segunda-feira, março 26, 2018

Valtinho, melga confesso, enerva-se com o Herberto Helder



Teve um poema em que dialogava com Herberto Helder. É um deus?
É verdade... O Herberto Helder foi para mim das figuras mais iluminantes do mundo e vivi com a ansiedade de o poder conhecer. Mas o Herberto não era acolhedor. Cheguei a falar com ele por telefone umas duas vezes e até lhe bati à porta - teria uns 26 anos -, e falámos pelo interfone. Não abriu a porta nem me quis receber. Disse que só queria apertar-lhe a mão e ter o privilégio de olhar a cara dele uma única vez; recusou e disse que não desceria nem abriria a porta. Depois disso, disseram-me que estava sempre num café, mas achei que não me competia aproximar mais dele. Foi o que fiz, deixei-me estar. Magoou-me e vai magoar-me a vida toda o facto de ele não ter tido normalidade suficiente para me cumprimentar, mesmo que continue a ser uma personagem divina no meu universo.
O poema não está nesta antologia!
Não está e nem desgosto dele, mas o Herberto Helder enerva-me e por isso não está no livro.

[excerto do artigo: "Herberto Helder enerva-me, por isso não está neste livro", com uma entrevista feita por João Céu e Silva a Valter Hugo Mãe]