segunda-feira, julho 28, 2025

Um domingo feliz

 

Festejámos, em família, o último aniversário de Julho, o terceiro. Daqui por poucos dias iniciam-se os de Agosto, mais três. Bem quero manter-me na linha, mas as tentações são sempre mais que muitas. Claro que eu poderia manter-me de boca fechada, em especial quando chega a hora dos bolos. Mas com a falta de açúcar que entra na minha dieta rotineira, quando me apanho com um doce à frente nem tento controlar-me. Pelo contrário, sobe em mim uma insana vontade de me desforrar, vontade essa que não contrario.

De cada vez que nos encontramos pasmo com o que está a acontecer-me. Estou, de dia para dia, relativamente mais pequena. Uma coisa que me deixa diminuída, digamos assim. E, contudo, fora deste contexto há quem me ache alta. Alta eu sei que não sou mas, caraças, também não sou uma anãzinha. Mas é assim que me sinto quando estou ao pé dos mais altos. E repare-se que a meio da semana almoçámos com dois dos meninos e no domingo anterior tinha estado com todos. Portanto, não passou um mês desde que os tinha visto. E, no entanto, juraria que este domingo estavam todos mais altos. Já ao fim do dia, fiz questão de me fazer fotografar entre os dois rapazes mais altos. Grandões, peludos, cabeludos, com o braço sobre os meus ombros, tenho que virar a cabeça para cima para lhes ver a cara. A impressão que me faz o ritmo a que isto se processa. 

A minha menina também já está uma mulher. No outro dia, andando em passeio, estava a apanhar banhos de sol sobre uma rocha e a fotografia que o meu filho enviou tinha sido tirada de um ângulo em que eu não via muito bem a cara. Parecia-me ela mas achei que pelo corpo não podia ser, devia ser a mãe dela. Virei o telemóvel para ver se a via de frente mas o telemóvel rodava a imagem. Só então reparei na minha nora, de pé, na água, junto à rocha. Só visto. Também já me ultrapassou. Com os seus olhos claros, toda ela grande, faz-me lembrar as jovens do norte da Europa. O mano seguinte também está mais alto, claro, quase a apanhar-me. Mas ainda não entrou naquela fase da adolescência em que, quais feijões mágicos, deitam corpo diariamente. O mais novo, ainda na primária, evidentemente ainda se mantém um menino (apesar de um espertalhão e de um reguila de primeira, o que não é de admirar face à 'escola' que tem de todos os lados - para além dos dois irmãos, pelo lado do pai tem dois primos e, pelo lado da mãe, tem mais quatro; isto já para não falar dos primos em segundo grau e dos inúmeros filhos dos amigos dos pais).

Enfim, é a vida a florescer, uma primavera radiosa.

Os telemóveis têm vida própria e o meu volta e meia, geralmente à noite, dá um toque que me parece o de uma mensagem a chegar. Vou ver e é para me dizer e mostrar que tem uma nova história. . Há dois dias era uma história de há 3 anos. Por sua alta recriação, junta fotografias, passa-as de carreirinha como um vídeo e junta-lhe uma música. Quando fui ver até estremeci. A primeira era da minha mãe, toda sorridente, jovem, bem encarada, elegante. Estávamos no Algarve. Um dos meninos já estava espigado mas o que hoje está já da altura do mais alto ainda era um menininho, bem mais pequeno, nem se compara, carinha de menino. O que eles cresceram nestes três anos nem dá para acreditar.

Fiquei a pensar que a minha mãe, naquela altura em que respirava saúde, em que andava pela praia sem se cansar, sempre na boa, em que, a caminho dos noventa, nos deixava pasmados com a sua vitalidade, mais do que certamente já tinha o mal a crescer dentro dela. Aliás, creio que foi pouco depois disso que fez um exame que alertava para a probabilidade de haver ali um problema, recomendando exames complementares, exame esse que ela escondeu de toda a gente bem como escondeu o facto de a médica lhe ter telefonado duas ou três vezes a insistir para ir fazer o exame e a informá-la do que poderia vir por aí. Mas, na altura das fotografias no Algarve, por tudo o que me recordo e pelo seu ar tranquilo e bem disposto das fotografias, tenho quase a certeza de que ela pensava que estava tudo bem. E como não, se não tinha qualquer sintoma? Sabia, isso sim, que tinha insuficiência cardíaca, mas não era nada de especial e os médicos diziam que, na idade dela, era normalíssimo. Estava medicada e eu estava descansada. Nunca a vi a tomar um único comprimido que fosse, mas, se eu lhe perguntava, dizia que já tinha tomado e que depois voltava a tomar à noite, antes de se deitar. Porque haveria eu de desconfiar? No entanto, poucos meses depois vim a descobrir que a insuficiência cardíaca se tinha agravado e que, se eu sabia que um dos comprimidos ela se recusava a tomar por achar descabido e com muitos possíveis efeitos colaterais (julgando eu que a médica estava ao corrente dessa sua decisão e a relevava), muito provavelmente também não tomava o outro que eu julgava que, para ela, era pacífico. Mas, naquela altura, ela estava tão bem que eu não tinha razão para duvidar de coisa alguma. Isto há três anos. E ela já morreu há ano e meio. Ou seja, tudo o que se passou, passou-se muito rapidamente e de uma forma muito incompreensível para mim pois a gestão que a minha mãe fez do seu quadro clínico deixava-me muito confusa. Com o que vim a descobrir aos poucos, estou em crer que o que a arrasou mais e motivou as suas decisões foi o seu pânico em tomar medicamentos e, com certeza, muito mais, em fazer quimio ou radioterapia. Preferiu fazer de conta que tomava os medicamentos e, sobretudo, preferiu fazer de conta que não sabia o mal que tinha.

Mas, enfim, não vale a pena estar a pensar nisto. Tenho que pensar que, com a idade que tinha, provavelmente não poderia mesmo fazer tratamentos agressivos e viveríamos todos na angústia de saber que não viveria muito. Assim, pensávamos que não tinha nada e ela não se viu forçada a ser tratada como uma doente terminal. E, se calhar, acreditou naquilo que em que falávamos muitas vezes: nestes casos, a idade joga a favor, as células já não se multiplicam rapidamente. Aparentemente tinha esperança de viver muitos mais anos e isso também foi bom.

Hoje os meninos lembraram-se dos belos crepes que ela fazia. O mais novo disse que nunca mais tinham comido daqueles crepes. Não sei quem disse que, sim, já tinham comido, sim. Ele esclareceu: 'Feitos pela avó não'. Apeteceu-me comentar que ficava contente por se lembrarem dela. Mas não quis parecer que estava a querer puxar ao sentimento, pensei que isso poderia deixar os miúdos constrangidos, poderiam pensar que me estavam a entristecer ao falarem nela. As coisas devem ser naturais. É bom que percebam que a vida continua, que a alegria deve viver entre nós, juntamente com as memórias que cada um guarde.

Quando chego ao fim do post, penso como hei-de resumir tudo num título. Agora vacilo. Ia escrever 'Um domingo feliz com saudades dentro' mas vou deixar ficar só o 'um domingo feliz' porque as memórias e as saudades não têm que macular a felicidade. Não maculam. Integram-na.

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E ia escrever sobre mais uns vídeos que, agora à noite, vi com declarações de várias mulheres que foram vítimas de assédio e abuso por parte do Trump, mas, vejam só, derivei para esta conversa. Acontece, não é?

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

domingo, julho 27, 2025

O micro pénis


Peço desculpa se choco alguém. Acredito que as almas mais sensíveis, que nunca viram uma coisa desta triste dimensão, fiquem perturbadas. Mas não tenho culpa se a pintora o retratou fielmente.
Make American Great Again’: Illma Gore’s rendition of Donald Trump. Photograph: Courtesy of Illma Gore para o The Guardian

As revelações sucedem-se, as suposições são lançadas na praça pública em catadupa. O passado persegue-o e, quanto mais ele tenta fugir dele, mais ele vem atrás, assanhado, para lhe morder as canelas. Hoje, no Instagram apareceu-me um vídeo em que Katie Johnson que, na altura, 'trabalhava' para Epstein, descreve como foi desvirginada, à bruta, por Trump, tinha ela apenas 13 anos, a idade que a filha dele tinha nessa altura.

No meio deste vendaval, Melania está, como sempre, desaparecida. Deve estar também cheia de medo. Tomara, também sabe demais. Viver com um animal já de si deve ser mau para além da conta. Imagine-se o que será atravessar uma crise destas que remexe num passado que ela também deve querer esquecer.

Trump é um troglodita, um corrupto, um egoísta, um ignorante, um psicopata destituído de empatia, um joguete nas mãos de Putin e de Netanyahu. Trump está a destruir a credibilidade americana, está a minar, pela base, os já de si instáveis equilíbrios geopolíticos, está a fazer mal a milhões de pessoas, está a desrespeitar a dignidade de muita e muita gente, está a agir prepotentemente junto de outros países, está a revelar-se rude e mal educado, está a revelar-se cada vez mais autoritário, vingativo, déspota, está a alimentar o sonho de muitos mini-trumps espalhados por todo o mundo. Parece que talvez por se sentir acossado ou por a idade estar a retirar-lhe alguns filtros, se importa cada vez menos de parecer um fascista, um nazi. E um vendido.

