sábado, setembro 13, 2025

‘Uma escapadela secreta onde o verão perdura’: as viagens favoritas dos leitores do Guardian, em setembro, na Europa

 

Ao ver o título da notícia do Guardian (acima, no título), patriota como sou, fui logo ver se aparecia algum destino português. E sim, aparece. Fiquei contente. Mas fiquei admirada. Évora é uma cidade linda (e onde se come bem) mas, ainda assim, estava à espera de um lugar mais pitoresco ou mais desconhecido ou com uma oferta mais diversificada. No entanto, reconheço, é disparate meu, na volta até demonstro algum provincianismo ou alguma miopia.

O Alentejo banha-se em luz dourada até finais de Setembro e Outubro. A região estende-se desde florestas de sobreiros a praias selvagens do Atlântico, com temperaturas diurnas ainda a rondar os 20°C. Na cidade caiada de Évora, ruínas romanas e praças tranquilas convidam a um passeio tranquilo. Mais a oeste, a costa perto de Vila Nova de Milfontes oferece ondas quentes e areias quase desertas. O Alentejo é lânguido e soalheiro, um refúgio secreto onde o verão se prolonga e o tempo parece parar.
Autor do texto: Matthew Healy.
Autor da fotografia:  Praça do Giraldo, Évora. Fotógrafo: Philip Scalia/Alamy

Numa altura em que alguns dos meus amigos andam no laré por locais longínquos e enviam fotografias maravilhosas, eu sinto-me cada vez melhor no nosso país, e, em particular, em casa, seja na da cidade, por acaso perto do mar, seja na do campo, no meio do nada, rodeada de serras e de silêncio. 

No outro dia o meu marido estava a sugerir uma viagem e eu, que antes estava sempre numa de ir e que adorava planear, escolher hotéis, ir à aventura, agora penso sobretudo na maçada de fazer malas, na falta de conforto que representa a ausência dos nossos sítios tão bons, ou penso no déjà vu que já tudo me parece, quase como se já nada é verdadeiramente novidade. E quando, no meio deste comodismo, abro uma excepção e penso em ir visitar algum lugar, o que me ocorre é sair de manhã, irmos de carro, levarmos o nosso querido cãobeludo mais fofo, e regressarmos ao fim do dia. Quem me viu e quem me vê.

Mas depois, quando tento situar, no tempo, o momento em que comecei a desinteressar-me por ir viajar, localizo facilmente. Primeiro foi o meu sogro com uma doença grave que nos enchia de preocupação, que ia fazer tratamentos, que era preciso acompanhar, visitar, que nos fazia ter receio de nos ausentarmos. Depois, durante esse mesmo período, foi a minha sogra, também muito mal, internada durante bastante tempo, depois em casa, acamada, a precisar de cuidados permanentes. O que esse período nos trouxe a nível emocional e logístico não tem explicação. A seguir, durante esse mesmo período, foi o tremendo avc do meu pai. Aí a nossa vida complicou-se severamente. Eu e o meu marido cheios de trabalho, com responsabilidades que não podiam ser compatibilizadas com a ocupação que nos era requerida, e as preocupações a sucederem-se, umas atrás de outras. As férias passaram a ser apenas no país e fora de casa não mais que uma semana de seguida. E, ainda assim, íamos sempre com o credo na boca. Entretanto, morreu o meu sogro, algum tempo depois a minha sogra. Depois veio a covid, o confinamento, a morte do meu pai, e, quando já apenas sobrevivia a minha mãe, vieram os horríveis problemas com ela, que me iam levando a uma tremenda depressão tal a situação complexa que ela atravessou. Impossível afastar-me. Já lá vai um ano e picos que se foi, já poderia ter recuperado os meus velhos hábitos de nos pormos na alheta, de irmos passear e descobrir outras terras. Talvez um dia. Mas não sei.

Em retrospectiva, lembro-me de quando trabalhava, saindo de manhã e regressando ao fim do dia, os fins de semana sempre tão cheios de visitas e de mil compromissos, sempre sem tempo para usufruir tranquilamente da nossa casa. Agora consigo fazê-lo. Olho para as árvores, sento-me a ouvir os pássaros, rego, ocupo-me da casa, o meu marido ocupa-se com o jardim, lemos, cozinhamos, caminhamos. Tempos muito tranquilos. 


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Desejo-vos um bom sábado

sexta-feira, setembro 12, 2025

O palerma dos hambúrgueres, a última sondagem, o brutal ataque à democracia a que se assiste nos Estados Unidos... e etc.

 

Depois de ter escrito o post de ontem sobre os atentados à racionalidade, à justiça, à ética, ao decoro, à verdade (e a tudo o mais que queiram juntar) por parte de muitos militantes do Chega, chegou a notícia de que um ex-dirigente do Chega quer pagar para evitar julgamento por prostituição infantil. Ou seja, quando se julga que é impossível piorar, piora mesmo. 

Depois veio o momento caricato do Ventura -- naquele seu tom indignado, superior --, a vir divulgar que o Chega tinha votado contra a ida de Marcelo ao Festival dos Hambúrgueres, até porque, diz ele, é inadmissível que os impostos dos portugueses sirvam para pagar tamanho disparate. Como já foi amplamente parodiado, confundiu a Festa dos Cidadão com um festival de hambúrgueres. 60 carneiros sentados no nosso Parlamento e que estão a ser pagos com o dinheiro dos nossos impostos votaram com as patas, sem saberem o que estavam a votar.

Tendo sido ridicularizado por todo o lado, o que fez Ventura? Pediu desculpa? Não, senhor. Disse que se tinha enganado mas que a culpa tinha sido do Marcelo por andar sempre a viajar... e atirou com um número absurdo de viagens, dez vezes superior à realidade. Porque diz tantas mentiras? Porque faz tantas acusações disparatadas? Má fé, impreparação, desapego da verdade? Seja o que for, é mau demais.

Mas se a reputação do Ventura e da escumalha que se juntou a ele no Chega deveriam merecer o mais frontal e inequívoco repúdio de toda a população, não entregando um único voto a tal agremiação de marginais, mentirosos, incompetentes, mal-formados... o que se verifica é que uma parte significativa da população votante é igual ou pior a eles pois, segundo a última sondagem, aponta-se para o Chega a liderar as intenções de voto, caso houvesse agora novas legislativas. 

Pasmo com isto. Como é possível? As pessoas estão parvas? Ou, pior que isso, são parvas?

Penso que é tempo de se encarar a realidade: para evitar o descalabro (como o que está a acontecer nos Estados Unidos, um descalabro aterrador), há que entender, por dentro, as razões de tanta gente se rever neste culto, no culto Ventura. Provavelmente há que perceber que maioritariamente é gente que não lê jornais (muito menos livros, claro), que não ouve notícias, que apenas consome o lixo veiculado pelas contas das redes sociais do Chega, gente muito ignorante a quem não vale a pena tentar convencer através de factos, de números ou de gráficos pois, com certeza, nem a tabuada sabe, muito menos sabe interpretar gráficos, gente sem bases morais ou culturais, gente que se sente integrada no meio de um partido de meliantes.

Tudo isto preocupa-me demais.

As redes sociais, no meu caso, o Instagram, tem tido um lado positivo: traz-me o acesso à opinião de muitos senadores e congressistas americanos, de muitos jornalistas, de governadores, de gente da Justiça (alguns dos quais varridos pelo Trump), e o que ouço e vejo é aterrador, como se, num par de meses, todos os checks and balances, tal com os freios e o sistema de emergência do Elevador da Glória, tivessem deixado de servir para o que quer que fosse. Dá ideia que se partiu ou desprendeu o cabo da democracia e, inesperadamente, toda a sociedade americana se vê virada do avesso. 

O impensável passou a ser o quotidiano. A ignorância, a incompetência, o revanchismo, as perseguições gratuitas, a prepotência, a rudeza, a malvadez, a subserviência, tudo o que enoja, tudo isso é o que agora impera. 

E tudo isto perante a incapacidade de reacção dos democratas. Parece que estão anestesiados, sem reação. Aliás, para dizer verdade, nem sei quem é o mais poderoso dos democratas: ainda será Biden? Aquele senhor da Câmara dos Representantes? o líder dos democratas no Senado? A Kamala ainda mexe? O que se passa para estarem tão entorpecidos? Parece que apenas Gavin Newsom estrebucha. Mas não é suficiente. Perante os tremendos riscos há que haver uma força que se levante e defenda a liberdade, a democracia, a ética, a moral.

Mas não há.

E à medida que vou lendo, que vou ouvindo, que vou cruzando informação, mais aterrada fico. Sou radicalmente contra teorias da conspiração. Nada disso faz minimamente o meu género. Sou pela objectividade, não pelas suposições infundadas, pelo diz que diz. Só que, nestes domínios, em especial quando há muita patifaria, muito narcisismo, muita psicopatia e muito poder envolvidos, há um mundo paralelo, subterrâneo, do qual apenas nos vamos apercebendo à medida que alguém repara numa ponta solta, outro alguém a agarra e a puxa, outro se esgueira para ver de onde vem... E, portanto, a única coisa que, em concreto, sei é que, nos Estados Unidos, pouco ou nada sei sobre os mais recentes escândalos, atentados, suicídios, homicídios com contornos políticos. Volta e meia dou por mim a querer estabelecer ligações, relações causais. Mas detenho-me. Não sei o suficiente sobre o que se passa para poder, sequer, raciocinar.

Neste tema do jovem que foi assassinado, Charlie Kirk -- alguém que pregava a favor da violência, do porte de armas, alguém que defendia que era aceitável que todos os anos morressem pessoas assassinadas pois isso justificaria o tema da permissão do uso generalizado das armas, alguém abertamente xenófobo, racista, misógino, alguém que mobilizava fortemente a camada jovem do movimento MAGA, mas que, apesar disso, obviamente merecia viver --, estou em crer, a partir do que tenho lido e ouvido, ao constatar que há quem formule algumas dúvidas sobre alguns factos anómalos que envolvem todo o crime, que muito do que não se sabe talvez possa ser mais importante do que o que se sabe. E essa nebulosa que agora parece envolver tantas coisas naquele imenso país ainda torna tudo mais assustador.

