de 'optimizações'? Por exemplo, tenho ideia que o Montenegro chegou a admitir que a mulher teria recebido um ordenado como gestora. Não parecendo que a senhora tivesse conhecimentos para desenvolver atividades no seio daquela empresa, a ser verdade que o recebia, essa remuneração não seria uma forma de aumentar os custos da empresa e simultaneamente ter um proveito adicional indevido? 

Se a AT atuasse, auditando à lupa todo este tipo de situações, seriam cobrados muito mais impostos e a carga fiscal de quem não foge ao fisco seria menor. Mas para que isto aconteça tem que haver vontade política. E onde é que ela está...?

sábado, agosto 02, 2025

Gaza
-- O meu filho toma a palavra num texto poderoso (... e, para mim, desafiante...) --

 

Escrevo este texto a pedido da minha mãe, na sequência do meu desafio (e crítica) sobre a ausência de um texto que esperaria profundamente comovente e mobilizador sobre a situação de Gaza no seu blog.

Encontrei dois textos no blog: a transcrição de um comentário de um leitor, J., em 2015 e, já sobre os acontecimentos atuais, um texto sobre a Dra. Alaa, mãe de nove filhos assassinados por bombas. Esse texto expõe a tragédia humana, mas não comenta o contexto. Faz falta um ensaio mais vasto, que não conseguirei escrever, mas que importa provocar — não só pela urgência da mobilização da opinião pública, mas também porque me interessa explorar as eventuais contradições que originam este ensurdecedor silêncio. Perdoa-me, mãe, mas não resisto.

Em parte este meu desafio é carregado de intenção, não o nego. Depois do 7 de outubro e dos primeiros ataques indiscriminados a Gaza por parte do Bibi de Israel, eu disse emotivamente que esta era mais uma situação a criticar e condenar, tal como o ataque da Rússia à Ucrânia. Como tantas outra vezes, discutimos e não convergimos, e daí resultou uma tensão entre nós. Argumentava a minha mãe, nesses primeiros dias, que Israel tinha a legitimidade que a Rússia não tinha, e como tal, por mais que custasse observar as vítimas civis agora da Palestina haveria uma espécie de racional estratégico-militar que o justificaria, 1 vida humana de Israel poderia ser vingada com muitas mais palestinas, se com isso se eliminasse o perigo, redirecionando as culpas para o Hamas que cobardemente se esconde entre os civis. Não concordei, e argumentei nessa altura da mesma forma que argumento agora, mas com o benefício de ter os factos do meu lado. 

E quem lê este texto, evite, por favor, cair na tentação fácil de me atribuir um rótulo e assumir que estou, implicitamente, a legitimar a ação do Hamas — espero o benefício da dúvida. Retomamos este ponto no final do texto, juntamente com as contradições a que me refiro no primeiro parágrafo.

Sobre o contexto que espero ver mais bem explorado no blog, quero basear-me num brilhante episódio do podcast do New York Times, “The Opinions”, intitulado “I’m a Genocide Scholar. I Know it When I See It”, uma entrevista com Omer Bartov — historiador especialista no Holocausto, judeu israelita a viver nos EUA, que serviu como militar no IDF, posicionado em Gaza. Insuspeito q.b. Diz Omer, de forma simples, ao New York Times: o que se passa em Gaza é um genocídio — há uma tentativa sistemática de eliminar um povo ou de tornar as suas condições de vida impossíveis.

Diz ainda, de forma clara e compreensível, que os judeus israelitas têm um trauma coletivo compreensível — o da ameaça à sua existência — e acreditam que tudo se justifica para o evitar. Incluindo o que se passa agora em Gaza. Tudo é legítimo para a preservação de um povo outrora eliminado de forma sistemática. 

Para ele, é claro que, para Netanyahu, só há uma solução para a “questão de Gaza” e para a ameaça que representa enquanto incubadora de revoltados, fanáticos, militantes, mártires…: acabar com Gaza, com os seus habitantes, e redefinir as fronteiras de Israel para limites mais seguros e previsíveis. No futuro, ver-se-á o que acontecerá com a Cisjordânia.

As imagens na televisão não deixam margem para dúvidas, há factos que ninguém de bom senso e bem informado pode negar:

Israel alcançou com sucesso - e ainda mantém - um programa de destruição total das infraestruturas e de todo o edificado de Gaza. Sobram pouco mais do que ruínas - é agora inabitável.

Os palestinos que sobrevivem em Gaza estão a ser vítimas de Fome de forma deliberada e sistemática pelo estado de Israel, a Fome como arma de guerra – é a morte que daqui resulta.

São muitas dezenas de milhares as mortes civis, por certo muitos deles inocentes – não é só o Hamas o alvo das bombas assassinas.

o Percam um segundo, pensem numa criança que vêm a morrer na televisão como vossa. Não é demagogia nem psicologia barata. É um mundo de guerra que poderia ser nosso, como aquela criança.

Se comentamos a situação internacional e condenamos os crimes que observamos, como nos podemos calar nesta situação? É porque Israel faz parte do mundo ocidental e o seu povo se assemelha a nós e é mais fácil vê-los como vítimas do que como agressores? Porque ao longo destes anos de “terror muçulmano”, desumanizámos os árabes e aceitamos melhor a sua tragédia? Porque estamos demasiado habituados a um mundo unicamente dividido em dois, e Israel faz parte dos “bons” e a Palestina, em tempos apoiada pela União Soviética e agora pelo Irão, dos “maus”?

Agora ouvimos, na minha opinião tarde demais, os estados ocidentais a condenar a Fome em Gaza, a colocar pressão no Estado de Israel, a reconhecer o Estado da Palestina. São as ações corretas, mas superficiais, simbólicas. Se à Rússia se aplicaram sanções, porque é que a Israel se dá bombas? Pode a geopolítica valer mais do que os mais básicos Valores? Se for esse o caso, pensemos então nos Valores que partilhamos enquanto sociedade.

Em algum momento temos de re-definir esses Valores, os sinais são claros mas não inéditos. Mais desigualdade, mais guerra, mais extremismo, menos empatia, menos consenso, menos cooperação. Perdemo-nos em discussões polarizadas porque nos vemos rigidamente presos em quadrantes políticos que nos obrigam a assumir certas posições e argumentos e, depois, discussões que deveriam ser unânimes geram discussão. Esta é uma delas, assume-se que alguém da esquerda mais extrema legitimará a Rússia e condenará Israel. Por outro lado, alguém mais à direita irá condenar a Rússia e aceitará a atuação de Israel como um mal menor. 

Errado, a sociedade deverá reger-se por princípios Humanistas e em questões de razão fundamental sobre a vida humana não hesitará em condenar quem de forma deliberada e sem a mais elevada justificação decide de forma programática retirá-la. E francamente, criticará ainda de forma mais assertiva, quem como Israel, em pleno século XXI promove um Genocídio.