Mas se agora começa a dar mostras de começar a sentir-se encurralado, com o escândalo Epstein a cercá-lo por todos os lados e a toda a hora, a verdade é que, narcisista como é, o ser gozado parece deixá-lo ainda mais fora de si. O episódio em que se goza com o seu micro pénis deixou-o ao rubro. O big guy que se acha o máximo, ver-se assim ridicularizado é, para ele, um vexame que o deixa ainda mais desnorteado. E talvez seja mesmo este o caminho: tirá-lo do sério, pagar-lhe da mesma moeda, ridicularizá-lo a torto e a direito.

Com a malta do MAGA a ficar indisposta e com a trajectória que isto está a seguir, quero crer que o filho da mãe (que agora já quer impor políticas anti-imigração aos países da União Europeia sob pena de nos fustigar com a porcaria das tarifas) não se aguente por muito mais tempo. 

Tentei ter aqui um vídeo que tem dado que falar e que, dizem, anda a deixá-lo de cabeça perdida. Mas não é possível, aparece-me a mensagem que, por ter conteúdo sexual explícito, só se consegue ver no youtube. 

Por isso, se quiserem ver, carreguem AQUI

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Desejo-vos um bom dia de domingo

sábado, julho 26, 2025

Uma história chocante cujo perímetro não se conhece

 

Volto ao tema. Toda a história é tão rocambolesca, tão fora de tudo, tão grave, tão fora de órbita que fico sem saber como digerir o que se vai sabendo. Sinto uma grande curiosidade, uma grande estupefacção, e, a todo o momento, uma profunda repulsa. 

Para começar, causa-me um espanto total que não tenham seguido o dinheiro. Geralmente o caminho do dinheiro aponta a direcção para onde se deve olhar. Milhares de transações a perfazer milhares de milhões e, aparentemente, ninguém se preocupou em saber quem é que pagava a Epstein e porque lhe pagavam verbas milionárias. 

Depois, perante a dimensão do escândalo, perante a incompreensão sobre as origens da estratosférica fortuna de Epstein, perante o número de jovens usadas e abusadas (já ouvi falar em mais de mil; aliás até já ouvi falar em mais de duas mil) e perante as revelações que algumas fizeram, também não compreendo porque é que o caso foi analisado como o caso de um pedófilo e de uma cúmplice -- bizarra criatura, sempre agarrada a ele, sempre derretida como uma namorada in love, e que, afinal, era quem lhe arranjava as meninas, explicando-lhes o que haviam de fazer para lhe agradarem --, e não como uma rede constituída por uma cambada de pedófilos alimentada por aquela dupla. 

Uma das jovens, entretanto uma mulher triste e revoltada que entretanto se suicidou, falou em políticos, empresários, académicos e realezas. Se calhar é mesmo verdade que meio mundo frequentou aquela pouca vergonha, ex-presidentes e futuros presidentes, reitores, CEOs e príncipes. Se calhar por isso é que esconderam tantas verdades difíceis.

Ouvi que chegavam à ilha aviões com meninas vindas dos países de leste. Vi também vídeos antigos de Trump a gabar-se de que gostava de jovenzinhas. Punha como limite os 12 anos. Hoje vi um vídeo em que se sabe que Steve Bannon tem 15 horas de gravações. Bannon? A que propósito também o Bannon? Tanta gente envolvida.

Agora ofereceram imunidade parcial a Ghislaine Maxwell para ela falar. Mais uma verdade chocante. Mas para ela dizer o quê? O que for conveniente a Trump? Para incriminar uns e limpar a barra a outros? E colocam até a hipótese de a ilibar completamente. Escândalos atrás de escândalos, lixo e mais lixo (onde antes havia luxo).

Tudo inacreditável. 

Como é possível que num país supostamente civilizado aconteçam coisas assim? Alguma vez o saberemos?

Quem mais soçobrará antes que se saiba tudo?

Mas, como já no outro dia disse, por mais pedófilos que apareçam mortos, as verdadeiras vítimas são e sempre serão as mulheres que um dia, quando eram meninas, foram usadas e abusadas por gente que não presta.

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Epstein's brother wants to see Bannon's unseen footage of his brother

The New York Times is reporting that an accuser of Jeffrey Epstein spoke with the FBI twice to report sexual assault by Epstein and to alert them of his connections to powerful men including Donald Trump. Also, Epstein's brother wants to see Steven Bannon's alleged 15 hours of unseen footage of his brother. NBC News White House Correspondent Vaughn Hillyard, MSNBC Legal Correspondent Lisa Rubin and New York Times National Reporter Mike Baker, join Katy Tur with the latest details.


Ghislaine Maxwell has been granted limited immunity to talk to Department of Justice

Jeffrey Epstein accomplice Ghislaine Maxwell was granted limited immunity to talk to Deputy Attorney General Todd Blanche in two days of meetings this week, according to a source familiar with the arrangement.

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Um sábado feliz

Marcelo, até que enfim
-- A palavra ao meu marido --

 

Finalmente, depois de andar a aparar o governo do Montenegro desde o início, o Marcelo deu um ar da sua graça e confirmou que o governo do dito não respeita a Constituição, não respeita as crianças, não respeita os mais elementares valores comuns às pessoas de bem, segue a agenda do Chega e só tem o objetivo de cavalgar a onda para ganhar votos, não olhando a meios para justificar o objetivo. 

Finalmente, o Marcelo esteve bem. Confirma-se também que o Montenegro mentiu. O "não é não" passou a "sim, sim". 

Aliás, após o Montenegro dizer que não tinha acordo com Chega veio o ministro da presidência dizer que o acordo existe. Um deles mentiu e dá-se um doce a quem adivinhar qual foi. 

Temos assim,  a coligação ADEGA (na feliz designação que alguém criou e que o Daniel Oliveira referiu no Eixo do Mal) formada pelo AD e pelo Chega. Pelo exemplo da lei dos estrangeiros, não sabem o que fazem e não respeitam nem as pessoas nem as leis. 

Ao que "chegou" o PSD!

sexta-feira, julho 25, 2025

Cidadania
-- A palavra ao meu marido --

 

A educação vai mal. Mais de um milhão de alunos sem aulas, barracadas no exame do nono ano, médias muito más a disciplinas fundamentais, saídas de professores nos próximos anos em grande número, portais do ministério sem funcionarem. 

E o que faz o ministro? Faz o costume: atira para a discussão a reforma da disciplina de cidadania. Uma reforma claramente política para satisfazer a direita. 

Foi penoso ver a intervenção de ontem do ministro sobre o tema da disciplina de cidadania e a questão da educação sexual estar ou não incluída nas "dimensões" da disciplina e que a mesma podia ser "densificada" pelas escolas (as palavras que utilizou para baralhar e dar de novo são brutais). 

Fiquei a saber que o problema da educação sexual abordada até agora em cidadania era que não estava  "estruturada" e que cada professor falava do assunto como queria. Mas fiquei também a saber que agora cada escola poderia ou não "densificar" a educação sexual. Em resumo não estava estruturada, segundo o ministro, e agora também não está, cabendo a cada escola "densificar", quer dizer estruturar, a forma como a educação sexual será abordada. 

Mas mais curioso ainda é que o ministro referiu que já tinha alertado para o facto de não saber quais são os professores que vão dar a disciplina e que estes professores ainda têm que fazer formação. 

Curioso. Pensava que este tipo de coisas era da responsabilidade do ministério. Mas, afinal, deve ser um assunto virtual que se resolve por si, isto é "densifica-se" por vontade própria.  

Em resumo, tudo como dantes, quartel general em Abrantes. O ministro quis fazer um frete à direita bacoca e reacionária e "esqueceu-se" da "dimensão" da educação sexual quando apresentou os novos "eixos" da disciplina de cidadania. Tanto levou na cabeça que atabalhoadamente lá se tentou defender. Mas para quem estava atento não correu bem! 

O ministro também veio ontem lamentar-se sobre a saída dos professores nos próximos anos. Tenho que voltar a referir que o Montenegro antes de ir para o governo afirmou que os problemas na educação "eram apenas uma questão de gestão". 

Só existem duas hipóteses: ou o Montenegro mentiu ou o governo não sabe gerir o setor da educação. 

Pensando melhor acho que existe uma terceira hipótese, o Montenegro mentiu,  o governo não sabe gerir o setor da educação e não está nada preocupado com isso -- porque todos os argumentos são bons para haver mais alunos nas escolas privadas. Não é Sr. Ministro? 

quinta-feira, julho 24, 2025

Dicionário made in silly season

 

Futilidade: sondagens sobre as Presidenciais quando ainda não se conhecem todos os candidatos e quando os portugueses ainda estão muito longe de se ralarem com tal coisa.

Cábulas de primeira: deputados do Chega que, de cada vez que abrem a boca, revelam que não sabem do que falam

Cábula de segunda: Luís Montenegro que vai para a Assembleia da República armado em bom, em erudito, a citar Sophia de Mello Breyner, quando, afinal, a frase referida era da autoria de José Saramago. Ou o tipo que lhe escreveu o texto quis divertir-se à sua custa, colocando-lhe uma casca de banana debaixo dos pés, ou foi outro cábula que nem se lembrou de confirmar o que escreveu. Seja como for, ele próprio, o Luís, deveria ter tido a lucidez de confirmar o que ia dizer para evitar fazer um papelinho mais do que triste

Cábulas de terceira: alguns dos comentadores deste blog que aparecem aqui não para referirem factos concretos ou para rebaterem, factualmente, o que aqui se diz, se limitam a 'mandar' bocas ou, mais calinamente ainda, vêm revelar que têm uma bizarra fixação em Sócrates. 