Por isso, por tudo o que se vai sabendo sobre o que está a acontecer nos Estados Unidos (já para não falar de casos mais antigos como a Rússia), penso que deveríamos excomungar todo o populismo, todos os que dividem para reinar, todos os que instilam ódio na sociedade, todos os que não respeitam escrupulosamente a democracia, a liberdade, o respeito pela lei e pelas instituições democráticas. A dúvida é: mas como fazê-lo de forma eficaz? 

Aceitam-se sugestões.

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Nota

Claro que leio todos os vossos comentários, claro que os agradeço, os comentários enriquecem o blog, muitos leitores se calhar têm mais curiosidade em ler os comentários do que o que eu ou o meu marido escrevemos. Mas tenho andado com pouco tempo. E continuo a ter este hábito peregrino de só escrever no blog às quinhentas da noite o que faz com que, quando acabo, esteja com sono. Por exemplo, agora que já passa, e bem, da uma e meia da manhã, ainda quero ver os mails (... e já perdi a conta aos que também não agradeço e a que não respondo...) e ainda quero ir espreitar uma notícia cujo título me intrigou. Por isso, mais uma vez não vou responder ou agradecer os comentários. Por isso, peço as minhas desculpas.

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Desejo-vos uma feliz sexta-feira

quinta-feira, setembro 11, 2025

Algum psicólogo forense por aí que trace o perfil dos meliantes que se agremiam no Chega?

 

Hoje soube-se de um que roubava combustível ao INEM. Imagine-se: roubava gasóleo das ambulâncias. No outro dia soube-se de um apanhado em flagrante a atear fogos. Outro, um caso digno de filme cómico, apanhado a roubar malas nos aeroportos, guardando-as no gabinete da Assembleia da República e depois vendendo os pertences dessas malas num site de roupa usada no qual usava o seu nome e ano de nascimento como nickname. Outro agride árbitros em jogos infantis. E receio que seja delírio meu mas tenho ideia de que já houve um que roubava caixas de esmolas, outro que usava armas sem ter licença para isso, não sei até se não havia um ligado a tráfico de drogas ou coisa que o valha. Não continuo pois receio que seja a minha imaginação ou a minha memória a atraiçoar-me. 

E estou a elencar isto apenas porque me espanto e me sinto intrigada: o que leva estes marginais a juntarem-se a um partido que prega a moralidade e que exige mão pesada nas penas justamente contra os crimes que eles cometem?

Não é estranho? Não há qualquer coisa de psicopata nisto?

E ainda outra dúvida: o que leva os votantes no Chega a votar num partido em que já se descobriu que tantos dos seus militantes (incluindo deputados) têm problemas com a Justiça? Não é estranho? Se quem vota no Chega é gente que preza a lei e a ordem como é possível que se identifiquem com um partido destes?

Será que vamos ter que aceitar que há mais gente do que pensamos que não bate bem da bola?

quarta-feira, setembro 10, 2025

Ro Ro, ou a graça das mulheres-meninas

 

Confesso a minha ignorância: nunca tinha ouvido falar em Angela Ro Ro. Mas devota do Bial como sou, se ele a leva às suas gostosas conversas, eu estou lá. Portanto, pus-me a ouvir.

E, à medida que a ouvia, risonha, provocadora e engraçada como uma adolescente, mostrando continuar sequiosa de vida e diversão, pronta para os amores, ia-me lembrando de uma amiga que é assim. Muito, muito assim (apenas com a diferença de que Angela Ro Ro é gay e a minha amiga é hetero).

Tal como vejo, pela entrevista, que Angela Ro Ro tinha a fama de ser uma malandreca, também a minha amiga, quando entrou a sério na adolescência, virou uma bela safadinha. Tinha fama de alta namoradeira ou mais que isso, fazia coisas que, por vezes, me deixavam um bocado perplexa, sobretudo por achar que ela caía com demasiada facilidade nos braços errados. Mas ela não me ouvia. Não ouvia ninguém. Parecia tomada por uma urgência de experimentar tudo, de quebrar todos os tabus.

Mas, à posteriori, vim a verificar que, afinal, era muita parra e pouca uva. Muitas aventuras, muitos empolgamentos, e, depois, muitas decepções, muitos desgostos. Conta que foi várias vezes traída. No fundo acreditava demais em quem, se via à légua, que não merecia qualquer crédito. Mas ela não via o mesmo que os outros. Olhares racionais e objectivos não eram com ela, toda emoção, toda inocência.

Talvez por isso ou talvez porque a vida, por vezes, prega partidas a quem não o merece, amores verdadeiros, grandes, intensos, duradouros, que não a fizessem sofrer, não os teve.  

Mas não ficou ressentida nem desanimada. De facto, ainda agora continua a ser tal como se descobriu quando, adolescente, resolveu abraçar a vida sem reservas: alegre, brincalhona, sedutora, irreverente, com uma tremenda vontade de amar e de ser amada, a mesma adorável adolescente. E... continua a dar com os burrinhos na água pois continua a atirar-se, sem reservas, para os braços de quem não tem condições de retribuir a paixão. No entanto, continua, sorridentemente a acreditar que o melhor ainda está para vir, a correr atrás da sorte, do amor, da paixão. E eu, do mais fundo do meu coração, desejo que um dia encontre alguém que a ame como ela, desde sempre, desejou ser amada.

A voz INESQUECÍVEL de Angela Ro Ro | Conversa com Bial | GNT

No #ConversaComBial , uma homenagem especial à icônica Angela Ro Ro, cantora e compositora que marcou a MPB com sua voz potente e canções inesquecíveis.

Com uma carreira iniciada nos anos 70, Angela deixou clássicos como Amor, Meu Grande Amor e Compasso, tornando-se referência de autenticidade e emoção na música brasileira.



terça-feira, setembro 09, 2025

Quem é Armando Martins?
Quem é o homem que aprecia o desvio à perfeição?

 




Eu não sabia quem era Armando Martins. 

Fiquei curiosa. E, depois de ler a sua breve biografia e depois de ter visto o vídeo, fiquei surpreendida. Muito interessante. Há pessoas com percursos ímpares. Afinal, Armando Martins é um português excelentíssimo: é o Senhor MACAM.

MACAM = Museu de Arte Contemporânea Armando Martins

Transcrevo:

Armando Martins nasce em 1949, no concelho de Penamacor, e passa a sua infância longe dos circuitos das artes.

Aos 14 anos vem estudar para Lisboa. Na adolescência realiza a sua primeira visita a um museu de arte, o Museu de Arte Antiga, experiência que não o seduz, pois seria a arte contemporânea o seu caminho e paixão.

A sensibilidade e o interesse pelo mundo da arte só começam a anunciar-se mais tarde, de forma crescente e em paralelo com o caminho que vem a traçar a nível profissional.

O colecionador que sonhou um museu

Licencia-se em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, em 1973, ano em que inicia a sua atividade profissional.

No final da década de 70 parte para o Brasil, regressando a Lisboa em meados dos anos 80. Enceta desde então um percurso de sucesso no sector da promoção imobiliária, com a criação de várias empresas.

Nos anos 90, constitui o Grupo Fibeira SGPS,S.A., com atividades na promoção imobiliária, hotelaria e serviços, do qual é hoje o Presidente honorário. 

Foi o promotor do edifício Atrium Saldanha, em Lisboa, projeto com a assinatura do arquiteto catalão Ricardo Bofill, galardoado, entre outras distinções, com o Prémio Valmor de Arquitetura em 2001.

É também proprietário do Palácio do Correio-Mor, em Loures, e do Palácio Condes da Ribeira Grande, na Junqueira, Lisboa, onde instala o projecto MACAM.

O interesse pela Arte

O interesse pelo colecionismo e pelas artes visuais começa aos 18 anos, com a aquisição de serigrafias em parceria com um amigo. 

Por ocasião do seu 25º aniversário, decide oferecer a si próprio a primeira obra de arte original.

Essa experiência é o primeiro momento de um percurso sem retorno, dando início ao que viria a ser a Coleção Armando Martins. A partir de então, a sua actividade como colecionador vai-se intensificando.

Dotado de um espírito inquieto e empreendedor, Armando Martins continua a alimentar a sua capacidade de sonhar e de desenvolver projetos que, por vezes, o conduzem para fora da sua zona de conforto. O gosto pela arte é disso exemplo.

A Coleção e o Museu

Armando Martins não só se decide a criar uma das melhores coleções de arte a nível nacional como, paralelamente, vai alimentando o desejo de fundar um museu para partilhar a sua coleção.

Em 2007, concretiza a aquisição a título privado do Palácio dos Condes da Ribeira Grande, um edifício histórico do século XVIII. Avança com o projeto de reabilitação para criação do Museu, decidindo incluir um Hotel de 5* como motor de financiamento e de sustentação da autonomia do projecto.

Em 2018, é distinguido com o Prémio "A" para o colecionismo pela Fundación Arco, instituição dedicada à promoção, investigação e divulgação da arte contemporânea.

Três anos depois, é-lhe atribuído o Prémio de Colecionador da Associação Portuguesa de Museologia, pelo seu projeto de criação de um museu privado para tornar pública a sua coleção.

O que outrora era apenas sonho, hoje torna-se realidade. O empreendimento está concretizado, a coleção Armando Martins perfez 50 anos de história e o Museu MACAM abriu portas ao público em 22 de Março de 2025.

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 Armando Martins: O Penamacorense que deu um museu a Lisboa


Salve Armando Martins.

Obrigada.

Considerará o indigno Moedas que o Paulo Portas e a Mariana Leitão são seus sicários?
-- A palavra ao meu marido --

 

O Moedas, na entrevista à SIC, esquecendo-se que estava a fazer-se de coitadinho, e após dizer que nem pensava nas eleições, atirou-se com ignomínia ao PS, chegando, entre outros "mimos", a chamar a quem o atacava, sicário da Alexandra Leitão. 

