sábado, novembro 07, 2015

António Costa na SIC com a Ana Lourenço - não se distraíu com o decote profundo dela, não vacilou perante o olhar furibundo que a Maga Patalógica lhe deitou do princípio ao fim da entrevista e conseguiu explicar que a ideia do tão ansiado acordo não é hipnotizar ou canibalizar o PCP e o BE mas, sim, chegar a acordo em pontos relevantes.
Para ajudar os cépticos a compreenderem como é que estas coisas funcionam, conto como, apesar de ser tão diferente do meu marido, continuamos alegremente casados há tantos mil anos






Até um contrato estar assinado, ainda não há contrato - e isto é assim com todos os contratos e em toda a parte do mundo. Portanto, se o contrato entre o PS, o PCP, o BE e os Verdes ainda não está completamente assinado (e eu não sei se está ou não), para mim é como se ainda não houvesse contrato. Mas também sei que entre a vontade de assinar um contrato e conseguir chegar-se a acordo sobre todo o clausulado vai um grande esforço.

Quando as pessoas que estão nesse processo negocial se põem a analisar ao pormenor cada vírgula é o fim da picada. Sei do que falo. E é sempre assim - até que a coisa está fechada e toda a gente assina. Não é drama nenhum: é o normal.

Portanto, não me vou pronunciar sobre o acordo ou o não acordo. Quando houver acordo, falo sobre ele. Enquanto não há, não me ralo com isso, não alinho na excitação maluca que parece ter tomado conta dos PàFs e (et pour cause) da comunicação social  

Quanto à entrevista de António Costa na SIC, não consegui vê-la toda pelo que há aspectos que, agora que escrevo, me faltam. Leio nos jornais online que parece que ainda não está tudo acertado com o PCP mas não sei se isso é o tal frenesim miudinho das virgens que nunca discutiram um contrato na vida ou se ainda há mesmo algum rabo para esfolar. Tanto me dá pois, pela parte que me toca, acredito que haverá acordo. Seria dramático para as esquerdas se não conseguissem chegar a um entendimento - o eleitorado não lhes perdoaria. Por isso, acho que as partes envolvidas vão deixar para trás velhos ressentimentos e preconceitos fora de moda e vão conseguir fechar todos os pontos.

De resto, do que vi, a Ana Lourenço, ar sinistro, assustadora, ar de quem vai servir veneno na bebida, decote profundo a deixar antever les poitrines, tentou de todas as maneiras desestabilizar o António Costa. Claro que até usou a artilharia da Nato. Esteve bem o António Costa não apenas ignorando-lhe o sulco entre os seios mas, também, quando lhe explicou que os partidos não vão abdicar da sua matriz ideológica nem das suas idiossincrasias - vão, sim, estabelecer linhas de convergência sobre as quais se comprometem a manter o acordo relativamente a uma linha de governação. Apesar da paciência dele (mas talvez devido à desgraçada dicção de que ainda padece), a Ana Lourenço pareceu não compreender que os partidos não precisam de ser completamente iguais, constituídos por almas gémeas, para que consigam conviver.

E eu, pensando nela e em todos os outros que pululam nas televisões, rádios e jornais inventariando pontos de divergência entre os partidos, avanço aqui com o meu caso.


Explicação do que é um acordo de entendimento a quem nunca deve ter conseguido viver um relacionamento com alguma estabilidade


Quem por aqui me acompanha sabe que sou casada há mais de mil anos. Casei-me ainda menina e moça e já sou avó - imaginem bem a duração disto. 

Quem sabe disse também já me conhece e, na volta, também já consegue perceber, mais coisa menos coisa, como é o meu marido.

Mas eu vou contar algumas das nossas características para que os que não conseguem perceber como é que o PS, o PCP e o BE vão conseguir encontrar um chão comum para servir de sustentação a um governo, verem como é possível uma relação durar décadas apesar dos intervenientes serem completamente diferentes.

. & .