Por fim, como nota de rodapé, dois temas referidos no inicio do texto 

É evidente que critico profundamente o Hamas e as suas ações e reconheço como legítimas as ações militares de Israel em consequência do 7 de outubro. 

É também para mim claro, mas muito mais complexo e difícil de justificar, que um Estado como a Palestina que está ocupado e onde o seu povo vive de forma segregada há anos, sem liberdade e diariamente humilhado, vai originar fanáticos, pessoas sem nada a perder, que alimentam as fileiras de organizações como o Hamas que serve outros interesses. Há muito tempo que a ONU defende uma solução pacifica de dois Estados, de coexistência. A alternativa é a guerra. Não podemos atribuir todas as culpa a Israel, mas não podemos aceitar o que se tem passado nos últimos anos em Gaza e temos de condenar de forma muito veemente os acontecimentos dos últimos 2 anos. 

Segundo tema. Nas posições mais moderadas e de sistema, sobrevive uma contradição fundamental. Essa contradição é, simplesmente, a existência de algumas poucas verdades absolutas que se sobrepõem à razão na análise. Um exemplo: a América é a nossa referência de liberdade e democracia — devemos seguir a sua liderança. Assim fomos para a segunda guerra do Iraque sem nunca pôr em causa a sua legitimidade. E, se alguém o fizesse à data, seria visto como um extremista de pensamento. Agora, com Trump, já é legítima a crítica aberta à América. Pois a mim pouco me interessam os rótulos, e vejo enorme virtude em pessoas como a minha mãe, que pensam e dão a sua opinião sem receio.

Será que, na questão de Gaza, caiu na armadilha do pensamento corrente?

Uma vida é uma vida. E nisto, sei que a minha mãe concorda comigo. Quem não consegue pôr esta verdade universal acima de tudo o resto ou é mal-intencionado ou está perdido na polarização extremada que nos tolda o discernimento. 

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Nota de minha lavra sobre o texto acima, escrito pelo meu filho

No outro dia, quando o meu filho me enviou o link para o podcast sugerindo-me que me pronunciasse, pedi-lhe que escrevesse ele um texto. Tem-me censurado, e não poucas vezes, por eu não falar com a frequência e veemência que esperaria da minha parte sobre o que se passa em Gaza. E, porque gosto de o ouvir e porque tem opiniões sempre bem fundamentadas, achei que ninguém melhor que ele para dizer o que acha que deve ser dito.

E o texto cá está.

Mas devo corrigi-lo: não falei no assunto apenas duas vezes. Falei mais: não muitas vezes, é certo, mas, ainda assim, encontrei os posts cujos links deixo abaixo, entre os quais os dois que ele refere.

E não falei mais vezes pois é um tema sobre o qual a minha opinião não é clara. Quando estou perante um problema, por natureza tendo a pensar na possível solução. No caso em questão, identifico o problema mas não estou certa sobre qual a (boa) solução. 
  • Por um lado não tenho dúvida em condenar, inequívoca e fortemente, a chacina que Israel está a levar a cabo em Gaza. Netanyahu e os que o rodeiam causam-me horror sob qualquer ponto de vista -- e isso é claro, claríssimo. Não tenho palavras para descrever o que sinto ao ver aquela chacina, aquela tragédia, aquele horror. A guerra é sempre cruel. É difícil encontrar uma gradação de aceitável ou 'legal' para a guerra mas, quando se destrói a eito, se aniquila e se mata pela fome. Condeno-o com todas as letras e sinto uma imensa repulsa. Ver crianças com fome, ver as mães a não conseguirem acudir ao sofrimento dos filhos moribundos, ver pessoas a correr e a serem mortas quando procuram alimentos, ver tudo destruído e as pessoas a sobreviver como animais acossados parte-me o coração e não posso encontrar desculpa para quem pratica tão desumanos e bárbaros crimes.
E dito isto, está dito. Sem margem para dúvidas.
  • Mas, por outro, depois há o capítulo seguinte da história, o day after: o dia a seguir ao fim do massacre que Israel está a levar a cabo sobre a população em Gaza. Esse dia há-de chegar.
E é aqui que tenho muitas dúvidas. Não sei qual a solução pacífica. E tenho dúvidas porque questiono a viabilidade e sustentabilidade de países que assentam os seus fundamentos em matrizes religiosas. 

Países conflituantes, com abordagens conflituantes a nível religioso e que disputam os mesmos territórios e com um historial de barbaridades mútuas que jamais será esquecido por ambas as partes -- parece-me garantia de que jamais haverá paz em tais territórios. 

Ou seja, tenho dúvidas no racional que conduziu à formação de um país 'judeu' no meio de territórios de matriz muçulmana. E imagino que o facto de a Palestina ser um estado reconhecido, paredes meias com Israel, não vai ser garantia de que a panela de pressão não estará sempre prestes a rebentar.

Haver dois estados parece ser a 'boa' solução, a que, no reino das boas intenções, fará com que tudo corra bem. Abstractamente, parece o ideal. Mas entre o 'ideal' e o 'real' vai um grande passo. Ou seja, parece-me que a história desmente a probabilidade de que corra bem. 

Se, de facto, Israel e a Palestina quisessem viver em paz, parece-me que teriam que admitir, assimilar, interiorizar e aculturar-se de forma a que cada um dos países fosse aberto a qualquer religião, um estado ecuménico. Sem isso, será uma never ending história de crime, ódio, vingança.

E há um outro aspecto que quero referir: não confundo um país com o regime que o governa ou desgoverna. Israel, apesar de todas as patifarias, infâmias e crimes de guerra que, em determinados períodos da sua história, tem praticado, fora desses períodos tem sido um país notável. A todos os níveis, nomeadamente científico, Israel é um país desenvolvidíssimo. E isso não deve ser esquecido ou desprezado. O combate não deve ser contra Israel mas contra o regime assassino do corrupto Netanyahu. 

Sobre a Palestina terei que reconhecer que tem sido massacrada e humilhada ao longo dos tempos e, talvez por isso, parece ter-se rendido a ser palco e berço e viveiro de extremismos e de regimes que jamais poderemos aceitar como aceitáveis, que cultivam o terror, que desprezam as mulheres, que privilegiam o mais tacanho obscurantismo. A defesa da Palestina não pode ser a defesa de regimes que nada têm a ver com o respeito dos direitos mais elementares. 

Quanto ao resto, toda a geopolítica daquela região é complexa demais para que eu consiga alvitrar soluções ou formular raciocínios. Diria que só grandes estadistas, políticos sérios, cultos e estrategas, poderiam sentar-se à mesma mesa e encontrar soluções. Não é tema para leigos, para curiosos.

E estes são textos, aqui do blog, que encontrei falando no assunto. 




De qualquer forma, filho, muito obrigada pelo teu texto. Como escrevi no título, é poderoso. 