Incompetente em expoente máximo: Ana Paula Martins. Não há dia em que as notícias não nos deixem estupefactos com as cavalices que se passam sob a égide de Madame Aparelhista

Ridícula: a defesa atotozada dos Anjos que não se calam com a cena do acne. Agora entregaram fotografias que atestam a borbulhagem

Embuste: quando eu trabalhava, sempre que havia actualização das tabelas de retenção de IRS, o que o Departamento de Recursos Humanos fazia era 'carregar' essas tabelas na aplicação informática de processamento de salários e escrever a data a partir da qual a nova tabela vigorava. Se a tabela fosse carregada em Agosto mas com incidência a Janeiro, automaticamente a partir de Agosto apareceria já a nova taxa de IRS e, nessa altura, o sistema calculava retroactivamente o IRS que deveria ser retido, devolvendo o que tinha sido retido a mais. Não havia ciência oculta. O valor retroactivo resultava de uma conta simples: o valor a mais em cada mês vezes o número de meses. Acontece que nada disto acontece com o Ministério das Finanças agora faz: o valor devolvido em Agosto e Setembro é muito superior ao valor resultante daquele referido cálculo. Verifica-se que a partir de Outubro (ordenados a pagar no fim de Outubro, ie, depois das eleições) a diferença no imposto retido é cagagesimal, alcagoitas. Mas o que vão devolver em Agosto e Setembro (antes da data das eleições) são valores simpáticos. Se isto não é manipular as pessoas ou comprar votos, que venham todas as virgens rasgar as vestes e me expliquem qual a lógica matemática desta jogada. 

Escapista: Marcelo Rebelo de Sousa, o palrador-mor, o omnipresente e ubíquo  Presidente que, depois de ter feito a vida negra a António Costa, com bocas encapsuladas e bocas directas ou indirectas, usando-se a si próprio ou usando a so-called fonte de Belém, e de ter feito o possível e o impossível para correr com o PS e para pôr o PSD no governo, agora, haja o que houver, remete-se ao silêncio. Não é apenas que se tenha tornado discreto, é mais que isso, praticamente desapareceu, emudeceu, empalideceu, quase se tornou um fantasma.

quarta-feira, julho 23, 2025

Rita Matias, Catarina Furtado, os tachos e as ignorâncias. Já para não falar em Ana Paula Martins que diz que anda a aprender com as mortes devidas a atrasos do INEM.
O populismo é isto
-- Uma vez mais, a palavra ao meu marido --

 

No seguimento de uma entrevista a propósito das demolições de Loures a Rita Matias, uma das caras da moda dos populistas do Chega,  Catarina Furtado -- que sempre me pareceu uma pessoa sensata, que defende os valores comuns às pessoas que respeitam e têm preocupações com o próximo -- fez-lhe uma referência crítica nas redes sociais, alegando a ignorância demonstrada por Rita Matias ao falar de uma realidade que desconhece. 

A Rita Matias, moça fina, danada, publicou um vídeo de resposta -- vídeo esse em que parece ir a guiar e, simultaneamente, a gravar o vídeo (o que, a ser verdade, terá sido um perigo para quem se cruzasse com ela, já que não desviou o olhar do ecrã do telemóvel). O vídeo revela bem o que são os populistas de extrema direita. Afirma que se o Chega for governo, não demorará a despedir, da RTP, aqueles de que não gostam: "estes tachos e tachinhos na RTP são para acabar e o problema deles é que sabem que o Chega, quando chegar ao Governo, vai mesmos atrás destes tachos incompreensíveis". 

A Rita Matias revela também saber o ordenado da Catarina Furtado, o que é muito curioso para quem dias antes, também numa entrevista, disse que desconhecia o valor do RSI porque, segundo ela, não pertence à comissão de Economia do Chega. Típico dos populistas: não sabem do que falam, falam do que não sabem, mentem e criam bodes expiatórios para enganar os incautos. Nesse vídeo, Rita Matias insurge-se ainda com o facto de serem os contribuintes a pagar o que designa por 'tacho' de Catarina Furtado. Parece ignorar que quem lhe paga o ordenado a ela, para cometer atentados à democracia, para, a todo o momento, revelar ignorância e cobardia, usando o nome de crianças, são também os contribuintes. (Já agora, espero que o organismo que deve fazer respeitar o RGPD a faça pagar uma multa significativa pela indecente revelação do nome das crianças)

E é, com este panorama, que Montenegro, para se tentar safar, resolve dizer que o Chega se tornou num partido responsável. É a normalização da extrema direita num vale-tudo para se manterem no poder e ganharem votos. Onde já vai o "não é não"... Assim se vê o valor da palavra do líder do PSD.

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Voltando ao tema da Saúde. Conheceu-se hoje mais um relatório do IGAS que responsabiliza o atraso na prestação de cuidados médicos durante a greve do INEM por mais uma ocorrência trágica, no caso em Bragança. Soube-se também que os técnicos que são contratados para o INEM, após serem contratados, têm que frequentar cursos de formação e, se não concluírem os cursos com sucesso, ficam em casa a receber o ordenado sem fazerem nada (julgava que era impossível uma barracada pior que a barracada do concurso dos helicópteros -- afinal não é). 

Portanto, contratam-se as pessoas, pelos vistos sem critério, para noticiarem que já preencheram os quadros -- e depois logo se vê se têm conhecimentos e capacidades para desempenharem as funções. Inacreditável! 

E a ministra não se demite (diz que anda a aprender com as mortes), o presidente do INEM não se demite, o Montenegro faz de conta que não é nada com ele... e o Marcelo assobia para o lado. 

Mas que falta de vergonha!

terça-feira, julho 22, 2025

Uma tragédia cujo fim é imprevisível

 

Há vidas fadadas a serem divulgadas, escrutinadas, ficcionadas. Prestam-se à especulação, a teorias da conspiração, a análises psicológicas, a ódios e a paixões. Inspiram cumplicidades, medos - sentimentos contraditórios. Se alguém pegasse em personagens assim, dir-se-ia que os traços comportamentais são excessivos, tão extremados que incredíveis.

E, no entanto, são reais.

Ghislaine Maxwell é a chave da equação: está viva, sabe de tudo. Mas está presa e não é claro que fale ou, se falar, que fale a verdade. Toda a sua vida é, em si, um filme. Uma tragédia. Tenho muita dificuldade em compreender as motivações de uma pessoa assim mas isso não é de estranhar pois a minha vida tem sido banal enquanto a dela tem sido, desde pequena até agora, uma montanha russa. Ou uma roleta russa.

Jeffrey Epstein morreu, supostamente por suicídio mas dizem que assassinado, mas, antes de chegar a esse triste final teve uma vida também inexplicável. Não se sabe se era de facto um financeiro, se apenas um organizador de sexo com modelos ou candidatas a isso, de preferência menores, se também um destemido e descarado chantageador. Parece que nunca se percebeu de onde lhe vinha tamanha fortuna. Sabe-se, isso sim, que do seu círculo de amigos faziam parte homens ricos, influentes, ditos poderosos.

Trump foi o melhor amigo de Epstein durante vários anos e há fotografias que os mostram juntos, incluindo com Melania. Também se sabe que Trump gostava de modelos, de preferência novinhas. Predador, descarado, estúpido, anormalmente porco. E, por incrível que possa ser, conseguiu ser, pela segunda vez, presidente dos Estados Unidos.

O céu parece estar a cair-lhe em cima. Os segredos podem, aos poucos, começar a ser desvendados.

É normal que as vítimas não queiram falar: por vergonha, por vontade de esquecer, por medo. Mas os jornalistas andam em volta, surgem vídeos, entrevistas antigas, indícios, testemunhos. O puzzle começa a ser composto, o cerco a Trump começa a apertar.

Claro que surgirão muitos documentários, muitas séries. E tudo será espantoso. Não poderá haver um fim feliz. 

Mas as vítimas, as verdadeiras vítimas, serão sempre as mulheres que, quando jovens, foram abusadas, usadas.

The secret lives of Ghislaine Maxwell and billionaire paedophile Jeffrey Epstein - BBC News

Trump and Jeffrey Epstein: A detailed look at their relationship

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Desejo-vos um dia feliz

segunda-feira, julho 21, 2025

Os problemas com a saúde e os truques do costume
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Já aqui escrevi várias vezes que o Governo falhou na resolução dos principais problemas do país. 

  • A situação na habitação piorou com o maior aumento do custo das casas na Europa, 
  • houve muito mais fogos e mais área ardida, 
  • o número de alunos sem aulas é monstruoso,
  • e a situação na saúde é trágica. 

Por exemplo, as notícias do jornal da TVI das 20 horas de ontem sobre a saúde são reveladoras de quão trágica é a situação nas vários subsistemas da saúde. 

  • O INEM, que conseguiu juntar aos problemas conhecidos a barraca do concurso dos helicópteros, 
  • as urgências fechadas, 
  • o passa culpas entre o ministério e o INEM após ser divulgado um relatório do IGAS, 
  • as reivindicações dos bombeiros, 
  • os médicos que, em vez de fazerem horas extras, preferem trabalhar como tarefeiros como resultado da política de pagamentos definida pela ministra, 
  • os médicos que "confundem" a atividade pública com os seus interesses privados, 
  • as dezenas de crianças que nasceram em ambulâncias, 
  • a falta de operacionalidade efetiva dos helicópteros da FAP, 
  • ... 

Com todos estes problemas, o que faz o Governo? 

Avança com a notícia que vai criar uma unidade para combater a fraude na saúde. 