Sou noctívaga. Sabem disso. Deito-me às quinhentas. Desde que me conheço que é isto.
Ao meu marido, lá para as onze e picos já lhe está a dar o sono. E depois, claro, acorda cedíssimo enquanto eu, se pudesse, dormia até meio da manhã.
Se tem que fazer uma coisa, não descansa enquanto não a faz, especialmente se for coisa desagradável.
Eu dou primazia ao que me apetece e retardo as obrigações maçadoras até mais não poder (excepto se for coisa a nível profissional que, aí, não tenho estados de alma).
Gosto de poesia, consumo-a em doses avantajadas.
Ele não pega num livro de poesia. 
Eu gosto de ler livros de arte, entrevistas a pintores ou escritores, gosto de ler livros com colectâneas de cartas, crítica literária - coisas assim.
Ele nem pó. Em contrapartida, lê livros imensos sobre política económica, história económica ou coisas do género para as quais não tenho eu um pingo de pachorra.
Ele é sportinguista ferrenho, gosta de ver futebol, sabe tudo do futebol, os pontos, com quem vão jogar, os resultados que têm que ter para conseguir ganhar (coisas desse género que nem sei nomear dado que, para mim, é ciência oculta).
Eu não ligo peva e não sei nada de nada de futebol - nem consegui ainda perceber o que é um 'fora de jogo'. 
Eu gosto de cozinhar para muita gente, gosto de ter a casa cheia de gente e a barafunda familiar é para mim o máximo.
Por ele isso aconteceria só quando o rei faz anos, prefere ir a restaurantes, levar os miúdos para o parque, para a praia - tudo menos meio mundo a fazer barulho, a cirandar por todo o lado, a desarrumar e a deixar copos pela casa fora até às tantas. O rebuliço caseiro em excesso e a casa virada do avesso é coisa que o vira a ele do avesso.
Quando os nossos filhos eram adolescentes, eu não conseguia dormir enquanto eles não chegavam a casa.
Ele não estava nem aí. Virava-se para o lado e dormia que nem um santo.
Eu adoro fotografar, parar para ver ângulos, pormenores, reflexos de luz, movimentos - mesmo nos percursos mais do que habituais.
Ele acha que é sempre a mesma coisa, nada de novo, arrelia-se por eu estar sempre a parar.
Se chove, sou avessa a chapéus de chuva, gosto de andar à chuva.
Ele gosta de se proteger para não se encharcar. 
Ele arrelia-se que eu tenha tantos sapatos, acha que, por cada par que compro, devia deitar outro fora.
O espaço dos sapatos dele está sempre muito organizado enquanto o meu - reconheço... - é meio caótico.
Tenho (relativa) paciência para aturar chatos e consigo até ouvir, durante um bocado, o José Gomes Ferreira, o João Miguel Tavares, o José Manuel Fernandes, o Ricardo Costa, a Maria João Avillez, o Luís Montenegro, a Teresa Leal Coelho, a Teresa Caeiro, o filho do Menezes, e toda a espécie de cassandras, vizinhas alcoviteiras, papagaios avençados, papagaios trainees e etc. (e isto não porque seja masoquista mas, especialmente, para perceber a linha de argumentação que seguem).
Ele nem por um segundo consegue suportá-los, quase voa sobre o comando para os calar, insulta-os, fica doente.

E por aí fora.

Dir-se-ia que não temos nada em comum. Mas temos: temos uma vida inteira em comum. Temos uma família que formámos, que amamos e junto da qual somos felizes.

Quando nos casámos nunca pensámos se era para durar um ano, dez ou cem. Metemo-nos no casamento pensando na nossa vida futura e, porque achamos que é melhor estarmos um com o outro do que sem, ainda aqui estamos os dois, juntos.

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Ao escrever isto - e pensando também na histeriazinha que por aí reina perante a perspectiva de um governo apoiado por partidos não habituados à amena convergência - pensei no tango: se tu avanças, eu recuo; se tu recuas, eu avanço. Passos dissonantes mas complementares, desentendimentos consentidos, distanciamentos que são mais aparentes do que verdadeiros e que, sobretudo, incentivam uma inevitável aproximação, uma convivência permanentemente negociada, concertada. A coreografia das diferenças em sintonia.

O último tango - Astor Piazzolla


(Não é o tango tradicional mas é a versão em dança clássica - Olga Smirnova e Vladislav Lantratov)

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A música lá em cima é Flower Duet da ópera Lakmé de Léo Delibes, interpretado por Milica Ilic (soprano), Victoria Lambourn (mezzo soprano), Tasmanian Symphony Orchestra conduzida por Andrew Greene.