[E, como vês, publiquei-o na íntegra, não houve lápis azul... 😜]

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Desejo-vos um sábado feliz

sexta-feira, agosto 01, 2025

Na ressaca de uma ida às compras, com o corpo habituado ao descanso e ao silêncio

 

Quando estamos no campo, o tempo flui de uma outra maneira. Durmo mais, levanto-me tarde e isso não atrapalha o resto do dia porque tudo corre tranquilamente, quase como se o tempo deslizasse com todo o vagar.

Com o calor que tem estado, só se consegue estar bem dentro de água ou dentro de casa. Só ao fim do dia se consegue andar na rua. E, ao fim do dia, com a doçura do entardecer, tudo é serenidade. O tempo em tardança.

Sou eu e é ele: zen, zen, zen
Ainda hoje, no campo, à sombra, a dormir descansadamente

Portanto, com este ritmo pausado, o meu corpo parece desabituar-se da agitação, do movimento.

Aconteceu-me hoje um banho de imersão num bem animado shopping. Já no outro dia, quando um dos meninos fez anos, fomos às compras com ele (e com o mano). Mas a transição do campo para a cidade não foi como hoje, foi mais rápido e só um dos rapazes estava comprador. 

Hoje, com dois leõzinhos em vias de fazerem anos, de presente quiseram também ir às compras. Só ao fim da tarde porque antes estiveram na praia. 

Ele despachado, muito pragmático. E impaciente. No capítulo das compras, igual ao pai. Antes tinha-nos avisado qual a hora limite pois tinha que estar em casa a tempo de tomar banho e jantar para, quando começasse o jogo, queria estar a postos em frente da televisão.

Ela é outro comprimento de onda. Disponível para avaliar todas as opções, com gosto em experimentar tudo, sem pressa. Neste capítulo, igual à tia. Disse o irmão que, só por saber que ele se queria despachar para não perder pitada do jogo, já ela fazia tudo mais devagar. Ela disse que não mas não sei se, lá no fundinho, ela não se importou nada de não corresponder às pressas dela. Contudo, penso que, nela, é, sobretudo, o prazer de ir às compras e de experimentar toilettes. Compreendo-a. Não posso esconder que sou também assim. Talvez não agora, em que me forço a não ceder ao consumismo, mas, antes, o prazer que sentia em adquirir farpelas novas era grande e sempre renovado.

Portanto, gerir estas duas personalidades e motivações, foi uma coisa um pouco complexa: ele desesperado, farto, irritado, ela nas calmas, nas sete quintas. 

Entretanto, o meu marido resolveu levar o cão, mas, logicamente, ficou lá fora a passeá-lo. Não sei se imaginou que seria rápido mas, se imaginou, imaginou mal. Por isso, também desesperava, telefonando-me volta e meia a pedir-me um ponto de situação, dizendo que já não conseguia andar mais tempo às voltas. Pelo meio, ligou-me também o meu filho a querer saber onde andávamos pois daí a nada começava o jogo, e, perante o ponto de situação, disse-me que eu não estava a gerir bem as prioridades. Talvez, mas perante abordagens contrárias, até conflituantes, que poderia eu fazer?

Segundo ela, foi o irmão que ligou aos pais a queixar-se dela e a mostrar o seu desespero. Não vi mas ele não negou. 

No final, ela já estava bem abastecida, embora ainda com um item em falta, ele ainda quase sem nada.  Vi o caso mal parado. Ele já não queria nada para ele nem queria que a irmã fosse comprar o que lhe faltava. Tive que convencê-lo, iríamos a correr, tudo muito rápido. Não podia ser ficar praticamente sem presentes. Respondeu-me que logo comprava, noutra altura, e depois logo dizia quanto tinha custado. Disse-lhe que isso não tinha jeito nenhum. Uma negociação difícil. Com a promessa de que despacharíamos o assunto em poucos minutos, lá acabei por convencê-lo e lá se resolveu tudo. Mas disse que não volta a ir às compras ao mesmo tempo que a irmã. E, de facto, mais vale tratar do assunto em duas expedições distintas, uma para cada um.

Mas, enfim, entregámo-los em casa resvés campo de ourique, presumo que ainda conseguiu ver o futebol todo (não sei se teve tempo para o banho e se não teve que jantar em frente da televisão...). Os primos, em contrapartida, gentileza do tio que lhes arranjou bilhetes, viram-no ao vivo, no Algarve.

Agora o que acontece é que, desabituada de estar no meio de muita gente, desabituada de algum stress (por irrelevante que seja), desabituada de pressas, chegada a casa, quando acabei de jantar, sentei-me aqui no sofá e foi como se estivesse anestesiada: caí num sono profundo. Não imaginam. Não conseguia acordar. Ferrada, ferrada, ferrada, como se tivesse vindo de correr a maratona.

Não sei se é desábito, se é deste calor ou se é de outra coisa: no outro dia o meu marido disse-me que eu passo meses sem ver a tensão arterial. Muito instada por ele, acabei por ir ver e estava baixíssima: a máxima parece que estava em 10 e picos e a mínima nem chegava aos 5. Na volta, também é isso.

Com esta situação, como poderão imaginar, nem faço ideia do que se passa no mundo nem consigo agradecer e responder os comentários. Vou retirar-me para os meus aposentos.

quinta-feira, julho 31, 2025

Este Governo é uma treta -- A palavra ao meu marido --

 

Quando refiro a enorme incapacidade do governo para resolver os problemas do País e a falta de ética com que governa logo vêm os comentadores encartados da direita, seguindo as passadas do chefe-máximo da falta de seriedade democrática (também conhecido por PM), dizer que o pessoal de esquerda "não tem humildade" e que não respeita o voto dos portugueses. 

É claro que os portugueses votaram à direita, mas não será por causa disso que não se devem apontar os erros do governo. O governo não resolveu -- e tinha prometido resoluções milagrosas num curtíssimo prazo --, os problemas da habitação, da saúde, da educação, da justiça e do combate aos incêndios que tanto criticaram no tempo do governo PS. 

Pelo contrário, nestas áreas, os problemas agravaram-se, como já foi aqui várias vezes referido. 

Hoje, por exemplo, com o drama dos incêndios ocorridos nos últimos dias, vi uma notícia na televisão onde o "pintas" do presidente da liga dos bombeiros se reunia com o secretário de estado para falarem sobre a estrutura e os meios de combate aos incêndios. É absolutamente de loucos. Agora que os incêndios alastram no País é que têm estas discussões. Inacreditável -- mas na linha da atuação do governo. Finge que está a resolver os problemas mas, notoriamente, não tem capacidade para antecipar os problemas e para apontar as soluções atempadamente.

