sexta-feira, outubro 14, 2022

Segredos profundos, uns que se podem partilhar, outros que não

 


Costumam contar-me coisas. Chegam-se ao pé de mim e começam a contar-me coisas, por vezes coisas muito pessoais. É um pouco desconcertante mas é a verdade. Não sei bem porque é que isso acontece. Não sou de sorrisinhos, não sou de simpatias a la minute para angariar amigos, não sou de palavrinhas fáceis ou consolos de efeito, sou mais de ouvir atentamente. No entanto, pelo menos a julgar pela minha experiência, o ser como sou faz com que as pessoas se sintam confiantes em partilhar comigo situações muito pessoais.

Eu, pelo contrário, não sou de falar de mim. Mesmo aqui, em que me farto de escrever e em que escrevo num registo por vezes quase diarístico, há muitos temas que nem afloro. Mesmo nos que falo, tento não dar pormenores muito objectivos pois penso que os assuntos são mais interessantes para quem os lê se houver, aqui ou ali, um certo véu. Mas se a escrever ainda vou falando de mim, ao vivo e a cores pouco falo. Não tenho muito para dizer. 

Se a Thoraya montasse a banca ali no jardim ao fim da rua e me pedisse um segredo, acho que não me ocorreria um único. Acho que não tenho segredos. Pelo menos dos que se podem contar.

Vejo os vídeos dela e fico espantada com a quantidade de pessoas que têm segredos escondidos e que, pelos vistos, são segredos que estão ali à bica para poderem sair. Eu teria que puxar muito pela cabeça e, no fim, penso que no máximo me ocorreria uma palermice qualquer de quando andava na escola primária.

Na verdade, acho que nunca fiz uma patifaria, nunca gamei nada, nunca sacaneei ninguém, nunca tive inveja de ninguém. E, no entanto, no outro dia, num daqueles exercícios de imaginação em que me ponho a imaginar o que hei-de fazer um dia que me reforme, ocorreu-me que talvez gostasse de escrever umas memórias e, ao pensar no que poderia escrever, lembrei-me de algumas coisas de que habitualmente não falo. Melhor: de que nunca falo. São coisas que não interessam, coisas que ficaram no passado. Ao contrário de muitas pessoas que ficam a remoer e atormentadas com isto ou com aquilo, eu ponho para trás das costas e nunca mais penso nisso. 

Não sei o que é que hoje em mim vem de situações mal resolvidas no passado. Diria que nada. Se me ponho a pensar na minha infância, adolescência ou vida adulta, o que me vem à cabeça são as situações boas, reconfortantes, divertidas. Só com um aturado esforço de reconstrução é que me recordo das coisas menos boas. Mas agora, tal como antes, relevo-as, relativizo-as, arranjo atenuantes para quem praticou algum acto ou proferiu alguma palavra que me incomodou.

Não guardo recordações desagradáveis em relação aos meus primos, aos meus amigos, aos meus colegas. Não me lembro de alguém que me tenha magoado. Se o fizeram, desculpei-os tão completamente que disso não sobrou qualquer ponta solta. Mais mais facilmente me lembro de situações em que estive um bocado ao lado ou em que, por erro ou omissão, induzi nos outros deficiente compreensão de situações, levando-os a ficar felizes com situações que não correspondiam exactamente ao que lhes tinha parecido ou, pelo contrário, levando-os a desgostos desnecessários. Mas não sei se isso encaixa no conceito de segredo.

Mas, sim, um dia que me ponha a escrever, sairão à cena algumas novidades. 

Penso também no seguinte: se um psicólogo me virasse de cabeça para baixo e chocalhasse, será que iria conseguir que saltassem algumas peças soltas que fossem reconhecidamente a chave para explicar a minha personalidade ou alguns dos meus comportamentos? Creio que não. Mas nunca se sabe. 

Seja como for, gosto de ver estes vídeos da Thoraya. Já aqui a tive algumas vezes. E a quantidade de pessoas que os comenta e que se solidariza com o que ouviu ou que se revê no tipo de segredos que ali são revelados é espantosa.

E vai escrever um livro sobre segredos, ela, e está a pedir que lhe enviem segredos para que possa usar alguns no seu livro. Pelo que expliquei, não vou enviar nada mas se algum de vocês, aí desse lado, tiver alguns para a troca, é enviar-lhe.

People share their deepest secret anonymously

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Fiz estas fotografias hoje ao fim do dia, na praia, quando fomos fazer a nossa caminhada

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Boas memórias. Paz.

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