Os estores desta casa são eléctricos e, segundo fiquei a saber, são de elevada segurança. São de alumínio duplo e correm numa calha embutida. Segundo me têm disto os especialistas, não há ladrão que consiga levantá-los ou cortá-los.
E os técnicos, quando chegam, protestam porque dizem que, da maneira como foram feitos, eles mal têm margem para trabalhar. Dizem que os estores costumam correr por fora e não por dentro. Contudo, quando me queixo das constantes maçadas e do dinheiro que gastamos a repará-los e digo que o melhor é pôr estores novos, mais simples, mais leves, aí insurgem-se, dizem-me que nem pense nisso, que já não se fazem estores de tão boa qualidade.
O veredicto foi que tanto forçámos que já se tinham entortado cinco lâminas. No primeiro dia não conseguiram fazer o trabalho. Ficou corrido durante umas duas semanas, escuridão absoluta, sempre de luz acesa. E hoje teve que vir um terceiro elemento para conseguirem fazer a manobra de levantar o estore e encaixar as lâminas novas. Dizem que o peso era demais para dois conseguirem aguentar o bicho. Não sei, já não digo nada.
O que sei é que ao fim da tarde foi um ver se te avias na cozinha. A fera a ladrar possessa do lado de lá do portão do pátio da cozinha e, na cozinha, um chinfrim, uma azáfama. Às tantas zaragateavam uns com os outros, davam-se instruções uns aos outros. Levanta. Aguenta. Arreia um bocado. Pára. Avança! Um desatino. Ferramentas e caixas e tralha espalhadas pelas bancadas da cozinha, o chão pejado de tralha.
O meu marido disse: vamos passear à beira da praia e compramos qualquer coisa por lá. E fomos. Fui como estava, com uns calções soltos, acima do joelho e uma blusinha sem mangas com decote em bico à frente e atrás. O meu marido disse que era melhor levar outra coisa pois estava a esfriar. Peguei no meu poncho de crochet em abertos, todo em abertos, feito numa linha crua, um amparo que é psicológico e não de agasalho.
Lá chegados, rapei um frio dos antigos. A aragem estava a dar ares da sua valentia. Não me queixei para não ouvir observações mais do que óbvias.
Felizmente, o mar estava muito lindo e o sol fazia a sua escolha de sempre. Os amores eternos e incontornáveis são assim, um mergulhando no outro sem se saber quem mergulha em quem.
Mas, ao mesmo tempo, pensei que ainda bem que aquela mulher era descomplexada pois notoriamente sentia-se bela, desejável.
Enquanto isso, passou por nós um homem muito magro, de calções e tshirt de alças, de rabo cavalo grisalho, de bicicleta, ondulando como se surfasse.
A diversidade a que por ali se assiste é uma coisa extraordinária e eu, se não fosse dar-se o caso de querer esticar as pernas e dar uma caminhadela, deixava-me era ficar sentada a curtir os visuais e os moods de quem passa.
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A Ministra da Igualdade em Espanha lançou uma campanha inclusiva que não está a passar despercebida. Seja qual for a estatura, a cor da pele ou o que for, a praia e o sol são para todos. O cartaz lá em cima dá o mote à campanha "El verano también es nuestro".
As pinturas são, como é bom de ver, de Botero e vêm na companhia de Mika que interpreta Big Girl
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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Boa sorte. Paz.
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