Os dias andam férteis em notícias. E já sabemos que boa notícia é a má notícia. Saltou a Secretária Alex dos Louboutins, saltou o Pedro Nuno dos aeroportos e vamos ver se fica por aqui. Em cima disso, com os comentadores políticos ao rubro, excitados com o cheiro a sangue, todos convocados para todas as horas em todos os canais, eis que morre o Pelé. E, pimbas, lá têm que saltar também todos os comentadores futebolísticos para todos os canais, a todas as horas. A malta nas redações certamente à nora para ver como encavalitar os alinhamentos.
A seguir morre a Vivienne Westwood e a sorte é que não há assim muitos comentadores de moda ou, pelo menos, não estão devidamente cadastrados para poderem ser requisitados de supetão.
Um dia destes vai ser o Emérito Ratzinger e aí será também o bom e o bonito. A esta hora tudo o que é beato, acólito, sacristão, bispo, teólogo ou simplesmente santinho já deve estar a ser posto de prevenção para saltar à cena mal Sua ex-Santidade descanse a sua alma.
Mas isto para dizer que tanto o falatório que não aguento, salto fora, não ouço nada. O que me agrada é o MasterChef Australia ou pequenas pérolas que apanho por acaso como a que estou a ver agora, Isabel Meirelles: o dragão que fuma. Maravilha. Desconhecia. 93 anos. Mulher fantástica. O conhecimento da minha ignorância avoluma-se de dia para dia.
Contudo a pièce de resistence do post não são estes já-vistos. É outra coisa, é a que se segue.
Ao jantar, o meu marido disse que achava que o Governo fica melhor sem o Pedro Nuno Santos. E eu disse-lhe que penso o mesmo. O meu marido disse que acha que ele joga ao lado e eu acho o mesmo. Pode ter feito uma boa ponte com o PCP e o BE e pode saber 'ser do contra'. Não sei. Dizem que sim. Mas já o vimos ser desleal, tonitruantemente desleal para com colegas, já o vimos dar passos em falso, delirantemente em falso. Por vezes, agiu de forma que, fosse eu a decidir, lhe teria sido fatal. E agora ficamos sem saber se, ocupado como andava com a sua agenda, tudo o que era de ordem 'prática' lhe passava o lado. Ele não sabia, o outro não sabia e agora parece que o único que sabia e não esteve nem aí foi o fofo do Hugo Mendes, futuro ex Secretário de Estado. Ou a mulher do Medina, ex-responsável jurídica da TAP. Ao que parece, o Pedro Nunes sacode para todo o lado. Ele ou outros por ele. Pelos vistos, não sabe cair com elegância.
E nisto tudo o que me dá que pensar é o critério seguido por quem escolhe esta gente. Nas empresas, em que vocação e competência é determinante, os CVs são passados a pente fino, as pessoas são sujeitas a entrevistas, muitas vezes a entrevistas cruzadas, muitas vezes submetidas a situações que simulam a realidade que terão que enfrentar. Pelo contrário, no Governo ou nas empresas tuteladas -- onde a exigência deveria ser redobrada -- dá ideia que tudo o que é bicho-careta entra de carrinho para onde calha.
Fui ver o currículo da dita
Alexandra Reis, mais conhecida pela
Alex Louboutin da boca aberta ou, alternativamente,
Vai-te pentear, oh Alex.
Uma engenheira electrotécnica e de telecomunicações com experiência em Compras. Nem mais.
Foi como responsável pelas Compras que entrou para a TAP em 2017. Caiu no goto não sei de quem e daí rapidamente passou para a Comissão Executiva. Contudo, não deu certo: pelos vistos o santo dela não ia à bola com o da presidente. Foi de asa. De asa mas com o bolso a deitar por fora, o dito meio milhão. E eis que, não se percebe bem a que propósito, a garganeira criatura salta, a seguir, para Secretária de Estado do Tesouro. Pasme-se: para o Tesouro. Te-sou-ro.
O que é que na formação académica ou na experiência profissional a capacitava para ser Secretária de Estado do Tesouro? Não faço a mais pálida ideia. Mas não faço eu e, se calhar, não faz ninguém.
Face a isto, deu-me também curiosidade em ver o currículo do incensado outsider
Pedro Nuno Santos, ex Ministro das Infraestruturas e da Habitação.
Terá trabalhado na área? Terá conhecimentos que lhe permitam meter no bolso quem queira pôr pé em ramo verde? Infraestruturas? Habitação? Tudo a ver com a sua experiência anterior?
Qual quê. Nada. Nem pouco mais ou menos.
Basicamente exerceu funções políticas desde a Jota até aos tempos correntes. Não que ser político seja mau. Imagino que seja sobretudo negociar compromissos, ver como tramar a oposição, ver como encobrir ou desvalorizar os desaires do partido, ouvir as forças vivas e ver como fazer a vontade a uns ou arranjar desculpas para os outros. Tudo bem.
Mas onde a sensibilidade e o know how para perceber os meandros dos processos que fazem girar as organizações? Onde a mão para enquadrar quem, abaixo, faz mover as engrenagens? Onde o rabo pelado para detectar as chico espertices de quem é batido e rebatido nas manhas e nos meandros destas coisas?
E o
Hugo Santos Mendes, aquele para cima de quem agora todas as galinhas atiram as culpas?
Parece que soube da bolada da Alex da boca aberta mas não somou dois com dois, não percebeu nem a dimensão nem as implicações da coisa. Verdinho, portanto.
Mas a culpa será mesmo dele? Ou a culpa é de quem o escolheu e de quem aceitou a escolha?
Qual a experiência do verde e fofo Huguinho? Pois, claro, basicamente tem sido político. Isto depois de se formar em Sociologia. Foi assessor ou adjunto deste e daquele. E daí saltou para onde está agora, Secretário de Estado das Infraestruturas. Imagine-se o fofo do Huguinho a enquadrar as grandes empresas do sector... Deve ser uma festa. Gente batida e experiente que apanha huguinhos à mão... Toda a espécie de investimentos para aprovar, toda a espécie de despesas a correr-lhe debaixo do nariz e ele sem ver o rabo do gato escondido, por mais de fora que o rabo esteja. Mas, coitado, onde é que o pobre adquiriu competências para deslindar coisas dessas, em especial as pouco óbvias, onde é que ele se treinou para exigir estudos de rentabilidade feitos com a cabeça e não com os pés, para devolver à procedência dossiers que carecem de blindagem jurídica...? Não estou a ver onde.
Por isso, episódios destes como os da Alex Louboutin devem acontecer todos os dias. Podem ter outro formato ou outros valores mas, de uma maneira ou de outra, com gente aparentemente tão desqualificada para as funções que exerce, tudo pode acontecer.
A chatice é que nestes momentos é bom dar-se um passo atrás, reflectir, parar para pensar. Mas tempo é política é coisa que nunca há. Entre os Rangeis e os Venturas desta vida e os omnipressentes comentadores, todos cacarejam alto e bom som, impedindo uma atitude responsável e ponderada.
E depois, pensando bem, quem em seu pleno juízo se predispõe a largar o seu trabalho para se ir sujeitar a trabalhos forçados no Governo e a ser bisbilhotado até à quinta geração. Claro que só gente dependente da política ou deslumbrados newcomers acham que ir para o Governo é um boa coisa.
E é em tudo isto que é preciso pensar. Como atrair gente qualificada? Essa é a questão.
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O asterisco (*) lá em cima tem a ver com o facto de me parecer previsível que mais consequências venham a existir
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Desejo-vos uma boa sexta-feira
Saúde. Cabeça no lugar. Paz.