Seguindo essa analogia, será que o Moedas também considera que quem tem tentado salvar a sua pele -- com argumentos estapafúrdios, é certo --, como, por exemplo, o Paulo Portas e a Mariana Leitão, são seus sicários, certo? 

O Moedas tem demonstrado ser reles e ignorante, mas, como já deve, entretanto, ter sido esclarecido, sicários são criminosos contratados que, no início, usavam adagas escondidas debaixo das togas com as quais perpetravam os assassínios. É óbvio que não são os métodos usados em democracia mas vê-se bem o calibre do personagem quando é capaz de fazer este tipo de afirmações. Pior ainda e de uma baixeza insuportável é o que afirmou sobre a demissão do Jorge Coelho quando ocorreu o acidente em Entre Rios. Um tipo que mente descaradamente e que mostra ser tão reles não é confiável e não merece qualquer tipo de consideração ou respeito. Não vale tudo, certo?

segunda-feira, setembro 08, 2025

(Actualizado) Obviamente, pirem-se!
-- A palavra ao meu marido --

 

O presidente da Carris e o Moedas não podem continuar. O que soubemos ontem no inquérito preliminar é gravíssimo. Um equipamento de transporte público que funciona há 140 anos, com todos os riscos que acarreta um período tão longo de funcionamento, e transporta centenas e centenas de milhares de pessoas por ano num percurso com inclinação de 17 por cento, não tem sistemas de travagem que atuem no caso de falha no cabo que suporta o equipamento e permite  que este trave. É inconcebível!  Como é  possível que um equipamento cujas condições de segurança são tão precárias transporte pessoas? 

O dirigente principal da empresa tem que se demitir porque não garantiu que a empresa cumprisse a sua missão principal que é assegurar o transporte dos utentes em segurança. 

O Carlos Moedas também devia ir-se embora por indecente e má figura: não só porque a CML tutela a Carris mas também porque vai para a SIC fazer figura de poucochinho e consegue dizer que tudo funcionou bem, dizer que não pensa em eleições, e, enquanto isso, põe-se a dar bicadas na concorrente eleitoral, e continua apelando aos sentimentos mais primários das pessoas e quase chora para conquistar votos. E porque ao longo deste processo demonstrou que tem zero de capacidade de liderança. Uma triste figura. 

Além disso, depois de andar a pregar contra a insegurança na cidade, mostrou que se esqueceu de um aspecto tão fundamental como garantir a segurança de quem usa veículos de transporte, ainda por cima talvez dos veículos mais usados na capital. Afinal o grande problema para a segurança de Lisboa não são os imigrantes mas a falta de condições dos elevadores turísticos da cidade. 

Indecente e má figura do Carlos é  também seguir a cartilha do Montenegro e, quando tudo está a correr a mal, vir dizer que se gastou mais dinheiro com o problema e que ninguém se demite porque "estão lá para resolver os problemas" que de fato agravaram. É uma cartilha que, de tão gasta, fede.

Eu sei que vivemos num País cujo governo atual mandou a ética às urtigas. O PM, com a Spinunviva às costas, diz no Governo o contrário do que dizia na oposição,  consegue dizer sobre o mesmo assunto três coisas diferentes no mesmo dia (foi o que fez quando falou sobre o acesso à matriz das propriedades que possui), mente quando lhe convém,... O ministro das finanças é o rei das cativações que tanto criticava nos antecessores. A ministra da saúde mantém-se no cargo apesar das sucessivas tragédias que têm ocorrido, mostrando que pensa que não tem nada a ver com as desgraças da área pela qual é responsável... 

Só falta mesmo que, depois do horrível acidente que ocorreu em Lisboa, ninguém assuma a responsabilidade pela inconcebível situação em que a empresa que transporta milhões de passageiros por ano colocou os seus utentes.  Mesmo no estado a que as coisas chegaram parece impossível.

Nota: quem é que garante que os outros equipamentos da Carris são seguros e não põem em perigo os utentes?

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Post scriptum

Ontem quando escrevi o post ainda não tinha ouvido as declarações do Moedas em 2021 a pedir a demissão do Fernando Medina. Depois de ter dito o que disse, o Moedas tinha que se demitir de imediato. É preciso descer muito baixo para utilizar os argumentos que ouvi ontem na SIC para justificar a sua continuidade no cargo. 

É vergonhoso! Não vale tudo! Um comentário de ontem, muito consistente, que agradeço, refere que o que aconteceu pode configurar um crime de homicídio por negligência ou dolo. Assim, parece que seria mais prudente o Moedas preparar a defesa em vez de andar por aí esganiçado, qual beata histérica, a tentar chutar para canto. Cada vez mais estes dirigentes do PSD me parecem aquela cambada que rodeia o Trump: impreparados, sem nenhuma ética, mentirosos e viciados em "fake news".

domingo, setembro 07, 2025

O relatório preliminar
-- Porque aconteceu a tragédia do Elevador da Glória? --

 

Estamos em território minado em que ninguém divulga documento nenhum sem que, primeiro, os advogados o mire à lupa, com mil olhos. 

Sabemos que o tema da responsabilidade civil* e as respectivas consequências é o que agora estará a envolver todos intervenientes, e, quando falo em envolver, é isso mesmo: há que ter mil cuidados, pois qualquer ponta que se deixe solta será usada pelas seguradoras, pelos advogados das partes envolvidas, pela comunicação social, pelos partidos, para triturar impiedosamente o primeiro que se deixe apanhar 'a jeito'. É, pois, a altura de mitigar os efeitos dos danos de toda a ordem, nomeadamente os financeiros, os reputacionais, os políticos. Claro que em background estará sempre o drama dos mortos, dos acidentados. Mas isso já aconteceu. Já não há nada a fazer. Portanto, isso estará presente, claro que sim, mas em background. Quem não está habituado a isto, dirá que há muito cinismo, muita hipocrisia nisto. Talvez, sim. Mas não sei se é isso ou se é o instinto de sobrevivência dos intervenientes. Sei bem o stress que, em situações deste tipo (e nunca passei por nenhuma tão grave, nem nada que se pareça), costuma existir sobre todos: reuniões e mais reuniões, com os circuitos todos da gestão de risco a serem seguidos ferreamente.

Quanto ao relatório sobre o que aconteceu, mais do que saber que foi o cabo solto ou a ineficiência dos freios, é importante detectar a verdadeira causa-raiz que levou a que isso acontecesse. Seja o que for, da minha experiência, o que me parece óbvio é o seguinte: por muito que o relatório preliminar seja prudente e tente dar a entender que o que se passou foi uma fatalidade, pois os procedimentos de manutenção foram todos rigorosamente cumpridos e o condutor agiu como devia, uma coisa é certa: em acidentes desta natureza não há fatalidades -- há, sim, uma ou mais ocorrências como, por exemplo, desgaste dos materiais que não foi devidamente acautelado, falta de adequação dos materiais ou dos sistemas às funções, falta de manutenção com a profundidade, a tecnicidade ou a periodicidade devida, ou a não substituição atempada de peças, equipamentos ou sistemas. E um ou vários desses aspectos serão a causa directa. E é preciso identificá-los.

Mas depois há as segundas derivadas: ou seja, porque é que isso aconteceu? Sub-orçamentação, inexperiência ou inaptidão dos técnicos (quer os da Carris que fizeram o caderno de encargos ou que monitorizam a execução do contrato quer os da empresa externa que efectua o serviço), inadequação organizativa (quem monitoriza ou quem decide sobre falhas ou decisões a tomar), inaptidão da gestão da Carris?

Numa perspectiva séria, para apurar todas as razões (e não para alimentar o espectáculo da comunicação social mas, sim, para evitar que voltem a acontecer acidentes desta gravidade), haveria uma comissão de gente séria, experiente e objectiva, a varrer todas estas vertentes.

Não podem ser totós que embarquem em banalidades, que não vão ao fundo da questão, tem que ser gente que saiba desmontar os argumentos, que saiba pesquisar, averiguar:

- Faz sentido manter aqueles elevadores, lindos, com aqueles materiais, com aquela tecnologia, ainda estarem em funções? Não seria mais seguro haver réplicas perfeitas mas robustas, tecnologicamente modernas, seguras, monitorizáveis e controláveis?

- Faz sentido os serviços de Manutenção continuarem externalizadas? Em caso afirmativo, quem define os moldes em que é executada, quais as fronteiras de responsabilidade entre os serviços internos e os externos (por exemplo, quem assegura os serviços de Oficina, a gestão de peças, quem efectua inspecções periódicas, quem assegura a transmissão de conhecimentos e a formação dos técnicos)?

- etc...

E isto de que tenho falado é uma vertente. Mas há outra: não nos esqueçamos, uma empresa tem accionistas que nomeiam a administração e é a administração que leva ao terreno as orientações que recebe. É o accionista que aprova as linhas estratégicas, os orçamentos, as grandes decisões programáticas. No caso, o accionista é a Câmara de Lisboa. E quem está à frente da Câmara de Lisboa não é uma dinastia ou uma família: são pessoas eleitas, são políticos. Logo, antes de qualquer outra responsabilidade, há a de carácter político.

Carlos Moedas não pode esconder-se atrás das saias do falecido Papa, não pode encostar-se a Marcelo ou a Montenegro nem pode continuar a andar a correr atrás da comunicação social para se gabar de tudo o que mexe ou não mexe. Carlos Moeda, por uma vez, tem que se portar como um homenzinho. A menos que não saiba o que isso é.

* Num comentário abaixo, que agradeço, levanta-se a possibilidade de vir a haver também uma questão criminal. Não a referi por admitir que esse caminho não será trilhado pois, a haver responsabilidades dessa natureza, elas provavelmente seriam de tal forma partilhadas que não se chegaria a lado algum. Mas, de facto, nunca se sabe. Estou a lembrar-me de um caso que não tem a ver com acidentes ferroviários ou afins  mas com saúde pública e o tema foi aí parar, com muitos dos responsáveis da empresa envolvida sentados no banco dos réus. Portanto...

sábado, setembro 06, 2025

A tragédia do Elevador da Glória -- a infeliz ilustração prática do que é a Lei de Murphy?