É a estratégia do costume, lançar para a agenda mediática um assunto que desvie a atenção dos problemas principais que entalam o governo. Criar um organismo com competências em termos da investigação idênticas ao MP e à PJ parece-me uma duplicação que onera os contribuintes. Só teria sentido se houvesse manifesta incompetência dos organismos que atualmente se ocupam deste tipo de investigações. Sendo certo que os principais problemas na saúde não são as fraudes, cai sempre bem junto de determinado tipo de eleitorado apontar a fraude como a razão dos problemas. 

O Chega teve sucesso e o PSD quer trilhar o mesmo caminho. 

Na minha opinião -- e falando estritamente das notícias que têm vindo a público sobre os ganhos milionários dos médicos --, o problema está na legislação em vigor que permite criar empresas em nome individual para prestar serviços com uma redução significativa de impostos, e ainda nos aumentos dos valores definidos pela ministra para pagamentos aos tarefeiros e os valores pagos pelos atos médicos efetuados em horário não laboral. 

Aliás, o próprio diretor executivo do SNS falou da "normalidade" de pagamentos estratosféricos aos médicos por atos clínicos extra. Como é sabido, para este governo vale tudo. O que é preciso é ganhar votos. 

Não bastava seguirem a agenda do Chega -- agora também decidiram pagar um complemento aos reformados dias antes das eleições. 

Não é de admirar, sabendo-se do caso Spinunviva.

domingo, julho 20, 2025

Colbert, Stephen Colbert

 

Poderia dizer que sou sua admiradora incondicional, assídua espectadora, mas que tem isso de especial? Como eu, tanta e tanta gente. A sua graça, a sua contundência, a sua inteligência, o seu sentido de humor e a forma divertida com que diz o que diz, tornam-no o melhor dos melhores. Como muito bem sabe quem o acompanha, Trump é uma permanente fonte de inspiração para Colbert. Imita-o, repete o que ele diz evidenciando o ridículo de tudo aquilo, desmonta as aldrabices, ridiculariza as fanfarronices, expõe os narcisismos, diverte-se e diverte-nos. 

Implacável, irreverente. E corajoso.

Muitas vezes eu pensava: enfim, do mal o menos, pelo menos pode falar à vontade, pode expôr a fraude que é Trump.

Até agora. Transcrevo:

CBS cancela “The Late Show” de Stephen Colbert em 2026 - Um programa líder de audiências, mas crítico do Presidente norte-americano, chega ao fim depois de dez anos no ar

Mas pode ser que o tiro lhes saia pela culatra: pode acontecer que Trump caia antes dele (aposto nesta hipótese) ou, se isso não se verificar, pode acontecer que a partir de 2026 Colbert esteja ainda mais livre, mais desencabrestado, mais acutilante (se é que isso é possível pois ele já é superlativo a todos os níveis) num qualquer outro lugar.

Trump está em acelerada trajectória descendente. À medida que o cerco aperta, vai-se tornando mais errático, mais destrambelhado (ie, destrumpelhado), mais alucinado. Também mais autoritário, mais vingativo, mais imprevisível. As aldrabices, completamente aleatórias, descabidas, desnecessárias, vão acabar por por enterrá-lo. E o tema Epstein ameaça submergi-lo.

Não faço ideia de quantas vezes aqui partilhei vídeos do Colbert, quer das entrevistas, quer do sempre fantástico monólogo inicial. Hoje transcrevo um, recentíssimo, que mostra bem do que é capaz (extraordinário no conteúdo, quer na forma).

Trump To MAGA: Don’t Talk About Jeffrey Epstein | Three Missing Minutes | The Unabomber’s Professor

President Trump lashed out at supporters who want him to release Jeffrey Epstein’s client list, Stephen digs deeper into the mystery surrounding Epstein’s death, and the president continues telling a weird lie about his uncle John Trump and Ted Kaczynski. 


Também transcrevo:
Stephen Colbert brings his signature satire and comedy to THE LATE SHOW with STEPHEN COLBERT, the #1 show in late night, where he talks with an eclectic mix of guests about what is new and relevant in the worlds of politics, entertainment, business, music, technology and more. Featuring bandleader Louis Cato and “THE LATE SHOW band,” the Peabody Award-winning and Emmy Award-nominated show is broadcast from the historic Ed Sullivan Theater. Stephen Colbert took over as host, executive producer and writer of THE LATE SHOW on Sept. 8, 2015.

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Claro que o anúncio do fim do programa caiu como uma bomba. Mais do que uma injustiça, parece ser o prenúncio de um futuro que ameaça ser sombrio.

Trump, Late Night Hosts React To Colbert Cancellation

 

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Com tudo isto, daqui até Maio esperam-se hilariantes e demolidores monólogos. Trump deve ir aos arames, deve espumar, deve ranger os dentes, deve arrancar as unhas, rebolar no chão.

Too Hot For Booze? | Trump’s Hand | Epstein Intrigue Continues | The Coca-Cola Distraction

A heat wave is baking most of the continental U.S., President Trump has a mysterious wound on his hand, and the MAGA world is not ready to forget about Jeffrey Epstein’s client list despite the president’s effort to distract them with a big announcement about Coca-Cola. 


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Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, julho 19, 2025

Maria da Conceição, a dedicada filha e esposa de Manuel Lima

 

Passámos por um sítio que tinha, na parede, um televisor. O meu marido disse-me: 'Filha confessa que casou com o pai'. Estava espantado. Pelo tom com que o disse percebi que estava na dúvida. Se calhar tinha percebido mal, se calhar alguém tinha escrito mal. Mas eu não fiquei atarantada como ele pois, creio que na véspera, já tinha lido o título pois, quando vou googlar no telemóvel, aparecem-me notícias variadas. A notícia era mesmo essa: a miséria na versão mais miserável, mais triste. Uma miséria em ponto pequeno, uma miséria desprovida de tragédia, uma miséria quase comédia.

Voltei a googlar para tentar interpretar o feito. Confirmei: uma vez mais, a realidade supera qualquer ficção. 

Para começar, temos uma Maria da Conceição e só isso já quase garante que a história tem tudo para ser de gritos. Mulher de 68 anos, bem fornida de carnes, amplos seios, cabelo com madeixas, com certeza arranjado para a ocasião, discretamente vestida em tons de azul marinho ou submarino, pregador na blusa, talvez a negar a indiscrição do decote e a marcar a solenidade do momento, a mão segurando o bouquet devido a noiva que se preze. Pelo braço, também enfatuado em azul, colete a preceito, gravata clara para marcar a castidade do momento, lencinho em tons de amarelo-festivo na lapela, Manuel, o pai de Maria da Conceição, 95 anos, não sei se frescos, se acabados mas, pelo menos, andando pelo seu próprio pé.

Ao que se sabe, trocaram alianças. Não sei se selaram o momento com um beijo ou se saltaram essa parte. Também não sei se, no fim da cerimónia, Maria da Conceição atirou o bouquet para saber qual a próxima mocinha a dar o nó, nem sei se terá sido alguma irmã a apanhá-lo.

Quando a notícia estalou, Maria da Conceição candidamente confessou ser precavida e, sobretudo, estratega: antevendo que o seu noivo poderá ir desta para melhor antes dela, para depois poder receber a pensão (presumo que a pensão de sobrevivência ou de viuvez), casou-se com o pai, por sinal viúvo há apenas seis meses. Alega a noiva que foi aconselhada a isso pelos irmãos. Não terão sido todos pois alguns, sabendo das novas núpcias do papá, apresentaram queixa. São 12 ao todo, os filhos do produtivo Manuel. Contudo, para sossego de algumas pudicas almas sempre prontas a apontar o dedo, o noivo assegura que não tem qualquer envolvimento sexual com Maria da Conceição, que o nó teve mesmo apenas interesse financeiro.

Sabendo da polémica, não querendo ser alvo da fofoca alheia, Maria da Conceição já está por tudo, por ela divorcia-se já do pai. Mas não pode, a situação embrulhou-se e embrulhada está. Em sua defesa, diz que dá banho ao pai mas sem qualquer interesse sexual, pois o pai até usa fraldas.

No meio disto, subsiste o mistério: sendo proibido o casamento entre pai e filha, como foi possível que na Conservatória do Registo Civil de Guimarães se estivessem a marimbar para o facto? Enterneceram-se e fecharam os olhos? Ou o quê? 

Para ver se desvendam o mistério, os filhos escandalizados já apresentaram queixa. A ver é se o Senhor Amadeu desta vez também diz que quer que a coisa se resolva rapidamente. Não é por nada, mas não se sabe se daqui por uns dez ou doze anos o Manuel ainda terá a cabecinha fresca para poder responder pelos seus actos.

Coitada da Maria da Conceição.

sexta-feira, julho 18, 2025

Conversa em torno do abismo do não-ser

 

Fisicamente, Eduardo Giannetti é praticamente igual a um colega meu. Divertidíssimo, diziam-no pouco amigo de trabalhar mas, embora não o achasse um excepcional proactivo, dele nunca tive razões de queixa. Tinha como hobbies a fotografia e o cinema, participava em concursos e, em dias de evento, já sabíamos que podíamos contar com ele para registar o momento. E, ao pé dele, era forçoso que estivéssemos sempre todos muito bem dispostos. 

Não conheci a sua primeira mulher, por quem era apaixonadíssimo, sua comparsa nas fotografias e filmagens. Não tendo filhos, a disponibilidade de ambos para passeios e aventuras era permanente.

Até que um dia ela adoeceu. Para ele, foi um sofrimento terrível. Acompanhou-a incansavelmente.