A falta de ética do governo, que compara com falta de ética do PM no caso Spinunviva, voltou a atingir o inexplicável patamar já o ano passado alcançado, com a devolução dos valores correspondentes ao 'acerto' de IRS resultante da descida das taxas. O mesmo aconteceu o ano passado. Não se percebe qual o racional que justifica as diminutas taxas dos meses de Agosto e de Setembro, sem relação com as novas taxas a aplicar a partir de Outubro. Mais parece um adiantamento por conta do acerto de IRS a declarar para o ano. Parece-me que só existe um racional possível que se chama comprar votos. 

Pode o governo dizer, olhando-nos olhos, que esta 'benesse' não tem nada a ver com as eleições do início de Outubro? 

Pode dizer que é diferente, no essencial, do que foi feito pelo Musk na campanha do Trump? Como uma pequena mas significativa diferença: o Musk assumiu publicamente que estava a dar dinheiro para esse fim, enquanto o governo finge que está a devolver dinheiro, "esquecendo-se" de referir que o vai recuperar no próximo anos. 

Assim como assim, talvez o descaramento do Musk seja mais transparente. 

Em democracia não deve valer tudo. É por isso que devemos apontar os erros do governo e não ficar manietados porque a malta votou â direita. No tempo da ditadura houve sempre "alguém que disse não" e vimos depois do 25 de Abril que, na generalidade dos casos, eram e são pessoas de grande valor. São um exemplo.

quarta-feira, julho 30, 2025

Beyoncé responde a Trump

 

Como um bicho atordoado, desatinado, descerebrado, sentindo-se acossado -- com revelações sobre o seu envolvimento no escândalo Epstein a rebentarem como pipocas, em todo o lado, a toda a hora --, Trump vira-se para onde calha e atira ao acaso. 

Ultimamente, para além dos disparates habituais e dos insultos e desconsiderações a adversários políticos ou a gente da televisão (Colbert, Kimmel ou Fallon, por exemplo), deu-lhe para lançar acusações sobre Beyoncé e sobre Oprah a propósito do apoio que publicamente deram a Kamala Harris aquando das eleições, pedindo a sua acusação. Imagine-se o nível a que o desvario já chegou.

Mas se alguns engolem em seco e tentam seguir em frente, outros há que, como foi o caso de Colbert, tiraram as luvas e agora é às escâncaras e sem meias palavras, ou como Beyoncé, que, no programa de Colbert,  é vista num vídeo, colagem de vários momentos dos seus clips, que é, todo ele, uma gargalhada na cara do camelo-mor.

Beyoncé responde ao Presidente Trump

Will President Trump succeed in his latest attempt to distract attention from the Jeffrey Epstein scandal?


Que a democracia consiga sobreviver -- nos EUA e em todos os lugares em que é ameaçada

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Dias felizes

terça-feira, julho 29, 2025

Pagar menos impostos --- mas, calma, tudo dentro da lei

 

Li uma notícia que até me fez rir. Na minha santa ingenuidade, pensava que o truque da empresa unipessoal (ou afim) apenas era usado por médicos, advogados, consultores e demais profissões que poderiam passar por liberais ou, também, por senhorios -- malta que, não querendo pagar muito IRS e, para além disso, metendo nessas pseudo-empresas tudo o que é custo (combustíveis, limpezas, estacionamentos, almoços, hotéis, etc.), também conseguem não pagar IRC ou pagar meras alcagoitas. Pensava eu.

Mas eis que fico a saber que estava muito enganada. Transcrevo um pouco:

O Fisco está a investigar indícios da prática de fraude fiscal no pagamento de indemnizações, por despedimento, e outros complementos salariais a trabalhadores. As suspeitas incidem sobre esquemas em que os beneficiários utilizaram empresas pessoais para receberem as indemnizações, os prémios e bónus salariais, com vista a pagarem menos impostos ao Estado.

Através destes esquemas de utilização de empresas no recebimento dessas verbas, os beneficiários visam alcançar dois objetivos: por um lado, reduzir o montante do imposto a pagar em sede de IRS; por outro, deduzir despesas em sede de IRC e diminuir o imposto a pagar pela empresa ao Estado.

No relatório do combate à fraude e evasão fiscais, a Autoridade Tributária descreve a situação: “As situações identificadas revelaram indícios da existência de esquemas de planeamento fiscal que têm como objetivo principal a diminuição da tributação, que seria devida na esfera pessoal dos sujeitos passivos beneficiários de indemnizações, complementos salariais e/ou rendimentos de trabalho independente em sede de IRS, e a dedução de gastos, em sede de IRC (por via da fatura emitida pela empresa interposta) sem a devida tributação autónoma por parte da empresa pagadora”.

Pois bem. Há que tempos que aqui ando a falar disto.

É através deste mesmíssimo esquema que os hospitais contratam médicos (muitos deles também funcionários do hospital, ou seja a médicos que recebem em dois carrinhos: o ordenado, enquanto funcionários, e a facturação à hora, enquanto tarefeiros das suas próprias empresas que funcionam como fornecedoras dos hospitais; e quem diz hospitais, diz clínicas, diz o que quiserem). É através deste esquema que muitos senhorios (os que são 'honestos', pois passam recibo fiscal já que, como é sabido, grande parte dos contratos movimentam-se por debaixo da mesa) em que os recibos são passados pelas empresas de 'gestão imobiliária' de que são sócios. É também através deste esquema que, então, fico agora a saber, algumas empresas pagam bónus ou indemnizações ou, se calhar, parte do ordenado a alguns funcionários. 

Tudo legal, tudo nas barbas do fisco. O mesmo Fisco que não acha estranho que haja tão poucos contribuintes a pagar as taxas máximas de IRS (os que não conseguem fugir e os totós que acham que devem agir by the book), mesmo vendo que há muito, muito, muito mais gente a fazer vidas milionaríssimas, enquanto pagam pouco IRS.

E, no entanto, esta rebaldaria seria muito fácil de ser interditada. Bastaria que qualquer empresa (hospital, escritório de advogados, empresa de consultoria, empresa de qualquer espécie) estivesse interditada de 'contratar serviços' a empresas unipessoais ou em que os sócios fossem os funcionários que prestam o serviço. Interditado pura e simplesmente. Nos casos mais benignos em que precisam efectivamente dos serviços das pessoas, contratem-nas. Se só precisam delas provisoriamente, contratem-nas como trabalhadores temporários. Se precisam que trabalhem para além das horas extraordinárias admissíveis face à legislação e recorrem a este esquema fraudulento (mas legal) também para isso, pois que tal seja denunciado. Ou o limite das horas extraordinárias em vigor é baixo demais e, então, aumente-se ou, se é o aconselhável, então contratem mais pessoas. E se for necessário ajustar a lei do trabalho temporário para acomodar algumas situações pois que se ajuste, com pragmatismo e bom senso.

A nível dos senhorios, tem que ser a AT a cruzar informação, vendo se os sócios das empresas registadas como senhorias são os proprietários. Nesse caso, deve ser interditado o registo. Devem registar-se directamente como contribuintes individuais e não como empresas.