 

Tenho cá os meninos em casa em regime de pernoita e, em dias assim, tenho dificuldade em mudar o chip para falar de coisas sérias. 

Antes de se ir deitar, o meu marido deixou-me várias sugestões para o que eu poderia abordar no que fosse escrever no blog. Concordei e disse que sim, que o faria. Simplesmente, as minhas mãos estão com dificuldade em falar de concursos públicos, em externalizações, em planos de manutenção, em escassez de mão obra especializada, em gestores políticos de meia tigela. 

É que, tal como ele, também eu posso falar destes assuntos, não do caso do Elevador da Glória em particular, que não conheço, mas destes temas em geral. Mas, para eu falar disto, porque só consigo falar com seriedade e rigor, teria que me alongar. E a esta hora, com os meninos a dormirem nos quartos ao fim do corredor, não sei se consigo forçar as minhas mãos a temas sérios quando só me apetece falar da graça das crianças, do menino que chegou a casa, do treino, já às dez da noite, e, depois, ainda foi tomar banho e, depois, jantar, para pouco depois ter que ir dormir pois este sábado tem que estar a pé cedo já que tem reunião e treino antes das dez da manhã, ou do mais novo, arisco, que me deixa abraçá-lo e dar beijinhos, revelando ser um falso arisco, ou a menina, mais alta que eu, já não criança mas uma bela adolescente, que veio carregada com uma valise dentro da qual se encontram dois necessaires, um com produtos para o cabelo, outro com maquilhagens, sempre toda decidida, toda organizada, e que me faz recordar-me de mim com a idade dela.

Por isso, como conseguir fazer a agulha para os temas que estão na ordem do dia e que, de uma maneira ou de outra, farão parte da causa-raiz da tragédia?

Bem.

Vou tentar. 

Mas vou ver se abrevio. 

Externalizar? 

Sempre fui totalmente contra quando se trata de áreas críticas, de utilização permanente e em que a retenção de conhecimento é relevante. Era a favor em sectores indiferenciados, de utilização sazonal, em que não é requerido conhecimento específico do 'entorno' ou da função. 

No caso da manutenção, em que os técnicos são sempre necessários ao longo do ano, em que é importante reter o conhecimento para que exista um historial de avarias, do que as provocou, da forma como se resolvem, para que acompanhem os novos investimentos e recebam formação no seu manuseio, sempre fui a favor da não externalização. 

No caso da Carris, tendo sido tomada essa decisão há uns anos, e ainda não tendo havido a coragem de a reverter, a única forma de assegurar uma boa manutenção é haver internamente, na Carris, quadros técnicos altamente experientes e conhecedores, que consigam plasmar no caderno de encargos do concurso público, todos os requisitos e, depois, que acompanhem o seu escrupuloso cumprimento: Por exemplo, quais os planos de manutenção preventiva, qual o plano de inspecções, tempos de chegada ao local em caso de manutenção correctiva (e, se já estiverem evoluídos, planos de manutenção condicionada e preditiva). Coloquei entre parêntesis pois temo que os equipamentos do elevadores não estejam ainda sensorizados para emitirem alertas em situações de desgaste, de perda de tensão ou outras situações críticas. Mas o caderno de encargos deve ainda prever de quem é a responsabilidade por gerir os stocks de peças de reserva ou de consumo corrente e de quem é a responsabilidade pelos trabalhos em oficina (está também externalizada? se não, como se integra a sua gestão, num fornecimento externo?). E nos planos dos trabalhos deve estar bem definido o que fazer e com que periodicidade bem como quais as habilitações, formação profissional e experiência dos técnicos que integrarão as equipas. Tudo isto tem que ser, depois, contratualizado e rigorosamente monitorizado.

Como o meu marido referiu ontem, se isto estava tudo bem definido e se nenhuma empresa apresentou proposta no concurso que entretanto decorreu, é porque as empresas concorrentes acharam que, pelo valor base do concurso, não era possível fazer o trabalho. Atendendo a que esse valor é cerca de 20% superior ao que estava a ser praticado, das duas uma: ou a empresa que andou a fazer a manutenção até ao fim de Agosto andou a perder dinheiro, muito dinheiro, ou andava a cortar as unhas, mas a cortá-las muito rentes, ou seja a não fazer o trabalho que devia ser feito, pelo menos de acordo com os requisitos do concurso que ficou deserto. 

O meu filho, no dia do desastre, dizia que parecia ter acontecido o worst-case scenario, aquele cúmulo de azares que, quando a coisa dá para o torto, parece que os azares se atraem uns aos outros: parece ter falhado o cabo, o freio, e sabe-se lá mais o quê. Mas vamos ver se, em cima de tudo isso que se traduziu num número tão elevado de mortos e feridos, não aconteceu ainda um outro. Não nos esqueçamos que, quando acontecem acidentes desta natureza, as indemnizações e os gastos de reparações e outros são exorbitantes. As empresas têm uma responsabilidade civil que, geralmente, está segura (leia-se, coberta por um seguro). Mas, para não pagarem prémios excessivos, limitam a responsabilidade coberta. E está tudo bem... até ao dia em que deixa de estar. Portanto, vamos ver qual o tecto da responsabilidade civil da empresa responsável pelo que aconteceu. Vamos ver se, a seguir a toda a desgraça que aconteceu, não começam a surgir outros dissabores. Claro que não há maior dissabor do que uma vida ser ceifada num acidente destes mas, a seguir, começam a surgir as consequências e, neste capítulo, vamos ver se estava tudo bem acautelado.

E aqui um tema que será certamente avaliado: supostamente, a empresa externa que fazia a manutenção vai ser chamada à pedra e vai averiguar-se se os planos contratados foram cumpridos. Se não foram cumpridos, estará encontrada a empresa responsável. Mas se os planos foram cumpridos e o que se conclui é que os planos estavam mal feitos, aí a responsabilidade reverterá para quem os definiu. E aí entrarão as contendas jurídicas, os pareceres, as complicações que, às tantas, se transformam em complicados enredos.

Mas há ainda um outro aspecto: pelo que vi, a empresa MNTC que fazia a manutenção dos elevadores de Lisboa terá sede num prédio residencial na Margem Sul, um capital social de apenas 15.000€ e 30 trabalhadores. Não consegui encontrar o site, talvez não tenha. Não posso questionar a competência e a estabilidade da empresa e dessas 30 pessoas pois delas nada sei. E também não sei se os trabalhadores que faziam a manutenção pertenciam mesmo à MNTC ou se seriam subcontratadas. É que o que frequentemente acontece, nesta perversidade de externalizar e contratar pelo menor preço, é que as empresas a quem é adjudicado o trabalho, para o conseguirem fazer por tão baixo custo, recorrem à mão de obra mais barata que arranjam (muitas vezes pagando parte do ordenado por baixo da mesa, para pouparem na Segurança Social e nos impostos). Não faço ideia se é o caso mas não me admiraria se fosse.

E ainda um outro aspecto: li que o contrato com a MNTC acabou no fim de Agosto. Não havendo empresa para a substituir (dado o concurso ter ficado deserto), a Carris terá feito um ajuste directo com a MNTC para mais 5 meses. E pergunto: fez contrato? Quais as cláusulas do contrato? O contrato está assinado? Em vigor? Certinho. direitinho? Ou foi na base do 31 de boca? É que, numa situação como a que aconteceu, tudo isto faz a diferença -- e as Seguradoras e os advogados das diferentes partes não costumam condoer-se, é o business deles, costumam defender-se com unhas e dentes, e todas as pontas soltas são boas para desmontar pretensões com pés de barro.

Só espero que o worst-case scenario não se aplique também a estes aspectos, senão a dimensão do problema alastrará e de que maneira. 

Claro que há muitos intervenientes que, de uma maneira ou de outra, têm a sua quota parte de responsabilidade no que aconteceu: no que se refere a questões técnicas, a questões jurídicas, a questões administrativas, a questões de organização e, claro, a questões de gestão.

Mas, acima de tudo, e convém não a relativizar, há a responsabilidade política. Na forma como as empresas sob responsabilidade municipal se organizam, na aprovação do plano de investimentos e do orçamento de gastos correntes, nas prioridades, nas linhas vermelhas, a primeira e última palavra vai para a Câmara que, no caso, funciona como o accionista, o grande decisor.

Estar à frente de uma autarquia não é ser como o Moedas, esse oportunista que parece achar que se nos aparecer, televisão adentro, a toda a hora, em todo o sítio, como um emplastro, sempre a gabar-se, sempre em bicos de pés -- é ele que faz tudo, é ele que pensa em tudo --, uma figurinha ridícula que se acha o máximo. Não. Ser responsável por uma autarquia é tomar as grandes decisões, é garantir que o que é crucial é seguido à risca (por exemplo, é alguém que traça linhas vermelhas como 'nunca por nunca pôr em risco a vida humana'), é assegurar que há medidas de controlo para monitorizar o cumprimento dos planos. Ser responsável é saber gerir prioridades como por exemplo, ser capaz de dizer: 'não vou cortar na manutenção de equipamentos de utilização pública nem na higiene urbana nem no apoio à recuperação de consumidores de droga; pelo contrário, vou aumentar, nem que, para isso, tenha que cortar em dispêndios exagerados como os das Jornadas da Juventude ou outros folclores de utilidade duvidosa'. 

Não sei o que vamos ficar a saber da responsabilidade da tragédia mas temo que conheçamos apenas uma versão superficial das coisas e temo que o Moedas, na sua hipocrisia travestida de beatice, ainda tente reverter o problema, tentando capitalizar a seu favor. Quando, em cima do desastre, o ouvi dizer que Lisboa nunca tinha sofrido uma tragédia desta dimensão (ah não? o terramoto de 1755 não lhe diz nada?) só me fez lembrar o Trump que, na estupidez do seu narcisismo exacerbado, consegue gabar-se da porcaria que faz só porque é uma grande (huge, fantastic) porcaria.