Quando ela morreu, teve um grande desgosto. 

Fui ao velório. Como já contei, tenho pavor de mortos, é uma fobia que vem de quando era pequena. Nem entro na capela se a urna estiver aberta. 

Mas tendo feito centenas de quilómetros para lhe dar um abraço e estar com ele, seria estúpido não entrar. Só que a urna estava aberta. Portanto, não entrei mesmo. Saiu ele. E foi chamar a mãe para me apresentar, muito simpáticos. E começaram a contar-me os últimos dias dela, tudo envolto em ternura e tristeza. E, então, diz-me ele assim: 'Não quer ir ali vê-la? Está tão bonita. Está muito serena. E o cabelo... tão bonito...'. Quase me senti desfalecer. Pedi desculpa, disse que não conseguia, que me fazia muita impressão. Mas vi que ele ficou com pena que eu não fosse ver a defunta. 

Pouco tempo depois fui ter uma reunião com ele. Estava outro. Rejuvenescido, risonho, outra vez muito brincalhão. Tinham-me dito: 'Não me pergunte como é possível, mas é: o nosso colega já anda de namoro, todo in love.'. Fiquei estupefacta. Perguntei se era alguém conhecido. Não, nada. É que, se fosse colega, ainda me pareceria possível que, tão pouco tempo depois, já ele estivesse de namoro. Agora, em tão pouco tempo, desencantar uma desconhecida... Mas, então, fui ter ao gabinete dele. Em cima da secretária, numa moldura, uma fotografia de uma senhora toda desportiva, toda sorridente. Perguntei: 'Já soube da novidade e, pelo que ouvi dizer e pelo que aqui vejo, a coisa vai de vento em popa, já aqui tem a fotografia da namorada...'. Ele riu: 'Pois, não a quis ver lá na capela, não a conheceu... Esta não é a namorada, esta é a falecida...'. Fiquei sem saber o que dizer.

Mas isto só vem ao caso pois, ao ver o convidado do Bial, parecia mesmo estar a ver aquele meu colega bacano. Todo ele: o rosto, o cabelo, o corpo, os óculos, a forma como se veste. Iguais. Como é possível?

Mas vejam a entrevista, é outra daquelas conversas que nos deixam a pensar. Interessantes perspectivas.

É possível se tornar IMORTAL? Com Eduardo Giannetti | Conversa Com Bial | GNT

O economista e professor Eduardo Giannetti - e também autor do livro "Imortalidades" - vai ao #ConversaComBial para falar dos tipos de imortalidades sobre as quais escreveu. Aborda a pequenez dos seres humanos diante do desconhecido e como a crença na vida após a morte vai muito além da ciência, das tecnologias e da religião. 


Uma sexta-feira feliz

quinta-feira, julho 17, 2025

O governo Montenegro e a educação
-- A palavra ao meu marido --

 

Lembro-me bem do Montenegro afirmar -- antes das eleições resultantes da prepotência do MP e da insensatez do Marcelo -- que, para resolver os problemas da educação, "bastava mudar a gestão" do respetivo ministério. Pois bem, temos um ministro da educação do PSD há mais de um ano e o resultado é haver 1,4 milhões de alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina e uma barraca com os exames do nono ano como nunca se viu, já para não falar em que metade dos alunos tiveram nega a matemática. 

É fácil prometer mas é muito mais difícil concretizar. 

Os falhanços do Montenegro na saúde, na educação, na justiça, no combate aos incêndios revelam bem que resolver problemas não é atirar dinheiro para cima deles. É preciso definir políticas coerentes e saber executá-las. Pôr na agenda falsos problemas não é suficiente. O Montenegro pode enganar muita gente mas só trabalha para o voto e falha no principal. 

"Percebe-se" que a malta vote nele.

As cores e o calor a sul

 

Dias de calor, de veraneio, de muito azul e de muita luz. Dias de muita risota. 

E, como não há  bela sem senão, dias de petiscos e lautos repastos. Tanto cuidado que andei a ter com hidratos e com açúcares para agora andar a deitar tudo a perder... 

Como sempre, trouxe livros e, como sempre, ainda não peguei em nenhum.

E, como sempre, já apanhei conchinhas que me parecem lindas e imprescindíveis. Mas a idade já me ensinou a não ter muitas ilusões. No outro dia, quando estava a preparar o saco de palhinha, encontrei, no fundo, umas que o ano passado também já me tinham parecido delicadas, pequenas obras de arte.

Dantes trazia as minhas câmaras fotográficas. Da última vez que trouxe uma, encheu-se de areia, ficou estragada. Desisti. Agora só uso o telemóvel. no entanto, para mim isso é muito limitativo, perco a vontade de me me focar nos detalhes, sinto que me vulgarizei. Mas é o que é, acompanho os tempos.




quarta-feira, julho 16, 2025

Sobre a demolição de barracas

 

Vi, estarrecida, imagens horríveis de barracas a serem destruídas sem que qualquer solução fosse apresentada aos seus habitantes e destruído ficou o meu coração ao pensar na aflição daquelas pessoas. 

Fotografia de José Fonseca Fernandes

Hoje disse aos meus netos que se me saísse muito dinheiro no euromilhões, pegaria em parte do dinheiro e estudaria em conjunto com algumas das autarquias em que o drama é maior qual a forma mais expedita de dar casas com conforto e dignidade às pessoas que vivem em condições miseráveis.

Custa-me conceber que, por exemplo, se arranje dinheiro a rodos para a Defesa ou dinheiro para jorrar sobre os médicos do SNS (médicos ditos 'tarefeiros' num daqueles expedientes para fugirem ao fisco e a todo o tipo de controlo -- enquanto estupidamente se continua sem se perceber que o tema da Saúde tem que ser 'agarrado' a sério por gente competente) ou dinheiro aos montes para fazer cartazes que poluem as estradas e as rotundas de cada vez que há eleições ou, nas autarquias, dinheiro a perder de vista com assessores e parasitas partidários e, depois, não há dinheiro para encontrar uma solução para estes pobres coitados que não conseguem um tecto seguro e legal para se acolherem.

Não há muito vi fotografias de um parque de campismo gigantesco na Costa da Caparica. Não parecem tendas, parecem casinhas, ou tendas de campanha, não sei bem, todas iguais. Disseram-me que muitas pessoas vivem ali todo o ano. Perguntei se não poderia ser uma solução para instalar com um mínimo de conforto e dignidade as pessoas que hoje vivem em bairros clandestinos. Responderam que o problema destas soluções é que, em vez de provisórias, soluções assim tendem a ser definitivas. Claro que não sei qual a melhor solução mas parece-me que qualquer solução é melhor do que a indiferença perante a aflição de quem não tem onde viver, de quem não tem uma morada, de quem não tem onde se lavar ou de quem não tem um mínimo de condições decentes para ter filhos.

Não sei se o PRR previu verbas para alojar as muitas pessoas que, tantas vezes vindas de longe, tantas vezes completamente desenraizadas, desaculturadas, vulneráveis, e, ainda assim, trabalhadoras, não têm outra solução senão juntas chapas, cartões e o que encontram para fazer um abrigo mais do que frágil, mais do que impróprio para um ser humano. Se previu, previu pouco e virá tarde de mais. Se não previu, os irresponsáveis que não pensaram nisso deveriam ser corridos.

Há tempos vi uma reportagem com prédios devolutos que pertencem ás Forças Armadas. De que se está à espera para lá instalar pessoas? E quem diz isso diz muitas outras casas do Estado. Ou da Igreja. 

Marcelo, que tanto falava dos sem-abrigo, já se esqueceu? Ou só se lembra quando as televisões o filmam a distribuir a sopa dos pobres? Quanta hipocrisia.

E já nem falo no cagalhoças do Moedas, essa anedota que para aí anda a armar-se em bom. Mete-me nervos de cada vez que o vejo: um saquito cheio de nada, um daqueles sacos pequenos para apanhar o cocó de cão. Obra feita, zero. Real sensibilidade e capacidade de acção para o que é preciso, zero. Só conversa fiada, só, só.

E o de Loures, com aquela vereadora, insensível, empedernida, gente desalmada, que nervos que também me dão. Caraças.

Enfim. Fico-me por aqui. Sinto-me verdadeiramente impotente perante a desgraça desta pobre gente que precisa urgentemente de habitação social. Estão a trabalhar para nós. Não podemos ignorá-los nem deixar que vivam como animais. Neste caso o tema não é o arrendamento acessível nem sem ser acessível pois estamos a falar de pessoas que primeiro precisam de se organizar, de se estabelecerem decentemente, só depois se pensa em como poderão pagar alguma coisa -- neste caso o tema é mesmo alojamento social, urgente, dar tecto e meios de higiene, dar uma morada e uma ajuda àquelas pessoas, permitir que sejam cidadãos de pleno direito.

terça-feira, julho 15, 2025

Há bandidos em todo o lado - essa é que é essa.
Mas, sejamos justos, a verdade é que há bandidos mais bandidos que outros e este de que aqui falo, o pika, até é um fofo

 

Depois de ter tido que acordar mais cedo e, portanto, depois de ter dormido, de novo, muito menos horas que as devidas, ainda por cima sendo dia de viagem -- e isto depois de termos deixado o nosso cãobeludo bem contrariado e triste num lugar em que não queria ficar, o que, naturalmente, nos entristece também --, para mais com muito calor, felizmente com praia e muita risota, chego aqui, tarde e más horas, ao computador, e mal consigo manter-me acordada.