Não será fácil cruzar a informação...? Talvez não seja. Mas havendo uma lei a proibir esta pouca vergonha, que se audite por amostragem e se caia em cima dos infractores a pés juntos.

Mas a Inteligência Artificial trata disto na maior. A AT que arranje algoritmos que façam o varrimento dos sócios das empresas, que valide o que é contabilizado nessas 'empresas. Não é difícil. A mim fervilham-me os dedos para os conceber. 

Se houver alguém que queira, mas queira mesmo, enfrentar esta maltosa que se habituou a fugir aos impostos, acomodando-se dentro de uma legislação que acolhe carinhosamente os relapsos e os chico-espertos, em três tempos opera uma verdadeira transformação no País.

Agora há uma coisa, e aqui entra o lado moral da coisa: quantos ministros, secretários de estado e deputados não detêm empresas destas? Quem, detendo o poder e estando instalado em cima deste pântano, se dispõe a pisar uma estrada aberta, limpa, com boa visibilidade? 

Mais: não é a Spinumviva uma empresa que, de certa forma, também se encosta a estes esquemas? Pergunto.

Tenho para mim muito claro -- e quanto mais me informo sobre outras realidades mais me convenço que é o caminho -- que, para o País evoluir, para se desenvolver, para atrair e reter capital humano capaz de fazer progredir o País a ritmo decente, há duas medidas que deveriam ser tomadas pelo Governo e levadas muito a sério:

- Baixar drasticamente os impostos sobre rendimentos, sejam eles de que natureza forem. Não é baixar meio ponto percentual, isso é apenas caricato. É baixar a sério. Por exemplo, no caso do IRS, reduzir os escalões a metade e reduzir fortemente as taxas. Não estou bem ao corrente de qual a última ideia da IL mas, no capítulo dos poucos escalões e das baixas taxas, devo aproximar-me deles. Por exemplo, no caso dos senhorios em que a fuga aos impostos é generalizada, reduzir a metade as taxas.

- E, ao mesmo tempo, impedir e punir fortemente a fuga ao fisco. E, quando digo fortemente, digo mesmo fortemente, à bruta. Antes de alguém ter uma ideia esperta para fugir ao fisco, deverá pensar muito bem pois os riscos devem ser tantos que deverá concluir que não valerá a pena.

Não pagar impostos tem que deixar de fazer parte da cultura portuguesa. Optimização fiscal tem que passar à história pois o sistema fiscal deveria ser tão fácil e os valores a pagar tão razoáveis, tão aceitáveis, que deveria ser ridículo e socialmente condenável fugir às obrigações. 

segunda-feira, julho 28, 2025

Um domingo feliz

 

Festejámos, em família, o último aniversário de Julho, o terceiro. Daqui por poucos dias iniciam-se os de Agosto, mais três. Bem quero manter-me na linha, mas as tentações são sempre mais que muitas. Claro que eu poderia manter-me de boca fechada, em especial quando chega a hora dos bolos. Mas com a falta de açúcar que entra na minha dieta rotineira, quando me apanho com um doce à frente nem tento controlar-me. Pelo contrário, sobe em mim uma insana vontade de me desforrar, vontade essa que não contrario.

De cada vez que nos encontramos pasmo com o que está a acontecer-me. Estou, de dia para dia, relativamente mais pequena. Uma coisa que me deixa diminuída, digamos assim. E, contudo, fora deste contexto há quem me ache alta. Alta eu sei que não sou mas, caraças, também não sou uma anãzinha. Mas é assim que me sinto quando estou ao pé dos mais altos. E repare-se que a meio da semana almoçámos com dois dos meninos e no domingo anterior tinha estado com todos. Portanto, não passou um mês desde que os tinha visto. E, no entanto, juraria que este domingo estavam todos mais altos. Já ao fim do dia, fiz questão de me fazer fotografar entre os dois rapazes mais altos. Grandões, peludos, cabeludos, com o braço sobre os meus ombros, tenho que virar a cabeça para cima para lhes ver a cara. A impressão que me faz o ritmo a que isto se processa. 

A minha menina também já está uma mulher. No outro dia, andando em passeio, estava a apanhar banhos de sol sobre uma rocha e a fotografia que o meu filho enviou tinha sido tirada de um ângulo em que eu não via muito bem a cara. Parecia-me ela mas achei que pelo corpo não podia ser, devia ser a mãe dela. Virei o telemóvel para ver se a via de frente mas o telemóvel rodava a imagem. Só então reparei na minha nora, de pé, na água, junto à rocha. Só visto. Também já me ultrapassou. Com os seus olhos claros, toda ela grande, faz-me lembrar as jovens do norte da Europa. O mano seguinte também está mais alto, claro, quase a apanhar-me. Mas ainda não entrou naquela fase da adolescência em que, quais feijões mágicos, deitam corpo diariamente. O mais novo, ainda na primária, evidentemente ainda se mantém um menino (apesar de um espertalhão e de um reguila de primeira, o que não é de admirar face à 'escola' que tem de todos os lados - para além dos dois irmãos, pelo lado do pai tem dois primos e, pelo lado da mãe, tem mais quatro; isto já para não falar dos primos em segundo grau e dos inúmeros filhos dos amigos dos pais).

Enfim, é a vida a florescer, uma primavera radiosa.

Os telemóveis têm vida própria e o meu volta e meia, geralmente à noite, dá um toque que me parece o de uma mensagem a chegar. Vou ver e é para me dizer e mostrar que tem uma nova história. . Há dois dias era uma história de há 3 anos. Por sua alta recriação, junta fotografias, passa-as de carreirinha como um vídeo e junta-lhe uma música. Quando fui ver até estremeci. A primeira era da minha mãe, toda sorridente, jovem, bem encarada, elegante. Estávamos no Algarve. Um dos meninos já estava espigado mas o que hoje está já da altura do mais alto ainda era um menininho, bem mais pequeno, nem se compara, carinha de menino. O que eles cresceram nestes três anos nem dá para acreditar.