Enfim.

É tarde, daqui a nada a minha maltinha está a pé e, portanto, é bom que eu esteja antes deles. Portanto, fico-me por aqui.

Desejo-vos um bom sábado.

sexta-feira, setembro 05, 2025

Compreender bem o que aconteceu
-- A palavra ao meu marido --

 

A tragédia que aconteceu em Lisboa, no elevador da Glória, é absolutamente chocante e difícil de admitir. Um acidente como este no centro da cidade ultrapassa a perspectiva que temos do que nos pode esperar no quotidiano. É terrível! 

Espero que esta tragédia tenha resultado de uma falha fortuita e imprevisível no sistema. Espero também que o inquérito aponte conclusões para percebermos o que falhou e quais as razões da(s) falha(s). 

Ao ouvir hoje uma parte da conferência de imprensa do presidente da Carris, houve dois aspectos que me chamaram a atenção. 

  • Primeiro, afirmou que os custos de manutenção tinham aumentado 25 por cento, não me lembro se em 3, se em 5 anos, mas só após a pergunta de um jornalista informou que os custos com a manutenção dos elevadores tinham sido os mesmos nos últimos 3 anos (995.000 € por ano). Parece que queria dizer só meia verdade. 
  • Mas o que me suscitou mais dúvidas foi ele ter dito que o concurso para prestação do mesmo serviço para 2025 tinha como valor base 1,2 milhões de euros, e nenhuma empresa tinha apresentado proposta. Quando um concurso fica deserto, geralmente isso significa que nenhuma empresa achou que conseguia fazer o trabalho pelo valor base. E, ainda assim, comparando com o valor que vigorou até agora, estamos a falar de uma diferença para cima, de mais cerca de 20 por cento (mais de 200 mil euros) -- e mesmo por estes valores bem mais altos ninguém apresentou proposta. Face a isso, a Carris vai ter que lançar novo concurso por um valor superior. Admitamos que o valor passará para 1,3 milhões de euros. 

A minha dúvida é: como é que a empresa a que foram adjudicados os trabalhos nos últimos três anos podia prestar um serviço de qualidade, parecendo que o valor que recebia era manifestamente insuficiente. A Carris pagava 995 mil euros, e, de um ano para o outro, o serviço vale mais de 1,2 milhões de euros, provavelmente 1,3 ou mais milhões de euros. Esteve a empresa prestadora do serviço disposta a perder centenas de milhares de euros por ano? Ou, porque o valor não era suficiente, fez algumas economias na prestação do serviço? Gostava de ver esclarecido este ponto.

O Moedas está sempre na televisão a gabar-se do que faz e, especialmente, do que não faz. Devia ter sido homenzinho e ter estado hoje ao lado do presidente da Carris, empresa tutelada pela Câmara, e assumir a responsabilidade política. 

O Marcelo veio dizer que era preciso apurar rapidamente a responsabilidade por esta tragédia. Concordo. O problema é quando se apuram as responsabilidades para nada, ou seja, apesar de conhecidas, ninguém as assume -- e o caso da Saúde tem sido sobejamente paradigmático disso, com a agravante de isso acontecer perante a conivência de Marcelo.

quinta-feira, setembro 04, 2025

Um dia difícil -- e uma notícia horrível ao fim da tarde

 

Primeiro quero ver a situação resolvida. Tenho testemunhado, com alguma perplexidade, como, nos temas da Administração Pública, a forma como os assuntos são resolvidos tem muito a ver com as pessoas (ou as repartições) onde o assunto vai tratar. E há do lado de quem tem o poder de os resolver uma total prepotência. Dizem que é assim e, por muito que esse 'assim' seja absurdo, arbitrário, e mesmo que digamos que no Atendimento Telefónico ou noutras repartições nos tenham ito que pode ser resolvido de outra maneira, respondem que não querem saber, que ali é assim e que estão a cumprir os procedimentos. E tenho testemunhado, repetidamente, que dali não saem. Pode o assunto ficar empancado e podemos tentar mil abordagens que não adianta.

Por isso, não quero cutucar a fera com vara curta. Vou manter-me sossegada até ter o mais recente assunto resolvido. Há outro dos assuntos de que já desisti com grande prejuízo meu e apesar de ser a coisa mais aberrante do mundo. Mas desisti. Não tenho energia para continuar a marrar numa parede que não cede, só a minha cabeça é que fica moída. Mas este último assunto estou em crer que vai ficar resolvido. E aí apresentarei uma reclamação e tentarei expor o absurdo e a prepotência a que nos submetem.

Por ora limito-me a dizer que foi mais um daqueles stresses em que parece que tudo corre mal, em que parece que estão a fazer um favor, em que, no fim, quando depois de para ali estar a apresentar papéis, a preencher, a assinar, a esperar, a bolinha baixa, baixinha, e penso que finalmente vou conseguir sair de lá com tudo resolvido, não senhor. Dão-me um papel em como entreguei um papel. E o chefe irá analisar e irá resolver. Haverei de receber em casa o que houverem por bem resolver. E boa tarde.

Como sempre me acontece, e há-de haver uma explicação para isto, quiçá somática, saí de lá a sentir-me meio esgazeada, desidratada de todo. Para além disso, aflita para fazer chichi. Por inacreditável que possa parecer, num local daqueles em que uma pessoa pode passar uma tarde, não há casa de banho. 

Portanto, saí de lá exaurida, a sentir-me agredida, violentada, e sem vontade de falar, e, como se já não bastasse, também com vontade de ir a uma casa de banho e com vontade de, a seguir, ir repor os meus níveis funcionais. E assim foi. Depois de descobrir uma casa de banho, fui a uma pastelaria e comi um bolo altamente calórico e altamente glicémico e bebi um sumo fresco também altamente glicémico. O meu marido, que não foi comigo tratar dos assuntos (e ainda bem que não foi, senão ainda armava para lá um escabeche), mas que, depois, me acompanhou à pastelaria, estava escandalizado, que eu não tinha cuidado nenhum com o que ingeria, que era um total disparate, tanta caloria, tanto açúcar. Mas, vá lá eu perceber porquê, sentia que precisava mesmo daquilo para ressuscitar e voltar ao meu estado habitual.

Quando cheguei a casa, despi-me, refresquei-me (ainda por cima estava um calor dos diabos), reclinei-me no meu cadeirão relax e, claro está, adormeci profunda e instantaneamente.

Quando acordei ainda me sentia meio esvaída. Pode parecer um exagero da minha parte mas não imaginam o que isto me maça. Eu sou muito prática, gosto de resolver tudo, de resolver rapidamente, de resolver da forma mais ágil e mais eficiente. E ver-me manietada, sujeita a ter que aceitar a falta de ritmo e os absurdos procedimentos públicos, o não poder fazer nada para ajudar a desbloquear imbróglios evitáveis, estúpidos, que não deveriam existir, o ter que me resignar a aceitar que me imponham métodos, procedimentos e prazos que ultrapassam tudo o que é razoável, desgasta-me moral e fisicamente, fico exausta, exangue.

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Enquanto escrevo, estou a ver a reportagem do desastre com o elevador da Glória. Um horror. Tantas e tantas vezes passei por ali, por São Pedro de Alcântara, tantas vezes me encantei com a graça daquele elevador, tantas vezes o fotografei. Imagino a aflição das pessoas que lá iam ao sentirem como aquilo se desgovernou. Deve ter sido uma fração de segundo. E, na fracção seguinte, 15 pessoas antes felizes, estavam mortas. E 18 ficaram vivas, no meio daqueles destroços, mas feridas, algumas em estado grave. Um horror. A vida, por vezes, é traiçoeira.

O que se passou, por que se passou, o que falhou -- isso se verá a seguir. Para já, o que sinto é muita pena ao ver o que se passou.

quarta-feira, setembro 03, 2025

E não digam que elas não avisaram...


Diziam que estava morto. Vários dias sem aparecer quando toda a gente que se pela por falar aos jornalistas, três conferências de imprensa por dia, e isto numa altura em que as mãos aparecem cheias de derrames (que ele tenta cobrir com base), que se esconde atrás de mesas para ninguém ver os tornozelos inchados a transbordarem dos sapatos. 

Depois, quando apareceu, disseram que os da Segurança andavam a passear o morto. Tornaram-se virais os memes que parodiavam o fim-de-semana com o morto em que o morto era ele, de polo branco, barrigudo, e com aquele boné encarnado ridículo a dizer 'o trump teve razão em tudo'. Depois, quando ele falou mas sem aparecer, disseram que não estava bem, que a voz estava estranha, que mais parecia um tate-bitate a falar, que o mais certo é que tivesse tido um avc. Depois apareceu em pessoa e viu-se que, afinal, não só estava vivo como continuava igual a ele. Vi um pouco: continua repulsivamente megalómano, narcisista, doido varrido. E vingativo e pronto para levar a dele avante, seja lá o que for que lhe passe pela cabeça. 

Os avisos sucedem-se: ele é autoritário, incompetente, ignorante, maníaco, e quer fazer dos Estados Unidos a sua coutada, usar o país em seu próprio benefício. Expulsa e maltrata aqueles que elegeu como inimigos, silencia os que o denunciam, corta financiamentos aos que ousam ter voz própria, despede os que mostram independência. Explicam: foi assim que nasceu o nazismo, foi assim que se espalhou o fascismo. 

Agora meteu na cabeça que ser ser Nobel da Paz e anda a espalhar que já acabou com várias guerras. Começou por falar em quatro, depois passou para seis, agora já vai em sete. Tudo aldrabices sem ponta por onde se lhe peguem. Mais parece um filme cómico, tanto o disparate.