Depois de lauto jantar na esplanada ainda fomos passear e, claro, não sendo esquisitas, por onde passamos encontramos coisas úteis ou, simplesmente, giras. Portanto, o resultado é o expectável: cheguei aqui já capaz de me atirar para a cama.

Portanto, pedindo desculpa se o título vos induziu e erro e vieram aqui espreitar a pensar que ia falar do Putin, do Trump, do Ventura ou desses que por aí andam -- um já de rabo esfolado e patas ensanguentadas, outro fazendo macaquices ao espelho e achando-se o maior, nobilizavelmente o maior, e um outro, um cromo sempre aos saltinhos a ver se fica ao nível da pulhice dos outros --, mas não. Não consigo, estou perdida, perdida de sono. Por isso, desloco-me para as montanhas e convido-vos a vir comigo. O tema, podendo no limite até ser de vida ou de morte, até é inocente.

Pika: The Tiny Mountain Bandit | BBC Earth

Life in the mountains isn't easy. With just 10 snow-free weeks a year, the pika must work nonstop to stockpile food for the long, frozen months ahead. But not every pika plays fair…


Desejo-vos um dia feliz

segunda-feira, julho 14, 2025

Dois Homens com H

 

Foi um domingo calmo, intercalando a leitura e os banhos de sol por períodos de alguma sonolência. Também andei a regar, pois se há coisa que gosto de fazer é de regar, de preferência descalça para sentir os pés molhados.

Não tive que cozinhar: comemos restos e mais um ou outro complemento. 

Ao almoço ligámos a televisão, mas não suportámos as más notícias. Bem sei que nos alienamos se nos afastarmos do que se passa no mundo. Só que se passam milhões de coisas boas mas se, no meio desse milhão, vier uma rajada de vento que levante uma telha, é nisso que os jornalistas se vão focar esquecendo tudo o que de bom aconteceu. O noticiário estava a ser uma sucessão de infelicidades, uma colecção de acontecimentos nefastos -- desistimos. 

Agora à noite, depois da nossa caminhada, o meu marido quis ver o futebol, era uma final, parece que tinha que ser nesta televisão. Fui para a outra sala. Posicionei-me nos Casados à Primeira Vista. E adormeci. Não sou capaz de dizer se vi alguma coisa pois, se vi, varreu-se-me instantaneamente.

De tarde pensei que hoje poderia escrever sobre o livro que estive a ler pois, lendo aquelas crónicas, uma opinião se vai formando sobre o que é a motivação, o móbil de vida de um editor, em particular aquele que ali vai desfiando memórias, Manuel Alberto Valente. Creio que o que dali depreendo explica muita coisa. Mas ando com um espírito que não sei se é vadio, se é veraneante, se é simplesmente preguiçoso... Por isso, deixo essa conversa para outro dia. E talvez seja mesmo melhor adentrar-me mais na leitura para não correr o risco de tirar conclusões precipitadas.

À noite, geralmente depois de escrever aqui, como escrever me obriga a estar de olhos abertos, aproveito para ver alguma coisa antes de ir dormir. Nos últimos dias tenho visto o Homem com H. Dado ser sempre tarde e dado estar com sono, tenho visto pouco de cada vez pelo que ainda me falta um bocado para acabar. Mas tenho estado a gostar de mais. 

Ney Matogrosso é um personagem extraordinário. E quanto mais o tempo passa mais extraordinário o acho. Há uns anos, embora gostasse muito de o ouvir, havia ali qualquer coisa que era tão extravagante que eu não sabia se era totalmente genuíno ou um certo gosto em provocar e essa dúvida levava-me a não aderir a cem por cento. Gostava, ouvíamos bastante, mas parece que ficava sempre ali a pairar a questão: ele é mesmo assim, tão superlativo e tão fora da caixa, ou há ali uma encenação que exagera o que ele é? Mas, quando evoluí, fui percebendo que isso era de somenos e que a dúvida, que era minha, não podia levar-me a olhá-lo com alguma reserva. Tinha era que aceitar sem questionar. 

Ney era um bicho, um bicho extraordinário, cantava maravilhosamente, tinha um reportório também fantástico -- e tudo isso tinha que ser suficiente para gostar dele sem qualquer reserva. 

E escrevi que ele era, escrevi no passado, só mesmo por burrice, pois ele está vivo, bem vivo, em forma, jovem, ninguém diria tratar-se de um octogenário. Aliás, olha-se, ouve-se e não se acredita. Afinal tantos excessos não lhe causaram danos, parece que bem pelo contrário, deram-lhe foi saúde.

Mas o filme, que tenho visto na Netflix, misto de filme e de documentário, não apenas retrata a vida de Ney Matogrosso em todas as suas dimensões, não apenas a artística mas a pessoal -- e, neste domínio, a activa e algo louca vida sexual (como ele diz, marchava tudo) -- como tem um intérprete que é igualmente fabuloso. 

Reproduz o Ney de uma forma perfeita, quase assustadora de tão perfeita. Segundo abaixo se verá, Jesuíta Barbosa perdeu 12 kg para reproduzir os 53 kg que Ney tinha nessa altura, estudou os seus trejeitos, os requebros, a forma de olhar e falar.

E há algo nele que parece estar desenhado para encarnar o espírito e a carnalidade de Ney. 

Ver para crer.

A quem tenha a oportunidade de mergulhar no filme, muito vivamente o recomendo. E, para abrir o apetite, aqui fica a conversa de Bial com ambos, a cópia e o original, dois homens extraordinários. E botem h nisso.

Pedro Bial entrevista Ney Matogrosso com participação de Jesuíta Barbosa | Conversa com Bial

No último Conversa com Bial (24/04/2025), Pedro Bial recebeu o icônico cantor Ney Matogrosso e o talentoso ator Jesuíta Barbosa, protagonista do filme Homem com H, cinebiografia que retrata a trajetória de Ney.

Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Be happy

domingo, julho 13, 2025

Uma conversa entre duas pessoas que admiro, mas em que se fala em algumas coisas pouco agradáveis levadas a cabo por portugueses
... Outros tempos... outros tempos...

 

Apesar de tudo, apesar de ter servido 'buffet' variado -- e, feito por mim, apenas a sopa e a preparação das saladas --, a verdade é que por ir buscar comida aqui, ali e acolá, e se calhar pelo peso da idade ou por outra coisa qualquer, à noite, o sono avançou sobre mim à força toda. 

E os meninos até eram para ter dormido cá. Mas, afinal, um deles, apareceu com covid. Assim de repente, estando ele febril, houve que tomar uma decisão. Mas não foi difícil. O tempo este sábado já não esteve de chuva, do outono da véspera passámos para uma simpática primavera, pelo que esteve bom para almoçarmos ao ar livre. E o resto da tarde, tirando os rapazes do futebol que gostam de se fechar na sala a ver não sei o quê, futebol, vídeos ou cenas, estivemos sempre na rua. Portanto, apesar de o covid já não ser o bicho papão de há cinco anos, se pudermos evitar apanhá-lo melhor. Eu e o meu marido estamos convencidos que ficámos agarrados pelo long covid pois, depois de o termos, nunca mais nos libertámos do peso do sono que parece que continua a apertar connosco muito mais do que antes e muito mais que o razoável. O médico diz que há muita gente com estes sintomas e que se espera que acabe por ir passando.

Mas, meu rico menino, nada lhe tira o apetite. E, estando mais murchito, esteve menos reguila. Fofo, só me apetece dar-lhe beijinhos. Está um rapazinho crescido mas, claro, ainda longe dos primos que estão crescidos, uns homenzões grandes, de voz grossa, ou da mana, alta, uma belezura, ou como o mano que ainda não entrou propriamente na adolescência mas que para lá caminha com ansiedade, com vontade de ser grande, peludo e malandreco como os mais crescidos.

Agora à noite, quando ficámos só os dois, fomos fazer a nossa caminhada nocturna e, no regresso, depois de tratar de uns expedientes, sentei-me aqui e pimba, tiro e queda, adormeci.

Claro que não faço ideia do que se passou no país ou no mundo e, sinceramente, nem vou tentar saber. Não me apetece arranjar argumentos para me tirar desta doce paz de espírito em que me sinto tão bem.

Aqui ao meu lado, deitado no sofá 'dele' (sofá que os netos adoram, há sempre algum deitado no 'lugar do avô'), o meu marido dorme a sono solto. A esta hora já costuma estar na cama mas, desta vez, depois de ter ligado a televisão e posto no 24"Kitchen, adormeceu que foi um regalo. Como não me importo de ir ouvindo falar em noodles, couve chinesa cozida, anis estrelado, empratamentos elegantes e etc., não lhe digo para mudar de canal e deixo-o estar a descansar.

Nos últimos dias tenho acordado sempre mais cedo do que o habitual pois tem havido sempre algum afazer matinal e, como não continuo a não conseguir ir para a cama mais cedo (senão não prego olho), acumulei algum sono atrasado.

Por isso, hoje fico-me por aqui. Li os vossos comentários mas não tenho energia para escrever mais. As minhas desculpas.

Vou antes partilhar uma conversa entre dois comunicadores que, na medida das minhas possibilidades, vou seguindo: o charmosíssimo e empaticíssimo Pedro Bial e o médico que fala claro sobre tudo, Drauzio Varella. A conversa rola gostosa sobre vários assuntos, até que o tema da 'descoberta' do Brasil pelos portugueses e o que eles fizeram aos índios vem à baila. Interessante. Claro que tudo tem que se pôr em perspectiva, situar no tempo e no espaço. Não dá para pensar no que se passou, usando os cânones de agora.

