No fim de semana, parte da família esteve a banhos no sudoeste e, da outra parte, um dos meninos esteve numa festa de anos, numa destas festas que também são happenings, desta vez incluindo equitação. Fui recebendo fotografias de uns e de outros, uns a mergulharem, outras a cantarem, um a andar a cavalo.
Portanto, a casa não esteve tão cheia como quando estão todos, mas foi igualmente bom. Se sei que estão todos bem também estou bem.
O bem estar e a felicidade são estados de geometria variável.
No outro dia recebi uma fotografia de uma das minhas primas com o seu neto mais novo, o que conheci no dia do velório e que voltei a ver no dia da cremação da minha tia. Na fotografia estava também o meu tio que, como sempre, estava impecável. Por tanto que tem passado e mantém-se inalterável, sempre muito bem arranjado, sempre com boa cara, mesmo muito bem. Está quase igual ao meu avô, seu pai.
O tempo passa a correr, é o que é. Penso que o nome deste meu tio, o petit nom pelo qual era chamado, foi a segunda palavra que disse (a primeira foi cão). Embora pouco efusivo -- nada a ver com o meu outro dia que falava alto, que ria, que conversava e contava histórias --, sempre admirei a contenção e os modos reservados deste meu tio. Levava-me a andar na sua bela mota, com cromados reluzentes. Os meus pais não queriam, mas ele transgredia. Eu sentia o cabelo ao vento em especial quando ele curvava. Ninguém usava capacete. Depois arranjou uma namorada bonita, com uns grandes olhos verdes e uma voz com um timbre distinto. Levou-me algumas vezes com ele quando ia namorar. Aquela namorada despertava-me curiosidade. Devia ter uns quatro anos, eu, e achava que ela parecia uma artista de cinema. Algum tempo depois fui a menina das alianças e levei um vestido todo feito de renda branca e o cabelo apanhado em cima, com uma fita de rendas em volta.
Agora ele já tem uma bisneta que é igual, igualzinha, à minha prima. Até na forma como se riem, gargalhando de forma franca, aberta. Agora a minha prima já não ri assim, está muito parecida com o pai, nos modos contidos. Mas, quando era pequenina, a minha prima ria muito. Eu também. Por vezes tínhamos ataques de riso e partíamo-nos a rir. A minha mãe diz que ficava com vontade de rir só de ver como nos ríamos.
E, para além da bisneta que é igual à filha, quando era pequenina, o meu tio agora tem este bisneto bebé, também muito fofo.
É aquilo que digo. A nossa vida humana dura enquanto nos aguentamos na passadeira rolante. De vez em quando há um que sai. Um ano depois da minha mãe, foi a minha tia que saiu. Mas, entretanto, pouco antes tinha entrado um novo bebé.
As famílias recompõem-se. É um fenómeno fractal. Também os nosso corpos vão libertando células velhas e novas vão aparecendo. Pouco somos daquilo que um dia fomos.
Contei, num vídeo que publiquei agora no Instagram, como, no outro dia, um dos meus meninos me perguntou para quem ficaria este espaço a que, entre nós, damos um outro nome mas a que aqui, no blog, chamo heaven: 'Olha lá, quando tu e o avô forem para melhor, o 'heaven' fica para mim ou para o pai?'. Num primeiro momento não percebi. Depois percebi que ele queria dizer 'quando forem desta para melhor'. Não me fez impressão a pergunta. Pelo contrário, fico contente que gostem tanto deste lugar. Já há uns anos, um outro menino, com mais hesitação, me tinha perguntado o que aconteceria a isto quando nós morrêssemos.
O que me preocupa e o que me custa, isso sim, é pensar como pode ser difícil a sua vida quando forem adultos, quando tiverem os seus próprios filhos. Gostava que se mantivessem juntos, amigos uns dos outros, que vivessem numa terra verdejante, amena, pacífica, em que todos se estimassem e amparassem, em que o futuro fosse promissor e aguardado com optimismo e alegria. Isso era mesmo o que eu queria.
Mas receio tanto... Hoje esteve outro dia de calor difícil de suportar. As temperaturas sobem, sobem. E, muito sinceramente, não vejo que em Portugal estejam a ser tomadas medidas estratégicas, de longo prazo, para combater, na medida das nossas possibilidades, as alterações climáticas. E devia haver um toque a rebate, medidas globais, que tocassem a toda a gente.
Vejo que na Suíça o Estado está a financiar o arranque do betão dos pavimentos para o substituir por jardins. Junto às casas, nos parques públicos, em todo o lado em que tal faça sentido, é um movimento que está a começar. Pretende-se que os solos consigam absorver as águas para que os rios não transbordem, pretende-se devolver à natureza o que à natureza nunca deveria ter sido retirado.
Vejo que na Dinamarca há incentivos estatais para que, a nível geral, a alimentação usual comece a ser substituída por alimentação sobretudo baseada em vegetais. A poluição resultante das explorações intensivas, nomeadamente de animais, é muito relevante. Tudo o que se possa fazer para a reduzir, sem prejuízo para a saúde humana, é de louvar.
Seria interessante que houvesse, por cá, uma chamada de atenção para a necessidade de se fazer alguma coisa -- e um plano de acções para fazer o que há a fazer.
Partilho os vídeos. Dá para activar a auto-tradução que, já se sabe, não é famosa mas que pode ser uma ajuda para quem não esteja à vontade com a língua inglesa.
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"Recuperar o espaço do betão: Como as cidades suíças estão a ficar mais verdes" - Focus on Europe
O betão está a abrir caminho para o solo, enquanto os ativistas suíços trabalham para recuperar o espaço urbano para a natureza. Como o solo absorve muito melhor a chuva, a iniciativa promete reduzir a carga sobre os sistemas de esgotos urbanos.
O ambicioso plano da Dinamarca para impulsionar os alimentos de origem vegetal | FT Rethink
Os alimentos de origem vegetal são essenciais para a transição verde da Dinamarca e deverão proporcionar benefícios económicos e de saúde significativos. A pequena nação escandinava é agora líder mundial neste sector. Então, como é que a Dinamarca fez isso? Será que esta estratégia poderia funcionar noutros locais?