O Putin, então, anda a gozar com ele mas a gozar à cara podre: depois de o tourear no Alasca, agora anda a mostrar que faz dele o que quer e, às claras, mostra quem é a sua turma. Chama a Xi Jinping 'querido amigo' e, na volta, vai dizer o mesmo a Kim Jong-un e aos outros ditadores da grupeta que se juntou em Pequim. Aposto que os amigos do PCP, que tanto defendem Putin e que não conseguem ver porque é que o resto do mundo acha que Kim Jong-u é um ditadorzeco, também gostavam de ter sido convidados. Afinal, sentir-se-iam em casa porque aquilo lá, aquele grupinho de ditadores, é tudo uma maltosa que também abomina a Europa, a democracia, o livre pensamento.

Há muita gente que anda a falar publicamente contra Trump, a denunciar as suas patranhas, as suas jogadas de risco, o seu autoritarismo que não conhece barreiras nem lei. 

Mas hoje trago aqui um grupo de avozinhas que acho o máximo: as extraordinárias Piedmont Raging Grannies. Acho-as o máximo. Quando tendo a cair na desesperança, vejo coisas assim e encho-me, outra vez de esperança. Resistir. Resistir. Resistir. De todas as maneiras.

Tem que se arranjar maneira de furar a tacanhez, a grunhice dos burros do Maga, e, talvez com coisas assim, alguns, sentindo-se gozados, se sintam levemente vacilantes. Não sei. Mas, pela parte que me toca, diverte-me partilhar isto. Tenho a certeza de que no dia em que Trump (e J.D. Vance, esse outro bicho asqueroso que anda danadinho para tomar o lugar do palhaço-mor cor de laranja) caia e os Maga percebam a banhada que é o trumpismo, todos os movimentos populistas que por aí despontam também vão sofrer um revés. O Ventura inflou como inflou alavancado pela vitória de Trump -- é certo que levado ao colo pela Comunicação Social e depois levado em ombros pelo Mentenegro.

Fascist Donald Has a Game  -  Piedmont Raging Grannies


Trump is in the Files  -- Piedmont Raging Grannies

He’s trying everything he can think of to distract from breaking his promise to release the #Epstein files. So, here’s a reminder! 

Vivam as avozinhas! 
-- estas e as de todo o mundo, em especial as que se mantêm vivas, jovens, com a cabeça arejada.

terça-feira, setembro 02, 2025

Estas contradições que alimentam os nossos dias

 



Hoje não estou inspirada. De tarde, quando estava num outro comprimento de onda, por sinal até animada e já com ideias para uma outra coisa, recebi um telefonema: 'Não tenho boas notícias...'. E, pronto, uma bomba. Uma inesperada bomba. E aquilo que eu achava que estava encarrilado e a caminhar para uma boa solução voltou à estava zero. 

Fiquei ali um bocado a digerir. Uma desilusão que não vem nada a calhar. 

Mas depois respirei fundo. Nestas situações, respiro fundo. Penso no que se segue. É coisa minha: para estes contratempos, tenho um mantra: há mais marés que marinheiros. E tenho outros, todos igualmente banais. Mas é nas grandes banalidades que se escondem as grandes verdades.

Portanto, bola para a frente.

Claro que tinha pensado regar a parte da frente da casa, e, com isto, passou-me a vontade. Não me apeteceu, fiquei com pouca energia.

Gostava que caísse uma pinga de água. Mas nem uma. Detesto quando vejo a terra seca, só me apetece que caia não uma pinga mas uma chuvada das valentes. Mas nada, nem sinal de água. Amanhã talvez regue. 

Depois fui para a cozinha e fiz uma bela bacalhauzada. Bacalhau com todos é sempre uma coisa boa, aquece a alma. 

O passeio que fizemos à noite foi diferente: foi feito já bem de noite e debaixo de frio. Os dias encurtam a um ritmo desconcertante. E arrefeceu bastante. Levava calções relativamente curtos mas, por cima da tshirt, levava um casaco já um pouco quente. Soube-me bem. De início senti frio nas pernas mas, com o andamento, ficou até agradável. Cheguei a casa arrebitada, a pensar que amanhã é um novo dia. Todos os dias são um novo dia.

E todos os dias vão chegando notícias: alguém que faz anos, um menino que foi convocado e a quem o jogo correu bem, um menino que compõe um rap a gozar com os primos, uma menina que monta e edita um vídeo para o mano, outro menino que vai passar uns dias com a namorada, outro que começa um novo desporto, e depois chega uma notícia triste, alguém que morreu, alguém que nos faz pensar aquilo que tantas vezes piedosamente pensamos, que mais vale que morra do que sofra, e até nos esquecemos que ninguém devia sofrer assim nem assistir à vinda da morte de dentro do próprio corpo, e depois já é uma amiga que vai viajar e todos lhe desejamos uma boa viagem... e a vida vai andando, um dia depois do outro, e depois outro, e depois outro, todos os dias muitas coisas, coisas díspares, umas que nos fazem felizes, outras que nos entristecem, mas não param, a seguir a uma vem outra e outra e outra e outra.

E ainda bem que é assim. Só assim, porque temos termo de comparação, sabemos dar valor às coisas boas, só assim nos obrigamos a viver com vagar e apreço os momentos bons. 

E pronto, vou-me, não posso ficar por aqui senão não paro de dizer lugares comuns. 

Tenham um belo dia, ok?

segunda-feira, setembro 01, 2025

Sou seguidora do Padre David Gierlach, confesso

 

Há muitas coisas perversas nas redes sociais e, desde logo, a terminologia. Ser seguidora ou ter seguidores é qualquer coisa que, por si só, me causa aversão. É um conceito que me é adverso. Não sou seguidora de ninguém e agradeço que também me larguem a bainha da saia. Mas, nas redes sociais, é assim que funciona e é o abstruso nome escolhido, portanto, nada a fazer.

Também me faz impressão o hábito de deixar corações. Só em casos raros me lembro disso, geralmente porque aquilo me toca de forma particular. 

E é tudo tão estranho para mim que ainda nem sei que nome dar às coisas. Digo 'aquilo' porque nem sei como nomear. Post? Feed? Reel? No outro dia estava a publicar um dos meus vídeos marados e sem querer escolhi uma opção. Pensava que tinha escolhido feed mas, ao avançar, pareceu-me que era uma reel. Ainda não me dei ao trabalho de perceber as diferenças mas, por via das dúvidas, recuei e avancei como feed. Afinal hoje verifiquei que estão os dois publicados, ao lado um do outro. Dois vídeos iguais. Uma coisa mesmo burra. Claro que poderia ir ver como apagar um deles, porque aquilo assim não tem jeiteira nenhuma. Mas também não me apetece. 

Mas, voltando aos corações, o que acontece é que, por muito que me agrade, o meu gesto habitual é o de passar adiante, ao post seguinte. Não é por desinteresse ou de propósito: é simplesmente porque nem me ocorre parar e assinalar um coração. Identicamente também nunca vou ver se me puseram corações ou comentários. De vez em quando, reparo nisso. Mas é por acaso. Na vida real também não faço as coisas à espera de receber palmadinhas nas costas. Se as pessoas gostam e querem manifestá-lo, tudo bem. Mas se não se manifestarem está tudo bem na mesma. 

Em casos excepcionais, guardo (isto é, marco para guardar) algum post do instagram. Mas guardo apenas porque, como geralmente não sei o nome dos autores, se quiser voltar a ver, se não guardar, já não consigo recuperar. É que aquilo é uma espiral infinita, o mundo inteiro canalizado para aquele interminável, sempre vivo, desfiar de coisas.

Mas isto para dizer que, como o algoritmo mostra infindáveis coisas, sempre que vejo alguma coisa que me parece interessante, marco para seguir. E isto para ver se o algoritmo não se esquece de me mostrar o que essa pessoa for publicando. Com isto já estou a seguir mais de 3.600 pessoas, a maior parte das quais não portuguesa. 

E o que tenho que constatar é que, na realidade, se uma pessoa se focar no que lhe interessa, o algoritmo acaba por perceber os nossos interesses e desencanta matéria que sem dúvida vai de encontro aos nossos gostos. No meu caso, maioritariamente mostra-me temas de política (a larga maioria) -- política do lado democrático --, de arte, de arquitectura, de decoração, de jardinagem, de ciência, de saúde. E, aqui, tenho que reconhecer que acompanho as opiniões ou os ensinamentos de pessoas cuja existência desconhecia, e isso, sem dúvida, é uma tremenda mais valia das redes sociais.

Só vejo o Instagram. Embora a minha filha tenha definido que cada coisa que publico no instagram vai parar ao facebook, a verdade é que nem me lembro disso, e quando, muito esporadicamente, lá vou -- pois tenho a caixa de correio cheia de mails a avisar-me que tenho notificações, pedidos de amizade e mensagens no facebook --, quando lá chego é tal a confusão que geralmente arrepio caminho. O Instagram tem um look and feel mais arejado, mais moderno, mais organizado. O facebook tem um aspecto mais antiquado, e, sobretudo, parece-me uma balbúrdia, não encontro o que procuro, perco-me a meio do caminho.

Mas isto a propósito de um personagem que me apareceu e que me surpreendeu pela positiva. Marquei para seguir pois fiquei a modos que intrigada. E agora, de vez em quando, aparece-me. E vejo de gosto. Um padre interveniente, um padre que fala sem ser por meias palavras, um padre que parece interessar-se, deveras, pelo bem das pessoas. Não fala em nome da Igreja, essa veneranda e imbeliscável insttituição, mas em nome das pessoas. Casca no Trump que não é brinquedo, mas casca de forma serena, civilizada. Gosto de ouvi-lo. Não deixa passar uma. Fr David Gierlach. Seria interessante que, por cá, também tivéssemos padres a desmontarem as alarveiradas do Ventura ou, em geral, as patacoadas dos populistas, escondam-se eles em que partido se esconderem. Mas, se temos, nunca dei por nenhum.

Como não consigo colocar aqui os vídeos do instagram, fui à procura no youtube. Mas não fui bem sucedida: só há uns 3 ou 4 vídeos e não têm nada a ver com o que ele publica no instagram, são vídeos de sermões. Mesmo assim, para que o conheçam (caso ainda nunca tenham ouvido falar dele), partilho aqui um. Mas os que ele coloca no Instagram denunciando as estuporadas decisões e comportamentos do Trump são outra coisa. Se têm possibilidade de ver, aqui está o link para a página dele https://www.instagram.com/davidgierlach/. Creio que também tem conta no Facebook.