MEDICINA, Amazônia e HISTÓRIAS | Conversa Com Bial | GNT

Em uma conversa profunda, Drauzio fala sobre seu novo livro "O Sentido das Águas: histórias do Rio Negro", uma obra que mergulha nas vivências das comunidades ribeirinhas da Amazônia. Ele também compartilha reflexões sobre a medicina como arte, seu compromisso com o cuidado humano e a importância de ouvir, com empatia, os relatos das pessoas por onde passa.

Desejo-vos um feliz dia de domingo

sábado, julho 12, 2025

Qual a razão para a Ministra da Saúde não ser demitida?
-- A palavra ao meu marido --

 

O que está a acontecer na Saúde é uma tragédia e existem dois responsáveis políticos pelo que está a acontecer, a saber, a ministra da Saúde e o Primeiro Ministro. 

Existe também um corresponsável: o Presidente. 

Em qualquer outro país em que os governantes tivessem um mínimo de decência, a ministra já se tinha demitido -- o Primeiro Ministro já tinha corrido com ela ou o Presidente já lhe tinha tirado o tapete. 

Em Portugal não. 

Não nos esqueçamos que o Montenegro, para ir para o Governo, prometeu que resolvia os problemas na Saúde em sessenta dias. 

A verdade é que escolheu uma ministra que todos os dias consegue agravar, e muito, a situação que herdou, que é responsável por situações que não se admitiriam como possíveis e que não resolveu nada, mesmo deitando dinheiro a rodos para cima dos problemas (já  alguém analisou o aumento dos valores pagos aos médicos?), aumentando os custos sem qualquer proveito para os Portugueses, antes pelo contrário.  

É uma ministra que diz que não se demite porque todos os dias trabalha para resolver os problemas. Admito que todos os dias vá ao ministério mas o único resultado é agravar os problemas.

Mas, então, qual será a razão para não ser demitida? E qual a razão para o Presidente respaldar situações inadmissíveis, como aconteceu com a adjudicação dos helicópteros para transporte de doentes? 

Posso estar enganado mas arrisco duas razões que me parecem prováveis. 

  • Uma tem a ver com o objetivo de passar a prestação de serviços de Saúde para os privados, nomeadamente, os serviços lucrativos. 
  • Mas existe, na minha opinião, uma outra razão, talvez a razão com mais peso. A ministra nomeou gentinha do PSD para tudo quanto era lugar, independentemente das capacidades. Assim, esta maltinha tudo fará para manter a ministra que sabem que os nomeia para as posições que ambicionam. 
Conclusão: a saúde dos portugueses que se lixe, o que é preciso é dar mais dinheiro aos privados e garantir que os boys têm jobs

Entretanto, o Governo atira para a comunicação social uns assuntos que fazem notícia na esperança que os verdadeiros problemas não sejam abordados. As questões da imigração, nacionalidade e (a urgência em despachar o assunto) TAP são bem um exemplo desta estratégia do governo. 

No entanto, foi nesta gente que muitos portugueses votaram. Pelos vistos é disto que gostam. 

sexta-feira, julho 11, 2025

O 'mistério' dos muitos ricos e dos amigos deles

 

Já aqui falei disso algumas vezes: conheço um homem muito rico, diria que verdadeiramente muito rico. E também conheço dois amigos desse homem deveras ultra rico. Esses dois amigos dele não são muito ricos -- diria que, à luz dos nossos níveis, talvez média alta.

Ao longo de anos assisti às mordomias que o muito rico proporcionava àqueles seus amigos. E, quando falo em mordomias, falo apenas no que é visível a olho nu. Vão de férias para locais longínquos e muito caros, passam férias na vasta herdade do muito rico, fazem vida de ricos. E, quando falo dos amigos do homem muito rico, falo também das respectivas mulheres (e, até dado ponto, isto é, enquanto eram adolescentes e viviam com os pais, presumo que também os filhos). Ouvi falar em empréstimos e em empregos para filhos e noras mas disso não sei de nada em concreto, apenas sei pelo que se falava. 

Não o escondiam. Pelo contrário, quando estávamos juntos, era normal que viessem à baila situações em que se percebia que tinham ido e estado juntos aqui e ali e acolá. Não era explicitado que o muito rico pagava tudo, viagens, estadias, almoços e jantares, mas não era difícil adivinhar pois não era possível ser de outra maneira. 

Nunca vi nos amigos que aceitavam esses mimos qualquer pudor ou reserva. Nem nunca vi o muito rico fazer qualquer referência a nada disso. 

Quando eu me questionava junto de amigos comuns como era possível que os outros andassem sempre à pendura e vivessem à babugem do amigo outro, diziam-me: 'Não pense segundo os parâmetros comuns. Para eles é normal. São amigos. Para o X (chamemos assim ao muito rico) é a única maneira de viajar ou passar férias na companhia dos outros. Ele sabe que os outros não têm como serem eles a bancar aqueles luxos. E a ele não lhe faz qualquer diferença. Provavelmente muito disso vai a custos das empresas, está a ver, não está?, deve ser contabilizado nas empresas como deslocações em serviço, despesas de representação etc. E para os os outros também já passou a ser normal. As mulheres também são amigas umas das outras. Se o outro faz questão de que passeiem e passem férias juntos, para eles também é agradável. Também lhe são úteis pois, em muitas matérias, têm conhecimentos que o outro não tem.'

Um outro que também os conhecia bem, dizia-me: 'É uma relação fraternal. O X é muito mais rico que os outros. Para ele, mais uns milhares, menos uns milhares não fazem qualquer diferença. Já é um hábito. E não se esqueça: isto é o que a gente sabe, o que se vê...'

Um dos ditos beneficiados com a amizade generosa do X tem uma casa maravilhosa, numa zona que se não é protegida anda por lá perto. Um projecto de um conceituado arquitecto. Nunca lá estive mas vi muitas fotografias. Por vezes, comentava-se: 'Alguma vez ele tinha dinheiro para uma tal obra de arte?' Acha...?'. Isto, sobre essa tal casa, pois a casa habitual é uma moradia numa das mais privilegiadas e caras zonas da cidade. Com o que se conhece dos seus rendimentos de trabalho e não trabalhando a mulher, tudo aquilo é curioso. 

Mas não há festa social, de família ou de comemoração em que as três famílias não estejam juntas, divertidas: o homem muito rico e a mulher, e os dois amigos e respectivas mulheres. Uma amizade forte, um coeso inner circle.

Não faço ideia -- mas não faço mesmo -- se alguma vez o muito rico emprestou dinheiro aos amigos. Talvez tenha sido ele a pagar algumas obras ou projectos ou decorações (embora não possa afirmar se sim, se não) mas admito que talvez não tenha rolado. Admito. Mas não sei. Mas, se isso aconteceu, quase apostaria que teria rolado em dinheiro vivo não fosse, de outra forma, deixar rasto e ainda terem que pagar imposto de selo (é que doações sem que haja vínculo familiar directo obrigam a que se declare à AT e se pague imposto de selo, e se há coisa que são é 'poupadinhos'). Mas isto, que fique bem claro, são especulações minhas.

Poderia referir mais alguns pormenores desta relação fraternal em que, com toda a naturalidade, todos, incluindo as mulheres e os filhos, usufruíam da amizade do amigo ultra-rico mas não vale a pena pois são apenas isso, pormenores de uma relação que vista de fora pode parecer estranha, incompreensível mas que, para os próprios e para os próximos, parece ser completamente normal.

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quinta-feira, julho 10, 2025

Uma ficção suficientemente bem contada, se repetida o suficiente e apoiada por instituições poderosas, torna-se uma realidade concreta para milhões — mesmo que tenha começado como uma invenção de um só homem


Há pouco tempo, o meu marido referiu a história da origem da 'caça às bruxas'. Tenho andado a pensar nisso. 

Depois, no outro dia, vi uma série documental que me impressionou imenso, 'As Mil Mortes de Nora Dalmasso'. A quem puder ver na Netflix, vivamente a recomendo. Trata-se de um crime real que foi acompanhado de perto pela comunicação social, com notícias, fugas de informação do processo judicial, com comentadores em permanência nas televisões a debitarem certezas absolutas sobre o que se tinha passado. Começaram por falar em jogos sexuais, falava-se em orgias. Havia testemunhos, segredos mal guardados. Vizinhos, amigos, todos pareciam saber qualquer coisa sobre a qual pareciam querer encobrir o fundamental. Depois, como Nora Dalmasso era uma mulher rica que vivia num bairro rico, já falavam de encobrimento dos poderosos, depois em envolvimento político. Algum tempo depois, as suspeitas recaíram num rapaz que andava lá em casa a fazer obras. A população revoltou-se, dizendo que era uma manobra para desviar as atenções da família e dos amigos. Houve manifestações. O rapaz acabou por ser ilibado. Pouco depois, uma novidade: finalmente tinha sido descoberto o autor do crime. O assassino tinha sido o filho, um jovem adolescente. Toda a gente tinha a certeza. Arranjaram provas, provas ditas irrefutáveis. O filho era capa de revistas, notícia principal em jornais e noticiários televisivos. Ninguém duvidava: as provas eram públicas e falavam por si. Descobriram que o rapaz era homossexual e foi construída uma narrativa que tinha a ver com a não aceitação por parte da família. O rapazinho, que ainda não se tinha assumido publicamente, foi arrasado. Até que se concluiu que, afinal, o pobre do rapazito era inocente e vítima, tinha perdido a mãe e tinha visto a sua vida devassada. A seguir todas as suspeitas recaíram sobre o marido de Nora. Finalmente, o assassino tinha sido descoberto. Foi perseguido por jornalistas, foi apertado pelos procuradores, foi esmagado. A imprensa exultou, os comentadores explicavam o comportamento dele, toda a gente sempre tinha achado que as suas atitudes eram mais do que suspeitas. Desfiavam provas que, desta vez, eram óbvias, claras. Não havia dúvidas. Tinha que ser punido exemplarmente. Até que, muitos anos depois (porque tudo isto levou muitos anos, com vários procuradores a ocuparem-se do processo), aconteceu o impensável: no próprio julgamento, o procurador, o último, reconheceu que não havia qualquer prova contra o marido e retirava a acusação. Reconheceu-se, então, que tinha havido erros grosseiros na investigação e que os procuradores tinham seguido linhas de investigação erradas. Há pouco tempo, creio que há uns dois ou três anos, descobriu-se finalmente que o provável assassino tinha sido um outro trabalhador que lá andava nas obras. Só que vinte anos tinham decorrido e o crime tinha prescrito. A Justiça tinha falhado retumbantemente.