As fotografias que usei para 'enfeitar' o texto são da autoria de Isabelle Chapuis que, nas que têm flores, contou com o apoio de Duy Anh Nhan Duc.
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Hoje fico-me por aqui, tenho sono.

A ver se amanhã vos conto que, afinal, parece que é mesmo verdade: acho que sou lésbica ou bissexual.
Mas, a menos que mude de ideias, é assunto para amanhã.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.

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1 comentário:

Anónimo disse...

Se me permite, comentarei, com toda a humildade, alguns aspectos deste seu divertidíssimo Post. Vejamos e cito: “Esteve bem o António Costa não apenas ignorando-lhe o sulco entre os seios.” Por mim, que tenho carne a um nível abaixo do fraco, estaria mal e desconcentrar-me-ia. “Sulcos de seios”, “pernas expostas”, etc, acabam por me destabilizar e confundem a minha capacidade de concentração. Já me vi numa situação dessas e foi um berbicacho...Enfim, fraquezas! Outra citação: “eu, se pudesse, dormia até meio da manhã.” Bom, eu Adoro Dormir, aos Sábados e Domingos de manhã. E não tenho nenhum complexo em o revelar. Nunca, mas por nunca deste Mundo, me levanto nesses dias antes das 10.30 da manhã, se não for mais tarde! A não ser que vá de viagem de férias, quando me levanto, muita das vezes, ás 5.00h, parto ás 6.00h e chego ao destino 12.00 depois, num percurso que levaria 3h, 4h, ou 5horas. Nessas ocasiões jamais, nunca, entro numa auto-estrada. O meu “record” é ir de Cascais ao Algarve em...7.30h. Odeio, simplesmente, auto-estradas e só as faço por necessidade, ou porque tenho apenas 2 ou 4 dias de férias. Volto a citar: “Eu gosto de ler livros de arte, entrevistas a pintores, gosto de ler livros com colectâneas de cartas, crítica literária - coisas assim.” Também eu! Continuando a citação: “Ele nem pó. Mas é capaz de ler livros imensos sobre política económica, história económica ou coisas do género.” Também eu – com a variante de que não suporto, hoje em dia, um romance do género que for! Ainda: “Eu não ligo peva e não sei nada de nada de futebol - nem consegui ainda perceber o que é um 'fora de jogo'. “ Também eu! Prefiro, de longe, a Formula 1, Moto GP, sobretudo (amanhã, a Final e saber se Valentino Rossi, o meu herói, é ou não pela 8ª vez Campeão do Mundo, depois do bébé Marquez ter inventado uma treta contra ele. E saber se o “nosso Miguel Oliveira é igualmente Capeão da Moto GP 3!) Voltando a citar: “Eu gosto de cozinhar para muita gente, gosto de ter a casa cheia de gente e a barafunda familiar é para mim o máximo.” Também eu! Gosto de cozinhar e de ter a casa cheia de gente. Se possível, todos os fins de semana. Já minha mulher é o oposto, como o seu marido! “Eu gosto de andar à chuva.” Bom, eu ODEIO chuva! Mas, ODEIO de MORTE! Venha o vento! Adoro nevoeiros! Chateia-me o calor, ou tudo o que passa os 25º, mas CHUVA NUNCA! Outro dia fiquei com as calças numa miséria, quando ía para uma reunião, visto ter-me esquecido do guarda-chuva. Fiquei FURIBUNDO! Ainda, por fim: “Ele arrelia-se que eu tenha tantos sapatos, acha que, por cada par que compro, devia deitar outro fora.” Morrerei sem perceber porque Diabo uma mulher precisa d uma loja de sapatos em casa! Tenho uns poucos, mas nada que se compare ao que uma mulher possuiu. As mulheres têm uma espécie de síndroma de Imelda Marcos (quando visitei a casa Museu do ex-palácio presidencial, em Manila, depois da queda do regime, em férias, fiquei espantado com a quantidade de sapatos, vestidos, perfumes e sei lá que mais que ela possuía). “O espaço dos sapatos dele está sempre muito organizado e o meu é meio caótico.” – Tal como o seu marido, o meu espaço está igualmente organizadíssimo. Isto das mulheres, sendo tão encantadoras, conseguem ser o Diabo, noutras coisas!
P.Rufino