Fiquei a pensar que a minha mãe, naquela altura em que respirava saúde, em que andava pela praia sem se cansar, sempre na boa, em que, a caminho dos noventa, nos deixava pasmados com a sua vitalidade, mais do que certamente já tinha o mal a crescer dentro dela. Aliás, creio que foi pouco depois disso que fez um exame que alertava para a probabilidade de haver ali um problema, recomendando exames complementares, exame esse que ela escondeu de toda a gente bem como escondeu o facto de a médica lhe ter telefonado duas ou três vezes a insistir para ir fazer o exame e a informá-la do que poderia vir por aí. Mas, na altura das fotografias no Algarve, por tudo o que me recordo e pelo seu ar tranquilo e bem disposto das fotografias, tenho quase a certeza de que ela pensava que estava tudo bem. E como não, se não tinha qualquer sintoma? Sabia, isso sim, que tinha insuficiência cardíaca, mas não era nada de especial e os médicos diziam que, na idade dela, era normalíssimo. Estava medicada e eu estava descansada. Nunca a vi a tomar um único comprimido que fosse, mas, se eu lhe perguntava, dizia que já tinha tomado e que depois voltava a tomar à noite, antes de se deitar. Porque haveria eu de desconfiar? No entanto, poucos meses depois vim a descobrir que a insuficiência cardíaca se tinha agravado e que, se eu sabia que um dos comprimidos ela se recusava a tomar por achar descabido e com muitos possíveis efeitos colaterais (julgando eu que a médica estava ao corrente dessa sua decisão e a relevava), muito provavelmente também não tomava o outro que eu julgava que, para ela, era pacífico. Mas, naquela altura, ela estava tão bem que eu não tinha razão para duvidar de coisa alguma. Isto há três anos. E ela já morreu há ano e meio. Ou seja, tudo o que se passou, passou-se muito rapidamente e de uma forma muito incompreensível para mim pois a gestão que a minha mãe fez do seu quadro clínico deixava-me muito confusa. Com o que vim a descobrir aos poucos, estou em crer que o que a arrasou mais e motivou as suas decisões foi o seu pânico em tomar medicamentos e, com certeza, muito mais, em fazer quimio ou radioterapia. Preferiu fazer de conta que tomava os medicamentos e, sobretudo, preferiu fazer de conta que não sabia o mal que tinha.

Mas, enfim, não vale a pena estar a pensar nisto. Tenho que pensar que, com a idade que tinha, provavelmente não poderia mesmo fazer tratamentos agressivos e viveríamos todos na angústia de saber que não viveria muito. Assim, pensávamos que não tinha nada e ela não se viu forçada a ser tratada como uma doente terminal. E, se calhar, acreditou naquilo que em que falávamos muitas vezes: nestes casos, a idade joga a favor, as células já não se multiplicam rapidamente. Aparentemente tinha esperança de viver muitos mais anos e isso também foi bom.

Hoje os meninos lembraram-se dos belos crepes que ela fazia. O mais novo disse que nunca mais tinham comido daqueles crepes. Não sei quem disse que, sim, já tinham comido, sim. Ele esclareceu: 'Feitos pela avó não'. Apeteceu-me comentar que ficava contente por se lembrarem dela. Mas não quis parecer que estava a querer puxar ao sentimento, pensei que isso poderia deixar os miúdos constrangidos, poderiam pensar que me estavam a entristecer ao falarem nela. As coisas devem ser naturais. É bom que percebam que a vida continua, que a alegria deve viver entre nós, juntamente com as memórias que cada um guarde.

Quando chego ao fim do post, penso como hei-de resumir tudo num título. Agora vacilo. Ia escrever 'Um domingo feliz com saudades dentro' mas vou deixar ficar só o 'um domingo feliz' porque as memórias e as saudades não têm que macular a felicidade. Não maculam. Integram-na.

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E ia escrever sobre mais uns vídeos que, agora à noite, vi com declarações de várias mulheres que foram vítimas de assédio e abuso por parte do Trump, mas, vejam só, derivei para esta conversa. Acontece, não é?

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

domingo, julho 27, 2025

O micro pénis


Peço desculpa se choco alguém. Acredito que as almas mais sensíveis, que nunca viram uma coisa desta triste dimensão, fiquem perturbadas. Mas não tenho culpa se a pintora o retratou fielmente.
Make American Great Again’: Illma Gore’s rendition of Donald Trump. Photograph: Courtesy of Illma Gore para o The Guardian

As revelações sucedem-se, as suposições são lançadas na praça pública em catadupa. O passado persegue-o e, quanto mais ele tenta fugir dele, mais ele vem atrás, assanhado, para lhe morder as canelas. Hoje, no Instagram apareceu-me um vídeo em que Katie Johnson que, na altura, 'trabalhava' para Epstein, descreve como foi desvirginada, à bruta, por Trump, tinha ela apenas 13 anos, a idade que a filha dele tinha nessa altura.

No meio deste vendaval, Melania está, como sempre, desaparecida. Deve estar também cheia de medo. Tomara, também sabe demais. Viver com um animal já de si deve ser mau para além da conta. Imagine-se o que será atravessar uma crise destas que remexe num passado que ela também deve querer esquecer.

Trump é um troglodita, um corrupto, um egoísta, um ignorante, um psicopata destituído de empatia, um joguete nas mãos de Putin e de Netanyahu. Trump está a destruir a credibilidade americana, está a minar, pela base, os já de si instáveis equilíbrios geopolíticos, está a fazer mal a milhões de pessoas, está a desrespeitar a dignidade de muita e muita gente, está a agir prepotentemente junto de outros países, está a revelar-se rude e mal educado, está a revelar-se cada vez mais autoritário, vingativo, déspota, está a alimentar o sonho de muitos mini-trumps espalhados por todo o mundo. Parece que talvez por se sentir acossado ou por a idade estar a retirar-lhe alguns filtros, se importa cada vez menos de parecer um fascista, um nazi. E um vendido.

Mas se agora começa a dar mostras de começar a sentir-se encurralado, com o escândalo Epstein a cercá-lo por todos os lados e a toda a hora, a verdade é que, narcisista como é, o ser gozado parece deixá-lo ainda mais fora de si. O episódio em que se goza com o seu micro pénis deixou-o ao rubro. O big guy que se acha o máximo, ver-se assim ridicularizado é, para ele, um vexame que o deixa ainda mais desnorteado. E talvez seja mesmo este o caminho: tirá-lo do sério, pagar-lhe da mesma moeda, ridicularizá-lo a torto e a direito.

Com a malta do MAGA a ficar indisposta e com a trajectória que isto está a seguir, quero crer que o filho da mãe (que agora já quer impor políticas anti-imigração aos países da União Europeia sob pena de nos fustigar com a porcaria das tarifas) não se aguente por muito mais tempo. 

Tentei ter aqui um vídeo que tem dado que falar e que, dizem, anda a deixá-lo de cabeça perdida. Mas não é possível, aparece-me a mensagem que, por ter conteúdo sexual explícito, só se consegue ver no youtube. 

Por isso, se quiserem ver, carreguem AQUI

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Desejo-vos um bom dia de domingo

sábado, julho 26, 2025

Uma história chocante cujo perímetro não se conhece

 

Volto ao tema. Toda a história é tão rocambolesca, tão fora de tudo, tão grave, tão fora de órbita que fico sem saber como digerir o que se vai sabendo. Sinto uma grande curiosidade, uma grande estupefacção, e, a todo o momento, uma profunda repulsa. 