Então, como tenho andado a pensar nisto, pedi ao ChatGPT que escrevesse sobre o tema da 'caça às bruxas'. Por ser um tema sempre actual e que me parece bem interessante, aqui vai.

Como nasceu a caça às bruxas: a ficção que virou tragédia coletiva

1. Origem: quando a bruxaria era só superstição

Durante grande parte da Idade Média, a Igreja Católica não via a bruxaria como ameaça real. O Canon Episcopi, um texto do século X amplamente difundido, dizia que as mulheres que acreditavam voar com deusas pagãs estavam apenas iludidas pelo demónio — mas não era considerado que tivessem feito nada de real. A bruxaria era tratada como superstição popular, não como crime ou heresia grave.


2. O ponto de viragem: um frade ressentido e um livro perigoso

Em 1485, Heinrich Kramer, frade dominicano e inquisidor, tentou conduzir julgamentos por bruxaria na cidade austríaca de Innsbruck. Foi rejeitado pelas autoridades locais, que consideraram os seus métodos abusivos e infundados.

Em resposta, Kramer decidiu escrever um tratado. Em 1487, publicou o Malleus Maleficarum (“O Martelo das Bruxas”), uma obra que misturava fantasia, misoginia, superstição e uma visão teológica deturpada. Defendia que:

  • as mulheres eram mais propensas ao pecado e, por isso, à bruxaria;

  • o Diabo fazia pactos com elas através de sexo, feitiçaria e voos noturnos;

  • a tortura era necessária e legítima para obter confissões.

A obra foi rejeitada inicialmente pela Universidade de Colónia, mas Kramer conseguiu uma bula papal (de Inocêncio VIII) que lhe deu autoridade para agir como inquisidor. Isso deu ao texto uma aparência de legitimidade.


3. Disseminação: o papel da imprensa

O que deu ao Malleus o seu verdadeiro poder foi a prensa de tipos móveis, recém-desenvolvida por Gutenberg. A obra foi reproduzida em larga escala e circulou por toda a Europa ao longo dos séculos XV e XVI. Em várias regiões, foi tomada como manual jurídico e doutrinário oficial — mesmo sem nunca ter sido oficialmente aceite pela Igreja como doutrina universal.

A multiplicação dos exemplares fez com que ideias fantasiosas e sem base empírica passassem a ser tratadas como verdades absolutas, com aplicação direta em tribunais civis e eclesiásticos.


4. Expansão: medo, crise e histeria institucionalizada

Entre c. 1500 e 1700, a Europa viveu um período de instabilidade profunda: guerras religiosas (Reforma e Contrarreforma), pestes, fome e crises políticas. Em tempos de medo, o mito das bruxas oferecia um bode expiatório conveniente.

As autoridades, tanto católicas como protestantes, começaram a conduzir julgamentos em massa com base nas ideias do Malleus e em outras obras derivadas. O uso sistemático da tortura levou a confissões forçadas, que alimentavam novas acusações — criando um ciclo de autojustificação brutal.


5. Duração: três séculos de delírio

A “caça às bruxas” durou quase 300 anos:

  • Início efetivo: 1487 (com a publicação do Malleus)

  • Pico de violência: 1560–1630 (época das guerras de religião)

  • Declínio lento: após 1650, com o surgimento do racionalismo, o reforço de Estados centrais e o avanço do pensamento científico

  • Última execução oficial por bruxaria na Europa: 1782 (Anna Göldi, na Suíça)


6. As vítimas: quem pagou o preço da fantasia

Estima-se que entre 35 000 e 60 000 pessoas foram executadas por acusações de bruxaria — em alguns cálculos, até 100 000. Cerca de 80% eram mulheres, frequentemente viúvas, curandeiras ou socialmente marginalizadas.

Estas pessoas foram torturadas, queimadas ou enforcadas com base numa narrativa criada por um único frade ressentido, que misturou lenda, misoginia e moralismo num tratado tomado a sério por gerações.


7. O poder da ficção partilhada: o que diz Harari

O historiador Yuval Noah Harari usa este caso como exemplo clássico de como “ficções intersubjetivas” — histórias partilhadas por um grande número de pessoas — podem moldar o comportamento coletivo, as leis e as instituições. Quando essas ficções são tomadas como verdades absolutas, mesmo sendo baseadas em delírios ou mitos, podem conduzir a desastres reais.

"Uma ficção suficientemente bem contada, se repetida o suficiente e apoiada por instituições poderosas, torna-se uma realidade concreta para milhões — mesmo que tenha começado como uma invenção de um só homem."


Conclusão: da fantasia à fogueira

A caça às bruxas foi, em grande parte, o resultado de uma fantasia transformada em sistema judicial. O Malleus Maleficarum, escrito por um único frade, foi a semente de um pesadelo histórico que durou três séculos, espalhou medo por toda a Europa e custou dezenas de milhares de vidas. É um lembrete poderoso de como ideias infundadas, quando legitimadas, podem levar sociedades inteiras a cometer atrocidades em nome da “verdade”.

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Eis 3 casos contemporâneos, bem conhecidos do público, que funcionaram como “caças às bruxas” modernas — ou seja, situações em que pessoas foram julgadas na praça pública antes de qualquer verificação de factos, muitas vezes com consequências gravíssimas, apesar de acabarem por ser ilibadas ou inocentadas. Estes casos mostram como, mesmo sem fogueiras, a lógica da perseguição social sem provas continua viva.


1. Caso Amanda Knox (Itália, 2007–2015)

  • O que aconteceu: A estudante norte-americana Amanda Knox foi acusada do homicídio da colega de casa, Meredith Kercher, em Perugia.

  • Por que foi uma “caça às bruxas”: A imprensa sensacionalista italiana e internacional construiu uma narrativa sexualizada, chamando Amanda de "Foxy Knoxy", insinuando motivações satânicas e perversas sem base real. A sua atitude calma foi interpretada como sinal de frieza e culpa.

  • Condenação e absolvição: Amanda foi condenada e presa por quatro anos. Em 2015, o Supremo Tribunal italiano reconheceu erros processuais graves e ilibou-a totalmente.

  • Impacto: Mostrou como uma narrativa pública distorcida pode contaminar o julgamento legal, mesmo em tribunais modernos.


2. Caso dos McMartin Preschool (EUA, anos 1980)

  • O que aconteceu: Uma das mais longas e caras investigações por abuso infantil da história dos EUA. Professores da pré-escola McMartin, na Califórnia, foram acusados de abuso sexual e rituais satânicos.

  • Por que foi uma “caça às bruxas”: Crianças foram sugeridas e manipuladas em interrogatórios, gerando histórias de túneis secretos, bruxaria, voos mágicos e rituais satânicos. A histeria pública foi imensa. Muitos acreditaram cegamente nas alegações.

  • Desfecho: Após 7 anos de julgamentos, nenhum dos acusados foi condenado. Não se encontrou qualquer prova física. O caso foi abandonado em 1990.

  • Impacto: É um exemplo claro de como o medo coletivo e o moralismo social podem destruir vidas sem provas concretas.


3. Caso Johnny Depp vs. Amber Heard (EUA/Reino Unido, 2018–2022)

  • O que aconteceu: Após o divórcio, Amber Heard acusou Johnny Depp de violência doméstica. Ele perdeu contratos com a Disney e outras produtoras. Foi “cancelado” pelas redes sociais e imprensa.

  • Por que foi uma “caça às bruxas”: A cultura do #BelieveAllWomen levou a que muitos o condenassem sem julgamento, assumindo-o como agressor com base apenas no artigo de opinião que Heard publicou no Washington Post.

  • Desfecho: No julgamento de 2022, Heard foi condenada por difamação. Ficou claro que ambos tiveram comportamentos tóxicos, mas que as alegações centrais de Heard eram falsas ou exageradas.

  • Impacto: Mostrou os riscos da justiça mediática e do linchamento digital, com polarização extrema e julgamentos sem base factual antes do processo legal terminar.


🔍 Conclusão: a fogueira hoje é sobretudo digital

Estes casos mostram que a lógica da “bruxa a abater” persiste, ainda que hoje não se usem tochas — usa-se Twitter, manchetes e opinião pública em tempo real. A condenação precoce, o apedrejamento simbólico e a destruição de reputações continuam a existir, mesmo em democracias modernas.