Este é apenas para o conhecerem.

Your Weekly sermon: nice or real?


Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

domingo, agosto 31, 2025

Activos destes & daqueles
-- A palavra ao meu marido --

 

O Marcelo, que corre o risco de ficar para a história como o hipócrita-desbocado -- já que seria  muito pouco sexy ficar com o extenso cognome de hipócrita-dissolvente-"marselfie"-o pior PR-desbocado -- disse, no meio de uma aula da universidade laranja, do alto da sua verve incontinente, que o Trump é um activo russo (por acaso até se enganou e primeiro chamou-lhe ativo soviético). 

Desta vez, concordo com o Marcelo. O Marcelo tem razão: pelas suas ações e omissões o Trump é, de facto, um activo russo. Não sei se não será mesmo um activo soviético porque, com a forma como actua, dá força ao objetivo do Putin de voltar às fronteiras do estado soviético. 

Tenho uma enorme repugnância em falar do Trump. É inqualificável o que ele está a fazer, tanto a nível interno como ao Mundo. Mas, neste caso, como em outros ao longo da história, o que é verdadeiramente insuportável e aterrador é que o Trump tenha sido eleito de forma democrática e continue a ser suportado pelos MAGA cuja acefalia demonstra até onde pode ir a manipulação, o populismo, o poder das redes sociais e a falta de educação. 

[Sofre da mesma acefalia dos MAGA quem recentemente comentou um post aqui do blog dizendo que o problema com o SNS, com os bombeiros, com isto e aquilo resulta do nosso apoio à guerra da Ucrânia. É absolutamente inconcebível que alguém possa pensar e escrever este tipo de coisas. Nada justifica este tipo de mentiras. A  manipulação dos factos e uma mentira muitas vezes repetida não alteram a realidade.]

Voltando aos activos, não me espantará nada se o Marcelo numa próxima universidade de Verão ou, quem sabe, numa tertúlia, disser que o Montenegro é um activo do Ventura, que a Mariana Leitão é um activo do Montenegro, que o Nuno Melo nem chega a activo, e que ele próprio é um hiperactivo. Vale uma aposta?

Nota: já aqui tinha referido o "êxito" que o governo tem tido no combate à inflação. Ontem soubemos que o valor da inflação subiu para 2,8% e que os produtos frescos aumentaram mais de 7%. Sendo conjuntural, como defendem os analistas inclinados para a direita, ou, sendo estrutural, o que é verdade é que esta enorme subida dos preços não é um activo para a bolsa dos portugueses.

sábado, agosto 30, 2025

Trump está a apodrecer? Epstein, o pedófilo compulsivo, tomava testosterona? Ghislaine apenas tinha por missão arranjar massagistas para Epstein, de preferência bem novinhas? Trump vai conceder perdão a uma traficante sexual de menores?
Isso e muito mais no saboroso podcast do The Daily Beast com a encantadora Joanna Coles e o fantástico Michael Wolff

 

Tenho andado bastante ocupada, já contei, mas, sempre que posso, e agora posso, intervalo. Ou seja, como agora parece que as coisas estão a encarrilar, fico logo a sentir-me de férias, com vontade de vadiar, de preguiçar. 

Para a semana vou ter mais um daqueles episódios numa repartição pública para os quais vou em modo panela de pressão, como se só estivesse à espera que me ofereçam o pretexto para lhes cair em cima a pés juntos. Mas, ao mesmo tempo, forço-me a enfaixar-me numa camisa de forças de humildade e resiliência pois sei que dependo da boa vontade de burocratas que já provaram à saciedade que são quadrados, retrógrados, embirrantes, quezilentos, prepotentes, daqueles que parece que também estão à espera que a gente lhes dê pretexto para pedirem mais cinquenta papéis, um dos quais, inevitavelmente não temos ali connosco. Portanto, forço-me a assimilar que tenho é que ir em modo bolinha baixa. E isso, só por si, encanita-me e não é pouco. Portanto, tento não pensar no assunto.

E, assim sendo, neste ínterim, rego, varro, fotografo, faço videozinhos para o instagram que deixam o meu marido a navegar na ambiguidade, entre o sorridente e o resignado, como se não percebesse o objectivo mas também já não estranhasse e até achasse graça ao absurdo. E, à noite, vejo alguns vídeos sobre temas que me interessam. E há muitos. 

A minha insaciável curiosidade deveria fazer dilatar o tempo para que eu conseguisse ver tudo o que me interessa. E, se calhar, deveria ir partilhando aqui, convosco, os vídeos que despertam o meu interesse. Mas não sei se faz sentido isso. Tenho que pensar. No outro dia vi um vídeo sobre um tema de física que me deixou a salivar e que me tem levado a ver outros, tão misteriosos e poéticos que nem parecem lidar com partículas elementares e com as leis que regem os seus movimentos. Ora não sei se é tema que desperte interesse por aí além a quem ande ocupado com temas mais concretos e emergentes...

Mas um dos podcasts que gosto sempre de ouvir/ver é um sobre esse buraco negro e putrefacto que é a cabeça do Trump: Inside Trump's Head, do Daily Beast.

Partilho o episódio que vi hoje. É longuito e creio que não dá para legendar. Mas para quem esteja familiarizado com o inglês, dá para acompanhar muito bem pois falam a um ritmo educado e têm uma boa dicção. É todo um outro mundo, um mundo em que ninguém fala verdade e em que as relações entre uns e outros são suspeitas, estranhas, indecifráveis. E em que um dos intervenientes é talvez o homem mais ridiculamente poderoso (e perigoso) do mundo.

White House Raging at Trump's Health Crisis: Michael Wolff | Inside Trump's Head

Joanna Coles and Michael Wolff dig into the explosive Trump DOJ transcripts of Ghislaine Maxwell’s meeting with Todd Blanche and what they reveal about Jeffrey Epstein’s finances, Donald Trump’s anxieties, and more. From the talk in the White House of Trump “keeling over” and the President’s obsession with Ghislaine Maxwell, the conversation unpacks Trump’s paranoia, monied moves, and lingering ties to Epstein’s world. With fresh Epstein details overlooked by the mainstream media found within Maxwell’s proffer, Wolff explains how Trump’s past scandals keep colliding with his present.


Desejo-vos um belo sábado

sexta-feira, agosto 29, 2025

Felca, o Senhor Influencer

 

Virou a mesa, destapou a tampa, atirou a bomba para cima da mesa. Mais de 49 milhões de pessoas já viram o seu vídeo Adultização. É obra. Na sequência na sua denúncia pública, já se legislou e a polícia já actuou. 

Ao ver este jovem (tem 27 anos) com uma figura algo bizarra a agir de forma tão determinada e corajosa, a demonstrar um sentido ético de responsabilidade cívica, fico a pensar que isto, sim, isto é um influencer a sério.

O tema que ele estudou e denunciou é tema que a mim me revolve as entranhas, me petrifica, me assusta a sério pois é como uma onda gigante a que dificilmente se consegue resistir caso nos passe por cima, ou, pior, se passar por cima de crianças. A única coisa a fazer é fugir, não estar por perto. Mas não é fácil pois o poder dos algoritmos e a difusão generalizada das redes tornam os perigos grandes demais.

Felizmente alguém como um improvável Felca -- e digo isto na maior ignorância pois só recentemente sobre a sua existência -- veio denunciar a exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais, muitas vezes pela mão dos próprios pais, a adultização, a exploração a chantagem, os riscos tremendos das redes sociais que colocam os indefesos na rota dos predadores, dos pedófilos, dos criminosos de toda a espécie.

Sobre o Felca, transcrevo da wikipedia:

Felipe Bressanim Pereira (Londrina, 25 de julho de 1998), mais conhecido como Felca, é um youtuber, influenciador digital e humorista brasileiro. Conhecido por seus vídeos de reação e sátiras de tendências da internet, começou sua carreira como streamer em 2012, produzindo vídeos de jogos eletrônicos. Com o tempo, reformulou seu conteúdo e passou a criar vídeos humorísticos, principalmente com tom autodepreciativo.

Ganhou notoriedade em 2023 ao testar a base "We Pink", de Virgínia Fonseca,[1][2] e com vídeos criticando lives de NPC no TikTok,[3] que lhe renderam 31 mil reais, doando todo o valor arrecadado para instituições de caridade.[4] Em 2025, desmantelou uma rede de exploração sexual de menores com um único vídeo sobre adultização,[5] no qual denunciou várias pessoas associadas à exploração sexual de menores de idade na Internet, entre elas, o influenciador Hytalo Santos, que perdeu sua conta no Instagram após a repercussão negativa, e rendeu debates sobre a criação de leis para combater a exploração sexual de menores na Internet. (...)

Mas calo-me já e partilho uma conversa elucidativa na qual Bial eleva ainda mais o Felca a figura pública de excelência. 

Felca à conversa com o Bial sobre Adultização  


E, claro, aqui está o vídeo Adultização que, por muito que nos custe, tem mesmo que ser visto (a bem da compreensão deste fenómeno e a bem da defesa das nossas crianças e dos nossos jovens)

Adultificação



De "coordenação espetacular" a "nem tudo correu bem" ... para irmos acabar no "colapso"
-- A palavra ao meu marido --

 

O Marcelo armou-se em bombeiro e saiu chamuscado. Quis ajudar o Montenegro e foi dizer ao jantar que estava tudo a correr bem, até a "coordenação era espetacular". Perante a evidência dos factos lá vieram, a muito custo, o Montenegro e a ministra afirmar que afinal "nem tudo tinha corrido bem". De facto, depois das catástrofes que aconteceram (entre outras coisas, fico pasmado com um dos incêndios ter durado 12 dias, parece-me quase inverosímil!), era impossível manter a tese de que tudo tinha corrido bem. Vamos ver se depois de uma análise independente da forma como actuaram os vários agentes não se chega à conclusão que, de facto, de facto, vendo bem as coisas, houve um colapso do sistema. 