Para começar, causa-me um espanto total que não tenham seguido o dinheiro. Geralmente o caminho do dinheiro aponta a direcção para onde se deve olhar. Milhares de transações a perfazer milhares de milhões e, aparentemente, ninguém se preocupou em saber quem é que pagava a Epstein e porque lhe pagavam verbas milionárias. 

Depois, perante a dimensão do escândalo, perante a incompreensão sobre as origens da estratosférica fortuna de Epstein, perante o número de jovens usadas e abusadas (já ouvi falar em mais de mil; aliás até já ouvi falar em mais de duas mil) e perante as revelações que algumas fizeram, também não compreendo porque é que o caso foi analisado como o caso de um pedófilo e de uma cúmplice -- bizarra criatura, sempre agarrada a ele, sempre derretida como uma namorada in love, e que, afinal, era quem lhe arranjava as meninas, explicando-lhes o que haviam de fazer para lhe agradarem --, e não como uma rede constituída por uma cambada de pedófilos alimentada por aquela dupla. 

Uma das jovens, entretanto uma mulher triste e revoltada que entretanto se suicidou, falou em políticos, empresários, académicos e realezas. Se calhar é mesmo verdade que meio mundo frequentou aquela pouca vergonha, ex-presidentes e futuros presidentes, reitores, CEOs e príncipes. Se calhar por isso é que esconderam tantas verdades difíceis.

Ouvi que chegavam à ilha aviões com meninas vindas dos países de leste. Vi também vídeos antigos de Trump a gabar-se de que gostava de jovenzinhas. Punha como limite os 12 anos. Hoje vi um vídeo em que se sabe que Steve Bannon tem 15 horas de gravações. Bannon? A que propósito também o Bannon? Tanta gente envolvida.

Agora ofereceram imunidade parcial a Ghislaine Maxwell para ela falar. Mais uma verdade chocante. Mas para ela dizer o quê? O que for conveniente a Trump? Para incriminar uns e limpar a barra a outros? E colocam até a hipótese de a ilibar completamente. Escândalos atrás de escândalos, lixo e mais lixo (onde antes havia luxo).

Tudo inacreditável. 

Como é possível que num país supostamente civilizado aconteçam coisas assim? Alguma vez o saberemos?

Quem mais soçobrará antes que se saiba tudo?

Mas, como já no outro dia disse, por mais pedófilos que apareçam mortos, as verdadeiras vítimas são e sempre serão as mulheres que um dia, quando eram meninas, foram usadas e abusadas por gente que não presta.

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Epstein's brother wants to see Bannon's unseen footage of his brother

The New York Times is reporting that an accuser of Jeffrey Epstein spoke with the FBI twice to report sexual assault by Epstein and to alert them of his connections to powerful men including Donald Trump. Also, Epstein's brother wants to see Steven Bannon's alleged 15 hours of unseen footage of his brother. NBC News White House Correspondent Vaughn Hillyard, MSNBC Legal Correspondent Lisa Rubin and New York Times National Reporter Mike Baker, join Katy Tur with the latest details.


Ghislaine Maxwell has been granted limited immunity to talk to Department of Justice

Jeffrey Epstein accomplice Ghislaine Maxwell was granted limited immunity to talk to Deputy Attorney General Todd Blanche in two days of meetings this week, according to a source familiar with the arrangement.

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Um sábado feliz

Marcelo, até que enfim
-- A palavra ao meu marido --

 

Finalmente, depois de andar a aparar o governo do Montenegro desde o início, o Marcelo deu um ar da sua graça e confirmou que o governo do dito não respeita a Constituição, não respeita as crianças, não respeita os mais elementares valores comuns às pessoas de bem, segue a agenda do Chega e só tem o objetivo de cavalgar a onda para ganhar votos, não olhando a meios para justificar o objetivo. 

Finalmente, o Marcelo esteve bem. Confirma-se também que o Montenegro mentiu. O "não é não" passou a "sim, sim". 

Aliás, após o Montenegro dizer que não tinha acordo com Chega veio o ministro da presidência dizer que o acordo existe. Um deles mentiu e dá-se um doce a quem adivinhar qual foi. 

Temos assim,  a coligação ADEGA (na feliz designação que alguém criou e que o Daniel Oliveira referiu no Eixo do Mal) formada pelo AD e pelo Chega. Pelo exemplo da lei dos estrangeiros, não sabem o que fazem e não respeitam nem as pessoas nem as leis. 

Ao que "chegou" o PSD!

sexta-feira, julho 25, 2025

Cidadania
-- A palavra ao meu marido --

 

A educação vai mal. Mais de um milhão de alunos sem aulas, barracadas no exame do nono ano, médias muito más a disciplinas fundamentais, saídas de professores nos próximos anos em grande número, portais do ministério sem funcionarem. 

E o que faz o ministro? Faz o costume: atira para a discussão a reforma da disciplina de cidadania. Uma reforma claramente política para satisfazer a direita. 

Foi penoso ver a intervenção de ontem do ministro sobre o tema da disciplina de cidadania e a questão da educação sexual estar ou não incluída nas "dimensões" da disciplina e que a mesma podia ser "densificada" pelas escolas (as palavras que utilizou para baralhar e dar de novo são brutais). 

Fiquei a saber que o problema da educação sexual abordada até agora em cidadania era que não estava  "estruturada" e que cada professor falava do assunto como queria. Mas fiquei também a saber que agora cada escola poderia ou não "densificar" a educação sexual. Em resumo não estava estruturada, segundo o ministro, e agora também não está, cabendo a cada escola "densificar", quer dizer estruturar, a forma como a educação sexual será abordada. 

Mas mais curioso ainda é que o ministro referiu que já tinha alertado para o facto de não saber quais são os professores que vão dar a disciplina e que estes professores ainda têm que fazer formação. 

Curioso. Pensava que este tipo de coisas era da responsabilidade do ministério. Mas, afinal, deve ser um assunto virtual que se resolve por si, isto é "densifica-se" por vontade própria.  

Em resumo, tudo como dantes, quartel general em Abrantes. O ministro quis fazer um frete à direita bacoca e reacionária e "esqueceu-se" da "dimensão" da educação sexual quando apresentou os novos "eixos" da disciplina de cidadania. Tanto levou na cabeça que atabalhoadamente lá se tentou defender. Mas para quem estava atento não correu bem! 

O ministro também veio ontem lamentar-se sobre a saída dos professores nos próximos anos. Tenho que voltar a referir que o Montenegro antes de ir para o governo afirmou que os problemas na educação "eram apenas uma questão de gestão". 

Só existem duas hipóteses: ou o Montenegro mentiu ou o governo não sabe gerir o setor da educação. 