Para se resolver a crise a ministra anunciou a "chapa um" do governo quando há problemas: analisar os factos para "empurrar com a barriga" e deixar passar o tempo, e, entretanto, atirar dinheiro para cima. Parece-me até um pouco vexatório para os bombeiros, que todos temos por pessoas abnegadas e não venais, vir anunciar um aumento de 25% do salários aos que combateram na linha da frente. Para além de refletir a versão mercantilista do governo, põe a nu as vistas curtas da ministra e provavelmente do PM que não percebem que, em situações de crise, a retaguarda é tão ou mais importante que a linha da frente. 

Mas nada de razoável se pode esperar destes governantes. Lá perdeu o Marcelo outra vez uma boa oportunidade de estar calado.

Hoje ouvi o Paulo Raimundo, que estava inspirado. Diz ele que há hoje uma "conjugação" das forças de direita em Portugal, e concretizou: a AD executa a política, a IL é a lebre ideológica e o Chega é o arrebanha. Ora apontem aí que esta é boa!

quinta-feira, agosto 28, 2025

Santa vidinha

 

Vidinha de aposentada é assim: ginásio, caminhadas, leituras, passeios à beira-mar, fotografar, papar sushi, preguiçar, regar, cumprimentar os conhecidos. Uma santa vidinha, na verdade.

Só que, pelo meio, aparecem sempre cenas. 

Estive até agora, e já passa das duas da matina, a rever um contrato. Chegou-me tarde e, claro, poderia fazer de conta que não tinha visto e só pegava nele de dia, quando tivesse tempo. Vidinha boa de aposentada tem destes privilégios, pode fazer-se o que se quer, quando se quer. 

Se, com carinha lampeira, talvez até deixando implícita a minha condição de sénior, disser, olha, quando vi já estava com sono, depois, de manhã. tive que dar banho ao cão, quem é que vai pegar no meu pé? Ninguém, né? 

Acontece que ainda tenho agarradas a mim as células velhas de quando trabalhava. Bem que já poderiam ter-se renovado, e eu, toda eu, ser outra, despreocupada. Mas não. Feita eu quando era assalariada, mal me chega alguma coisa para fazer, só se não puder é que não ponho logo na calha. E, se na calha não estiver nada de mais importante, é logo. Claro que poderia pensar para mim própria que coisas mais importantes era o que não faltava: ver as notícias, ver o instagram, irritar-me com os comentadores. Mas não. Parece que aquela coisa de primeiro as obrigações e só depois as devoções também continua peçonhentamente agarrada a mim.

Portanto, aqui estive a ver cláusula a cláusula, a consultar o código civil e o rebeubéu pardais ao ninho, a fazer análise comparada com outros contratos, a assinalar as alterações, etc., a trabalheirazinha do costume. 

Conclusão, a esta hora, sei lá eu sobre o que é que hei-de aqui escrever? Não sei... Aconteceu alguma coisa digna de registo? Não sei.

Por acaso, li, de relance, que se percebeu aquela coisa da falha tectónica que justifica aquela quedazinha maçadora para os sismos cá do burgo. Mas não sei mais do que o título pelo que não me aventuro a botar faladura. Além do mais, não é tema que me ponha aos saltinhos. Se aquela coisa da fissura das placas for coisa que dê para preencher com silicone para isto não dar de si, tudo bem. Agora se é coisa sem remédio e a dita falha não vai fazer senão agravar-se, então, obrigadinha, mas não venham para cá incomodar-me com o tema pois passo bem sem ralações adicionais.

Por isso, peço desculpa mas, não havendo nada mais a declarar, aos costumes digo nada e avanço para os meus aposentos. E o que eu estimo é o que eu desejo. Sinceramente. 

quarta-feira, agosto 27, 2025

Traçando a bissetriz ao dia, obtenho uma linha quase luminosa

 


Tenho andado atarefada com umas cenas. A coisa parece ter-se quase solucionado mas, em sequência, nasceram mais uma série de tarefas. E digo tarefas para não dizer trabalhos. Mas que alguns têm sido uma carga de trabalhos, lá isso, têm.... 

Hoje voltou a ser um dia desses. Tive que acordar com despertador, coisa que abomino, coisa que parece trazer-me de volta os tempos em que acordava sempre com sono e que me levantava a saber que ia ter um dia de cão. Depois houve de tudo um pouco, incluindo estar quase duas horas num serviço público, a espumar de impaciência. Poderia tratar-se remotamente mas não seria tão rápido e, neste caso, a rapidez é um factor crítico. Depois, num outro assunto, ocorreu um erro a que ninguém conseguiu atribuir responsabilidades que nos obrigou a andar, debalde, para a frente e para trás para, no fim, ficar agendado para outro dia. Ou seja, foi daqueles dias, cheio, cheio, mas saturante, saturante. 

Ia dizer que foi um dia perdido mas, na realidade, se não me armar em queixinhas e em fatalista, não foi. Tratei de várias coisas e isso não é despiciendo pois temia que surgissem complicações que atrapalhassem tudo e, afinal, as coisas parece que estão mais ou menos encaminhadas. 

Não sei que paranoia minha é esta mas, quando vou tratar de qualquer coisa de tipo administrativo/ burocrático, parece que desce em mim um quase medo, uma espécie de impotência. Quando chega a minha vez, e quando me sento e explico ao que vou, sou invariavelmente atacada por funcionárias que tentam apanhar-me em falta: Trouxe o papel tal e tal? Trouxe o comprovativo tal e tal? E olham para mim como se estivessem preparadas para me dar a estocada final, a de que não se poderá tratar de nada por conta do meu erro ou omissão. Por isso, vou sempre preparada para o pior, carregada de papéis, sempre preparada para sacar de todas as armas para tentar defender-me de ataques que são mais do que certos.

Mas, apesar da longa espera e de várias trapalhadas, desta vez a coisa não correu mal de todo. Pelo menos, até agora. 

O que sei é que, com isto tudo -- e, nestas coisas, não sei porquê, desce-me sempre a tensão arterial e, porque nunca me lembro de levar uma garrafinha de água, acabo também a sentir-me desidratada, meio zonza -- quando acabámos uma das tarefas, por volta das duas e tal, olhámos em volta, estafados, esfomeados, e pensámos que tínhamos que almoçar por ali mesmo. Vimos uma pizzaria e foi ali sem tirar nem pôr, na esplanada. Soube-nos bem. 

Estávamos naquilo, ouvi uma voz que me pareceu conhecida. Olhei. Era mesmo. Uma conhecida actriz de telenovelas e não só. Julgava que fosse bem mais alta mas é bonita e elegante. Sorridente, creio que com o marido e filhos. Mas parece que na televisão as pessoas parecem mais altas do que são na realidade. Facto irrelevante, bem sei.

E, ao fim da tarde, depois de outra missão, neste caso, incumprida, ainda conseguimos passear por um sítio bem bonito, tranquilo. Caminhámos sob uma doce luz dourada, fiz umas fotografiazitas, descansei a cabeça.

Ao virmos para casa, já tardote, estava a apetecer-me caracóis ou um gelado. Mas, cansada como estava, já não tive pachorra para desvios, só me apetecia vir para casa. Além disso, queria ir regar uma parte do jardim que, no outro dia, descobri que não tem estado a ser regada pela rega automática. Esta coisa da rega é uma carga de trabalhos: agora acho que é uma electroválvula que está entupida ou estragada. Mas também não sei se estamos com paciência para cá termos mais artistas a mexerem naquilo. Acho que prefiro regar com mangueira. Poderíamos arriscar sermos nós a pôr uma nova mas, às tantas, ainda estragamos mais. Por isso, para já, acho que fica assim. 

E é isto. Não tenho respondido nem agradecido os comentários pois tenho andado ocupada e com a cabeça cheia de preocupações e chatices. A ver se um dia destes, agora que as coisas parece estarem a serenar, volto a ter mais disponibilidade mental. 

E é verdade: há por aí, entre vocês, Caros Leitores, alguns sonsos, alguns manhosos, algumas más pessoas, que aqui vêm deixar comentários maldosos, parvos, mal educados. Como têm reparado, não os tenho publicado nem vou publicar. Não sei o que pretendem, se é apenas chatear, se é condicionar, se é outra coisa qualquer. Mas já deveriam ter percebido que é tempo perdido: bem podem vir para aqui despejar a vossa maldade e a vossa falta de educação que isso a mim passa-me ao lado. De gente estúpida quero é distância e só não percebo porque insistem em vir aqui visitar-me se não se reveem em nada do que digo. Portanto, bem podem escrever comentários alarves, ordinários, trogloditas ou, simplesmente, parvalhões, que já sabem, estão a escrever para o boneco. 

terça-feira, agosto 26, 2025

Os sucessos do Montenegro
-- A palavra ao meu marido --

 

Depois das tragédias na saúde, da catástrofe dos incêndios, do pavor da habitação -- e fico-me por aqui que só estes três enormes problemas são bem reveladores da incapacidade e incompetência do governo -- soube de duas notícias que me causaram causaram preocupação. 

A primeira é o valor da inflação. As medidas do governo não funcionam, a inflação vai aumentando e o nosso posicionamento na Europa não é nada confortável. De facto, julgo que até os laranjas empedernidos devem achar que o valor que deixam no supermercado, no mercado ou na mercearia é cada vez maior, e parece injustificável. Vai mal a tal história da inflação, muito mal.

Uma outra notícia deveras preocupante é ter diminuído significativamente o número de alunos candidatos ao ensino superior, tendo esta diminuição impacto significativo nos jovens com menos recursos. Um País nunca crescerá de forma integrada e coerente se não tiver gente educada e com boa formação pelo que estas notícias são muito preocupantes e consequência seguramente de problemas no ensino e na falta de recursos das famílias. Podemos dizer que temos aqui mais um "enorme sucesso" do governo.