Pensando melhor acho que existe uma terceira hipótese, o Montenegro mentiu,  o governo não sabe gerir o setor da educação e não está nada preocupado com isso -- porque todos os argumentos são bons para haver mais alunos nas escolas privadas. Não é Sr. Ministro? 

quinta-feira, julho 24, 2025

Dicionário made in silly season

 

Futilidade: sondagens sobre as Presidenciais quando ainda não se conhecem todos os candidatos e quando os portugueses ainda estão muito longe de se ralarem com tal coisa.

Cábulas de primeira: deputados do Chega que, de cada vez que abrem a boca, revelam que não sabem do que falam

Cábula de segunda: Luís Montenegro que vai para a Assembleia da República armado em bom, em erudito, a citar Sophia de Mello Breyner, quando, afinal, a frase referida era da autoria de José Saramago. Ou o tipo que lhe escreveu o texto quis divertir-se à sua custa, colocando-lhe uma casca de banana debaixo dos pés, ou foi outro cábula que nem se lembrou de confirmar o que escreveu. Seja como for, ele próprio, o Luís, deveria ter tido a lucidez de confirmar o que ia dizer para evitar fazer um papelinho mais do que triste

Cábulas de terceira: alguns dos comentadores deste blog que aparecem aqui não para referirem factos concretos ou para rebaterem, factualmente, o que aqui se diz, se limitam a 'mandar' bocas ou, mais calinamente ainda, vêm revelar que têm uma bizarra fixação em Sócrates. 

Incompetente em expoente máximo: Ana Paula Martins. Não há dia em que as notícias não nos deixem estupefactos com as cavalices que se passam sob a égide de Madame Aparelhista

Ridícula: a defesa atotozada dos Anjos que não se calam com a cena do acne. Agora entregaram fotografias que atestam a borbulhagem

Embuste: quando eu trabalhava, sempre que havia actualização das tabelas de retenção de IRS, o que o Departamento de Recursos Humanos fazia era 'carregar' essas tabelas na aplicação informática de processamento de salários e escrever a data a partir da qual a nova tabela vigorava. Se a tabela fosse carregada em Agosto mas com incidência a Janeiro, automaticamente a partir de Agosto apareceria já a nova taxa de IRS e, nessa altura, o sistema calculava retroactivamente o IRS que deveria ser retido, devolvendo o que tinha sido retido a mais. Não havia ciência oculta. O valor retroactivo resultava de uma conta simples: o valor a mais em cada mês vezes o número de meses. Acontece que nada disto acontece com o Ministério das Finanças agora faz: o valor devolvido em Agosto e Setembro é muito superior ao valor resultante daquele referido cálculo. Verifica-se que a partir de Outubro (ordenados a pagar no fim de Outubro, ie, depois das eleições) a diferença no imposto retido é cagagesimal, alcagoitas. Mas o que vão devolver em Agosto e Setembro (antes da data das eleições) são valores simpáticos. Se isto não é manipular as pessoas ou comprar votos, que venham todas as virgens rasgar as vestes e me expliquem qual a lógica matemática desta jogada. 

Escapista: Marcelo Rebelo de Sousa, o palrador-mor, o omnipresente e ubíquo  Presidente que, depois de ter feito a vida negra a António Costa, com bocas encapsuladas e bocas directas ou indirectas, usando-se a si próprio ou usando a so-called fonte de Belém, e de ter feito o possível e o impossível para correr com o PS e para pôr o PSD no governo, agora, haja o que houver, remete-se ao silêncio. Não é apenas que se tenha tornado discreto, é mais que isso, praticamente desapareceu, emudeceu, empalideceu, quase se tornou um fantasma.

quarta-feira, julho 23, 2025

Rita Matias, Catarina Furtado, os tachos e as ignorâncias. Já para não falar em Ana Paula Martins que diz que anda a aprender com as mortes devidas a atrasos do INEM.
O populismo é isto
-- Uma vez mais, a palavra ao meu marido --

 

No seguimento de uma entrevista a propósito das demolições de Loures a Rita Matias, uma das caras da moda dos populistas do Chega,  Catarina Furtado -- que sempre me pareceu uma pessoa sensata, que defende os valores comuns às pessoas que respeitam e têm preocupações com o próximo -- fez-lhe uma referência crítica nas redes sociais, alegando a ignorância demonstrada por Rita Matias ao falar de uma realidade que desconhece. 

A Rita Matias, moça fina, danada, publicou um vídeo de resposta -- vídeo esse em que parece ir a guiar e, simultaneamente, a gravar o vídeo (o que, a ser verdade, terá sido um perigo para quem se cruzasse com ela, já que não desviou o olhar do ecrã do telemóvel). O vídeo revela bem o que são os populistas de extrema direita. Afirma que se o Chega for governo, não demorará a despedir, da RTP, aqueles de que não gostam: "estes tachos e tachinhos na RTP são para acabar e o problema deles é que sabem que o Chega, quando chegar ao Governo, vai mesmos atrás destes tachos incompreensíveis". 

A Rita Matias revela também saber o ordenado da Catarina Furtado, o que é muito curioso para quem dias antes, também numa entrevista, disse que desconhecia o valor do RSI porque, segundo ela, não pertence à comissão de Economia do Chega. Típico dos populistas: não sabem do que falam, falam do que não sabem, mentem e criam bodes expiatórios para enganar os incautos. Nesse vídeo, Rita Matias insurge-se ainda com o facto de serem os contribuintes a pagar o que designa por 'tacho' de Catarina Furtado. Parece ignorar que quem lhe paga o ordenado a ela, para cometer atentados à democracia, para, a todo o momento, revelar ignorância e cobardia, usando o nome de crianças, são também os contribuintes. (Já agora, espero que o organismo que deve fazer respeitar o RGPD a faça pagar uma multa significativa pela indecente revelação do nome das crianças)

E é, com este panorama, que Montenegro, para se tentar safar, resolve dizer que o Chega se tornou num partido responsável. É a normalização da extrema direita num vale-tudo para se manterem no poder e ganharem votos. Onde já vai o "não é não"... Assim se vê o valor da palavra do líder do PSD.

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Voltando ao tema da Saúde. Conheceu-se hoje mais um relatório do IGAS que responsabiliza o atraso na prestação de cuidados médicos durante a greve do INEM por mais uma ocorrência trágica, no caso em Bragança. Soube-se também que os técnicos que são contratados para o INEM, após serem contratados, têm que frequentar cursos de formação e, se não concluírem os cursos com sucesso, ficam em casa a receber o ordenado sem fazerem nada (julgava que era impossível uma barracada pior que a barracada do concurso dos helicópteros -- afinal não é). 

Portanto, contratam-se as pessoas, pelos vistos sem critério, para noticiarem que já preencheram os quadros -- e depois logo se vê se têm conhecimentos e capacidades para desempenharem as funções. Inacreditável! 

E a ministra não se demite (diz que anda a aprender com as mortes), o presidente do INEM não se demite, o Montenegro faz de conta que não é nada com ele... e o Marcelo assobia para o lado. 

Mas que falta de vergonha!